segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9363: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (18): Os cães abandonados de Bissau, no tempo de Luís Cabral

1. Comentário, de 10 do corrente,  de António Rosinha ao Poste P9338 (*): 



Tenho que meter a colher e peço desculpa ao com ou catchurro, de João Sacôto, que teve uma vida original, mas queria aqui contar uma das impressões que chamavam a atenção de um tuga que desembarcasse em Bissau a seguir à independência:


Os cães abandonados de Bissau. 


Era impressionante a quantidade de cães que na célebre fome que o novo regime criou, morriam debaixo dos Volvo e dos Peugeot e de sarna e fome.


Com o abandono do interior pelas populações para Bissau, vieram aqueles cães que os guineenses gostavam de ter nas suas tabancas para guarda, caça e companhia. Bonita raça de cães, quase se poderia dizer que era uma raça apurada, pois mudavam apenas no tom da cor.


E, como os guineenses têm ou tinham um hábito de superstição,  que nunca entendi completamente - que consistia em atirarem para cima do animal morto pedras e paus -,  ficava um enorme obstáculo no meio da estrada, complicadíssimo para o trânsito, às vezes dias e dias.


Essa imagem dos cães de Bissau foi ou era muito degradante, embora em África houvesse pior.


Luís Cabral não teve a sensibilidade necessária, embora tivesse muita vontade de fazer melhor.


O Toby,  de João Sacôto,  fez-me recordar algo que me marcou em Bissau.


Cumprimentos 


Antº Rosinha (**)

2. Comentário do editor:



Meu caro Rosinha:

Os cães, famélicos e  vagabundos, sem eira nem beira, não eram apenas um problema do Luís Cabral, no período pós-independência, como tu tão bem descreves, com a tua sempre ativa inteligência emocional e bem municiada memória. Já o eram no nosso tempo, não só como problema de saúde pública mas também de segurança...militar: eles eram atraídos pelo cheirinho a comida dos nossos quartéis, e acampavam ou vadiavam por lá.  Alguns, muito poucos, estavam no topo da hierarquia social dos canídeos e eram preciosos auxiliares dos nossos militares (como o foi o caso dos Lassas, a CCAÇ 763, Cufar, 1965/66) (***).

Outros ainda, ainda mais sortudos (já que não tinham que trabalhar!), eram eleitos pela tropa como "mascotes" (Lembro-me, em Bambadinca, no meu tempo, do Chichas!...).  Sobre outros havia a suspeita de que podiam ser  “turras”; uma minoria relativa, errante, deveria estar,  mais provavelmente, sob “duplo controlo” (os cães, por exemplo, de Nhabijões...), ou fazia “jogo duplo”, conforme a correlação de forças no setor ou as suas próprias estratégias de sobrevivência. Cão não é diferente de gente. A maior parte, contudo,  sabia quem os tratava bem ou tratava mal. Há uma história fabulosa passada com os "cães de Bambadinca", em 1963, já aqui contada no nosso blogue pelo Alberto Nascimento...  


O PAIGC também tinha os seus problemas (nomeadamente de segurança) com os cães que cirandavam pelas tabancas das ditas “regiões libertadas”… (Bobo Keita reconhece-o explicitamente, nas entrevistas publicadas em De campo em campo, 2011). Nem todos os cães,  sob controlo do PAIGC, sabiam comportar-se, disciplinadamente,  em situações-limite como era o caso da aproximação das NT a tabancas ou acampamentos do IN… Cão que ladra não morde, mas denuncia a posição do dono… Eis a razão por que, de um lado e do outro, se faziam periódicas matanças de canídeos… Enfim, estas também são histórias de guerra, que  merecem ser partilhadas. (***)
 ____________


Notas do editor:


(*) Vd. poste de 9 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9338: Memórias da CCAÇ 617 (2): Toby, o Cão da Tropa (João Sacôto) 


(**) Último poste da série > Guiné 63/74 - P9164: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (17): Kennedy, Salazar e as "nossas colónias"


(***) Temos mais histórias como as do Toby: Sobre cães de guerra, por exemplo, vd o poste de  18 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2664: Os Cães de Guerra (Mário Fitas e Carlos Filipe, CCaç 763, Cufar, 1965/66)

Guiné 63/74 - P9362: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (11): Fragmentos Genuínos - 9




FRAGMENTOS GENUÍNOS - 9

Por Carlos Rios,
Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66






Etnografia

A comunicação com os balantas não foi fácil pois só alguns falavam crioulo, pelo que acabou por tornar este dialecto a base de conversação.

Bambadinca - Ponte - Pescadoras

Bajuda, “balanta” no Arrozal - Mansoa

São o maior grupo étnico da Guiné-Bissau, representando mais de 25% da população total do país. No entanto, mantiveram-se sempre fora do estado colonial e pós-colonial, devido à sua organização social. Os balantas podem ser divididos em seis subgrupos: balantas bravos, balantas cunantes, balantas de dentro, balantas de fora, balantas manés e balantas nagas.

Os arqueólogos crêem que o povo que viria a ser os balantas migrou para a actual Guiné-Bissau em grupos pequenos entre os séculos X e XIV d.C. Durante o século XIX, espalharam-se ao longo da área do mesmo país e do sul do Senegal, de forma a resistirem à expansão do reino de Gabu. A tradição oral entre os balantas diz que estes migraram para oeste desde a área onde são hoje o Egito, Sudão e Etiópia para escapar à seca e às guerras. Hoje, os balantas encontram-se principalmente nas regiões sul e centro da Guiné-Bissau.
São maioritariamente agricultores e criadores de gado, principalmente porcos. Existe uma importante população balanta em Angola.


Cultura

Os balantas são o único grupo étnico da Guiné-Bissau sem um chefe ou um líder reconhecido. Todas as decisões importantes entre os balantas são tomadas por um concelho de sábios. Para se tornar um membro do concelho, o candidato terá de ser iniciado durante a cerimónia do fanado.

Preparação dos meninos, já de cabeça rapada, para o “Fanado (Circuncisão) 

Aqui alimentando-se como é tradicional e em que noutros locais participei, nunca em cerimónias, era bom; arroz com pouquíssima carne (bianda com mafé) misturado com um produto extremamente picante retirado da casca de um arbusto e que se parecia com o nosso esparregado, tudo comido do mesma cabaça fazendo rolinhos daquele prato com as mãos e ingerindo-os, parecia-me que estava a comer almôndegas

Deslocação das meninas para (sacrifício) o altar dos rituais na floresta

No geral, a igualdade prevalece entre os balantas. Consequentemente, os colonialistas portugueses tiveram dificuldades em governar este povo. Na viragem do século XIX para o XX, Portugal moveu campanhas de pacificação contra os resistentes balantas e sujeitou-os aos nomeados chefes fulas. Devido à repressão portuguesa, os balantas alistaram-se como soldados em grande número e foram apoiantes de primeira linha do PAIGC no desígnio nacionalista de libertação durante os anos 60 e 70 do século XX. Contudo, quando os nacionalistas assumiram o poder após a independência, depararam-se com a dificuldade em estabelecer comités de aldeia e outras organizações entre os balantas devido à sua organização social descentralizada. Muitos balantas ressentiram-se com a sua exclusão do governo. A sua proeminência no exército esteve na origem de várias tentativas de golpes de estado lideradas pelos mesmos nos anos 30.


Religião

Os balantas são largamente animistas na sua crença. Djon Cago é o nome de uma divindade deste povo. Na sociedade balanta, acredita-se que Deus está muito longe. Os fieis tentam alcançá-lo através de espíritos e sacrifícios. Apesar do catolicismo ser parcialmente aceite, o islamismo é forte e praticado juntamente com a veneração espiritualista.

Guiné > Bissorã > Ronco (festa) balanta nas tabancas de Bissorã


Os Biafadas

Vivem em sociedade monárquica em que o chefe religioso é escolhido pelo povo, pelas suas qualidades e estudos.
São essencialmente agricultores e o seu território é sobretudo a Sul do Rio Geba (Quinara).

É pois sobre eles que revelarei aquilo que me foi dado entender da tradução que o Djaló me ia transmitindo, em plena tabanca e de uma forma recatada, pois a maior parte dos assuntos são considerados do foro religioso ou mesmo tabu e de carácter fechado. A tribo não permite a divulgação dos seus segredos mágicos a elementos estranhos.

Os pequenos textos relacionados com os itens Casamento, Culto e Morte, não têm valor científico mas meramente documental e são o resultado de conversas com anciãos – “homens grandes” – nas quais por vezes tive sérias dificuldade de comunicação apesar de bem tentar “arranhar” os seus dialectos e acabarmos a gesticular ou fazer desenhos no chão quando não havia papel.

Professam o Islamismo e como tal Alá é o seu Deus.
As suas festas religiosas são: O "suncar saló", correspondente à Páscoa, que antecede com trinta dias de jejum; o "bana saló", corresponde ao Natal; o "muscutá saló", corresponde ao Ano Novo, o ano muda ao nascer do sol.

A festa do nascimento é aos oito dias de vida e nessa altura rapam-lhe o cabelo e dão-lhe o nome próprio mais o último nome do pai. Durante a festa os convidados oferecem prendas.

Uma das actividades a que se dedicam é à pesca que praticam nos braços de mar e rios tão profusamente existentes na Guiné e que na sua pratica produzem inesquecíveis imagens.

Mulheres a pescar, mergulhadas até ao pescoço. 

As mulheres eram autênticas escravas. Estando reservado aos homens aparentemente as artes dos confrontos e cultivo do arroz, sendo que entre os Fulas, Biafadas e Mandingas, para além da pastorícia se encontravam artífices. Nas cidades verificava-se que eram os homens que se dedicavam ao uso das máquinas de costura. Também havia a prática da pesca noutros moldes por parte dos homens.

Só os homens é que pescam assim.


Os mandingas

Os mandingos (em mandingo: Mandinka) são um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental, com uma população estimada em 11 milhões. São descendentes do Império Mali, que ascendeu ao poder durante o reinado do grande rei mandingo Sundiata Keita. Os mandingos pertencem ao maior grupo etnolinguístico da África Ocidental - o Mandè - que conta com mais de 20 milhões de pessoas (incluindo os diulas, os bozos e os bambaras). Originários do atual Mali, os mandingos ganharam a sua independencia de impérios anteriores no século XIII e fundaram um império que se estendeu ao longo da África Ocidental. Migraram para oeste a partir do rio Níger à procura de melhores terras agrícolas e de mais oportunidades de conquista. Através de uma série de conflitos, primeiramente com os fulas (organizados no reino de Fouta Djallon), levaram metade da população mandingo a converter-se do animismo ao islamismo. Hoje, cerca de 99% dos mandingos em África são muçulmanos, com algumas pequenas comunidades animistas e cristãs. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, cerca de um terço da população mandinga foi embarcada para a América como escravos, após a captura em conflitos. Uma parte significativa dos afro-americanos nos Estados Unidos são descendentes de mandingos.

Os mandingos vivem principalmente na África Ocidental, particularmente na Gâmbia, Guiné, Mali, Serra Leoa, Costa do Marfim, Senegal, Burquina Faso, Libéria, Guiné-Bissau, Níger, Mauritânia, havendo mesmo algumas comunidades pequenas no Chade, na África Central. Embora bastante dispersos, não se constituem no maior grupo étnico em qualquer dos países em que vivem, excepto na Gâmbia.

Mandinga no Brasil Colonial era a designação de um grupo étnico de origem africana, praticante do islamismo, possuidor do hábito de carregar junto ao peito, pendurado em um cordão, pequeno pedaço de couro com inscrições de trechos do Alcorão, que negros de outras etnias denominavam patuá. Depois de feita a inscrição, o couro era dobrado e fechado costurando-se uma borda na outra.

Por serem mais instruídos que outros grupos e conhecerem a escrita, eram geralmente escolhidos para exercer funções de confiança, dentre elas a de capitão-do-mato. Costumavam usar turbantes, sob os quais normalmente mantinham seus cabelos espichados. Diversos negros de outras etnias, quando fugiam, também espichavam o cabelo e usavam o patuá em um cordão junto ao peito, porém sem as inscrições, para tentar disfarçar o fato de não serem livres. Mas os mandinga tinham o costume de se reconhecer mutuamente recitando trechos do Alcorão uns para os outros. Caso o negro interpelado não recitasse o trecho correto, o capitão-do-mato de etnia mandinga, capturaria o fugitivo imediatamente. Outras etnias viam, nessa mútua identificação, alguma espécie de magia, e muitas vezes atribuíam ao patuá poderes extraordinários, que permitiam ao mandinga identificar os fugitivos.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9350: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (10): Fragmentos Genuínos - 8

Guiné 63/74 - P9361: Notas de leitura (323): Malhas que os Impérios Tecem (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2011:

Queridos amigos,
Estou sinceramente em crer que esta antologia cobrindo um século de pensamento anticolonial, apesar da diversidade de propostas, nalguns casos contraditórias, destacam o militantismo anticolonial na sua coerência possível, a partir a emergência dos direitos cívicos, da descoberta da negritude e como esta influenciou decisivamente a cultura ocidental, as respostas às exigências de uma luta de libertação que requeria abordagens teóricas especificamente nacionais e onde os valores da cultura foram exaltados como porta-estandarte da resposta armada.

Um abraço do
Mário


Malhas que os impérios tecem:
Quando os pensadores anticoloniais se envolveram nas guerras de libertação
(Continuação)

Beja Santos

Se os anos 50 se caracterizam pelo chamamento à identidade nacional, à denúncia do racismo e da exploração colonial, no início dos anos 60 a luta pela libertação e a renovação da cultura nacional entraram na ordem do dia. Em 1961, Frantz Fanon escreve “Os Condenados da Terra”, uma obra de referência para todos aqueles que já estavam ou que em breve se envolveram nos movimentos de libertação. Manuela Ribeiro Sanches, organizadora da antologia “Malhas que os Impérios Tecem” (Edições 70, 2011) chama justamente à atenção para o interesse desta obra que recebeu os maiores encómios de Jean-Paul Sartre em “Orfeu Negro”. É já nesta linha de pensamento que deve ser encarado o contributo de Kwame Nkruhmah que a antologia acolhe um texto exemplar. Sopram por toda a África ventos de unidade, a década verá a implementação de experiências falhadas na constituição de federações e de agrupamentos regionais. Os valores da cultura começam a pesar nos diferentes registos, personalidades como Mondlane ou Cabral irão dizer que a luta armada para além de um instrumento de unificação deve conduzir ao progresso cultural, o esteio mais sólido contra o colonialismo e o neocolonialismo.

No texto anterior, houve a preocupação de pôr em sequência as afiliações múltiplas do pensamento anticolonial, com peso especial nos EUA e na região das Caraíbas, que se veio cruzar com o fenómeno da negritude desenvolvido por intelectuais negros que se impuseram nas metrópoles coloniais, caso de Césaire e Senghor. Destacou-se o périplo de um conjunto de escritores americanos que percorreram África e que foram extremamente críticos quanto à condução do processo colonial, anotando as diferenças entre as comunidades negras assimiladas nos EUA e nas Caraíbas e aquelas que estavam a sair ou se preparavam para sair do estado colonial. É este arco histórico e cultural que permite perceber como o pensamento colonial não nasceu espontaneamente no fim da II Guerra Mundial, teve antecedentes no pan-africanismo que conduziram as novas potências, sobretudo os EUA e a URSS a usá-las no tabuleiro da Guerra Fria. Mas só se pode entender Mário Pinto de Andrade e o incitamento à revolta contra a dominação colonialista no contexto específico de uma revisão apressada da doutrina colonial proposta por Salazar, quando se apercebeu que as independências na Ásia e na África iam inevitavelmente conduzir aos conflitos armados.

O pensamento colonial procurara através da etnografia e da etnologia algumas justificações de índole científica para a menoridade do negro, para a obrigação de o civilizar. O pós-guerra suscitou a urgência e a importância do problema colonial na sua totalidade. É aqui útil recordar a viagem científica do antropólogo Mendes Corrêa à Guiné em 1947. Estamos a falar do mesmo cientista que dirá com a maior das naturalidades o seguinte sobre o mulato: “Como seres humanos, ligados à nossa raça pelos sagrados laços de origem, os mulatos têm direito à nossa simpatia e ajuda. Mas as razões que propusemos não permitem que o papel político dos mestiços vá além dos limites da vida local. Por mais brilhante e eficiente que seja a sua acção no sector profissional, económico, agrícola ou industrial, eles nunca devem – tal como os estrangeiros naturalizados – ocupar lugares de destaque nos assuntos públicos do país, excepto talvez em casos de completa e comprovada identificação connosco em temperamento, vontade, sentimentos e ideias, o que é excepcional e improvável”. A detecção deste racismo fora já obra da geração de Aimé Césaire, a que não faltou a visão crítica de que estava em curso o espectro da extinção das formas de civilização das sociedades colonizadas. Césaire dirá mesmo que a ordem colonialista nunca inspirou qualquer poeta e que nunca um hino de reconhecimento ressoou aos ouvidos dos colonialistas modernos. Ele pediu a palavra aos povos para se pôr termo ao caos cultural dos colonizados. Com base nesse apelo procedeu-se à revisão de como o racismo e o colonialismo tinham despojado as culturas nacionais, reorientando-as para um serviço dócil ao colono. Os compromissos entre as nações independentes e as antigas colónias também se saldaram em fracassos quando esses compromissos obedeceram às tácticas. O texto antológico “O neocolonialismo em África” de Kwame Nkruhmah é de uma importância fundamental para se entender o apelo à unidade africana que em muito sensibilizou Amílcar Cabral.

A antologia privilegia peças incontornáveis de Mondlane e Cabral. Falando de um movimento nacional em Moçambique, Mondlane volta a pôr em equação resistência e cultura: “O desejo dos portugueses de impor a sua cultura em todo o território, mesmo se bem-intencionado, era completamente irrealista devido ao tamanho da população. Constituindo menos de 2 % da população, os portugueses não podiam sequer esperar que todos os africanos tivessem a oportunidade de observar o modo de vida português. A maioria dos africanos só se encontrava com os portugueses na altura do pagamento do imposto, quando eram contratados para o trabalho forçado ou quando as suas terras eram confiscadas”. Dá depois exemplos da revolta dos intelectuais com destaque para a poesia de José Craveirinha com a sua estrutura musical bem demarcada:

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão
e tu acendes-me, patrão
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão
e tenho que arder, sim
e queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão
tenho que arder na exploração
arder vivo como alcatrão, meu irmão
até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão
tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim! Eu serei o teu carvão, patrão!

A peça de Amílcar Cabral intitula-se “Libertação Nacional e Cultura”, foi uma conferência proferida na Universidade de Siracusa (EUA) em Fevereiro de 1970, à memória de Eduardo Mondlane. O movimento de libertação aparece como sinónimo de expressão política da cultura do povo em luta. Explana sobre as experiências de domínio colonial e o imperativo de uma cultura nacional para derrotar de vez o colonialismo. Insiste na sua tese de que os dirigentes do movimento de libertação, originários da pequena burguesia devem estar implicados em conhecer o povo, descobrindo nele a fonte dos valores culturais, isto a par da prática da democracia, da crítica e da autocrítica e da responsabilização crescente das populações na gestão da sua vida.

Esta antologia contempla um século de pensamento anticolonial e desmonta a lenda de que os movimentos de libertação tiveram a sua origem em razões conjunturais da ganância das superpotências ou em ideologias marcadamente marxistas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9349: Notas de leitura (322): Malhas que os Impérios Tecem (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9360: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: Terminada a operação, a luta e a labuta no Cachil continuam (CCAÇ 557): Parte II (José Colaço)



O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a continuação da narração iniciada no poste P9351.

Tridente terminada mas a luta e a labuta no Cachil continuam
Parte II 

Com a Operação Tridente dada como terminada,  o Cachil fica a ferro e fogo, a guerrilha reorganiza-se novamente na mata do Cassaca e em toda a zona de Cauane e Caiar, pois aquela zona tinha ficado livre de qualquer controle militar por parte das forças portuguesas. Como prova do que digo,  um dia de Abril que cito de memória, pois não registei a data, o comando chefe operacional da Guiné reorganiza uma batida, que chamava de limpeza à mata do Cassaca. 

A entrada na mata do Cassaca era feita através da orla da mata do Cachil, atravessando-se uma clareira, passagem esta onde as nossas forças durante a operação foram sempre repelidas, tornando-se este espaço uma passagem para a morte. 

Durante a noite os obuses de Catió bombardearam a mata e a seguir o avião bombardeiro P2V5 descarregou também ali as suas bombas, como fazia durante a Operação Rridente. De manhã, ao nascer do sol, vieram dois F86 e bombardearam, mais uma vez, a mata. 

Nota: No dia anterior um pelotão da CCaç 557 fez o reconhecimento a toda a mata do Cachil sem qualquer problema. Relembro que quando chegamos ao fim orla da mata do Cachil, à entrada da tal clareira para a mata do Cassaca, o alferes comandante do pelotão, no seu espírito jovem aventureiro, ter insistido junto do capitão vamos lá meu capitão não está lá ninguém. A resposta do capitão foi: “Amanhã dia da operação é que nós lá vamos.” 

Fica a interrogação o que nos teria acontecido se…? Mas as coisa são como acontecem e não se a opção tivesse sido outra. 

A seguir entraram em acção as tropas especiais terrestres, comandos, páras, fuzileiros e exército, apoiadas por 2 aviões T6, que passaram toda a mata do Cachil sem problemas. Mas, quando chegaram à clareira que dava acesso à passagem para a mata do Cassaca, foram atacadas com fogo de armas ligeiras, pesadas e fogo de morteiro, e tiveram que recuar resguardando-se na mata do Cachil. Deste confronto, as nossas forças sofreram doze feridos que foram evacuados de helicóptero. 

Resumo: Após esta limpeza (como foi chamada), as nossas forças especiais, à tarde, regressaram às suas unidades e foi feito o relatório para o comando-chefe. A partir desta data até 27/11/64, data em que eu e a CCaç 557 saímos do Cachil, não houve mais nenhuma ordem para ir à mata do Cassaca, nem pelo comandante-chefe militar, brigadeiro Fernando Louro de Sousa, nem pelo brigadeiro Arnaldo Schulz, que em Maio substitui o então polémico brigadeiro Fernando Louro de Sousa. 

Não dá para entender, porque razão se mantinha aquela força militar acantonada no Cachil e, para cúmulo, mais tarde, o comandante da CCaç 557 recebeu ordens do comandante de sector sediado em Catió em que desaconselhava batidas à mata do Cachil.  



Foto nº P1170599.jpg - Transporte de todos os mantimentos à força bruta do homem do cais para o quartel, que ficava a cerca de 1Km.

Foto nº P1170527. jpg - A maca do posto médico adaptada para padiola, no transporte dos géneros cedida pelo Dr. Rogério Leitão [ falecido em 28 de Outubro de 2010,], na condição de ser estimada porque não se sabia qual a hora em que ela podia ser precisa para o fim que se destinava: o transporte de doentes ou feridos.
Foto nº P1170565.jpg – A cozinha do quartel do Cachil.

Foto nº P1170537.jpg - O tenente-coronel Matias, de quico e óculos escuros, comandante de Sector de Catió - BCAÇ 619 - à conversa com o capitão Ares, comandante da CCaç 557, na única visita que fez ao Cachil, enquanto a CCaç 557 por lá permaneceu.
Foto nº 1170506.jpg - A lancha no cais do Cachil, responsável pelo transporte dos géneros de Catió para o Cachi

Foto nº 1170578.jpg - A contar da esquerda: O açoriano de Santa Bárbara - Ribeira Grande, ex- alferes miliciano Viriato Madeira - comandante do 1º pelotão; a seguir o também açoriano, picaroto, ex-alferes miliciano Mário Goulart - comandante do 3º pelotão que todos os anos faz questão de nos acompanhar no almoço de convívio da CCaç 557; pela mesma ordem,  o algarvio,  ex-alferes miliciano,  Ildefonso Leal - comandante do 2º pelotão – e, em baixo, o aveirense, ex-tenente miliciano médico,  Rogério Leitão [, já falecido,  em 2010].
Foto nº1170605.jpg - O paiol no quartel do Cachil.

RESUMO > Partida para a ilha do Como

Foto nº P1170500.jpf - O capitão Ares encostado ao jipe, ao lado o nosso tenente miliciano médico Dr. Rogério Leitão, momentos antes da partida para o Como. A partir daqui não há fotos a não ser do Cachil, como já referi o rolo levou sumiço quando foi para revelar.
Foto nº P1170519.jpg - Os trabalhos na construção da paliçada.
Foto nº P1170516.jpg - O pessoal na labuta e transporte dos toros para serem colocados na construção da paliçada.
Foto nº P1170518.jpg - Aqui uma construção menos sofisticada, possivelmente uma qualquer arrecadação.
Foto nº P1170521.jpg - Uma pausa nos trabalhos para tomar água.

Foto nº P1170523.jpg - O primeiro da esquerda é o tenente-coronel Fernando Cavaleiro, de quico e barbas, no Cachil em 21 de Março de 1964, quando atravessou a pé através da mata do Cassaca toda a Ilha desde Cauane ao Cachil, anunciando nessa altura a vitória da operação e por consequência disso o fim da operação tridente.

Nota: As fotos, todas elas, são de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da Companhia de Caçadores 557.

José Colaço
Soldado Trms da CCAÇ 557

Fotos: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

domingo, 15 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9359: O Nosso Livro de Visitas (121): Mafalda Ramos, filha do nosso camarada Armando Ramos do BCAÇ 1911

Nesta foto: Fernandino Vigário; Barbosa (Póvoa); Francisco (Miranda do Corvo) e Armando Ramos (Torres Novas)


1. Comentário deixado no Poste Guiné 63/74 - P9186: Tabanca Grande (309):

Viva! É com muita alegria que consegui chegar a vós.

Sou filha do Armando Ramos, de Torres Novas, 1º Cabo de Transmissões do Batalhão de Caçadores 1911 (1967-1969) que está na fotografia que gentilmente partilharam ...  O meu pai era de facto um "borrachinho". E  um misto de emoções me invadiram: o stress pós traumático, o que nós filhos sofremos por consequência do que Heróis como os senhores passaram numa guerra que nos cabe a todos arrumar nos nossos corações e reencontrar a paz necessária.

Grata por este meio que ajudará e muito a sarar estas feridas comuns... ESTAMOS JUNTOS!

Mafalda Ramos, telefone 93 506 7764 e 91 873 3318 e email: mafaldasays@gmail.com.

Em breve, em conjunto com o pai Armando, iremos colocar aqui uma fotografia do Batalhão [, o BCAÇ 1911,Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69, ], fotos  individuais (que religiosamente guardei...) e a história contada pela 1ª pessoa - o meu pai, cuja partilha é tão necessária já que foi apenas comigo,  aos 12 anos, que o pai contou muito do que passou...

Hoje felizmente o meu pai faz uma vida normal com saúde (dentro das limitações normais) e hoje dei uma GRANDE alegria ao meu pai GRAÇAS A VÓS!

BEM HAJAM E ESTAREI MAIS ATENTA AGORA A ESTE NOSSO ESPAÇO.

BOM ANO DE 2012, CAMARADAS!


2. Comentário de CV:

Cara amiga Mafalda:

Muito obrigado pelo comentário deixado no Poste onde foi publicada a foto do nosso camarada Vigário, onde está o seu pai.

Costumamos dizer que o Mundo é Pequeno e o nosso Blogue Grande. O seu pai, e nosso camarada Armando Ramos, que agora nos descobriu, com a sua ajuda poderá contribuir para o espólio o nosso Blogue, mandando-nos as suas fotos e memórias para as publicarmos. Até porque temos poucas referências ao BCAÇ 1911 e ao seu pessoal.

Pelo que pudemos ler, a Mafalda foi um esteio para o seu pai na qualidade de confidente/ouvinte e acompanhante da sua recuperação psicológica. Por isto receba a nossa estima e consideração. Bem haja.

Ficamos assim à espera das vossas próximas mensagens, enviando, em nome dos editores e da tertúlia, um grande abraço para o camarada Ramos e outro para si.

Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9328: O Nosso Livro de Visitas (120): Anabela Pires, em vias de ir para Iemberém, no Cantanhez, trabalhar como voluntário na AD - Acção para o Desenvolvimento, procura cartas da região de Tombali e elogia o nosso blogue

Guiné 63/74 - P9358: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (49): O "anónimo" J.B. Marques que comunicou o falecimento de Daniel Matos (Hélder Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa* (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72):

Caros camaradas, Editor e co-Editores
Costumamos dizer que "o Mundo é pequeno mas o nosso Blogue é grande" como forma de passar a ideia que por ele e através dele acontecem muitos encontros (e alguns desencontros... mas isso são contas de outro rosário) que de outro modo ou não sucederiam nunca ou demorariam provavelmente mais tempo.

Isto vem a propósito do que me sucedeu e que acaba por se enquadrar muito bem naquele lema.
Vou relatar e se acharem que tem enquadramento, pois então que publiquem.


O "anónimo" J.B. Marques que comunicou o falecimento de Daniel Matos

Nos primeiros dias do passado mês de Dezembro estive presente no Tribunal de Trabalho de Lisboa onde estava citado como testemunha num caso de litígio laboral que opunha uma jovem arquitecta a um conhecido e reconhecido arquitecto lisboeta. Houve uma espera demorada com conferência entre advogados e o/a Juiz do julgamento e na sequência disso a sessão acabou por ser adiada e transferida para 13 de Janeiro deste ano, o que efectivamente já ocorreu.

A principal razão foi a situação de manifesta incapacidade física do sr. advogado da outra parte que se encontrava um tanto debilitado por força de perturbações e anormalidades no funcionamento da 'máquina'.

Embora não seja 'aconselhável' o contacto entre testemunhas de diferentes partes e esses advogados, a verdade é que arranjei maneira de, ao desejar-lhe as melhoras, lhe dizer que a sua fisionomia me fazia lembrar um amigo virtual que conhecia apenas através de um blogue de antigos combatentes na Guiné e que tinha conhecimento de ter falecido recentemente, mas sem lhe dizer quem.

Na volta ele disse-me que também conhecia um, amigo pessoal, cuja morte recente o tinha também deixado mais abalado e que se chamava Daniel Matos. É claro que "fez-se luz" mas ali, e naquele momento, não dava para mais, ficando no entanto tacitamente combinado que aquando da sessão de 13 de Janeiro podíamos, depois da dita, falar um pouco mais.

E assim se fez.

Então, na passada sexta-feira, 13 de Janeiro, lá conversámos sobre o nosso malogrado camarada Daniel Matos, falecido em 13 de Novembro e sobre o nosso Blogue. Foi ele o "anónimo" que enviou a notícia, em jeito de comentário deixado no P6351, em 20 de Novembro, e na sequência do qual se produziu o P9073 no dia seguinte, com as indicações que entretanto se foram obtendo. O meu interlocutor é hoje advogado, como já disse, J.B. Marques de seu nome, e foi combatente em Angola e não na Guiné, razões pelas quais não se identificou. É amigo da família do Daniel (Dani, para os amigos), e embora dois anos mais novo acompanhou com interesse e emoção os relatos que o "Dani" fez dos "Marados", principalmente da epopeia de Guidaje e que ele considera que a família, ou outra entidade, deveria tentar editar. Também conversámos um pouco mais sobre a Guiné, que ele não conhece mas aonde irá em breve no âmbito de afazeres profissionais, e trocámos as informações possíveis e necessárias.

E pronto.
Não é muito, mas acho que é o suficiente para se poder comprovar que de facto o nosso Blogue é grande, é, pelo menos, certamente, um grande meio de comunicação e de 'encontros'. De emoções e de solidariedade.

Abraços
Hélder Sousa
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9346: Tabanca Grande (317): Anabela Pires, voluntária no projeto Ecoturismo do Cantanhez, nossa tabanqueira nº 536, aqui saudada pelo Hélder Sousa

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9091: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (48): Como a publicação do Diário da CCAÇ 675 fez reencontar dois camaradas quase meio século depois (Manuel Joaquim)

Guiné 63/74 - P9357: Da Suécia com saudade (33): A guerra da Guiné vista de uma certa retaguarda (José Belo)

1. Mensagem de José Belo, ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia:

A Guerra da Guiné vista de uma "certa" retaguarda

Naquele ano de 69/70, dentro do espírito da Campanha "Por uma Guiné Melhor", o Comando Chefe da Guiné convidava alguns muçulmanos mais representativos para viagens de peregrinação a Meca.

Por razões várias, tinha contribuído para que 3 Homens Grandes de Tabancas ao redor de Aldeia Formosa tivessem sido incluídos (com toda a justiça) numa das listas das viagens. Foi em cortês gesto de agradecimento que, no regresso de Meca, aproveitando a estadia em Lisboa, decidiram ir "partir mantenha" a casa dos meus pais. Envergando os seus grandiosos trajes de "ronco" bateram à porta precisamente no dia da semana em que a minha mäe se reunia com as amigas à volta de uma chávena de chá.

Recebo na Guiné carta do Estoril...

"Meu querido filho"... Que roupagens fantásticas! Que português tão exótico o que falavam! Que bem educados nas suas tradições, e à sua maneira! Que acontecimentos incríveis que tão bem souberam descrever! A esposa do Presidente da Câmara convidou-os de imediato para o visitar. Sabes, gostaram muito do meu chá, e principalmente da... bavaroise de ananás! 

Sentado contra uma árvore na mata do Sul da Guiné, se näo me urinei a gargalhar pouco terá faltado.

Conhecia bem aquelas "eternas meninas" da Parada de Cascais do Portugal de então. Sentadas, segurando nas suas mãos delicadas por tantos ócios, as minúsculas chávenas de chá, e discutindo as delícias da bavaroise de ananás com aqueles heroicos combatentes Fulas. Encontros de um Império tão desencontrado.

Quem sabe se regressaram às matas do Forreá carregando nos "R" e dizendo "pecébe" no tal dialecto "bem" de uma certa capital de império.

Estocolmo, 15/01/2012
Um grande abraço
José Belo
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9020: Da Suécia com saudade (32): Geração, a Nossa... (José Belo)

Guiné 63/74 - P9356: Agenda cultural (181): Laboratório das Artes, Guimarães: Exposição sobre a guerra de África, de 20/1 a 25/2/2012: Convite do autor, Manuel Botelho


1. Mensagem do artista plástico Manuel Botelho:


 Data: 12 de Janeiro de 2012 22:11

Assunto: Exposição de Manuel Botelho

Caros editores e amigos:

Vou inaugurar mais uma exposição sobre a nossa guerra em África.  Quero convidar todos os membros do vosso blogue a estarem presentes na inauguração ou a visitarem esta exposição.

A todos um abraço

Manuel Botelho

[Vd. também página do artista na Net: vd ainda texto do crítico João Pinharanda sobre a anterior exposição do autor, Cartas de amor e saudade, 2011]

Manuel Botelho | Marcha Lenta

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Portugal, final dos anos sessenta, a guerra em África. Entre realidade e ficção, interroga-se o presente evocando o passado.

1º piso: enormes panos de tenda; castelos de cartas; espingardas ferrugentas emergindo da terra avermelhada; mapas de lugares incertos. Das acções militares aos intermináveis tempos de espera; um império à beira do colapso. 

2º Piso: uma parede feminina, cor-de-rosa, isola o espaço da instalação. Nando, radiotelegrafista em comissão na Guiné, e Lenita, empregada de escritório em Lisboa, são nomes fictícios de personagens reais; "Cartas de amor e saudade" baseia-se nas cartas que trocaram durante 2 anos, num formato que relembra as novelas radiofónicas dos anos sessenta.

3º Piso: um muro de velhos panos de tenda individuais; uma bandeira dobrada, outra cobrindo um corpo; regresso inglório; Marcha lenta.

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Laboratório das Artes
Edifício do café Milenário | Largo do Toural | 4800 Guimarães
Inauguração: 20.1.2012 às 22:00h
Até 25.2.2012
4ª a sábado das 16:00h às 19:00h

2. Nota do editor

Sugestão adicional: Aproveitemtambém, caros amigos e camaradas, para conhecer a Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura, que começa a 21 de janeiro de 2012. O centro histórico de Guimarães é, além disso, património mundial da humanidade. Tenhamos orgulho no que é nosso e no que fazemos de bom  ou melhor do que os outros.  LG

PS - Veja-se também o suplemento Fugas do jornal Público, de ontem. Belíssima capa (foto de Nelson Garrido), escolhida pelos leitores. Tudo (ou quase tudo) sobre este evento que vai durar um ano.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P9355: Facebook..ando (15): Um "regalo" para a Maria Ivone Reis, que anteontem fez anos (Hugo Moura Ferreira)



Foto: © Hugo Moura Ferreira (2012). Todos os direitos reservados

1. O nosso camarada Hugo Moura Ferreira deixou, na nossa página do Facebook,  esta pequena preciosidade, a cópia de um postal, assinado pela Maria Ivone Reis, Alf Enfermeira Paraquedista, datado de Luanda, 11-IV [?] -62, com os seus agradecimentos ao "doutor A. Ferreira" pelos "parabéns" e o seguinte voto:

"Desejo muito saber corresponder ao que esperam da minha missão profissional e que eu consiga a consciência de sempre bem cumprir".

No mural do Facebook da Tabanca Grande, o Hugo acrescentou o seguinte: 

 "Muitos Parabéns,  Maria Ivone. Como cumprimento, aqui deixo a reprodução de um postal enviado a meu Pai, em 1962, que sempre guardei como relíquia e com toda a devoção".

A Ivone e o seu anjo da guarda, a Maria Arminda, vão adorar. Obrigado, Hugo.

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Nota do editor:

(ª) Último poste da série > 30 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9291: Facebook...ando (14): João José Alves Martins, ex-Alf Mil PCT (BAC1, Bissau, Bissum-Naga, Piche, Bedanda, Gadamael, Guileje, Bigene, Ingoré, 1967/70)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9354: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (48): Bula - estória de uma foto

1. Mensagem do nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 11 de Janeiro de 2012:

Amigo Carlos Vinhal
Segue mais uma estória de “Viagem…” que poderá trazer às lembranças Camaradas que em dado momento se voluntariaram em nome de uma ou outra razão, assumindo riscos que lhes não caberiam. Devo dizer que me merecem todo o respeito.

Que 2012 seja ultrapassado com saúde e que as amizades se fortaleçam.
É o meu desejo para ti e para todos

Abraço
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (48)

Bula – estória de uma foto

Companheiros de guerra havia - julgo que em especial daqueles que pertenciam aos serviços e se encontravam integrados em Batalhões ou Companhias estacionados em centros populacionais mais importantes - que não queriam regressar a casa no final da comissão sem terem saído pelo menos uma vez para o mato.

Uma fotografia carrega (va) com ela uma dessas estórias. Estou cansado de a procurar… não aparece! Sinceramente gostava muito de a encontrar. Na certa não havia (há) outra no mundo… será única esta fotografia original, tirada julgo no terceiro terço de 1972.
Preservei-a religiosamente durante trinta e tal anos … ficou até ver desaparecida, esquecida ou “surripiada” há bem pouco tempo, talvez numa qualquer mostra em reuniões nossas.
Tenho pena que tenha acontecido, pois como disse, carrega (va) com ela uma estória comum a alguns, talvez até a muitos Companheiros da guerra.

Por Bula íamos avançando nas semanas, intervalando ócio e lazer com emboscadas, operações, patrulhamentos e serviços, ansiando pela rendição que parecia não mais acontecer, mas que a cada dia ganho se ia aproximando.

Acontece que, sendo a “FORÇA” uma Companhia de intervenção, mas estacionada num aquartelamento sede de Batalhão, à altura pouco atreito a ataques, havia rapaziada dos serviços que nunca tinha saído para o mato em operações e como tal achariam talvez não terem ainda sentido verdadeiramente aquela guerra.

Assim, um ou outro não querendo acabar a comissão e regressar a casa sem ter minimamente vivido e usufruído dessa experiência, de modo a saberem e sentirem como era, para os finais de comissão e quando sabiam de saída para operações, pediam-nos para integrar o grupo, o que era consentido ou não, dependendo do risco do objectivo, da pessoa e da autorização do Capitão.
Claro que se tentava demovê-los e só o consentíamos se considerávamos o objectivo de pouca probabilidade de confronto, sendo que de qualquer modo o risco existia sempre.

É neste contexto que numa saída para Ponta Matar se apresenta o Lourenço, Fur. Transmissões (o “Metralha”), equipado a preceito e qual “repórter de guerra”, acompanhado da sua quase inseparável “Asai Pentax”(?) pendurada ao pescoço. Instruo-o de que o lugar dele será atrás de mim, que deverá fazer tudo o que me vir fazer, sem despega.

O grupo arranca e lá vamos pela noite cumprindo a missão destinada, que se antevia calma e sem incidentes. A manhã encontra-nos deambulando em plena mata com o Lourenço procedendo como combinado e a assentir que tudo estava bem com ele. O tempo vai passando e registos fotográficos para memória futura, vão ficando na maquineta.

Sem mais nem para quê o tiroteio rebenta. O amigo Lourenço havia ganho a aposta e a experiência desejada, ainda por cima com “picante”que não se antevia.

Dias mais tarde, são-me mostradas as fotografias tiradas, e no lote havia a tal de que falo e anda desaparecida, que a pedido me foi oferecida na altura. Gostava mesmo de a vos poder mostrar, contudo, na impossibilidade actual espero ter a arte e o engenho para a descrever de molde a que possam observá-la como se à estampa tivesse sido dada.

É uma foto de grande nitidez e originalidade, tirada nas matas de Ponta Matar. Não regista nem uma nesga de chão, nem uma árvore, nem uma pessoa, nem qualquer objecto… nada a não ser uma única haste de capim focada em grande - plano até meia altura do rectângulo fotográfico, majestosa e erecta, perfeitamente centrada na foto e tendo o céu como fundo.

O Lourenço atirando-se para o chão tinha feito o que eu na certa fiz e a foto única e original, talvez inesperada e tirada debaixo de fogo em ângulo superior a 45º… aconteceu.

Luís Faria

Foto LF
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9237: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (47): O fugitivo

Guiné 63/74 - P9353: História da CCAÇ 2679 (46): SEXA COMCHEFE visitou Tabassi (José Manuel Matos Dinis)


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 11 de Janeiro de 2012:

Olá Carlos,
Aqui vai mais um pedacinho de história da CCaç 2679. Nada de relevante. Aconteceu, porém, uma inopinada visita do ComChefe a uma tabanca em auto-defesa, onde nunca descortinei o paradeiro das G3 novinhas que ali foram distribuídas - Seria interessante saber se o General teria alguma agenda com anotações dessas visitas.

Para ti e para o Tabancal vai um abraço fraterno
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (46)

"SEXA COMCHEFE visitou Tabassi"

A História da Unidade revela sobre a situação geral durante o mês de Janeiro de 1971:

Durante o mês de Janeiro-71, a actividade de iniciativa IN manteve-se em relação ao período anterior: duas flagelações ao Aquartelamento de Bajocunda e uma ao Destacamento de Copá. É de assinalar a forte intensidade do fogo IN empregue no dia 01JAN71, contra Bajocunda e em 07 contra Copá. Muito embora não causassem quaisquer baixas às NT e à população, os estragos materiais foram um tanto avultados, principalmente no ataque a Bajocunda.
A Companhia mantém o ritmo operacional em relação ao período anterior:
Os dois grupos de combate da CCav 2747 que se encontravam nesta em reforço temporário, regressaram a Piche em 19JAN71, sendo substituídos entretanto por um grupo de combate da CCaç 5 que segue em 21JAN71 para Copá a fim de render o Pel Caç Nat 65, que regressa a esta Companhia em Bajocunda.
A Companhia continua ainda reforçada temporariamente por 01 GrCombate da CArt 2762.
O Pel Caç Nat 65 segue em 22 para Tabassi rendendo 01 GrCombate da Companhia na protecção àquela tabanca.
Em 26JAN71 apresentou-se na Companhia o Pel Mil 298 recém formado em Contuboel que é atribuído de reforço à CCaç.
O Pel Mil 269 continua fixado em Amedalai a fazer a protecção àquela tabanca e diariamente 01 GrCombate reforça Tabassi à noite. Mercê de uma acção psicológica bem orientada a Companhia consegue que se apresentem neste período em Copá, mais 04 elementos da população refugiados na Rep Senegal a fim de ali residir. Em Amedalai também se apresentaram 10 elementos pop que ali fixam residência.
SEXA COMCHEFE visitou Tabassi.


Durante o mês de Dezembro aconteceram os seguintes aumentos ao efectivo:
Alferes Mil de Infantaria Eduardo José Luís Machado Pinto, proveniente da C Caç 2789, para o 4º. Pelotão, e os soldados, Manuel Morais, em rendição individual, e Armando Manuel Lanzana Lapa, proveniente da 26ª. CComandos, ambos para o segundo Pelotão, o Foxtrot. Foram dois elementos de boa valia.

Localização de Tabassi na Carta de Pirada


Minha nota:

Como acabam de ler, o IN mostrou-se bastante colaborante com a NT, pois, sabendo que os elementos da 2679 eram preponderantemente madeirenses, não quiseram deixar-nos passar o ano sem o condigno "reveillon". E no dia 1, pelas 21H45, voltaram a flagelar Bajocunda com um bom potencial de fogo, tendo deslocado morteiros, lança-granadas foguete, canhões s/recuo, e armas ligeiras.

Entretanto, um dia que não assinalei, provavelmente em 27DEZ70, regressei de uma coluna a Nova Lamego e senti-me censado, mas sem qualquer suspeita de doença ou sintoma de mau-estar. Comi, e fui para o meu quarto, onde três ou quatro jogavam cartas. Adormeci naturalmente. Até que a certa altura, já para o tardote, comecei com manifestações estranhas de inquietação e convulsões, acordei, e queixei-me de fortes cólicas, que não me permitiam sossegar. Foram chamar o Vítor que, perante as minhas manifestações, mas sem um diagnóstico (as Companhias em geral não tinham meios de diagnóstico."Guerra, é guerra!"), perguntou-me se eu aceitava uma injecção para acalmar. "Traz lá essa merda, depressa", deve ter sido a minha mais que natural resposta. O Vítor aplicou-me a injecção, que garantia, havia de produzir efeito. Qual quê! Não fez efeito nenhum. Então, o Vítor ministrou-me uma segunda injecção, na falta de medicação alternativa, admitindo que esta segunda dose teria que causar efeito, neutralizando a dor e restituindo-me tranquilidade.

Mais um hiato, talvez de uma ou duas horas, e... nicles. A minha imagem devia ser de desespero, e a malta em meu redor inquietava-se. À terceira dose, o Vítor esgotou os recursos razoáveis, pois não queria matar-me pela cura. Por essa altura, já o Marino, por indicação do Vítor, tinha pedido a minha evacuação.

Amanheceu como todos os dias, mas eu, desesperado, e acagaçado pelo obrigatório ingresso no hospital, não tinha esperança.

Talvez uma horita depois da alvorada, chegou um DO para me transportar ao hospital. Alguns Foxtrot acompanharam-me na despedida com graçolas a que eu nem era capaz de reagir.
Não sei se por efeito do cagaço, se por efeito da altitude, se por "ineficiência" da doença, quando cheguei a Bissalanca sentia-me bem.

Puseram-me numa ambulância e transportaram-me até a um médico que, no hospital, fazia despistagem. Quando me interrogou, disse-lhe da estranha manifestação da doença, e referi as injecções que me tinham dado, o que deveria constar de um qualquer relatório. Depois, despi-me de roupas e preconceitos, e encaminharam-me para a SO - Sala de Observações, um salão com ambiente fresco, onde ocupei a última cama do lado da entrada. Existiam no local oito camas, que passaram a estar preenchidas. Fiz análises e os exames prescritos, e voltei para a cama, onde tapei as vergonhas com um lençol. Era assim, também, para os restantes.

Era um ambiente terrível, e eu não encontrava qualquer razão para estar ali. Todos os meus companheiros de camarata tinham sido vítimas dos acasos da guerra, com excepção do que estava à minha frente, onde permanecia por alguns dias, com o diagnóstico de paraplegia, em virtude de um acidente. Os restantes, feridos em combate, mutilados ou portadores de estilhaços, aguardavam evacuações para Lisboa, e permaneciam em estado de adormecimento, só dando sinal quando as drogas abrandavam o efeito, ou tentavam mudar de posição na cama, e desatavam em choro, quando se encontravam com a nova realidade e as dores emanantes.

Passadas as duas noites a respirar daquele ar condicionado, chegaram os resultados, que revelaram uma amibíase, uma doença provocada por amibas ingeridas com a água que, entretanto, tinham devassado os glóbulos vermelhos. Transitei então para o primeiro andar, onde tomei lugar no primeiro quarto do lado direito, cuja varanda se situava sobre a entrada principal. Quando ali cheguei, apresentei-me ao ocupante da outra cama, o médico de Piche que se "batia" a uma hepatite. Tornei-me um cliente de luxo, pois a par dos mata-bichinhos prescritos, também tinha direito a frutas sul-africanas, e a sumos italianos, sempre em quantidade excedentária, que ainda permitia a alguns camaradas abastecerem-se.

Enquanto ali permaneci, o acontecimento mais relevante foi a operação cirúrgica ao CMDT da Região Militar de Bissau, o célebre "onze". Tinha permanentemente duas sentinelas à porta do quarto, uma atitude lógica, pois qualquer um dos internados poderia tentar-se a fazer justiça perante a oportunidade. E ao fim da tarde, esteve sempre garantido o espectáculo dos oficiais superiores, todos engalanados, a bater com os tacões das botas polidas, nos mosaicos do corredor, numa precipitação para prestarem vassalagem subserviente ao grande senhor enfermo, o grande déspota solitário. Apresentavam-se aos soldados sentinelas, e um deles ia confirmar a autorização para que o interessado tivesse oportunidade para entrar. Foram cenas dignas do magnífico romance de Gabriel Garcia Márquez, "O Outono do Patriarca", que neste caso tentava revitalizar.

Lembro-me ainda de duas situações aberrantes naquele hospital, um furriel miliciano e um soldado, ambos "clientes" da psiquiatria: o primeiro seria refratário por questões políticas, e o segundo teria cometido crimes sobre dois familiares (era o que constava). Ambos tinham o receituário diário, mas uma vez por semana, levavam uma dose extraordinária, uma injecção de vários centímetros cúbicos, que os deixava sem falar e quase sem comer durante dois dias. Aliás, nos períodos intercalares, e tive confirmação disso pelo contacto directo, nenhum deles conseguia manter um diálogo, com nítida falta de capacidade de expressão, e olhares vagos, de ausência. Não sei que futuro tiveram, nem se o psiquiatra contribuiu para a saúde deles.

Estive ausente da Companhia quase por um mês.

No meu regresso fiquei a saber que o Foxtrot, por falta de comando, foi deslocado para Tabassi, onde ficou a defender a tabanca. Durante algumas noites ficaram entregues a si próprios, comandados pelo Cabo mais antigo, ou solidariamente organizados. Também me fizeram queixa de que o pelotão abandonara a aldeia.

Apurei que os almoços eram confecionados em Bajocunda e transportados para Tabassi. Todavia, sem qualquer critério, a chegada das refeições fazia-se tardiamente, a uma hora qualquer, e o pessoal reclamava através da escolta. Coisa que não devia impressionar o capitão e os "sorjas". Até que um dia não se fizeram rogados, e apresentaram-se em Bajocunda para comer no refeitório. Estalou uma bronca, mas o pessoal levou a água ao moinho, e a refeição passou a chegar àquela aldeia pelo meio-dia. Reconheci-lhes razão.

No primeiro dia do ano, o Comandante-Chefe deslocou-se a Tabassi, inopinadamente, pelo que terá confirmado a espécie de ostracismo e displicência a que o Foxtrot estava votado. Não havia nenhuma razão especial para que o General ali se deslocasse propositadamente, salvo quaisquer eventuais informações que lhe chegassem por outras vias, talvez o COT-1; talvez a PIDE, ou o Mário Soares. Também não posso afirmar que se tenha ali dirigido para saudar o Foxtrot. Podia querer cimentar a relação com o chefe de tabanca, um individuo pouco (nada!) atento à condição da auto-defesa, ou saudar a população e a tropa.

Sobre a visita, a História da Unidade regista a seguinte frase no contexto situação em Janeiro/71: "SEXA COMCHEFE visitou TABASSI".
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9311: (Ex)citações (171): A propósito de citações e comentário do Mais Velho (José Manuel Matos Dinis)

Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9285: História da CCAÇ 2679 (45): Um aniversário em Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)