sexta-feira, 23 de julho de 2010

Guiné 63/74 – P6779: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (5): Só à pedrada

1. Mensagem do nosso camarada José Martins com data de 19 de Julho de 2010:

Caros amigos e camaradas
Segue mais uma «Divagação de reformado», do nosso amigo e camarada Coronel Pacífico dos Reis.

Um abraço
José Martins


DIVAGAÇÕES DE REFORMADO

5 - Só à Pedrada

Um dos grandes meios para divagar, nos tempos que correm, é a internet. Não só pelas beldades que vão aparecendo no pequeno ecrã dos portáteis, mas também pela avalanche de informações que nos é debitada todos os dias. No meio dessa catadupa aparece um extenso anedotário figurativo do pulsar social dos diversos países. É o caso paradigmático da estória que ocorreu na “Internete”, em castelhano, que é o reflexo do que se passa na nossa sociedade. Passo a contar, Um ladrão, de cara tapada, abordou um cidadão de “uma certa idade” e exigiu-lhe o relógio. Verificando que era uma imitação barata de um “Rolex” invectivou o ancião e pediu-lhe a carteira. O pobre cidadão deu-lhe a carteira, uma imitação barata de “Pierre Cardin”, com uns míseros cinco euros no interior. O ladrão ia entrando em apoplexia e disse-lhe: - Como é que só tens isto na carteira? O pobre velho respondeu-lhe: “É verdade que tenho pouco, sou coronel reformado!” Ao ouvir isto, o ladrão tirou alegremente a máscara e disse – “Coronel! E de que curso é que tu és?”

Esta anedota corre em Espanha, onde os coronéis ganham três vezes mais do que em Portugal, têm melhores condições sociais e os artigos nos supermercados são muito mais acessíveis que os nossos Continentes, Pingos Doces, Jumbos e similares.

Realmente a nossa geração é bastante azarada. Tivemos uma infância pós-guerra, com todas as limitações daí resultantes. Uma juventude marcada pela pseudo-didatura. Uma idade adulta na guerra do Ultramar. E agora, no final da vida, temos o espectro de ficarmos completamente limitados devido ao estado a que chegou o nosso País, resultante da má gestão, corrupção, falta de profissionalismo de alguns dirigentes que governaram e governam este Portugal. Precisamos somente de profissionais honestos em todos os níveis sociais.

Foto de alguns elementos da força de recuperação. (DR)

Adiante. Passemos às recordações de outros tempos.

Na nossa Companhia, os “Gatos Pretos”, muitas vezes tínhamos uma falta de comunicação, tantos os dialectos que se falavam. Para complicar, tínhamos muitas das vezes que falar em francês pois, devido à fronteira com o Senegal, alguns senegaleses vinham cumprir o serviço militar à Guiné. Tinham farda de “borla”, ganhavam bem comparativamente com a restante população e a guerra era coisa que lhes estava no sangue.

O nosso apontador do morteiro 81 era um caso típico. Como comandante, tive que aprofundar o meu francês, que aprendi no Colégio Militar, para lhe dar direcções de tiro. Sucedeu que, durante uma missão de bombardeamento à zona do Boé, um T6, por falha do motor, despenhou-se a cerca de dez quilómetros do nosso aquartelamento de Canjadude. O piloto foi retirado por meio héli, mas subsistia o problema de recuperação do motor. Recebemos uma mensagem para efectuar, com urgência, a recuperação do motor. O problema que se me deparava no momento resultava da falta de dois pelotões, por terem ido fazer uma coluna de reabastecimento ao Gabu. Assim, logo que chegaram os mecânicos da Força Aérea, arrancamos com duas viaturas e muito poucos militares, alguns até dos serviços de apoio como a secretaria e cantina. Juntei-lhes o apontador senegalês com a sua arma. Ao chegarmos ao local estabeleci o perímetro e coloquei o morteiro no centro do mesmo. No meu melhor francês indiquei os objectivos a bater, nas direcções prováveis de um possível ataque In, que poderia vir explorar a queda do T6. Virei costas e dirigi-me ao avião acidentado para controlar os trabalhos em curso. Ao chegar ao local ouvi uma “saída de morteiro”, indicador certo de que vinha uma granada a caminho. Gritei ao pessoal para se abrigar e pouco depois ouvi uma explosão ao longe. Tal facto surpreendeu-me, porque os “turras” não costumavam falhar quando lançavam os seus presentes de 82. Corri para o nosso morteiro e constatei que o nosso bom senegalês percebera muito bem quanto aos objectivos, só não tinha percebido que tinha de ficar em “stand by”. Claro que tudo se resolveu e conseguimos recolher o motor do T6 em tempo recorde e sem acordar o In.

Foto do motor recuperado, em cima da viatura. (DR)

Esse mesmo senegalês, quando atacaram o nosso aquartelamento e os turras foram ao arame e tentaram entrar pela área da tabanca, conseguiu, sem aparelho de pontaria e fazendo quase tira na vertical, enfiar uma salva de cinco granadas entre as duas fiadas de arame farpado, que os fez desistir do intento. Deixaram alguns restos humanos mesmo junto à fieira de arame farpado, o que demonstrou que ele trabalhava melhor sem as minhas indicações em francês.

Quem nunca esteve na Guiné talvez não compreenda que se possa passar sede. Na zona do Gabu, na estação seca, todas as vias fluviais pequenas desapareciam e a bolanha ficava seca e gretada. A nossa companhia ia buscar água a uma ribeira que passava a cerca de cem metros do aquartelamento. No tempo das chuvas era um rio portentoso, onde até se podiam pescar lagostins, na época seca desaparecia.

Já no final da época seca começamos a fazer racionamento de água. Ninguém tomava banho, toda a água era para beber e fazer comida. No entanto, a estação seca prolongou-se e já nem havia água para fazer comida. Já nem ligávamos ao cheiro que todos emanávamos. O dilema do comandante, sobre se havia ou não de pedir reabastecimento de água por héli, começava a pesar-me. Decidi-me e sentei-me na minha secretária (feita de caixotes de sabão) para redigir uma mensagem relâmpago. Estava a escrever quando ouvi uma gritaria no exterior do armazém de mancarra que nos servia de abrigo.

Saí para o exterior e julguei que estava tudo doido. Só via pessoal em cuecas, com barras de sabão na mão a apontar para oeste. Olhei e vi, com espanto, uma parede negra de água a caminhar em direcção do quartel. Só então me apercebi que tinha começado a estação das chuvas e que ela vinha em nossa direcção. Ainda deu tempo para ir buscar o meu sabão e desistir da mensagem relâmpago.

Agora começo a pensar em tudo o que passámos, todos juntos, e julgo que para nós eramais fácil a nossa missão ser levada a bom termo, por estarmos a defender uma parte integrante do Território Nacional. Ganhávamos mal, tínhamos dificuldade na alimentação, tudo junto com as agruras do clima e depois ainda tínhamos os “turras” para “cuidar”. “Turras” que tinham melhor armamento do que aquele que nós usávamos. Mas defendíamos a Pátria. Todos nós.

Agora é muito mais difícil. Como vamos explicar aos nossos militares que vão para o Afeganistão, Iraque, Líbano, Kosovo, etc, que estão a defender a Pátria? Ainda por cima com um corte orçamental de 40%. Será que vão defender a dita civilização ocidental à pedrada? Haverá dinheiro para pedras?

Notas:
1 – O texto também foi publicado na revista ASMIR de Mar/Abr 10.
2 - Na revista as fotos estão atribuídas ao ex-Furriel de Trms José Martins. Não é possível, já que na altura em que foram tiradas as fotos, o mesmo era o “Comandante de Canjadude” por ser, na altura, o militar com maior graduação no aquartelamento, pelo que as fotos seguem com DR (Direitos Reservados)



RELATÓRIO DA OPERAÇÃO “RECUPERAÇÃO” EM 22FEV69

01. Situação Particular

A Unidade encontra-se destacada em Canjadude com 02 Grupos de Combate, conjuntamente com a CART 2338, com um efectivo de 03 Grupos de Combate. Tem esta Unidade um destacamento em Cabuca com 1 Grupo de Combate e em Nova Lamego 1 Grupo de Combate.
(1 Grupo de Combate da CART 2339 e 1 Grupo de Combate da CCAÇ 5, assim como as viaturas pesadas, encontravam-se empenhadas numa coluna de reabastecimento a Nova Lamego, com inicio em 22 e termo em 23FEV69, ao fim da manhã)

02. Missão da Unidade
Montar a segurança à equipa da Força Aérea que iria recuperar o motor do T6 em 14151200 A1.

03. Força Executante
a) Capitão de Cavalaria Pacífico dos Reis

b) 1 Grupo de Combate da CART 2338 – Furriel Grosso
    1 Grupo de Combate da CART 2338 – Furriel Raposo
    1 Grupo de Combate da CCAÇ 5 – Alferes A. Sousa

c) 3 Grupos de Combate

d) Flanco esquerdo 1 Grupo de Combate da CCAÇ 5; flanco direito 2 Grupos de Combate da CART 2338.

e) 1) 3 Carregadores nativos e 1 guia a cargo da CART 2338.
    2) 2 Granadas de mão defensivas e 1 granada de mão ofensiva por homem; 2 elementos com dilagrama por grupo de combate, 1 Morteiro 81 e 1 Metralhadora Pesada BREDA.

3) -----------------

4) Reforço de 3 cunhetes de munições 7,62 mm; 10 cunhetes de Morteiro 60; 10 cunhetes de LGF.

5) -------------------

6) Material de Transmissões:
34 Onkyos
1 PRC-10
Telas

04. Planos Estabelecidos
Fazer uma coluna com os 2 Unimogs existentes com guarda de flanco até à zona onde se encontrava o T6. Nesse local fazer protecção circular ao avião. 1 Grupo de Combate sobre a estrada. 2 Grupos de Combate em redor do avião.

05. Desenrolar da Acção
Partiu-se de Canjadude em 221630FEV69 tendo a coluna chegado junto do avião, que se encontrava a cerca de 10 Km de Canjadude em 230830FEV69, tendo durante o caminho sido feito o que estava planeado. Junto do avião fez-se a segurança conforme estava planeado. O pessoal técnico da F.A. chegou em 220945FEV69, tendo começado a trabalhar na recuperação. Foram recuperadas todas as peças de interesse, inclusive o motor. Às 13H00 fez-se a destruição do aparelho por meio de explosivos. Chegamos a Canjadude em 221430FEV69.

06. Resultados Obtidos
Recuperou-se as peças essenciais do T6 e o motor

07. Serviços
a) 1 Ração de combate;
b) Água da fonte de Canjadude
c) 1 Auxiliar de enfermeiro e 1 maqueiro.
08. Apoio Aéreo
T6 e Helicóptero canhão depois de chegarem os técnicos da FAP, portanto às 09H45. Antes não houve apoio.


09. Ensinamentos Colhidos
Nada.

10. Diversos
Nada.
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Notas de CV:

- José Manuel Marques Pacífico dos Reis, Coronel de Cavalaria Reformado, ex-Comandante da CCAÇ 5 (Gatos Pretos), Canjadude, 1968/69

- Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6395: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis)(4): Politicamente incorrecto… (José Martins)

Guiné 63/74 - P6778: Contraponto (Alberto Branquinho) (12): Duas visões do Almirante Américo Thomaz

CONTRAPONTO (12)

DUAS VEZES


Duas vezes vi o Almirante Américo Thomaz.

A primeira vez foi durante o desfile do juramento de bandeira na Escola Prática de Infantaria, em Mafra.
A formatura de cadetes saiu pelo portão do lado direito para quem esteja a olhar o Convento de fronte para a escadaria central. Começara com o habitual “Em frente, marche!!” e continuou a toque de caixa, voltando os vários pelotões à direita, para passarem em frente ao Convento. Começou a ouvir-se a charanga de metais, sopro e percussão, que tocava de forma ensurdecedora o “Angola é nossa! Angola é nossa! Angola é nossa!”. A partir desse momento os pés esquerdos batiam o chão a cada duas vezes que entrava a nota correspondente às sílabas “gó” de “Angola” e “nó” de “nossa”. A altura da música era tal que não podia ouvir-se qualquer ordem do comandante, colocado à frente de cada pelotão.

E foi assim que, sem ter ouvido a ordem de “Olhar direit’UP!”, percebi pelo colega (perdão, camarada) à minha frente que devia olhar à direita. Assim olhei, mantendo a cabeça a olhar (rigidamente) nessa direcção.
Foi, então, que vi o Almirante Américo Thomaz em pé e ao centro da escadaria, em cima de um palanque, recebendo e retribuindo o cumprimento militar. Fiquei a olhá-lo e a olhar a comitiva. Só percebi que já tinha havido ordem de “Olhar frente!” algum tempo depois.
A formatura torneou o Convento e regressou à parada pelo portão do lado oposto.

A segunda vez que vi o Almirante Américo Thomaz foi (talvez) em 1975.

Passeava eu com um grupo de amigos, num fim de tarde, em Copacabana, não naquele passeio largo a que chamam “Calçadão”, mas no outro passeio do lado oposto junto aos edifícios, quando um chamou a nossa atenção:

- Olha… o Américo Thomaz.

O Almirante (que, claro, não estava fardado) caminhava lentamente à nossa esquerda e em sentido contrário, mais próximo da beira do passeio, em passos curtos e cuidados, seguido a pouca distância pela filha. Pressentindo estar a ser observado e, talvez pela nossa atitude ou pelo vestuário, terá adivinhado sermos portugueses. Inclinou levemente a cabeça, cumprimentando-nos. Todos correspondemos. Como não íamos em formatura, não houve ordens de olhar à direita (ou à esquerda, como teria sido o caso).

(A História tem destas coisas…)
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Notas de CV:

- Alberto Branquinho foi Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69

- Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6704: Contraponto (Alberto Branquinho) (11): Você é preto!?

Guiné 63/74 - P6777: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (3): Os sonhos do Farinha

1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 21 de Julho de 2010:

Camarada Vinhal
Inseridas nas "Memórias boas da minha guerra", junto duas pequenas histórias: - "Os sonhos do Farinha - Paludismo e Pescaria premiada".
Anexo também duas fotos, para quando as quiserem utilizar; uma é a Equipa
dos graduados de Catió e outra é uma paisagem, também de Catió, com um
futuro canoísta.

Um abraço e até breve
Silva da Cart 1689


MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA (3)

Os sonhos do Farinha I – O Paludismo


O furriel Farinha sonhava em voz alta. E, durante o sono, contava pormenores da sua própria vida, mesmo os mais íntimos. E, quando acordava, não se lembrava de nada. Quando alguém lhe falava do que ouvira, como é lógico, não gostava nada. Penso que, até, se medicava para o evitar.

Tinha regressado de férias, passadas na sua própria terra, lá para os arredores de Guimarães. Quando voltou para Catió, ao fim de poucos dias, já era sabido como passara o tempo de férias.

Claro que ouvíamos só partes, mas ficávamos com a noção do resto. Assim, como a que segue:

- Ó pai, tira-me ali o maço de cigarros estrangeiros do bolso interior do casaco... Ali, em cima, ao pé das cebolas... Isso, do lado de dentro, em baixo... CUIDADO!!! Ias-te fodendo! Se tropeçasses no focinho do porco, caías na fogueira... Tem calma e bista escanada. Vamos fumar agora um cigarro à maneira... Olha para isto, é um Quingue Cise, Saize, como os merdosos dizem... Isso, põe-lhe fogo aí junto aos colhões, enquanto eu lhe levanto a perna... É sempre das partes mais difíceis de chamuscar... Então? dá-me lume... Olha que te queimas, velho... Ai não? Olha para esses dedos todos queimados. Pareces as pretas lá da Guiné, que agarram num tição vermelho, para acender o cachimbo... Sim, Sim, elas fumam de cachimbo e outras até metem na boca o cigarro ao contrário, com o lume para dentro. Estou a reinar, o caralho, é que estou! Eu vi-as, com estes olhos, a meter as mãos na panela ao lume, a mexer o arroz. Não fazes ideia daquilo. Também não admira, nunca saíste da parvalheira... Uma MERDA??? Pois, os teus Kentuques, é que são bons. Os teus cigarros mata-ratos, mais o teu vinho martelado, é tudo uma porcaria, mas como estás habituado, papas tudo e vais morrer consolado.

Volta-se na cama, solta um espirro e continua:

– Já estou fodido. Fodido não... refodido sim... Não, não é constipação, é paludismo. Uma doença que ataca lá, em África. O paludismo é mesmo perigoso... Qual parolismo, qual caralho?!... PALUDISMO, PA-LU-DIS-MO!... Parolismo?!... Parolismo?!... Tu é que me saíste um parolo... Não sei como é que a mãe te quis!


Os sonhos do Farinha II – pescaria premiada

Quase sempre que o furriel Farinha se punha a sonhar alto, a malta prestava uma atenção cuidada, visto que era certo o divertimento. Salvemos aqui algumas ocasiões em que o assunto era mais reservado e mais delicado. É que, além de ele descobrir a vida toda, ficava furioso por não saber o que tinha revelado.

Já estávamos em Bissau, no QG – Quartel General - para o regresso e numa tarde qualquer, em que era normal dormir, ele sonhava e falava assim:

- Olá cara linda... Já sei que te chamas Rosinha, que é também uma linda flor... Assustaste-te? Escusas de ter medo, sabes que até sou muito meigo e não é para me gabar. Já vou sair de trás de ti, para não dizeres que te estou a espreitar as pernas. Bem boas, por sinal. Estás a lavar os teus segredos?... Todas as mulheres têm segredos... Eu? Eu vou pescar, não vês aqui a cana?... Tem peixe, tem. Não acreditas?... Ai apostas?... Apostas a quanto?... Não tens dinheiro, não faz mal. Vamos então fazer um acordo e como estás convencida de que não há peixe, não vai haver problema. Só quero um beijinho por cada peixe... Ai estás a rir? Olha que eu vou ganhar... Pronto, está acordado... Eh, aí está ele, o primeiro! Estás a ver Rosinha? Não fujas, nem penses... Mas um foi por teres tentado fugir. Mas eu vou tirar mais... Outro!... Pequenitos? Tu também não és grande e tens tudo de bom... Outro!... E outro! Hum... Estende ali essa manta... Não, ninguém vê... Hum... Então, querias um peixinho maior?... Ai, larga, olha que me magoas... Que mãos frias! Hum... Hum...”

Nesse momento já estavam mais de dez curiosos no quarto, sentados nas camas à volta a assistir ao espectáculo. E quando o Farinhas já arfava e acelerava a respiração, o Machado deu-lhe um abanão que o acordou. Meio atordoado, esfregou os olhos, coçou os testículos, quando viu aquela malta toda já a disfarçar, fingindo ignorá-lo. E ele, vê-se “encrespado”, de repelão, salta, põe-se de pé na cama, aperta o pénis e grita: - Quem quer saltar ao galho?


Silva da Cart 1689
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Nota de CV:

Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6736: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (2): Sexualmente falando, tudo continua normal

Guiné 63/74 - P6776: Notas de leitura (133): Desertor ou Patriota, de David Costa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
Seria bem interessante se o Alexandre Correia e o José Landim estão de boa saúde e querem contactar o David Costa. Bom seria que os nossos confrades guineenses que tiveram conhecimento deste relato dessem notícia do pedido do David Costa a estes militantes do Morés.

O relato de David Costa não nos surpreende completamente. Falando por mim, recordo que me chegou a Missirá o primeiro cabo Fernandes, que também foi capturado perto de Mansoa, e ainda hoje estou para saber como é que entrou naquele quartel do Cuor. Foi o Aires Ferreira que esclareceu que o primeiro cabo Fernandes não era delírio da minha imaginação, continua a aparecer em todas as reuniões anuais.

Um abraço do
Mário Beja Santos


Com um simples gesto irreflectido, tornou-se prisioneiro do PAIGC

por Beja Santos

Se subsistem dúvidas de que a realidade tem muito mais força do que a ficção, então recomenda-se a leitura de “Desertor ou Patriota”, por David Costa, Editora Ausência, 2004 (227162483, ausencia@clix.pt; esta editora tem uma colecção dedicada a temas da guerra da Guiné).

David Ferreira de Jesus Costa, natural de Fânzeres, Gondomar, foi incorporado em Julho de 1966 e regressou da Guiné em finais de Agosto de 1971. Por aqui logo se pode ver que teve uma comissão com uma duração excepcional. Iremos saber porque é que foi mesmo uma comissão excepcional.

Casou jovem, depois foi recruta no CICA-1, no Porto, a seguir fez juramento de bandeira e foi para o Regimento de Infantaria 6, onde tirou a especialidade de condutor. Ofereceu-se para ser mobilizado, e do velho quartel da Parede foi até ao cais de Alcântara onde embarcou no Uíge. Estamos em Fevereiro de 1967. É agregado à CART 1660, fica em Mansoa, a que ele vai chamar “Mansoa da minha perdição”. A sua odisseia irá começar no dia 17 de Maio desse ano. Trabalhava na secretaria e teve um gesto indigno com o seu camarada Floriano: “Tudo não passara de simples brincadeira com uma carta mal fechada, de qual caíra a fotografia, tipo postal, de uma linda rapariga. Com essa fotografia, destinada ao Floriano, resolvi fazer umas graças, exibindo-a como troféu de grande conquistador. Brincadeira de mau gosto que me saiu tão cara!”. Sentindo-se censurado, num estado de grande perturbação, foi caminhando para fora da unidade, aos poucos, quase sem dar por isso, foi dar perto da estrada para Bissorã. Continuou a andar pela estrada, percebeu que os nativos o olhavam de modo atónito, continuou a progredir quase em estado de automatismo, a certa altura sentiu que estava perdido. De facto, perdera o sentido de orientação, foi avançando no silêncio da noite, viu à distância luz, chegou até junto de um arame farpado de um quartel, sentiu que era imprudente avançar, voltou para o mato.

Estava a dormitar quando sentiu o som de pessoas a aproximarem-se. Apercebeu-se logo que eram guerrilheiros. Interpelado sobre o que andava ali a fazer fora do quartel disse que tinha fugido. Os guerrilheiros falaram entre si e um deles, de nome Alexandre, disse-lhe para não ter medo, eles também não queriam esta guerra com os soldados de Portugal. Alexandre disse-lhe que era engenheiro e que tinha estudado em Praga. E internaram-se na mata do Morés. Aqui foi recebido pelo chefe militar, de nome João Landim. Antes de abandonar o Morés, João Landim e Alexandre disseram-lhe que ia ser enviado para um país amigo e que não seria difícil conseguir que a mulher fosse ter com ele. E assim marcharam para o Senegal, David Costa narra as peripécias da viagem, a alegria com que foi recebido em todas as bases do PAIGC por onde iam passando. David Costa diz que se emocionou muito quando se despediu de Alexandre Correia, gostava muito de o reencontrar.

Em Ziguinchor foi recebido pelo Luís Cabral, deram-lhe uma roupa civil, conheceu Mário Moutinho de Pádua, um médico português, natural de Coimbra, que era responsável pelo tratamento dos guerrilheiros levados para o Senegal. Foi convidado a escrever uma carta dirigida à mulher em que confessava ter fugido a uma guerra injusta. David sabia que aquela carta ia ter pesadas consequências. De peripécia em peripécia, já em Dacar, pede auxílio para regressar na embaixada da Suíça, um avião português veio buscá-lo e assim o David regressou à Guiné, onde o esperavam novas aventuras. Foi tratado como traidor, aliado dos turras, metido em masmorras, submetido a interrogatórios terríveis. A rádio Voz da Liberdade, que emitia a partir de Argel, transmitia uma mensagem do David a dizer que ele fugira da tropa por não estar de acordo com a guerra e convidando todos a desertar, tudo ao som da canção “Os Vampiros” de Zeca Afonso. Os interrogatórios tornaram-se mais duros, parecia que ninguém queria acreditar na sua história e muito menos no passaporte suíço. Passou a ser tratado por “Porco Traidor”. Foi inclusivamente obrigado a tentar refazer o percurso em que se perdera em 17 de Maio. Acabou por ser julgado em 1968 como desertor e a sentença foram 6 anos, 3 meses e 1 dia. Depois de reduzida a pena, foi fixada em 2 anos, 1 mês e 1 dia e levado para as prisões do Quartel-General. O David Costa escreve aqui algumas da páginas mais interessantes da sua narrativa, regista bem o perfil destes homens obrigados a conviver entre a delinquência e as regras sociais da mais dura crueldade. É nisto que o general Spínola visita as prisões, ouve a história do David Costa em privado, pede-lhe que conte tudo sem medo, transfere-o para Bolama, para o Centro de Instrução Militar. É pena que a vontade de abreviar o relato tenha levado o David Costa a omitir praticamente todo este tempo em Bolama.

Em meados de 1971 vai para os Adidos em Brá, estava a aguardar o regresso a Portugal. Aqui, nova imprudência. Embriagado, destrói uma viatura à entrada do quartel. De novo em pânico, pede para ser recebido por Spínola. Este dá-lhe uma bofetada, mas tudo acaba em bem, o soldado condutor 06140/66, David Ferreira de Jesus Costa voltou para a companhia da família, conheceu o segundo filho, emocionou-se. E refez a sua vida.

Assim finalizam estas memórias de um soldado que foi julgado em tribunal como desertor, quando tudo começara por um gesto irreflectido, tendo mentido em diferentes momentos. Considera que foi condenado por um crime que não cometeu, sente-se inocente, em paz com a sua consciência, mas sabendo que a palavra “desertor” consta na sua caderneta militar.

Li “Desertor ou Patriota” graças ao nosso confrade Carlos Gerales que acolheu esta minha súplica permanente de andar a pedir a todos que me emprestem livros que não circulam habitualmente nas livrarias.
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Nota de CV:

Vd. poste de21 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6772: Notas de leitura (132): Alguns Princípios do Partido, de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6775: Convívios (263): Encontro do pessoal da CCAÇ 4740 (Armando Faria)


1. O nosso Camarada e tertuliano Armando Faria (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74), enviou-nos uma mensagem, com data de 20 de Julho de 2010, com notícias da festa da sua Companhia:


Encontro da CCAÇ 4740 em 19 Junho 2010

Camaradas,

Depois da minha última mensagem a solicitar a divulgação do encontro da CCAÇ 4740 e o excelente trabalho por vós desenvolvido, fiquei a dever o relato de tal evento, da grande festa, do grande RONCO que a todos foi dado poder assistir.

Conforme o anunciado a ‘rapaziada’ foi chegando ao recinto de Fátima, trocando abraços e deixando mesmo cair alguma lágrima, aquele sumo que brota do coração quando espremido pela saudade, quando o homem deixa de ter medo de si, esquece o Mundo e se entrega á emoção sadia que purifica a alma, que alivia o coração e retempera o corpo com a força necessária para a jornada seguinte.
Já se vai tornando hábito entre nós, afinal em quatro anos este é o quatro encontro Nacional ao que se juntam os vários locais, Holanda, Norte Portugal, Açores e Canada, mas o melhor mesmo é ver a nossa página http://www.ccac4740.com  onde todos são relatados e apresentados com registo fotográfico, eu mesmo acabo de chegar de mais um nos Açores entre 2 e 10 de Julho 2010, Faial e Pico ao qual se seguirá ainda esta semana outro em S. Miguel, Terceira e S. Jorge com outros companheiros.
Tínhamos anunciado para o encontro de 19 Junho 2010 em Fátima algumas presenças vindas da diáspora, do Canada o Eduardo Barros,  e da Holanda o António Salvador, nosso companheiro da Tertúlia, fomos para grande satisfação nossa presenteados com mais uma visita vinda dos USA, o José dos Santos Medeiros Marques.
Esta é a ponte que a todos nos vai (re)unindo, é este o local eleito pela CCAÇ 4740 para o seu encontro Nacional, local que fica no meio caminho e tudo e no centro de todas as coisas, assim gosto de lhe chamar.
Deixo aqui a foto do grupo ‘militar’ nós e do grupo ‘paramilitar, as ‘nossas’, e algumas das palavras que então lhes dirigi, palavras que queria, se me é dada permissão, estender a todas as mulheres que ao longo das nossas vidas tão sabiamente nos sabem apoiar e amar com o enlevo que só elas, mulheres e mães, sabem e que por essa razão se tornaram as nossas heroínas, para vós mulheres a minha gratidão.
Por último, e os últimos são sempre os primeiros, neste caso as primeiras, uma palavra às nossas mulheres, obrigado pelo carinho com que nos tratam e que tantas vezes parece não sabermos agradecer, vós sois a nossa âncora e o nosso porto de abrigo, sois o nosso amparo e a companheira de todos os momentos, só vós sabeis lidar como ninguém com as nossas casmurrices, fruto de um tempo que nos deixou mossas, que deixou as suas marcas no coração e na mente de todos nós.

Obrigado pela vossa compreensão e por todo o amor com que nos tratais, vós, só por isso já ganhastes o Céu, por favor, não desistais de nós que já não sabemos viver sem a vossa presença, sem o vosso amor e o vosso carinho.
Que Deus vos guarde e recompense por tão nobre missão que é a vossa, a de ser companheira destes ‘velhos teimosos’ e a mãe dos nossos filhos.”
Nesta fase já me encontro a realizar outros eventos aos quais vou passar a chamar “encontros em linha”, é uma experiencia nova que as novas tecnologias permitem fazer, é só instalar o programa certo e podemos estabelecer contacto com vários dos nossos companheiros em simultâneo.
Neste fim-de-semana que findou falei em simultâneo com o Canada, os USA e os Açores.
Noutra ligação com a Holanda, o Norte e os Açores e ainda numa outra com dois companheiros no Faial e um em Lisboa.
Entretanto já se vai preparando o próximo encontro Nacional que será a 18 Junho 2011 em Fátima, mas a seu tempo falaremos melhor sobre o assunto, hoje apenas fica a data para registo na agenda de todos vós/nós.
Assim se vão passando os dias na ‘peluda’ deste ‘furriel’ que um dia teve a ventura de partilhar da vida e da sã alegria da vossa juventude.
A todos um abraço do tamanho do Cumbijã.
Armando Silva Faria
Fur Mil At Inf da CCAÇ 4740
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
21 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6771: Convívios (177): 2º Encontro do pessoal da CART 6254 (Manuel Castro)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6774: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (1): Pedido de colaboração da doutoranda alemã Tina Kramer

1.  Mensagem de Tina Kramer, jovem alemã, aluna de um programa de doutoramento por uma universidade alemã (Frankfurt, se não erro), com  data de 21 do corrente, e com quem já tive uma primeira entrevista exploratória:





Caro Luís, como está?


Escrevi um texto com o intento de explicar o meu tema. Peço a ajuda dos camaradas e amigos da Guiné. Você pode corrigir e, se necessário,  abreviar e modificar, e depois publicar o texto?


Mais além, eu falei com Eduardo Costa Dias [ do CEA / ISCTE]  e ele disse-me que talvez você possa dar-me os dados de contacto das pessoas seguintes:


Pedro Lauret
Carlos Matos Gomes
Mário Beja Santos


Muito obrigada de antemão!


Um abraço
Tina

2. Texto, dirigido ao pessoal do nosso blogue, e assinado por Tina Kramer:

Olá à todos!

Chamo-me Tina Kramer, sou uma dotouranda alemã e vou ficar em Lisboa por 3 meses.

Estou a elaborar a minha tese de doutoramento [, III Ciclo do Ensino Superior,] sobre a Guerra na Guiné-Bissau e como esta está na memória do povo em Portugal e na Guiné-Bissau. Tal significa que eu quero saber quais são os conteúdos da memória, de que maneira e através de que meios as pessoas se recordam dessa guerra. Este seu blogue  já é uma fonte rica de memórias e de história.

Além disso,  quero fazer entrevistas com pessoas que tenha participado na Guerra ou, mesmo que não tenham participado, desde que tenham ligações com este tema ou com a Guiné-Bissau em geral.

Ficaraia  muito contente se vocês conseguirem ter tempo para um encontro comigo.
O meu número de telefone é 917 091 484 e o meu e-mail é Tina-Kramer@gmx.de

Um abraço
Tina

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]


2. Comentário de L.G.:


Foi agradável o nosso primeiro encontro. Esta altura do ano não é a melhor, em Portugal, para encontrar pessoas, marcar encontros, fazer entrevistas. Meio mundo está de férias. O nosso próprio blogue ressente-se disso, reduzindo-se em um terço as visitas diárias... De qualquer modo, dar-lhe-emos toda a colaboração possível. Estou-lhe grato pelas elogiosas referências ao nosso blogue e ao interesse académico e científico que você lhe dedica. Convido os 430 membros do nosso blogue a colaborar consigo, no caso de virem a ser contactados. Poderão igualmente tomar a iniciativa de a contactar. Desejo-lhe boa sorte. Este fim de semana mando-lhe os contactos pedidos. Saudações académicas e bloguísticas. Luís Graça.

Guiné 63/74 - P6773: Tabanca Grande (232): António Marques Barbosa, gondomarense, benfiquista, bom gigante, membro da Tabanca de Matosinhos, ex-Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106 (Bula, 1966/68)















Guiné > Região de Cacheu >  Bula > Pel Rec Panhard 1106, Os Cavaleiros Blindados  (1966/68) > O Fur Mil Cav António Barbosa, natural de Gondomar, hoje reformado da Polícia Judiciária,  benfiquista assumido e destemido num mar de dragões, membro da Tabanca Pequena de Matosinhos, e a partir de agora membro da Tabanca Grande. É uma presença permanente, notada e notória, das famosas 4ªs feiras no Restaurante Milho Rei, por muitas razões e mais uma: com ele ninguém vai aos figos, nem lhe faz o ninho atrás da  orelha... 

Mobilizado pelo Regimento de Cavalaria nº 7, fez parte do primeiro pelotão de Panhards que foi para a Guiné... Bateu toda a região do Cacheu... Só não me explicou como é que um calmeirão, como ele, cabia naquelas latas de sardinha... Estive ontem, com ele, mais uma vez, na Tabanca dita Pequena de Matosinhos... Já era altura de o integrar, de pleno direito, na Tabanca Grande. Sê bem vindo, camarada! De outros camaradas como, por exemplo, o Manuel Carmelita, estou à espera que me mandem as fotos da praxe...


(i) Partiu de Lisboa em 31 de Maio de 1966;

(ii) Desembarcou  em Bissau em 6 de Junho de 1966;

(iii)  Em Bissau, esteve instalado provisoriamente no Forte de S. José da Amura durante o 1º mês;

(iv) Seguiu, em Julho, seguiram,  para o sector de Bula, tendo ali ficado primeiramente integrado no dispositivo e manobra do BCAV 790 e depois no BCAV 1915, com Secções estacionadas em Teixeira Pinto e noutros destacamentos do Sector;

(v) A sua actividade operacional foi esencialmente desenvolvida no apoio às colunas auto de reabastecimentos e operações militares;

(vi) Sofreu 16 emboscadas;

(vii) Locais onde esteve:  Bula, Có, Pelundo, Teixeira, Pinto, Bachile, Cacheum, Binar, Biissorâ, Biambe, Mata Jomete, Mansoa, Naga;

(viii) Regresso: Embarque em Bissau em 26 de Janeiro de 1968 e desembarque em Lisboa a 3 de Fevereiro de 1968;

(ix) Comandante: Alf Cav Bayan.






Guiné- Bissau > Região de Cacheu > Bula > Abril de 2010 > O regresso a Bula, 42 anos depois... O António Barbosa é o primeiro da esquerda... e na ponta direita está o nosso conhecido Xico Alen. A foto foi tirada pelo Manuel Carmelita, se não erro. Em Bula, António Barbosa e os seus amigos da visitaram a Clínica Pediátrica de S. José de Bor, instituição que está receber apoio da Tabanca de Matosinhos.

Fotos: © António Barbosa (2010). Direitos reservados

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Nota de L.G.:

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6772: Notas de leitura (132): Alguns Princípios do Partido, de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
É uma mera referência histórica, permite tomar contacto com os dotes excepcionais desse comunicador que foi Amílcar Cabral.

Se há dado da sua personalidade que eu gostaria de aprofundar ou discutir com intelectuais portugueses e guineenses é o da divisa unidade em torno da Guiné e Cabo Verde que ele considerava um dado inquestionável.
Como se sabe, são hoje raríssimas as vozes que apoiam o sonho de Cabral. Mas o que se questiona, para além da legitimidade do sonho, é se o líder, bem como os demais líderes históricos, não tinham consciência da inviabilidade do percurso e do profundo nível de antagonismo existente entre os dois povos.

Um abraço do
Mário Beja Santos


Um exemplo da comunicação prodigiosa do dirigente Amílcar Cabral

por Beja Santos

Amílcar Cabral era extremamente meticuloso com as comunicações que proferia nos areópagos internacionais, caso das Nações Unidas ou Organização da Comunidade Africana. Igualmente cuidadoso com as suas intervenções como entrevistas ou documentos para distribuição pelos quadros do seu partido. Deixou centenas de páginas com documentos de tese e muitas outras com alocuções improvisadas. O PAIGC efectuou um seminário de quadros, em Conacri, de 19 a 24 de Novembro, durante o qual Amílcar Cabral pronunciou dois improvisos subordinados ao tema “Alguns princípios do partido”. Em Setembro de 1974, a editora Seara Nova publicou estas duas lições magistrais de um comunicador político impar, no 50.º aniversário do seu nascimento.

São alocuções que se lêem de um só fôlego, e quase se sente a vibração, a entoação, a sensibilidade do orador (não esquecer que tudo quanto se está a ler nem revisto foi pelo seu autor, foi pura e simplesmente transcrito de um gravador). É o prodígio de quem se quer fazer persuadir pela razão e pela força das convicções, pelo ardor dos combatentes que tem diante dele. Pelo uso da linguagem, clara e acessível; pelo recurso das imagens, pela consistência da língua, um português de primeira água. Sabendo que há causas que ele defende cuja argumentação era (e continua a ser) discutível, da base ao topo, é inquestionável que Amílcar Cabral sabia medir e captar as audiências. Logo na primeira alocução, o líder do PAIGC debruça-se sobre a “Unidade” e “Luta”, as divisas do partido. Explica como as pessoas são diferentes, fala numa equipa de futebol e na unidade que é necessário ter para obter resultados. E explica como a união faz a força, daqui saltando para uma divisa para ele obsessiva: a unidade da Guiné e Cabo Verde, condicionando a libertação de uma a outra. Passando para a luta, define o colonialismo, as contradições de quem apoia o colonialista, as vicissitudes de quem alinha com a libertação. Refere as bases de apoio de um lado e do outro, defende, justificando, a inexistência de um proletariado do tipo ocidental, apela a uma unidade de forças de diferentes classes, de diferentes elementos da sociedade. Empolgado e sempre a contrariar a história, considera que, por natureza, por história, por geografia, por tendência económica, até por sangue, a Guiné e Cabo Verde são um só. Resta perguntar, à distância destas décadas, o que levou um homem sagaz, de cultura superior, a dizer tais enormidades sobre uma união que nunca existiu. E que todos os líderes africanos, de qualquer proveniência, sabiam não existir. E acena a um espantalho: o imperialismo quer separar a Guiné de Cabo Verde exactamente para manter a submissão. E termina a alocução animando os quadros a perseguir a luta para a conquista da liberdade e a construção do seu progresso e felicidade na Guiné e Cabo Verde.

Na outra alocução, Amílcar Cabral apela ao conhecimento da realidade para que a luta da libertação triunfe rapidamente, na base da unidade. Essa realidade era a Guiné e Cabo Verde e argumenta: “Uma coisa muito importante numa luta de libertação nacional é que aqueles que dirigem a luta, nunca devem confundir aquilo que têm na cabeça com a realidade… Eu posso ter a minha opinião sobre vários assuntos, posso ter a minha opinião sobre a forma de organizar a luta, de organizar um partido. Mas eu não posso pretender organizar um partido, organizar uma luta de acordo com aquilo que tenho na cabeça. Tem de ser de acordo com a realidade concreta da terra. Não podemos pretender, por exemplo organizar o nosso partido de acordo com os partidos de qualquer país da Europa. No começo da nossa luta, nós estávamos convencidos de que se mobilizássemos os trabalhadores de Bissau, de Bolama, de Bafatá, para fazerem greves, para protestarem nas ruas, para reclamarem na administração, os tugas mudariam, nos dariam a independência. Mas isso não é verdade. Em primeiro lugar, na nossa terra, os trabalhadores não têm tanta força como noutras terras. No campo era quase impossível fazer guerras, dadas as condições da situação política do nosso povo e até de interesses imediatos do nosso povo. Assim, tínhamos que adaptar a nossa luta a condições diferentes à nossa terra, e não fazer como se fez noutras terras. Mesmo na questão da mobilização tivemos que considerar o problema na Guiné de uma maneira e em Cabo Verde de outra maneira”. Impetuoso, imaginativo, o líder regressa a 1962, quando o PAIGC ainda não tinha armas e cerca de 200 quadros estavam a ser preparados no exterior. Lembra a complexidade do mosaico étnico, a necessidade dos quadros se movimentarem de uma região para a outra para conhecer a realidade e recorda que não há sucessos militares sem um trabalho político adequado. Recorda ao auditório que o homem chegou à Lua e regozija-se porque a realidade dos outros têm grande importância para o evoluir da luta do partido. E passa para a descrição da realidade geográfica, económica, social, cultural da Guiné e Cabo Verde. É impossível não se ficar surpreendido, à distância destas décadas, pela sua capacidade em distinguir o que é dissemelhante e o que é controversamente complementar.

Lendo as intervenções de um homem que será assassinado quatro anos depois, sabe-se lá se por alguns dos quadros que os estão a ouvir em 1969, em Conacri, é impossível contornar o magneto de um líder que estava absolutamente convicto que criara a coesão entre guineenses e cabo-verdianos. Termina lembrando aos seus camaradas as condições em que formara o PAIGC e o cepticismo na maior parte dos seus amigos que lhe disseram que tudo aquilo era uma doidice. Doidice ou não, Amílcar Cabral recorda aos presentes que a formação do PAIGC em tais condições adversas fora o ponto de partida para uma realidade nova.

Trata-se de um testemunho histórico de belas peças de oratória num português irrepreensível, o que não surpreende para quem conheça a sua obra política e científica, a partir dos anos 50.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6747: Notas de leitura (131): Cambança Guiné Morte e vida em maré baixa, de Alberto Braquinho (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6771: Convívios (262): 2º Encontro do pessoal da CART 6254 (Manuel Castro)


1. O nosso Camarada Manuel Castro, que foi Fur Mil At Art da CART 6254/72, enviou-nos em 16 de Julho de 2010, o programa do almoço/Convívio da sua Companhia, cujo ressort assentou alicerces em Olossato e no Dugal, 1972/74:

Camaradas,
Os ex-Combatentes que fizeram parte da Companhia de Artilharia 6254/72 e esteve sediada no Olossato, e no Dugal, vão levar a cabo, no próximo dia 11 Setembro de 2010, o seu 2º Almoço/Convívio.
O programa da festa é o seguinte:

Um abraço
Manuel Castro
Fur Mil At Art da CART 6254)
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6752: Convívios (176): Encontro do pessoal da CART 6250 "UNIDOS" DE MAMPATÁ (Luís Marcelino)

Guiné 63/74 - P6770: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (3): De Agosto de 1971 a 19 de Março de 1972 (Carlos Vinhal)


FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DA CART 2732 (3)

CAPÍTULO II

ACTIVIDADES MAIS SIGNIFICATIVAS NO TO DA GUINÉ


(Conclusão)


Em 08AGO71, 2 GCOMB reforçados com 1 SEC MIL.ª foram empenhados na operação XAROPE, em que tomou parte a 27.ª Companhia de Comandos. Foram capturadas 2 mulheres e 1 criança em Mantida. As NT foram flageladas com morteiro 60 e armas automáticas sem consequências.

Em 10AGO71, chegou a CART 3417 a fim de lhe ser dado o treino operacional. Foi escoltada desde Mansoa por forças da CART 2732.

Em 23AGO71, foi empenhado 1 GCOMB da CART na base de fogos à operação XISTO, na região de Mantida em que a 27.ª Companhia de Comandos e a CCAÇ 2753 foram helitransportadas. Foram destruídas várias tabancas com muitas moranças, tendo sido capturadas 5 mulheres, 1 criança, 4 canhangulos, 1 espingarda Mauser e documentos diversos. Um GCOMB recolheu com viaturas na bolanha de Manhau, as forças da operação XISTO.

Em 28AGO71, cerca das 13H30, o Comandante da CART 3417 ficou ferido por ter pisado 1 mina AP, durante o treino operacional que lhe era dado pela CART 2732 em acções de patrulhamento e emboscadas. O incidente ocorreu na bolanha de Manhau. Um dos Pelotões da CART 2732 deslocou-se ao local a fim de evacuar o Comandante da CART 3417. O Furriel de Minas e Armadilhas da CART 2732 procedeu ao rebentamento de mais 2 engenhos explosivos. Ao fim da tarde, porque o dia estava muito chuvoso e não fosse possível efectuar qualquer vôo em segurança, foi efectuada coluna auto a Bissau para evacuação do ferido para o HM 241.

Em Agosto de 1971 o Comandante da CART 2732, Domingos Alberto Pinto Catalão, foi evacuado para o HMP de Lisboa.

Em 17SET71, 2 GCOMB empenhados na operação XAVEGA com a 27.ª Companhia de Comandos e a CCAÇ 2753, actuando em conjunto, tiveram um contacto com 1 Bigrupo IN, durante 15 minutos. Reflectiu-se o contacto mais tarde. As NT tiveram 2 feridos, causando ao IN 9 mortos confirmados.

Em 29SET71, 2 GCOMB empenhados na operação XERETA com 27.ª Companhia de Comandos e Destacamento de Cutia, não tiveram contactos.

Em 16OUT71, 2 GCOMB empenhados na operação XIMBEQUE, levada a efeito na zona de Mantida e em que tomou parte a 27.ª Companhia de Comandos, sem consequências. No transporte das tropas para a ZA, uma Daimler accionou 1 mina AC, causando 1 ferido que foi evacuado.

Mansabá > Autometralhadora Daimler sinistrada junto ao Bar de Sargentos

Em Outubro de 1971 apresentou-se na CART 2732 o Cap Mil Armando Vieira dos Santos Caeiro destinado a substituir o Cap Art Domingos Alberto Pinto Catalão, evacuado para o HMP em Agosto.

Em 10NOV71, foram empenhados 2 GCOMB na operação BICHO BRAVO com a finalidade de fazer a ligação física entre Mansabá e Olossato. As NT partiram de Bironque até à bolanha de Bissagage. Seguiram para norte de Coli Sare onde foram detectados 2 trilhos muito batidos, muita população e lavras em BINTA-7 I 0-99. As NT efectuaram vários golpes de mão, capturando 5 mulheres e 5 crianças. Em 11 05 00, o IN bateu com morteiro 82 e armas ligeiras, a região acabada de percorrer, sem consequências.
Do Olossato para Mansabá as NT deslocaram-se rm meios auto em virtude do seu estado de  esgotamento, onde chegaram cerca das 19H30.
Operação comandada pelo Major Correia de Campos, Comandante do COP 6.

De 12 a 17NOV71, 2 GCOMB tomaram parte na interdição dos corredores Lamel e Sitató, regressando a Mansabá no dia 17 às 12h30.

Em 29NOV71, 1 GCOMB emboscou em Mansomine e detectou a aproximação de grupo IN com cerca de 40 elementos que se dirigia para Mansabá. As NT abriram fogo com todas as armas, tendo o IN ripostado com armas automáticas e RPG, pondo-se em fuga desordenada, com feridos confirmados.

Em 30NOV71, 1 GCOMB REF efectuou picagem e patrulhamento da estrada Mansabá-Bafatá, até Manhau.
Efectuou patrulha na região de Mansomine-Cocuto-Farim 4C5-4E5, tendo encontrado 1 granada de morteiro 82 abandonada pelo IN, no dia anterior na sua fuga, e vários locais de instalação e numerosos trilhos de fuga, na direcção de Manhau. O IN foi estimado em cerca de 200 elementos que provavelmente vinham atacar Mansabá.

Em 02DEZ71, 1 GCOMB efectuou coluna auto ao K3 para transportar material diverso e recolher lenha no regresso. Na região de Madina Fula foi emboscada por 1 grupo IN estimado em 50 elementos armados de RPG, armas automáticas e CSR. As NT reagiram com toda a prontidão ao intenso fogo IN que tentou assaltar as viaturas, sendo repelidas. A Artilharia de Mansabá apoiou as NT que tiveram 4 feridos graves também evacuados, 6 feridos ligeiros, 4 elementos da população ligeiramente feridos e 2 viaturas Berliet danificadas. O IN sofreu baixas prováveis. Nesse mesmo dia pelas 18h30 Mansabá foi flagelada com morteiro 82, CSR e armas automáticas, durante 15 minutos, sem consequências.

Uma das duas viaturas Berliet da CART 2732 danificadas por fogo IN em 02DEZ71.

Em 03DEZ71, 1 GCOMB empenhado numa coluna auto de reabastecimento para Farim detectou 1 mina AC a 100 metros a sul do Bironque. A mesma foi levantada pelos furriéis de Minas e Armadilhas da CART 2732.

Bironque, 03DEZ71 > Mina AC TM46 detectada pelos picadores e levantada pelos dois furriéis da CART 2732

Em 06DEZ71, pelas 11h15, 1 GCOMB (+) e 1 SEC MIL.ª 253 efectuou coluna auto a Mansoa a fim de transportar militares. No regresso, em MAMBONCÓ-3 F2 56 foi emboscado por grupo IN estimado em 50 elementos armados de RPG, granadas de mão, armas automáticas e morteiro 82, durante 20 minutos. O IN instalado a 2 metros da estrada atacou as viaturas com RPG e granadas de mão tendo vários elementos IN chegado ao alcatrão no intervalo das viaturas. As NT reagiram pelo fogo com todas as armas obrigando o IN a recuar. De Cutia, assim como de Mansabá sairam GCOMBs em socorro das tropas emboscadas. A Artilharia de Mansabá e a FAP também deram o seu apoio às forças emboscadas. As NT sofreram 1 morto imediato (Soldado Vieira do 3.º Pelotão da CART 2732), 11 feridos graves evacuados para o HM 241 de Bissau, dos quais 2 morreram, 9 feridos também evacuados e 8 feridos ligeiros, 1 Unimog 404 e 1 Unimog 411 destruídos. Um dos militares falecidos no HM 241 foi o Soldado Barbosa do 3.º Pelotão da CART 2732.

O Unimog 404 atingido por fogo IN no dia 06DEZ71, durante a emboscada à coluna auto em Mamboncó

Em 10DEZ71, Mansabá é novamente flagelada com CSR, morteiro 82 e armas automáticas ligeiras, durante 25 minutos, causando 1 ferido ligeiro e estragos diversos. As NT reagiram com morteiro 81 e obus 8,8 sobre as possíveis bases de fogo do IN e possíveis locais de retirada.

Em 30DEZ71, pelas 18h20, Mansabá é flagelada com CSR durante 15 minutos sem consequências. As NT reagiram prontamente com obús 8,8 e morteiro 81 sobre as possíveis bases de fogo.

Em 31DEZ71, um acidente com granada de mão defensiva, entre militares da 27.ª CComandos, causou 5 feridos graves.

Manhau, 11JAN72 > Os Furriéis de Minas e Armadilhas da CART 2732, Vinhal e Sousa (segundo e quarto, de pé, a partir da esquerda) acompanhados por escolta de luxo, a 27.ª CComandos

Em 17JAN72, a CART 2732 completou 21 meses de comissão na Guiné.

Em 21JAN72, a CART 2732 completou 21 meses de permanência em Mansabá.

Em 08FEV72, começou a rendição da CART 2732. Apresentaram-se em Mansabá 2 GCOMB da CCAÇ 2753, pelo que 2 primeiros GCOMB da CART partiram para Bissau.

Em 22FEV71, a CCAÇ 2753 assume a responsabilidade do Sector de Mansabá.

Em 23FEV72, os 2 últimos GCOMB da CART 2732 deixaram Mansabá com destino a Bissau.
Nesta data fica a CART 2732 atribuída ao COMBIS.
É empregue em patrulhamentos e emboscadas nocturnas nas áreas suburbanas de Bissau e rusgas nos bairros periféricos da cidade.
Cessou a sua atribuição em 13MAR72.

Em 11MAR72 vai efectuar-se a cerimónia de despedida que será presidida por Sua Excelência o General e Comandante-Chefe das Forças Armadas - General António de Spínola.

Em 19MAR72, cerca das 18h00, 1 Boeing da FAP levantou do aeroporto de Bissalanca levando a bordo o pessoal da CART 2732 com destino a Lisboa.
Os militares naturais da Ilha da Madeira, seguiram no dia seguinte para o Funchal.
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Notas de CV:

O trabalho apresentado foi baseado no Relatório:
"GUINÉ 70 71 72 - FACTOS E FEITOS DA CART 2732"

Vd. postes de:

17 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6754: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (1): De Abril a Dezembro de 1970 (Carlos Vinhal)
e
19 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6760: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (2): De Janeiro a Julho de 1971 (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P6769: Estórias cabralianas (61): Os Poderes do Professor Wanatú... (Jorge Cabral)


Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Máscara bijagó

Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados



Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 26 de Junho de 2010 > O heterodoxo Jorge Cabral, de punho erguido (e dedo descaído) como nos heróico-operáticos dos tempos da guerra do Cuor,  entre o Jorge Picado (o bravo capitão miliciano ilhavense que, além dos 4 filhos legítimos, arranjou mais uma centena e meia de adoptivos,  aos 32 anos) e o Hélder de Sousa (o homem da TSF no CTIG, que tinha um poster do Che Guevara no quarto em Bissau, longe do Vietname)... Não foi possível identificar a misteriosa bajuda, que está do lado direito, escondendo o rosto... (LG)

Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados


1. Texto, com data de ontem, enviado pelo  Jorge Cabral, com "votos de boas férias" (descodificando: dias e dias de (in)actividade  retemperadora,  para todo o mundo, os que trabalham, os que já trabalharam, os que ainda não trabalham, e até os que nunca trabalharam... (LG)

Histórias cabralianas > Os poderes do Professor Wanadú um quasi macaréu na Reboleira
por Jorge Cabral


 Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram.

Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome.

Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô!

Lá se foi a regressão…

Por isso quando, um primo de um primo do Idrissa, antigo aluno, me pediu para defender o Professor Wanatú, nem hesitei. Segundo a publicidade inserida no matutino, tratava-se de "um Mago Senegalês, transpsicólogo, perito em magia branca e negra, que resolve todos os problemas, amor, amarração, negócios, mau-olhado, inveja e maus vícios… com honestidade".

Acusado de trinta e dois crimes de burla, encontrava-se em casa com pulseira electrónica. Obtida a morada do Professor na Reboleira, logo no dia seguinte, fardei-me de Advogado e,  depois de muitas voltas, consegui dar com a casa, um pequeníssimo apartamento, no qual fui recebido pelo Mago, a Mulher e duas «cunhadas».

Consultada a acusação, descobri sem espanto que o Wanatú se chamava Mamadú, e nascera na Guiné-Bissau.  Após a Independência vivera no Senegal, vindo depois para Portugal.

Logo que entrei,  ele começou a protestar a sua inocência e eu nem o ouvia…

Não sei o que me deu mas regressara quarenta anos atrás e de novo Alfero, só tinha olhos para uma das «cunhadas» - Binta - alta, bela, elegante, futa-fula sem dúvida. Cheirava ao Geba… e eu já me imaginava um Macaréu avançando naquele rio. Mas que fazer?

O Professor Wanatú não podia sair de casa. Era preciso aguardar o Julgamento, esperar que se safasse para retomar o trabalho no seu consultório, na Travessa das Gaivotas.

Então talvez a cunhada ficasse só… e Macaréu!...

Chegou o dia da Audiência. Fui tão brilhante na Defesa que as vítimas é que iam sendo condenadas…

O Professor Wanatú foi absolvido. Voltou a dar consultas. Está próspero. Já tem quatro «cunhadas». Por mim tentei oito vezes, visitar a bela Binta e nunca consegui. Quando estou prestes a chegar à Reboleira, o carro avaria. Tenho receio de ir de comboio, não vá haver um descarrilamento…

É que o Professor Wanatú possui mesmo grandes poderes…
Jorge Cabral
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Nota de L.G.:



terça-feira, 20 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6768: Ser solidário (81): A água já corre em Amindara (José Teixeira)

A ÁGUA JÁ CORRE EM AMINDARA


OBRIGADO a todos que colaboraram neste projecto.

 

Foram bastantes, os camaradas que corresponderam ao apelo – SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU.

Num tempo em que o mundo e, particularmente o nosso País atravessam uma terrível crise económico-financeira, o apelo foi ouvido. Ecoou bem fundo nos corações dos combatentes da Guiné nos anos sessenta e setenta, não esquecendo outros amigos da Guiné-Bissau que quiseram contribuir.

Em apenas alguns meses conseguimos o capital necessário para abrir o poço e montar todo o equipamento necessário para que a água subisse à superfície da profundeza de 18 metros para o bem-estar dos habitantes da tabanca de Amindara.

Creio que devemos sentirmo-nos em festa tal como a população de Amindara.
Aqueles que contribuíram, sentem com certeza que com a sua pequena ou grande oferta (dependendo da capacidade financeira de cada um) contribuíram para a construção de um mundo melhor, naquela pequenina parcela de terra na Guiné-Bissau.

O melhor agradecimento que a Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, ONG, pode sentir à distância de mais de cinco mil quilómetros, foi a expressão de alegria e felicidade dos habitantes de Amindara.

Certos de que estamos a expressar os sentimentos da população Amindarense, queremos expressar a todos quantos contribuíram o nosso MUITO OBRIGADO.

Queremos expressar também os nossos agradecimentos à AD- Acção para o Desenvolvimento na pessoa do querido amigo Carlos Schwarz (Pepito) e a todos quantos colaboraram na obra sobre a sua orientação técnica.

José Teixeira
20JUL2010

A alegria das mulheres
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Nota de CV:

Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6729: Ser solidário (80): Região de Tombali, sector de Bedanda, Cantanhez: Amindara em Festa, com a inauguração do 1º poço comunitário (Pepito / José Teixeira)

Guiné 63/74 - P6767: Controvérsias (98): O QP não desapareceu (e eu não fui lorpa), apenas reduziu o seu contributo, porque... não há omeletas sem ovos (Morais da Silva, ex-Cap Art, CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)


Paisagem, pintura de Augusto Trigo (n. 1938). Em exposição no hall de um banco, em Bissau, o BCAO. Com a devida vénia ao pintor (que vive actualmente em Portugal), ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD - Acção para o Desenvolvimento (que detém os direitos da imagem no seu site Guiné-Bissau). Parafraseando o título do poste do nosso blogue, de 6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2244: Cusa di nos terra (12): Ainda vi burros em Bafatá (Beja Santos), o nosso leitor (e camarada de armas) Morais da Silva diz que não é nem quer passar por... lorpa. (LG)


1. Mensagem do Cor Art Ref Morais da Silva:

Caro Luís Graça

Confesso-me farto de ser considerado lorpa pois continua a haver quem julgue que a malta do QP não andava de olho em cima das escalas de mobilização para evitar ou, no mínimo, dissuadir os chicos espertos que sempre existem.

Jorge Canhão concluiu agora que, afinal, só a partir de 1971/72 o QP se baldou embora acrescente que esta "reviravolta" coincide com o agravamento da guerra (opinião dele que não minha). É pena que em tempo útil não o tenha dito mas, paciência.

Resolvi ver os números outra vez e rebater o que diz Jorge Canhão.

Se soubesse o e-mail deste, endereçava-lhe o artigo e solicitava-lhe uma resposta (**). Mas como não o encontro,  anexo o que escrevinhei para publicar, se o entender conveniente.

Abraço do artilheiro

MS

2.  A propósito do poste P6374, de Jorge Canhão (**)
por Morais da Silva

Esta é a segunda vez que entro no blogue, acolhimento que agradeço, para esclarecer o que julguei já estar esclarecido.

Levar a cabo o estudo sobre o "Comando de Companhias de Combate em África" (***)  foi uma obrigação que me impus quando deparei com a afirmação de que "os oficiais do QP tinham fugido da guerra". Como já confessei, fiquei atónito, porque tal teria acontecido nas minhas barbas e eu, distraído, tinha andado a dar o corpo ao manifesto enquanto na minha "confraria" vigorava a regra da balda. Em resumo, teria sido um lorpa. Reagi, decidi ir à procura de números fiáveis e recuperei a paz de espírito. Afinal, como sempre pensei, eu não fui excepção antes fui a regra.

Regressado ao estudo e ao remanso do meu site eis que Jorge Canhão me informa:

"Globalmente o QP não fugiu das Companhias Operacionais mas quando a guerra se agravou em 1971/72 o QP DESAPARECEU QUASE POR COMPLETO".

Valha-me Santa Bárbara apesar de, agora, só trovejar na ponta final da guerra mas com a agravante do anátema do "cagaço". Imaginem o meu desassossego. Será que fiz o trabalho direitinho até 71/72 e depois o raio do software que fiz me induziu em erro e afinal fui mesmo um lorpa? Jorge Canhão só diz "Quase por completo". Qual será o valor que atribui a "Quase"? Porquê 71/72? A guerra agravou-se? Mas antes tinha sido uma pêra doce?!

Vamos aos números.

Jorge Canhão resolve tratar a base de dados de que dispõe (e que suponho ser a que foi publicada pelo Correio da Manhã nos Cadernos da Guerra Colonial) no momento da mobilização das companhias operacionais ou seja, em cada ano identifica as companhias que foram mobilizadas e agrega-lhes todos os capitães que as comandaram ao longo da comissão (Cap QP ou Mil).

No meu trabalho digo que, companhias com comando único (mesmo capitão durante toda a comissão), foram 83% em Angola e Moçambique e apenas 66% na Guiné. Face a estes números melhor seria tratar apenas companhias com comando único dada a dimensão da amostra. Mas, adiante.

No conjunto dos 3 TO Jorge Canhão conclui que, em 1971, 53% dos capitães "mobilizados com as companhias" são capitães QP e que tal percentagem desce para 19% em 1972 e para 12% em 1973, subindo para 20% em 1974. Aqui chegado Jorge Canhão conclui: "No entanto, quando a guerra se agravou (precisamente a partir dos anos 1971/72), os Capitães do Quadro Permanente "DESAPARECERAM QUASE POR COMPLETO" dos cenários das Companhias de Combate".

Ora só se pode dar como desaparecido aquilo que existe mas nestas "coisas" se algo desaparece é preciso encontrá-lo para que sirva de contraprova. Lá parti eu em busca detalhada e olhando para os meus números constatei o seguinte:

"Desaparecimento" do QP em 1972" - O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 277 capitães do QP (46% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 31% do stock existente de capitães QP (885 Cap. QP); era de 34% em 1971 havendo pois a registar uma quebra de 3% no empenhamento do stock

- não só não houve promoções a capitão em 1971, para alimentar o stock, como este baixou 149 capitães (1034 em 1971; 885 em 1972). A quebra de 149 capitães nos 1034 representa 14%. Compare-se esta quebra de stock do QP com a quebra de 3% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

"Desaparecimento" do QP em 1973- O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 178 capitães do QP (30% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 23% do stock existente de capitães QP (779 Cap. QP) ou seja há uma quebra de 8% no empenhamento do stock

- não só não houve promoções a capitão em 1972, para alimentar o stock, como este baixou 106 capitães (885 em 1972; 779 em 1973). A quebra de 106 capitães nos 885 representa 12%. Compare-se esta quebra de stock com a quebra de 8% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

"Desaparecimento" do QP em 1974 - O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 119 capitães do QP (21% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 21% do stock existente de capitães QP (580 Cap. QP) ou seja há uma quebra de 2% no empenhamento do stock

- houve promoções a capitão em 1973 para alimentar o stock mas, apesar disso, este ainda baixou 99 capitães (779 em 1973; 580 em 1974). A quebra de 99 capitães nos 779 representa 13%. Compare-se esta quebra de stock com a quebra de 2% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

Fica demonstrado, mais uma vez, que o QP não desapareceu (e eu não fui lorpa) mas que apenas reduziu o seu contributo porque não há "omeletas sem ovos".

Repito o que já disse mas pelos vistos sem sucesso.

De 1970 a 1974 o stock de capitães do QP passou para quase metade (52%). Se os encargos fixos se mantiveram (unidades, estabelecimentos e órgãos da metrópole; unidades de guarnição e centros de instrução em África) e os de combate também, como não esperar as quebras verificadas?

Por que carga de água se recorreu à formação laboratorial de capitães milicianos e se deu à luz o célebre decreto de 1973 sobre o acesso à AM [, Academia Militar] ? Diversão da tutela ou tutela entalada perante uma Guiné e Moçambique a pedirem mais meios e uma AM a dar conta da sua impotência?

Uma nota derradeira.

Estou pronto a colaborar com Jorge Canhão, se este o desejar, para afinar a listagem das companhias presentes a partir de 1971 e clarificar a razão da pesada discrepância (145 companhias) que aponta: eu contabilizo um efectivo anual presente nos 3 TO na ordem das 475 e Jorge Canhão indica 330.

Discordo completamente dos resultados da pg. 1. Por exemplo, no grupo A, parte dos capitães avançou ainda em finais de 1968, princípio de 1969; a outra parte avançou em finais de 1969. A 1ª fatia regressou no final de 1970 e a segunda nos fins de 1971 tendo sido mobilizados novamente na segunda metade de 1972 (1ª fatia) e início de 1973 (2ª fatia).

Assim sendo o grupo A está mal definido não podendo ser rodado em conjunto e muito menos com o grupo C que é mobilizado em meados de 1971.

A organização dos conjuntos e a sua inserção na fita do tempo está errada pois parte do pressuposto da rotação contínua (mas o pessoal tinha que descansar e preparar nova etapa o que consumia, em regra, 1.5 a 2.5 anos ao longo da campanha).

Definitivamente, tenho dito.

António Carlos Morais da Silva

 antoniocmsilva@netcabo.pt
http://www.moraissilva.com/

[ Fixação / revisão de texto / bold a cor / título: L.G.] (****)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6734: Controvérisas (96): No período de 1972/75, a proporção de capitães milicianos, comandantes de companhias combatenntes em África, era de 83 em cada 100 (Jorge Canhão, ex-Fur Mil At Inf Op Esp, 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)

(**) Foi dado, ao Jorge, conhecimento prévio do teor do mail do Morais da Silva. Não foi possível obter um comentário seu em tempo útil. Presume-se que esteja de férias ou ainda não tenha visto a caixa de correio. Recorde-se que o nosso camarada e mui querido amigo Jorge Canhão também conheceu Gadamael, a ferro e fogo, em Junho de 1973.

(***) Vd. poste de 15 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6596: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (VI e última parte)

(****) Último poste desta série > 18 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6759: Controvérsias (97): Ainda... muito a tempo (José Belo)

Guiné 63/74 - P6766: (Ex)citações (86): Casei com uma rapariga de Quelimane, por acaso branca (eu acho que nós, portugueses, somos todos mestiços) (Alpoim Calvão)

1. Comentário ao poste P6640 (*), assinado pelo comandante Guilherme de Alpoim Calvão (aqui na na foto à esquerda, entre dois membros da nossa Tabanca Grande, o João Parreira, de costas, e o Mário Dias, de perfil; local e data: Museu Militar, 15 de Abril de 2010, sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló):

Caros camaradas de armas, só pó falar do meu caso pessoal mas casei com uma rapariga de Quelimane [, capital da Zambézia, Moçambique], por acaso branca (eu acho que nós, portugueses,  somos todos mestiços) em Março de 1958, tendo eu o posto de segundo tenente. Continuo casado com ela.

As legislações representam por vezes modas de épocas. O que interessa é que se aperfeiçoem.Ou então continuaríamos com os preceitos de tempos idos em que o sargento da companhia devia saber ler e escrever porque o oficial, por ser nobre, podia não saber.

De Bissau vos mando "muito saudar" e mantenhas, Alpoim Calvão (O teclado he para ingles. As minhas desculpas

[Fixação / revisão de texto / título: L.G.] (**)

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Notas de L.G.:

(*) 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6440: Da Suécia com saudade (23): O estatuto dos Oficiais do Exército há 60 anos, que não podiam casar com mulheres brancas, nascidas nas colónias, mesmo que filhas de casais brancos (José Belo)

(**) Último poste desta série:  15 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6744: (Ex)citações (68): Fomos muito mais bandos de pardais à solta do que colónias de abutres e aves de rapina (António Graça de Abreu)