terça-feira, 31 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8351: Tabanca Grande (290): Aura Emília Rico Teles, ex-Tenente Enfermeira Pára-quedista (1963/1984)

1. Com a preciosa ajuda do casal Giselda e Miguel Pessoa contamos na tertúlia com mais três Enfermeiras Pára-quedistas, além da nossa veterana Giselda, claro, a Rosa Serra, a Maria Arminda, e a Aura Teles que agora se apresenta.

É para nós uma subida honra contar entre a tertúlia com quatro representantes de um grupo generoso de senhoras que, parecendo não ter mais nada para fazer na vida, se lembraram um dia de que podiam pôr ao serviço dos militares que combatiam em Angola, Guiné e Moçambique, os seus conhecimentos e sua capacidade de ajudar nos momentos de infortúnio, quando mais precisavam de uma palavra meiga para além do tratamento das feridas corporais.

Levantemo-nos pois, porque vai entrar uma senhora. Mais um Anjo da Guarda.

[Acrescente-se que a Aura Teles é também um das oito ex-enfermeiras pára-quedistas que entra no filme Quem Vai  à Guerra, da realizadora Marta Pessoa, a estrear em Lisboa, Porto e Aveiro, no próximo dia 16].


Aura Emília Rico Teles
Ex-Tenente Enf.ª Pára-quedista
Natural de Vendas Novas
Profissão: Enfermeira (Aposentada)
Ingresso na Força Aérea Portuguesa no curso de Enfermeiras Pára-quedistas em Agosto 1963.

Datas precisas e concisas ao rigor do dia e do mês como têm a Maria Arminda, isso eu não tenho assim tão prestigiada memória, mas prometo dar o meu melhor.


1963 — Fui para Tancos e ingressei no curso de pára-quedismo.

Em Novembro fui para o Hospital da B.A.4 (Terra Chã) Ilha Terceira, Açores com todas as enfermeiras que acabaram o curso de pára-quedismo.

Eu por acidente fracturei uma clavícula a oito dias do primeiro salto em pára-quedas “com recruta terminada” não acabei o curso claro.

Estive nos Açores um ano.

1964 — Em Setembro regressei a Tancos para finalizar o curso.

1965 — Colocada na Guiné-Bissau na B.A. 12.

No dia seguinte comecei logo a fazer evacuações na província e todas as semanas uma enfermeira transportava feridos para Lisboa.

1967 — Voltei aos Açores, Hospital da Força Aérea para trabalho nas enfermarias, quarto de queimados e bloco operatório.

1968 — Guiné-Bissau, colocada novamente.

Nessa altura já ia muito mais à vontade e segura do que ia encontrar e contente por voltar à Guiné-Bissau. Foi a unidade onde mais gostei de trabalhar. Era lá que me sentia útil e era muito gratificante quando trazíamos militares, civis e até “os chamados inimigos” para Bissau, Hospital Militar.

1969 — Angola onde estive seis meses no B.C.P. em Belas e os outros seis meses na Direcção dos Serviços de Saúde em Luanda.

1970 — Moçambique onde fui colocada na 3ª Região Aérea.

Destacada de seguida para Nampula, onde fiquei seis meses e os outros seis meses trabalhei na Direcção dos Serviços de Saúde em Lourenço Marques.

1971 — Guiné-Bissau novamente. Estive lá um ano e meio.

1973 — Angola, colocada na Direcção dos Serviços de Saúde em Luanda.

1975 — Regressei ao Hospital da Força Aérea Portuguesa, Lumiar Lisboa.

1984 — Passei à reforma por incapacidade física.

No fim de uma década de vai e vem, saltitando de província em província, graças a DEUS que terminou o sofrimento de muitos jovens, pais, filhos, esposas e até avós, com o regresso a casa dos seus entes queridos.

Os que lá tombaram, esses estão de pé nas nossas memórias para sempre.

Foi duro demais para nos esquecermos DELES e de uma colega nossa CELESTE [PEREIRA] (*). PAZ ÀS SUAS ALMAS.

De facto vivemos situações muito frustrantes, querer salvar todos mas era impossível, resta-nos o conforto que trouxemos a muitos camaradas vivos do mato para o hospital militar de Bissau.

Essa sim é a nossa glória, sentir que cumprimos o que nos propusemos, utilizando todo o nosso saber com humanismo, carinho para que cada situação a tratar fosse menos dolorosa, procurando não só cuidar do corpo mas também do espírito.

Os nossos cuidados estenderam-se a todos que deles precisavam, nomeadamente os militares das forças armadas, seus familiares, populações civis e repito até o “ inimigo”.

Bem…. é uma alegria interior tão grande que só por quem lá passou pode senti-la.
Mas nem tudo foi mau e stressante, também tivemos momentos inesquecíveis com amizades que fizemos e que ainda hoje perduram.

Com verdade vos digo camaradas… sinto-me orgulhosa de todo o trabalho que fiz, “porque fiz o meu melhor” e muito em especial na Guiné.

Foi na Força Aérea que cresci e me orgulho de pertencer a esta organização e tenho “vaidade” de ter sido enfermeira pára-quedista e muito amor à minha boina verde.


Tenente Enf.ª Pára-quedista Aura Emília Rico Teles

Curso de Pára-quedistas de 1964


Guiné 1965 > Uma evacuação

Luanda 1967


PÁRA-QUEDISTAS

Se o ter asas simboliza a liberdade
Que a vida nega e a alma precisa
Olhai Pára-quedistas, tendes tudo
Lá no céu elevai vossas almas
Que cá na terra a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem
Tendes ao menos a força de não a
Mostrardes a ninguém.

Aura Rico Teles
Tenente Enfª Pára-quedista


2. Comentário de CV:

Cara enfermeira Aura, com muito prazer a recebemos nesta Caserna Virtual. Tem lugar junto das suas camaradas: Giselda, Rosa Serra e Maria Arminda.

Agora que faz parte desta comunidade, onde são maioria os infantes que atravessavam bolanhas e rios da Guiné na esperança de que nunca fosse necessária a vossa presença junto deles, sinal de que nada de mau havia acontecido.

Agora, afastados esses tempos, é com o maior carinho que as recebemos, porque apesar de muitas preces, muitos foram os que necessitaram do socorro dos nossos anjos da guarda, que se não guardavam, estavam presentes sempre que necessário, porque o azar nos batia à porta.

Anjos que vinham do céu, que nas horas de horror aplicavam o seu saber tentando aliviar a dor, fazendo alguns milagres, ao mesmo tempo que davam uma palavra meiga e amiga, qual mãe, irmã ou namorada.

Diz o Miguel que a Aura tem uma memória prodigiosa, pelo que ficamos à espera das suas narrativas que não terão a ver forçosamente só com a Guiné.

Permita que no fim destas palavras de agradecimento, lhe envie um abraço colectivo da tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, e por que não, de todos os militares que fizeram a guerra colonial nos três teatros de operações.

Bem hajam.

Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8334: Tabanca Grande (289): António Luiz Figueiredo, ex-Fur Mil TRMS TSF (Pirada, Teixeira Pinto e Bissau, 1972/74)

(*) Vítima de acidente mortal, ocorrido  na Guiné, em fevereiro de 1973.  Segundo se lê no poste nº 1668, de 17 de Abril último, a Celestet Pereira "ao correr para uma DO que se preparava para levantar voo a fim de proceder a evacuação,  foi morta pela hélice da avioneta que lhe cortou a cabeça, no aeroporto de Bissalanca" (Nota de rodapé do autor de Diário da Guiné, António da Graça Abreu, p. 64).

Guiné 63/74 - P8350: In Memoriam (81): Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto, Presidente do Movimento Nacional Feminino (30 de Maio de 1921 - 25 de Maio de 2011) (Teresa Almeida / José Martins)

Teresa Almeida
A propósito do falecimento, no dia 25 de Maio passado, da fundadora do Movimento Nacional Feminino, D. Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto (Lisboa, 30 de Maio de 1921 - 25 de Maio de 2011), publicamos dois depoimentos, um de autoria da nossa amiga tertuliana Maria Teresa Almeida e outro do nosso camarada José Martins.

1. Teresa Almeida [, foto à direita:

Hoje dia 31 de Maio de 2011, ao abrir o "site" UTW, li a triste notícia do falecimento da Sra. D. Cecília Supico Pinto*, grande Senhora, que lutou e deu a cara, por um ideal, o bem-estar dos nossos Soldados, tão jovens , e longe das suas Famílias, se encontravam numa guerra em defesa deste País. Estou muito abalada.

D. Cecília Supico Pinto foi a Mãe, mas sobretudo a Amiga, para todos os Combatentes que privaram com ela. Colocou em risco a sua própria vida, e uma das vezes teve um acidente em pleno mato, que ao longo da vida lhe trouxe grandes problemas de saúde. Era uma Mulher sem medos, determinada, fosse em lugar de risco, ou não, era preciso levar AMOR àqueles JOVENS.

Visitou os três Teatros de Guerra e a todos os Combatentes, levava, sempre, um carinho, um sorriso, uma lembrança. Os afectos que era to preciosos, naqueles momentos. E ela estava sempre presente, no meio dos nossos Rapazes.

Como Presidente do Movimento Nacional Feminino*, editou o AEROGRAMA, tão conhecido de todos nós, para facilitar a correspondência entre os Combatentes, e seus familiares.

Tive o privilégio, de a conhecer e de falar a "D. Cilinha", falava-me sempre da Guerra, e dos "seus Meninos", que tinha feito tudo, por eles, com muito Carinho e Amor.

Tenho a certeza que,  no seu eterno descanso, junto de Deus, tem junto de SI, os Combatentes do Ultramar - "OS SEUS MENINOS". Não posso, nem devo esquecer, os meus sentimentos por esta Grande Senhora, que faz parte integrante da GUERRA DO ULTRAMAR.

Tinha tanto para dizer... mas. Foi muito agradável falar e conviver com a Sra. D. Cecília Supico Pinto. Já sinto a sua AUSÊNCIA.

Assim, quero, deixar aqui, o meu profundo sentir pelo falecimento desta tão GRANDE SENHORA

A todos os Combatentes, deixo também o meu profundo sentir, pela notícia

A TODOS QUE JÁ PARTIRAM, PARA JUNTO DE DEUS, E, ESTIVERAM NA GUERRA DO ULTRAMAR, A TODOS TENHO NO MEU CORAÇÃO.

ADEUS CILINHA
PAZ Á SUA ALMA

Da Amiga
Teresa Almeida



Zemba, Angola, 1974 > "Visita da Presidente do Movimento Nacional Feminino, Drª Cecília Supico Pinto

Foto e legenda: Quanto Mais Quente Melhor > Blogue do ex-Cap Cav Fernando Vouga, comandante do Esquadrão de Reconhecimento FOX 2640 — Bafatá, Guiné (1969/1971) (1). (Com a devida vénia...)


2. Jose Martins


Há noticias que, por muito que sejam esperadas, de certa forma nos custam a aceitar, já que em nós reside um resquício de imortalidade.

Todos temos a “nossa hora”, não sabendo apenas, como e quando chega.

O texto abaixo, retirado (com a devida vénia) da Wikipédia, lembra-nos uma mulher que, independentemente das ideias que tinha, sendo coincidentes ou divergentes com a nossa, fez parte da nossa vida, quer pessoal quer colectiva.

À sua maneira, foi uma mulher que esteve na guerra, ajudando os militares e suas famílias, no momento em que mais necessitavam.

Não conheci a D. Cilinha. Conheço o que fez através da “visão alheia”. Usei os aerogramas, a forma mais fácil de comunicar com a família, noiva e madrinhas de guerra. Se mais não fizera. Era suficiente.

Para Cecília Supico Pinto, a nossa gratidão e o nosso respeito. É mais uma Portuguesa que parte, pouco antes de festejar os 90 anos.

Descanse em paz e, que cada um de nós a recorde de acordo com o seu sentimento e forma de pensar.

© Foto retirada de ultramar.terraweb.biz.


Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto (Lisboa, 30 de Maio de 1921 — 25 de Maio de 2011)[1], conhecida popularmente como Cilinha, foi a criadora e presidente do Movimento Nacional Feminino, uma organização de mulheres que durante a guerra colonial prestou apoio moral e material aos militares portugueses. Nesse cargo atingiu grande popularidade e uma considerável influência política junto de Oliveira Salazar e das elites do Estado Novo. Visitou as tropas em África e promoveu múltiplas iniciativas mediáticas para angariação de fundos.

(Com a devida vénia à Wikipédia)

José Martins
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Notas de CV:

(*) Sobre a D. Cecília Supico Pinto e o Movimento Nacional Feminino, vd. postes de:

18 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2362: O Movimento Nacional Feminino no filme em DVD Natal de 71, de Margarida Cardoso, que recomendo (Diana Andringa)

9 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2514: Convite (2): Lançamento da biografia de Cecília Supico Pinto, a líder do MNF: 12 de Fevereiro, 18h30, na Sociedade de Geografia

11 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2524: Notas de leitura (7): Não se pode estudar a Guerra Colonial ignorando o MNF e a sua líder carismática (Beja Santos)
e
12 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2528: O papel do Movimento Nacional Feminino (1): Mais meritório no apoio às famílias dos soldados (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 19 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8298: In Memoriam (80): Teresa Reis (1947-2011). A minha homenagem ao Humberto Reis (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8349: Parabéns a você (265): Pedido de livro emprestado... ou a fome de livros do nosso camarada Beja Santos, em dia de aniversário (Luís Graça)

1. Mensagem do nosso amigo e camarada Beja Santos [, foto à direita, ao centro, sentado no Unimog 411, algures no Sector L1, Bambadinca, a caminho do Xime... Op Pato Rufia, Setembro de 1969. Foto do próprio]


De: Beja.Santos@dg.consumidor.pt
Data: 27 de Maio de 2011 12:34


Assunto: Pedido de livro emprestado


Meu caro Luís, caso tenha sido enviado, ou tenhas adquirido, o livro do Julião de Sousa sobre Amílcar Cabral (*), peço-te a amabilidade de mo emprestares.

Dou voltas à cabeça como é que devemos instituir dentro da Tabanca uma atmosfera de informação sobre publicações, incluindo matéria informativa pertinente que circula em blogues. Aqui te deixo um tema para as reuniões que deves promover com co-editores e conselheiros próximos.

O nosso blogue devia caprichar por ser uma vanguarda em acervo documental e fotográfico inéditos, uma biblioteca não pública de excelência e um repositório informativo de consulta obrigatória. Haverá, pois, que disponibilizar o que temos uns aos outros. Como sabes, tenho permanentemente pedinchado ajudas, de um modo geral colho silêncio, ou não há livros ou os proprietários terão medo da sua alienação, não sei. A sugestão fica feita. Aguardo as tuas notícias e recebe a estima do Mário.

2. Comentário de L.G.:

Não posso deixar de apaludir a ideia e a a sugestão do Mário. Muita a gente conhece (ou dá conta de) a invulgar capacidade de trabalho do Mário. Desde a morte da sua querida Locas, ele atacou, qual Sísifo, a tarefa hercúlea de fazer o levantamento sistemático e a recensão crítica de toda a produção bibliográfica sobre a "guerra colonial" (e em muito em particular no que se refere ao antigo teatro de operações da Guiné). As suas "notas de leitura" têm saído, no nosso blogue, a um ritmo de impressionante regularidade. Muitos leitores estão lhe gratos por este trabalho, único, na nossa blogosfera, de sinalização e de avaliação crítica de obras, da ficção à historiografia, da memorialística à poesia, que falam da "nossa" Guiné e da guerra que nos coube na lotaria do espaço e do tempo em que nascemos e vivemos.

O seu estilo e a sua frontalidade não deixam ninguém indiferente. Ou se gosta ou não se gosta do Mário e do que ele escreve. Como crítico literário, tem os seus os seus fãs e os seus críticos. Felizmente que o blogue não cultiva o unanimismo e, como poucos, tem um sistema (livre, sem moderação prévia) de comentários, permitindo que os leitores das "notas de leitura" do Mário também tenham uma palavra a dizer... umas vezes a favor, outras contra.

De um modo geral, tem-se privilegiado a frontalidade, o espírito crítico, a troca de pontos de vista, a procura de abordagens e de fontes complementares, a crítica com elevação, tolerância e elegância... Só raramente temos descambado para o insulto gratuito ou torpe. O que me apraz registar. Mas, hoje em dia de festa (porque o Mário faz anos, como qualquer ser humano) (**), queria muito simplesmente poder responder ao seu desafio e poder estar à altura da sua proposta de criar, na nossa Tabanca, um sistema de empréstimo de livros e outros documentos...

Eu próprio sou já o "fiel depositário" de uma pequena biblioteca e de um "arquivo pessoal", livros, areogramas e outros documentos que me tem sido confiados, e nomeadamente por parte do Mário (mas também de outros camaradas, como por exemplo, o Juvenal Amado que há tempos me surpreendeu com uma "espada de régulo"!)...

Na ausência de "instalações físicas", não é fácil à nossa Tabanca Grande (que é uma realidade virtual) pôr rapidamente em marcha um "sistema de empréstimo" de livros, incluindo os livros que nos são oferecidos por editores, para não falar já de montar um núcleo museológico ou um centro de documentação e informação (CDI)...

Ainda ontem falei com o Carlos  Alvim, da editora Nova Vega, a quem solicitei um exemplar da obra recentemente editada, sobre o Amílcar Cabral, da autoria do investigador guineense e nosso amigo Julião Soares Sousa (*). Expliquei a génese, a natureza e a especificidade do nosso blogue, e forneci alguns números sobre a nossa actividade...

Gostaria de ter já em mãos o livro para o poder remeter hoje ao nosso recensor-mor (que, garanto-vos, não é mais o Tigre de Missirá que alguns de nós conheceram em Bambadinca; ele não precisa de livros para forrar as paredes, apenas para os ler e escrever sobre eles; de tempos a tempos, lá vem ele, carregado de sacos com livros, para os entregar ao "fiel depositário" da Tabanca Grande).

De qualquer modo aqui fica o endereço postal do Mário para o envio de livros ou outros documentos, em regime de empréstimo ou de oferta:

_________________________________________

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
a/c MÁRIO BEJA SANTOS 
Direcção-Geral de Defesa do Consumidor
Pr Duque de Saldanha, 31
1699-013 Lisboa
Telefone: + 351 21 356 4686 (directo)
_________________________________________


Por fim, e não menos impORtante: Sei que ele, Mário,  acha que já não tem idade para lhe cantarem os Parabéns a você... Mas quem é que não gosta que os outros se lembrem de nós neste dia, celebrando a efeméride da nossa vinda ao mundo ? Mário, um xicoração dos teus amigos, camaradas e camarigos da Guiné. E daqui até aos cem, que seja sempre em linha recta! Como eu costumo dizer ao meu velhote, que está a chegar ao fim da picada, "mais vale andar neste mundo em muletas do que no outro em carretas" (o provérbio não é meu, é do povo)...

______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8337: 25 de Maio de 2011, lançamento do livro Amílcar Cabral (1924-1973) - Vida e Morte de um Revolucionário Africano, de Julião Soares Sousa, na Biblioteca Municipal D. Dinis - Odivelas (José Martins)


(...) Título: Amílcar Cabral

Autor: Julião Soares Sousa
Nova Vega – Edição e Distribuição de Publicações, Lda.
Rua do Poder Local, n.º 2 - sobre loja A
1675-156 PONTINHA - Odivelas
Tel. 217 781 028 # Tel./Fax 217 786 295
E.mail: info@novavega.mail.pt
Horário de atendimento: 9:00 às 13:00 h e das 14:00 às 18:30 h.
Custo € 31,80 (IVA incluído).

(**) Vd. poste de 31 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8348: Parabéns a você (264): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8348: Parabéns a você (264): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Tertúlia / Editores)

Postal de aniversário de Miguel Pessoa




PARABÉNS A VOCÊ

31 DE MAIO DE 2011


NESTE DIA DE FESTA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR AO NOSSO CAMARADA MÁRIO BEJA SANTOS AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.

Mário Beja Santos tem no Blogue, neste momento, 562 entradas, correspondentes na sua maioria à recensão de livros, dos mais antigos que descrevem  a Guiné do tempo colonial, aos mais modernos escritos por naturais daquela ex-Província Ultramarina que falam da guerra de libertação que travaram contra Portugal, que são documentos, muitos deles, contraditórios do nosso ponto de vista e dos relatos oficiais de então.

Beja Santos tem-se dedicado também à recensão da numerosa bibliografia de autoria dos ex-combatentes portugueses, que de acordo com as patentes e funções exercidas, contam simplesmente as suas memórias ou entram em pormenores estratégicos e justificações para determinadas acções bélicas mais ou menos conseguidas.

Mário Beja Santos é autor de dois livros que compõem o seu Diário da Guiné, que atravessa os anos de 1968, 1969 e 1970, enquanto Alferes Miliciano, Comandante do Pel Caç Nat 52. 

Recentemente lançou o romance Mulher Grande, dedicado a uma heroína anónima, Benedita, nascida em 1920, que nos anos 50 acompanhou o seu marido Albano, Administrador, por terras do norte da Guiné, onde assistiu às primeiras acções de guerra contra a ocupação portuguesa. 
Está já a terminar o seu próximo romance.

Caro Mário, recebe um abraço da tertúlia e dos editores, e os votos de que continues com a tua tarefa de nos dares a conhecer a bibliografia da guerra travada na Guiné.
____________

Notas de CV:

Mário Beja Santos foi Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52 em Missirá e Bambadinca nos anos de 1968 a 1970

Vd. último poste da série de 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8327: Parabéns a você (263): Camaradas: Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista da FAP; Carlos Nery, ex-Cap Mil CMDT da CCAÇ 2382; Gabriel Gonçalves, ex-1.º Cabo Cripto da CCAÇ 12 e jovem amigo João Santiago (Tertúlia / Editores)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8347: VI Encontro da Tabanca Grande, dia 4 de Junho em Monte Real (6): Sondagem em cima... do fecho do prazo das inscrições... Resultado: A certeza de que o Mundo é (cada vez mais) Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!



1. Resultado da sondagem (4/2011), que realizámos através do nosso blogue, portanto 'on line', entre os dias 24 e 30 de Maio de 2011... A pergunta era sobre a intenção de ir (ou não) ao nosso encontro, o VI Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande, a realizar no  próximo fim de semana em Monte Real. Tiveram a amabilidade de responder 89 dos nossos leitores. A grande maioria (n=70) era membro do nosso blogue.

Quase metade (49.5%) dos respondentes tenciona vir ao encontro (muitos deles provavelmente acompanhados). Dois em cada cinco gostariam muito de poder vir mas, por qualquer razão (que não sabemos:  agenda, doença, acessibilidade), não virão...

Apenas 8 num total de 89 disseram que não tinham interesse em vir ao encontro.

Agradecemos  a todos a sinceridade das opiniões manifestadas bem como a vontade em participar nesta sondagem. O número de respondentes a esta sondagem está dentro do que é habitualmente esperado, não tendo a ver com o movimento diário de visitas (ou visualizações de páginas do nosso blogue) correspondente a este período... Como curiosidade, aqui ficam os números desta semana (atenção que um leitor pode fazer mais do que uma visita):

Domingo, 29 de Maio > 2237
Sábado, 28 > 1900
Sexta-feira, 27 > 2681
Quinta-feira, 26 > 2968
Quarta-feira, 25 > 2791
Terça-feira, 24 > 2515
Fonte: Bravenet


Lembramos que amanhã, 3ª feira, dia 31 de Maio, termina o prazo para as inscrições (*).

A organização deste evento está a cargo  do nosso co-editor Carlos Vinhal e dos nossos colaboradores permanentes, os tabanqueiros  Joaquim Mexia Alves e Miguel Pessoa, uma "equipa ganhadora" que já vem detrás... (E como se diz na gíria futebolística, em equipa ganhadora não se mexe)...

Os pedidos de inscrição de última hora devem-se ser canalizados para o Carlos Vinhal:  carlos.vinhal@gmail.com  e/ou para o outro membro da comissão organizadora, mais directamente encarregue da logística, o Joaquim Mexia Alves: joquim.alves@gmail.com (joquim e não joaquim...). (O MIguel Pessoa faz a cobertura... área: ou melhor, é o nosso artista plástico, responsável pelos cartanitos...).

O custo da inscrição é de 30 aéreos (preço especial para... amigos, camaradas e camarigos da Guiné, e seus acompanhantes), o que inclui o seguinte serviço do Palace Hotel Monte Real (i, ii e iii) (**):

(i) Aperitivos, Terraço Sala D. Diniz, 13h

(ii) Almoço, Sala D. Dinis, 14h

(iii) Lance-buffet, Sala D. Dinis, 17h30/18h

Por último, mas não menos importante,  (iv) o privilégio de todos e de cada um se sentarem no bentém da Tabanca Grande, sob o nosso secular, frondoso, mágico e fraterno poilão... [Há coisas que não têm preço, e uma delas é... a informação de que o Mundo é (cada vez mais) Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande].

Até hoje temos 115 incrições, um terço das quais (n=39) são companheiras nossas... Das três camaradas de armas que estão atabancadas, só temos para já a inscrição da Giselda Pessoa.

___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8339: VI Encontro da Tabanca Grande, dia 4 de Junho em Monte Real (5): As inscrições terminam no dia 31 de Maio

(**) Vd. poste de 22 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7840: VI Encontro da Tabanca Grande, dia 4 de Junho em Monte Real (1) Marcada a data para 4 de Junho de 2011 (A Organização)

domingo, 29 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8346: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (18): Não se brinca com coisas sérias...

1. Mensagem José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 26 de Maio de 2011:

Caro Vinhal

Junto nova história para integrar nas "Memórias boas da minha guerra".

Trata-se de mais uma das muitas ligadas ao meu amigo Furriel Faria, mais conhecido pelo Berguinhas.

Junto também fotos de um "Casamento" em Canquelifá, de onde destacamos a "noiva" (Berguinhas), o seu "pai" (Branquinho) e o rapaz que segura a cauda do vestido (Massamá).

Um grande abraço do
Silva da Cart 1689



Memórias boas da minha guerra (18) >  Brincar com coisas sérias? Parece, mas não é

Vivia-se pacatamente em Canquelifá nos últimos tempos da nossa comissão. Não havia guerra (só uns patrulhamentos de rotina). A alimentação era razoável, o que não tinha acontecido até então. Tudo era pretexto para brincadeira, enquanto se esperava calmamente a viagem do regresso.

Todavia, havia uma excepção. O “Dôtô” Faria, era o Furriel Enfermeiro, conhecido também por “Pastilhas” e, essencialmente, por “Berguinhas”. Era um indivíduo excepcional: humilde, solidário, humano e… bastante divertido. Dava gosto lidar com ele. Mas quem mais gostava dele era a população local e a… senegalesa, a quem se dedicava religiosamente.

Prestava assistência médica permanente e como fazia autênticos milagres, estava sempre extremamente ocupado. Dormia na Enfermaria e, quando acordava, já tinha uma fila de dezenas de metros - doentes vindos, durante a noite, de distâncias até 70 Km do outro lado da fronteira.

Porém, também gostava de se divertir e, para isso, tinha que acamaradar com o grupo de amigos mais chegados. Ele, que jogava bem às cartas (nunca vi melhor na sueca), era o primeiro a prolongar o almoço, com a jogatana.

Várias vezes tínhamos que interromper o jogo para ele poder dar indicações aos cabos enfermeiros ou, até, ter que intervir de imediato. Recordo-me de uma mulher que se aproximou de nós e, como se expressava mal, abriu o pano que a envolvia, a fazer de saia, e mostrou o cordão umbilical pendendo, pedindo, por gestos, para ser cortado.

Um dia jogávamos numa mesa, junto à vedação. Uma bajuda aproximou-se da rede e chamou-o:
- “Dôtô, Dôtõ, pingo pa mi pai”?

O “Doutor Berguinhas” jogava, entusiasmado, mais uma sesta de Ramy.
- Eu vou lá, mais logo, lá para as 4 ou 5 horas – respondeu o Berguinhas.

A bajuda estendeu o braço, fazendo um ângulo de, aproximadamente, 45º e perguntou:
- Quando o sol está lá?

O Berguinhas confirmou ser a essa hora. Passado um pouco, voltou a bajuda, agora mais preocupada:
- “Dôto, Dôto, pingo pa mi pai. Ele manga di doente”

O “Berguinhas” respondeu que iria lá já de seguida. Logo que a rapariga se afastou, o Santana, coadjuvado em coro pelos outros colegas de jogo, interpela o Berguinhas:
- Que merda é esta, pá? O velho não escapa e andas aqui a estragar o jogo, todos os dias, por causa dele. Resolve a situação, porque isto assim não pode continuar.

O Berguinhas pediu para chamarem o cabo enfermeiro. Logo que este chegou, disse-lhe:
- Pegas naquela caixinha de cor alaranjada que está na última prateleira, do lado direito e vai dar uma injecção ao velhote Sali, o pai da bajuda Salem.

Depois do jantar, a malta voltou a reunir-se na esplanada, debaixo das mangueiras. Entre bebida, anedotas e provocações, lá se ia matando o tempo da melhor maneira. Surge então, pela boca do Amed, que estava de passagem, a informação de que o velhote Sali havia falecido.

Logo os mesmos que haviam atacado o “Berguinhas” ao principio da tarde por estar sempre a interromper o jogo, agora o acusam:
- Ó meu caralho, não me digas que mandaste matar o velho?... Só porque te incomodava à hora do jogo?... Tiveste coragem para fazer uma coisa dessas?... Tens a mania que és religioso e fazes uma merda destas! Francamente, há gajos que não têm consciência nenhuma!

O Berguinhas, afectado pela surpresa, não sentia forças para reagir àqueles “velhos apanhados do clima”. Deitou os olhos para o céu, benzendo-se repetidamente e exclamou em voz alta:
- Ó Virgem Santíssima, mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, que mal fiz eu a Deus para ter que aturar estes filhos da puta... Vós sabeis que se eu os aguentar até ao fim, irei ao Sameiro de joelhos desde cá do fundo, da curva das Madalenas! E vou também a Fátima a pé, onde andarei à roda da Basílica, de joelhos, até não poder mais. Por favor, dai-me mais uns meses de vida, para eu poder cumprir as promessas.

Casamento em Canquelifá > Ao fundo, a noiva (Berguinhas) acompanhada de seu pai (Branquinho). Mais à frente o noivo (?) acompanhado pela mãe (?). Em primeiro plano o Padre e o rapaz da caldeira.

Casamento em Canquelifá > Os noivos, provavelmente já (mal) casados. A jovem que segura no véu, generosamente decotada, é o Massamá

Casamento em Canquelifá > Fotografia de conjunto

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Nota: O Berguinhas era esmeradíssimo no tratamento dos doentes. Era um autêntico milagreiro e, por isso, era respeitado e adorado pela população como um santo. Os diálogos que aqui se reproduzem são verdadeiros, mas, da parte de quem o interpelava e, depois, acusava, não passavam de “provocações” de quem muito o respeitava e apreciava, mas que ele tomava como autênticos.
Veio a morrer em acidente de viação poucos meses depois de regressarmos.

Silva da CART 1689
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8267: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (17): O Cabo velho

sábado, 28 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8345: Efemérides (69): 28 de Maio de 1969: o ataque de 40 minutos a Bambadinca (Carlos Marques Santos / Beja Santos / Luís Graça)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) > O Alf Mil de Transmissões, Fernando Calado, de braço ao peito, junto à parede, crivada de estilhaços de granada de  morteiro, das instalações do comando, messe e dormitórios de oficiais e sargentos, na sequência do ataque de 28 de Maio de 1969. Esta era a parte exterior dos quartos dos oficiais, mais exposta, uma vez que o ataque partiu do lado da pista de aviação. 

O Fernando traz o braço ao peito, não por se ter ferido no ataque mas sim por o ter partido antes, num desafio de... futebol. Infelizmente não temos mais fotos dos efeitos (de resto, pouco visíveis) deste ataque.

Foto: © Fernando Calado (2007). Todos os direitos reservados.





1.  Foi há 42 anos, a 28 de Maio de 1969: pouco mais de dois meses depois da grande Op Lança Afiada, que varreu toda margem direita do Rio Corubal, desde a foz até ao Xitole, o PAIGC atacou em força Bambadinca... 

Fomos recuperar algumas versões já publicadas no blogue, na esperança de ainda aparecer alguém que tenha testemunhado os acontecimentos - alguém da CSS/BCAÇ 2852 ou das sunubnidades adidas (Pel Caç Nat 63, Pel Mort 2106, Pel AM Daimler 2046 - que possa, com mais propriedade e autoridade, dizer o que se passou nessa noite... Falta-nos a versão (escrita) dos nossos camaradas que estavam lá nessa noite... Ao longo destes últimos anos tenho "ouvido" versões pontuais... (LG)




(i) O ataque a Bambadinca...visto de Mansambo

por Carlos Marques Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Fá e Mansambo, 1968/69) (*)


Dia 28 de Maio de 1969 ... Por volta das 00.30h ouvimos rebentamentos para os lados da Moricanhe. Mansambo ficava a sul de Bambadinca.

Afinal era Bambadinca. Era a primeira vez que tal sucedia. As minhas notas dizem que a 29 de Maio de 1969 fui informado às 5.30h que o meu Pelotão, o 3º da CART 2339, iria reforçar a sede de Batalhão por 15 dias.

Reforçar a sede do Batalhão? Coisa grossa, pensámos. Seguimos e aí tomámos conhecimento da destruição parcial do pontão do Rio Udunduma, afluente do Geba, na estrada Xime-Bambadinca.

Chegados à sede de Batalhão, iniciámos às 16h, com o Pel Caç Nat 63, a ocupação do pontão para sua defesa e de Bambadinca. No dia 30, fomos rendidos por 2 pelotões. Dia 31, pelas 14.00h fomos novamente para a ponte.

Dia 2 de Junho de 1969, pelas 20.30h, rebentamentos. Era Amedalai. 15 minutos depois Demba Taco e imediatamente Moricanhe. Dia 4 Moricanhe era evacuada para reforço de Amedalai. Dia 11, Mansambo era atacada e logo depois o Xime.

Regressámos a Mansambo.

A [, CCAÇ 2590,] futura CCAÇ 12 passou aqui nestes dias conturbados para iniciar a sua comissão [, em Contuboel]. [Mais concretamente, na manhã de 2 de Junho].




(ii) Três linhas telegráficas na história do BCAÇ 2852
por Luís Graça (**)




(...) Deixem-me só lembrar que, dois meses depois desta operação [, Lança Afiada,], o PAIGC retribuiu a visita das NT e apareceu às portas de Bambadinca em força: mais de 100 homens, três canhões sem recuo, montes de LGFoguetes, morteiros... 

Esse ataque ficou célebre: os camaradas de Bambadinca, segundo algumas versões que ouvi na altura, da "velhice",  e dados que confirmei mais tarde, teriam sido apanhados com as calças na mão, far-se-iam quartos de sentinela sem armas, não havia valas suficientes, houve indisciplina de fogo, etc.... Claro que no dia seguinte o Caco Baldé , alcunha por que era conhecido o Gen Spínola, deu porrada de bota a baixo, na hierarquia do comando do batalhão, do tenente-coronel (*Pimentel Bastos, o célebre Pimbas) até ao capitão da CCS (...).

A sorte da malta de Bambadinca (Comando e CCS/BCAÇ 2852, Pel Caç Nat 63, Pel Mort 2106 e Pel AM Daimler 2106, sem esquecer os civis...) terá sido, diz-se ainda hoje,  os canhões s/r, postados ao fundo da posta,  terem-se enterrado no solo e a canhoada cair na bolanha... Quando nós, periquitos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), lá passámos, menos de uma semana depois, a 2 de Junho, a  vindos de Bissau e do Xime a caminho da nossa estância de férias (Contuboel, um mês e meio de paraíso... seguido depois de 18 meses de inferno...quando fomos justamente colocados... em Bambadinca), alguns dos nossos camaradas da CCS do BCAÇ 2852 ainda falavam com emoção deste ataque:
- Podíamos ter morrido todos - dizia-me o 1º cabo cripto Agnelo Ferreira, da minha terra, Lourinhã (...)

Na história do BCAÇ 2852, o ataque (ou melhor, "flagelação") a Bambadinca é dado em três linhas, em estilo telegráfico: "Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr In de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGF, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros. " (...).



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) e CCAÇ 12 (1969/71> Uma jogatana de futebol, no campo de futebol do quartel, que ficava dentro do arame farpado... Ao fundo, as instalações de comando e, a seguir ao planalto de Bambadinca, a grande bolanha... A foto é tirada, do lado da pista, da direcção de onde terá partido o ataque de 28 de Maio de 1969, mal passava da meia noite.

 Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados.



(iii) Finete está a arder?

por Beja Santos (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (***)

 

(...) Em socorro de Finete...

Era precisamente meia noite e vinte e cinco [ de 28 de Maio de 1969] quando começámos a ouvir roncos em catadupa dos obuses, uma sinfonia de armas pesadas, rockets e morteiros, a terra tremia bem perto de nós, o negrume da noite deu lugar a riscos desses pequenos cometas que são as balas tracejantes a esvoaçar no éter. Ainda a limpar-me , subo ao abrigo onde Ussumane Baldé assiste deslumbrado ao foguetório e sinto o coração contricto quando lhe pergunto:
- Ussumane, é Finete que está a ser atacada? - A resposta é me dada pelo seu olhar súplice:
- Ah, meu alfero, eles vão partir Finete todinha!.

Os minutos passam e não vejo chegar resposta do fogo de Finete.
- Que é que leva aqueles gajos a demorarem tanto tempo a reagir? - A multidão cresce na parada, não há militar e civil que não esteja esgazeado a ver este ataque assustador, quer pelo porte, quer pela falta de reacção.

De vez em quando há fogachos em direcção contrária, mas quem domina nesta cantilena de morte são as armas pesadas e os sons que conheçemos ao armamento do PAIGC. O meu olhar mareja-se de lágrimas incontidas, de tudo me recrimino por não ter pensado que o PAIGC ia rapidamente embalar uma resposta à nossa aparição em Sinchã Corubal. O fogo atroador prossegue, todos lastimam a destruição de uma Finete e há quem já vaticine que está reduzida a escombros.

Pela última vez, no alto daquele abrigo que abre para Sansão e que numa grande angular permite ver tudo o que é floresta de 14 quilómetrs até Finete, vejo e olho e começo a sentir no ar a nuvem espessa de um fogo que devasta quem vive para aqueles lados do Geba. É então que grito que vou partir com os voluntários que se oferecerem , em auxílio de Finete. Para quem falou de prudência à hora do almoço, é exactamente o oposto o que se está a viver no frenesim na parada de Missirá: O Setúbal já faz roncar o Unimog 404 para onde vão saltar cerca de 20 voluntários armados até aos dentes.

No meio daquele desatino, ainda consigo seleccionar dois bazuqueiros, três apontadores de dilagrama e levo o morteiro 60. Sento-me ao lado do Setúbal e determino:
- Daqui até à entrada de Canturé podes ir a 100 à hora. Depois páras, iremos todos a pé os últimos 4 quilómetros.

A corrida desenfreada é digna de um filme: aos tombos dentro da caixa do Unimog, os meus soldados examinam as cartucheiras, as cavilhas das granadas, a posição em riste das metralhadoras; gritamos como num manicómio acerca de cuidados que sabemos que não iremos cumprir, zelos impossíveis de respeitar, apelo à serenidade que ninguém controla. E minutos depois, muitos minutos depois, o Unimog pára arfante onde começa a longa recta de Canturé, muito antes da curva que se orienta para Gambaná e daqui para Mato de Cão.

O Setúbal vai sozinho na viatura e de faróis apagados. Graças a uma nesga de lua, dez homens de cada lado flanqueiam a picada.O ar está empestado pela pólvora. Caminhamos à espera do pior. A prudência vai aparecer a dois quilómetros de Finete, onde o mato é denso e os poilões escondem o luar. De tanto gritar durante a viagem, como se estivéssemos a incutir coragem uns aos outros, damos agora com o silêncio sepulcral que nos envolve. Que raio de Finete é esta que não tem cubatas a arder, nem se ouvem tiros isolados, nem gritos dos agonizantes?

Com alívio, em marcha lenta, passamos os pontos onde era possível o inimigo estar emboscado. E do alto do alcantilado, que é essa inclinação abrupta que descemos e subimos para chegar ou partir de Finete, assobia-se aos sentinelas que respondem com entusiasmo. Aguarda-nos um quadro surreal: somos recebidos com entusiasmo, abraços, tudo quanto é sinal de boas vindas. Vejo Bacari Soncó avançar em passo lesto e abraçar-me. É a medo e com a voz embargada que lhe pergunto:
-Irmão, temos muitos mortos? - Um olhar coruscante precede o atónito da resposta:
- Mortos, mortos de quê?. Mortos só se for em Bambadinca, ali é que há manga de canseira!- Atónito estou eu:
-Bambadinca, então foi Bambadinca que foi atacada?

Os pormenores do ataque a Bambadinca, em carta enviada à Cristina

E o Unimog marcha aos tropeções pela bolanha de Finete. Quando chegamos à margem do Geba, o canoeiro Mufali vem buscar-nos. O rio está na vazante, entramos na canoa com lama até à cintura. Na outra margem aguarda-nos o Machado e as suas Daimlers. Enquanto subimos a rampa para o quartel, dá-me os pormenores do ataque.

Em aerograma à Cristina, no rescaldo da manhã seguinte:

Os rebeldes vieram pela pista de aviação e cemitério, atacaram o quartel frente à porta de armas, perto da tabanca fula, onde o Almeida (Pel Caç Nat 63) tem a sua tropa, as morteiradas caíram perto da central eléctrica, residência de oficiais e sargentos. Todos, que nunca tinham sonhado em tal arrojo, encheram-se de pânico, e vieram para a parada onde desataram a fazer fogo desnorteado, e só não houve feridos e mortos por milagre.

O Capitão Neves foi para o morteiro enquanto a tropa do Almeida repelia os rebeldes que avançavam para a residência dos oficiais. Depois retiraram e entretanto o pesado morteiro de Bambadinca começou a reagir. Há muitos quartos esburacados e tectos desfeitos. Só há um ferido ligeiro: o apontador de morteiro do Almeida que ficara em Finete enquanto eu estava numa emboscada, ainda ontem. Esta é a resposta à grande operação do Corubal, de há dois meses atrás. Este o ajuste de contas....


A recordação mais impressiva dessa madrugada era a mulher do Tenente Pinheiro à porta do abrigo, enquanto as crianças dormitavam lá dentro. Ao amanhecer, verificámos a extensão dos danos, mas o meu lugar já não era ali. Ainda aproveitei para fazer compras de víveres, trazer algumas camas e fardamento. (...)



(iv) A verdade e a honra: Pimentel Bastos, um oficial português

por Luís Graça (****)


(...) O Beja Santos que,  como sabem,  veio a correr, como mais 20 voluntários, de Missirá em socorro de Finete (que ele julgava que estava a ser atacada) e que, chegado aí, descobriu que o ataque era a Bambadinca, e que foi o primeiro a chegar à sede do batalhão, nessa noite de 28 de Maio de 1969 (vd. post de 1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1012: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (3): Eu e o BCAÇ 2852, uma amizade inquebrantável ), vem em defesa da honra do seu comandante e seu amigo (um homem culto e sensível), garantindo-me, sob palavra de honra, que o Pimbas não estava em Bambadinca, mas sim em Bissau, de férias ou talvez em serviço, tanto faz… Logo nunca poderia ter sido ele o protagonista da humilhante cena no corredor, nas instalações dos oficiais, com o 2º comandante, de pistola em punho, a gritar: - Ó Pimbas, não tenhas medo!...

Aproveitou, o Beja Santos, no telefonema que me fez, na manhã do dia 2 de Agosto [de 2006], antes de ir de férias, também para me corrigir o seguinte ponto: o major que tinha a mania de andar com pistolas Walther em punho, à cowboy, era o de operações, o Viriato (Viriato Amílcar Pires da Silva), e não o 2º comandante, major Bispo (Manuel Domingues Duarte Bispo)…

(...) Compulsando a história do BCAÇ 2852, constato o seguinte, relativamente à actividade das NT no mês de Maio de 1969:

(i) dia 1, o Cmdt (Pimentel Bastos) deslocou-se ao local da Op Cabeça Rapada III;
(ii) a 8 acompanha o major de operações em visita ao Xitole e à Ponte dos Fulas;
(iii) a 12, os dois estão em Fá;
(iv) a 14, o Cmdt acompanha o Cmdt do Agr 2957 (coronel Hélio Felgas) em visita a Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole, Saltinho, Quirafo, Dulombi e Galomaro;
(v) a 24, o Cmdt deslocou-se ao Agr 2957 (com sede em Bafatá);
(vi) a 25 o Cmdt Militar e o Cmdt Agr 2957 visitam Bambadinca;
(vii) a 28, o Cmdt do Agr 2957, visita Bambadinca (depois do ataque, obviamente)…

Com esta actividade toda, não me parece razoável que o Pimental Bastos estivesse de férias, embora provavelmente já as merecesse: O BCAÇ 2825 partiu no Uíge, a 24 de Julho de 1968, e na estação seca de 1968/69 teve uma intensa actividade operacional, incluindo a Op Lança Afiada, a qual, segundo o Beja Santos, marca o princípio da desgraça do nosso tenente-coronel…


(...) Como é timbre da nossa tertúlia e e de acordo com o nosso código de ética, temos o direito à verdade, devemos sempre prezar a verdade dos factos… Temos também que prezar a honra dos nossos camaradas e até daqueles que mandaram em nós (umas vezes bem, outras vezes mal, não vamos agora discutir isso)… E sobretudo temos a obrigação de respeitar a memória dos nossos mortos – de todos os nossos mortos - que, esses, já não podem infelizmente defender-se nem apresentar a sua versão dos acontecimentos… (...) (*****)
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(*****) Último poste desta série > 28 de Maio de 2011 >Guiné 63/74 – P8343: Efemérides (47): Conferência “Presença Portuguesa em África” pelo TCor José Brandão Ferreira, em Lisboa, 9 de Junho de 2011

Guiné 63/74 - P8344: Convívios (345): Jantar/Convívio de ex-Combatentes da Guerra de África no Restaurante Marinhos, em 3 de Junho, no Porto



Jantar/Convívio de ex-Combatentes da Guerra de África

A gerência do Restaurante Marinhos, no Porto, em colaboração com um grupo de ex-Combatentes, vai assinalar os 50 anos do início da Guerra de África, com um jantar convívio no dia 3 de Junho, pelas 21h00.

Para além do convívio de quem sofreu e lutou pela Pátria, o jantar contará com um momento musical, uma mostra de fotos, e histórias contadas na primeira pessoa, como forma de mostrar o outro lado da guerra.

As inscrições estão abertas a todas as pessoas que queiram participar, mesmo não tendo participado directamente na guerra e podem ser feitas para o e-mail: bentomouramarinho@gmail.com ou pelo telemóvel 916 472 151.

O preço do jantar é 10 euros e inclui bebidas, o prato principal, sobremesa e café.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série:


Guiné 63/74 – P8343: Efemérides (68): Conferência “Presença Portuguesa em África” pelo TCor José Brandão Ferreira, em Lisboa, 9 de Junho de 2011


Camarigos,

Enviado pelo meu amigo TCor José Brandão Ferreira, recebi este convite e documento de "Introdução à Conferência" .

Um abraço do
Joaquim Mexia Alves
A PRESENÇA PORTUGUESA EM ÁFRICA

Introdução à conferência
A Comissão Executiva do XVIII Encontro Nacional dos Combatentes deci­diu prestar homenagem a todos os portugueses, civis e militares, que em Á­fri­ca se sacrificaram pela sustentação do Império, promovendo uma confe­rên­cia, em con­junto com a Direcção da Revista Militar e a Associação de An­tigos Auditores dos Cursos de Defesa Nacional, no dia 9 de Junho de 2011, no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Para o efeito procedeu a convite a académicos eméritos para o tratamento dos temas que pareceram mais adequados aos fins em vista, e que irão pro­por­cionar a reflexão sobre os méritos do legado civilizacional deixado em Á­fri­ca pelos portugueses. Por razões evidentes da exiguidade do tempo foi da­da­ prioridade a Angola, Moçambique e Guiné, onde decorreram as últimas operações militares do Império, não esquecendo igualmente o preito de ho­me­nagem aos que defenderam a soberania naci­onal noutros territórios ultra­ma­rinos.
A Conferência terá duas partes, sendo a primeira dedicada à ocupação dos ter­ri­tó­rios na senda das Descobertas, que custaram muitas vidas de cidadãos nacionais, especialmente provocadas por doenças, assim como ao alarga­men­to progressivo do espaço em conformidade com as capacidades nacio­nais, sem prejuízo da manutenção das posições costeiras ameaçadas por for­ças estrangeiras, em particular europeias. A presença portuguesa neste espaço fez vingar os direitos históricos reivindicados por Portugal quando os apeti­tes das outras potências, muito mais poderosas, se tornaram ostensivos, prin­ci­pal­mente a partir do Congresso de Berlim de 1884/5. A reacção nacional ao Ultimato inglês veio provar que a tarefa ciclópica de construção de um Im­pério que aquela ocupação constituiu, de facto, um desígnio nacional.
Este andamento dos portugueses, funcionários, empresários, comerciantes, mi­li­ta­res e missionários, foi algumas vezes contemporâneo, noutras antece­deu, as migrações dos povos africanos. O processo da conquista deu origem a cho­ques, submissões, reconhecimento de direitos, típicos de processos se­mel­han­tes ocorridos ao longo da História em todas as partes do Mundo.
Importa-nos uma descrição objectiva das situações então ocorridas de acordo com os valores do tempo histórico, desmascarando enfoques que não visam a verdade, mas que se verificam, muitas vezes para denegrir a importância da presença portuguesa, num jogo de poder invisível.
Interessa reflectir sobre os encontros ocorridos entre os portugueses e os a­fri­ca­nos, traduzidos em negociações amigáveis, que constituíram verdadei­ros encontros civilizacionais. O legado mais importante deixado por Portu­gal foi o início da constituição de Nações nos territórios definidos à custa de vidas humanas e do reconhecimento internacional dos direitos históricos so­bre esses territórios. E é o resultado daqueles encontros e deste legado que tor­narão indestrutíveis os laços que actualmente unem Portugal a todos os paí­ses onde se fala a língua portuguesa.
A segunda parte da Conferência trata do esforço militar realizado por portu­gue­ses e africanos, civis e militares, indígenas e forças expedicionárias, nas lutas pela definição dos limites territoriais e pela consolidação da soberania, a partir dos finais do século XIX e durante a primeira década do século XX, assim como os novos problemas políticos que conduziram à Guerra do Ultramar.
José Brandão Ferreira
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série:

28 de Maio de 2011 >
Guiné 63/74 – P8341: Efemérides (46): XXVIII Encontro Nacional de Combatentes, 10 de Junho de 2011, em Belém/Lisboa