segunda-feira, 1 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25704: O nosso blogue em números (97): no 1º semestre de 2024, publicámos 661 postes, e tivemos 633 mil visualizações de página, atingindo um total acumulado de 15,2 milhões em 20 anos

 

Fonte: Blogger (2024)


1. No 1º semestre de 2024, de 1 de janeiro a 30 de junho de 2024, registámos um total de 633 mil visualizações de página, o que dá uma média mensal de 105,5 mil por mês (ou 3,478 por dia).  O total acumulado, desde 2004, é agora de mais de 15,2 milhões (*).

Como termo de comparação, registe-se que,  em todo o ano de 2023, o total de visualizações foi de 690 mil.

Vendo o gráfico acima, confirmamos que há picos, como em 3 de abril de 2024, em que se registaram mais de 47 mil visualizações,

Como já explicámos anteriormnete, estes picos não têm qualquer significado estatístico (são "outliers"): em geral estão associados à atividade de robôs que fazem capturas de páginas. O nosso blogue é seguido, regularmente, por exemplo, pelo Arquivo.pt   e pelo Internet Archive. Mas também ser explicados com a crescente utilização dos novos motores de busca baseados na IA (Inteligência Artificial),

Neste último período de seis meses, dos vinte países que mais nos visitaram, vêm três lusófonos: Portugal, em primeiro lugar, Brasil (7º) e Guiné-Bissau (11º). Depois há os países com  comunidade lusófonas: Estados Unidos (2º), Países Baixos (6º), Alemanha (9º), Suécia (10º), Reino Unido (12º), França (13º), Luxemburgo (14º), Espanha (15º) e Canadá (16º).

Neste período tivemos mais 7 novos membros da Tabanca Grande atingindo o total de 890. Faltam-nos 10 para chegar aos almejados 900 no final do ano de 2024 (**).

O número de postes publicados (n=661) foi, em média, de 110 por mês (3,6 por dia). O total acumulado é agora de 25703 postes editados (de 23 de abril de 2004 a 30 de junho de 2024).

Por seu turno, o total acumulado de comentários (limpos de SPAM) é agora de 102 234. Tivemos neste período pouco mais de 2,2 mil comentários, o que dá uma média de 3,4 por poste. O ano passado a média foi melhor (4,9) (***)

Estes números dão-nos algumas pistas de reflexão, indicando pontos fortes e fracos da nossa atividade bloguística. Apesar da idade e sobretudo do  "cansaço" e "saturação" de todos nós (a começar pelos editores e colaboradores permanentes)...

Obrigado a todos aqueles que vão mantendo a "chama viva": leitores, autores, comentadores, editores, colaboradores permanentes (****).

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Notas do editor:


domingo, 30 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25703: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (24): "A tolice por um fio"

Adão Pinho Cruz
Ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547
Autor do livro "Contos do Ser e Não Ser"


A tolice por um fio

Pensei logo que era tolo quando não vi nenhum fio preso ao ouvido do gajo. Aqui há uns anos, sempre que um tipo (ou tipa) falava sozinho na rua ou no café, era rotulado de tolo. Hoje em dia, com os auriculares do telemóvel, já não é assim. Sempre que topamos alguém a falar sozinho, olhamos logo para a orelha a ver se tem um fiozinho pendurado. Se tem, não é tolo, se não tem, é tolo.

O homem estava sentado numa mesa em frente à minha no café Turista. Foi há questão de uma hora. Lia o jornal enquanto falava, gesticulava, ria e fazia comentários. Claro que eu olhei logo para as suas orelhas. Numa delas não tinha nada pendurado. Na outra, que eu via mal porque o sujeito estava um pouco de esguelha, também não parecia haver qualquer ligação. Pelo sim pelo não, como quem não quer a coisa, levantei-me para espreitar melhor a sua orelha direita e cheguei à conclusão de que era tolo.

O advogado entrou e sentou-se ao seu lado. Presumo que fosse advogado porque, para além da pasta, tinha o ar que os advogados têm e que eu não sei descrever, por mais que tente. O homem calou de imediato o seu solilóquio e entre ambos apenas se interpôs um aperto de mão e um monte de papéis. O tolo, ou presumivelmente tolo, não abriu mais a boca. Moitacarrasco. O advogado, - só podia ser advogado - apenas lhe apontava o local onde devia assinar, assinatura que ele prontamente ali escrevinhava. Nem uma palavra.

Nem uma palavra. Assim se mantiveram cerca de dez minutos, tempo ao fim do qual, o advogado, presumo que não fosse outra coisa, estendeu-lhe a mão e, com discreto sorriso, pirou-se.

O homem que não tinha telemóvel nem auriculares irrompeu numa conversa pegada, falando não sei para quem, gesticulando de braços abertos, com esgares que podiam ser de escárnio, de gozo ou de raiva, fazendo do seu falar a solo uma espécie de comício em ponto pequeno. Voltei a concluir que era tolo. Mas seria mesmo tolo? Será que a diferença entre tolo e não tolo se resume a um fio pendurado do ouvido? Ora, aqui vos deixo a questão, sobre a qual nem Espinosa, nem S. Tomás de Aquino se debruçaram.

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Nota do editor

Último post da série de 23 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25676: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (23): "Os grelos"

Guiné 61/74 - P25702: Fichas de unidade (36): CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)



Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2382 (1968/70) > Dia do "santo patacão", o do pagamento do pré. Cap Mil Art Gomes de Araújo, sentado, alf mil Curado, de pé, à direita, o sargento Boiça, à esquerda  e o fur Mil Henrique, ao centro, em segundo plano. 

A foto é do nosso camarada Manuel Traquina, retirada e editada, com a devida vénia, do seu livro, "Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné" (Abrantes: Palha de Abrantes, 2009, pág. 130).




Guião da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70), "Por picadas nunca estradas, por estradas nunca picadas"... Um trocadilho bem achado..., ó Zé do Olho Vivo!

Companhia de Caçadores nº 2382

Identificação: CCaç 2382

Unidade Mob: RI2 - Abrantes

Crndt: Cap Mil Art Carlos Nery de Sousa Gomes de Araújo

Divisa: "Por picadas nunca estradas, por estradas nunca picadas"

Partida: Embarque em 1mai68; desembarque em 6mai68

Regresso: Embarque em 3abr70

Síntese da Actividade Operacional

Em 18mai68, seguiu para Bula, a fim de efectuar a instrução de aperfeiçoamento
operacional com a CCaç 2312, sob orientação do BCav 1915, tendo tomado parte em operações realizadas nas regiões de Blequisse, Ponta Consolação e Bajope, nas quais obteve excelentes resultados. 

Entretanto, a referida instrução foi interrompida por razões operacionais e a subunidade seguiu para Aldeia Formosa, por fracções, em 3jun68 (dois pelotões) e em 8jun68, a fim de reforçar o dispositivo do BArt 1896 e depois do COSAF/COP 1, em face de pressão inimiga então verificada na região do Forreá.

Em 7jun68, dois pelotões ocuparam Contabane e em 11jun68, o comando e os outros dois pelotões instalaram-se em Mampatá; no entanto, em 18Jun68, a sede da subunidade passou para Contabane, ficando um pelotão
destacado em Mampatá. 

Em 1jul68, por evacuação de Contabane, voltou de novo a instalar-se em Mampatá, agora com dois pelotões destacados em Buba e Patê Embalá.

Em 13jul68, substituíu temporariamente a CArt 1612 no subsector de Aldeia Formosa até à chegada da CCaç 2381, em 8ag068, com os seus pelotões disseminados por Nhala, Mampatá, Chamarra e Patê Embalá, este até 3ag068 e depois deslocado para Buba, em reforço do BCaç 2834.

Em 12ag068, a subunidade foi então transferida para Buba, com um pelotão destacado em Nhala, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2834, e depois do COP 4, quando criado, com a missão de intervenção e reserva; nesta função, efetuou diversas operações na zona de acção e exerceu o seu esforço na contrapenetração, tendo capturado elevadas quantidades de armamento e material e de que se destaca uma emboscada efectuada a uma coluna de reabastecimentos inimiga, no rio Chinconhe, em 22nov68.

Em 290ut69 e 8nov69, foi rendida, por frações, pela CCaç 2616 e recolheu a Bissau, a fim de se integrar no BArt 2866 e colaborar na segurança e  protecção das instalações e das populações, tendo ainda um pelotão destacado em Sanfim e João Landim.

Em14mar70, foi substituída pela CArt 2411, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 96 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM). 

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 367/368.

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 d maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25466: Fichas de unidade (35): BCAÇ 2856 (Bafatá, 1968/70)

sábado, 29 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25701: Os nossos seres, saberes e lazeres (634): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (159): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Para falar francamente, não voltei a Belas só à cata dos fofos, a especialidade doceira da terra; depois da minha querida irmã ter sido vitimada por um AVC e viver num lar, procurava proporcionar-lhe passeios nas proximidades de Lisboa que lhe dessem satisfação, ela fora sempre uma andarilha, visitava amigas, adorava comboios e autocarros, o importante era sair de manhã e regressar a casa à noite. Já combalida, o cerimonial começava nos fofos de Belas com um galão, lá íamos de braço dado até à Quinta da Senhora da Assunção, havendo de bom tempo percorríamos lentamente o jardim. Em sua homenagem, da doce lembrança que dela guardo, por aqui andei em itinerância e do muito que gostei de ver achei que não era despiciendo partilhar convosco.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (159):
Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve paço real, estamos perto da Venda Seca – 2


Mário Beja Santos

Já aqui se referiu que a vila de Belas foi realenga, possuiu nos seus arredores importantes vestígios do passado romano e árabe, foi sede de concelho e este faz parte da União das Freguesias de Queluz e Belas, o seu interior possuiu um eixo diário com um tráfego intenso, andar pelos estreitos passeios requer extrema cautela. Quando se fala em vila realenga, os fundamentos são sólidos. Respigo de um artigo que encontrei na net o seguinte, tem a ver com uma notícia publicada em 23 de setembro de 1728 na Gazeta de Lisboa: "A Rainha Nossa Senhora, foi ontem a Belas com a Senhora Infanta D. Francisca ver o Senhor Infante D. Carlos". Tratava-se da Rainha D. Maria Ana de Áustria, mulher de D. João V. O infante D. Carlos, seu filho, encontrava-se doente e procurava alívio, no ambiente saudável de Belas. Faleceu em 1730, com 14 anos. O infante D. Manuel de Portugal, irmão de D. João V, nascido em 1696, viveu alguns anos em Belas onde faleceu em 1766, reinando D. José I, que o visitava com regularidade. Foi cabeça de Marquesado e Condado, adstritos aos Senhores de Pombeiro e Castelo Branco. D. Manuel I, aquando Duque de Beja, doou os rendimentos da igreja de Belas às freiras do convento daquela povoação.
É neste espaço cheio de história que se vai dar uma passeata.

Igreja Matriz de Belas, mais um templo religioso que conheceu transformações umas atrás das outras, do período manuelino resta a sua porta principal
Interior da Igreja Matriz de Belas, de uma só nave
Moradia a carecer de obras, mas guarda uma certa imponência que convinha que não se perdesse na requalificação. Eram assim as casas de férias ou de habitação permanente em tempos que já lá vão, quando a cidade ainda parecia longe, a região era considerada de ar puro e Sintra não está longe.
Em contraste, numa das artérias de maior trânsito em Belas, vemos como se reconstrói mantendo o traçado genuíno de muitas décadas atrás, virando à direita, como parece ser a direção daquele carro, pode-se caminhar para a Venda Seca ou para a Rinchoa. Fico especado a pensar que a Rinchoa tem uma bela casa-museu, a de Leal da Câmara, onde me apetece voltar.
Esta é uma das entradas da Quinta do Senhora da Serra, construção heterogénea, mas cheia de pergaminhos, é uma propriedade que remonta à fundação da nacionalidade, há ali marcas do gótico e arcarias ogivais, aí pelo século XIV, a Quinta, que também foi designada por Paço Real, era usada pela família real. As obras e transformações sucederam-se, desde o reinado de D. Manuel até ao século XVIII, os jardins aprimoraram-se. A Quinta é hoje propriedade particular, uma prestigiada agência imobiliária mostra um pequeno filme para quem quiser comprar estes muito hectares e a construção histórica.
Pormenores do interior da Quinta do Senhor da Serra, imagens retiradas do site promocional da Porta da Frente, a propriedade está à venda por 14 milhões
Um pormenor do muro que fala dos tempos muito idos
Outro pormenor da Quinta do Senhora da Serra, o casarão ao fundo é também de tempos muito idos
Um pormenor do muro da Quinta, possui um património florestal valioso, custa ver como todo este magnífico espaço sofre da poluição sonora do corrupio do trânsito, a CREL está lá ao fundo, todas estas vias que acedem ao interior do termo de Sintra são fustigadas por viaturas de toda a espécies, andar nas ruas estreitas de Belas não é convite para ninguém. Mas já estamos habituados a tudo, veja-se o que se passa com um troço importante do Palácio de Queluz, com o IC 19 à porta.
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Notas do editor:

Post anterior de 15 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25642: Os nossos seres, saberes e lazeres (632): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (158): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 1 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 20 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25663: Os nossos seres, saberes e lazeres (633): viagem à China, de 1 a 12 de setembro próximo, com um cicerone de luxo, o nosso camarada António Graça de Abreu

Guiné 61/74 - P25700: (De) Caras (210): A emboscada, na picada de Mampatá-Uane, em 20 de maio de 1968: além de 4 mortos, foram feitos pelo PAIGC 8 prisioneiros, cinco dos quais sabemos que foram o Rui Rafael Correia (CCS/BART 1896, Buba, 1966/68), José M. Medeiros, José M. de Susa, Manuel da Silva e Agostinho Duarte (CART 1612, Bissorã, Buba e Aldeia Formosa, 1966/68)

 


O Rui Rafael Correia, antes de ser mobilizado
 para Guiné como 1º cabo mecânico auto, 
CCS/BART 1896 (Buba, 1966/68) 


O Rui Rafael Correia,  no dia da homenagem
que lhe foi feita pelo Núcleo de Matosinhos da Liga 

Vivia na Galiza desde 1972.


Guiné > Carta de Xitole (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Mampatá, Uane, Nhala, Buba, Aldeia Formosa e Chamarra, na região de Forreá

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)

 


1. A emboscada a que se refere o Carlos Nery no poste P25693 (*), aconteceu a 20 de maio de 1968, na picada entre Mampatá e Uane (vd. carta do Xitole, 1955, escala 1/50 mil). As NT sofreram 4 mortos e 8 militares foram aprisionados.

Os militares aprisionados terão sido , levados para a Guiné-Conacri.  Pertenciam à CCS/BART 1896 (Buba, 1966/68) e à CART 1612. Não sabemos, para já, a identidade dos mortos: é possível que tenham sido milícias, executados sumariamente pelo PAIGC (" passados pelas armas alguns milícias considerados traidores") (*).
 
Dos prisioneiros temos a identificação de cinco;
 


Lista dos prisioneiros  do PAIGC "entrevistados"  pela Rádio Libertação, do PAIGC, em Conacri, em 1968... Sublinhados, a vermelho, os nomes de cinco dos nossos camaradas, um  da CCS/BART 1896, e quatro da CART 1612 / BART 1896, aprisionados em 20/5/1968, na picada Mampatá-Uane-Nhala. (Ao todo, foram oito, dois estavam hospitalizados, em meados da agosto de 1968 quando prestaram declarações em cativeiro, à rádio do PAIGC, num operação claramente de propaganda do Amílcar Cabral).

Fonte: Opúsculo, de 24 pp., "Guiné 1 - Falam os portugueses prisioneiros de guerra", disponível na totalidade aqui. (Editado pela FPLN / Portugal [Frente Patriótica de Libertação Nacional], em Argel, Transcrevem-se "declarações gravadas em fita magnética e difundidas pela Rádio Libertação, pelo PAIGC, que autorizou retransmissão pela emissora da FPLN, a Voz da Liberdade" (sic).


2. Já aqui reproduzimos, em tempos (**) , as declarações (a pp. 7/8), do Rui Rafael Correia, natural de Leça da Palmeira, Matosinhos, 1º cabo mecânico auto da CCS/BART 1896 (Buba, 1966/68), delcarações essas que terão sido  prestado aos microfones da Rádio Libertação.  (O Correia só será libertado em 20 de novembro de 1970, na sequência da Op Mar Verde. Teve portanto dois anos e meio de cativeiro.).

É o único de quem temos fotos (***). Eis aqui o essencial da informação sobre os acontecimentos de que foi vítima: 

(i) estava na CCS / BART 1896, em Buba;

(ii) foi chamado para ir a Aldeia Formosa reparar uma viatura que estava avariada na estrada:

(iii) recuperada a viatura, ficou à espera dos camaradas que estavam no mato;

(iv) quando estes regressaram, deram conta que faltava os milícias;

(v) por ordem do alferes, comandante da força, foi um pequeno grupo a caminho de Uane buscar os milícias;

(vi) o cabo mecânico Correia sentiu-se na obrigação de acompanhar a viatura à qual tinha acabado de dar assistência;

(vii) entre Mampatá e Uane (vd. carta de Xitole) foram emboscados;

(viii) o pequeno grupo ficou completamente indefeso perante "uma emboscada tão forte e tão bem montada".

.



(...)



(Pág. 7. Excerto)

(Pág. 8. Excerto)


3. Os outros restantes quatro prisioneiros,  do dia 20 de maio de 1968,   são:

  • José M. Medeiros ( sold,  CART 1612 / BART 1896):
  • José M. de Sousa (sold. CART 1612 / BART 1896);
  • Manuel da Silva (sold, CART 1612 / BART 1896);
  • Agostinho Duarte (sold, CART 1612 / BART 1896).
A CART 1612 / BART 1896 esteve em Bissorã, Buba e Aldeia Formosa (nov 66 / ago 68)

 Reproduzidos a seguir uma seleção das  "declarações" dos nossos camaradas em cativeiro: no essencial, coincidem no que diz respeito às circunstâncias em que ocorreu a emboscada. 

Nenhum deles fala dos "mortos", possivelmente milícias, e que terão sido executados "in loco", segundo a versão do Carlos Nery (*). Limitaram-se a responder , sucintamente, ás mesmas perguntas que lhes foram feitas:  (i) nome, onde e quando nasceu; (ii) unidade ou subunidade a que pertenceu; (iii) em que parte(s) da Guiné prestou serviço; (iv) se estava bem de saúde; (v) como foi recebido e tratado; (vi) as circunstâncias em que foi feito prisioneiro; e (vii) mensagem a dirigir aos antigos camaradas, amigos, família, etc.

(...)



(Pág. 9. Excertos)

(...)


(...) 



(...)

(Pàg. 10. Excertos)


(Pág. 11. Excerto)
(...)



(Pág. 12. Excerto)

(Pág. 12. Excerto)




(pág. 13. Excerto)





(Pág. 15.Excertos)

4. Segundo o nosso camarada José Teixeira, da CCAÇ 2381, que rendeu a CART 1612 [que estava em Aldeia Formosa desde novembro de 1967], "este trágico acontecimento [deu-se] no pontão de Uane entre Mampatá e Nhala, na velha picada de ligação Aldeia Formosa / Buba" (**)... 

Era "um sítio muito complicado e temido junto a uma bolanha, onde existia um carreiro por onde PAIGC fazia passar o material de guerra vindo da Guiné Conacri para o interior da Guiné, via Cantanhez"... 

Era "um lugar para muitos cuidados, com emboscadas às colunas que faziam a ligação de Buba a Aldeia Formosa a par de outro conhecido pela Bolanha dos Passarinhos, já muito perto de Buba".

As NT estacionadas em Aldeia Formosa faziam patrulhamentos e montavam emboscadas na zona, mas as coisas aconteciam "ao mais pequeno descuido, como parece ter acontecido, ou pelo menos era o que constava, quando ali chegou a CCaç 2381 em julho de 1968 para render a Companhia [a CART 1612,]  que sofreu esta emboscada, em 20 de maio".





Capa do opúsculo, de 24 pp., "Guiné 1 - Falam os portugueses prisioneiros de guerra", disponível na totalidade aqui. 



Citação:
(1968), "Guiné 1 - Falam os portugueses prisioneiros de guerra", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_84394 (2016-6-6)
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Notas do editor:


(*) 28 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25693: 20º aniversário do nosso blogue (17): Alguns dos melhores postes de sempre (XIII): na noite de 22 de junho de 1968, há 56 anos, Contabane transformou-se no inferno - Parte III: um texto antológico de Carlos Nery (ex-cap mil, CCAÇ 2382, Buba, 1968/70)

(...) Durante anos a guerra passara ao largo da região onde estávamos. No Quebo, baptizado pelos portugueses de Aldeia Formosa, residia o Cherno Rachid, chefe espiritual de vasta área que se estendia para lá da fronteira.

O PAIGC, atendendo, certamente, à sua presença, evitara levar ali a guerra. Mas a guerrilha era portadora de uma ideia nova que, como todas as ideias novas, vinha para dividir.

(...) Ao aceitar armas aos portugueses, os fulas do Forreá comprometeram a imagem de neutralidade até aí existente. O PAIGC, acusando-os, também, de veicular informações para a tropa, abriu então, violentamente, hostilidades contra as populações que haviam aceitado colocar-se em autodefesa.

Perante os ataques a Contabane e Mampatá [de 22 de maio e 11 de junho de 1968, respetivamente] e a emboscada a uma viatura em que são «apanhados à mão» vários militares portugueses e passados pelas armas alguns milícias considerados traidores, são deslocados à pressa efectivos para a área. (...)




(***) Último poste da série > 22 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25674: (De) Caras (209): Hermínio Marques, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 2382: "Vou contar-lhe como perdi as minhas coisas em Contabane" (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25699: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte V: O país da diversidade, onde umas vezes apetece partir, e outras vezes apetece ficar


Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 1 de fevereiro de 2018 > "Propriamente, em Timor, só há duas estações: o verão e o inverno. Por incrível que pareça as noites mais frias (frescas) são no verão e, claro está, nas montanhas. É rara a árvore de folha caduca. Por isso o verde constante. Se nos distraímos, da noite para o dia aparecem novas flores, novas plantas."





Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2018 > As crianças gentis da Escola de São Francisco de Assis, fundada pela ASTIL.

Foto (e legenda): © Rui Chamusco (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Rui Chamusco, membro da nossa Tabanca Grande desde  10 de maio último,  é cofundador da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste),  com a sua conterrânea, Glória Lourenço Sobral, professora do ensino secundário, e com o marido desta, Gaspar Costa Sobral, luso-timorense que, em Angola, antes da independência, foi topógrafo, e é hoje formado em direito.

A ASTIL,  criada em 2015 e com sede em Coimbra,  fundou e administra a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá (pré-escolar e 1º ciclo) e tem também em curso um programa de apadrinhamento de crianças em idade escolar. (Havia, então, em Boebau, 150 crianças sem acesso à educação.)

O Rui, professor de música, do ensino secundário, reformado, natural do Sabugal, e a viver na Lourinhã, tem-se dedicado de alma e coração a estes projetos solidários  no longínquo território de Timor-Leste.

Desde a sua primeira viagem a Timor-Leste, no 1º trimestre de 2016, que ele vai escrevendo umas "crónicas" para os membros da ASTIL e demais amigos de Timor Leste. Temos estado a recuperar essas crónicas, agora as da segunda estadia, em 2018 (*).

Em Dili ele costuma ficar na casa do Eustáquio, irmão (mais novo) do Gaspar Sobral, e que andou, com a irmã mais nova, a mãe e mais duas pessoas amigas da família,  durante três anos e meio,  refugiados nas montanhas de Liquiçá, logo a seguir à invasão e ocupação do território pelas tropas indonésias (em 7 de dezembro de 1975).

Em 2018 o Rui Chamusco partiu para Timor, em 25 de janeiro, com o Gaspar Sobral, numa acidentada viagem de 3 dias... O João Crisóstomo também partiu de Nova Iorque, em 2 de março, para se juntar, ao Rui e ao Gaspar Sobral, na sessão da inauguração da Escola, em Boebau, em 19 de março de 2018. Regressou a Nova Iorque em 28.




Lourinhã > 2017 > Rui Chamusco e Gaspar Sobral. A família Sobral tem um antepassado comum que foi lurai, régulo, no tempo dos portugueses. As insígnias do poder (incluindo a espada) estão na posse do Gaspar, que vive em Coimbra. A família Sobral andou vários anos pelas montanhas de Luiquiçá e de Ermera, tentando escapar à tirania dos ocupantes indonésios. O Gaspar esteve 38 anos fora da sua terra, só lá voltando em 2016, com o Rui. 

Foto: Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)



1. Esta segunda viagem e estadia do Rui Chamusco (de 27 de janeiro a 14 de junho de 2018) (*), em Timor Leste, em  missão solidária,   culminaria  com a inauguração da Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em 19 de março de 2018, em Boebau, Manati, nas montanhas de Liquiçá (*).

 Através da família Sobral, um exemplo de "resistência e resiliência", e das crónicas do Rui, vamos conhecendo melhor Timor-Leste, de ontem e de hoje:
 
Estas crónicas tem um enorme interessante para se perceber melhor  o que é hoje a República Democrática de Timor Leste, país membro da CPLP, com o qual mantemos laços históricos, e sobretudo afetivos, tal como mantemos com a Guiné-Bissau e outras antigos territórios que estiveram sob a administração portuguesa em África e na Ásia 

Enfim, estas crónicas, que o Rui Chamusco partilha connosco, acaba por ser um privilégio, para os nossos leitores, amigos de Timor Leste e/ou promotores da lusofonia.  Aqui fica  obrigado ao nosso cronista, extensivo ao Gaspar, ao Eustáquio,à Aurora, à Adobe e outros protagonistas destas histórias luso-timorenses.




II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)

Parte V - O país da diversidade




29.03.2018, quinta feira  - Laços de sangue e outros

Quando aqui em Timor se fala de filhos tem que se perceber muito bem a questão da filiação. É frequente em cada família ou aglomerado familiar haver filhos adotivos que, sem qualquer descriminação, fazem parte da família em igualdade de circunstâncias.


Mas são filhos adotivos sem qualquer tipo de formalidades oficiais. Basta que por necessidade se bata à porta devido a qualquer conhecimento ou relação social anterior.

Assim encontramos a casa e a família do Abeka. Já foi abrigo para alguns filhos que, sem qualquer laço de sangue, ali se criaram. Falam com algum carinho do Rogério e do Eusébio, que hoje são já homens casados e pais de filhos. Hoje, ao fim da tarde, tivemos a  visita do Eusébio, de que eu já falei nas minhas primeiras crónicas de 2016, e volto a referi-lo porque a sua atitude passada prova com mais força o que venho descrevendo.

Perdeu o pai durante a guerra com a Indonésia de uma maneira imprevista. Por imprudência, acenderam o lume no local onde estavam escondidos, e as tropas indonésias fizeram o resto: limparam a rajadas todo o acampamento. Por isso, orfão de pai, recorreu a uma família de acolhimento. Então o Eusébio logo que pode lançou-se na sua vida ativa, deixando o espaço físico onde foi criado para fazer a sua própria vida. 

E tudo corria normalmente, até que um dia lhe chegou aos ouvidos que a sua irmã (adotiva) Assun, que entretanto tinha casado, era maltratada e agredida pelo marido.  O Eusébio não fez mais nada: pôs-se a caminho de Ailok Laran, deu uma valente soba no agressor que se pôs em fuga, e comentava furioso: “ nos meus irmãos ninguém bate!...”

Serviu de exemplo a muitos e serve de exemplo para todos nós. Criar filhos não é só gerá-los. É preciso criá-los e educá-los. Os laços de sangue são importantes, mas os laços afetivos não lhe ficam atrás.

30.03.2018, sexta feira - Após a tempestade
 vem a bonança

Não poderei dizer que esta sexta feira santa me foi fácil de suportar. Em confronto interior com costumes e hábitos do exterior, relembrando hábitos e proibições de há mais de cinquenta anos, nem sempre fui capaz de estar calado manifestando o meu desacordo e incumprimento. Porque é dia santo - morreu Jesus -” não se pode saudar ninguém “, “não se pode varrer”, “não se pode assobiar ou cantarolar”, etc...,etc... É pecado! 

E como eu sou um grande pecador, acho que transgredi todas as normas e imposições. Pior ainda, não penso ir confessar-me destes meus pecados.

Fosse como fosse, comecei a ficar mal disposto e a planear ausentar-me daqui. Mas o Senhor “que acalma os ventos e as tempestades” veio em meu socorro e trouxe-me a tranquilidade e a bonança.

Pois é! A aculturação não é só ao tempo meteorológico, ao regime alimentar, aos usos e costumes dos povos. Quantas vezes a nossa mentalidade não tem também de recuar, para vivermos felizes e contentes. Como dizia Bruno Bethleim, “coração consciente para mantermos a nossa identidade”.

31.02.2018, sábado - Prendas

É sempre com alegria que procedemos à distribuição das prendas (importância pecuniária) dos padrinhos e madrinhas aos seus afilhados. Já passou a ser um ritual que junta os contemplados, as famílias, os amigos. Sentado no seu telónio está o João Moniz (Eustáquio) que, um a um, vai chamando, faz assinar, e entrega a importância devida.

Mais um pequeno sermão para relembrar a finalidade destes donativos (apoio às necessidades escolares) e a importância de agradecer aos doadores nem que seja com um simples “ Obrigado, padrinho! Obrigado,  madrinha!”. 

O Eustáquio insiste que todo o que tem padrinho ou madrinha deve ter a vontade e fazer algo por aprender a escrever e a falar português. Alguns ficam mesmo atrapalhados porque não percebem nadinha da língua de Camões, mas se cada vez que aqui vêm já souberem duas ou três palavras novas, talvez um dia se desenrasquem pelo menos a entenderem o que ouvem.

A sessão termina com as fotos que testemunham sempre qualquer entrega e que depois são enviadas aos padrinhos. Um ato simples e transparente que faz inveja a muitos “governantes”. (...)

 01.04.2018, domingo  - Dia de Páscoa em Timor Lorosa’e

O sol já raiou. Já os galos cantam em alegre desgarrada, nesta madrugada serena e carregada de sentido religioso. Em Timor Leste a “colonização cristã” dos portugueses ainda está bem enraizada na fé e nos costumes da maioria das suas gentes. As cerimónias religiosas são massivamente participadas, e os fiéis participam ativamente nas preces, nos cantos, nos rituais. (...)

 
02.04.2018, segunda feira  - A diversidade

Não utilizaria esta palavra se ela não comportasse toda a riqueza de expressão do que penso escrever neste momento sobre Timor Leste. Com certeza que haverá por esta região orientam do globo outras sociedades e outras terras com idênticas características.

Mas é aqui que eu estou, é aqui que me ´é dado viver, é aqui que tomo consciência destes fatores. E por isso vou tentar descrever o que observo, dentro de um quadro de visão pessoal, que embora objetiva terá sempre pinceladas subjetivas. Assim, verifico que:

(i)  a monocultura é quase inexistente neste país. Fauna e a flora, tão exuberantes neste território, reproduzem-se quase por geração espontânea, graças às excelentes condições climatéricas, com calor húmido e chuva que baste. 

Propriamente, em Timor, só há duas estações: o verão e o inverno. Por incrível que pareça as noites mais frias (frescas) são no verão e, claro está, nas montanhas. É rara a árvore de folha caduca. Por isso o verde constante. Se nos distraímos, da noite para o dia aparecem novas flores, novas plantas.

Dizem que das boas coisas que os indonésios trouxeram para Timor foi a replantação ou implantação de algumas árvores. O resultado está à vista, basta olhar para o mundo que nos rodeia. Dizem os entendidos que a biodiversidade é o caminho certo para a nossa sobrevivência; que as plantas se protegem umas às outras. O caso mais flagrante que conheço é nas montanhas de Boebeu / Manati, onde os cafeeiros são abrigados por árvores com mais de cinquenta metros de altura (a Madre Cacau).

(ii)  A raça humana que povoa este território é a maior mistura possível. 

Embora haja o rosto tipicamente timorense, que sem favor é lindíssimo, é frequente encontrarmos à nossa volta rostos indonésios, chineses, japoneses, africanos, malaios (portugueses, australianos, ingleses, franceses, etc...) 

Todos em saudável convivência, exercendo cada um o seu dever ou realizando o seu trabalho. Será este um dos sinais da globalização, onde cada um comunga com o outro mas sem perder a sua individualidade e características.

(iii) A religiosidade imanente em cada um, que se manifesta através de diferentes crenças.

O povo timorense professa na maioria a religião católica, e são muitas as suas manifestações ao longo do ano litúrgico. O poder da igreja em Timor Leste é muito grande, sobretudo no campo social e religioso. Mas não podemos ignorar a sua influência de opinião no campo político. Igualmente apraz-me registar o lugar que outras igrejas e religiões ocupam nesta sociedade e que com respeito mútuo vão exercendo também a sua influência: a igreja protestante, a igreja evangelista, as
testemunhas de Jeová, a comunidade muçulmana.

Estando por diversas vezes nas montanhas, dei-me conta das religiões animistas que por lá subsistem e que determinam muitas vezes o presente e o futuro de muitos dos seus crentes. O timorense dá muito valor e respeita com veneração os seus antepassados que, apesar de ausentes, zelam pelos vivos compensando ou castigando como for o caso. Até o Ramiro, um rapaz novo de vinte anos, acredita que a sua queda do telhado, de que foi vítima durante a construção da escola, foi um castigo dos antepassados por ter ocultado a verdade do roubo de material. Também a nossa escola foi sujeita a um ritual pagão a fim de sabermos o seu futuro.

E creio que cada região do país terá as suas crenças e os seus rituais.

(iv) A língua de comunicação é oficialmente o tétum e o português. 

Mas pelas ruas, aos balcões, nas repartições, nos mercados, nas escolas o que ouvimos é uma mistura linguística que umas vezes facilita e outras vezes complica. A língua indonésia (o Bahassa) ainda está muito arraigada nesta gente. 

Primeiro porque foi imposta com a criação de uma boa rede escolar e com castigos (punição e morte) a quem ousasse falar o português. Depois porque os jovens e a gente dos trinta e quarenta, que são a garantia da sociedade futura, ainda falam corretamente esse idioma. Por fim, há uma grande comunidade de indonésios que mantêm o comércio timorense e que, como é natural, falam constantemente no seu idioma.

Acresce a tudo isto a vontade dos australianos desejando a todo o custo que este povo fale o inglês. Apesar das promessas com que acenaram, o governo timorense de então decidiu que a segunda língua oficial seria o português. Como diz o grande amigo João Crisóstomo “ Timor deve muito da sua independência à igreja e à língua portuguesa”.

O grande problema é saber como é que se vai expandir o ensino do português. Há outras línguas que estão a recuperar e a avançar, como seja o espanhol, por influência dos médicos cubanos, e o inglês graças à pressão australiana e léxico utilizado nos negócios e intercâmbios comerciais. Os governos de cá e de lá têm feito esforços para atenuar o problema. Mas, os que estamos no terreno, damo-nos conta de que isso não é suficiente.

Tem de ser feito muito, mas muito mais. Timor Leste é um pequeno território mas com muita variedade. E é assim que este pequeno país de vai edificando, com reconhecimento e apreço internacional no contexto
das nações, no mundo.

03.04.2018, terça feira - Prolongação de estadia

A data do regresso a Portugal aproxima-se. Mas, não sabendo ainda se há necessidade de prolongar a nossa estadia, pelo sim pelo não fomos ao Ministério da Administração Interna requerer o prolongamento por mais dois meses. 

Depois das formalidades cumpridas, incluindo o pagamento de setenta dólares por cabeça, cá estamos à espera do despacho que, se não vier em devido tempo, para nada nos servirá pois teremos de deixar este país o dia 21 de Abril.

Entretanto, outras tarefas estão a pedir o prolongamento da nossa estadia. Agora é a UNTL (Universidade) que decidiu comemorar o aniversário da independência, dia 20 de Maio, com a exposição “Lameta. Contributo das comunidades luso americanas para a independência de Timor Leste” do nosso amigo João Crisóstomo. Sendo nós (Escola São Francisco de Assis em Boebau) os depositários dos materiais para a referida exposição, e a solicitação do Dr. José Ascenso que é o elo de ligação com a UNTL, teremos de dar o corpo ao manifesto para que a exposição corresponda ao interesse manifestado.

Outras andanças relativas à escola em Boebau merecem o prolongamento da estadia: registos, professores, ano escolar de  2019, acabamentos e melhorias no edifício escolar, reuniões, encontros...

Vamos a ver até onde chegará a nossa resistência: umas vezes apetece partir; outras vezes apetece ficar. Com certeza que a necessidade determinará a nossa decisão.

(Continua)

(Título, excertos, revisão / fixação de texto, itálicos e negritos:  LG)
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Guiné 61/74 - P25698: Parabéns a você (2286): José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884 (Jolmete, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)


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Nota do editor

Último post da série de27 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25687: Parabéns a você (2285): Vítor Caseiro, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4641/72 (Mansoa, Braia, Infandre e Ilondé, 1973/74)

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25697: (In)citações (268): Desertar ou cumprir a missão ao serviço da Pátria, mesmo sabendo que o regime, irracional e anacronicamente, entendia o colonialismo como um processo moral e legal? (António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro)

Porta de Armas do Quartel da Serra do Pilar
Foto: © António Tavares, ex-Fur Mil SAM

1. Mensagem do nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), com data de 27 de Junho de 2024:

Estávamos ali reunidos em formatura na parada do quartel da Serra do Pilar, para a despedida da praxe.
Dentro de breves minutos entraríamos nos autocarros que nos deixariam no aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa. Só um camarada faltou à chamada, por ter resolvido desertar, como no decurso desse mesmo dia vim a confirmar.

Não sei o que cada um dos presentes pensou da sua atitude, sei que eu próprio me interroguei se não o deveria ter imitado. E da interrogação fui evoluindo para a certeza de que se estava a cumprir uma missão ao serviço da Pátria, essa missão era um erro do regime que irracional e anacronicamente entendia o colonialismo como um processo moral e legal.

Ao longo do cumprimento da minha missão no sul da Guiné, durante penosos 26 meses, fui compreendendo que, para além da injustiça de um povo governar outro sem prévio acordo do governado, a guerra, mesmo que fosse legítima, era cada vez mais insustentável e conduzia a um morticínio inútil de jovens de pouco mais de vinte anos e sequelas físicas e mentais em muitos outros.

O ano de 1973, quando o PAIGC passou a ter a capacidade para praticamente neutralizar a nossa Força Aérea, tornou-se decisivo para convencer os Capitães de Abril a evoluírem da sua feição corporativa para um movimento revolucionário capaz de derrubar o regime. Pena foi que não houvesse condições políticas para o fazerem antes de 1974.

Nesse mesmo dia 27 de Junho de 1972 chegámos a Bissau, para ainda na madrugada do dia 28 sermos despejados na ilha de Bolama. O resto fica por contar.

Estou muito grato aos Capitães de Abril, sobretudo por terem terminado com a guerra.

Carvalho de Mampatá

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Nota do editor

Último post da série de 24 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25678: (In)citações (267): Compensações às colónias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)