sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20419: Efemérides (316): Foi há 50 anos que desembarquei em Bissau: fomos para a guerra, privilegiámos a paz! (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)


Guiné > Bissau > c.1970/71 > Chaimites evoluindo no estuário Geba em Bissau. À esquerda, o edifício das Alfãndegas
. As primeiras Chaimites chegam a Bissau, as V-200, para teste, em finais de 1970,  e depois a partir de 1971 vão substitundo algumas das nossas obsoletas viaturas blindadas, mas revelam alguns problemas, a nível da blindagem e do armamento.



Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAV 2639 (1969/71)  > A AM [autometralhadora] Panhard, companheira insubstituível nas nossas colunas.

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)





1. Mensagemn de António Ramalho, de 26 de novembro de 2019, 13h19

[ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas,  a viver em Vila Franca de Xira, membro da Tabanca Grande, com o nº 757: tem cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue;  A ccav 2639, mobilizada pelo RC 7, partiu para o TO da Guiné em 22/10/1969m e regressou a 25/9/1971; esteve em Binar, Pete e Bula; comandante: cap cav Alfredo Jorge Gonçalves Farinha Ferreira;era uma companhia independente, adida ao BCAV 2868; a companhia chegou a Bissau em 28/10/1969, o Ramalho só um depois depois; ficou 3 semanas por Bissau, e o mandarem para o mato em 20/12/1969]


Caro camarada Luís Graça, boa tarde.

Querendo comemorar os 50 anos da nossa chegada à Guiné, homenageando todos aqueles que já partiram, elaborei o texto que anexo para analisares e publicares no nosso Blogue, se assim o entenderes.

Gostaria de ver maior participação de elementos da minha Companhia, tenho feito algumas acções de informação, não vejo resultados, contudo não desistirei!

Quando nos encontraremos num almoço em Algés?
Um forte abraço para todos.

António Fernando Rouqueiro Ramalho (757)





2. Fomos para a guerra e privilegiámos a paz! 

por António Ramalho

Desembarcado em Bissau em Novembro de 1969, fui acompanhado por um T6 na subida do Rio Geba, um ruído ensurdecedor. Antes disso atravessei o Golfo da Guiné apinhado de barcos de pesca, uma imagem lindíssima, qual baía de Cascais, logo ali tive o primeiro sobressalto na manhã seguinte!Na noite anterior o Uíge ficou ancorado ao largo com a proa para Norte. Do meu camarote via a Bissau nocturna. Na manhã seguinte, quando acordei, vi floresta. Pensei que já nos tinham levado para outro local. Ignorância minha. Como os rios na Guiné sofrem de influência marítima, o navio tinha rodado, tudo bem! 





T/T Uíge > Lisboa-Bissau > Outubro de 1969 > "O primeiro (e único) cruzeiro da minha vida.



Guiné > Região Cacheu > Bula > Ponta Consolação > CCAV 2639 (1969/71) > Capunga > Reordenamento

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Desembarcado sem arma mas com bagagem, tinha à minha espera o meu conterrâneo João Unas, distinto marinheiro. Percorri Bissau num autocarro das Viagens Costa a distribuir camaradas pelos diferentes quartéis até que me apresentei no QG (Biafra), tal era a desordem! Feito o chek in fui almoçar ao Pelicano! 

Instalado nos Adidos à espera de transporte, ia diariamente ao QG (Biafra) saber da minha sorte. Não havia vaga, graças a Deus. Assim conheci melhor Bissau que, comparada com os dias de hoje está irreconhecível, um desconsolo! 

Mais tarde, nas poucas vindas a Bissau, era hóspede do meu amigo José Germano,  no quartel de Engenharia [, BENG 447], sempre principescamente recebido. Também em Bissalanca [, BA 12] saboreava as excelentes refeições e usufruía do ar condicionado dos Paraquedistas onde o meu conterrâneo João Belchiorinho me recebia. Já cá não estão os dois entre nós! 

Aproveitei os meus tempos livres para conhecer a cidade, os seus bairros. Fui ao Pilão, como era óbvio, aos seus mercados, às suas escolas e liceu, passei bons momentos na 5ª Rep., na Solmar, também fui ao Chez Toi, Messe da FA e passei pelo HM [ 241} conhecer e saber do estado de saúde de alguns camaradas que tinham sofrido umas pequenas escoriações numa emboscada em Binare. 

Fiquei com uma imagem que guardarei para toda a vida: sentados nos lancis dos passeios dos bairros de Bissau,  estudavam crianças à luz dos candeeiros da iluminação pública, que vontade de aprender, que encanto me proporcionaram aqueles jovens! 

Noutra ida ao HM apercebi-me da chegada de helicópteros. A minha curiosidade levou-me até às urgências, estarão a imaginar o dantesco cenário que presenciei naquela tarde! Que grande estímulo para um periquito! Resisti às imagens e ao ambiente tentando confortar aqueles que me ouviam... Não conheci ninguém! Na minha permanência nos Adidos em Bissau fiz rondas desde as antenas da EN, ao Presídio Militar onde numa das idas levei um oficial despromovido por “incompatibilidade” com outro oficial superior que foi calorosamente recebido pelos presentes, antes de o entregar tomámos uma cerveja e dei-lhe um abraço! 

Esperei um mês pela coluna de reabastecimento e lá fui até Binar (Missão do Sono) de onde voltei no mesmo dia para Bula, ficando alojado num Celeiro fora do quartel. Fui na GMC da frente, carregada de sacos com batatas, para resistir melhor ao eventual rebentamento de alguma mina, fazendo companhia a um condutor nativo que fazia a sua estreia nestas andanças. Era ele e eu. Lá nos safámos! 

O BCAV 2868 estava aquartelado em Bula nuns pavilhões desactivados (isotérmicos com ventilação estática) da petrolífera ESSO com piscina (entulhada), que em tempos fez prospecção de petróleo na província! 

Lembro-me perfeitamente da minha Consoada de 1969 no mato: um pacote de bolachas da MM [, Manutenção Militar,] e um cantil com chá. Soube-me tão bem! 

De Bula partimos para Capunga, Pete e Ponta Consolação para fazer o reordenamento das Tabancas, localizado no triângulo Bula, Choquemone (Base do IN) e Binare, aquartelados em magníficas e apropriadas instalações (tendas de lona) até ao fim da comissão! 


Guiné > Guiné > Região do Cacheu > Carta de Bula (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ponta Consolação, ma margem esquerda do rio de Caleco ou de Bula, afluente do rio Mansoa. À direita da foz, ficava João Landim... Choquemone era uma das matas onde o PAIGC sempre teve as suas "barracas" (ou bases...).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


Aqui reordenámos as Tabancas, construíram-se escolas com mão-de-obra nativa mas supervisionada por nós. No princípio sentiu-se alguma relutância das populações já que a nossa presença prejudicava o reabastecimento do IN, uma vez que era ali o seu celeiro. 

No campo da educação foram submetidos a exame e aprovados 18 candidatos, tiraram a carta de condução 41 elementos. Construíram-se 538 moradias, fabricaram-se 582.799 Adobos, construíram-se 3 Escolas: população reordenada 2.509 pessoas. 

Dado estar a pouca distância do Choquemone (Base IN) éramos apoiados pela rectaguarda por enormes peças de artilharia de grande alcance (Obuses) instaladas em Bula. Os dados de tiro para o aparelho de pontaria eram fornecidos por nós tendo como base a inscrição no topo dos bidões das sentinelas! 

Apesar desta missão, eramos escalados para integrar operações. Naquelas em que fiz parte,  o IN não quis contactos comigo, nunca trocámos tiros, nunca nos flagelámos. Já no acampamento fomos contemplados com algumas flagelações à distância. 

Na terça-feira de Carnaval de 1970 uma bala perfurou-nos um pipo de vinho, uma pena! Efectuámos 148 Operações, muitos patrulhamentos e escoltas, picámos quilómetros de picadas! Uma noite fomos sobrevoados no acampamento a baixa altitude por um avião, o Pictures Enterprise, ficando sem saber o que andaria a fazer por ali àquela hora da noite! 

Logo no princípio da nossa comissão, foi efectuada noutra zona da província [, no corredor de Guileje, no sul, na região de Tombali], uma operação para capturar 'Nino' Vieira. Não o conseguiram, tendo contudo capturado o Capitão Peralta, um cubano integrado nas fileiras do PAIGC, ficando gravemente ferido num braço. Assistimos à construção e asfaltamento da estrada de São Vicente que ligava BULA à margem direita do Rio Cacheu que mais tarde faria parte do nosso roteiro para Bissum. 

Apesar do permanente patrulhamento naquela estrada, era o cilindro que com a sua carga máxima abria a picagem da estrada diariamente. É nesta altura que se despenha um helicóptero, devido ao mau tempo, com deputados, sendo um deles meu conterrâneo, José Vicente Abreu, e Pinto Bull, natural da Guiné, avô da actriz Patrícia Bull. 

Fomos visitados em Capunga por Juan Carlos de Bourbon, mais tarde Rei de Espanha, acompanhado pelo Major Marcelino. Apareceram-nos de jipe, nunca soubemos qual a razão da visita. 

De repente somos confrontados com a “Paz Podre”. Não podíamos usar armas, é verdade. Íamos nas colunas com as mãos nos bolsos até que se dá a cilada aos nossos ilustres Majores na zona de Teixeira Pinto, sendo que estava preparada para o General Spínola, como disseram os SI [, Serviços de Informação]. Neste período ofereceram-se enormes quantidades de tabaco e vinho do Porto ao IN. 

Em Novembro de 1970, o Comandante Alpoim Galvão vai a Conacri tentar libertar elementos das NT e capturar elementos do PAIGC. Julgo ter tido mais êxito na libertação dos elementos das NT! 

Lema da CCAV 2639 (1969/71): "Pro bono pacis"
 (, para o bem da paz)
O Major Casquilho [, Luís Maria Coelho Casquilho,] caiu ao Rio Mansoa [, em 29/10/1070,] levando consigo o jipe e a máquina de projecção de filmes que, solícito, queria fazer chegar a horas a Bissau. Ultrapassou as Panhards que o iriam escoltar... e foi em frente, uma tragédia! 

Também capturámos uma Kalachnikov ao IN enquanto namorava na Tabanca. Não era bem a nossa missão, já que íamos era comprar galinhas! 

Celebrou-se o Dia da Cavalaria com pompa e circunstância em teatro de guerra! Construíram-se dois heliportos, um em Pete e outro em Ponta Consolação.

É substituído em Bula o BCAV 2868 pelo BCAÇ 2928 de onde sairia a seu tempo a CCAÇ 2789 que iria substituir-nos no reordenamento das Tabancas de Capunga, Pete e Ponta Consolação. Entretanto fiz parte de um Gr Comb composto por elementos de todos os Pelotões (presumo os mais bem comportados) com destino a Bissum/Bissorã onde fomos ajudar uma Companhia Açoriana a adaptar-se ao cenário de guerra, efectuando algumas rondas e patrulhamentos. Nunca participámos em qualquer outro tipo de operação! 

Éramos reabastecidos de víveres uma vez por mês por via fluvial. Para receber o correio fretávamos uma avioneta à Marinha. Dali ouviu-se o ataque a Bissau com mísseis às 22:00 horas de um qualquer dia de 1971, previamente conhecido e divulgado. Não foi surpresa para ninguém! Como forma de proteger a população da capital, faziam-se exercícios nocturnos de ofuscação de luzes. Mesmo assim estiveram muito perto de acertar nos alvos. Éramos sobrevoados por B26 da NATO a bastante altitude que mais tarde ouviríamos as suas barulhentas descargas “ecológicas”! 

No regresso de Bissum/Bissorã deslocaram-me para Ponta Consolação onde tive o privilégio de poder acompanhar o cabo enfermeiro Afonso Henrique da Silva Lucas ao nascimento de uma menina que baptizámos com Helga dos Reis já que nasceu ao meio dia do dia 6 de Janeiro de 1971. Também aqui fomos flagelados numa noite, felizmente sem consequências graves. Já em Pete, o ataque foi mais feroz, tendo o IN utilizado misseis que destruíram grande parte do aquartelamento, havendo alguns feridos, merecendo a visita das autoridades militares do CTIG. 

Entretanto, chega a CCAV 3420 comandada pelo então Capitão Salgueiro Maia, meu instrutor em Santarém. Aquartelou-se em Bula, para se adaptar ao terreno, mais tarde foi destacada para outros pontos da Guiné mais complicados. Não tiveram vida fácil! Mais uma vez para o mato para a sua adaptação a eventuais cenários reais com que se poderiam deparar. Uma manhã, ao romper do dia ouço um grande alvoroço nas hostes, os periquitos estavam irrequietos e assustados: nada mais, nada menos pelo barulho provocado pelos macacos a acordarem esfregando os olhos e que saltavam duns ramos para os outros cumprimentando-se em voz alta, de forma semelhante ao acordar humano. Passado o susto, lá se acalmaram! 

Só nos podemos orgulhar e sentir felizes: a Companhia regressou em 1971 com os mesmos homens com que chegou à Guiné em 1969, graças a Deus. Ainda que uns mais apanhados que outros! Hoje, que já muitos nos deixaram, é em sua memória que resumo a nossa permanência por aquelas terras há 50 anos! Que repousem em Paz!

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20417: Dossiê Cap Cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941- Susana, 1970) - Parte II: declarações do ex-alf mil op esp, da CCAV 2538, Eurico Borlido








Declarações do participante da ocorrência,  Eurico João Alves Borlido, alf mil op esp, CCAV 2538 (Susana, 1969/71) no âmbito do processo por ferimento em combate de que resultou a morte do cap cav Vilar; foi instrutor do processo o cap cav Rogério Silva Guilherme, substituto do cap cav Luís Rei Vilar, no comando da companhia.

Local e data, Susana, 26 de fevereiro de 1970.

Fonte: Cortesia de cor art ref Morais da Silva


1. Mais uma peça do processo do infausto cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970),  ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.  (*)

Cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970).
 Foto: cortesia de cor art ref
Morais da Silva
Sobre as circunstâncias da morte deste intrépido oficial de cavalaria, no TO da Guiné, vamos continuar a publicar, sob a forma de dossiê, os documentos que nos enviou, gentilmente,  o cor art ref Morais da Silva, autor de um notável trabalho de pesquisa sobre os 47 oficiais da Escola do Exército / Academia, mortos em combate, na guerra colonial,  que também temos vindo a publicar, no nosso blogue (**).

Hoje reproduzimos as declarações do alf mil op esp Eurico João Alves Borlido, em serviço na CCAV 2538 (, e que presumimos que fosse o 2º comandante),  no âmbito do "processo por ferimento em combate de que resultou a morte [do cap cav Vilar]". O alf  Borlido aparece na qualidade de "participante". Foi instrutor do processo o cap cav Rogério Silva Guilherme, substituto do cap cav Luís Rei Vilar, no comando da companhia.

Sabemos que a família já teve acesso em tempos a esta documentação do processo individual  bem como ao relatório da autópsia.  Para o ano celebram-se os 50 anos da morte do cap cav Luís Rei Vilar.  Ser-lhe-á feita uma homenagem, em Cascais e em Susana, de acordo com a vontade manifestada pelos seus irmãos Manuel, Miguel e Duarte Vilar (que em  2007 nos pediram ajuda no sentido de identificar e localizar camaradas que pudessem trazer alguma informação adicional sobre este caso, e que hoje animam o projeto Kassumai,  em Susana,   cuja população felupe o Luís  tanto acarinhou e ajudou, no escasso tempo em que lá viveu; o projeto Kassumai é o de apadrinhamento das crianças do jardim-escola local). (***)

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(***)  20 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17492: Convívios (813): Irmãos, camaradas e amigos do saudoso cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970) (cmdt, CCAV 2538, 1969/71) honram a sua memória e divulgam o projeto Kassumai (de apoio à escola de Suzana) em jantar-convívio no próximo dia 25, em Cascais. Aceitam-se inscrições até ao fim do dia de hoje

Guiné 61/74 - P20418: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXXII: Alberto Fernão Magalhães Sousa Osório, maj inf (Celorico da Beira, 1930 - Pelundo/Jolmete, Guiné, 1970)







1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). (*)


Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à esquerda], membro da nossa Tabanca Grande [, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972 ]


2. Sobre a tragédia do Chão Manjaco (em que foram barbaramente assassinados pelo PAIGC, em Jolmete, em 20 de abril de 1970,  três oficiais superiores, um alferes miliciano,  dois condutores de jipe e um tradutor, nativos, todos desarmados), temos dezenas de referências no nosso blogue. Ver em especial:



Guiné > Região do Cacheu > Pelundo >  CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 (Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71). c. 1969/70 > Visita de Spinola (é o terceiro, de costas)... Em primeiro plano,o major inf Magalhães Osório, oficial de operações do CAOP, mais tarde CAOP1. Esta foto foi tirada pelo Manuel Resende na inauguração da célebre estrada alcatroada Có - Pelundo: ele nessa altura  estava com baixa médica, no Pelundo, sendo o seu lugar era em Jolmete.
Foto gentilmente cedida pelo nosso camarada Manuel Resende (ex-alf mil da CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71), régulo da Magnífica Tabanca da Linha. (**)

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20402: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXXI: Luís Filipe Rei Vilar (Cascais, 1941 - Susana, região de Cacheu, Guiné, 1970)

Guiné 61/74 - P20416: O que é feito de ti, camarada (8): Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro da Tabanca Grande, com o nº 790; jornalista aposentado, vive na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde... Está a escrever dois livros, um sobre a história da morna; outro sobre as suas memórias dos anos de 1973/75... E precisa de duas fotos: uma do QG em Santa Luzia, e outra da messe de sargentos no QG...

1. Mensagem do nosso editor Luís Graça , dirigida ao Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74 ), foto à esquerda), membro da Tabanca Grande, com o nº 790; jornalista aposentado, vive na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde (*)

Data - quinta, 14/11/2019, 15:01

Assunto - A morna imortal "Maria Barba"



Carlos: Como vais ? Não tens dado notícias... Mas imagino que, como bom cabo-verdiano, deves estar muito feliz com a perspetiva de, em dezembro próximo, termos a tua/nossa morna como "patrimonio imaterial da Humanidade"...

Eu estou feliz, sou fã da vossa música, e não só da morna, desde há muito tempo. E tenho dedicado aqui, no blogue, alguns postes à Maria Barba, nome mítico da morna da Boavista... Talvez possas e queiras fazer aqui uma mãozinha...

Não sei se chegaste a conhecer a Nha Maria Barba, em Bissau, na rua eng Sá Carneiro (hoje, rua Eduardo Mondlane).  Era morava em frente à messe sargentos da FAP, e era vizinha da família do Nelson Herbert Lopes. O Nelson diz que cresceu com os netos.

O pai do Nelson e o meu, Luís Henriques, ambos futebolistas, ainda estiveram no Mindelo, em 1943, no mesmo regimento, o RI 23. O meu regressou em setembro, esteve 30 meses em São Vicente. E cantarolava-me esse morna, a "Maria Barba", razão por que me é tão querida, a letra e a música... Só agora vim a saber quem era esta mulher da Boavista...

Dá notícias. Um alfabravo, Luís


2. Resposta do Carlos Filipe Gonçalves, com data de 14/11/2019, 18:24


Olá, caro amigo:

Acabo de receber com muito prazer esta tua mensagem e sobretudo estas informações sobre a Maria Barba. Vem tudo a calhar, pois, estou em vias de edição de um livro sobre a Morna que justamente traz informações sobre as «cantadeiras» de que Maria Barba é uma das últimas representantes. O livro – que sairá por ocasião da proclamação da Morna Património Mundial em Dezembro próximo – traz uma biografia e a história dessa cantadeira e a história da Morna que leva o seu nome… e claro muito mais informações sobre a Morna. 

Agora, informação precisa sobre ela e local onde morava na Guiné, tenho é de agradecer: MUITO OBRIGADO. O livro chama-se «Capítulos da Morna» do qual constam excertos de outro livro meu – "Kab Verd Band AZ Dicionário da Música de Cabo Verde", com edição prevista para 2020. 

Quando o livro sobre a Morna sair, envio-te por email as história da Maria Barba e da Morna que dele constam… Portanto lembra-me disso com um email… OK?!

Bem, outra notícia é que já finalizei a parte sobre a Guiné, daquele meu livro de memórias (1973-1975). Estou a agora a escrever a parte sobre Cabo Verde para onde vim em Agosto de 1975… Olha, para ilustrar o livro, preciso de uma foto do QG em Santa Luzia e,  se possível, também uma foto da messe de sargentos em Santa Luzia… A verdade é que eu tirei algumas fotos logo depois da minha chegada a Bissau em 1973 – como aquelas que publiquei no blogue  – mas depressa deixei de utilizar a minha máquina fotográfica… Se os camaradas do Blogue puderem ajudar ficaria muito grato… Já fiz pesquisas tanto no Blogue como no Google, mas não encontro nada…

Bem.  o que te posso adiantar sobre este novo livro: é o depoimento de um militar que sou eu (e de outras pessoas, nomeadamente o Nelson Herbert)… e eu na qualidade de homem da rádio, dou importância ao que acontece ao nível da rádio e também outros acontecimentos… até que, depois do 25 de Abril, acabo por ingressar na Rádio Libertação, depois de passar à disponibilidade no mês de Setembro de 1974. 

Assisto então ao conturbado processo que decorreu na Guiné depois da saída da tropa e administração portuguesa… No ano seguinte acabo por ser destacado na equipa de reportagem que cobre a Independência de Cabo Verde em 5 de Julho de 1975… Destacado para um nova missão em Cabo Verde em Agosto de 1975,  acabo por ficar e não regresso mais a Bissau. Em Cabo Verde no seio da Revolução em curso, continuo o trabalho na rádio…

Bem, terminei já os capítulos sobre a Guiné… estou agora a recolher depoimentos para a parte sobre Cabo Verde de 1975 a 1980… quando vou estudar em Paris. Curioso sobre o titulo? Aqui vai: "Heróis do Mar – Bombolom – Cimboa"… depois de ser ler o livro, entende-se o porquê do título…

Carlos Filipe Gonçalves (**)

Jornalista Aposentado

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

14 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19783: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (65): Pedido de autorização para citações a inserir no livro sobre a guerra colonial, de Carlos Filipe Gonçalves, jornalista, cabo-verdiano, que foi fur mil, na chefia da Intendência em Bissau, de março de 1973 a agosto de 1974

Guiné 61/74 - P20415: Parabéns a você (1718): José Pereira, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 5 (Guiné, 1966/68) e Manuel Carvalho, ex-Fur Mil AP Inf da CCAÇ 2366 (Guiné, 1968/70)


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Nota do editor

Último poste da série de 2 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20406: Parabéns a você (1717): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20414: Historiografia da presença portuguesa em África (190): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Depois de um quadro expositivo, marcadamente teórico sobre a evolução do racismo, caraterização e manifestações, era altura de entrar declaradamente na apreciação do colonialismo português. Charles Ralph Boxer (1904-2000) publicou este livro em 1969, caiu nos governantes do Estado Novo como uma bomba. Só não lhe chamaram comunista porque ele era visceralmente conservador. Era professor no King's College em Londres, Doutor Honoris causa em Utrecht e Lisboa, agraciado com a Ordem de Santiago de Espada. Ora Boxer ia desmontar, na sequência de outros trabalhos já publicados nessa década, a falácia do Portugal multirracial e luso-tropical, revelou, com documentação sólida na mão que o colonialismo português era categoricamente discriminador e com práticas raciais indesmentíveis, desde os primeiros séculos do império, como se verá também no texto seguinte.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5)

Beja Santos

Charles Boxer
Nesta polémica inextinguível sobre o racismo no colonialismo português, o historiador britânico Charles Ralph Boxer tem uma palavra determinante a dizer. Na sua obra mais acessível em termos de aquisição, e em língua portuguesa, temos “O Império Marítimo Português”, Edições 70, 2017, com introdução do historiador Diogo Ramada Curto. Este título surgiu em 1969, e o professor Boxer que era profundamente estimado, inclusive condecorado pelo Estado Novo, causou indignação, consternação, repúdio, na continuação de trabalhos recentes que desenvolvia sobre o império colonial português e as relações raciais. Era um ataque frontal à propaganda do Estado Novo que fazia apanágio da multirracialidade, e que desde 1951 procurava apagar as marcas evidentes do esclavagismo encapotado, do trabalho forçado, da discriminação e das múltiplas manifestações de preconceitos. Nenhum editor se atreveu a traduzir a obra, a primeira edição em Portugal data de 1977, graças a Edições 70.

Em termos historiográficos, como salienta Ramada Curto, é de leitura indispensável. Boxer distanciara-se das teses de António Sérgio e de Jaime Cortesão, para quem a formação de Portugal estaria nas atividades marítimas, enfatizando que o Portugal medieval era uma sociedade cuja estratificação social e base económica eram determinadas pela agricultura, as atividades marítimas eram fragmentárias e intermitentes, a dinâmica da marinha comercial situa-se no fim do século XIV. Boxer irá sugerir um outro feixe de razões económicas para a expansão portuguesa, e detalha-as neste livro. É uma longa viagem, redigida numa escrita vibrante e acessível como só os grandes mestres possuem o dom, percorrer-se-á todo o Império Português desde a cristandade medieval, disseca-se o projeto henriquino, o ouro da Mina e a demanda do Preste João, a longa exploração em torno do litoral da costa africana, depois o fundamento do império militar no Oriente e a constituição da rota das especiarias nos mares da Ásia, a evangelização dos locais do Oriente onde se fixaram os portugueses, depois os escravos e o açúcar do Atlântico Sul, entre os séculos XVI e XVII, os renhidos combates contra os holandeses; depara-se-nos, entre os séculos XVII e XVIII o refluxo do I Império, dá-se a contração no Oriente, assiste-se nesse mesmo período a um renascimento económico de Portugal e do seu império ultramarino graças ao Brasil, não já o açúcar mas o ouro e as pedras preciosas; dar-se-á nota da carreira da Índia e das frotas do Brasil, em simultâneo disseca-se o que foi o Padroado da Coroa e as missões católicas, e é então que se chega à matéria mais explosiva que o autor designa por “pureza de sangue” e “raças infectas”.
E logo o primeiro período ameaça tempestade:
“Não faltam eminentes autoridades contemporâneas que afirmem que os Portugueses nunca tiveram quaisquer preconceitos raciais dignos de menção. O que essas autoridades não explicam é a razão pela qual, nesse caso, os Portugueses, durante séculos, puseram uma tal tónica no conceito de ‘limpeza’ ou ‘pureza de sangue’ não apenas de um ponto de vista classista mas também de um ponto de vista racial, nem a razão por que expressões como ‘raças infectas’ se encontram com tanta frequência em documentos oficiais e na correspondência privada até ao último quartel do século XVIII”.
E logo adianta que os cristãos-novos e os escravos negros não eram os únicos indivíduos em relação aos quais se fazia discriminação, nem todos os católicos apostólicos romanos eram, de modo algum, elegíveis para os cargos oficiais.

A abordagem não pode ser linear, tem matizes de complexidade, e Boxer dá exemplos que disparam em várias direções. Um congolês educado em Lisboa foi nomeado bispo titular de Útica em 1518. Um breve papal desse mesmo ano autorizava o capelão real de Lisboa a ordenar “etíopes, indianos e africanos” que pudessem ter atingido os padrões morais e educacionais exigidos para o sacerdócio. Em 1541, o Vigário-Geral de Goa convenceu as autoridades civis eclesiásticas a patrocinarem a fundação de um seminário para a educação e treino religioso de jovens asiáticos e africanos orientais, os jesuítas assenhorearam-se da instituição e associaram-na ao seu Colégio de São Paulo. Mas muitos religiosos eram céticos à experiência multirracial. São Francisco Xavier advogava a ideia de que noviços indianos não deviam ser admitidos na Companhia de Jesus. Boxer observa o desdenhoso desprezo manifestado pelos leigos portugueses face aos padres indianos e euroasiáticos.

E quando se fala em complexidade, tendo havido apenas um indiano que foi ordenado padre da Companhia de Jesus, tendo mesmo o grande reorganizador das missões jesuítas na Ásia, Alexandre Valignano, aberto uma exceção em favor da admissão de japoneses ao sacerdócio, alargando-a aos indochineses e coreanos, opôs-se determinantemente à admissão de indianos na Companhia de Jesus, e escreveu mesmo: “Tanto porque todas as raças escuras são muito estúpidas e viciosas, e espiritualmente do mais baixo nível que é possível, como também porque os portugueses as tratam com o maior dos desprezos, e ainda porque entre os habitantes da região são menos estimados do que os portugueses”. Mais tarde ou mais cedo, diz Boxer, todas as ordens religiosas que trabalhavam sob a alçada do padroado asiático adotaram o precedente estabelecido pelos Jesuítas.

Complexidade, os portugueses compreenderam que não podiam destruir o antiquíssimo sistema de castas hindu, teriam de viver em harmonia com ele: com os brâmanes, ou classe sacerdotal; os xátrias, ou classe militar; os vaixiás, de que faziam parte mercadores e camponeses; e os sudras, ou lacaios e servos. Tudo Boxer descreve minuciosamente, e com documentos na mão.

Referindo-se a África Ocidental, dirá que aqui predominou uma atitude muito mais liberal, tendo sido ordenados alguns congoleses educados em Lisboa logo no reinado de D. Manuel, precedente que foi seguido sucessivamente nas ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, e, depois de considerável hesitação, em Angola. E no Brasil nunca se pôs sequer o problema de ordenar ameríndios puros.
Como se irá ver seguidamente.

(continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 27 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20389: Historiografia da presença portuguesa em África (188): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (4): "Portugueses e Espanhóis na Oceânia", por René Pélissier (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20399: Historiografia da Presença Portuguesa em África (189): I Exposição Colonial, Porto, junho/setembro de 1934: fotogaleria do encerramento...

Guiné 61/74 - P20413: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte IV: Acção Mabecos (subsetor de Piche, 22-24 de fevereiro de 1971)


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna



Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 >  "Eu estava sob as ordens do Capitão Osório [, de origem macaense,  aqui na foto], homem da artilharia, já falecido. No relatório desta operação está referido a forma elevada como o pessoal da Artilharia participou na resposta ao fogo IN, na sequência de emboscada, logo no primeiro dia, 22".


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 >  O fur mil art Domingos Robalo, adjunto do cap art Osório: "A minha posição na coluna era na retaguarda, numa Berliet com um obus 14. Noutra viatura, na retaguarda da minha, ía o alferes Sá Viana Rebelo (sobrinho o Ministro do Exército)."

Imagens da progressão da coluna, de Piche  até à fronteira (, no rio Campa): "Sem fazer grandes cálculos, mas tendo em mente as tropas envolvidas, a nossa coluna teria um comprimento, em movimento de cerca de entre 1500 m a 1800m".

Fotos (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico (*) de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; foi comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); vive em Almada; tem mais de 20 referências no nosso blogue. [, Foto atual, à esquerda].

Já no final da comissão, que terminaria em abril de 1971 [, 24 meses!], o  Domingos Robalo, de rendição individual, colocado no BAC 1 / GAC 7,depois de trer comandado o 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70),  ainda participa na Acção Mabecos, em 22, 23 e 24 de fevereiro de 1971 (**):

A Acção Mabecos, executada a partir de Piche, tinha como objecto a retaliação,  com fogo de artilharia, à base IN de Foulamory, na região fronteiriça, a cerca de 12/13 km  Os obuses adequados e definidos para a operação eram os de 14 cm [, Saré Bacar e Canquelifá], e as peças de 11,4 cm, com maior alcance [ Piche.]

Então, convocaram-se os Pelotões de Artilharia de Saré Bacar, com 3 obuses 14,0; Canquelifá com 2 obuses [,14,0] e o pelotão reforçado de Piche, com 4 obuses [, peças 11.4]. [Bajocunda e Pirada tinham obuses 10,5 cm, não sendo adequados à operação.] 

O objectivo era Posicionar - se próximo da fronteira, Rio Campa, junto ao Corubal, e bombardear posições IN na região de Foulamory (Guiné Conacri).

Participaram as seguintes forças:

(i) 1º, 2º, 3º e 4º P el / CART 3332.

(ii) 3º e 4º Pel / /CCAV 2749 / BCAV 2922).

(iii) Duas secções de milícias da CM 249;

(iv) Uma secção de milícias da CM 246, com Morteiro 60, e 30 granadas;

(v) Uma secção Morteiro 81, 30 granadas;

(vi) Artilharia Pesada: 4 peças 11,4 com 160 Granadas [Piche], 2 Obus 14, com 100 [Canquelifá], 3 Obus 14 com 120 [Sare Bacar] ;

(vii) duas WHITE PEL/REC 2.


(...) Estávamos em semana de carnaval. A emboscada foi ao fim da tarde, de 22 de fevereiro de 1971. desencadeada com fogo muito forte. Lembro-me de haver referência à existência de soldados cubanos nas forças que nos atacaram. 

Com o decorrer do tempo parecia que o fogo era cada mais intenso.Daqui resultou que ordenei aos meus soldados que instalassem o obus 14 em posição de fogo. Creio que 5 minutos depois, estavam no ar as primeiras granadas do obus 14. Passados momentos aparece o Capitão Osório, também do GAC7, apoiando a decisão tomada. Passados 2 ou 3 minutos, o fogo do inimigo cessou. Todavia, as noticias não eram agradáveis porque, no pelotão que estava na frente [, o 3º Gr Comb / CART 3332], havia baixas e na manhâ seguinte havia a confirmação de um desaparecido, a do 1º cabo Duarte Fortunato [, além de 3 mortos e feridos graves]

Naquela mesma área, a artilharia [, 9 bocas de fogo,] tomou posição e durante toda a noite efectuaram-se bombardeamentos.   O erro desta operação foi a demora na reunião da logística bélica, porque estivemos em Piche alguns dias com movimentações anormais, o que despertou a curiosidade da população e consequentemente a organização do inimigo.

De certo modo, lembro-me que havia a expectativa de haver condições para uma emboscada, que se verificou. Lembro-me, também do acidente, na caserna, com uma bazuca [ que fez 3 vítimas mortais entre o pessoal do 4º Pelotão da CCAV 2749 / BCAV 2922]. O pessoal já saiu para a operação completamente desmoralizado e entristecido. (...)





Guiné > Região de Gabu > Carta de Piche (1957) (Escala 1/50 mil) > A tracejado azul, o provável trajecto da coluna, com um cumprimento de 1500 a 2000 metros, que, no âmbito da Acção Mabecos, partiu de Piche até fronteira. (Em linha reta, não devem ser mais de 15 km.)

Nas proximidades do Rio Campa, afluente do Rio Coli,  a par do Rio Cimongru e do Rio Nhamprubana, 9 bocas de fogo (obuses 14 e peças 11.4, c. 500 granadas) flagelaram toda a noite de 23 para 24 de fevereiro de 1971 a base IN de Foulamory, do outro lado da fronteira: A fronteira, aqui,  é delimitada pelo Rio Coli.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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(**) Vd. postes de:

22 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20370: Fotos à procura de uma... legenda (113): Camaradas artilheiros, quando media, em comprimento, o conjunto Berliet ou Mercedes ou Matador + reboque + obus 14 ou peça 11,4 ?.. 15 metros!... E quanto pesava ? 15 toneladas!... Façam lá o TPC: 9 bocas de fogo, mais 9 rebocadores, mais 9 Unimogs e Whites, mais 300 homens em armas... mais 500 granadas... Qual o comprimento (e o peso= de uma coluna destas, a progredir numa picada, no mato, de Piche, a caminho da fronteira, "Acção Mabecos", 22-24 de fevereiro do século passado, numa guerra do outro mundo ?!..

21 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20368: Blogues da nossa blogosfera (115): "A guerra nunca acaba para quem se bateu em combate": o dramático relato da Acção Mabecos, Piche, 22, 23 e 24 de fevereiro de 1971 (texto de Eduardo Lopes; fotos de Jorge Carneiro Pinto, CART 3332, 1970/72)

19 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20364: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - IX (e última) Parte: Nunca mais esquecerei aquele abraço, num lojeca em Bissau, antes do meu regresso a casa, daquele negro de Fulacunda, o Eusébio, suspeito de colaborar com o IN, e a quem poderei ter salvo a vida...

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20412: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XI: Mais fotos, parte delas sem legendas...


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  S/l > s/d > Progressão em coluna no mato (a famosa bicha de pirilau) (1)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  S/l > s/d > Progressão em coluna no mato (a famosa bicha de pirilau) (2)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Cachil  S/l > Aquartelamento: queimando papéis (documentos classificados), antes de deixar o Cachil.


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > Casa de banho improvisada, à prota do quarto que partilhava com outros camaradas...


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Cachil: hora do recreio...


 Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Cachil: LDM 309


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Porto do Cachil. Primeira etapa do regresso a casa (1)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Porto do Cachil. Primeira etapa do regresso a casa (2)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  Algures num tabanca, morança fula.


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes: 

(i) ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66);

 (ii) trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil);

 (iii) foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Mais dados biográficos: 

(iv) estudou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG):

 (v) andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente;

(vi) é natural de Lisboa;

 (vii) casado; 

(viii) tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas); 

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande.

Estas mais algumas fotos que dispomos do seu álbum, parte delas sem legendas.
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Nota do editor: