quinta-feira, 6 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25609: Elementos para a História do Pel Caç Nat 51 (1966/74) - Parte II: Cacine, Catió, Cufar, Bedanda (c. 1970) (Armindo Batata)


Guiné > Região de Tombali > Cacine > c. dez 1969/jan 70 > Fotoº 53 > O pessoal do Pel Caç Nat 51 e 67 em trânsito por Cacine, tendo chegado de LDM vindo de Gadamael. A "avenida das palmeiras" que ia desembocar ao cais fluvial: "A ponte cais ao fundo e a messe (ou bar?) de sargentos à direita. A messe, bar e alojamentos dos oficiais era do lado opsto, donde tirei a fotografia. O acesso à ponte cais era uma agradável avenida ladeada de palmeiras."



Guiné > Região de Tombali > Cacine > c. dez 1969/jan 70  > Fotoº s/n > O ex-alf mil Armindo Batata, cmdt  Pel Caç Nat 51,  em trânsito para Catió e Cufar,  tendo chegado de LDM vindo de Gadamael Porto: aqui junto a uma AML Daimler da escolta.


Guiné > Região de Tombali > Cacine > c. dez 1969/jan 70  > Fotoº s/n > O ex-alf mil Armindo Batata, cmdt  Pel Caç Nat 51,  em trânsito para Catió e Cufar,  tendo chegado de LDM vindo de Gadamael Porto: aqui junto a uma AML Daimler da escolta, com a LDM à esquerda. Ao fundo, o Cantanhez, na margem direita do rio Cacine. (Frente a Cacine fica  hoje o porto fluvial e a aldeia piscatória de 
Cananima  que não existia nesse tempo,)


Guiné > Região de Tombali > Cacine > c. dez 1969/jan 70  > Fotoº nº 52 > O porto fluvial na margem esquerda do rio Cacine: "praia a jusante da ponte cais onde desembarcámos das LDM, durante a noite, vindos de Gadamael Porto".


Guiné > Região de Tombali > Cacine > c. dez 1969/jan 70  > Fotoº nº 50 > O NRP Alvor LFP, Lancha de Fiscalização Pequn) que escoltou o comboio fluvial com os Pel Caç Nat 51 e 67 até Catió.



Guiné > Região de Tombali > Catió > s/d (c. dez 1969/jan 70)  > Fotoº 72 > O pessoal do Pel Caç Nat 51 e 67 em trânsito pro Catió, a caminho de Cufar


Guiné > Região de Tombali > Cufar  (?) > s/d (c. 1970)  > Foto nº 78 >  Pel Caç Nat 51


Guiné > Região de Tombali > Cufar  (?) > s/d (c. 1970)  > Foto nº 59 >  Pel Caç Nat 51


Guiné > Região de Tombali > Cufar  (?) > s/d (c. 1970)  > Foto nº 79 >  Pel Caç Nat 51


Guiné > Região de Tombali > Cufar  (?) > s/d (c. 1970)  > Foto nº 61 >  Pel Caç Nat 51


Guiné > Região de Tombali > Cufar  (?) > s/d (c. 1970)  > Foto nº 81 >  Pel Caç Nat 51


Guiné > Região de Tombali > Cufar  (?) > s/d (c. 1970)  > Foto nº 58 >  Pel Caç Nat 51: o alf mil Armindo Batata, à esquerd, de óculos


Guiné > Região de Tombali > Cufar > Pel Caç Nat 51 >  s/d (c.1970)  > Fotoº 69 > A pista de Cufar


Guiné > Região de Tombali > s/l > Pel Caç Nat 51 >  s/d (c.1970)  > Foto nº 80

Vista aérea (detalhe) > O José Vermelho (nosso grão-tabanqueiro nº 471, fur mil, CCAÇ 3520 - Cacine, CCAÇ 6 - Bedanda, CIM - Bolama, 1972/74) diz que esta parece-lhe ser uma vista aérea de Bedanda:

(i) na parte inferior da foto, a edificação mais comprida era o refeitório das praças;

(ii) o meio, estão duas árvores paralelas, mais altas, que faziam um género de "portal de entrada" para esta parte das instalações;

(iii) junto dessas duas árvores, está outra edificação comprida, onde eram os quartos, a messe e bar de oficiais e messe de sargentos;

(iv) a edificação pequena que está junta, era o bar de sargentos;

(v) os furrieis, cabos e soldados metropolitanos, dormiam nos abrigos;

(vi) para cima e um pouco à esquerda das mesmas árvores há dois edificios: o de telhado mais escuro era a enfermaria e o outro era a secretaria;

(vii) a picada que se vê sair para a direita levava ao destacamento (pelotão) e ao "porto" junto ao rio.



O João Martins (ex-alf mil art .PCT, Bedanda, 1968/1969), diz que também que lhe parece ser Berdanda a  foto nº 80: "Reconheço a localização dos obuses, a casa habitada pelo capitão de que tenho uma fotografia nas minhas memórias, com muitos cartuchos do canhão s/r  IN, a residência do chefe do posto, os abrigos em V que não vi em mais lado nenhum na Guiné". 


Fotos (e legendas): © Armindo Batata (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e egendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de algumas das melhores das mais de 8 dezenas de fotos do álbum do Armindo Batata, ex- alf mil at art, cmdt  Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/1970).


Estas fotos (numeradas de 1 a 81) não tinham legendas, mas estavam distribuídas por 4 grupos: (i) Guileje (jan 69/jan70), (ii) Cacine (dez 69 / jan 70); (iii) Cufar (jan / dez 70) e (iv) Outros locais (como Catió, Bendanda...).

Guileje e Cufar foram, pois, as duas localidades onde o fotógrafo passou mais tempo.

2. Legendagem posterior do Armindo Batata, com data de 12 de outubro de 2012, 22:50 (**):

(...) Os Pel Caç Nat 51 e 67, este de comando do alf mil Esteves, passaram por Cacine em dezembro 1969/janeiro 1970, em trânsito para Cufar [Fotos s/n, e nºs 50, 52, 53] . 


O Pel Caç Nat 67 tinha guarnecido o destacamento do Mejo até à evacuação desta posição em janeiro de 1969.

O deslocamento de Guileje para Cufar teve um primeiro troço em coluna de Guileje para Gadamael Porto. Prosseguiu em LDM para Cacine onde aguardámos a formação de um comboio fluvial. Chegámos a Cacine já a noite tinha caído. Desembarcámos na praia  a jusante da ponte cais, com 1 ou 2 AML Daimler  a fazerem a segurança e iluminados por viaturas.

Os militares nativos "espalharam-se" com as famílias e haveres pelas tabancas de acordo com as respectivas etnias. Nessa noite dormi num quarto com aspeto de quarto, que até tinha mesa de cabeceira e, paredes meias, uma casa de banho que, para meu grande espanto, tinha um autoclismo, daqueles de puxar uma corrente; que maravilha tecnológica!.

Ficámos uns dias, não me lembro quantos, mas deu para eu ir a Cameconde, numa das colunas que se efectuavam diariamente (?). Tenho de Cameconde a imagem de uma fortaleza em betão, daquelas fortalezas dos livros da escola, a que só faltavam as ameias. Quem por lá andou me corrija por favor esta imagem, se for caso disso.

Deu também para umas passeatas no rio Cacine. Mas só na praia-mar, quando era um rio azul digno de um qualquer cartaz turístico daqueles locais chamados de sonho. Depois vinha a baixa-mar e o cartaz turístico ficava cinzento. E naquele tempo era quase sempre baixa-mar.

Num fim de tarde, as marés a isso obrigaram, embarcámos nas LDM e ficámos fundeados a meio do rio Cacine em companhia do NRP Alvor, que nos iria comboiar até Catió. O 2º tenente RN, comandante do NRP Alvor , convidou-nos, a mim e ao alferes Esteves, para bordo e entre umas (muitas) cervejas e não menos ostras, passámos a noite. A hospitalidade habitual da Marinha.

As embarcações suspenderam o ferro com o nascer do sol (exigências da maré) e lá seguimos para Catió. No último troço da viagem, já o rio era mais estreito, portanto já não era o Cacine, fomos acompanhados por T6 no ar e fuzileiros em zebros a vasculharem o rio, já que tinha havido, recentemente, um qualquer "conflito" entre uma embarcação e uma mina. Nada se passou, e o fogo de reconhecimento para as margens, a partir das LDM, não teve resposta.

Não houve incidente algum portanto, mas a viagem foi um bocado complicada, em termos logísticos. Um pelotão de nativos integra as famílias dos militares, os seus haveres e animais domésticos. Família, haveres e animais domésticos que afinal eram o triplo ou quádruplo do inicialmente inventariado. Nos animais domésticos estão incluídos os porcos dos não islamizados, que terão que viajar separados dos islamizados. E a aguardente de cana. E o ... e a mulher do ... e o "alferes desculpa mas não pode ser". Em coluna auto lá se arranjaram, mas em LDM não foi fácil. Valeu a paciência dos furrieis, um deles de nome Neves e do 2º sargento (que era de Bissau).

Catió tinha uma estação de correios com telefone para a metrópole, um restaurante daqueles em que se come e no fim se pede a conta e se paga. E pessoas brancas sem serem militares. Um espanto! 
[Foto nº 72].

O plano inicial era os dois pelotões, o 51 e o 67,  deslocarem-se por estrada de Catió para Cufar. Esse percurso já não era utilizado há bastante tempo (meses?) e foi considerado de risco muito elevado. Não me lembro dos argumentos avançados, mas acabámos por ir para Cufar por rio (LDM com desembarque em Impugueda no rio Cumbijã ou sintex/zebro com desembarque em Cantone, não tenho a certeza, pode ser que alguém de mais fresca memória se lembre). (...)


 

Guiné > Mapa geral da província ( 1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa das guarnições fronteiriças, de Quebo a Cameconde, a guarnição militar portuguesa mais a sul, na península de Quitafine, e na estrada fronteiriça Quebo-Cacine... 


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)

___________

Notas do editor:

(*) Poste anterior da série > 5 de junho 2024 >  Guiné 61/74 - P25604: Elementos para a História do Pel Caç Nat 51 (1966/74) - Parte I: Guileje, ao tempo da CART 2410 (jan 69/jan 70) (Armindo Batata)

(**) Vd. poste de 8 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10634: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex-comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (10): "Outros locais": Catió, Bedanda, Cufar...

Guiné 61/74 - P25608: Parabéns a você (2279): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau (1972/74)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 5 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25603: Parabéns a você (2278): João Moreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25607: Convívios (1001): Rescaldo do XXXI Encontro da Rapaziada, e familiares, da CART 11/CART 2479, levado a efeito no passado dia 1 de Junho na Tornada, Caldas da Rainha (Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil Art)

1. Mensagem do nosso camarada Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil Art da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) com data de 3 de Junho de 2024 com o rescaldo do convívio da malta da CART 2479/CART 11:

Boa tarde, Luís,

No passado dia 01 de Junho realizou-se na Tornada (Caldas da Rainha) o 31.º Encontro da rapaziada e familiares da CART 11 (ex-CART 2479). 

Eu por razões de saúde e com muita pena não fui. É uma chatice.

Não apareceu muita gente, por já haver poucos, alguns terem falecido, doenças ou dificuldades financeiras para deslocações. Mas, por informação do Abílio Duarte, foi um dia bem passado em que não faltaram conversas do que se passou na Guiné há 55 anos. À última hora faltou o Macias que sempre haveria alguma conversa sobre caça no Alentejo.

Para o ano vai ser na zona do Porto, provavelmente aparecerá mais gente.

Abraço, saúde da boa para todos e que se vão repetindo estes Encontros.
Valdemar Queiroz


A Ementa apresenta os emblemas usados pela Companhia antes CART 2479 e depois CART 11 em intervenção com soldados fulas.
Na foto vemos em primeiro plano uma garrafa de bioxene do bom, os mesmos e o ex-condutor Costa, e em frente junto à parede o ex-condutor e ex-alf mil Martins e esposa 
Na foto vemos os ex-fur mil Pinto, Silva, Duarte, Pais, Canatário e Cunha em pé

 
_____________

Nota do editor

Útimo post da série de 28 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25574: Convívios (1000): Grande Encontro de Rapazes de Mampatá na Quinta Senhora da Graça, Santa Marta de Penaguião (António Carvalho, ex-Fru Mil Enf.º)

Guiné 61/74 - P25606: Historiografia da presença portuguesa em África (426): João Vicente Sant’Ana Barreto, o primeiro historiador da Guiné portuguesa (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2023:

Queridos amigos,
Depois de nos dar a sequência dos acontecimentos por si considerados mais relevantes do que se passou na Guiné no século XVIII e em boa parte no século XIX, e de nos ter facultado a lista dos governadores de Cabo Verde e da Guiné até 1879, João Barreto espraia-se pelo papel desempenhado pela região no tráfico de escravos, tem a vincada preocupação de mostrar como este mercado negreiro era antiquíssimo e tolerado em vários continentes, a que a Europa não escapava, e dá-nos conta que tal comércio poucos benefícios mercantis trouxe à economia local e a Portugal, aponta o dedo à principal potência traficcante, a Inglaterra, e ao comércio praticado em larga escala por Espanha, França e Holanda, e apresenta os dados estatisticos conhecidos. Como aqui já se abordou no blogue, a historiografia referente ao tráfico negreiro no império português tem evoluído muito, é credor de novos olhares e apreciações modificadas. E assim entramos no Governo autónomo da Guiné, João Barreto revela-se incansável a falar das questões do Forreá e das sublevações que irão ultrapassar o século XIX, recordará que Bissau estará permanentemente causticada por ataques dos Papéis até 1915.

Um abraço do
Mário



João Vicente Sant’Ana Barreto, o primeiro historiador da Guiné portuguesa (5)

Mário Beja Santos

Data de 1938 a "História da Guiné, 1418-1918", com prefácio do Coronel Leite Magalhães, antigo Governador da Guiné. Barreto foi médico do quadro e durante 12 anos fez serviço na Guiné, fizeram dele cidadão honorário bolamense. Médico, com interesses na Antropologia e obras publicadas sobre doenças tropicais, como adiante se falará.

Concluída a sua apreciação sobre os acontecimentos dominantes do século XVIII, e após nos ter dado a relação dos governadores de Cabo Verde e Guiné até à constituição do Governo autónomo da Guiné, João Barreto aborda o tráfico de escravos na região. Começa por observar que este tráfico, bem como o fenómeno da escravatura, existiu desde os tempos mais remotos da humanidade, os povos islâmicos intensificaram este tráfico, sobretudo na Costa Oriental de África; no Norte de África, os escravos necessários para os trabalhos dos conquistadores árabes provinham uma parte dos povos subjugados e presos de guerra e, outra parte, dos indígenas de raça negra que as caravanas iam comprar na Senegâmbia; os escravos pretos também eram vendidos a comerciante europeus, principalmente italianos, Veneza era um desses expoentes mercantis. O autor observa que as possessões portuguesas de África quase nenhum benefício tiveram deste comércio e dá os seguintes esclarecimentos: “Portugal não produzia os artigos de que os negreiros se utilizavam nas suas transações com os povos africanos: panos de algodão, bugigangas, contas, espelhos, ferro, etc. Era a Inglaterra que tinha por assim dizer o monopólio do fabrico destes artigos, eram os ingleses que maior proveito tiravam do comércio dos negros, sem falar do tráfico que faziam diretamente por conta própria.”

Abordando os escravos saídos da Guiné, e usando os dados do cronista Zurara, João Barreto conclui que nos primeiros oito anos (1441 e 1448) a média dos cativos importados em Portugal não foi além de 116 indivíduos por ano. “Escasseiam elementos de informação sobre as navegações à Costa da Guiné depois do ano de 1448. Sabemos que os indígenas do Senegal se mostravam refratários em entrar em relações com os nossos navegadores e só depois das viagens de Cadamosto e Diogo Gomes, em 1456, é que se resolveram a comerciar com os brancos. A partir de 1461, a exploração da região compreendida entre o Senegal e a Serra Leoa foi entregue aos moradores de Santiago. O número e o valor atribuído aos escravos importados deveriam ser registados no livro do almoxarifado da Ribeira Grande. Estes livros, porém, foram destruídos, escapando apenas os apontamentos relativos aos anos de 1513, 1514 e 1515. Foram enviados para Portugal e Espanha e uma boa parte ficou ao serviço dos cabo-verdianos e uma outra parte foi vendida aos mercadores espanhóis. Pode dizer-se que a escravatura moderna com todas as suas crueldades começou com o século XVI, quando os espanhóis resolveram colonizar as Antilhas, que Colombo acabara de descobrir.”

E, mais adiante, “Podemos concluir que durante o século XVI a média de escravos resgatados na zona da Guiné não foi além de 1500 por ano. Durante a dominação castelhana, o tráfico de escravos tomou considerável incremento. D. Francisco de Moura, antigo Governador de Cabo Verde, calculava em 1622 que só em barcos espanhóis contrabandistas seriam transportados cerca de 3 mil negros na roda do ano. Portugal era dos países que menos lucrava com todo esse tráfico feito de contrabando. A economia e as finanças de Cabo Verde chegaram ao nível mais baixo precisamente numa época que a escravatura atingiu o seu apogeu. Na segunda metade do século XVII, os ingleses encontravam-se instalados nos rios de Gâmbia e Serra Leoa. Nesta última colónia aproveitaram-se das guerras tribais para adquirir serviçais por preços ridículos, visto que os vencidos preferiam entregar-se gratuitamente aos negreiros a serem devorados pelos vencedores antropófagos. Por seu lado, os holandeses, tendo-se apoderados da ilha de Gorêa desde 1617, ficaram com o exclusivo do tráfico da região continental vizinha. E os franceses estabeleciam desde 1635 a Companhia da África Ocidental que, sob diversos nomes e direções, passou a exercer o comércio de escravos em notável escala desde o Cabo Branco até à Serra Leoa. Esta Companhia não só fazia da escravatura o objeto principal da sua atividade, mas até tinha um contrato com o seu Governo para o fornecimento de indígenas às Antilhas francesas e para as tripulações dos navios.”

Neste contexto, Barreto suaviza o papel dos portugueses no tráfico, dá como demonstrado como muito antes da Restauração de 1640 este comércio era liderado por estrangeiros e a atividade nos nossos portos era tão reduzida que os direitos aduaneiros não chegavam para cobrir as modestas despesas da Capitania de Cacheu. Ainda houve um contrato feito pela Nova Espanha com a Companhia de Cacheu e Cabo Verde para o fornecimento de 5 mil serviçais por ano, isto na última década do século XVII, mas a Companhia não pôde satisfazer completamente o serviço, tais e tantas as dificuldades levantadas pelas autoridades eclesiásticas. Nos princípios do século XVIII, segundo a estimativa do gerente da Companhia Francesa do Senegal, não se podiam exportar de Bissau mais de 400 escravos por ano.

Barreto enfatiza o papel primordial que Inglaterra teve neste mercado negreiro, como se processou depois a abolição do tráfico em Portugal, e remata dizendo “Se a escravatura foi um mal, condenável sobretudo nos seus abusos, Portugal teve nele um quinhão pequeno em relação a outros povos coloniais, seja pelo número de cativos de que se utilizou, seja pelos benefícios materiais que auferiu, seja pela forma benévola e paternal com que tratou os seus escravos.” Como aqui já se fez referência, a historiografia portuguesa sobre a escravatura tem tido enormes avanços. Basta lembrar o historiador Arlindo Caldeira e o seu livro "Escravos e Traficantes no Império Português", obra de referência.

E assim chegamos ao Governo autónomo da Guiné, Carta de Lei de 18 de março de 1879, assinam Fontes Pereira de Melo, Serpa Pimentel e Tomaz Ribeiro, determinando: que o território da Guiné Portuguesa formasse uma província independente de qualquer outra; que o seu governo tivesse sede na ilha de Bolama; e estipula vencimentos. Era o Governo autorizado a organizar um batalhão de artilharia e a fazer a aquisição de alguns barcos a vapor, e devia providenciar no sentido de estabelecer comunicações diretas entre a metrópole a nova província ultramarina. Criava-se a organização dos serviços públicos, o governador tinha como auxiliares o Conselho do Governo, a Junta Geral da Província, o Conselho da Província e a Junta de Fazenda Pública. A província da Guiné foi dividida em quatro concelhos: Bolama, Bissau, Cacheu e Buba; foi transferido de Cabo Verde para a Guiné o Batalhão de Caçadores n.º1 que pouco tempo depois provocava um movimento de insubordinação contra o Governador Agostinho Coelho.

E, seguidamente, Barreto centra a sua atenção num sem-número de operações militares e dá-nos conta dos graves acontecimentos do regulado do Forreá.


Trata-se da única fotografia que se conhece do médico João Barreto, imagem que me foi amavelmente concedida pelo historiador Valentino Viegas aquando do lançamento o opúsculo que lhe dedicou o seu neto Aires Barreto
Edifício do Museu da Escravatura e do Tráfico Negreiro em Cacheu, na Guiné-Bissau
Brasão de Fernão Gomes. Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas, de António Godinho, c. de 1516-1528
Comércio transatlântico de escravos (BBC)
Planta da Praça de S. José de Bissau em 1796
Imagem da fortaleza de Cacheu, 2005
Capa do livro de Arlindo Caldeira, Esfera dos Livros, 2013

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 29 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25580: Historiografia da presença portuguesa em África (425): João Vicente Sant’Ana Barreto, o primeiro historiador da Guiné portuguesa (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25605: Para Bom Observador, Meia Palavra Basta (1): Cunhete, em madeira, de granadas de morteirete 60mm, Guileje, c. 1969/70

 


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 > c. jan 69/jan 70 > Foto nº 13 do álbum do Armindo Batata >  Um dos guineenses do Pelotão cozendo a bianda em fogão a petróleo. Detalhe: cunhete,  em madeira,  de granadas de morteirete 60 mm,  m/968 (FBP), c/ Acessórios... A servir de móvel, improvisado (*).?

Foto: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Para Bom Observador, Meia Palavra Basta... A nova série, ao servir de passatempo para o verão que aí vem...E começamos com  esta curiosa foto do Armindo Batata: em Guileje, tal como noutros "resorts" turístico-militares do nosso tempo, improvisava-se, desenrascava-se, sobrevivia-se... Tudo se aproveitava, nada se deitava fora. Nomeadamente caixotes e cunhetes de munições, em madeira... Havia falta de mobiliário: cadeiras, bancos, mesas, secretárias, cacifos, estrados, etc.

Vendo a foto, pergunta-se: qual era a proveniência das granadas de morteirete 60 mm ?... Onde se fabricavam  ? 

 Era uma das nossas melhores armas no mato, em resposta a uma emboscada do IN: versátil, fácil de transportar, fácil de usar, eficiente, segura (contrariamente ao dilagrama), e terrivelmente eficaz, com um bom apontador... Nm precisava de prato: a ponta da bota, o joelho, o chão (desde que fosse duro)... bastavam para apoiar o cano!... E depois, era só metê-las, às "ameixas", no sítio certo...

____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 5 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25604: História do Pel Caç Nat 51 (1966/74) - Parte I: Guileje, ao tempo da CART 2410 (jan 69/jan 70) (Armindo Batata)

Guiné 61/74 - P25604: Elementos para a História do Pel Caç Nat 51 (1966/74) - Parte I: Guileje, ao tempo da CART 2410 (jan 69/jan 70) (Armindo Batata)

 

Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 > c.  jan 69/jan 70 > Foto nº  15 > O alf mil ar art Armindo Batata, à esquerda, de óculos...Sentados, estão "outros dois alferes, da companhia", possivelmente da CART 2410, a que o pelotão esta adido, e cujo comandante era entáo o cap inf Barbosa Henriques (1938-2007), que eu e o Jorge Cabral conhecemos em Fá Mandinga, setor de Bambadinca,  como instrutor da 1ª companhia de comandos africanos, no final de 1969, princípios de 1970.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 > c.  jan 69/jan 70 > Foto nº  12 >  "Eu, a direita, um dos cabos do Pel Caç Nat 51 e o 2º sargento (que era de Bissau, casado com uma enfermeira a trabalhar também em Bissau, não estando desarranchado, como as praças)".


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 > c.  jan 69/jan 70 > Foto nº  13 >


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 > c.  jan 69/jan 70 > Foto nº  14 >

Legenda das fotos nºs 12, 13 e 14: "Tão aprazível local era a entrada e o teto do abrigo do Pel Caç Nat 51 (dos cabos, sargentos e por vezes também meu). Este abrigo situava-se no lado oeste do aquartelamento (lado do Mejo) junto ao paiol e debaixo de um grande mangueiro.   Habitualmente os cabos tomavam as refeições neste local, os sargentos na respectiva messe ou também aqui e o alferes tomava as refeições, juntamente com os restantes oficiais, na messe."

As fotos documentam as "refeições em Guileje", de acordo com a anotação que vem no ficheiro cedido ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje, refeições essas que eram tomadas no abrigo ou no espaço reservado ao Pel Caç Nat 51. O pelotão tinha um fogareiro a petróleo que possivelmente só servia para aquecer a comida ou confecionar refeições ligeiras. No essencial, a confeção das refeições deveria estar a cargo da cozinha da unidade de quadrícula de Guileje (primeiro, a CCAÇ 2316 e, depois, a CART 2410).

O pessoal africano do pelotão era desarranchado, como acontecia com a generalidade das subunidades compostas por tropas do recrutamento local. As fotos não trazem legenda, pelo que não nos é possível identificar os militares que aqui aparecem, com exceção do alf mil Batata (foto nº 12, fardado, com galões de alferes, e de óculos). O pessoal metropolitano (especialistas e graduados) era, por sua vez, de rendição individual.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 > c.  jan 69/jan 70 > Foto nº  s/n > Edifício do comando > Entre portas, de óculos. está o alf mil Armindo Batata. "De costas, t-shirt branca, calças de camuflado e quico [ao centro], creio ser o cap inf Barbosa Henriques [da CART 2410]", segundo a explicação dada pelo Armindo Batata.  (O Barbosa Henriques também foi o último comandante da CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835, jan / 68 - dez 69,  subunidade que esteve em Mejo,  Guileje, Gadamael e Ganturé, transitando depois para a CART 2410, tendo passado também pela 27ª CCmds).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 > c.  jan 69/jan 70 > Foto nº  1 > Em 1972/73, a fonte que abastecia o aquartelamento e a tabanca de Guileje, distava  cerca de 4 km: era o calcanhar de Aquiles da guarnição.  Ficava no Rio Afiá. No tempo da CART 2140 e do Pel Caç Nat 51, em 1969/70, o abastecimento era manual e  fazia-se com recurso a bidões, jericãs e garrafões. No tempo da CCAV 8350, a companhia que retirou de Guileje em 22/5/1973, havia já um bomba de água de água, a motor.  

Fotos (e legendas): © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guão da CART 2410, "Os Dráculas" (Gadamael e Guileje, 1968/70)



Crachá do Pel Caç Nat 51 (1966/74)


1. O Armindo Batata (ex- alf mil at art, Pel Caç Nat 51, Guileje e Cufar, jan 1969/dez 1970) é um dos históricos do nosso blogue: entrou para a Tabanca Grande em 28 de maio de  2006 (*).

Doou o seu álbum fotográfico da Guiné (cerca de 8 dezenas de fotos) ao Núcleo Museológico Memória de GuiledjeMuitas dessas fotos foram publicadas oportunmente por nós, na série "Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex-comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70), em 11 postes. (Chegaram até nós, por mão do Pepito, mentor do projeto museológico, e diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento.)

Estas fotos (numeradas de 1 a 80) não tinham legendas, estando distribuídas por 4 grupos: (i) Guileje (jan 69/jan70), (ii) Cacine (dez 69 / jan 70); (iii) Cufar  (jan ( dez 70) e (iv) Outros locais. Guileje e Cufar foram, pois, as duas localidades onde o fotógrafo passou mais tempo.

Sabemos que em dezembro 1969/janeiro 1970, o Pel Caça Nat 51  estava em Cacine, vindo de Gadamael, em LDM, "em trânsito para Cufar". Ficaram "uns dias em Cacine", antes de prosseguirem viagem, também em LDM, para Catió (donde seguiram  depois Cufar). 

Selecionámos algumas (as melhores) dessas fotos. Foram reeditadas. Ajudam-nos a perceber melhor a vida dos graduados (metropolitanos) e das praças (do recrutamento local) deste Pel Caç Nat 51.

Não temos a história do Pel Caç Nat 51, criado em 1966 e extinto em 1974 (supomos). Sabemos que, além do Armindo Batata, teve também como comandante  o alf mil José Daniel Portela Rosa (já falecido, em 10 de janeiro de 2021, com 74 anos; DFA, era natural de Lisboa, vivia em Sintra; deve ser de 1972/74, tendo o seu pelotão estado  adido, em Cufar, à CCAÇ 4740).

Também sabemos que o Armindo Batata, depois da "peluda!, se formou, pelo ISEL - Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, tendo sido engenheiro técnico mecânico e formador, especialista em automação industrial. Há uns largos anos atrás, no início do nosso blogue, teve a gentileza de nos mandar algumas notas para melhor enquadramento e compreensão das foto do seu acervo....  

Voltamos a recorrer a essas notas, e a outras, permitindo melhorar a legendagem. São mais alguns subsídios para a história desta subnunidade (**).

__________

Notas do editor:

(...) Fui Alferes Miliciano Atirador de Artilharia. Estive em Guileje (de janeiro de 1969 a janeiro de 1970) e em Cufar (de janeiro de 1970 a dezembro de 1970), comandando o Pel Caç Nat 51.

Pretendo integrar a Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74) mas não encontrei local para inscrever os dados. Estou também vivamente interessado em participar no Projecto Guileje. (...)

(**) Vd. poste de 4 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25600: O armorial militar do CTIG - Parte I: Emblemas dos Pelotões de Caçadores Nativos: dos gaviões aos leões negros, das panteras negras às águias negras...sem esquecer os crocodilos

Guiné 61/74 - P25603: Parabéns a você (2278): João Moreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 31 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25586: Parabéns a você (2277): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)

terça-feira, 4 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25602: Viagem a Timor: maio/julho de 2016 (Rui Chamusco, ASTIL) - VI (e última) Parte: Regresso a Lisboa, via Singapura e Londres... E que Deus seja louvado!


Timor-Leste > Dili > Aeroporto Internacional > Estátua de Nicolau Lobato (1946-1978), 1º ministro (de 28 de novembro a 7 de dezembro de 1975) e 2º presidente da República Democrática de Timor Leste (1977/78). Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia...)



Viagem a Timor: maio/julho de 2016 - VI 
(e última) Parte: Regresso a Lisboa, via Singapura e Londres... E que Deus seja louvado!

por Rui Chamusco (*)


Rui Camusco e Gaspar Sobral (2017). A família Sobral 
tem um antepassado comum que foi lurai, régulo,
no tempo dos portugueses. As insígnias do poder
 (incluindo a espada) estão na posse do Gaspar,
que vive em Coimbra.
Foto: Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



29 de junho de 2016, quarta feira –  Gaspar “sicut magíster”


Hoje temos o Dr. Gaspar na sua função de jurista. Um grupo de mais ou – menos 30 pessoas ligadas à comissão da luta contra a corrupção irão ouvir da sua cátedra o ilustre conferencista. Alguma ansiedade da sua parte, mas nada que lhe roube o sono ou lhe tire a lucidez. Pelo sim e pelo não, escreveu e fotocopiou duas folhas com os tópicos dos temas a falar. 

Como atual companheiro de aventuras, dei-lhe um conselho em latim, que tem mais impacto: “ esto brevis et placebis…” que, em português corrente quer dizer: “sê breve e agradarás.”

Não sei se cumpriu, mas já são passadas cinco horas e ele ainda não voltou. Querem lá ver que já foi preso!... Não tarda que ele apareça a vangloriar-se da sua façanha. Bem me parece que com esta ação ele ganhou foram créditos, e quem sabe se os convites não irão agora cair como chuva. Prepara-te,  amigo, que um longo caminho começou!...

E esta, hein?!... Caganitas de Laco

Vim agora a saber, em terra de café, de que há um animal - Laco - que se alimenta, exclusivamente, de grãos de café. Mais ainda, o grão é descascado e fica com uma película que o protege de qualquer contaminação no interior do animal. Os seus excrementos são, por assim dizer, o néctar do café. E por isso muita gente os procura e transforma em grande negócio – a galinha dos ovos de oiro – onde uma chávena de café deste produto pode custar, em Portugal, sete a oito euros. Na grande China é um produto muito apreciado, segundo conta o Painô. 

Entretanto fui buscar o ramo de grãos de café moca que apanhei quando estive na montanha para que o mister Gaspar me explicasse aquilo que relatavam. Caganitas de oiro, direi eu. Nada me admira, pois já o Atílio da telenovela brasileira transformava os excrementos de vaca em oiro precioso, mesmo que fosse em ficção. Para mim, mais vale continuar a beber o cafezinho da praxe e deixar as extravagâncias de sabores e de preços.

A família de acolhimento “Sobral”

É inevitável ter que falar desta família, este núcleo da família Sobral: Eustáquio,
Aurora, Zinom, Zinomia (Eza), Zinígio (Amali), Zinígia (Adobe). 

Um agrupado familiar composto por 6 pessoas que, apesar das carências sociais e económicas, é considerada como classe média. O Eustáquio é o chefe de família e é o homem mais desenrascado que eu conheci até hoje. É uma história viva e a vida tem o obrigado a fazer de tudo para garantir o sustento dos seus. Muito dinâmico, sempre bem disposto, capaz de tudo fazer e dar pelos outros.

O Eustáquio (cujo verdadeiro nome é João) e o Gaspar têm uma grande empatia. Talvez por isso, mas sobretudo porque a família recuperou e habita a casa paterna, é a casa que nos acolhe, o nosso hotel. Aurora é a esposa do Eustáquio.

Confesso que me surpreende, sempre pela positiva. A Aurora teve um AVC há cinco anos que lhe afetou os membros do lado esquerdo, tendo dificuldade de movimentos no braço e da perna. Esta mulher não pára. Muito ajudada pelos seus três filhos, Eza, Amali e Adobe, orienta as lides da casa com uma mestria que eu desejaria ver em muitas donas de casa sem limitações físicas. 

A Aurora é um exemplo vivo da força do querer, do “antes quebrar do que torcer”. Ainda há dias, superando as suas limitações, a vi subir e descer à volta de 400 degraus, para acompanhar a sua filha Adobe na jornada de limpeza na praia... Mulher pequena em estatura, mas enorme na sua missão de esposa e mãe. Mulher por quem tenho um grande respeito uma grande admiração…

Zinom é o filho mais velho que neste momento está a trabalhar em Inglaterra. Não o conheço pessoalmente mas com certeza que é um rapaz às direitas, com sentimentos nobres. Quem sai aos seus não degenera”, e com certeza que o Zinom é um Sobral de estirpe. Boa sorte, rapaz!...

A Eza é a rapariga mais velha da família. Bonita de corpo e de alma, muito dinâmica, capaz de por a mexer todo o mundo que a rodeia. Nada lhe mete medo. Acabou os seus estudos e para aqui anda este talento perdido até que alguém a leve. Este fenómeno é reincidente: estudantes que acabam o ensino obrigatório com boas médias ( conheço uma moça que teve média de 19) e para aqui ficam porque não têm ninguém nos ministérios que influenciem a atribuição de uma bolsa de estudos. Corre por aqui o boato que as bolsas são para filhos e amigos de ministros.

Amali é o rapaz que se segue. Muito amável, sempre pronto para todo o serviço (sai ao pai). Está a terminar os estudos básicos. É pau para toda a colher. Mas para nós, que pouco ou nada sabemos de informática, é o nosso salvador. Já o pus a tocar acordeão e tem um jeito para a música impressionante. Toca e canta como se fosse um verdadeiro artista. Acaba de me dizer que quando acabar os estudos quer ir trabalhar para a Inglaterra onde já reside o irmão.

A ver vamos, pois o futuro no Reino Unido está incerto. Adobe, que é a minha afilhada, é a mais nova (nove anos). Dela já falei abundantemente em e relatos anteriores. Frequenta a Escola de Referência de Taibessi e penso que terá um futuro promissor. Tem uma grande vontade e faz um enorme esforço em aprender e falar o português. Também com a minha ajuda há de conseguir os seus / nossos objetivos.

Aqui está esta família modelo, que se recomenda, onde os laços afetivos e emocionais são tão fortes que dificilmente quebrarão. Amor, simpatia, amizade, simplicidade, pobreza, riqueza espiritual, ternura – tantos e tantos valores que eu desejaria ver em todas as famílias do mundo.

Muito obrigado família Sobral por me considerares também família. Na verdade, sinto mesmo que faço parte deste aglomerado familiar.

Surpreendente!...

Esta noite, depois de uma longa conversa com o trio Gaspar, Eustáquio e eu mesmo, sobre o projeto da construção da Escola em Manati/Boebau, surge de novo o assunto sobre o meu futuro. Diz o Eustáquio: “Nós não queremos que o Tio Rui acabe os s seus dias num lar em Portugal. Vem para aqui que eu e os meus filhos tratamos do Ti Rui”. E de novo oferece um terreno em Liquiçá para que, se eu quiser, construa lá uma casa. O futuro só a Deus pertence, mas esta vontade enorme de me quererem cá faz-me pensar.

Em Timor é impensável, por enquanto, que um filho deposite o pai ou a mãe num lar para aí viverem o resto das suas vidas. Por isso a atitude do Eustáquio é compreensível.

O que é surpreendente é esta preocupação comigo, pois não tenho qualquer laço de sangue com esta família. Eles dizem que passo a ser o avô de todos. Mais uma vez tenho de estar-lhes profundamente reconhecido.

Dia 30 de junho de 2016, quinta feira 
–  Em contagem decrescente

É isso mesmo. Até nós já vamos dizendo: faltam sete dias; de hoje a 8 dias a estas horas estamos em Singapura, estamos em Londres, estamos em Lisboa, etc… 

Então o Gaspar, que tem pânico de voar e enjoa, já só pensa nos comprimidos que há de tomar. Mas, à medida que o tempo escasseia, parece que ´há sempre mais coisas a fazer. Às minhas pressas o Gaspar remata sempre com provérbios “devagar que tenho pressa”, ou então “Roma e Pavia não se fizeram num dia”,  aos quais eu respondo “ não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”. E assim andamos fiel da balança, para um lado e para o outro de modo a atingir o equilíbrio.

Os dias passam e nós também. Somente fica aquilo fomos ou fizemos. Repito aqui o comentário de São Francisco de Assis perante os seus confrades: “ Irmãos comecemos, porque até agora pouco ou nada ainda fizemos”. 

Aqui ou em Portugal temos de continuar a trabalhar e a lutar por este projeto no qual acreditamos, apesar das muitas dificuldades. Desistir só a cabra que, por a corda a que estava presa à estaca lá não chegar, abandonou o seu intento de comer o molho de erva que avistava.

Noite de 30 de junho rica em emoções


Já previa o que iria acontecer. O Anô mandou recado que queria falar comigo sobre o projeto da escola em Boebau, que ele está a ultimar. Quase ao cair da noite, estava ele sentado na campa da avó Felismina (hábito aqui em Timor) quando eu saí da casa do Eustáquio. 

Claro que fui de imediato ao seu encontro. Falamos sobre o projeto e de mais coisas em linguagem possível, pois nem eu domino o tetum nem ele o português, graças a uma miscelânea de palavras que deu bem para nos entendermos. Ao nosso lado estava o Mari (Mariano),  um dos irmãos Sobral que mora ao lado e que nos ia traduzindo as palavras e as frases em que não nos conseguíamos entender. 

A certo ponto diz-me o Anô: "Ti Rui,  eu tenho vergonha de ter feito mal ao Pai (tio) Eustáquio e à família. Desculpa…desculpa!.. 

Percebi logo o que se iria passar: um pedido formal de desculpas sobre as cenas já relatadas no dia 28 de Maio. Entretanto chega o Gaspar que vem de um encontro com um seu amigo em Dili. Sabendo eu já da situação tensa que desde há dias estava presente, chamei o Gaspar e disse-lhe” o Anô precisa de conversar contigo”. 

De modo que arranjei uma desculpa para me ausentar por perto, de modo a que eles pudessem conversar livremente. Chegou também o Painô (filho do irmão Zé já falecido) que se juntou ao grupo. E eu, de ouvido atento, comecei a sentir movimento e saí do quarto para ver em que paravam as modas. Caso fosse necessário intervir como instrumento de paz. E que vejo eu? À soleira da porta de mãos dadas ou abraçados, os ofensores e os ofendidos falando, chorando… com certeza pedindo perdão e perdoando.

Uma atitude nobre dos irmãos Anô e Aquino, que reconhecendo o mal que fizeram, vem “prostrar-se” à frente de quem ofenderam. Abracei-os e dei-lhes ânimo dizendo-lhes: “tudo está bem quando tudo acaba bem”. Não importa os erros que cometemos se reconhecermos que fizemos mal, pedimos perdão a quem ofendemos e aprendermos quenão os devemos repetir. 

Disse-me o Gaspar que ficou emocionado e profundamente bem impressionado com a atitude dos sobrinhos, porque, em Timor, “prostrar-se” é a posição mais humilde de quem pede perdão. Claro que depois estivemos em amena conversa até às tantas. Bebeu-se café, fumaram-se cigarros, falou-se de futebol porque jogava (às 4 da manhã) Portugal. Foi uma noite cheia de emoções até ao raiar do sol, até porque Portugal alcançou as meias finais. Viva Portugal! Viva a família Sobral!

Este rir escancarado da família Sobral

Sé é verdade que rir faz bem, nem se imaginam as risadas abertas quando três ou mais Sobrais se juntam: gargalhadas sonoras e retumbantes que contagiam qualquer ouvinte.

E quem como eu muitas vezes não percebe porque assim se riem, fica contagiado pelo seu riso, sempre que isto acontece. Não sei porquê mas gosto da maneira como se riem.

É mesmo uma catarse. Só o fato de os ouvir rir já me faz bem. E estou a lembrar-me dos grupos que nos países mais evoluídos do mundo praticam a terapia do riso. Aqui a terapia do riso é natural, não forçada, e não custa dinheiro. É fruto da boa disposição que cada um cria ao contar as suas piadas. 

Claro está que família que tanto se ri tem de ter boas relações. Confirmo que a família Sobral é mesmo assim. E vai daí é rir até mais não poder. Rir mas à gargalhada. E viva a boa disposição!...

1 de julho  de 2016, sexta feira  
–  Canções do Bartolomeu

Hoje tive a oportunidade de ouvir tocar e cantar o vizinho Bartolomeu, algumas
canções emocionantes de sua autoria. O Gaspar fez a gravação e um órgão e quatro violas, prometeu fazer a tradução para que possamos, com autorização do autor, cantá-las. 

São canções de mensagem, com uma forte componente afetiva. Por isso ao ouvi-las sabendo o que se canta, as lágrimas afloram. Já uma vez ganhou um prémio: um órgão e quatro violas que num gesto de altruísmo, ofereceu a uma igreja pois não havia qualquer instrumento musical para a animação litúrgica. 

O Bartolomeu aprendeu a tocar numa guitarra que ele próprio construiu. Por isso falta-lhe alguma técnica que ele supera com uma destreza impressionante. Admiro este homem de quem já fiz referência e alguma descrição na página catorze, pelos seus dons musicais – é um talento perdido que precisava de mais divulgação – mas também pela suas atitudes de tolerância e de perdão. O Bartolomeu é um dos líderes jovens desta localidade a quem os jovens mais novos guardam respeito. Não nos cansamos de ouvir as suas histórias e canções.

Música no coração

Se tivesse de escolher um título de filme para esta gente Sobral seria com certeza
“Música no Coração”. É impressionante a capacidade que todos têm de cantar e de tocar. Sempre que a família se junta temos orquestra com certeza. Agora vejam lá aonde veio parar um músico de profissão. Só poderei comentar dizendo “há tanto talento há espera de oportunidades”. Será que o “God Talent” ou o “ The Voice Timor “ demoram em chegar aqui? 

Entretanto e enquanto não chegam por cá continuamos nós a ouvir, a estimular, a tocar, a cantar espontaneamente que é mais natural. O que falta a esta gente para serem estrelas brilhantes? Eu tenho a resposta: oportunidades e apoios. Em Timor há cantores de qualidade, há grupos musicais, há potencial para muito mais. Mas não existe um conservatório de música, não existe orquestra, e poucas escolas de música (normalmente ligadas a instituições de igreja) desenvolvem este dom. No programa escolar constam disciplinas como Educação Moral e Religiosa, Educação Física e outras. A disciplina de Educação Musical não aparece. Então não sabem que a música é um meio extraordinário de educar? Já o sábio filósofo grego Platão nos alertava para tal.

Confesso que gostaria ver em Timor maior apoio estatal ao ensino e divulgação desta arte divina. Como diziam os latinos “ Sine musica nulla vita “ que quer dizer não há vida sem música. Se não acreditam perguntem a esta gente. (...)


A tolerância e o respeito

A Adobe, minha afilhada, veio até mim com uma proposta: "Pai Rui,  telefone ao
Professor Olderico a dizer que eu sexta feira não vou à escola porque quero ir ao
aeroporto para a despedida “. A minha reação foi imediata: “ Nem pensar! Vais à escola que eu não telefono “. 

De tarde, quando voltou da escola, a rapariga estava toda contente porque deu-se conta que nos dias 6 e 7 de Julho as escolas estariam fechadas por motivos religiosos. Ao tentar verificar esses motivos, fiquei profundamente bem impressionado. O governo timorense, por respeito e igualdade, decidiu que as escolas e os outros serviços de estado estariam encerrados porque era o fim do Ramadão. E portanto, por respeito aos irmãos mulçumanos, aqui temos na prática o que é o princípio da tolerância que tanta falta nos faz, em qualquer sociedade do mundo. Obrigado Timor
por mais esta lição…


Timor-Leste > Dili > Cemitério de Santa Cuz > Sepultura de Sebastião Gomes (1972-1991). O massacre de Santa Cruz deu-se aqui,em 12 de novembro de 1991,  por ocasião da procissão fúnebre à campo do jovem resistente timorense. Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia...)


6 de julho de 2016, quarta feira –  Sacros costumes

Hoje, véspera do nosso regresso, o Painô convidou-nos para irmos prestar um
homenagem ai pai e à mãe, sepultados no cemitério de … Faz hoje anos que o pai Zé ( irmão mais velho ) faleceu. No táxi do Eustáquio, lá fomos eu, o Gaspar, a Adobe e o condutor. Foram espalhadas pétalas de flores e folhas em cada campa e acendidas as velas. Rezou-se (foi a Jinha que conduziu a oração ) e depois de alguns momentos de silêncio fomos saindo dos locais, com alguma emoção. 

O Gaspar não aguentou a carga emotiva, desatou a chorar e teve que sair mais cedo. Explicou-nos ele que lhe passaram pela mente todos momentos que, sobretudo em criança, compartiu com o irmão. De seguida o Eustáquio decidiu levar-nos ao Cemitério de Santa Cruz, onde já tínhamos estado no dia da chegada, a fim de, na campa do pai José Sobral, cumprimos o mesmo ritual. O Eustáquio fez uma oração demorada agradecendo ao pai tudo o que aconteceu durante a nossa estadia e pedindo a sua intercessão junto de Deus para que a nossa viagem de regresso decorresse da melhor forma.

De campa em campa neste imenso cemitério e sobretudo à saída invadiu-me um forte sentimento de revolta pelo que fizeram as tropas indonésias durante as invasões. A forma com que quiseram impor-se é hedionda. Mais de duzentas mil mortes, muitas delas neste mesmo local, dizimaram uma grande parte da população de Timor.

Contaram-me que para aterrorizarem o povo, junto à porta principal deitaram o corpo de Nicolau Lobato (1946-1978) para que fosse pisado por todos, servindo assim de lição a toda esta gente. O que a gente sofre!...

Festa de despedida

O Painô, sendo o filho mais velho do irmão mais velho que já faleceu, organizou uma festa de despedida na noite do dia 6. Mais de cinquenta pessoas juntaram-se neste santuário de família para uma fausta refeição com assados de carne e peixe e muita música. Primeiro as crianças e depois os adultos foram progressivamente alimentando o corpo. 

A música nunca parou, tal é a apetência e convivência desta família para esta nobre arte. Violinos, guitarra, cavaquinho (ukelele), acordeão, canções tudo ali teve lugar. Ainda se tentou difundir música de dança mas, ou porque a técnica não ajudou ou por outras várias razões, ficamos por ali. Entretanto, notava-se já a movimentação com gritos a clamar “Portugal!..” porque o jogo entre Portugal e o País de Gales estava aproximando-se rumo às quatro da madrugada.

As meias finais do campeonato europeu de futebol 2016

Mesmo sem televisão para vermos o jogo desta meia-final do campeonato europeu entre Portugal e o País de Gales, confesso que um nervoso miudinho nos ia invadindo. Liguei o computador para ir de vez em quando verificar o resultado. Eram mais ou menos cinco horas da manhã quando se ouviu um enorme grito acompanhado de outros sons, também foguetes. Sobressaltado saí da cama para ver o resultado no computador. Uma grande satisfação com o desejo que o jogo acabasse já. Mas não. Ainda mal tinha regressado à cama, outro enorme grito. O mesmo ritual de verificação e constatei o segundo golo de Portugal. 

Depois, até final, já não arredei pé à espera que chegasse o Eustáquio que tinha ido para casa de um vizinho ver o jogo. A satisfação era tanta que já não fomos à cama, pois já passava das seis da manhã. A vibração dos timorenses com a vitória continuava com lançamento de foguetes, bandeiras desfraldadas, toques de buzinas… uma verdadeira loucura… Menos o Gaspar que só soube do resultado quando se levantou e lhe fomos dizer “ Portugal ganhou! E vai à final com a França”. Claro que também ele ficou contente. É timorense mas vive em Portugal…

7 de julho de 2016, quinta feira 
–  A partida em Ailok Laran

Começaram logo de manhã os afazeres da partida: arrumar e ver o peso da mala,
explicar e deixar os medicamentos à família, mais isto, mais aquilo. O almoço foi
antecipado a fim de estarmos a tempo e horas no aeroporto. A família Gaspar foi-senjuntando, porque todos faziam questão de irem ao aeroporto connosco. 

Uma comitiva com mais de cinquenta pessoas, incluindo muitas crianças que neste dia não tinham escola pelo motivo que já antes expliquei. Até o Alaka, que vai a fazer três anos, tiveram de levar porque se desfazia num autêntico berreiro por o pai o não querer levar.

Mas foi!

Antes da partida de Ailok Laran o Eustáquio chamou-nos para dentro de casa ( a mim e ao Gaspar ) para, em clima de intimidade, junto da sua família nos agradecer a nossa visita e estadia na sua casa. Disse palavras tão sentidas que eu, emocionado e sem palavras, apenas pus a mão no coração e consegui dizer “ Obrigado! Obrigado! “

E saí de casa a morder os lábios para não chorar. Claro que eles notaram e ficaram a chorar..

Dias 7/8 de julho de 2016, quinta e sexta feira 
– Alguns episódios na viagem de regresso


Depois da despedida no aeroporto de Dili, lá vamos nós rumo ao avião da Silkair que nos levará a Singapura. 

O Gaspar, talvez levado pela excitação da viagem, ao receber um copo de água fresca das mãos de uma hospedeira de bordo desequilibrou-se e enfia com o seu conteúdo sobre mim. Valeu que o calor era muito e até soube bem. Para onde estaria ele a olhar? Para a beleza da hospedeira?....

Em Singapura, depois de cinco horas de espera que deram para revisitar espaços e comer alguma coisa ( o Gaspar, talvez para me fazer impressão, dizia que era carne de cão ) fomo-nos dirigindo para a zona do chek in. Tudo normal não fora o companheiro de viagem, carregado de jornais e de tarecos, começar a largar pelo caminho os seus pertences: jornais, pasta de documentos, violino, etc… Mais atrás ia eu que, a chorar de riso, lhe chamava a atenção com a expressão carinhosa “caganitas de laco” olha o que estás a fazer!... 

Tive de tomar a decisão de cuidar dele pois o meu amigo perdeu a noção do tempo e do espaço. A viagem na British Airways de Singapura a Londres foi muito longa, mais de 13 horas. 

Chegados a Londres, com duas horas de espera e com tanto espaço a percorrer, tivemos de nos despachar. No entanto o sr. Gaspar teve necessidade de ir ao wc, e eu estava e ver que nunca mais se despachava e o tempo a passar. Que horas são? Perguntou ele lá de dentro. É que este senhor decidiu não alterar a hora de Portugal desde que de lá saímos há dois meses. 

À rasca, lá conseguimos entrar no avião da British Airways que nos levaria a Lisboa. Azar dos azares, o Gaspar acabou por não tomar o comprimido do enjoo e, a partir daqui começaram as cenas de má disposição.

Não vomitou no avião mas ao aterrar em Lisboa, felizmente nas casas de banho,
descarregou tudo quanto dentro tinha. Mais meia hora de espera, até que conseguimos sair do aeroporto. Eu que escrevo sempre em forma, e o meu amigo de rastos à espera que o seu automóvel chegasse pelas mãos do seu cunhado Tó Barroco em companhia da Glória Sobral. Efusivos cumprimentos, piadas, risos e algumas lágrimas e lá vamos nós para os locais de onde partimos.

Conclusões sobre a viagem e estadia em Timor

1. Esta viagem foi programada no âmbito de um projeto “Uma Escola em Timor”. Não foi portanto uma viagem com caraterísticas puramente turísticas. Durante dois meses não utilizamos hotéis mas sim as habitações comuns de bairros de periferia, com muitas carências e dificuldades. Não foi por isso uma estadia nada fácil.

2. Nada nem ninguém nos conseguirá desviar dos nossos objetivos. Lutamos e
continuaremos a lutar pela concretização dos nossos projetos. O que nos levou a
Timor foi um projeto de solidariedade que se irá concretizar na construção e funcionamento da escola e no programa de apadrinhamento de crianças com
dificuldade de prosseguir os seus estudos devido a dificuldades económicas.

3. Esta onda de solidariedade criou laços afetivos que perdurarão para sempre. Os timorenses abrangidos manifestaram a sua gratidão e reconhecimento de uma maneira efusiva. O carinho e a amizade que nutrem por nós não tem preço. Amam Portugal, mas amam sobretudo quem se preocupa e interessa por eles.

Quase todos os timorenses têm nomes ou apelidos portugueses. A família Sobral
é a única existente em todo o território de Timor, embora estejam distribuídos por várias localidades. Tenho o privilégio de os conhecer quase todos ( a tribo tem mais ou menos 200 elementos, com um número elevado de crianças) e de ser conhecido e amigo de muitos deles. Por isso vamos fazer todo o possível para os salvar e ajudar.

4. Qualquer descrição por mim feita tem valor relativo. Refiro-me particularmente às referências ao amigo Gaspar Sobral. Só uma grande amizade me permite dizer coisas tão particulares. Ele sabe bem que é assim. Sem ofensas mas, se por acaso algo está errado, peço o seu perdão.

5. A todos os que tiveram, têm ou terão oportunidade de ler estas crónicas quero
agradecer o seu interesse e, ao estilo de Francisco de Assis, não o político mas o santo, que seja tudo para glória de Deus. Que Deus Seja Louvado!
_____________

Conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 31 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25587: Viagem a Timor: maio/julho de 2016 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte V: um país apaixonante, cheio de contrastes... e contradições

Vd. postes anteriores da série;

26 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25562: Viagem a Timor: maio/julho de 2016 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte IV: um encontro, privado, com Ramos Horta, colega de escola do Gaspar Sobral

23 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25553: Viagem a Timor: maio/julho de 2016 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte III: uma igreja ou uma escola ? está decidido, vamos construir uma escola

21 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25546: Viagem a Timor-Leste: maio/julho de 2016 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte II - A caminho das montanhas

20 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25544: Viagem a Timor-Leste: maio/julho de 2016 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte I: As primeiras emoções e impressões

Guiné 61/74 - P25601: História do Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/74) (Manuel Seleiro, ex-1º cabo, DFA, 1968/70)






Guiné > Região de Cacheu > São Domingos (?) > s/d (c. 1968-70) > Pel Caç Nat 60 > Foto de grupo


Foto (e legenda): © Manuel Seleiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Pel Caç at 60 (Divisa: "Fortuna, audácia")


O 1º cabo Manuel Seleiro,
levantando uma mina A/P,
em 13/11/1969, na Estrada  de
São Domingos .Susana - Varela,
  

1. Excertos de poste de 7 de maio de 2019 do blogue do Pel Caç Nat 60, criado pelo Manuel Seleiro


(i) o Pelotão de Caçadores Nativos 60  foi criado em 7 de maio de 1968, em São Domingos, região do Cacheu;

 (ii) estivemos com o BCÇ .1933, CCS, CCAÇ 1790, CCAÇ 1791m São Domingos,  d emaio a novembro de 1968;

(iii) seguimos para Ingoré, onde ficámos com a CCAÇ 1801 de novembro de 1968 até agosto de 1969;

(iv) regressámos a S. Domingos, em agosto de 1969 onde trabalhámos com a CCV  2539;

(v) o Pel Caç Nat 60 ficou em S. Domingos / Susana,
 até ao ano de 1974 (quando foi extinto);

(vi) o primeiro comandante do Pel Caç Nat 69 
 foi o ex-alf mil  Luís Almeida;

Hugo Guerra: comandou
o Pel Caç Nat 55 (Gandembel
e Ponte Balana, 1968/69)







(vii) foi rendido pelo ex-alf mil Nélson Gonçalves;

(viii) a 13 de novembro de 1969,  a viatura em que seguia o ex-alf mil Gonçalves, acionou uma mina anticarro sendo ferido com gravidade;

(ix) de novembro a janeiro, o pelotão foi comandado 
pelo ex-fur mil Rocha.

(x) em janeiro de 1970 o ex -alf mil Hugo Guerra 
comandava o Pelotão;

(xi) no dia 10 de março de 1970 é ferido, juntamente c
om 1º cabo Manuel Seleiro que  desativava uma mina antipessoal.


2. Lista de militares do Pel Caç Nat 60, divulgada
pelo Manuel Seleiro, na sua página  Luar da Meia Noite:

Alferes, comandantes:

Alf Mil Luís António Gonçalves Almeida - Atir
Alf Mil Nélson Gonçalves - Atir, "DFA"
Alf Mil Hugo António Constantino Guerra - Atir , "DFA"
Alf Mil Manuel Maria Pereira da Rocha - Atir
Alf Mil António Inverno - 72/74 - Ranger
Alf 'Comando' João Uloma - Africano, Atir

Furriéis:

Fur Mil Isaías Barbosa Leão - Atir,  67/69
Fur Mil José Lopes Fazendas - Atir,  67/69
Fur Mil Manuel Martins Viana de Sousa - Atir, 67/69
Fur Mil Manuel Marques Pereira da Rocha - Atir,  69/70, "DFA"
Fur Mil Manuel de Jesus Neves - Atir, 69/71
Fur Mil Moreira- Atir 

Cabos / soldados:

1º Cabo Manuel Maria Magalhães - Atir,  68/70
1º Cabo Manuel Seleiro  - Caçador, 68/70, "DFA"
1º Cabo ' Comando' Agostinho - Africano, Atir
Gilat - Sold africano,  Atir
Guilherme de Oliveira Marques - Sold Trms, 68/70
Luís Fidalgo - Sold Atir,  68/70
Pedro - Sold africano,  Atir
Malan Seide - Sold africano, Atir
Augusto - Sold africano, Atir
Cavaleiro - Sold africano, Atir
Malan - Sold africano, Atir
Armando - Sold Atir,  68/70

______________

Nota do editor: