quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12287: Memórias de Mansabá (30): Um nunca acabar de recordações (Ernesto Duarte)

1. Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67) com data de 9 de Novembro de 2013:

Olá amigo Carlos
Olá caro camarada Mansabense
Pois é tu estiveste duas semanas ausente, eu estou, ou ando a maior parte do tempo ausente!
O tempo é o grande mestre! Claro que ter deixado a minha serra e ter vindo trabalhar para Lisboa as escolhas eram muito poucas, e com aquele pequenino pormenor de o pais ignorar o que se passava no Ultramar, logo não se poder falar muito.

Entre a minha época e a tua já houve uma diferença, cada vez era mais difícil esconder as coisas. Mas quando me reformei não tive a noção das minhas limitações, e ao ter ficado com a casa que era dos meus pais soube muito bem e não me doíam os ossos, não me custava nada lá ir e ia com gosto e alegria, hoje aborrece-me muito, ou pelo menos já não tem a graça que tinha, mas não quero abandonar as coisas, e lá vou indo e isto tudo para dizer que só no principio da semana recebi o teu email que desde já agradeço, assim como agradeço, a fortificação de Cutia e o mapa da nossa área critica!
Mas antes faço um reparo a mim próprio eu esqueci-me um pouco que tu também lá estiveste em condições de “hospitalidade“ diferentes na rua, mas na prática iguais. Tenho lido muito e quando há tempos vi que andaste por Manhau, não senti como que uma necessidade de te fazer perguntas sobre aquilo, mas disse cá para os meus botões, mais um que lá andou a arriscar a pele.

Não sei se no teu tempo ainda havia uma serração a funcionar em Mansabá! Era logo à entrada à esquerda quando se ia de Cutia. O dono fez o favor de me convidar e a mais dois ou três para irmos lá almoçar, jantar! Não eram ofertas por pura simpatia, era a necessidade que ele tinha de se dar bem connosco, tendo as relações piorado muito, quando nós não trouxemos de Banjara um trator enorme de lagartas que lá tinha ficado quando ele fugiu de lá.
Esse senhor com meia dúzia de caçadores africanos, mais os lenhadores e mais uns loucos como eu que íamos à caça, cortava madeira na zona de Mansomine, não passava aquela zona sem floresta antes de Cucuto e também não se aproximava muito de Demba Só.

Imediações de Mansabá que a CART 2732 palmilhava frequentemente, não evitando mesmo assim o mau feitio da vizinhança. Vd. Carta de Farim 1:50.000
Legenda: CV

Para o lado de Morés, nada, e depois com um certo à-vontade em frente e para a direita em relação à pista de aviação. Eu falo disto com muita emoção, mas o engraçado, ultimamente quando vou ao Algarve já não levo computador, se levo não abro, até porque a banda larga é uma porcaria, eu leio e penso, tento recordar! Eu lembro-me de sair de casa, já camuflado, com uma mala numa mão e um saco ao ombro, mas não lembro emoções nenhumas nem de pessoas terem falado comigo. Só lembro uma enfermeira da terra que veio no mesmo comboio que eu, Lagos – Barreiro se preocupar muito comigo!

Depois de termos desembarcado na Madeira e nos últimos dias de viagem, eu comecei a sentir uma certa expectativa em relação a Bissau. Depois de tanto ter ouvido da história dos portugueses e seus feitos, eu ia finalmente pisar uma cidade, capital de província, deveria ter que ver. Não digo que foi uma desilusão, digo onde estás Bissau, não sei que se passa com meus olhos que te não enxergam, estou a passar por ti e não te enxergo.

Uns campos, uns montes de bagabaga e eis que estou noutra grande cidade, Mansoa!

Tiro-lhe o Man e fico com o soa!
Mas não soa
Não soa os ecos da cidade.
Soa o estrondo das armas
Não soam risos de crianças
Soam choros de criança
Não soam risos de gente feliz
Soam gritos de gente com raiva
Soa o silencio de uma cidade em guerra
Parto para Mansabá que tem algumas casas com traços de arquitetura mas com janelas e terraços tapados a tijolos de terra batida.
Mansabá com a sua rua principal chegava a ter alguma beleza, quando as acácias floriam e se enchia com o garrido das bajudas, talvez se passeando!
A Mansabá, tirando-lhe igualmente o Man fico com sabá
Sabá rainha do saber
Foste uma rainha para muitos de nós
Não pelo saber
Não pelos teus encantos
Mas pelo teu poder total
Porque nos prendeste
Porque nos acorrentaste
Porque nos escravizaste
Porque nos obrigaste a fazer coisas que não queríamos
Porque transformaste nossos cérebros
Porque transformaste nossas personalidades
Porque transformaste nossas vidas
Porque transformaste a vida dos nossos familiares
Porque dispuseste de nós como te apeteceu Incluindo deformar nossos corpos
Incluindo tirar nossas vidas
Nunca ouvindo nossos pedidos de clemência
Mas eu não te odeio
Se calhar até tenho saudades tuas

Carlos, o texto são mais umas linhas para juntares a tantas que tens recebido.
As fotos são para voltares a ver aquilo que nunca esqueces.

Um obrigada por tudo
Um abraço aqui de Mansabá
BCAÇ 1857 / CCAÇ 1421
Ernesto Duarte
Furriel Miliciano

 Ernesto Duarte em Mansabá(?)

O Fur Mil Ernesto Duarte junto ao memorial da sua Companhia (CCAÇ 1421), "Os Caveiras" 


 Duas vistas aéreas de Mansabá no tempo de Ernesto Duarte

Ernesto Duarte na "avenida" de acesso à Porta de Armas do aquartelamento de Mansabá, tão bem descrita com a sua alma poética, acima, no texto

Ernesto Duarte numa das paradas do aquartelamento de Mansabá

Fotos: © Ernesto Duarte. Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: CV)


2. Comentário do editor:

Caríssimo Ernesto Duarte
As tuas palavras, quando falas de Mansabá, são apaixonadas, deixando transparecer o quanto ficaste marcado por aquela "terra onde se arde vivo", assim designada no livro "Guiné 1965 Contra Ataque", de Amândio César. Compreendo-te porque ali permaneci 22 meses e 11 dias.
A minha actividade operacional e ocupação das "horas livres", ajudando na Secretaria, não dava para grandes convívios na tabanca. Conheci meia dúzia de civis, os nossos dedicados guias e milícias e nossos camaradas do Pel Caç Nat 57. Lembro-me bem dos domingos em que nos vestíamos umas horas à civil, para arejar a roupa, e íamos passear a tabanca. Sentia-se um ar diferente nestes dias. Quase só os pelotões de piquete e serviço estavam ocupados. Com a noite voltava o sentir da guerra e os sentidos entravam todos em modo de emergência.

As horas mal dormidas em alerta permanente; os sucessivos ataques ao aquartelamento e tabanca; as sempre perigosas colunas para Mansoa e Farim; a protecção, com emboscadas quase diárias, durante meses aos trabalhos de pavimentação do troço da estrada Bironque-K3; as emboscadas nocturnas no fim da pista e no Alto de Bissorã; os patrulhamentos diurnos e nocturnos, assim como as operações, são parte da nossa memória que se apagará só no último dia das nossas vidas.

Quanto à Serração de que julgo falares, no meu tempo estava já desactivada e era um local de passagem muito perigoso.
Havia contudo um branco, não sei se é do teu tempo, o senhor José Leal que, com uns quantos colaboradores locais, abatia árvores algures nas imediações de Mansabá. Não precisava de protecção e tanto quanto me lembro nunca foi atacado. Provavelmente explorava a área que referes. Sinceramente não me lembro se ele tinha alguma serração ou se trazia os toros já limpos do local. Lembro-me que a camioneta era muito velha, que só tinha a cabina em cima do chassi onde transportava os toros.
Fica aqui a sua foto para ver se te lembras dele. Morava do lado de fora, quase encostado ao arame que cercava o quartel, por trás da casa do gerador e da mecânica, quem ia para a tabanca do lado esquerdo, quando se saía a porta de armas.

Mansabá, Abril de 1971 - Senhor José Leal segurando a sua filhota, o Cap Mil Jorge Picado, ajuda, e o Alf Mil Manuel Casal, assiste.
Foto e legenda: © Caros Vinhal. Todos os direitos reservados.

Não de Mansabá, mas de Leça da Palmeira, recebe camarada mansabense Ernesto, um fraterno abraço e os melhores votos de boa saúde.
CV
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12150: Memórias de Mansabá (29): A tabanca de Manhau já não existia em 1965 (Ernesto Duarte)

Guiné 63/74 - P12286: Memória dos lugares (253): Cacheu, centro histórico, antiga Casa Gouveia, futuro Memorial da Escravatura (Carlos Silva)


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > Zona histórica da vila > 2007 > Antiga Casa Gouveia



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > Zona histórica da vila > 2007 > O Carlos Silva, tendo por detrás a antiga Casa Gouveia; à esquerda  e antuga Casa Escada, à sua direita. Eram duas casas coemerciais importantes, no tempo da guerra colonial (1961/74).




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > Zona histórica da vila > 2009 > Foto a preto e branco da ntiga Casa Gouveia, em completo estado de abandono, vista de outra perspectiva


Fotos: © Caros Silva (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem:  L.G.).


1. Duas mensagens do nosso querido amigo e camarada Carlos Silva, enviadas ontem por volta das 23h00:

Meus Caros Pepito e Luís:

(i) A propósito do post 12280 (*), compreendi agora o que pretendiam Tomem lá a casa dos escravos. Uma bela fotografia

(ii) Aqui vai outra foto,  noutra versão e a preto

Publiquem as 2 fotos para ajudar a identificar a casa, pois a partir da foto do Paulo Bastos (*)  é mais difícil.

Fabuloso, como diz o nosso amigo Pepito

Um abraço, Carlos Silva

2. Comentário (e apelo) de L.G.:

Já agradeci hoje, de manhã. ao Carlos Silva, nestes termos:

Carlos, grande régulo de Farim... e grande andarilho!... Diz-me lá aonde que ainda não foste na Guiné?!... Esta foto [, a preto e branco,] é mesmo espectacular... Obrigadão... É caso para repetir, sem imodéstia, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Luis

Agora dirijo-me aos restantes amigos e camaradas da Tabanca Grande e demais leitores do blogue:

As duas primeiras fotos, acima publicadas,  com a antiga Casa Gouveia. na vila de Cacheu, são de 2007. São do nosso camarada Carlos Silva a quem estamos muito gratos pela pronta resposta ao nosso pedido de ontem... Como veem, é uma casa de sobrado, que deveria ser imponente no nosso tempo (1961/74)... A foto a preto e branco é posterior, de 2009, mas dá-nos mais informação sobre o edifício que vai ser restaurado para ser instalado o Memorial da Escravatura.

Era importante descobrir uma foto com a fachada ainda em boas condições... se possível dos anos 60/70. Pede-se mais um esforço adicional aos camaradas que tenham passado pelo Cacheu... Pode ser que esteja ainda escondida nos vossos álbuns.

Em nome da AD - Acção para o Desenvolvimento e da Fundação Mário Soares, o nosso amigo dr, Alfredo Caldeira que está a coordenar a equipa técnica, já nos agradeceu as nossas diligências:

Caros Amigos: Muito obrigado pelo vosso esforço. Esta imagem [, a de 2009, a preto e branco,] , é, apesar de tudo, anterior ao actual estado de degradação. Mas 'precisávamos de ir mais atrás' - designadamente para perceber se a varanda que existiu na fachada ia de um lado ao outro, como parece depreender-se de alguns pormenores da fachada.
Os arquitectos que estão empenhados no projecto de restauro do edifício precisam de todos os pormenores...
Mais uma vez obrigado e um abraço, Alfredo Caldeira.

Fica aqui, mais uma vez, o apelo e agradecimento  a todos os amigos e camaradas que quiserem continuar a fornecer-nos imagens da antiga Casa Gouveia no Cacheu, de preferência do idos anos de 1960/70 em que a casa (comercial) ainda estava aberta e o edifício não estava degradado.  (**)

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Guiné 63/74 - P12285: Parabéns a você (650): José Manuel Lopes, ex-Fur Mil Art da CART 6250/72 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12272: Parabéns a você (649): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72) e Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12284: Memória dos lugares (252): Bafatá ao tempo do Esq Rec Fox 2640 (1969/71) (Manuel Mata)



Guiné > Zona leste > Bafatá > Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (1969/71) > Vista aérea, tirada de heli.

O Esq Rec Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) era constituído por 1 Pelotão de Comando e Serviços e 3 Pelotões de Reconhecimento, equipados com as seguintes viaturas: (i) três Auto Metralhadoras Daimler; (ii)  duas Auto Metralhadoras Fox; (iii) um Granadeiro com blindagem lateral sendo a sua guarnição composta por atiradores; (iv) um Unimog cuja secção tinha um morteiro 81.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Texto do Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47, Esq  Rec Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (*)

[Montagem de fotos  originalmente publicadas na I Série do Blogue, em vários postes (*),  e que se volta a reproduzir, com um abraço ao autor, de quem não temos tido notícias; creio que vive no Crato ou Niza, no Alto Alentejo; gostaríamos de ter outras fotos iguais mas com melhor resolução]


1. Apresentam-se a seguir algumas imagens que documentam o aspecto de Bafatá à data da sua elevação a cidade (em cerimónia que decorreu a 12 e 13 de Março de 1970, com a presença do Ministro do Ultramar, Joaquim Moreira da Silva Cunha). (**)


Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 1 

Estabelecimentos comerciais e ruas com o seu aspecto bem cuidado, onde se destaca a limpeza e os lancis pintados a branco.





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 2

Outra rua comercial 





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 3

Rotunda à entrada de Bafatá e o Café do Teófilo (pai da Ritinha), ao fundo. 



Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 4

Hospital, unidade dirigida por missionários 
italianos





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 5

Catedral onde casou o Alferes Félix Vaz,  do Comando, com uma irmã do Coronel Danif, filhos da D. Rosa.  





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 


Foto nº 6

Residência do Administrador do Concelho [Ribeiro Guerra, na altura] e  posto dos cipaios.






Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 7

Mesquita, espaço de oração da comunidade muçulmana. 





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 8

Escola Primária inaugurada nesse ano.







Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 9 

Edifício dos Correios e Finanças. 






Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 10

O "Bataclã" [, no bairro da Rocha],   um dos pontos de lazer e divertimento da rapaziada.








Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 11


Ponte do Rio Colufe [, afluente do Rio Geba,] com a sua célebre estrutura em troncos de palmeira,




Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 >

Foto nº 12

Ponte sobre o Rio Geba[, em cimento armado]


Fotos e legendas: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados

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Notas do editor:

[Foto à esquerda: Campo Militar de Santa Margarida > Regimento de Cavalaria 4 > 1969 > O Manuel Mata posando num Carro de Combate M47. Foto do autor]


(*) Vd. I Série > poste de 2 de abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (4): Elevação de Bafatá a Cidade

Comentários deixados neste poste:

(1) posted by Jovem Cantineiro [, Carmindo Pereira Bento,]: 12/19/2007 12:41 PM


Colegas de Bafatá, vejo tudo o que têm neste e noutros sites relativos à Guine.

Sou ex-militar do Esquadrão de Reconhecimento Fox 8840.  Estive lá no inicio de 1973 até perto do fim do ano de 1974.

Tenho histórias a contar como vocês contam as vossas. Tivemos lá dos maiores atentados registados até essa data.

Lamento,  principalmente o meu ex-capitão e comandante Carvalhais,  do Esquadrão de Cavalaria 8840 (hoje coronel),  nada registar na internet.

Não vos conheco mas gostaria de ter contacto convosco para vocês conhecerm o meu esquadrão e recordarmos por onde e como passamos.

Um abraço... Carmindo Pereira Bento.
Restaurante Ângulo-Real 2425-022 Monte-Real- Leiria.


(ii) posted by Anónimo [Maurício Vieira] : 1/02/2009 12:16 AM 

Oi, amigo, também estive em Bafatá,  de Março de 1972 até Julho de 1974, pertenci à CCS do Batalhão 3884, mesmo ao teu lado. 

O meu mail: maunuvi@hotmail.com, para futuro contacto, Tel. 214026571 - Tm. 914614074.

No blog do Luis Graça podes encontrar o meu nome e referências na fotogaleria, chamo-me Mauricio Vieira e moro em Sintra. Teria todo o prazer em nos contactarmos, até porque gostaria de ter fotos de Bafatá que infelizmente perdi na totalidade. Um abraço e até breve.
(iii) posted by Antonio [Fontes] : 5/04/2011 3:31 PM

Tudo bem,  amigo, há muito que procurava alguém do esquadrao do qual fiz parte. Fiquei muito contente ao ver isto,  sou o mecánico Fontes,  gostava de contactar amigos do 8840. O meu contacto: afontessantos@gmail.com

(iv) posted by Campelo de Sousa : 1/30/2013 10:44 PM 

Também estive em Bafatá em fins de 1970 no Posto de Rádio (STM).

Foi lá que recebi o meu primeiro salário o dito Pré referente ao mês de Novembro/1970, de valor global = 2.738$00 !!! Esse recibo trazia escrito a lápis o seguinte: B.ART.2920 e ESQ.FOX.2640.

Passados que são 43 anos eu ainda guardo esse 1º Recido.

Francamente era uma fortuna que compensava muito bem as agruras daquela guerra para não dizer outra coisa  !!!!

Ex 1º Cabo Radiotelegrafista Campelo de Sousa.

PS - Esqueci-me de deixar o meu email: campelodesousa@sapo.pt

(**) Último poste da série > 12 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12280: Memória dos lugares (251): Cacheu, o Largo Central, a Casa Escada, a Casa Gouveia... (António Bastos, ex-1.º Cabo, Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)


Guiné 63/74 - P12283: Convívios (549): Encontro do pessoal da CCAÇ 557, levado a efeito no passado dia 9 de Novembro de 2013 (José Colaço)

1. Em mensagem do dia 10 de Novembro de 2013, o nosso camarada José Colaço (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) enviou-nos duas fotos relativas ao último encontro da sua CCAÇ, realizado no passado dia 9 de Novembro nas Caldas da Rainha.

Lembramos os nossos camaradas que devem mandar as suas fotos legendadas e acompanhadas de um pequeno texto onde, sumariamente, poderão descrever o que de mais importante aconteceu. 



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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12244: Convívios (548): Uma festa em cheio, na sessão de lançamento do livro do José Saúde: Lisboa, Casa do Alentejo, 26/10/2013 (Parte II): Eis por que um alentejano nunca canta sozinho...

Guiné 63/74 - P12282: O meu baptismo de fogo (25): Monte Siai, 10 de Janeiro de 1968 (Abel Santos)





1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 28 de Outubro de 2013, narrando-nos o seu baptismo de fogo:





O DIA DO MEU BATISMO DE FOGO

MONTE SIAI,  10 DE JANEIRO DE 1968

A Companhia avançava desde o alvorecer deixando para trás CANJADUDE, quartel que foi o ponto de partida para uma incursão operacional serpenteando através do capim, árvores, bolanhas e todo o tipo de obstáculos, aproximando-nos do objectivo estabelecido pelas esferas militares, e sempre acompanhados pela velhinha DO que a determinada hora se retirou para a Base.

Subido o monte SIAI a malta instalou-se para passar uma noite em alerta, e já com o sol no ocaso, eis que a guerra estala com um frenesim inaudito, envolvendo-nos numa luta sem tréguas. Recordo que quase sufoquei devido à imensa poeira levantada, chegando a pensar que ficaria ali para sempre. Tal não aconteceu mas fiquei algo confuso pois ainda não estava sintonizado com a realidade. É nessa fase de inércia momentânea que recordei tudo que estava para trás, o porquê de eu estar ali defendendo alguns que a essa hora estariam a banquetear-se, enquanto nós lutávamos para defender as nossas vidas. Quando acordei da inércia em que tinha mergulhado, o ataque do IN oscilava por cima das nossas cabeças parecendo mais o troar da trovoada com os seus raios luminosos, mas eram explosões e rajadas de todas as armas no seu matraquear característico da máquina de costura.

Reagimos ao matraquear das metralhadoras e dos morteiros do IN respondendo com o nosso querer e saber, as nossas armas vomitavam jactos de fogo para o meio do IN através da MG-42, bazuca e morteiro 60. Estava estirado no solo mas sentindo passar por mim os fogachos do IN que se desfaziam nas minhas costas revolvendo aquela terra como que a castigá-la acusando-a por ter recebido no seu seio tal intruso. Faço fogo respondendo ao matraquear da outra arma através de uma abertura entre uma árvore e uma rocha onde me tinha postado, quando de repente sou pisado nas costas por alguém que fica gritando (talvez pela minha imobilidade momentânea já que estava a mudar de carregador).
- Está morto?

Ao qual respondi azedamente:
- Está morto o cara..o.

Foi um dia tenebroso, desde o raiar da manhã na qual até as aves e os restantes habitantes daquela mata, talvez sentindo mau presságio desertaram, pois não notamos a sua presença, ou não quiseram assistir a tal sinfonia.

Na manhã seguinte contabilizaram-se alguns feridos entre nós, já o opositor não pôde dizer o mesmo.
Descemos SINAI a caminho do ponto de reunião que foi no CHECHE, onde a coluna que nos veio evacuar sofreu pelo caminho uma emboscada com minas anticarro e antipessoal, da qual viriam a falecer, vítimas de ferimentos, dois militares e Major do Serviço de Material que iam fazer uma inspecção do material existente no aquartelamento e sobretudo à célebre jangada que nos chegou a transportar para a outra margem nas deslocações da 1742 a MADINA DO BOÉ e BÉLI para abastecimento dos nossos camaradas ali colocados.

A partir do momento em que vivi a guerra na sua plenitude, fiquei a ver este conflito de um outro ângulo, pois o invasor éramos nós, e que o IN nos combatia e lutava com toda a legitimidade pois aquela terra era dele.
Pergunto eu, para quê tantos camaradas mortos, tantos deficientes que hoje não têm o apoio das pessoas responsáveis deste meu país?

Amo a GUINÉ, e repugna-me ver como está sofrendo o seu povo, talvez um pouco por culpa nossa, mas os responsáveis já cá não estão para serem responsabilizados.

E assim foram passados dois dias de muitos em actividade constante, defendendo as nossas vidas e a das populações, pois elas procuravam o nosso apoio já que connosco se sentiam mais seguras.

Termino, enviando a todos os camaradas que passaram pela GUINÉ e em especial aos da CART 1742 aquele abraço.

Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE ABRIL DE 2011 > Guiné 63/74 - P8064: O meu baptismo de fogo (24): Num ataque de... formigas (José Barros)

Guiné 63/74 - P12281: In Memoriam (168): A Memória do Cheche, 6 de Fevereiro de 1969 - Lista oficial dos desaparecidos no Rio Corubal (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2013:

Transcrevo mail do Luis:
 "Zé: 
Queria republicar postes antigos sobre o desastre de Cheche... (O dia 6/2/2013, faziam 44 naos, passou... mas há coisas ainda para esclarecer... ). Tu andaste com este dossiê, tens autoridade na matéria... Mas em relação à tua lista dos mortos, falta um nome!... Já dei voltas e não descobri: deve ser da CCAÇ 1790... Queres pegar neste material e fazer um poste novo. atualizado ?... 
Um abraço
Luís Graça"

Não sei se era o texto que queriam.
Pelo menos segue a "lista oficial" dos desaparecidos no Cheche.

Abraço
José Martins









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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12245: In Memoriam (167): Manuel Leitão Silvério, ex-alf mil, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70), mais tarde despromovido a 2º srgt mil, CCAÇ 2382 ( Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) (Adriano Moreira, ex-fur mil enf, CART 2412)

Guiné 63/74 - P12280: Memória dos lugares (251): Cacheu, o Largo Central, a Casa Escada, a Casa Gouveia... (António Bastos, ex-1.º Cabo, Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)








Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu > 2008 > Foto(s) do Largo Central da Vila do Cacheu. As Casas Escada e Gouveia estão devidamente assinaladas. O edifício, hoje em ruínas, da antiga Casa Gouveia, está em recuperação e nele será instalado o Memorial da Escravatura, numa iniciativa da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento e com apoio da União Europeia.

Foto: © António Bastos (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: L.G.).


1. Resposta, "just in time", com data de ontem, às 18h30, do António Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira PintoFarim, 1964/66), ao apelo formulado no nosso poste P12277 (*):

Companheiro Luís, boa noite:

Fotos da casa Escada, no Cacheu, tenho esta foto está um pouco longe, essa parte que se vê era a taberna no meu tempo e a mercearia, depois tinha a habitação que dava para a rua que leva à Fortaleza.
A casa é a que está por trás dos dois homens, mesmo na esquina.
Não sei se interessa para o caso, mas em 1964 estava lá na casa um Português que se chamava Joaquim e nos tratávamos pelo Sr. Joaquim Escada,  não sei se era o dono; também se encontrava a esposa e um filho que devia de ter uns 3 anos e  que depois veio a falecer em 1965,  lá.
Esta família eram de Coimbra.

Companheiro,  eu sei que tenho uns vídeos do ano 1993 quando estive no Cacheu. E é provável que apareça a casa, eu vou visionar,  se por acaso lá esteja eu envio.
Sempre ao dispor.  Parte Mantenhas. E um abraço,

António Paulo.

2. Novo mail do António Bastos, mandado às 18h45:

Companheiro Luís,  houve aqui um lapso meu, vocês querem a casa Gouveia e não a Escada, ora eu no Cacheu só conheci essa e a Ultramarina.

Aliás era a Ultramarina, e a do Libanês (que tinha duas filhas muito boas que em 2008 estavam já em Ingoré) e a do Sr. Joaquim Escada,  que não sei se ele era empregado se dono.

3. Comentário de L.G.:

Fantástico, António, não é o Largo do Cacheu, de 1964, é de 2008, mas não deixa de ser uma foto preciosa... Antes que venha o camartelo camarário ou o tempo dê cabo do resto... É um importantíssimo contributo teu para a preservação da(s) nossa(s) memória8s) do Cacheu. (**)

Dizes-me tu que a casa Escada é a da esquina, do lado direito, de piso térreo. Mas se, reparares, há uma outra, em segundo plano, com um piso superior, e de que só se vê uma parte. Pode ser essa a Casa Gouveia,

Quanto tempo estiveste no Cacheu ? Passaste lá pelo menos o Natal de 1964... Conheces mais alguém, do teu tempo, que tenha fotos do centro histórico do Cacheu ? 



Vista da Praça de Cacheu (Sec. XVI). Litografia, s/d. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU). Reproduzido, com a devida vénia,  do sítio Saber Tropical, do IICT - Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa.


4. Comentário do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, ONGD que está a construir o Memorial da Escravatura, em Cacheu:

Luis:  Acertaste em cheio. A casa Gouveia é exatamente essa que indicas. Dois pisos (sobrado,  como aqui dizemos e como se diz no português arcaico...). Muito obrigado. Já é uma aproximação ter esta foto do Largo Central. Vou aproveitar para contactar com a família Escada,  a ver se eles têm fotos daquele tempo. Pepito.


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12279: Manuscrito(s) (Luís Graça) (12): Servir duas pátrias, Portugal e Angola... O caso do sr. C..., furriel mil em 1974/75, no exército colonial português, tenente das FAPLA em 1975/89

Servir duas vezes a pátria, ontem Portugal, hoje Angola... 

por Luís Graça

Ilha de Luanda, 23/7/2013.

1. Levantei-me às cinco e meia da manhã. É dia ou quase dia. Às seis em ponto, o sr. C... , motorista de ambulâncias da clínica, já estava pronto para me levar ao aeroporto. É o meu motorista habitual, quando aqui venho, à Ilha de Luanda em serviço... É o meu motorista da madrugada.

 Já o conheço há uns anos... E espero voltar a encontrá-lo para a próxima semana. Sábado, vou de novo a Luanda, e desta vez vou no mesmo avião que o António Duarte, meu "neto" na CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1969/74)... Eu sou de 1969/71, ele é de 1973/74... Eu vou dar formação a médicos do trabalho e ele a bancários...Só que ele já lá vai há mais tempo (1999) do que eu (2003) ...(Mais uma vez se constata que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!).

O meu amigo C... estava de férias, mas levantou-se para me conduzir, a tempo e horas, até ao aeroporto. Há outro motorista, o C2..., mas mora longe. Sair de casa a essa hora é arriscado, devido à insegurança nos musseques.  Mesmo assim, na clínica,  há gente que sai de casa às 4h da manhã para vir trabalhar!...A vida é dura para os luandenses que precisam de trabalhar.

O sr. C... é um homem afável, de 59 anos, Mestiço, do Kuanza Sul (, salvo erro),  província a sul, a  cerca de 300 km de Luanda...É preeiso atravessar Luanda, de uma ponta á outra, até chegar ao aeroporto... Nas horas de ponta, pode ser um inferno. Daí ter que me levantar às 6 da manhã...para estar com uma certa margem de segurança, a tempo e horas, no aeroporto.

O sr. C... mora na ilha de Luanda, perto da clínica aonde fui dar formação e onde ele trabalha, como motorista de ambulâncias... Trabalho que, diga-se de passagem, não é pera doce: há uns largos anos atrás,  talvez em finais da década de 1990,  a sua ambulância foi metralhada num musseque, quando um "grupo de bandidos" (sic)  tentava assaltar a casa de um "fulano ricaço" (sic)... Os bandidos, que não sabem ler, confundiram o ti-no-ni da ambulãncia com o carro da polícia... Houve feridos graves, baleados dentro da ambulância; mas, mesmo com os pneus todos furados, o meu amigo C...  lá conseguiu safar-se, com o assento todo crivado de balas... Revelou grande sangre frio e coragem,

Esse sangue frio e coragem vêm-lhe do tempo da guerra. É um ex-combatente. Tem muitas histórias para (e por) contar. Rapidamente criei com ele um laço de cumplicidade. Nada como dois ex-combatentes.... Fez a guerra colonial, do lado português, com "muita honra" (sic), creio que por volta de 1973/74, ou mesmo 1974/75. Era furriel miliciano.  Serviu "a sua pátria de então" (sic). Quando os sul-africanos invadem Angola, sua terra, as FAPLA convocam-no para as suas fileiras. Foi então 1º tenente de infantaria, comandando cerca de 70 homens. Participou em várias batalhas. E lá ficou na tropa e na guerra até à desmobilização, em finais de 1980, se não erro... Também se queixa de o estado angolano ter esquecido os antigos combatentes...

Pelo que perecebio, esteve no Kuando Kubango (e, possivelmente, na batalha de Kuito  Kuanavale, de trágica memória para todos os contendores de um lado e  do outro, angolanos, cubanos, soviéticos, sul-africanos)...

Mas a  cena mais dramática da guerra para o meu amigo C... não foram os bombardeamentos massiços da artilharia e aviação dos sul-africanos, foi sim uma emboscada às portas de Luanda (c. 100 km, se bem percebi), a um coluna de várias viaturas guarnecidas por um grupo de combate... Tenho dúvidas se foi na batalha de Kifangondo, iniciada em 10/11/1975, às portas de Luanda (e cujo desfecho foi fundamental para reforçar a posição do MPLA), ou se foi mais tarde... (Sobre esta batalha, vd. aqui o depoimento do general António França 'Ndalu'). Não tive oportunidade, no trajeto até ao aeroporto, de esclarecer alguns pormenores... Possivelmete foi quando as forças sul-africanas, a seguir à independência,  chegaram até ao sul do Ebo, província do Kwanza Sul, ameaçando Luanda.

Nessa emboscada, as viaturas foram todas destruídas, as FAPLA tiveram cerca de 2/3 de baixas mortais, incluindo 7 cubanos e 12 angolanos... O sr. C... , na altura tenente e comandante da força (cerca de 30 homens), nunca mais se esqueceu desse "dia pavoroso" (sic)...

Começou a trabalhar na clínica quando esta reabriu em 1990/91. Ele já pertencia ao quadro de pessoal da Endiama. Conversa puxa conversa, diz-me que "já não há bandidos na ilha de Luanda e no centro de Luanda" (sic). A polícia "limpou-os" (sic). A esta hora, 6 da manhã, há grupos de 3 e 4 brancos (presumivelmente estrangeiros a trabalhar em Luanda) que andam a fazer "jogging" na marginal. As praias estão limpas, contrariamente ao que se via há uns anos atrás... A zona agora é "turística" (sic), as barracas desapareceram...  Enfim, a cidade mudou, "para melhor"... "Bandido é no musseque onde a polícia não vai" (sic). Tinha-lhe prometido trazer uma garrafa de vinho de Lisboa. Deixei-lhe kwanzas para beber um copo à nossa saúde e à nossa condição de antigos combatentes.

2. Percebo agora melhor porque é que os nossos amigos e irmãos angolanos, são pessoas que vivem com intensidade o dia que passa e manifestam publicamente a sua felicidade. "Para ser feliz tem que ser aqui em Angola", diz um kudurista dos musseques de Luanda no filme angolano "I Love Kuduro", do realizador português Mário Patrocínio, a cuja estreia, em Portugal, eu assisti há dias, no Cinema  São Jorge, no âmbito do doclisboa'13...

Confesso, por outro lado,  a minha relativa ignorância em relação à história e á geografia de Angola, apesar de lá ir já desde 2003... Tenho que me socorrer da Net e dos mapas, como muletas...

Por exemplo, Kuando Kubango... É uma província situada no sudeste do país. Verifico que é limitada a norte pelas províncias do Bié e Moxico, a leste pela República da Zâmbia, a sul pela República da Namíbia e a oeste pelas províncias do Kunene (onde a guerrilha da SWAPO tinha bases e campos de refugiados) e Huíla. A capital da província é a cidade de Menongue e dista de Luanda mais de mil km e de Kuito menos de 350 km. Tem cerca de 140.000 habitantes e ocupa uma superfície duas vezes superior a Portugal...

É constituída pelos municípios de Kalai, Kuangar, Kuchi, Kuito Kuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo. O clima é tropical no norte da província e semi-árido no sul. Esta região  de Angola é conhecida atualmente como "Terras do Progresso», devido ao seu grande potencial económico, praticalmente por explorar.

Mas voltemos à guerra, à chamada segunda guerra da independência. Durante muito tempo alguns municípios (como Mavinga, Dirico, Cuchi e Kuito Kuanavale) serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA,  liderada por Jonas Savimbi, que só abandonou completamente estes territórios (a "Jamba") em finais de 2001,  aquando da ofensiva das forças armadas angolanas. É sabido que o Movimento do Galo Negro recebeu  apoio dos EUA, na luta contra contra o MPLA,  que por sua vez era apoiado pela União Soviética e Cuba. Estávamos em plena guerra fria. Angola era uma peça importante no tabuleiro do xadrez da geopolítica mundial,..

 A Batalha de Kuito Kuanavale foi o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana. Foi um batalha sangrenta e prolongada entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988.  Foi aqui , na província de Kuito Kuanavale, e mais concretamente no munícipio de Kuando Kubango, que as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), apoiadas pelos soviéticos e pelos cubanos, se confrontaram com a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apoiada pelo  exército sul-africano.

É considerada a batalha mais longa travada no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.

Nesta batalha de Kuito Kuanavale, foi posto em cheque o mito, aos olhos dos angolanos,  da invencibilidade do exército da África do Sul. Independetemente das duas partes terem clamado vitória, a África do Sul terá sido obrigada a reconhecer tacitamente a superioridade demonstrada pelas FAPLA (e seus aliados) no campo de batalha. Isso explicará a posterior assinatura dos Acordos de Nova Iorque, ponto de partida para o fim de um conflito que afinal não era apenas uma guerra civil, nem um simples conflito regional ...  A implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU vai levar  à independência da Namíbia e apressar o fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.

3. Levei para Luanda e acabei de ler, de um fôlego, o romance de Ondjaki, Os transparentes, 3ª ed.  (Lisboa: Caminho, 2013, 451 pp). Um marco da literatura lusófona. Este puto (n. 1977, e que fez sociologia, como eu, no ISCTE) vai longe. Será em breve elegível para o Prémio Camões, disso não tenho dúvidas.   Ele não precisa de comparações, mas para mim é o Mia Couto angolano.  Conheci-o pessoalmente, há uns anos atrás, na Feira do Livro de Lisboa. Uma pessoa adorável, de uma grande sinplicidade e simpatia, Luanda passa a ter, depois de Luuanda, do Luandino Veira, mais um livro de referência. Ganha Angola mas também todo a comunidade lusófona com este grande escritor e com o seu primeiro grande romance. É também um hino à língua portuguesa que nos une a todos.

Vd. aqui um resumo do romance.

PS - Sem surpresas para mim, acabou de arrecadar mais um prestigiado prémio, o Prémio Literário José Saramago 2013. Entre os membros do júri, conta-se a poet(is)a Ana Paula Tavares (n. 1952, Lubango), outro nome grande da literatura angolana.

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (11): No melhor pano cai a nódoa... (Luís Graça)