segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12278: Estórias avulsas (71): O meu aniversário - único - na Guiné (Jorge Araújo)

1. O nosso camarada o Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger a, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem. 



 O MEU ANIVERSÁRIO [ÚNICO] NA GUINÉ

(XIME-BAMBADINCA-MANSAMBO)

10 de Novembro de 1973 [há 40 anos]

1. Após trezentos e sessenta e cinco dias e ¼, ou doze meses, período a que chamam de “ano civil”, cada ser humano é laureado pela máquina do tempo de origem europeia, um sistema promulgado em 24Fev1582 pelo Papa Gregório XIII (1502-1585), com mais uma “coroa” [unidade] que, somadaao número acumulado no período anterior, perfaz a idade, em anos, que já atingiu, feito que é festejado por familiares e amigos.Em função do determinismo dessa Lei e observada a regra da adição, eis que a partir de hoje conclui mais um ano de idade e iniciei um novo ciclo. Não há volta a dar … nem podemos reclamar.

2. Considerando que a maioria de nós [ex-combatentes] teve de cumprir mais de dois anos de comissão ultramarina, ainda que no início do conflito essa presença obrigatória fosse de dezoito meses, crescendo sucessivamente para vinte e um, vinte e quatro, e no final da guerra quase vinte e oito, é natural que aí tivéssemos de comemorar um ou dois aniversários.

No meu caso, essa efemérideno CTIG apenas se verificou em 1973, sendo, assim, a primeira e única experiência do género, uma vez que no ano anterior, por desejo pessoal definido numa estratégia de gestão do tempo de serviço, ela tivesse acontecido em Lisboa, em ambiente familiar, naquele que foi o primeiro período de férias de trinta e cinco dias [de 24Out a 27Nov1972], [vdpost 9802].

Por ausência de outra alternativa mais exequível, quis a divina providência e o calendário gregoriano [ou o meu projecto de vida militar] que o aniversário de 1973 teria de ser celebrado algures entre a Ponte do Rio Udunduma, Missão do Sono, Mansambo ou Bambadinca, os locais por onde circulavam os vários elementos da CART 3494, após a sua transferência para Mansambo, efectuada nos primeiros dias do mês de Março desse ano.

A uma semana do evento, e sabendo eu onde estaria nesse dia 10Nov1973, sábado, elaborei o projecto que passava por organizar um jantar comemorativo a ter lugar na Messe de Sargentos da CCS do BART 3873, unidade sedeada em Bambadinca.

Para o efeito, analisei essa possibilidade com o camarada Furriel vagomestre e, em conjunto, organizámos a logística para a confecção de um «menu de muitas estrelas» … mais de trinta [ver fotogaleria]. Adquiri os géneros necessários e, ainda, um leitão na tabanca de Bambadinca [com +/- 15kgs].

Durante o jantar, para o qual tinham sido convocados todos os membros disponíveis da família formada em regime de «união de facto», pois era esse o contexto, foi servido um suculento repasto de «Leitão à Bairrada à moda de Bambadinca» em traje de gala [a da metrópole], bem cheirosos e com barba [des]feita, condiçãosine qua nonpara os que não estavam de serviço.

Dito isto … mais palavras para quê?

Basta ver as imagens. Elas espelham o ambiente vivido e a grande satisfação que me deu em proporcionar este convívio – o possível. Foi bom para mim … e para todos, pois foi um dia [noite] diferente.

Assim sendo, e caso algum dos camaradas, membro da nossa «Tabanca Grande», tenha participado neste convívio faça o favor de dar sinais de vida, comentando/recordando esses momentos que estão [já!] a uma distância temporal de quatro décadas. Mas, se não for ou não tenha participado neletambém pode/deve fazê-lo.

Para mim, foi óptimo rever estas imagens e um prazer enorme escrever este texto.

Aguardo!

FOTOGALERIA:

Foto 1 –Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – de trás para a frente, da esquerda para a direita, os furriéis: 1.ª linha: [nome que não recordo] – Russa – Carrasqueiro eAraújo [3494]; 2.ª linha:Monteiro [cozinheiro] – Jorge – Marques – Catarino – Carvalhido – Costa – Soares – Adérito – Laranjeira – Guimarães – Forja – Ferreira [3494] e Veríssimo; 3.ª linha: Mesquita [cozinheiro] – Pinho – Pachão – Faia – Rosado [1.º Sarg.] – Nunes – Costa [35ª CCmds] – Jesus [3494] – Bonito [3494] e Marques; 4.ª linha: Leite [1.º Sarg.] – Martins – Sousa [fur.enfº].
Foto 2 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – da esquerda para a direita: furriéis: Adérito [CCS] – Costa [35ª CCmds] – Araújo [3494] – Bonito [3494], aguardando o «Leitão à Bairrada …», servido por Mesquita.
Foto 3 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – da esquerda para a direita: Rosado (1.º Sarg.) – nome que não recordo – Carrasqueiro – Adérito – Costa – Araújo [3494] – Bonito [3494].
Foto 4 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – da esquerda para a direita: Adérito – Costa – Araújo [3494] – Bonito [3494] – Jesus [3494] – Laranjeira [CCS] – Vítor, de pé – Carvalhido, de costas [CCS].
 Foto 5 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – da esquerda para a direita, de frente para a câmara: Araújo (eu, de pé) [3494] – Marques – Soares – Mesquita, de pé – Guimarães – Forja – Leite – Costa – Pachão – Rosado – Costa – Bonito [3494] – Carvalhido – Ferreira [3494] – Veríssimo. 
Foto 6 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – Idem.

Um forte abraço, comvotos de muita saúde e boa disposição.

10Nov2013.
Jorge Alves Araújo, 
ex-Furriel Mil Op Esp/ Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974)
____________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P12277: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (16): Foto(s) do antigo edifício da Casa Gouveia, no Cacheu, precisa(m)-se... Agora em recuperação, nele será instalado o futuro Memorial da Escravatura... Cacheu foi também o berço do crioulo.

Divulgámos há dias, no nosso blogue, a página em construção "Cacheu, Caminho de Escravos", projeto que está a executado pela AD - Acção para o Desenvolvimento e pelos italianos da AIN, com apoio de diversos parceiros, incluindo portugueses (União Europeia, UNESCO, Fundação Mário Soares, Instituto Politécnico de Leiria, etc.)

A criação do Memorial da Escravatura em Cacheu visa resgatar a memória histórica da escravatura naquela região da Guiné-Bissau e das suas relações com os circuitos e os destinos do tráfico negreiro. Tem 3 vertentes principais:

(i) Histórica, promovendo a investigação histórica e a difusão da temática da escravatura;

(ii) Cultural, promovendo a cultura e a identidade da cidade de Cacheu e da sua região e pondo em evidência as contribuições das diferentes etnias e a importância da língua crioula, que ali surgiu e se afirmou;

(iii) Económica, potenciando as atividades produtivas e de serviços como meio de redução da pobreza e desenvolvimento de novas atividades económicas.

Estão já em curso obras de recuperação do edifício, em ruínas (vd. foto em cima), onde será instalada o futuro Memorial da Escravatura. Esse edifício era a antiga Casa Gouveia, em Cacheu. Acontece que ninguém tem fotos do edifício que estava, de pé, no tempo da guerra colonial (1961/74)... a não ser eventualmente nós, antigos combatentes.

Fazemos, por isso, daqui  um apelo à malta que lá esteve ou passou por lá. Vejam nos vossos albuns fotográficos, se descobrem essa preciosidade. Se houver alguma foto será de imediato publicada no blogue, e com todos os direitos autorais... Ao digitalizar essa ou outras fotos, façam-no sempre com uma boa resolução (300 ou 400 pp).

Com a colaboração ativa, generosa e solidária da Tabanca Grande e dos demais leitores, o nosso blogue é também uma fonte de informação e conhecimento para todos, em particular para a comunidade lusófona. 

Obrigado. Saudações fraternas e lusófonas. Luís Graça.
_______________

Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12276: Notas de leitura (533): Escravos e Traficantes no Império Português, por Arlindo Manuel Caldeira (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Junho de 2013:

Queridos amigos,
A investigação do historiador Arlindo Manuel Caldeira irá surpreender todo aquele que procura uma resposta rigorosa e fora do domínio dos tabus para o chamado “o infame comércio”, o tráfico de escravos.
O autor oferece-nos um adequado enquadramento para as grandes questões do comércio negreiro e trata exaustivamente a cronologia deste comércio feito por portugueses. Os pontos de vista procurados cingem-se, claro está, à Guiné. Para quem tenha dúvidas, aqui fica a confirmação que foi a área de comércio menos relevante das nossas posições na África Ocidental.

Um abraço do
Mário


Escravos e traficantes no Império Português, o caso da Guiné-Bissau

Beja Santos

“Escravos e Traficantes no Império Português, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos XV a XIX”, por Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera dos Livros, 2013, é uma obra de indiscutível importância para se conhecer sem preconceitos ou falsas moralidades a extensão da participação portuguesa no chamado “o infame comércio”. Como é óbvio, centram-se as preocupações deste estudo no que tange à Guiné.

O autor é desassombrado logo na introdução no enquadramento da problemática.
Primeiro, não tem qualquer fundamento a ideia que foram os europeus que introduziram no continente africano a escravatura e o tráfico de escravos. A escravatura estava presente em todas as sociedades africanas antes da chegada dos europeus. Antes de começar o tráfico atlântico já os comerciantes árabes transportavam escravos africanos em direção à bacia mediterrânica e à Península Arábica. Esta verificação não obsta que se diga que o comércio negreiro transatlântico teve uma significativa maior dimensão.
Segundo, não é verdade que no período transatlântico o tráfico tenha sido uma iniciativa e um negócio de europeus, em que os africanos eram vítimas passivas. As elites locais participaram conscientemente neste tráfico, tirando proveito próprio e auferindo lucros significativos. Se é verdade que os portugueses quando chegaram à África subsariana ainda praticaram, como faziam em Marrocos, razias para a captura de prisioneiros, quando o comércio negreiro se institucionalizou tais práticas foram substituídas por relações de comércio pacíficas.
Terceiro, com um pragmatismo total, os europeus aproveitaram os mercados de escravos já em funcionamento, instalaram feitorias e submeteram este comércio às regras da oferta e da procura do tempo: um escravo passou a valer x em cavalos, manilhas de cobre, panos. Os colonizadores portugueses, aliás, não estavam em condições de interferir diretamente nas guerras entre os povos locais, beneficiavam, pura e simplesmente, dessas guerras. André Álvares de Almada, no final do século XVI, escreveu que os Mandingas do rio Gâmbia vendiam muitos escravos, “uns obtidos em guerras e juízos mas muitos outros em furtos”; na Guiné, os Bijagós, hábeis marinheiros, realizavam as suas incursões por mar para obterem escravos que depois vendiam aos portugueses.
Quarto, possui-se hoje, graças a importantes investigações coletivas, dados e números que permitem uma aproximação sobre as dimensões deste tráfico. Como refere o autor, o destino principal, durante as primeiras décadas do século XV, foi o continente europeu e os arquipélagos atlânticos onde se introduziu a produção de açúcar (S. Tomé, Canárias, Madeira). Nas primeiras décadas do século XVI, Portugal deve ter recebido uma média anual de dois a três mil escravos.

Com a União Ibérica, os portugueses irão ganhar ainda maior protagonismo no abastecimento de mão à América Espanhola. Este comércio será profundamente alterado quando acabou o monopólio luso-espanhol. Em 1621, fundou-se a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, avançou para o Atlântico Sul e começou a ocupar importantes povoações brasileiras, irão ser expulsos depois da Restauração, mas já estavam experimentados na produção sacarina, lançaram-se na Guiana e nas Antilhas. Haverá depois uma nova fase do tráfico atlântico que corresponde ao século XVIII, prolonga-se ainda pela primeira década do século XIX, carateriza-se pela internacionalização do tráfico e por uma transferência maciça de população africana para as Américas. A Europa do Norte juntou-se a Portugal no negócio da mercadoria humana: Holanda, Inglaterra e França, mas também a Dinamarca, a Suécia e até alemães. Na terceira fase, que se inicia na segunda década do século XIX, os povos ibéricos têm por companhia os EUA.

Posto este enquadramento, é hora de entrarmos no comércio negreiro envolvendo a Guiné. Foi na Senegâmbia que os portugueses estabeleceram as primeiras regulações regulares de comércio. Como observa o autor, no entanto, os valores não estiveram sequer próximos dos que atingiu o Golfo da Guiné, uma das regiões mais movimentadas do tráfico atlântico. Os portugueses foram atraídos pelo ouro, procuraram-no na Costa da Mina ou Costa de Ouro, entre o cabo das Palmas e o rio Volta. Seria, no entanto, da baía do Benim que saíram, no final do século XVII e primeiras décadas do século XVIII, os maiores efetivos de mão-de-obra cativa desta zona. À procura da contabilidade deste tráfico, estima-se que a África perdeu entre 1500 e 1866, só através do tráfico transatlântico, mais de 12 500 000 dos seus filhos, a imensa maioria dos quais embarcados em direção ao continente americano.

A Igreja legitimou este comércio, basta pensar nas Bulas Dum Diversas (1452) dirigida pelo Papa Nicolau V ao rei D. Afonso V e Romanus Pontifex (1455) que volta a afirmar o poder que cabe a Portugal em invadir, conquistar atacar e subjugar os sarracenos e pagãos. É da maior importância o levantamento que o historiador faz sobre a fundamentação religiosa da escravidão, ao longo de séculos.

O autor lembra-nos aquela manhã de um dia dos princípios de Agosto de 1444 em que desembarcaram em Lagos os primeiros escravos, conhecemos ao pormenor graças a Gomes Eanes de Zurara, cronista da corte de D. Afonso V. Eram escravos desembarcados, tinham sido capturados a Sul do Cabo Branco, uma frota de seis caravelas em que participaram pilotos experientes como Gil Eanes. Nesse mesmo ano, uma caravela comandada por Dinis Dias apercebeu-se que a orla quase contínua de deserto dava lugar a manchas de bosque e floresta, chegara-se à Terra dos Negros, a que se chamou Cabo Verde (não confundir com o arquipélago do mesmo nome, que é fronteiro). Iniciou-se um período de exploração litoral entre este Cabo Verde e a Serra Leoa, os navegadores seguiram o curso dos rios, nomeadamente o Senegal, o Gâmbia e o Geba. É um período de comércio livre negreiro, escolhe-se o arquipélago de Cabo Verde como o entreposto estratégico da navegação atlântica neste tráfico de escravos entre a costa africana (a Costa da Guiné) e os mercados europeus da Península Ibérica. Cedo se descobriram chefes dispostos a ceder mão-de-obra e a requerer as mercadorias necessárias: metais, ferramentas, tecidos, quinquilharia, armas de fogo e cavalos. Um cavalo chegou a ser trocado por 25 a 30 escravos, mas será um rácio que irá continuamente descer. Os mercadores iam da ilha de Santiago, frequentavam a foz do rio Senegal, desciam até aos rios Gâmbia, Casamansa, S. Domingos e Geba, também ao arquipélago dos Bijagós e ao rio Grande de Buba.

A seguir, no plano dos Descobrimentos, entrou-se no Golfo da Guiné, será nesta região que o tráfico de escravos irá ganhar uma enorme projeção, basta pensar em Angola.

No próximo texto, voltaremos à Guiné para falar de um comerciante, Manuel Batista Peres, um cristão-novo que procurou na América Espanhol fortuna e tolerância, e igualmente se fará referência aos sócios do Marquês de Pombal graças à Companhia do Grão-Pará e Maranhão. 

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12264: Notas de leitura (532): "Crónicas, Lendas e Usos Costumeiros da Guiné-Bissau", por Fernando Antunes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12275: Efemérides (146): Foi há 38 anos que Angola se tornou independente... Meio século depois do início da guerra do ultramar, continuamos divididos quanto à explicação da sua razão, sentido e duração (António Rosinha)


1. Mensagem de António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961, foto à esquerda; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola,  de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993]:

Data: 10 de Novembro de 2013 às 00:55

Assunto: Mais do que as tribos africanas, nós, "tugas, estávamos e continuamos divididos quanto ao objectivo da guerra do ultramar

Foi muito mau para Portugal ter que fazer esta guerra que aqui mantemos viva na nossa memória. Mas pior ainda terá sido para os povos africanos porque, para eles, a seguir à guerra não veio a paz imediatamente.

Analisando, como nós fazemos aqui constantemente, o que se passou há tantos anos, ainda em Portugal a maioria está dividida quanto às razões e motivações daquela guerra.

Uns dizem que Portugal (Salazar) devia ter preparado a independência ou ter negociado com os movimentos.

E para a maioria ainda hoje pensam e dizem que "aquilo" não era nosso, tínhamos é que nem ter lá ido, ou seja,  "aquilo" nunca lhes disse nada.

Lutar por patriotismo seria a posição de uma minoria, e pouca gente terá na memória qualquer tipo de discurso de Generais ou Coronéis a puxar pelo sentimento pátrio.

Uma maioria relativa era contra a guerra simplesmente por ser contra o Salazar e dizia que a guerra era para defender os interesses dos ricos.

Ou seja, para a maioria do povo português, nada no Ultramar justificava o sacrifício daquela guerra, uns por política, outros por total desconhecimento e desinteresse.

Alguns,  com mais experiência e conhecimento de África, como sejam aqueles que depois foram os  chamados retornados, também tinham ideias muito dispares.

Para muitos, Salazar não deixava explorar à vontade as riquezas naturais, e fazia-se referência quase obrigatória à exploração do ouro da África do Sul, como se fosse um bom exemplo de exploração. E muitos destes chegavam mesmo a pensar que apenas interessava defendermos Angola e o resto, principalmente a Guiné, devia ser entregue aos movimentos independentistas.

E havia, entre retornados mais antigos, quem simplesmente pensava numa independência para todos e que no caso de Angola pensava que seria fácil e natural, pensamento idêntico ao de alguns, dirigentes brancos e mestiços dos movimentos.

Os retornados mais modernos,  pouquíssimo politizados em maioria (como eu e velhos régulos e sobas), pensavam calmamente que, enquanto a tropa e os turras se "entretinham" mutuamente, e enquanto os brancos da Rodésia e África do Sul se aguentassem, estava tudo sobre controle.

Todavia, se com 20 anos havia uma opinião na cabeça de cada um de nós, com influências de quem governava, mas também de quem era "contra" quem nos governava, (dizia-se que tinha sido mais votado Delgado do que Tomáz, 3 anos apenas antes da guerra), porque é que não está ainda explicada a tão longa duração da Guerra do Ultramar pela nossa parte, esta desorganização de país organizado?

Não esquecer que Salazar, para muitos a causa da guerra, caíu da cadeira quase a meio da guerra de 13 anos... Porque  é que [a morte política de Salazar] não parou imediatamente a guerra?

Vai ser difícil e levará muitos anos a escrever a história definitiva e em que haja o mínimo de consenso entre uma maioria de portugueses, sobre a lógica ou falta dela para Portugal insistir em negar aquelas independências, quando França, Inglaterra e Bélgica e Espanha, já tinham concordado com as mesmas.

É que tudo corre tão estranhamente com África e que se reflecte tão directamente com os países do sul europeu, com barcos e aviões de socorro a náufragos ao largo das Canárias e Cabo Verde e de Lampedusa, que nada ajuda a compreender e justificar a colonização e respectiva descolonização que se processou há 50 anos para cá. 

E uma das provas de que facilmente nos deixamos dividir quanto a África, foi a facilidade com que, recentemente, fomos enrolados, desde jornalistas, políticos, empresários, etc., por dois ou três angolanos.

Vai demorar muitos anos a contar uma história consensual, mas aqui  [, no blogue,] devemos continuar divididos, embora respeitando as ideias de cada um, pois até nem somos políticos.

Cumprimentos
António Rosinha
_______________

Nota do editor:

domingo, 10 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12274: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (1): Chegada a Bissau e deslocação para o Óio

1. Em mensagem do dia 8 de Novembro de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos o primeiro episódio da sua nova série Fragmentos de Memórias:


FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS

1 - Chegada a Bissau e deslocação para o Óio

24 de Agosto de 1965

Chegado a Bissau, levado pelo Niassa, despejaram-me na Amura.
A viagem foi pior que má, fui sempre deitado, enjoado e só m'alevantava nas horas das refeições, qu'eram cinco diárias. Gostei particularmente dos almoços e jantares, porque aí davam "buída tinta", para o mal estar... e "pescada au meuniére".

Abandonado em terra... amanha-te... e isso fiz embora antes e da Metrópole tenham partido de avião, os oficiais, milicianos e tudo, bem como os sargentos do Quadro (Secção de Quartéis lhes chamaram) com a incumbência também de me prepararem a recepção e instalações tão condignas qb, próprias de quem como eu, se julgou com direito a pelo menos uma cama para dormir, à semelhança de todos os outros que a tal privilégio tiveram acesso.

Depois... um ou outro pelotão lá ia sendo destacado para aqui e para ali e o meu (o 1.º) foi-se passeando e com a prestimosa ajuda dos guias turísticos (CART "ÁGUIAS NEGRAS") por Mansabá, Bissorã, Manhau, Pelundo (apenas a minha Secção), Jolmete e por fim reunimo-nos de novo (a CCAÇ 1422) em data que não posso precisar, mas julgo que nos finais de 1965.

Mas em Bissau e porque ali permaneci oito dias, acabei por e em companhia doutro amigo furriel miliciano acabei por, repito, conhecer a cidade e todas as malandrices que escondia. Nada me parecia ser perigoso e inquiria-me mesmo se haveria guerra, apesar do tiroteio que lá longe se ouvia.

No aeroporto vi os T6, que partiam com bombas agarradas e chegavam sem elas... vi a chegada dos aviões a hélice com o regresso de férias dos militares, conheci um ou outro civil residente, notei que mulheres brancas Portuguesas haviam poucas e miradas como se duma espécie rara fossem.

Impressionava-me ter de dormir com mosquiteiro, inútil que a bicharada entrava mesmo, embora em mim picassem só que morriam de seguida ao absorverem o meu venenoso sangue azul de "Marquês da Pedreira", que fora e que um dia conto como lá cheguei, à nobreza entenda-se.

Pedreira, no rio Sôr, aonde ia pescar barbos de meio quilo... e menos.

************

Setembro de 1965

Dizia-se que o baptismo de fogo era sempre e também, uma das situações que nos tornaria finalmente combatentes a sério.

Comigo aconteceu logo no início de Setembro de 1965, quando convidado, que fui, para ir tomar conta dos pertences militares usados por uma Companhia, que iria regressar a casa.

Foi ali um pouco antes de Mansabá, junto a umas ruínas ainda fumegantes do que tinha sido uma serração, que nos receberam com uma fogaracha de todo o tamanho. Tinham antes destruído também a ponte que atravessava um riacho não muito caudaloso, mas que nos obrigou depois a colocar cibes e tábuas, para que a coluna de veículos pudesse atravessar.

Localização da Serração. Vd. carta de Farim 1:50.000

Um dos vários pontões existentes ao longo da estrada Cutia-Mansabá.
Foto © José Barros (2011). Direitos reservados

Tudo ajudado por aqueles valentes que nos vieram socorrer em menos tempo do que leva a contar e após terem ouvido os primeiros tiros com que nos emboscaram.

Nada de grave aconteceu... do cagaço não nos livrámos, mas medo que logo passou quando começámos a corrê-los à pedrada. Daí que eles (os turras) se tenham escafedido com o rabinho entre as pernas e de tal forma que nesse dia, nunca mais os vimos. E foi assim que fui baptizado e tal como quando mo fizeram na igreja, nunca vim a conhecer quem foram os padrinhos. Chegados ao aquartelamento fomos recebidos que nem heróis, pelos restantes que ali haviam ficado contrariados e diziam estes "velhinhos" últimos de farda amarela (e eles sim com feitos dignos de registo), que nos houvéramos portado muito bem. Sem que eu imaginasse, apareceu-me um camarada d'armas, amigo já antes e lá da minha terra, o "Manel de Mora" e nem sei se vos diga se vos conte, a tamanha alegria com que nos abraçámos. Depois vieram as suas recomendações, os avisos, as indicações úteis sobre o IN e os locais onde mais costumavam actuar, tudo isto enquanto jantávamos que até nisso, nos recepcionaram melhor que bem.

No dia seguinte dei início à tarefa de que fora incumbido e lá vieram as contagens de viaturas, a observação dos edifícios, a comida que ficava e também a bebida claro, mas o que me deu mais gozo ver em pormenor, foram os dois obuses enormes com grandes rodas e que ao que me foi dito estavam apontados para Morés, onde já tinham feito enormes estragos nos poilões que circundavam aquela base, pois que, ao que se sabia, as bojardas eram de muito difícil penetração onde se pretendia que fossem.

Era fácil mudá-los para outras posições e na verdade recordo que depois um dia até nos ajudaram no K3, quando as bestas quadradas nos visitaram com alguma pretensa agressividade. Quis saber se na verdade trabalhavam e prometeram-me mostrar que sim.
A demonstração chegou logo quase de imediato, quando nesse mesmo dia atacaram a própria Mansabá.
Repelidos foram e a seguir fomos desopilar para o bar e... que bem aprovisionado estava !!!

Ele havia de tudo desde Vat 69, vinhos tintos e brancos, águas Perrier e Tónica, Gin's.... enfim uma parafernália capaz de engrossar a sério e até aliviar aquelas tantas gargantas secas. E foi nessa noite que comecei a tomar aquele especial remédio feito à base de lúpulo, cevada, milho e centeio.

Comecei e hoje passados 48 anos ainda não acabei.

Ao fim de 3 ou 4 dias e já com os bens mudados para o nome dos novos donos e tivéssemos tomado também posse das suites e instalações militares, veio a ordem de que afinal não íríamos ficar por ali, mas sim trocar com a CCAÇ 1421, que tanto estava empenhada em construir e de raiz, um hotel subterrâneo de cinco ou mais estrelas, em Saliquinhedim.

Para lá fomos passados que foram mais dois ou três meses, se me não engano que esse tempo é dos que não me veio ainda há memória.

Tal como me acontecera com o remédio de que atrás falo, sim aquele de grãos de cereais, foi também aqui na zona, mais propriamente em Manhau, que conheci aquele coisa horrível que se chama ódio. Os motivos para o passar a trazer comigo, foram óbvios e ainda hoje quando leio os que lançam lérias elogiosas ao terrorista Amílcar, fico pi-urso e decerto que não se lembram que ele foi o causador de tantas desgraças que aconteceram.

É que combater frente a frente e dando tiros de cá para lá... ainda vá que não vá, mas mandar implantar minas no terreno que ele sabia ir ser pisado porque quem para a Guiné tinha ido, não para atacar, mas mais para defender... era selvajaria... e foi dramático.

Julgo que (aqueles que leio, repito... aqueles que lançam lérias etc, etc.) não pensariam da mesma forma se tivessem estado presentes quando os infortúnios aconteceram... se tivessem que andar a limpar sangue... a juntar pedaços.

MAS CADA UM É COMO CADA QUAL

E mai'nada.

(continuará)

Guiné 63/74 - P12273: Memória dos lugares (251): Bafatá, fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, Pelotão de Manutenção, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

~
Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 326 > 3 militares numa carrinha de caixa aberta, típica da época (, pela marca e pelo desing parece ser uma Toyota Sout, japonesa, dos anos 60)... Não sei se era de um algum civil, ou se estava ao serviço das NT. Ampliando a foto, o condutor não me parece um militar, mas sim um funcionário da administração... se não mesmo o próprio administrador, o Guerra Ribeiro, não ?


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 351 > Uma das entradas e saídas de Bafatá, com a avenida principal,   tendo ao fundo o Rio Geba e à direita a catedral.


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >Foto nº 361 >  Rua conhecida como a rua da  sede de batalhão (à direita, porta de armas); à esquerda, se não me engano, o restaurante das Libanesas... que não ficava na avenida principal, como já aqui se tem lido...

[Legenda do Fernando Gouveia. Quanto às fotos nº 361, está ao contrário: a casa das libanesas era do lado direito de quem desce a rua]


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 328 > Rio Geba, porto fluvial de Bafatá. Esta foto parece estar invertida. O porto fluvial ficava na margem direita do rio, à esquerda do parque e da piscina... Terá sido tirada do cais acostável junto ao parque... Vd. fotos aéreas do Humberto Reis.


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 331 > Mercado de Bafatá: sempre animado e colorido.



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 364 > Mercado de Bafatá.




Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 330 > Campo de futebol (creio que era do Sporting Clube de Bafatá; em frente, na parede ao fundo, publicidade à Casa Gouveia)


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >Foto nº 378 > Aeródromo de Bafatá: chegada de um Dakota.



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >Foto nº 332 > Aeródromo de Bafatá: chegada de um Dakota; desembarque de homens e material.



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >  Foto nº 329 > Aeródromo de Bafatá: chegada de um Dakota. Personalidades militares não identificadas.

[O Fernando Gouveia mandou-nos a seguinte legenda: Na foto nº 329, da esquerda para a direita reconheço o Ten Cor. Teixeira da Silva do Comando de Agrupamento, um desconhecido e a seguir o Administrador de Bafatá].



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 362 > Aeródromo de Bafatá: Chegada ou partida de um heli




Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 377 > Instalações do Esquadrão de Cavalaria.



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >Foto nº 493 > Vista aérea da então vila (ou já cidade) de Bafatá. Ao canto inferior direito, aparece a igreja  e o edifício da administração... mas parece-me que a imagem está invertida (trata-se de um "diapositivo" digitalizado): a igreja devia estar à direita de quem desce em relação ao rio...

[Legenda do Fernando Gouveia: Quanto à foto nº 493 está ao contrário:  a igreja (catedral será demais) fica do lado direito da avenida, do lado de quem desce.]

 Fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pelotão de Manutenção  (que era comandado pelo alf mil Ismael Augusto), CCS/ BCAÇ 2852 (Bambadinca, 19587/0).

Pede-se aos camaradas desse tempo para as conferir as legendas, comparando-as com as fotos do Fernando Gouveia, que foi Alf Mil Rec Inf, Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70, e que é seguramente o melhor cicerone de Bafatá desse tempo...  Ver também as belíssimas fotos aéras tiradas pelo Humberto Reis da nossa doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba. E, já agora, revisitar também os postes da I Série, do Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47, que pertenceu ao Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71).

Vou, entretanto, propor a entrada para a Tabanca Grande do nosso amigo e camarada Otacílio... Preciso apenas de o contactar. Ele já deu um importante contributo para o nosso blogue, e para o enriquecimento das nossas memórias... Já não o vejo há um anos, desde o encontro do pessoal de Bambadinca (1968/70), em Coimbra.  Tenho o seu contacto telefónico. (LG).


Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.).


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Vista aérea de Bafatá ao tempo do Fernando Gouveia: a linha vermelho assinala a "avenida pincipal", que descia desde o hospital até ao parque, ao rio e ao mercado; a amarelo assinala-se o quarteirão ocupado pelo batalhão sedidado em Bafatá... Esta é a malha urbana da Bafatá colonial... O esquadrão de cavalaraia (bem como o comando de agrupamento) ficava na periferia, no bairro (ou tabanca) da Rocha... O Fernando, que é aqruiteto, é que um dia nos pode fazer o mapa e o roteiro da cidade, para acabar com as nossas memórias confusas... Ninguém conheceu (e amou) a cidade como ele...(LG)



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Vista aérea de Bafatá ao tempo do Fernando Gouveia: a linha vermelho assinala a "avenida pincipal", que descia desde a rotunda até ao Rio Geba, ao mercado e ao parque, passando pela catedral (, visível na foto, à direita, sendo as duas torres ainda percetíveis)... Do lado direito, o depósito de água que abastecia a cidade; do lado esquerdo, em primeiro plano, parte da Tabanca da Rocha (onde se situava a mesquita). Ao fundo, no canto superior esquerdo, vê-se uma nesga do Rio Geba. Nas imediações da rotunda, situava-se o café do sr. Teófilo, a coluna de Bambadinca parava para beber o "último copo", antes de regressar á estrada (alcatroada) Bafatá-Bambadinca...


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Vista aérea de Bafatá ao tempo do Fernando Gouveia: a linha vermelho assinala a "avenida pincipal", que descia desde a rotunda (visível na foto) até ao Rio Geba... Ao fundo, assinaladas a amarelos as instalaçõees do Comando de Agrupamento e do Esquadrão de Cavalaria.


Fotos: © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.).

Guiné 63/74 - P12272: Parabéns a você (649): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72) e Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494 (Guiné, 1972/74)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12268: Parabéns a você (648): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71) e Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo At Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

sábado, 9 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12271: Memória dos lugares (250): Cacheu, terra de história e de cultura... e hoje também última fronteira com o Sará...



Vídeo (9´ 19´´) alojado em You Tube > ADBissau. Reproduzido com a devida vénia...


Realização e produção.© Televisão Comunitária de Klelé (2012). Reportagem e edição: Demba Sanhá. Imagem: Xilay Bacar Mané. Fotografia: Abimaira M. B. Danfá. Música: Cânticos Felupes e Manecas Costa. Apoio: NOVIB e ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento.

Sinopse: "A AD iniciou, com o primeiro Festival Internacional Quilombola de Cacheu, em 2010, um programa de pesquisa e documentação histórica e cultural para a criação do Memorial de Escravatura de Cacheu. Este pequeno filme, o primeiro, procura começar a registar a informação oral existente."



Página do portal Cacheu, Caminho de Escravos, projeto que está a executado pela AD - Acção para o Desenvolvimento e pelos italianos da AIN, com apoio de diversos parceiros (União Europeia, UNESCO, Fundação Mário Soares, Instituto Politécnico de Leiria, etc.)

(...) "A criação do Memorial da Escravatura em Cacheu visa resgatar a memória histórica da escravatura naquela região da Guiné-Bissau e das suas relações com os circuitos e os destinos do tráfico negreiro e assenta sobre a apropriação comunitária do Memorial e de todas as demais iniciativas previstas.

"O projecto do Memorial da Escravatura apresenta 3 vertentes principais: (i) Histórica – promovendo a investigação histórica e a difusão da temática da escravatura; (ii) Cultural – promovendo a cultura e a identidade da cidade de Cacheu e da sua região e pondo em evidência as contribuições das diferentes etnias e a importância da língua crioula, que ali surgiu e se afirmou; (iii) Económica – potenciando as actividades produtivas e de serviços como meio de redução da pobreza e desenvolvimento de novas atividades económicas". (...)


Comentário de L.G.:  

A região do Cacheu é hoje a última (e frágil) barreira contra a invasão do Sará... A Guiné-Bissau está já em 2º lugar da lista dos 10 países do mundo mais ameaçados pelas mudanças climáticas.  Os nossos amigos guineenses e os seus amigos em Portugal e no resto do mundo não têm todo o tempo do mundo para preservar, recolher, tratar e divulgar a sua memória e pô-la ao serviço do desenvolvimento integrado e sustentado, que passa também pela preservação e protecção da "mancha verde" que ainda é o território da Guiné-Bissau, do Cacheu a Tombali.


Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu > Outuro de  2013 > Vista áerea da cidade. Foto de Filipe Santos (IPL - Instituto Politécnico de Leiria)... Reproduzido com a devida vénia.
_______________

Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12270: Efemérides (145): Cerimónia do Dia da Unidade do Regimento de Engenharia N.º 1 com imposição de medalhas a militares no activo e ex-combatentes da Guerra do Ultramar (José Martins)



1. Em mensagem do dia 8 de Novembro de 2013, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), mandou-nos esta reportagem referente ao Dia da Unidade do Regimento de Engenharia N.º 1, cerimónia aproveitada para se proceder à imposição de Medalhas a militares do activo e ex-combatentes da Guerra do Ultramar.





Cerimónia do Dia da Unidade
do
Regimento de Engenharia nº 1

Como já “ostentava” a miniatura ou a fita da Medalha Comemorativa de Campanha, apesar de não me ter sido atribuída, assim como a muitos camaradas de armas, no inicio do ano resolvi “oficializar” a situação, pelo que requeri ao Chefe do Estado-Maior do Exército a atribuição da mesma.

Programei a ida a Chelas, ao Arquivo Geral, e apresentei o requerimento a 24 de Janeiro do ano corrente. A resposta chegou com data de 1 de Março, informando que a Medalha me seria entregue pelo RE 1, pelo que deveria entrar em contacto com o Regimento, para coordenar a entrega. Entrei em contacto com o, por acaso, oficial que tratava do assunto. Disse-me que iria levar “algum tempo” mas, aguardei.

Informaram-me telefonicamente da data e enviaram a confirmação por carta, em 30 de Outubro.

Assim, à hora previamente combinada, 10H30 horas, apresentei-me na Unidade onde fui recebido pelos responsáveis pelo protocolo, que nos convidaram, sim a Manuela ia comigo, a aguardar na Messe de Sargentos, transformada em sala de recepção e onde ofereciam aos presentes uma “bebida para ambientar”.

Foi aí que tive o grato prazer de rever o Coronel Capelão Frei Teixeira [na foto à direita], que conheci na EPI, em 1999, e com quem contactei noutras cerimónias militares, já como Capelão do Governo Militar de Lisboa.

À chegada da Alta Entidade, creio que o 2.º Comandante da Brigada de Reacção Rápida, um Tenente General, foram-lhe prestadas as honras militares.

Na Parada dos Sapadores Mineiros, estavam formadas três Companhias, sob o comando do Tenente-Coronel, 2.º Comandante da Unidade, com a Banda de Música do Exército, aguardando a integração do Estandarte Nacional.


Saudação ao Estandarte Nacional, pelas forças em parada. 
© Foto: José Martins

Após o toque de “sentido à Unidade”, foi colocada uma coroa de flores junto do ao Monumento ao Esforço da Engenharia Militar, situado no Largo do Batalhão Artífices Engenheiros, dentro do perímetro das instalações, que identifica as Unidades que aprontou para o Ultramar, assim como dos militares tombados.

Monumento aos Esforço da Engenharia Militar 
© Foto: José Martins

Foram executados o Toque de Silêncio, Toque de Mortos em Combate, seguido de um Minuto de Silêncio, completando-se a cerimónia com o Toque de Alvorada.

Placa que identifica a única unidade mobilizada para a Guiné, a Companhia Mista de Engenharia nº 447, que deu lugar a Unidade de Engenharia na Guiné. 
© Foto: José Martins

Depois da alocução do Comandante da Unidade e do Pólo Permanente de Tancos, Coronel Monteiro Fernandes, procedeu-se a imposição de condecorações a militares e antigos combatentes.

Imposição da Medalha Militar - 3.ª Classe 
© Foto: José Martins

Imposição da Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército, 3.ª e 4.ª Classes a Oficiais e Sargentos 
 © Foto: José Martins



Imposição da Medalha Comemorativa de Campanhas a antigos combatentes, colocados na parada por antiguidade, a partir do mais próximo que esteve em Moçambique e os restantes na Guiné. 
© Fotos: Maria Manuela Martins

Desfile “em continência” das forças em parada. Estandarte Nacional 
© Foto: José Martins

Depois da cerimónia militar, foi apresentado, na Biblioteca Regimental, um diaporama com as actividades e preparação das forças de Engenharia, para cumprimento da sua missão, assim como uma exposição de material NBQ – Nuclear, Bacteriológico e Químico, assim como equipamento mecanizado de construção civil.

Almoço volante, servido para Oficiais, Sargentos, Praças, Empregados Civis e Convidados, no refeitório das praças. Na foto Maria Manuela Martins, esposa do nosso camarada José Martins
© Foto: José Martins

O bolo de aniversário, com o Brasão de Armas e Divisa do RE 1 
© Foto: José Martins

Corte do bolo com a Espada. 
© Foto: José Martins


Pessoalmente tenho a agradecer aos Oficiais, Sargentos e Praças, toda a atenção dispensada, não havendo destaque a fazer. Desde o Comandante, com quem estive a falar e quis saber pormenores da minha/nossa passagem por África, até a um soldado mecânico que me veio cumprimentar, dizendo que a cerimónia tinha “valido a pena”, com o momento da entrega das condecorações àqueles que, de armas na mão, defenderam a Pátria em condições difíceis,

Estas cerimónias não podem fazer esquecer a descriminação a que muitos combatentes são sujeitos, mas dá-nos a certeza de que os “nossos pares” sabem apreciar o nosso esforço e bom desempenho da missão na que fomos sujeitos.


José Marcelino Martins
8 de Novembro de 2013
____________

Nota do editor

Último poste da série de 31 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12227: Efemérides (144): A minha chegada à Guiné - 28 de Outubro de 1968, já lá vão 45 anos (Carlos Pinheiro)

Guiné 63/74 - P12269: Bom ou mau tempo na bolanha (34): ...quase 50 anos (Tony Borié)

Trigésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Província da Guiné Portuguesa, anos de Cristo, 1964, 1965, 1966, já lá vai muito perto de meia centena de anos.
O que se passou neste mundo, onde felizmente ainda vivemos, durante todos estes anos? Milhões e milhões de modificações.
Os laboratórios descobriram novos remédios, portanto, se não nos envolvermos em guerras, vamos viver mais anos, a tecnologia avançou, entre os laboratórios e a tecnologia, existe assim uma comparação como a “paz e a guerra”, pois se os laboratórios tentam descobrir meios de combater a morte, a tecnologia ao ser aplicada, tenta a maneira de matar o ser humano, mais rápido e em maior quantidade, pelo menos em caso de conflito.

Na opinião do Cifra, se há quase meio século atrás dissessem ao Curvas, alto e refilão, que era o tal soldado, amigo e companheiro do Cifra, que tinha algum desprezo pela sua vida, pois a sua mãe abandonou-o ainda criança, e diziam que “andava na vida” e nunca teve o carinho, ou a companhia de ninguém que lhe perguntasse se tinha fome ou frio, que no futuro poderia viajar pelo mundo, com imagens e tudo, através de um computador, talvez se não lhe dissessem que estavam sobre a influência de um cigarro feito à mão, era capaz de ir buscar uma granada e dizer logo que lhe partia o focinho com essa mesma granada!

Sim avançámos, mas alguns antigos combatentes, felizmente ainda vivos, continuam neste mundo, e as memórias horríveis do que passaram em cenário de guerra, continuam a acompanhá-los, até dizem que é stress de guerra, talvez seja, mas se passaram sacrifícios e fome, entre outras coisas, naquele tempo, continuam a passar, alguns estão sózinhos, muitos não querem convivência, tentam sobreviver, e se lhes falam, respondem com uma voz alterada, tal como faziam debaixo de uma emboscada, gritando, para ver se com essa atitude, faziam ir para longe, o medo que naquela altura sentiam.


A nova geração deve ter algum orgulho em dizer que o avô, ou a avó, foram combatentes, pois normalmente, os antigos combatentes, tanto o homem como a mulher, eram sofredores e com bons princípios, que quase sempre constituíam família e tinham coragem para a fazer crescer, também com bons princípios, por isso a nova geração, hoje, normalmente tem escola superior, vestem roupas modernas, usam telemóveis e computadores, e têm que se lembrar, nem que seja por um bocadinho, que estão aqui neste mundo com a ajuda desses homens e mulheres combatentes, que tinham bons princípios e tinham coragem para constituírem família e educá-la, e que são hoje seus avós.


O Cifra já está cansado de moral, mas ajeitou aqui umas fotos “cinco estrelas”, tal como esses jovens hoje, no ano de Cristo de 2013, dizem, e pode ser, que ao abrirem o seu computador, mesmo sem querer, ao verem figuras de jovens, leiam o texto!


Tony Borie, 2013
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12205: Bom ou mau tempo na bolanha (33): A sua boina (Toni Borié)

Guiné 63/74 - P12268: Parabéns a você (648): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71) e Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo At Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12256: Parabéns a você (648); Jorge Cabral (ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)