1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2014:
Queridos amigos,
Tomás Paquete tem nas veias sangue guineense, cabo-verdiano e são-tomense, nado e criado em Lisboa, assumiu depois as suas origens africanas e partiu para a Guiné-Bissau.
Como funcionário das Nações Unidas tem corrido Seca e Meca e Olivais de Santarém, ásias, américas e áfricas.
A sua poesia não é rotulável, é quase académico, oscila entre o gosto popular e o romantismo desabrido. Uma poesia cosmopolita de quem calcorreou muito mundo e descobriu as âncoras do amor e as desvela, com alegria e exaltação.
Um abraço do
Mário
Estados de Alma: Cem sonetos de vida e amor
Beja Santos
Tomás Paquete apresenta-se como produto da multiculturalidade lusófona, filho de pai guineense, mãe cabo-verdiana e avô paterno são-tomense. Nasceu em Lisboa e passou a juventude entre a Amadora e a capital. Frequentou os liceus Pedro Nunes e Passos Manuel e as Oficinas de São José. Foi funcionário do Instituto Nacional de Estatística e partiu para a Guiné-Bissau depois de assumir as suas origens africanas, foi professor e depois diretor-adjunto do Internato Domingos Ramos, no Boé. Foi seguidamente produtor e chefe do departamento de produção da Rádio Nacional da Guiné-Bissau. Participou na primeira antologia poética da Guiné-Bissau, “Mantenhas para Quem Luta”, 1977, tem vasto currículo ao serviço das Nações Unidas.
“Estados de Alma” é o seu primeiro livro de poesia. Como prefacia António Soares Lopes Jr. (Tony Tcheka), este livro marca a rotura do poeta com o passado, este conteúdo de sonetos medularmente românticos nada tem a ver com a longa luta de libertação nacional, é uma extensa e avassaladora crónica de amor, escrito por vezes num ritmo febril, por vezes mais distenso, elegíaco, temente das perdas desses amores, lançando apelos confessionais, desculpando-se, sofrendo, vitoriando as coisas do amor.
Sempre 14 versos, sonetos que cuidam da rima, métrica rigorosa. Um português castigado, depurado, saltitando entre o gosto popular e o evanescente ultrarromantismo, sem tibiezas. Assim, um poeta raro, indiferente à escola, ao estilo castigado, ao pendor académico. Poesia de consagração, de concelebração, de cântico da dor, de promessa, de registo da mulher que transformou a existência do poeta, ode à sensualidade, pranto na hora da despedida, registo da angústia nos diferentes momentos da incerteza. Fala-se do amor mulato, dos tons mate, da sensaboria do amor vertigem, curtíssimo. Trata-se de uma longa crónica de amor e de alguém que buscou e encontrou um porto de abrigo, que faz confissões ao Tejo, que tem nostalgia das ruas de Lisboa, que lança promessas e que se despede com versos feitos vida, com esta delicadeza e esta intemporalidade:
Vieste num belo formato, nada pequenina,
lembra-me o galão do mata bicho, morena.
Pele delicada em porcelana, tal loiça da china,
que até o tocar-te, não vás partires-te, me dá pena.
Vestida ou não em roupa muito ou pouco fina,
tens sempre um porte real e a voz amena.
E ao teres sido assim pensada e criada, menina,
ao teu corpo só poderiam ter dado uma alma divina.
A água de dois rios famosos fizeram-te, soberana
e quantas esperanças desfeitas, de quem queria
ocultar a beleza, que é, do Nilo e Tejo, a predileta.
Se tudo em ti, é tão sublime, apesar de humana,
espero que percebas, que és a minha única moradia,
e que um dia, transformes os versos, na vida, deste poeta.
Tomás Paquete apresenta-se assim numa toada vibrante, a pulsão é mesmo a paixão ardente. Vale a pena regressar a Tony Tcheka e ao que ele pensa destes estados de alma: “Descortina-se por entre as palavras rimadas, eivadas de estética e ternura, uma musa inspiradora à qual o autor também dedica muitos dos textos escritos num hiato de dois anos. Outros motivos vão aparecendo à medida que a esteira de sentimentos se alarga e abrange outros espaços físicos e geográficos. Ainda quando fala de lagos, rios e montanhas que foi conhecendo por esse mundo fora, é o amor sublime aos cantos”.
Ingénuo nesta sua vivacidade de contar, atento à melodia dos sons, este seu livro é a exaltação pelo amor descoberto, nada mais que a vida e o amor se atravessam nesta poesia simples e calorosa.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13389: Notas de leitura (610): "Exploradores Portugueses e Reis Africanos, Viagens ao Coração de África no Século XIX", por Frederico Delgado Rosa e Filipe Verde (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Guiné 63/74 - P13397: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (26): O Honório que eu conheci em Angola e em Cabo Verde (Albertino da Silva, West Palm Beach, Florida, USA, antigo piloto dos TACV, em 1979/80)
1. Mensagem do nosso leitor, residente em WestPalm Beach, Florida, EUA, Albertino Dasilva
Data: 13 de Julho de 2014 às 07:14
Assunto: O Piloto Honorio...
Hoje li um boletim no www.barrosbrito.com, acerca do Piloto Honório [Brito da Costa, nascido na Praia, Cabo Verde, em 28/8/1941; foto à direita, cortesia da página do da família Barros Brito ](*).
O Honório era mulato. Filho de um advogado preto de Cabo Verde. A sua mãe era branca, não sei se nascida na cidade da Praia.
Eu conheci a mãe do Honório.
Eu fui Piloto dos TACV [, Transportes Aéreos de Cabo Verde,] cerca de dois anos (em 1979 e1980). Eu tenho agora 68 anos. Vim de Angola e foi em Luanda que conheci o Honório quando ele saiu da Força Aérea. O Honório fez pulverização aérea nas fazendas de Malange... e depois trabalhou nos Táxis Aéreos em Luanda até à Independência; tendo regressado a Cabo Verde com medo do MPLA.
Quando chegou a Cabo Verde, o Governo inicial da Independência que tinha um ramo associado aos cubanos, mandou prender o Honório. Pois era um Governo do PAIGC contra o qual o Honório bombardeou na Guiné.
Depois de largos meses na prisão, a sua mãe que por acaso era amiga do Presidente Aristides Pereira (PAIGC), lá conseguiu que o Honório fosse libertado e depois de uma recuperação de longos meses ele foi admitido nos TACV.
O piloto Alexandre Pina Ferreira, que foi colega do Honório na Força Aérea (neste caso, em Angola) deu-lhe a mão e ajudou o Honório a entrar na companhia.
Em Luanda éramos todos amigos e sempre prontos aos copos... lá no Baleizão... e uns valentes churrascos com bom vinho e cerveja, não esquecendo as mulatas bonitas que por lá andavam...
Claro que o Honório ainda era meio maluco lá na cidade da Praia. Eu fui co-piloto de alguns voos onde ele era comandante. Confesso que não era nada fácil entendê-lo [...].
Na Praia, quando eu lá estive, assisti a várias palhaçadas...
Havia muitas histórias do Honorio lá na Praia.
Ele tinha um feitio que não se explica muito bem... Foi o único filho e muito mimado. Depois deixou Cabo Verde para ir para a Escola Agrícola. Como sabemos, la há bom vinho e presunto... Pois também se contam muitas histórias da sua estadia lá em Santarém...
Pois se esta informação pode ser acrescentada lá na sua página, pode elucidar alguma gente do tempo da guerra. Mas não ponha lá esta história toda...
Albertino da Silva
West Palm Beach, Florida, USA
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12306: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (25): O Honório e a minha cabeçada no painel de instrumentos, no T6, que fazia a proteção à coluna logística que ia para Beli... (Vítor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)
Data: 13 de Julho de 2014 às 07:14
Assunto: O Piloto Honorio...
Hoje li um boletim no www.barrosbrito.com, acerca do Piloto Honório [Brito da Costa, nascido na Praia, Cabo Verde, em 28/8/1941; foto à direita, cortesia da página do da família Barros Brito ](*).
O Honório era mulato. Filho de um advogado preto de Cabo Verde. A sua mãe era branca, não sei se nascida na cidade da Praia.
Eu conheci a mãe do Honório.
Eu fui Piloto dos TACV [, Transportes Aéreos de Cabo Verde,] cerca de dois anos (em 1979 e1980). Eu tenho agora 68 anos. Vim de Angola e foi em Luanda que conheci o Honório quando ele saiu da Força Aérea. O Honório fez pulverização aérea nas fazendas de Malange... e depois trabalhou nos Táxis Aéreos em Luanda até à Independência; tendo regressado a Cabo Verde com medo do MPLA.
Quando chegou a Cabo Verde, o Governo inicial da Independência que tinha um ramo associado aos cubanos, mandou prender o Honório. Pois era um Governo do PAIGC contra o qual o Honório bombardeou na Guiné.
Depois de largos meses na prisão, a sua mãe que por acaso era amiga do Presidente Aristides Pereira (PAIGC), lá conseguiu que o Honório fosse libertado e depois de uma recuperação de longos meses ele foi admitido nos TACV.
O piloto Alexandre Pina Ferreira, que foi colega do Honório na Força Aérea (neste caso, em Angola) deu-lhe a mão e ajudou o Honório a entrar na companhia.
Em Luanda éramos todos amigos e sempre prontos aos copos... lá no Baleizão... e uns valentes churrascos com bom vinho e cerveja, não esquecendo as mulatas bonitas que por lá andavam...
Pois eu também era piloto em Angola e o Alexandre Ferreira também me chamou para trabalhar nos TACV, onde estive 2 anos.
Depois disso vim para os EUA e aqui estou há 32 anos, agora reformado na Flórida.
Tenho um filho (Paulo da Silva) que agora voa nos 777 da US Airways (International).
Soube que o Honório teria morrido antes de 1990. E também o Alexandre Ferreira se passou [...].
Depois disso vim para os EUA e aqui estou há 32 anos, agora reformado na Flórida.
Tenho um filho (Paulo da Silva) que agora voa nos 777 da US Airways (International).
Soube que o Honório teria morrido antes de 1990. E também o Alexandre Ferreira se passou [...].
Claro que o Honório ainda era meio maluco lá na cidade da Praia. Eu fui co-piloto de alguns voos onde ele era comandante. Confesso que não era nada fácil entendê-lo [...].
Na Praia, quando eu lá estive, assisti a várias palhaçadas...
O Honorio tinha um cão Pastor Alemão... como ele se esquecia de dar comida ao cão, o bicho ia definhando lentamente... E um dia o cão morreu mesmo. O Honório sai-se com esta:
- Então agora que ele se habituou a não comer é que morre ?!... Tenho que treinar outro cão...
Havia muitas histórias do Honorio lá na Praia.
Ele tinha um feitio que não se explica muito bem... Foi o único filho e muito mimado. Depois deixou Cabo Verde para ir para a Escola Agrícola. Como sabemos, la há bom vinho e presunto... Pois também se contam muitas histórias da sua estadia lá em Santarém...
Pois se esta informação pode ser acrescentada lá na sua página, pode elucidar alguma gente do tempo da guerra. Mas não ponha lá esta história toda...
Albertino da Silva
West Palm Beach, Florida, USA
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12306: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (25): O Honório e a minha cabeçada no painel de instrumentos, no T6, que fazia a proteção à coluna logística que ia para Beli... (Vítor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)
domingo, 13 de julho de 2014
Guiné 63/74 - P13396: Ser solidário (161): Uma assinatura pode fazer uma grande diferença - Assinem a petição "Emissão da RDP África no Porto"
Mensagem de Liliana Granja com data de 9 de Julho de 2014
Assunto: RDP África | Uma assinatura pode fazer uma grande diferença!
Boa tarde,
Conforme será de vosso conhecimento, a emissão da rádio RDP África foi transmitida em Portugal durante muito tempo apenas em Lisboa, passando depois a ser ouvida em Faro e em Coimbra. Infelizmente, e incompreensivelmente, a emissão não foi ainda alargada ao Grande Porto. Nesse sentido, foi criada a petição «Emissão da RDP África no Porto» e o caminho que está a ser traçado é a recolha de assinaturas.
Neste momento, mais de 400 pessoas já assinaram a petição "Emissão da RDP África no Porto"!
A quem já assinou a petição, o nosso MUITO OBRIGADO!
A quem ainda não assinou... pode fazê-lo aqui agora mesmo! Não custa, nem demora nada... é só uma assinatura, que pode fazer uma grande diferença!
O próximo passo é DIVULGAR!!! Só com a ajuda de todos será possível e pedimos o favor de divulgarem entre os vossos contactos, para conseguirmos atingir as tão ambicionadas MIL assinaturas!
As pessoas que não tenham BI ou Cartão de Cidadão podem colocar o Passaporte. Foi criado este campo especial para que as pessoas dos PALOP não fiquem impossibilitadas de assinar.
Gostaríamos também de informar que estamos a efectuar a recolha de assinaturas em formato papel. Caso pretendam algum esclarecimento ou desejem partilhar alguma sugestão/opinião, pedimos o favor de nos contactar através do email granjap@gmail.com.
Em breve contamos trazer-vos boas novas sobre este assunto!
Até lá... por favor DIVULGUEM!
Juntos, levaremos a RDP África a bom Porto!
Link directo para a petição: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT73372
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13270: Ser solidário (160): Petição: Parem imediatamente o tráfico ilegal de madeira na Guiné-Bissau!... (Patrício Ribeiro / Luís Graça)
Guiné 63/74 - P13395: (De) Caras (19): O comerciante Jamil Nasser, libanês, com casa e loja no Xitole, que eu conheci no início da década de 1970 (Joaquim Mexia Alves, José Zeferino e Paulo Santiago)
1. Mensagem do nosso camarada José Zeferino [, ex-alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74; foto à esquerda], com data de hoje:
Ainda o Jamil (*)
[ex-alf mil op esp, CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73]
(**) Vd. blogue Tabanca do Cnetro > 10 de Julho de 2012 > Recordações da memória – o Jamil [, por Joaquim Mexia Alves]
Ainda o Jamil (*)
Já me tinha referido ao Jamil anteriormente e realmente ele tinha contactos com o PAIGC: pelo menos um comandante de canhões deles, que vim a conhecer mesmo na sua casa, tinha sido empregado dele em lojas que tinha na zona de Mina [, na margem direita do Rio Corubal], antes da guerra.
Na primeira vez que foi ao Xitole depois da guerra, foi logo cumprimentá-lo em sua casa. Foi quando o conheci pois estava a bebericar uns scotchs com o Jamil.
O cozinheiro chamava-se Suri e tive o prazer de provar a sua "galinha de mancarra" por duas vezes: uma de oferta do Jamil e outra de encomenda nossa. Espectaculares. Mas precisavam de várias horas de preparação. O Suri tinha um problema de saúde-um testículo enorme que o atrapalhava nos movimentos-seria elefantíase?
O Jamil, libanês, era o mais velho da sua família, e sei que tinha personagens influentes e em cargos políticos em vários países africanos e no próprio Líbano,como parentes.
Abraços para todos
José A.S. Zeferino
2. Comentários do editor L.G. (*):
A conversa aqui é como as cerejas... Ainda a propósito do "mensageiro" do Xitole (que levou à tropa a notícia do 25 de abril!) (*), há um comentário do Paulo Santiago, no blogue da Tabanca do Centro, que eu tomo a liberdade de a seguir reproduzir.
Pessoalmente, não o conheci, ao Jamil Nasser, embora tenha ideia de o ter visto, no decurso das nossas colunas logísticas Bambadinca- Mansambo - Xitole - Saltinho, no tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... Como os demais comerciantes da Guiné, tinha fama, se calhar injustamente, de dar-se bem com os "dois lados"...
Não sabia que era tio do jornalista (e compositor) brasileiro David Nasser (1917-1980), um homem influente no seu tempo, no Brasil e em Portugal.
Na primeira vez que foi ao Xitole depois da guerra, foi logo cumprimentá-lo em sua casa. Foi quando o conheci pois estava a bebericar uns scotchs com o Jamil.
O cozinheiro chamava-se Suri e tive o prazer de provar a sua "galinha de mancarra" por duas vezes: uma de oferta do Jamil e outra de encomenda nossa. Espectaculares. Mas precisavam de várias horas de preparação. O Suri tinha um problema de saúde-um testículo enorme que o atrapalhava nos movimentos-seria elefantíase?
O Jamil, libanês, era o mais velho da sua família, e sei que tinha personagens influentes e em cargos políticos em vários países africanos e no próprio Líbano,como parentes.
Abraços para todos
José A.S. Zeferino
2. Comentários do editor L.G. (*):
A conversa aqui é como as cerejas... Ainda a propósito do "mensageiro" do Xitole (que levou à tropa a notícia do 25 de abril!) (*), há um comentário do Paulo Santiago, no blogue da Tabanca do Centro, que eu tomo a liberdade de a seguir reproduzir.
Pessoalmente, não o conheci, ao Jamil Nasser, embora tenha ideia de o ter visto, no decurso das nossas colunas logísticas Bambadinca- Mansambo - Xitole - Saltinho, no tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... Como os demais comerciantes da Guiné, tinha fama, se calhar injustamente, de dar-se bem com os "dois lados"...
Não sabia que era tio do jornalista (e compositor) brasileiro David Nasser (1917-1980), um homem influente no seu tempo, no Brasil e em Portugal.
3. Comentário de Paulo Santiago [, com data de 10 de julho de 2012, em poste publicado no blogue da Tabanca do Centro,] e republicado no nosso blogue, no poste P13378 (*) ...
Estou a ver o Jamil com um lenço entre o colarinho e o pescoço para absorver o suor enquanto o nível do whisky ía baixando na garrafa .
Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!
Comi alguns almoços em casa dele,o "criado" era um excelente cozinheiro e o "chabéu" óptimo...
Aos Domingos, no tempo da CCAÇ 2701, o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scotch e uns quantos tomates a serem aviados.
O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete, muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.
Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!
Comi alguns almoços em casa dele,o "criado" era um excelente cozinheiro e o "chabéu" óptimo...
Aos Domingos, no tempo da CCAÇ 2701, o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scotch e uns quantos tomates a serem aviados.
O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete, muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.
Xitole, c. 1971/72 > O Jamil Nasser com o alf mil op esp Joaquim Mexia Alves, da CART 3492 |
4. O Jamil Nasser, na evocação feita pelo Joaquim Mexia Alves [, texto originalmente publicado no blogue da Tabanca do Centro, em 10/7/2012, e aqui reproduzido com a devida vénia (**)
Recordações da memória – o Jamil
por Joaquim Mexia Alves
por Joaquim Mexia Alves
[, à esquerda uma rara foto do Jamil Nasser, com o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves; cortesia do autor] (**)
Na Guiné, que me lembre, tive apenas um amigo civil, com quem partilhei longas conversas e uma amizade sincera.
Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.
Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.
Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!
O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.
A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.
Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!
Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.
Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.
Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!
O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.
A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.
Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!
Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
O Jamil disse para insistir, porque depois das três ou quatro primeiras garfadas, a boca se habituava ao picante e depois é que se podia saborear o chabéu.
E assim foi, sem dúvida, pois não me lembro de comer outro tão bom como este!
É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de
É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de
tarde no Xitole! Hei-de voltar ao Jamil Nasser e a
outras histórias com ele.(***)
Monte Real, 10 de Julho de 2012
Joaquim Mexia Alves [, foto atual à direita]
[ex-alf mil op esp, CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73]
________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 8 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13378: No 25 de abril eu estava em...(24): Xitole, e foi o comerciante libanês Jamil Nasser quem me deu a notícia, ouvida na BBC, na sua emissão em árabe (José Zeferino, ex-alf mil at inf, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74)
(**) Último poste da série > 21 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13173: (De) Caras (18): Pedido de desculpas... Afinal não foi o oficial da GNR quem, em Portalegre, no antigo aquartelamento do BC1, nos mandou comprar a bandeira portuguesa na loja do chinês (Vasco da Gama, ex-cap cav, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)
Guiné 63/74 - P13394: Memória dos lugares (270): Bafatá: o Sporting Club Bafatá, a piscina, o mercado, a Casa Gouveia, a estátua de Oliveira Muzanty... (Fotos de Benjamim Durães, ex-fur mil op esp, Pel Rec Info, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Sede do Sporting Club Bafatá
Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Mercado (1)
Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Mercado (2)
Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Piscina (1)
Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Piscina (2)
Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Parque da cidade com a estátrua de Oliveirz Muzanty e ao fundo a Casa Gouveia
Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Parque da cidade com a estátrua de Oliveirz Muzanty, junbto ao Rio Geba
Fotos do álbum de Benjamim Durães, ex-fur mil op esp, Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).
Fotos: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 26 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13332: Memória dos lugares (269): Bissorã, Casa Gardete, do dr. Manuel Gardete Correia (1928-2009), autoridade mundial no combate à doença do sono, a única casa de pedra e tijolo da vila, construída por seu pai José Gardete Correia, comerciante, natural de Rosmaninhal, Idanha-a-Nova (Armando Pires / Fernando Cristo)
Guiné 63/74 - P13393: Parabéns a você (762): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 12 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13391: Parabéns a você (761): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista Reformado (Guiné, CCP 122 e 123 / BCP 12)
sábado, 12 de julho de 2014
Guiné 63/74 - P13392: Manuscritos(s) (Luís Graça) (36): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VII): O melhor edifício da cidade, a Associação Comercial, hoje sede do PAIGC, projeto do arquiteto Jorge Chaves, de 1949-1952
.
Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).
Foto: © Agostinho Gaspar / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine (2010). Todos os direitios reservados [Edução: LG]
1. Manuscrito(s) (Luís Graça)
Nota de leitura > Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)
Parte VII (*)
Continuação das nossas notas de leitura desta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro (que é também crítica do jornal "Público" e que, sabemo-lo, utilliza
igualmente o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento, graças ao seu valioso espólio documental sobre a ex-Guiné portuguesa).
Como temos referido em postes anteriores desta série, este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores, resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011, .feita por ela e por outro colega arquiteto, bem como pelo antropólogo Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro.
Foto: © Agostinho Gaspar / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine (2010). Todos os direitios reservados [Edução: LG]
Um edifício que faz parte das memórias e do imaginário de juventude de alguns dos nossos camaradas de armas, como o Virgínio Briote.
Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados
1. Manuscrito(s) (Luís Graça)
Nota de leitura > Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)
Parte VII (*)
Continuação das nossas notas de leitura desta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro (que é também crítica do jornal "Público" e que, sabemo-lo, utilliza
igualmente o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento, graças ao seu valioso espólio documental sobre a ex-Guiné portuguesa).
Como temos referido em postes anteriores desta série, este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores, resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011, .feita por ela e por outro colega arquiteto, bem como pelo antropólogo Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro.
Ironia da história (ou talvez não, os “vencedores”, em todas as guerras, ficam sempre com os melhores despojos…): “o melhor edifício” de Bissau, na opinião qualificada da nossa cicerone e especialista em arquitetura colonial estadonovista,. Ana Vaz Milheiro, é(era) a sede da nossa conhecida Associação Comercial. Industrial e Agrícola da Guiné, junto ao palácio do governador...
O propjeto é de um jovem arquitecto de Lisboa, Jorge Chaves, e a remonta a 1959-1953. Depois da saída dos portugueses em setembro de 1974,a sede da Associação Comercial passará a ser, muito naturalmente, a sede do PAIGC, ou sejas. dos novos senhores do território, com Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral (1923-1973), como primeiro presidente da jovem república da Guiné-Bissau.
Mas quem era Jorge Chaves ? Um jovem (e ainda relativamente pouco conhecido) arquiteto de Lisboa que não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial. Nasceu em 1920 e morreu em 1981. Seu nome completo: Jorge Ribeiro Ferreira Chaves
(…) “Activo profissionalmente entre 1941 e 1981, é considerado um dos mais perfeccionistas arquitectos portugueses.
Realiza, em atelier próprio, desde 1946, várias dezenas de projectos, para Portugal continental, Madeira, Guiné e Angola, dos quais se destacam a Pastelaria Mexicana, a loja Palissi Galvani, os Laboratórios Cannobio, um edifício de habitação na Rua Ilha do Príncipe e o Hotel Florida, em Lisboa, o Hotel Garbe, o Hotel da Baleeira e o Hotel Globo, no Algarve, a Câmara de Comércio de Bissau e a Caixa Geral de Depósitos de S. Pedro do Sul.” (..) (Fonte: Jorge Ferreira Chaves, Wikipédia)
Nascido em Cabo Verde, Jorge Chaves fixou-se definitivamente em Lisboa a partir de 1931. Mas deixemos à Ana Vaz Milheiro a apresentação do edício:
(…) “O projeto é escolhido em concurso lançado em Lisboa, no Porto e em Bissau, em 1949. O representante do Sindicato Nacional dos Arquitectos no júri é então João Simões, arquitecto experimentado em projetos para os Trópicos. De estrutura pavilhonar, em L, o edifício do PAIGC introduz uma qualidade de desenho que será difícil igualar em outros momentos da cultura arquitectónica luso-guineense. No interior o programa de decoração deve ter contado com a colaboração de Luís Possolo, arquitecto do Gabinete, ainda que treinado na Architectural Association, em Londres, No início dos anos cinquenta, a resposta portuguesa a uma arquitectura tropical encontra aqui, portanto, a sua melhor expressão” (p. 26).
Na opinião de outros arquitectos de renome que trabalharam para África, o edifício desenhado por Jorge Chaves (com murais de José Escada), pelo arrojo das suas linhas, conforto, mordernidade e até riqueza, não ficava atrás da arquitectura de Brasília, por exemplo, e era unanimemente considerado como o melhor edifício que nós deixámos em Bissau, do ponto de vista arquitectónico.
Jorge Chaves não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar, como passou a ser chamado, a partir de 1951), e daí talvez a razão do projeto ter uma modernidade que não seria possível dentro do paradigma da arquitectura colonial de então, marcado pelos constrangimentos da funcionalidade, adaptação ao clima, resistência e uso de materiais de baixo custo de manutenção.
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Mas quem era Jorge Chaves ? Um jovem (e ainda relativamente pouco conhecido) arquiteto de Lisboa que não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial. Nasceu em 1920 e morreu em 1981. Seu nome completo: Jorge Ribeiro Ferreira Chaves
(…) “Activo profissionalmente entre 1941 e 1981, é considerado um dos mais perfeccionistas arquitectos portugueses.
Realiza, em atelier próprio, desde 1946, várias dezenas de projectos, para Portugal continental, Madeira, Guiné e Angola, dos quais se destacam a Pastelaria Mexicana, a loja Palissi Galvani, os Laboratórios Cannobio, um edifício de habitação na Rua Ilha do Príncipe e o Hotel Florida, em Lisboa, o Hotel Garbe, o Hotel da Baleeira e o Hotel Globo, no Algarve, a Câmara de Comércio de Bissau e a Caixa Geral de Depósitos de S. Pedro do Sul.” (..) (Fonte: Jorge Ferreira Chaves, Wikipédia)
Nascido em Cabo Verde, Jorge Chaves fixou-se definitivamente em Lisboa a partir de 1931. Mas deixemos à Ana Vaz Milheiro a apresentação do edício:
(…) “O projeto é escolhido em concurso lançado em Lisboa, no Porto e em Bissau, em 1949. O representante do Sindicato Nacional dos Arquitectos no júri é então João Simões, arquitecto experimentado em projetos para os Trópicos. De estrutura pavilhonar, em L, o edifício do PAIGC introduz uma qualidade de desenho que será difícil igualar em outros momentos da cultura arquitectónica luso-guineense. No interior o programa de decoração deve ter contado com a colaboração de Luís Possolo, arquitecto do Gabinete, ainda que treinado na Architectural Association, em Londres, No início dos anos cinquenta, a resposta portuguesa a uma arquitectura tropical encontra aqui, portanto, a sua melhor expressão” (p. 26).
Na opinião de outros arquitectos de renome que trabalharam para África, o edifício desenhado por Jorge Chaves (com murais de José Escada), pelo arrojo das suas linhas, conforto, mordernidade e até riqueza, não ficava atrás da arquitectura de Brasília, por exemplo, e era unanimemente considerado como o melhor edifício que nós deixámos em Bissau, do ponto de vista arquitectónico.
Jorge Chaves não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar, como passou a ser chamado, a partir de 1951), e daí talvez a razão do projeto ter uma modernidade que não seria possível dentro do paradigma da arquitectura colonial de então, marcado pelos constrangimentos da funcionalidade, adaptação ao clima, resistência e uso de materiais de baixo custo de manutenção.
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Nota do editor:
Último poste da série > 9 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13380: Manuscrito(s) (Luís Graça) (35): Viva o po(l)vo!
Vd. também poste de 20 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13312: Manuscritos(s) (Luís Graça) (33): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VI): O novo bairro da Ajuda (1965/68), um "reordenamento" na estrada para o aeroporto...
Último poste da série > 9 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13380: Manuscrito(s) (Luís Graça) (35): Viva o po(l)vo!
Vd. também poste de 20 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13312: Manuscritos(s) (Luís Graça) (33): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VI): O novo bairro da Ajuda (1965/68), um "reordenamento" na estrada para o aeroporto...
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Guiné 63/74 - P13391: Parabéns a você (761): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista Reformado (Guiné, CCP 122 e 123 / BCP 12)
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13379: Parabéns a você (760): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)
Nota do editor
Último poste da série de 9 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13379: Parabéns a você (760): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Guiné 63/74 - P13390: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XV: Encontro do sold cond auto João Bento Guilherme com a morte em Lamel, em 14/12/1970... Era natural de Almeirim e pertencia à CCS//BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) (Armando Mota, ex-alf mil, 1º pelotão)
1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte XV (Armando Mota, alf mil at inf, 1º pelotão):
Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)
Registe-se, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).
A brochura chegou-nos às mãos, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. Até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.
Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).(*)
Desta vez vamos publicar mais 1 das histórias, contadas pelo ex-alf mil Armando Mota, do 1º pelotão: (i) o encontro do sold cond auto Guilherme com a morte em Lamel (pp. 65/67). (**)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 7 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13371: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XIV: (i) a queda granada da bazuca; (ii) samba em Lisboa; e (iii) a caçada dos passarinhos (Armando Mota, ex-alf mil at inf, 1º pelotão)
(**) Segundo a preciosa informação constante das listagens, por concelho, nos mortos no Ultramar, e disponinbilizadas pelo portal UItramar Terraweb, o nosso infortunado camarada João Bento Guilherme, era natural de Fazendas de Almeirim, freguesia do concelho de Almeirim onde repousa em paz.
Registe-se, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).
A brochura chegou-nos às mãos, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. Até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.
Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).(*)
Desta vez vamos publicar mais 1 das histórias, contadas pelo ex-alf mil Armando Mota, do 1º pelotão: (i) o encontro do sold cond auto Guilherme com a morte em Lamel (pp. 65/67). (**)
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 7 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13371: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XIV: (i) a queda granada da bazuca; (ii) samba em Lisboa; e (iii) a caçada dos passarinhos (Armando Mota, ex-alf mil at inf, 1º pelotão)
(**) Segundo a preciosa informação constante das listagens, por concelho, nos mortos no Ultramar, e disponinbilizadas pelo portal UItramar Terraweb, o nosso infortunado camarada João Bento Guilherme, era natural de Fazendas de Almeirim, freguesia do concelho de Almeirim onde repousa em paz.
Guiné 63/74 - P13389: Notas de leitura (610): "Exploradores Portugueses e Reis Africanos, Viagens ao Coração de África no Século XIX", por Frederico Delgado Rosa e Filipe Verde (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2014:
Queridos amigos,
Asseguro-vos que a leitura desta obra vos irá surpreender, os nomes sonantes dos exploradores portugueses, que irão depois alcançar o estatuto de heróis, vão aparecer nestas páginas a viajar até às faustosas capitais dos poderosos reinos africanos. Exploradores que são envolvidos numa teia de exigências, caprichos régios e intrigas palacianas.
É um livro original, escrito como um romance de aventuras, desvela relatos empolgantes de viagens que são hoje uma janela sobre o mundo desaparecido. Viagens que preludiaram a partilha de África pelas potências europeias e que atravessaram, para o melhor e para o pior, o sistema político liberal, a I República e o Estado Novo.
Lê-se este livro e tem-se a noção exata como o Império era um gigante com pés de barro.
Um abraço do
Mário
Exploradores portugueses e reis africanos: Um documento assombroso sobre viagens em África no século XIX
Beja Santos
“Exploradores Portugueses e Reis Africanos, Viagens ao Coração de África no século XIX”, por Frederico Delgado Rosa e Filipe Verde, A Esfera dos Livros, 2013, é o que se chama uma lança em África, é original, arrebatador, são histórias muito bem contadas, um thriller dos sertões, páginas desconhecidas ou esquecidas de um período febril das nossas incursões de Angola à contracosta. Logo no prólogo percebemos que temos uma gloriosa empreitada pela frente: “Este é um livro sobre África, a história da exploração de África e um conjunto de portugueses que no século XIX entraram por esse continente dentro e nos deixaram testemunhos do que aí encontraram, descobriram e viveram. São eles António Gamito, Joaquim Rodrigues Graça, António da Silva Porto, Alexandre de Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Henrique Carvalho. Alguns ainda hoje perduram na memória coletiva, outros estão votados a um cada vez maior esquecimento (…) Algures entre a Antropologia, a Literatura de Viagem e a História, é um livro para pessoas que, como nós movidas por uma curiosidade adolescente, folheiam todo o relato de exploração que encontram e sentem verdadeiro prazer em ler alguns deles. Têm aqui particular destaque os fascinantes e intensos encontros que os exploradores tiveram com os sobranos dos três maiores impérios centro-sul-africanos desse tempo: a Lunda, o Cazembe e o Barotze. Noéji, Sekeletu, Lobossi, Xa Madiamba, não são certamente nomes conhecidos do leitor comum, mas encarnavam o supremo estatuto que uma sociedade pode conferir a um dos seus membros, o de ser um rei sagrado (…) A importância destes homens advém, não da fama que gozaram em vida, mas dos textos em que relataram as suas viagens e experiências e que nos oferecem uma janela que nos dá a ver uma África e um modo de encontro entre africanos e europeus que o tempo há muito fez desaparecer”.
É inegavelmente uma época de explorações emocionantes, como os autores igualmente recordam: “Em meados de Oitocentos, a zona central dos mapas de África era um enorme espaço em branco. Cinquenta anos depois, estava preenchida nos seus traços principais. Em breve, por força de uma súbita e feroz competição imperial, sobrepor-se-iam às linhas da geografia as fronteiras políticas das novas colónias europeias”. É esta a África misteriosa e palustre (malária, disenteria, febre…) que atrai homens ousados e audazes com diferentes preparações e graus de conhecimento. Alguns deles vão morrer durante a exploração, outros terão a temeridade de ir vencendo os obstáculos, conseguirão revelar África e surpreender vastos auditórios. Oiçamos os autores: “A fama de alguns deles – David Livingstone, Richard Burton, John Speke, Verney Cameron, Henry Stanley, Pierre de Brazza e alguns portugueses de que este livro se ocupa – tornou-se maior do que as suas vidas, por intensas que estas possam ter sido. A nova geração de exploradores africanos beneficiava do conhecimento dos erros cometidos pelos seus antecessores e assim entraram em África com meios de defesa suficientes para garantir a segurança das pessoas e dos muitos bens que transportavam para pagar os custos de manter alimentada a expedição e os direitos de passagem, por vezes exorbitantes, exigidos por todo o pequeno, médio e grande chefe e soberano africano. Beneficiavam também de meios técnicos e humanos por vezes impressionantes. Stanley transportou um barco desmontável da costa oriental até ao Lualaba, no centro do continente, Livingstone fez o mesmo na sua expedição ao Zambeze; e algumas expedições partiam da costa com 300 ou 400 carregadores e, até onde isso era possível, com dezenas de bestas de carga. Por último, e talvez mais fundamentalmente, beneficiavam de recentes descobertas da medicina que, entre outras coisas, havia criado o primeiro profilático da malária, a mais mortal das doenças africanas”.
É escusado insistir na tecla de que este livro é empolgante do princípio ao fim, quem já leu As Minas de Salomão e os romances de Emílio Salgari irá sorver estas expedições perigosas onde se envolviam também sertanejos e ambaquistas, reis déspotas e cruéis, será confrontado com choques de civilizações, descrições que hoje nos arrepiam os cabelos, mas dentro do quadro oitocentista de valores, um exemplo em Capelo e Ivens: “O negro típico tem basta carapinha, espessa como a lã, raras vezes barba ou bigode, é de baixa estatura, tem a fronte deprimida, proeminente o occiput, bem como as queixadas e arcadas zigomáticas, adiantando-se-lhe do mesmo modo que nos quadrúpedes glutões, a boca, guarnecida de largos e grossos lábios”. Os autores deixam outra advertência que tornam a leitura ainda mais estimulante: “A faixa do continente atravessada pelas explorações de que este livro trata é sob todos os pontos de vista – geográfico, climático, linguístico, cultural – imensamente diversa. Do extremo Norte até ao extremo Sul, as florestas tropicais tornam-se gradualmente em savanas húmidas e cada vez mais secas que se transformam em extensas zonas desérticas. Hidrograficamente é dominada pelas bacias do Congo e do Zambeze que correm em direção ao Atlântico e ao Índico. A maioria da sua população era de raiz banta (…) Nesta faixa, a maioria das sociedades tinha sistemas políticos de média escala, organizados a partir de princípios de parentesco linhageiros e de relações clientelares em que a integração dos grupos era situacional. Mas havia também pequenos bandos politicamente acéfalos de caçadores-recolectores que sobreviviam em termos igualitários e desde tempos imemoriais em limites extremos de subsistência. E, por fim, impérios, governados por aristocracias e soberanos despóticos e que estendiam o seu domínio por enormes áreas”.
Todos estes exploradores portugueses caminhavam para as capitais e cortes dos principais impérios centro-africanos do século XIX, e os autores precisam: “António Gamito alcançou o Cazembe em 1831. Silva Porto, o europeu que porventura melhor conhecia os caminhos dessas regiões de África, esteve várias vezes no Barotze, então sob o domínio dos invasores Macocolos, e em várias zonas do império lunda, cuja capital foi visitada por Rodrigues Graça e Henrique de Carvalho. Serpa Pinto, na sua travessia de Benguela a Durban, foi também de encontro ao Barotze”.
O rei português era conhecido por estes povos como o “imão” Muene Puto, irmão que será sempre invocado para a diplomacia e para o comércio. Prepare-se pois o leitor para expedições onde se passará fome e sede, se viverá o terror, a doença, o deslumbramento da paisagem, serão referidas páginas de diário, algumas delas de inegável beleza e outras de confrangimento extremo; há relatos de esplendor e terror, encontros memoráveis como o de Silva Porto com Livingstone, que dará pasto para enormes controvérsias, falamos do mesmo Silva Porto que se suicidou em 1890, envolto na bandeira de Portugal sobre um barril de pólvora, ao ver ruir o mundo dos sertanejos com a chegada dos britânicos, que tinham imposto o ultimato. Este livro é um filme onde também contracenarão figuras como Serpa Pinto e Henrique de Carvalho.
Leitura indispensável para se perceber como o império português tinha pés de barro, que naquele século XIX provocou furor e esperança mas que rapidamente desiludiu as promessas de futuros de abundância, até que um dia se extinguiu, de forma condizente com o que sempre fora.
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Nota do editor
Último poste da série de 7 DE JULHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13372: Notas de leitura (609): "Às 5 da tarde", por António Loja (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Asseguro-vos que a leitura desta obra vos irá surpreender, os nomes sonantes dos exploradores portugueses, que irão depois alcançar o estatuto de heróis, vão aparecer nestas páginas a viajar até às faustosas capitais dos poderosos reinos africanos. Exploradores que são envolvidos numa teia de exigências, caprichos régios e intrigas palacianas.
É um livro original, escrito como um romance de aventuras, desvela relatos empolgantes de viagens que são hoje uma janela sobre o mundo desaparecido. Viagens que preludiaram a partilha de África pelas potências europeias e que atravessaram, para o melhor e para o pior, o sistema político liberal, a I República e o Estado Novo.
Lê-se este livro e tem-se a noção exata como o Império era um gigante com pés de barro.
Um abraço do
Mário
Exploradores portugueses e reis africanos: Um documento assombroso sobre viagens em África no século XIX
Beja Santos
“Exploradores Portugueses e Reis Africanos, Viagens ao Coração de África no século XIX”, por Frederico Delgado Rosa e Filipe Verde, A Esfera dos Livros, 2013, é o que se chama uma lança em África, é original, arrebatador, são histórias muito bem contadas, um thriller dos sertões, páginas desconhecidas ou esquecidas de um período febril das nossas incursões de Angola à contracosta. Logo no prólogo percebemos que temos uma gloriosa empreitada pela frente: “Este é um livro sobre África, a história da exploração de África e um conjunto de portugueses que no século XIX entraram por esse continente dentro e nos deixaram testemunhos do que aí encontraram, descobriram e viveram. São eles António Gamito, Joaquim Rodrigues Graça, António da Silva Porto, Alexandre de Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Henrique Carvalho. Alguns ainda hoje perduram na memória coletiva, outros estão votados a um cada vez maior esquecimento (…) Algures entre a Antropologia, a Literatura de Viagem e a História, é um livro para pessoas que, como nós movidas por uma curiosidade adolescente, folheiam todo o relato de exploração que encontram e sentem verdadeiro prazer em ler alguns deles. Têm aqui particular destaque os fascinantes e intensos encontros que os exploradores tiveram com os sobranos dos três maiores impérios centro-sul-africanos desse tempo: a Lunda, o Cazembe e o Barotze. Noéji, Sekeletu, Lobossi, Xa Madiamba, não são certamente nomes conhecidos do leitor comum, mas encarnavam o supremo estatuto que uma sociedade pode conferir a um dos seus membros, o de ser um rei sagrado (…) A importância destes homens advém, não da fama que gozaram em vida, mas dos textos em que relataram as suas viagens e experiências e que nos oferecem uma janela que nos dá a ver uma África e um modo de encontro entre africanos e europeus que o tempo há muito fez desaparecer”.
É inegavelmente uma época de explorações emocionantes, como os autores igualmente recordam: “Em meados de Oitocentos, a zona central dos mapas de África era um enorme espaço em branco. Cinquenta anos depois, estava preenchida nos seus traços principais. Em breve, por força de uma súbita e feroz competição imperial, sobrepor-se-iam às linhas da geografia as fronteiras políticas das novas colónias europeias”. É esta a África misteriosa e palustre (malária, disenteria, febre…) que atrai homens ousados e audazes com diferentes preparações e graus de conhecimento. Alguns deles vão morrer durante a exploração, outros terão a temeridade de ir vencendo os obstáculos, conseguirão revelar África e surpreender vastos auditórios. Oiçamos os autores: “A fama de alguns deles – David Livingstone, Richard Burton, John Speke, Verney Cameron, Henry Stanley, Pierre de Brazza e alguns portugueses de que este livro se ocupa – tornou-se maior do que as suas vidas, por intensas que estas possam ter sido. A nova geração de exploradores africanos beneficiava do conhecimento dos erros cometidos pelos seus antecessores e assim entraram em África com meios de defesa suficientes para garantir a segurança das pessoas e dos muitos bens que transportavam para pagar os custos de manter alimentada a expedição e os direitos de passagem, por vezes exorbitantes, exigidos por todo o pequeno, médio e grande chefe e soberano africano. Beneficiavam também de meios técnicos e humanos por vezes impressionantes. Stanley transportou um barco desmontável da costa oriental até ao Lualaba, no centro do continente, Livingstone fez o mesmo na sua expedição ao Zambeze; e algumas expedições partiam da costa com 300 ou 400 carregadores e, até onde isso era possível, com dezenas de bestas de carga. Por último, e talvez mais fundamentalmente, beneficiavam de recentes descobertas da medicina que, entre outras coisas, havia criado o primeiro profilático da malária, a mais mortal das doenças africanas”.
É escusado insistir na tecla de que este livro é empolgante do princípio ao fim, quem já leu As Minas de Salomão e os romances de Emílio Salgari irá sorver estas expedições perigosas onde se envolviam também sertanejos e ambaquistas, reis déspotas e cruéis, será confrontado com choques de civilizações, descrições que hoje nos arrepiam os cabelos, mas dentro do quadro oitocentista de valores, um exemplo em Capelo e Ivens: “O negro típico tem basta carapinha, espessa como a lã, raras vezes barba ou bigode, é de baixa estatura, tem a fronte deprimida, proeminente o occiput, bem como as queixadas e arcadas zigomáticas, adiantando-se-lhe do mesmo modo que nos quadrúpedes glutões, a boca, guarnecida de largos e grossos lábios”. Os autores deixam outra advertência que tornam a leitura ainda mais estimulante: “A faixa do continente atravessada pelas explorações de que este livro trata é sob todos os pontos de vista – geográfico, climático, linguístico, cultural – imensamente diversa. Do extremo Norte até ao extremo Sul, as florestas tropicais tornam-se gradualmente em savanas húmidas e cada vez mais secas que se transformam em extensas zonas desérticas. Hidrograficamente é dominada pelas bacias do Congo e do Zambeze que correm em direção ao Atlântico e ao Índico. A maioria da sua população era de raiz banta (…) Nesta faixa, a maioria das sociedades tinha sistemas políticos de média escala, organizados a partir de princípios de parentesco linhageiros e de relações clientelares em que a integração dos grupos era situacional. Mas havia também pequenos bandos politicamente acéfalos de caçadores-recolectores que sobreviviam em termos igualitários e desde tempos imemoriais em limites extremos de subsistência. E, por fim, impérios, governados por aristocracias e soberanos despóticos e que estendiam o seu domínio por enormes áreas”.
Todos estes exploradores portugueses caminhavam para as capitais e cortes dos principais impérios centro-africanos do século XIX, e os autores precisam: “António Gamito alcançou o Cazembe em 1831. Silva Porto, o europeu que porventura melhor conhecia os caminhos dessas regiões de África, esteve várias vezes no Barotze, então sob o domínio dos invasores Macocolos, e em várias zonas do império lunda, cuja capital foi visitada por Rodrigues Graça e Henrique de Carvalho. Serpa Pinto, na sua travessia de Benguela a Durban, foi também de encontro ao Barotze”.
O rei português era conhecido por estes povos como o “imão” Muene Puto, irmão que será sempre invocado para a diplomacia e para o comércio. Prepare-se pois o leitor para expedições onde se passará fome e sede, se viverá o terror, a doença, o deslumbramento da paisagem, serão referidas páginas de diário, algumas delas de inegável beleza e outras de confrangimento extremo; há relatos de esplendor e terror, encontros memoráveis como o de Silva Porto com Livingstone, que dará pasto para enormes controvérsias, falamos do mesmo Silva Porto que se suicidou em 1890, envolto na bandeira de Portugal sobre um barril de pólvora, ao ver ruir o mundo dos sertanejos com a chegada dos britânicos, que tinham imposto o ultimato. Este livro é um filme onde também contracenarão figuras como Serpa Pinto e Henrique de Carvalho.
Leitura indispensável para se perceber como o império português tinha pés de barro, que naquele século XIX provocou furor e esperança mas que rapidamente desiludiu as promessas de futuros de abundância, até que um dia se extinguiu, de forma condizente com o que sempre fora.
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Nota do editor
Último poste da série de 7 DE JULHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13372: Notas de leitura (609): "Às 5 da tarde", por António Loja (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13388: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (86): A banda musical portuguesa Melech Mechaya de novo em terras escandinavas, Finlândia e Suécia (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)
Suécia, Urkult. Cortesia de José Belo. Fonte: Laplandkeywest.blogspot.com/ |
O lusolapão José Belo... |
11 jul 2014 19:46
Assunto - Os Melech Mechaya por terras escandinavas
O grupo teve bastante êxito, tanto artístico como pessoal, junto dos finlandeses e suecos no ano passado.
Os nossos Camaradas e Amigos da Tabanca Grande podem sentir orgulho nestes jovens de uma nova geraçäo, cheia de criatividade. Um deles, o João Graça, é membro de pleno direito do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, pelo seu trabalho como médico (voluntário) na Guiné-Bissau, em finais de 2009.
Nós, os "antigos", temos por vezes demasiada facilidade em criticar aqueles que representam o presente, e não menos o futuro.
O meu convívio (aqui) com estes portugueses, no ano passado, depois de um "assuecamento" de quase 40 anos, fez-me sentir orgulho neles.
Um abraço do José Belo.
[ Recorde-se: o José Belo foi alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive Suécia há 4 décadas, e onde formou família; tem um blogue, Lapland - Key West].
2. Comentário de L.G.:
Zé, mais uma vez obrigado pelo acolhimento que fizeste aos rapazes da banda Melech Mechaya, em 2013 e pela divulgação que acabas de fazer, no teu blogue, sobre a sua presença de novo em terras escandinavas este ano.
Os Melech Mechaya estiveram, de facto, na Finlândia, nos dias 10 e 11 do corrente, e vão estar de novo na tua terra de adoção, em agosto. mais exatamente no festival de Urkult, a 2 de agosto (e não 4...). [Ver aqui a página da banda e também a sua página no Facebook ]. Não sei se nessa altura será possível vocês reencontrarem-se.
De qualquer modo, quero que saibas que eles estão também orgulhosos de ti. Por parte do João Graça, é caso para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é Grande...
Um abraço fraterno, daqui, da ponta mais ocidental da velha Europa...
Luís
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13256: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (85): Manuel Mendes, o "Lisboa", o "soldado 29", do 3º pelotão, reencontra finalmente, meio século depois, os seus camaradas da CCAÇ 728 (Catió, Cachil, Bedanda e Bissau, 1964/66), graças aos esforços da sua nora Samdra Moutinho e do nosso blogue... Esteve ontem no convívio anual, em Fernão Ferro, dos "Palmeirins de Catíó"
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Guiné 63/74 - P13387: Blogoterapia (254): Nos encontros da malta, no meu tempo, no CTIG, ouvi milhentas histórias, onde tudo era possível, não havia limites para a imaginação (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421, Mansabá, 1965/67)
1. Mensagem de Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio]
Data: 3 de Julho de 2014 às 23:59
Assunto: Execuções
Boa noite, Luís:
Execuções sumárias!,,, Não me fez dar um salto, mas fez-me mexer !
Até 1967 a comunicação entre militares na Guiné era feita de duas maneiras:
(i) o bate estradas, atrasados na própria unidade quando eram enviados para SPM da Guiné;
Nestes encontros ouvi milhentas histórias, onde tudo era possível, não havia limites para a imaginação.
Eu sempre fui um tipo de tabanca! Sempre falei muito com gentes da tabanca, gentes antes da guerra. Incluindo o Mamadu Seidi.
Eles falavam, mas falavam com medo, notava-se, o medo imperava, era muito difícil conseguir a plena confiança de alguém, até por uma razão, muitos eram refugiados naquela tabanca, a tabanca deles era outra. E diziam que, quando as tabancas se revoltaram, e apareceu a tropa e policias, que se derramou muito sangue !
Mais tarde oiço aos Águias Negras [, CART 1525, Bissorã, 1965/67] que tinham feito o caminho que eu voltei a fazer mais do que uma vez, que tinha havido muito sangue.
Saíamos em operação a uma determinada área que estava, estavam todas cheias de população, havia uns tiros, a metralha disparava, quantos inocentes ficavam naquelas tabancas ? Execuções sumárias ? Não, não, eram execuções sumárias, no sentido exato da palavra, mas...
Eu ter pleno conhecimento de alguém, pura e simplesmente, abater uma pessoa, com convicção,,, não, não tenho, nem sei bem como foi. Mas sei que foram abatidos guias prisioneiros, por comandos que foram heróis nacionais, antes e depois, e que já morreram o que para mim ainda é mais penoso falar.
Havia aqui na minha região uns fulanos de 61, 62 e 63, mas não os encontrei, melhor encontrei uns fuzileiros de 62, mas sabem muito pouco ou não querem falar.
Claro que eu não lhe falei nas execuções, mas tentei que eles me falassem da época deles, época antes da minha !
Data: 3 de Julho de 2014 às 23:59
Assunto: Execuções
Boa noite, Luís:
Execuções sumárias!,,, Não me fez dar um salto, mas fez-me mexer !
Até 1967 a comunicação entre militares na Guiné era feita de duas maneiras:
(i) o bate estradas, atrasados na própria unidade quando eram enviados para SPM da Guiné;
(ii) encontro de militares
Esses encontros davam-se:
Esses encontros davam-se:
(i) quando faziam operações em conjunto;
(ii) quando faziam limpezas a estradas até se encontrarem;
(iii) e os que iam a Bissau.
Nestes encontros ouvi milhentas histórias, onde tudo era possível, não havia limites para a imaginação.
Eu sempre fui um tipo de tabanca! Sempre falei muito com gentes da tabanca, gentes antes da guerra. Incluindo o Mamadu Seidi.
Eles falavam, mas falavam com medo, notava-se, o medo imperava, era muito difícil conseguir a plena confiança de alguém, até por uma razão, muitos eram refugiados naquela tabanca, a tabanca deles era outra. E diziam que, quando as tabancas se revoltaram, e apareceu a tropa e policias, que se derramou muito sangue !
Mais tarde oiço aos Águias Negras [, CART 1525, Bissorã, 1965/67] que tinham feito o caminho que eu voltei a fazer mais do que uma vez, que tinha havido muito sangue.
Saíamos em operação a uma determinada área que estava, estavam todas cheias de população, havia uns tiros, a metralha disparava, quantos inocentes ficavam naquelas tabancas ? Execuções sumárias ? Não, não, eram execuções sumárias, no sentido exato da palavra, mas...
Eu ter pleno conhecimento de alguém, pura e simplesmente, abater uma pessoa, com convicção,,, não, não tenho, nem sei bem como foi. Mas sei que foram abatidos guias prisioneiros, por comandos que foram heróis nacionais, antes e depois, e que já morreram o que para mim ainda é mais penoso falar.
Havia aqui na minha região uns fulanos de 61, 62 e 63, mas não os encontrei, melhor encontrei uns fuzileiros de 62, mas sabem muito pouco ou não querem falar.
Claro que eu não lhe falei nas execuções, mas tentei que eles me falassem da época deles, época antes da minha !
Luís, não respondi, como pedias, mas eu não podia deixar de dizer duas palavras sobre o assunto, sem falar nos milhares e milhares de tiros que foram dados naquele OIO, com tanta população no meio.
E aqui ponho em duvida se o próprio IN estava organizado para não apanhar os seus, eu penso que não !
Só quem entrou numa dessas tabancas com tiros de todos os lados e morteiradas caindo, caindo, gente fugindo em todas as direções com animais à mistura!...
São cenas loucas de uma tragédia sem limites, só comparada a outra igual e que infelizmente continuam a realizarem-se por esse mundo fora, nos dias de hoje, com a mesma tragédia dantesca, imaginável !
Um grande abraço
Ernesto Duarte
___________________
Nota do editor:
´Último poste da série > 1 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13353: Blogoterapia (253): Não é pessimismo, muito menos um lamento, quando muito um recado... (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio)
E aqui ponho em duvida se o próprio IN estava organizado para não apanhar os seus, eu penso que não !
Só quem entrou numa dessas tabancas com tiros de todos os lados e morteiradas caindo, caindo, gente fugindo em todas as direções com animais à mistura!...
São cenas loucas de uma tragédia sem limites, só comparada a outra igual e que infelizmente continuam a realizarem-se por esse mundo fora, nos dias de hoje, com a mesma tragédia dantesca, imaginável !
Um grande abraço
Ernesto Duarte
___________________
Nota do editor:
´Último poste da série > 1 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13353: Blogoterapia (253): Não é pessimismo, muito menos um lamento, quando muito um recado... (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio)
Guiné 63/74 - P13386: Inquérito online: num total de 107 respostas, 74 (69%) não tiveram conhecimento de eventuais execuções sumárias de prisioneiros no CTIG... Só 7 dizem que foram testemunhas presenciais. Comentários de Virgínio Briote, Augusto Silva, Manuel Lomba e Cherno Baldé
Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
I. Terminou, às 22h de 3 de julho de 2014, uma das nossas pequenas "sondagens", desta vez sobre um tema "melindroso", que pode ferir as suscetibilidiades de alguns camaradas nossos, mas em relação ao qual não podemos deixar de ter opinião, em nome do nosso direito à memória mas também ao nosso direito ao bom nome... Não temos cadáveres escondidos no armário, falamos de tudo (ou quase tudo) com serenidade, isenção, preocupação de rigor e verdade e direito ao contraditório...
E sobretudo não queremos que daqui a 10, 20, 30, 40 ou 50 anos, quando nós já não estivermos cá, venham fazer acusações gratuitas a uma geração que, na sua generalidade, combateu nas bolanhas e matas da Guiné com honra, coragem e humanidade, dando oportunidade aos políticos da época para encontrarem soluções para a paz...
A guerra que travámos na Guiné não se compara com outras que, histórica e geograficamente, lhe estiveram próximas: por exemplo, a guerra da Argélia (1954-1962), uma dupla guerra de descolonização e uma guerra civil, uma das mais violentas e cruéis do séc. XX. Ainda hoje são polémicos os números das baixas entre civis, guerrilheiros e militares. Para não falarmos da ocorrências, e das acusações, de um lado e doutro, de massacres, tortura e execuções sumárias...
Em todo o caso, a investigação historiográfica (e a documentação) sobre a guerra da Guiné é muito pobre e limitada quando comparada com a da guerra da Argélia... Nem a Argélia era a Guiné, nem a FLN - Frente de Libertação Nacional era o PAIGC, nem Ben Bella (1916-2012) foi o Amílcar Cabral (1924-1973), nem o nosso exército era o exército francês, e muito menos eram os mesmos os interesses em jogo... Recorde-se que numa população de 10 milhões, em 1954, 1 em cada 10 era de origem europeia, colonos ou descendentes de colonos (mais tarde chamados "pieds noires").
Os resultados da nossa sondagem, que obteve 107 respostas, têm de ser interpretados com todas as reservas, já que o voto é anónimo, não sabemos quem votou, não podemos sequer controlar os votos de gente eventualmente mal intencionada ou que nem sequer tenha combatido no TO da Guiné. Além disso, o voto pode ser feito pela mesma pessoa em computadores diferentes... Portanto, há risco de vieses e sobretudo a amostra de modo algum representa (nem era essa a intenção) o vasto e complexo de universo combatentes que passaram pela Guiné, entre 1959 e 1974. Cremos, em todo o caso, que as respostas são-no de camaradas que fazem parte da Tabanca Grande, que nos leem regularmente, que partilham dos nossos princípios e valores, e que responderam de boa fé. Apresentamos a seguir alguns comentários sobre este tema.
II. Sondagem sobre "eventuais execuções sumárias de elementos IN, por parte das NT, no CTIG"...
Respostas (n=107)
1. Nunca participei
11 (10,3%)
2. Nunca assisti
12 (11,2%)
3. Nunca ouvi falar
51 (47,7%)
4. Participei
1 (0,9%)
5. Assisti
6 (5,6%)
6. Ouvi falar
25 (23,4%)
7. Não sei ou não me lembro
1 (0,9%)
3. Comentários de 3 camaradas nossos, V. Briote, A. Silva Santos, M. Lomba, e 1 amigo guineense, o Cherno Baldé, todos grã-tabanqueiros (*)
(i) Virgínio Briote [ex-al mil cmd, cmtd Gr Diabólicos, CCmds, CTIG, Brá, 1965/67] [, foto à direita do Café Bento, maio de 1965]
Estive lá [, em Jolmete,] com o meu grupo cerca de uma semana em Out/Nov 65, a render o grupo do Luís Rainha (o Júlio Abreu deve ter lá estado) que durante o ataque (que julgo ter sido o 1.º) teve três feridos, um dos quais com muita gravidade. A Companhia que lá estava era comandada, salvo erro, pelo cap. Corte Real (mais tarde morto numa mina a/c entre Farim e o K3.
Durante o tempo em que lá permaneci não me lembro de ter ouvido qualquer alusão a esses fuzilamentos. Contactámos com a população, nomadizámos na zona, vimos barracas abandonadas, notava-se agitação recente naquela zona. Mesmo em Teixeira Pinto, onde estivemos em trânsito, à ida e no regresso, não me lembro de ter ouvido o que quer que fosse sobre o assunto.
Não ponho em dúvida que tal facto tenha ocorrido, quem participou em confrontos armados sabe o que é a Guerra e como ela transforma os homens. Algo surpreendente é que tal facto tenha escapado a tanta informação produzida durante treze anos de luta e surja apenas 40 anos depois da guerra ter terminado. (...)
(ii) Augusto Silva Santos [ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73]
(...) Eu estive em Jolmete durante todo o ano de 1972, incorporado na CCaç 3306 / BCaç 3833. Apesar da distância temporal entre os factos relatados e a minha presença em Jolmete, nunca senti da parte da população da tabanca, qualquer animosidade para com as NT relacionadas com essa possível ocorrência, nem nunca ouvi falar desse eventual massacre.
(ii) Augusto Silva Santos [ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73]
(...) Eu estive em Jolmete durante todo o ano de 1972, incorporado na CCaç 3306 / BCaç 3833. Apesar da distância temporal entre os factos relatados e a minha presença em Jolmete, nunca senti da parte da população da tabanca, qualquer animosidade para com as NT relacionadas com essa possível ocorrência, nem nunca ouvi falar desse eventual massacre.
Sem querer pôr em causa o que relatou o nosso camarada António Medina, julgo que se tal acontecimento tivesse de facto ocorrido, o mesmo seria por certo perpetuado ao longo dos tempos, até por implicar morte de familiares. Gostaria ainda de salientar que, na altura da minha passagem por Jolmete, o filho do então régulo era o Cajan, que pertencia ao Pelotão de Caçadores Nativos, e com o qual eu tinha um relacionamento próximo e com quem falava com alguma frequência sobre os mais variados assuntos, e nunca o ouvi mencionar fosse o que fosse sobre semelhante ocorrência, embora tenhamos por exemplo falado sobre a morte dos oficiais portugueses ocorrida na estrada Pelundo / Jolmete.
O Cajan, como sucessor legítimo por morte do pai, é ainda hoje o régulo de Jolmete, apesar de ter colaborado com as NT. Porque me poderia na altura ter escapado alguma informação sobre este possível caso, e para não estar aqui a relatar algo incorrecto, entrei em contacto com ex-camaradas meus daquela CCaç, um dos quais muito próximo do comando da Companhia, e todos eles foram unânimes em afirmar que não ouviram falar sobre semelhante situação.
Talvez o camarada António Medina (**) esteja na posse de mais elementos que possam esclarecer melhor o que de facto ocorreu. (...)
(iii) Manuel Luís Lomba [ ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66]
Como ciência e arte humana de matar em escala, a guerra contém de tudo - até crimes.
Em 1964/65, o Comando-chefe (gen A. Schulz) lançou-nos como tropa de intervenção pelo norte, centro e sul da Guiné, em missões de emboscadas, batidas e "cerco, assalto, busca e destruição" às tabancas onde as populações já estariam para o PAIGC como a água para o peixe. E era o medo que nos impelia a metralhar instintivamente tudo o que bulisse, folha, bicho ou gente. E assim fomos colhendo algumas eliminações, mais de populares que do IN, que não serão a mesma coisa que execuções premeditadas, aqui invocadas como sumárias - crimes abomináveis.
Fomos lançados na guerra da Guiné não como criminosos, mas como soldados. Os combates foram recorrentes, durante toda a nossa comissão e foi o seu contexto que nos formou a consciência e a ética de realizar as missões subordinados ao seu primado.
Aconteceram episódios de execução, de prisioneiros sob custódia, em pequeníssima escala, não pelo código de guerra das nossas FA, mas pela multiplicidade das idiossincrasias dos seus membros. Fiz público o conhecimento dum caso e da sua generalizada reprovação.
Se Amílcar Cabral mandasse entregar à tropa os seus correlegionários que condenou à morte, no I Congresso de Cassacá, em Fevereiro de 1964, por crimes de delito comum, eles teriam escapado à execução dessa pena, porque seriam tratados não como cidadãos bissau-guineenses, mas como cidadãos portugueses. Sob a bandeira de Portugal, a Guiné funcionava como Estado; o Estado que aquele líder acabava de criar nesse congresso não passaria da ficção.
A partir da execução por enforcamento do famigerado Vegueiro, no século XIX, jamais haverá em Portugal julgamentos ou condenações à morte.
Amílcar Cabral coexistiu em Bissau e Fá com o governador e com a PIDE e os fundadores do MLG, provocadores do "massacre" do Pidjiquiti e do terrorismo em Susana e Varela e os principais quadros do PAIGCV que a PIDE prendeu, com a ajuda do Exército, foram sujeitos a julgamento judicial, uns absolvidos e outros condenados a prisão, que cumpriram em Bissau ou no Tarrafal. Esses acontecimentos serão coevos ao "massacre de Jolmete". (...)
(...) Acho que assistimos a um debate importante e muito interessante sob todos os pontos de vista que, de certo modo, confirma uma das forças do pensamento europeu e ocidental, que é a força da contradição.
Gostei do comentário de Manuel Carvalho, tão directo e profundo que faz recordar os clássicos da filosofia grega.
Prestei especial atenção ao texto do amigo Manuel L. Lomba que resume a situação e acaba com o vazio das dúvidas que podiam existir.
Facto relevante e uma possível pista a explorar sobre o episódio da emboscada em Jolmete pode estar relacionado com o MLG [, Movimento de Libertação da Guiné,.] que tinha um contencioso, no meio de grandes rivalidades, com o PAI de Amílcar Cabral (ver o livro de Julião Soares). Assim, os homens da tal emboscada podiam pertencer a um outro movimento que não o PAIGC. É uma mera hipótese que poderá explicar o desconhecimento ou o silêncio por parte do PAIGC sobre este trágico acontecimento.
Eu acredito na versão do A. Medina que, a meu ver, não tem nenhum interesse em denegrir a imagem de Portugal e das forças armadas que o próprio serviu na juventude.
Precisamos é reflectir, sem tabus, sobre as causas que poderiam ter levado a tais excessos. Não é segredo nenhum se se disser que a colonização sempre se fez com base na utilização da repressão, logo da violência, a mesma que serviu de pretexto, aos nacionalistas, para a Guerra de "libertação" que acabou por nos prender nas malhas da tirania que hoje conhecemos. (...)
(iii) Manuel Luís Lomba [ ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66]
Como ciência e arte humana de matar em escala, a guerra contém de tudo - até crimes.
Em 1964/65, o Comando-chefe (gen A. Schulz) lançou-nos como tropa de intervenção pelo norte, centro e sul da Guiné, em missões de emboscadas, batidas e "cerco, assalto, busca e destruição" às tabancas onde as populações já estariam para o PAIGC como a água para o peixe. E era o medo que nos impelia a metralhar instintivamente tudo o que bulisse, folha, bicho ou gente. E assim fomos colhendo algumas eliminações, mais de populares que do IN, que não serão a mesma coisa que execuções premeditadas, aqui invocadas como sumárias - crimes abomináveis.
Fomos lançados na guerra da Guiné não como criminosos, mas como soldados. Os combates foram recorrentes, durante toda a nossa comissão e foi o seu contexto que nos formou a consciência e a ética de realizar as missões subordinados ao seu primado.
Aconteceram episódios de execução, de prisioneiros sob custódia, em pequeníssima escala, não pelo código de guerra das nossas FA, mas pela multiplicidade das idiossincrasias dos seus membros. Fiz público o conhecimento dum caso e da sua generalizada reprovação.
Se Amílcar Cabral mandasse entregar à tropa os seus correlegionários que condenou à morte, no I Congresso de Cassacá, em Fevereiro de 1964, por crimes de delito comum, eles teriam escapado à execução dessa pena, porque seriam tratados não como cidadãos bissau-guineenses, mas como cidadãos portugueses. Sob a bandeira de Portugal, a Guiné funcionava como Estado; o Estado que aquele líder acabava de criar nesse congresso não passaria da ficção.
A partir da execução por enforcamento do famigerado Vegueiro, no século XIX, jamais haverá em Portugal julgamentos ou condenações à morte.
Amílcar Cabral coexistiu em Bissau e Fá com o governador e com a PIDE e os fundadores do MLG, provocadores do "massacre" do Pidjiquiti e do terrorismo em Susana e Varela e os principais quadros do PAIGCV que a PIDE prendeu, com a ajuda do Exército, foram sujeitos a julgamento judicial, uns absolvidos e outros condenados a prisão, que cumpriram em Bissau ou no Tarrafal. Esses acontecimentos serão coevos ao "massacre de Jolmete". (...)
(iv) Cherno Baldé [, foto à esquerda, jovem estudante em Kichinev, Moldavia, dezembro de 1985; é quadro superior, vive em Bissau]
(...) Acho que assistimos a um debate importante e muito interessante sob todos os pontos de vista que, de certo modo, confirma uma das forças do pensamento europeu e ocidental, que é a força da contradição.
Gostei do comentário de Manuel Carvalho, tão directo e profundo que faz recordar os clássicos da filosofia grega.
Prestei especial atenção ao texto do amigo Manuel L. Lomba que resume a situação e acaba com o vazio das dúvidas que podiam existir.
Facto relevante e uma possível pista a explorar sobre o episódio da emboscada em Jolmete pode estar relacionado com o MLG [, Movimento de Libertação da Guiné,.] que tinha um contencioso, no meio de grandes rivalidades, com o PAI de Amílcar Cabral (ver o livro de Julião Soares). Assim, os homens da tal emboscada podiam pertencer a um outro movimento que não o PAIGC. É uma mera hipótese que poderá explicar o desconhecimento ou o silêncio por parte do PAIGC sobre este trágico acontecimento.
Eu acredito na versão do A. Medina que, a meu ver, não tem nenhum interesse em denegrir a imagem de Portugal e das forças armadas que o próprio serviu na juventude.
Precisamos é reflectir, sem tabus, sobre as causas que poderiam ter levado a tais excessos. Não é segredo nenhum se se disser que a colonização sempre se fez com base na utilização da repressão, logo da violência, a mesma que serviu de pretexto, aos nacionalistas, para a Guerra de "libertação" que acabou por nos prender nas malhas da tirania que hoje conhecemos. (...)
_______________
Notas do editor
(*) Vd. postes de:
30 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13349: Sondagem sobre a ocorrência de eventuais execuções sumárias de elementos IN ou pop, por parte das NT, no CTIG
26 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13333: (Ex)citações (234): Comentários ao poste do António Medina sobre os acontecimentos de 1964 em Jolmete: Vasco Pires, António Graça de Abreu, Manuel Carvalho, Joaquim Luís Fernandes, Júlio Abreu, Manuel Luís Lomba, António Rosinha e António Medina
(**) Vd. poste de 24 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13326: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65) (António Medina) - Parte II: Foi há 50 anos, a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois
(*) Vd. postes de:
30 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13349: Sondagem sobre a ocorrência de eventuais execuções sumárias de elementos IN ou pop, por parte das NT, no CTIG
26 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13333: (Ex)citações (234): Comentários ao poste do António Medina sobre os acontecimentos de 1964 em Jolmete: Vasco Pires, António Graça de Abreu, Manuel Carvalho, Joaquim Luís Fernandes, Júlio Abreu, Manuel Luís Lomba, António Rosinha e António Medina
(**) Vd. poste de 24 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13326: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65) (António Medina) - Parte II: Foi há 50 anos, a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois
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Guiné 63/74 - P13385: Álbum fotográfico de Victor Garcia (ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71): partida de Lisboa, no T/T Uíge, em 22/10/1969, e chegada a Bissau, a 28/10/1969
Lisboa > Cais da Rocha Conde de Óbidos > 22 de outubro de 1969 > Embarque do pessoal da CCAV 2639 (III)
Lisboa > Cais da Rocha Conde de Óbidos > 22 de outubro de 1969 > Embarque do pessoal da CCAV 26439 (IV)
T/T Uíge > Viagem Lisboa-Bissau > 25/10/1969 > CCAV 2639 > Grupo de 1º Cabos: na 2ª fila, de pé: Farelo, Luis Delgado,Pena e Henrique; 1ª fila, Oteda,Garcia e Ferreira.
T/T Uíge > Bissau > 28/10/1969 > Chegada
Guiné > Bissau > 28/10/10969 > CCAV 2639 > Após o desembarque, com o T/T Uíge ao fundo.
Fotos: © Victor Garcia (2009) . Todos os direitos reservados (Edição: L.G.)
Victor Garcia |
1. Fotos do álbum do Victor Garcia [ ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71], membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de setembro de 2008.
São uma pequena homenagem ao Victor Garcia, mas também ao seu camarada Mário Lourenço que ele acaba de trazer até nós, para se sentar sob o poilão da nossa Tabanca Grande (*). Desejamos a ambos muita saúde e longa vida, e continuação da vontade de partilhar connosco as suas memórias da Guiné.
O Victor Garcia tem uma página pessoal na Net, onde integrou também um sítio dedicado à sua unidade, a CCAV 2639 (Álbum pessoal, Camaradas, Símbolos, Convívios).
2. Comentário de LG:
Devo dizer que me fascinam estas imagens das nossa(s) partida(s). Centenas de milhares jovens, da nossa geração, passaram por aqui, pelo Cais da Rocha Conde Óbidos a caminho do ultramar... Podem ser repetidas até à exaustão, continuam a mexer connosco... Falarão sempre da saudade de quem parte e de quem fica... Como diz o excerto de um poema meu:
Cais de partida(s)
Sempre detestei os cais de partida,
as estações ferroviárias,
as gares marítimas,
os aeroportos que nos levam ao céu,
as linhas de todas as cores do metro
as paragens de elétricos,
os terminais de autocarro,
e até as praças de táxis,
sítios onde há gente vulgar,
apressada, ou mal dormida,
ou com lágrima fácil ao canto do olho
e até pombos ou gaivotas
debicando restos de comida.
São sombrios e tristes os ares das gares
como é sombrio e triste qualquer lugar
onde se parte e reparte
e há sempre alguém
que fica com a melhor parte.
Campo Grande, Rossio, Santa Apolónia,
Sete Rios, Oriente
Alcântara, Rocha Conde de Óbidos,
que será sempre, para mim,
o Cais 24 de maio de 1969…
Ah!, e mais a norte,
O Victor Garcia tem uma página pessoal na Net, onde integrou também um sítio dedicado à sua unidade, a CCAV 2639 (Álbum pessoal, Camaradas, Símbolos, Convívios).
2. Comentário de LG:
Devo dizer que me fascinam estas imagens das nossa(s) partida(s). Centenas de milhares jovens, da nossa geração, passaram por aqui, pelo Cais da Rocha Conde Óbidos a caminho do ultramar... Podem ser repetidas até à exaustão, continuam a mexer connosco... Falarão sempre da saudade de quem parte e de quem fica... Como diz o excerto de um poema meu:
Cais de partida(s)
Sempre detestei os cais de partida,
as estações ferroviárias,
as gares marítimas,
os aeroportos que nos levam ao céu,
as linhas de todas as cores do metro
as paragens de elétricos,
os terminais de autocarro,
e até as praças de táxis,
sítios onde há gente vulgar,
apressada, ou mal dormida,
ou com lágrima fácil ao canto do olho
e até pombos ou gaivotas
debicando restos de comida.
São sombrios e tristes os ares das gares
como é sombrio e triste qualquer lugar
onde se parte e reparte
e há sempre alguém
que fica com a melhor parte.
Campo Grande, Rossio, Santa Apolónia,
Sete Rios, Oriente
Alcântara, Rocha Conde de Óbidos,
que será sempre, para mim,
o Cais 24 de maio de 1969…
Ah!, e mais a norte,
Leixões, Campanhã,
Devesas, Coimbra B…
Ou mais a sul,
Funchal, Luanda, Bissau,
Xime, Bambadinca, Bafatá…
Quem parte, está
a mais,
e não conta na cidade
e só quem parte, é que leva saudade.
Devesas, Coimbra B…
Ou mais a sul,
Funchal, Luanda, Bissau,
Xime, Bambadinca, Bafatá…
Quem parte, está
a mais,
e não conta na cidade
e só quem parte, é que leva saudade.
(...)
Resta-me a grande nostalgia dos navios
e dos comboios
que eu nunca tive,
nem em brinquedos,
e que nunca sabotei,
porque nunca fiz parte da resistência,
e onde nunca viajei, em criança,
pela simples razão de nem sequer passarem à minha porta.
Nem entrarem no quarto dos meus medos
Nem existirem, tão pouco, no jardim.
que eu desenhava
no quadro de ardósia
com pau de giz branco.
Menino e moço me levaram da casa de meus pais
para longes terras, Bernardim,
e talvez por isso
ainda hoje me seja mais fácil chegar,
a uma gare ou um cais,
do que partir.
Resta-me a grande nostalgia dos navios
e dos comboios
que eu nunca tive,
nem em brinquedos,
e que nunca sabotei,
porque nunca fiz parte da resistência,
e onde nunca viajei, em criança,
pela simples razão de nem sequer passarem à minha porta.
Nem entrarem no quarto dos meus medos
Nem existirem, tão pouco, no jardim.
que eu desenhava
no quadro de ardósia
com pau de giz branco.
Menino e moço me levaram da casa de meus pais
para longes terras, Bernardim,
e talvez por isso
ainda hoje me seja mais fácil chegar,
a uma gare ou um cais,
do que partir.
Luís Graça
_____________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 9 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13383: Tabanca Grande (441): Mário Jorge Figueiredo Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)
(*) Vd. poste de 9 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13383: Tabanca Grande (441): Mário Jorge Figueiredo Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)
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