1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
Camaradas,
Lá vai mais uma das "MINHAS MEMÓRIAS DE GABU". O livro e o prefácio do Luís Graça estão concluídos. Em Março, talvez, será altura para a sua apresentação pública.
UM POVO DE COSTUMES
A TÍPICA MULHER DA TABANCA
Não me perguntem como, onde e porquê a foto veio parar-me um dia às mãos. Não sei! Desconheço, e sou sincero, que sua originalidade, bem como a do seu próprio autor é-me totalmente alheia, tão-pouco nunca soube o seu possível paradeiro. Com a respectiva vénia, coloco-a nas “Minhas Memórias de Gabú” para ilustrar a obra com uma verdade indesmentível a qual constantemente nos deparávamos quando nos cruzávamos no caminho com mulheres que transportavam às costas crianças de tenra idade – filhos, irmãos ou familiares – e com galhardia mostravam ao próximo os seus ousados seios.
Em Gabú era usual contemplarmos este ilustre quadro. A mãe, às vezes jovem, já era portadora de enormes peitos. Esporadicamente constatávamos cenas surreais. Seios desmedidos que se arrastavam verticalmente aprumados e que caíam na cintura das mulheres. Diziam, e admito que seja a verdade real, que pela forma como transportavam a criança às costas proporcionava o seu respectivo avantajar. O pano que servia de berço para o rebento cruzava os seios da mãe que se viam espremidos pelo peso lançado pelo seu querido filhote.
A criança, não obstante a marcha da sua progenitora, sentia necessidade em saciar o seu desejo nato e a mãe satisfazia o anseio do seu rebento, colocando-lhe um dos seus seios a jeito para o bebé mamar. A criança chupava que se desunhava ao longo do percurso e a mãe, demonstrando a sua fértil ligação ao fruto que deitara ao mundo, assumia o elo de união entre dois seres que por força do destino viviam sob o tecto da guerra. Restava o cenário: a criança chupava numa das tetas e sossegava. Estava encontrado o mesinho ideal.
Este velho hábito criou raízes na população e transmitiu-se de gerações para gerações. As etnias quer elas fossem de fulas, de futa-fulas, de mandingas, de papéis, de felupes, de balantas, de bijagós entre outras (os guineenses são originários de 30 e tal etnias ou grupos étnico-linguísticos), seguiam à risca este costume transversal.
Este era, pois, o normal quadro que no terreno amiúde constatávamos. Vi peitos que jamais ousaria imaginar. Peitos enormes, descaídos, deformados e gente modesta que em nada se preocupava com a sua figura de mulher. Os seios, difusos e bem visíveis, intercalavam-se com corpos esbeltos, caras de meninas lindas que nasceram para procriar e colocar no mundo a verdadeira razão do seu feminismo.
A mulher guineense surpreendia! Recusava, em geral, falar da guerra. Refugiava-se nos seus velhos costumes. Orgulhava-se com a criança parida, mas nunca vigiada, e jamais assistida por uma equipa médica. O curandeiro ditava ordens e a jovem mãe exercitava o velho saber do homem grande. Acreditava piamente nos ditos populares que os mais velhos proclamavam.
Na tabanca a mulher, não obstante as suas alterações morfológicas motivadas pelo prazer de ostentar filhos ao mundo, assumia um estatuto ímpar no seio da comunidade.
Na guerra dos sexos ressalva-se, pois, uma imagem que guardo devotamente no meu memorial e que nos transmite a veracidade das mães guineenses no preciso momento de transportar os seus amados filhos!
Uma realidade
Um abraço deste alentejano de gema,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em: