sábado, 17 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10686: Agenda cultural (236): Lançamento do livro Alpoim Calvão, Honra e Dever, Porto, Salão Nobre do Quartel de Santo Ovídio (antigo Quartel-General), Praça da República, 4ª feira, 28 de novembro, 18h00


Sítio oficial do livro, www. alpoimcalvão.com... Algumas "revelações" feitas no livro são divulgadas neste sítio promocional, como por ex o facto do guineense Amílcar Cabral, de origem caboverdiana,  ser "um surpreendente primo por afinidade" do Alpoim Calvão, transmontano, nascido em Chaves, em 1937, no seio de uma família de militares, e que com a tenríssima idade de um ano emigra para Moçambique, com os pais:

"Sobre o destino previsto para Amílcar Cabral e Sékou Touré no caso de serem capturados [na operação "Mar Verde"], Alpoim Calvão é peremptório: 'Amílcar Cabral destinava-se a ser transportado para Bissau, enquanto Sékou Touré seria entregue ao Front.' Este era o objectivo, mas estavam previstos planos de contingência: 'Havia ordem para neutralizar. E como é que se neutraliza? Ou se prende ou se liquida. A ideia é prender, mas se a pessoa oferecer resistência… o que é que a gente vai fazer, mata não é? É simples, é o que ele [Amílcar Cabral] me faria a mim!'.

"À parte do que poderia ter acontecido se ambos se tivessem encontrado em Conakry, certo é que se isso tivesse ocorrido seriam dois primos por afinidade que estariam frente-a-frente [Doc. 42 – Árvore Genealógica]. A irónica revelação está documentada por estudos genealógicos e deriva da relação de parentesco dos irmãos Manuel Álvares Mendes Calvão – quinto avô de Alpoim Calvão – e Sebastião Manuel Álvares Calvão – sexto avô da mãe das duas filhas de Amílcar Cabral, Maria Helena Ataíde Vilhena Rodrigues, uma engenheira silvicultora, investigadora do Instituto Nacional de Investigação Agrícola, nascida na freguesia da Campanhã, Porto, a 12 de Abril de 1927". (Fonte: Alpoim Calvão > As personagens) (*)



1. Mensagem do nosso leitor Rodrigues Morais, com data de 12 do corrente:


Boa noite,

Posso solicitar-lhes o favor de publicitar no vosso blogue o convite (em anexo) do seguinte evento:
Apresentação, no Porto, do livro Alpoim Calvão - Honra e Dever.


Ficaria grato

Cumprimentos
Rodrigues Morais


_____________

Notas do editor:


Último poste da série > 14 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10670: Agenda cultural (235): Lançamento do livro Dª Berta de Bissau, de José Ceitil, no dia 21, 4ª feira, pelas 18h00, na sede da CPLP, em Lisboa, Rua de São Mamede (ao Caldas), nº 27, com atuação do músico Mamadu Baio, natural de Tabatô (José Ceitil / Hélder Sousa)


(*) Sinopse do livro, de acordo com o sítio oficial:

Título: Alpoim Calvão – Honra e Dever
Autores: Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna, Abel Melo e Sousa (**)
Editora: Caminhos Romanos, Porto
Ano: 2012
Preço: 25 €

"A vida de Alpoim Calvão, o militar mais condecorado da Marinha Portuguesa, é muito mais do que a vida de um homem de armas.  É a vida de um dos principais protagonistas da História de Portugal
das últimas seis décadas.

"A vida de um rapaz que se 
arrebatou por Marx e se encantou pela multiculturalidade de Moçambique. De um jovem patriota que se alistou por convicção e se entregou voluntariamente aos sacrifícios  da guerra no Portugal africano. A vida de um homem que aos 33 anos liderou as forças nacionais na investida a Conakry para libertar presos portugueses. A operação "Mar Verde" (1970), ainda hoje estudada em escolas militares de todo o mundo, continua sem ser oficialmente reconhecida por Portugal. São feitos como este que fazem de Alpoim Calvão o último grande marinheiro do ciclo do Império Português. Mas também que muito contribuíram para que se transformasse num alvo a abater após o 25 de Abril de 1974, uma revolução à qual se recusou a aderir por não lhe ter sido esclarecido o destino a dar às gentes e aos territórios portugueses de África.

"Na vida como no mato, sempre encarou os ataques de frente, avançando por aquilo e aqueles em quem acreditava. Foi assim que se envolveu no 11 de Março de 1975 e que se tornou no líder operacional do MDLP. Se muito disto se conhece já, nunca ele e outros tanto tinham revelado como neste livro.

"E numa vida cheia há ainda tudo o resto, tão ou mais interessante. Os episódios nunca contados da guerra, a irreverência que irritava chefes militares e ministros, os perigos de ser garimpeiro no Brasil, os bastidores do negócio da venda de armas. E mais intimamente, a dor de perder um filho, o talento para a ópera  e o interesse pela arte, a improvável amizade com Otelo Saraiva de Carvalho
e o surpreendente parentesco com Amílcar Cabral, o líder inimigo na Guiné.


"Uma vida única! Uma biografia fundamental para conhecer e compreender a vida portuguesa dos últimos 60 anos".

(**) Sobre o principal autor, Rui Hortelão:

(i) nasceu em 1978, em Lisboa;
(ii) licenciado em Comunicação Social, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP);
(iii) é jornalista desde 1997;
(iv) foi director-adjunto do Diário de Notícias e subdirector do Correio da Manhã; antes passou pelo Record, 24horas, Focus e foi cronista da Sábado;
(v) como enviado especial, fez a cobertura de visitas de Estado, de dois Jogos Olímpicos, bem como de campeonatos da Europa e do Mundo de futebol;
(vi) foi docente na pós-graduação em Estratégias de Comunicação e Assessoria Mediática, do Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA);
(vii) é co-autor do livro As Estórias Nunca Contadas Pela História – 100 Anos de República (2010).


Guiné 63/74 - P10685: In Memoriam (134): Amália Martins Reimão, enfermeira paraquedista do 3º Curso (1963)... Cumpriu a sua missão nos TO da Guiné e Angola e no HM Força Aérea... Família, amigos e camaradas despedem-se hoje, às 16h30, na igreja de Queijas (Oeiras) e no cemitério de Rio de Mouro (Sintra)


Base Aérea de S. Jacinto, 2007 > III Encontro de Mulheres Boinas Verdes > A partir da esquerda: (?), a Rosa Serra (de branco), a Zulmira André (meio tapada), a Maria Bernardo Vasconcelos (de vermelho e preto), Teresa Lamas, a Maria do Céu Matos Chaves (de amarelo), a Júlia Lemos (camisola florida) e a Amália Reimão (de branco, assinalada com um círculo a verde). Em baixo estão a Giselda e uma camarada mais nova.

Foto e legenda:  Miguel Pessoa (2010)

1. Através da Maria Arminda, o nosso coeditor Carlos Vinhal recebeu a notícia do falecimento, ontem, 16 de novembro, da enf paraquedista Amália Martins Reimão. O seu funeral é hoje, dia 17. O seu corpo encontra-se na Igreja de Queijas [, concelho de Oeiras,] onde será celebrada missa de corpo presente às 16h30, saindo depois para o crematório do cemitério de Rio de Mouro [, concelho de Sintra].

A Amália pertenceu ao 3º Curso de Enfermeiras Paraquedistas (1963).  Prestou serviço nomeadamente nos TO da Guiné e de Angola, bem como no hospital militar da Força Aérea. 

A nossa Tabanca Grande associa-se à dor dos seus familiares, amigos e camaradas. Paz à sua alma.

2. Testemunho da Maria Arminda [, foto de 1967, aos 29 anos, em farda nº 1, com o posto de tenente]:

Conheci a minha colega Amália em 1963, quando ajudei o seu curso. Era uma pessoa alegre, bem disposta e faladora, apanágio das "algarvias" de onde era natural. Estivemos juntas na Guiné, onde o seu trabalho foi como o de todas as camaradas enfermeiras, sempre em prontidão para o que surgisse. A vida separava-nos pontualmente, porque éramos poucas e andávamos sempre a saltitar de um local para o outro. 

Quando passou à disponibilidade,  ainda deu o seu contributo como enfermeira civil no Hospital da Força Aérea. 

Nós, que somos um pequeno grupo no meio de tantos camaradas homens, sentimos muito, sempre que alguma parte. Cada vez mais nos temos que habituar a esta realidade, pois todos nós já começamos a fazer parte de "Uma Velha Guarda". 

Agradeço a todos os comentários aquei colocados e especialmente aos camaradas Luis Graça, Carlos Vinhal e Miguel Pessoa, toda a disponibilidade que nos têm dado na difusão das nossas notícias. Em nome de todas o meu muito obrigado.A Amália, bem merece ser aqui recordada. Que descanse em Paz,(até ao dia em que nos voltaremos a encontrar!..). Mª Arminda
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10675: In memoriam (133): Na morte do 1º. Sargento da Marinha, Augusto Lenine Gonçalves de Abreu, meu primo, meu irmão, meu camarada, que fez uma comissão na Guiné, na LFG Orion, 1966/68 (António Graça de Abreu)


Guiné 63/74 - P10684: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (11): Tese de doutoramento em ciências militares, "O Comando Holístico da Guerra: Wellington, Spínola e Petraeus" (Nuno Lemos Pires, ten cor e prof da Academia Militar)




Página de rosto do sítio Linhas de Wellington, um filme português (2012, 135 '), um épico, com um cartaz de luxo, em exibição nos cinemas, e que o nosso blogue recomenda.... Produção de Paulo Branco; realização de Valeria Sarmiento; argumento de Carlos Saboga; atores/atrizes: Adriano Luz,  Carloto Cotta,  Chiara Mastroianni, John Malkovich, Marcello Urgeghe, Marisa Paredes, Mathieu Amalric,  Melvil Poupaud, Michel Piccoli, Nuno Lopes, Soraia Chaves, Victória Guerra, Vincent Perez (*)


1. Duas mensagem do nosso leitor (e oficial do exército) Nuno Lemos Pires, que de resto nos autoriza a publicar, "com todo o gosto, honra e prazer" [. foto à esquerda, reproduzida coma  devida vénia da Revista Militar, 2006]

(i) De: Nuno Lemos Pires:

Data: 30 de Agosto de 2012 15:05

Assunto: Diário da Guiné


Exmª Sr. Luís Graça

Perdoe-me mandar-lhe este mail para si mas penso que o poderá reencaminhar para o Dr. Beja Santos (de quem não tenho o contacto).

Apresento-me, sou Tenente-coronel de Infantaria e atualmente Professor na Academia Militar.

Estou a a escrever a minha tese de doutroramento intitulada: O Comando Holísitico da Guerra: Wellington, Spínola e Petraeus. Já escrevi os capítulos sobre Wellington e Spínola (quase terminado) encontrado-me agora a escrever sobre Petraeus (Iraque e Afeganistão).

No Capítulo sobre Spínola apenas abordo a Guiné (1968-1973) e o que procuro entender é a forma como civis e militares interagiam, como se estabeleciam estratégias "holísticas" entre as dimensões civis e militares da guerra, entre o desenvolvimento económico e os combates, etc.

Não lhe (vos) quero maçar com detalhes. Mas apenas dizer que, entre os inúmeros textos que utilizei recorri com frequência ao seu Blogue e li intensamente os livros de Beja Santos. Os livros não me são indeferentes, foi o meu pai [, gen Lemos Pires,] que os apresentou e estão sublinhados e comentados por ele. Faltava pouco tempo de vida ao meu pai quando apresentou o último livro de Beja Santos e recordo-me de falar longamente com o meu Pai sobre os livros, sobre a Guiné e... como as cerejas ... falarmos de vivências...

Há poucos dias reli os livros de novo e queria dizer a Beja Santos o quanto as suas reflexões me fazem pensar... embora não o possa refletir muito na escrita da tese, se porventura ler o meu livro "Cartas de Cabul" sobre a minha experiência no Afeganistão, poderá ver o quanto me identifico com o raciocínio, com a filosofia, com o pensar "diferente". Acima de tudo adoro as reflexões e comparações com os livros que lê, as cartas para o Almirante Teixeira da Mota... bom. Um verdadeiro "Concerto de Sabedoria".

Exmº Sr. Luís Graça, pedia-lhe por favor para reencaminhar este mail para Mário Beja Santos. Apenas para que ele saiba o quanto me tocaram as suas obras, o enorme prazer (e orgulho) que o meu pai teve em as apresentar e quão importante são estas "memórias maduras e refletidas" para quem quer entender o nosso passado mas, acima de tudo, o pensar de um homem quando colocado em situações tão difíceis como as que passou. (A título de curiosidade, estive com o meu pai na Guiné entre 1969 e 1971, onde fiz os meus cinco e seis anos de idade...)

Ao vosso blogue os meus parabéns, e por favor continuem porque a memória é um bem precioso!

Os melhores cumprimentos,

Nuno

Nuno Correia Barrento de Lemos Pires
Ten Cor Inf, Professor de Relações Internacionais e História Militar
Academia Militar/ Tel civil (central AM): +351 213186900/ Tel Militar: 412657


(ii) Mensagem de 8 de Novembro de 2012:

Sr. Professor Luís Graça

No próximo dia 5 de Dezembro irei proferir uma palestra intitulada "A participação da Engenharia Militar nas campanhas de África - o caso da Guiné" englobadas no seminário das comemorações dos 200 anos do Regimento de Engenharia 1.

O vosso blogue foi precioso para mim, especialmente na recolha de algumas imagens. Uma vez que consegui importantes informações na Direcção de Engenharia, os dados estatísticos aí levantados, mais as vossas imagens, darão "cor" ao Power point que irei, se me autorizar, apresentar.

Li as vossas instruções sobre o uso de imagens e desde já me comprometo, além de estar a pedir autorização, a divulgar a fonte.

Aguardo a autorização, os melhores cumprimentos,

Nuno Lemos Pires

2. Comentário de L.G.:

Nuno:

Esteja à vontade para utilizar as nossas imagens e demais materiais, dentro do respeito das nossas "regras bloguísticas"...Dou-lhe os parabéns pela próxima finalização da sua tese de doutoramento. É um período intenso da vida de um académico, também já passei por isso, sei dar o devido valor. Espero que corra tudo bem até ao fim e, uma vez obtido o desejado grau de doutor em ciências militares, fica com as portas abertas da nossa Tabanca Grande para nos honrar com a sua presença e publicar um ou mais textos sobre a Guiné que conheceu, bem como como sobre o nosso comandante António Spínola, cuja abordagem estratégica da guerra e da paz você está a estudar... Obrigado pelas suas palavras simpáticas em relação ao nosso esforço de preservação e divulgação das nossas memórias, individuais e de de grupo, como ex-combatentes na Guiné. As minhas melhores saudações. Luís Graça

____________

Notas do editor:

Último poste da série > 25 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10568: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (10): Hoje, no Porto Canal, às 22h00, o Programa Testemunho Directo vai ser dedicado aos ex-combatentes da guerra do Ultramar


( *) Vd. aqui um dos vídeos do filme: Marechal Masséna vs General Wellington


Sinopse

A História

Em 27 de Setembro de 1810, as tropas francesas comandadas pelo marechal Massena, são derrotadas na Serra do Buçaco pelo exército anglo-português do general Wellington.

Apesar da vitória, portugueses e ingleses retiram-se a marchas forçadas diante do inimigo, numericamente superior, com o objectivo de o atrair a Torres Vedras, onde Wellington fez construir linhas fortificadas dificilmente transponíveis.

Simultaneamente, o comando anglo-português organiza a evacuação de todo o território compreendido entre o campo de batalha e as linhas de Torres Vedras, numa gigantesca operação de terra queimada, que tolhe aos franceses toda a possibilidade de aprovisionamento local.

É este o pano de fundo das aventuras de uma plêiade de personagens de todas as condições sociais – soldados e civis; homens, mulheres e crianças; jovens e velhos -, arrancados à rotina quotidiana pela guerra e lançados por montes e vales, entre povoações em ruína, florestas calcinadas, culturas devastadas.

Perseguida encarniçadamente pelos franceses, atormentada por um clima inclemente, a massa dos foragidos continua a avançar cerrando os dentes, simplesmente para salvar a pele, ou com a vontade tenaz de resistir aos invasores e rechaçá-los do país, ou ainda na esperança de tirar partido da desordem reinante para satisfazer os mais baixos instintos.

Todos, quaisquer que sejam o seu carácter e as suas motivações – do jovem tenente idealista Pedro de Alencar, passando pela maliciosa inglesinha Clarissa Warren, ou pelo sombrio traficante Penabranca, até ao vindicativo sargento Francisco Xavier e à exuberante vivandeira Martírio -, convergem por diferentes caminhos para as linhas de Torres, onde o combate final deve decidir do destino de cada um. (...)

Fonte: Reproduzido com a devida vénia, do sítio oficial do filme, Linhas de Wellington

Guiné 63/74 - P10683: Do Ninho D'Águia até África (27): O perfume exótico das filhas do Libanês (Tony Borié)

1. Vigésimo sétimo episódio da narrativa "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177:


Do Ninho D'Águia até África (27)

O perfume exótico das filhas do Libanês

O Cifra, na qualidade de militar que foi mobilizado pelo governo de Portugal, para ir defender a então “Mãe Pátria” e a “Soberania Portuguesa” além-mar, tal como aprendeu na escola primária da vila a que pertencia a sua aldeia do Ninho d’Aguia, que frequentou por quatro anos, onde o professor lhe explicava, e tinha que fazer uma redacção sobre o tema, que os heróis que se aventuraram por “mares nunca antes navegados”, descobriram aquelas terras selvagens, que “cristianizaram”, viajando numa “casca de noz”, e tinham em mente somente educar e cristianizar, esses povos também selvagens, mas que mais tarde, principalmente depois de frequentar outras escolas de ensino, no estrangeiro, e depois de conviver com outras culturas, verificou que não eram esses os principais objectivos, do reino de Portugal, e veio a saber que essas expedições por “mares nunca antes navegados”, era o investimento de governos e empresas, que entre si, disputavam e queriam dividir diversas zonas do globo, tal como se nada existisse, a não ser a sua vontade, para subjugarem um povo que vivia com as suas leis, e talvez com a sua guerra, ou com a sua paz, mas que só a eles dizia respeito, e tinham uma cultura de milhares de anos, nesses territórios, que estavam localizados em diversas partes do globo, e muito longe da Europa, onde existia o reino de Portugal.

Mas continuando e sem querer cortar o fio à meada, o Cifra desembarcou nesta então província do Ultramar Português, que era a Guiné, não saindo de uma “casca de noz”, que viajava ao sabor do vento, quase sempre com terra à vista, mas de um navio, que viajava no mar alto, a poder de motores a diesel, não transportando padrões em granito, com a cruz de Cristo, arreios, cavalos, espadas e lanças, mas sim auto metralhadoras, lança granadas, aviões que lançavam bombas de napalme e outro material bélico e explosivo, transportado em camiões de seis rodados, a gasóleo e outros combustíveis, não vestido como se fosse um navegador, mas sim vestido de camuflado de combate, (gravura em cima, com a G3 e o capacete de guerra do Setúbal, pois a ele nunca lhe deram um capacete, e ele também nunca o pediu), treinado para um conflito, embora fosse um razoável militar, era um fraco guerreiro, e ainda bem porque a sua missão era ser operador cripto.

Ficou estacionado na vila de Mansoa, passado algum tempo, já conhecia parte da população, pois no seu tempo livre, andava por ali, falava com este e com aquele. Numa dessas ocasiões, passando de fronte da igreja que havia na vila, no seu pensamento recordou a frase que tinha aprendido na escola primária, que era mais ou menos, “cristianizaram esses povos selvagens”, e de facto era verdade, pois logo a seguir à ponte em cimento, sobre o rio Mansoa, a obra mais emblemática da vila era sem dúvida a igreja, foto em baixo. Reparando melhor, a igreja sobressaía das demais casas, algumas até pareciam casebres, podia não haver outras infraestruturas na vila, e a população ser quase toda de outra religião que não a católica, mas igreja havia, não havia Padre, era verdade, mas com a chegada de militares, vinha um capelão, periodicamente da capital da província, e havia missa, pelo menos uma vez por semana, lá nesse aspecto, se não cristianizaram, pelo menos tentaram.

Mansoa > Igreja Católica

Mas passamos adiante. O Cifra até gostava de assistir à missa, gostava de entrar na igreja e gostava do cheiro, não sabia se era ao mofo, se era ao incenso, ou se era do perfume exótico das filhas do Libanês, também gostava de ouvir o Padre, pois não falava de mensagens, de cifra ou de guerra, falava de milagres e algumas outras coisas bonitas e dizia constantemente que Jesus Cristo era muito boa pessoa, e o Cifra até simpatizava com Jesus Cristo e pelas coisas que o Padre dizia, achava mesmo que gostava de o ter conhecido, só não gostava era de o ver com aquela cara de sofrimento, com as mãos e os pés perfurados com pregos, e com a coroa de espinhos na cabeça, fazia-o sofrer também só de pensar nisso. O Padre dizia que ele sofreu e lutou, e como o Cifra também estava numa zona de conflito, onde se sofria e lutava, às vezes colocava a mão na testa e ao redor da cabeça, a ver se tinha também uma coroa de espinhos.

Mas enfim, vamos continuar. Se fosse à semana, quase sempre a missa era ao fim da tarde, quando a temperatura era mais fresca, mas ao domingo era pela manhã, normalmente assistia à missa na companhia do Setúbal e do Curvas, alto refilão, pois o Trinta e Seis, baixo e forte na estatura, e o Mister Hóstia, ajudavam o Padre e andavam sempre ocupados, antes e depois da missa.

O Cifra, foto ao lado na frente da igreja, até recorda uma vez em que o Mister Hóstia lhe pediu o isqueiro para acender as velas, e no final teve que andar à sua procura, a cruzar o altar e ter sempre que se ajoelhar de cada vez que o fazia, pois o Mister Hóstia não lhe dava qualquer atenção, com o seu trabalho de dobrar as toalhas, arrumar o frasco do vinho, que tinha servido para celebrar a missa. Quando levou o frasco do vinho, foi o único momento em que olhou de lado para o Cifra, enfim tentava limpar e arrumar tudo.

No final, já fora da igreja, quando lhe entregou o isqueiro, disse-lhe:
- Fiz de propósito, pedi-te o isqueiro, para depois me procurares, pois sei que não passas um momento sem esse maldito cigarro na boca, e teres de te ajoelhar, por diversas vezes, perante Jesus Cristo, para veres se o respeitas mais, pois tanto tu como o Setúbal e o Curvas, alto e refilão, são umas almas perdidas, durante a santa missa só tinham olhos para as filhas do Libanês.

(Texto, ilustrações e fotos: © Tony Borié (2012). Direitos reservados) 
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10661: Do Ninho D'Águia até África (26): Raízes de agricultor (Tony Borié)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10682: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (5): Os cheiros de Lisboa, Parte III: As brumas fadistas de Alfama e Madragoa (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)


Lisboa > Belém > Dezembro de 2007 > Lisboa ao anoitecer, com vista da ponte sobre o Rio Tejo e do Cristo Rei.

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados




A. Em 25 de setembro p.p., demos início à publicação desta nova série, Ficou um Palmeirim nas Bolanhas da Guiné, "parte de uma novela escrita em memória do nosso saudoso camarada [Mário] Sasso", da autoria do seu amigo e camarada de armas J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil inf da CCAÇ 728 (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) [, foto atual, à direita].

Até à data publicámos 5 postes, de acordo com o "plano da obra" e o material que nos foi enviado. Este, de hoje, é o último texto em carteira que temos disponível. Espero que o autor (, a viver na Alemanha,) vá alimentando a série... Para ele vai um especial Alfa Bravo. LG


Plano

1. A Origem do Nome – “Palmeirins”
2. A Cidade Moçambicana da Beira
3. A Barra do Tejo
4.  Os Cheiros de Lisboa
41. A Feira Popular
42. Uma sardinhada em Cacilhas
43. As Brumas (Ruelas) Fadistas de Alfama e Madragoa
44. As Palmeiras da Estufa Fria
45. As Vielas da Ameixoeira
46. A Feira da Ladra
47. A Baixa às ordens de Pombal
48. O Jardim do Campo Grande
49. A Estrela Real
410. Os Bosques de Monsanto (...)


B. Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné > 4. Os cheiros de Lisboa > 43 . As Brumas fadistas de Alfama e Madragoa

por J. L. Mendes Gomes

Naquela noite ninguém ia sair. O Benfica ia jogar com o Sporting de Portugal. No estádio do Benfica. Constava que o desafio ia ser transmitido pela televisão. Só no telejornal é que se iria saber a certeza. Sempre seria mais barato. E até se via melho,  adiantava o tio Diógenes, para se justificar. A rapaziada lá em casa era toda perdida pela bola. Até a tia Judite. Bilhetes para todos saía muito caro.

Era a altura dos famosos violinos do Benfica: o Eusébio. Ainda por cima o Eusébio também era de Moçambique. Um espanto a jogar; o Caiado....o....

A tia Judite, pelo sim pelo não, foi adiantando o jantar, para que pelas 21h toda a gente estivesse despachada e livre, para se seguir o desafio em família. Com certeza que seria dado pela TV. Já se sabia.

Uns amendoins nunca faltavam nestas alturas. E umas cervejinhas no frigorífico...Tudo bons costumes e recordações de Moçambique. Aí reinavam as ostras a rodos, o camarão, as cervejas às grades,...naqueles ares quentes dos trópicos.

Se não fosse o futebol, os primos já tinham desafiado o Mário para uma noitada de fado em Lisboa. Estava prometida desde há muito. Ficou para outra semana.

Depois do jantar, sempre animado, em família, os três primos estavam prontos e aperaltados para a noitada de Alfama e Madragoa.

Tinha chegado enfim, o grande dia, melhor a grande noite, de que tanto se falara nas férias passadas da Beira. Os tios tinham toda a confiança nos dois filhos e, por isso, contra o que era hábito daqueles tempos, não se importaram de que a Isabel fosse também.

O último eléctrico que saía do Terreiro do Paço para o Dafundo, era às duas da manhã. Calhava mesmo bem. Aí vão eles. O eléctrico amarelo ali vem. Traz pouca gente. À noite, não há muita gente que se disponha a ir para Lisboa. Só os boémios ou, então, por uma farra como esta dos três primos.

Em menos de meia hora, já estão a descer em pleno Terreiro do Paço. Frente ao Tejo , agora escuro e com umas luzitas tresmalhadas, pelos lados negros, de lá, desde Cacilhas e Almada ao Seixal, Barreiro...Montijo.

A iluminação da praça não é por aí além, mas dá para se andar à vontade. Não há perigo nenhum. A segurança pública é total.

As ruas da Baixa fervilham de gente a ver as montras. A Rua da Prata, o Chiado, o Rossio, os Restauradores e depois a Avenida da Liberdade, de arvoredo ─ via-se que era frondoso, até lá acima, ao Marquês de Pombal. Está um pouco deserta apesar dos cinemas e cafés que abundam de cada lado e as esplanadas elegantes, nos serenos passeios laterais. De dia, é mais interessante girar por ali. Há muito mais vida.
─ O 28 sobe por Alfama dentro, até à beirinha do Castelo, lá em cima, sobre o Tejo mas o melhor é irmos a pé ─  diz o Pedro. ─ Pela rua do eléctrico, vai-se até à encosta do Castelo, com vistas sobre o rio
─  De dia, deve ser muito giro─  adiantou o Mário. Não perdia pitada de tudo que estava a acontecer.
─  Sim, é uma maravilha ver o Tejo, daqui deste miradouro. Todo “o mar da palha”. Parece mesmo mar. Até ao Barreiro, Montijo, Moita, Alcochete e Vila Franca...É mesmo um mar. Cabem os barcos todos do mundo. Há sempre lugar para mais um. Mesmo daqueles petroleiros gigantes.

Os Cacilheiros lá andam nas suas voltas do costume. Duma para a outra margem. Os da Praça do Comércio só andam até à meia-noite....Depois, só os do Cais do Sodré.
─ O que é isso da Praça do Comércio?─  perguntou o Mário, surpreendido com o nome.
─ Ainda não ouvira falar dessa praça.
 ─ É a mesma, a do Terreiro do Paço. Tem os dois nomes. Não sei desde quando nem porquê. Deram-lhe esses dois nomes. Por mim, acho melhor o de Terreiro do Paço. ─ esclareceu o Pedro, com um ar de certo modo, exaltado. Para o justificar, acrescentou:
─  Onde está então a Praça da Indústria?...Ou a da Agricultura...Não há!....

Uma risada de todos.
─  Tens razão Pedro. ─  disse a Isabel. Até aí ainda não tinha aberto a boca. E continuou:
─ A gente habitua-se a ouvir e a chamar estes nomes e não liga ao sentido deles.
─ Já agora, outro nome que não concordo nada e até me revolta, é o do Parque Eduardo VII, lá em cima, a seguir ao Marquês.
─ Então porquê? ─ perguntou a Isabel, já sem esconder a natural curiosidade. Ela nunca vira mal nenhum nisso...
─ Então, achas bem que aquele jardim, tão grande e num sítio nobre da cidade capital tenha o nome dum rei inglês?...

(Continua)
________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10586: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (5): Os cheiros de Lisboa, Parte II: uma sardinhada em Cacilhas (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

Guiné 63/74 - P10681: Convívios (481): 23.º Encontro e Almoço de Natal da Tabanca do Centro, dia 28 de Novembro de 2012, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)


1. Comunicado da Tabanca do Cento a propósito do seu 23.º Encontro e Almoço de Natal, a levar a efeito no próximo dia 28 de Novembro de 2012, desta feita com uma aliciante visita à Base Aérea N.º 5 de Monte Real

Meus camarigos
Assim “a modos que” presente de Natal, o António Martins Matos, sugeriu e a Tabanca do Centro aceitou de braços abertos a ideia de uma visita à Base Aérea Nº 5, em Monte Real.
Tendo ele feito o contacto com o Comando da Base, foi autorizada e concertada essa visita.
Assim, no dia do 23º Encontro da Tabanca do Centro, que será também o almoço de Natal deste ano, a visita à B. A. 5 terá lugar, para aqueles que, expressamente, na inscrição o confirmarem.
A B. A. 5 apenas para vos aguçar o “apetite” é hoje em dia dotada das mais modernas e perfeitas tecnologias de ponta, pelo que esta visita, se tornará uma agradabilíssima surpresa, e não duvido que muitos ficarão admirados com o que vão ver.
Em Portugal há coisas que nós nem sonhamos!
Como compreenderão a logística para esta visita, nada tendo de complicado, exige no entanto o devido pormenor, (até por causa do transporte), pelo que é imperativo obedecer ao prazo limite para a inscrição para o 23º Encontro, com a indicação expressa da vontade de participar nesta visita.
O resto está explicado muito bem abaixo, pelo Miguel Pessoa.

Um abraço para todos
Joaquim Mexia Alves

Nota Importante: A visita à BA 5 está limitada a 50 pessoas, que serão os primeiros a inscreverem-se, obviamente.


Nota do Editor:
As inscrições devem ser efectuadas na página da Tabanca do Centro em: http://tabancadocentro.blogspot.pt/2012/11/vem-ai-o-nosso-almoco-de-natal.html
 ____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10608: Convívios (480): Mais um Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, a levar a efeito no próximo dia 15 de Novembro de 2012, em Alcabideche (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P10680: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (3): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)



1. Terceiro de uma série de 4 postes com fotografias enviadas pelo nosso camarada e tertuliano Fernando Súcio (foto à esquerda), ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, Bula, 1972/74, fotos estas pertencentes ao seu conterrâneo, o outro nosso camarada Leonel Olhero (foto à direita), ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard), Bula, 1971/73.


 
Bula, 21 de Julho de 1973 > Dia da Cavalaria > O Gen Spínola passa revista às tropas acompanhado pelo Brigadeiro Benajol

João Landim, 3 de Outubro de 1973 > Dia em que o Fur Mil Leonel Olhero se despede do seu amigo Fernando Súcio

Coluna na estrada de Bissorã

Bula > Invólucros de munições de morteiro 120

Bula > Três conterrâneos: Norival Carvalho, Leonel Olhero e Fernando Súcio

Bula > Casa dos geradores > Estragos provocados por um míssil

Foto sem legenda


Farim > Travesia do Rio Cacheu

Bula > Convívio do pessoal do Esq Rec 3432 (Panhard)

Bula > Pessoal do Esq Rec 3432 (Panhard)

Fotos: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por CV]
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10667: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (2): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

Guiné 63/74 - P10679: Notas de leitura (429): "Da Guiné à Angola O Fim do Império", pelo Coronel Piçarra Mourão (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2012:

Queridos amigos,
Neste segundo e último livro, o coronel Piçarra Mourão rememora a vertente social desenvolvida pela sua companhia em Bissorã, entre 1966 e 1967.
É um depoimento sereno e singelo. E revela mágoa por só se ter apercebido, muito mais tarde, dos distúrbios provocados pelo stresse pós-traumático. Terá criado um admirável espírito de corpo e de invulgar entreajuda, revela, ao tempo em que escreveu este seu depoimento (2002) que os antigos militares continuavam a acompanhar os mais carenciados, foram laços de amizade irreversível que tiveram um ponto alto na passagem do 35º aniversário do regresso da Guiné em que se realizou uma sentida homenagem aos mortos da companhia junto do Monumento aos Combatentes Mortos no Ultramar, em Belém.

Um abraço do
Mário


Da Guiné à Angola, o fim do Império

Beja Santos

O coronel Piçarra Mourão cumpriu uma comissão de serviço na Guiné (1966-1967), na CART 1525 adstrita ao BCAÇ 1876, em Bissorã. Do seu livro “Guiné, Sempre!” (Quarteto Editora, 2001), fez-se oportunamente recensão. Chega agora a vez de se referir a segunda e última obra deste oficial superior, intitulada “Da Guiné a Angola, O Fim do Império” (Quarteto Editora, 2004). Diga-se desde logo que o coronel Piçarra Mourão irá recapitular situações vividas em território guineense, o essencial da obra é dedicado à Angola onde ele cumpriu duas comissões (1969/1971 e 1973/1975).

Trata-se de um respigar da memória para enaltecer o valor das campanhas de apoio social, moral e médico a que a companhia que ele comandou esteve ligada. Esse fluir de memória inclui uma apreciação do stresse do combate, situação que hoje afligirá cerca de 10 % de todos os combatentes das 3 frentes, e que tem o nome de desordem de stresse pós-traumático. Trata-se de um depoimento despretensioso, solto, um verdadeiro correr da pena onde não se esconde o contentamento pelo dever cumprido. Refere o apoio médico prestado às populações, era uma assistência diária com atendimento dos doentes que se juntavam à porta do posto de socorros, filas permanentes de mulheres, crianças e velhos. No respeito pelos costumes da terra, concedia-se primazia no atendimento aos homens, salvo as situações de emergência, que não tinham qualquer contestação. Enaltece a dedicação dos profissionais de saúde, sempre solícitos a atender em consulta e prestando tratamento. Mas esses profissionais de saúde não se limitavam a aguardar pelas consultas, deslocavam-se às tabancas dos arredores em busca de casos e situações mais complexas. E regista, com aprazimento: “Quando do regresso de estafadas operações em que o débito físico e mental tinha sido significativo, era retemperador passarmos pelo posto de socorros, para pequenos tratamentos de recuperação, e aí o desvelo do pessoal era inultrapassável”.

A companhia sediada em Bissorã, além de um percurso operacional, também remexeu no espaço e deixou obra para um maior bem-estar de todos: novo conjunto de cozinha, refeitório e cantina/bar para as praças; um espaçoso e seguro paiol, um sistema de filtragem de águas para beber e para banhos, uma oficina auto, etc.; deu-se suporte às milícias, fornecendo-lhes material para melhorar as suas habitações e diz sem enfeites: “A nossa ligação sentimental e afectiva a essa gente era tão profunda que nunca poderíamos regatear qualque tipo de colaboração, partindo quase sempre essa iniciativa da nossa parte. Mais do que os imperativos da missão, era a solidariedade verdadeira que nos movia".

E não esconde o seu orgulho no investimento educativo: “Dos nossos homens existiam alguns analfabetos e um número elevado sem as necessárias 3ª e 4ª classes. Cerca de três meses depois do início da comissão, foi-me proposta a constituição das denominadas escolas regimentais. A proposta partiu de um furriel miliciano, na época já habilitado com o curso do magistério primário – o Benfeito da Costa. Homem de grande competência, iniciativa e dedicação, a breve trecho tudo pôs em movimento, constituindo-se duas classes que funcionavam em horário repartido. Tudo transcorria dentro da melhor normalidade, com grande empenho das praças participantes e sem prejuízo da atividade operacional. Foi deste modo que 44 soldados da companhia, feitos os exames oficiais no termo do ano letivo de 1967, obtiveram os almejados diplomas – 11 da 3ª classe e 33 da 4ª”. Circula na Net um texto assinado por Armando Benfeito da Costa que confirma tal atividade.

Procedendo à análise do stresse. Confessa que na altura não se apercebeu do fenómeno, não houve previsão das vastas e dolorosas consequências, não havia preparação nem se apostava na profilaxia: “A Nação e os seus mentores limitavam-se a mandar combater a qualquer preço. O acompanhamento psicológico dos homens, em qualquer fase do seu empenhamento, nunca foi visto, tratado ou falado”. E descreve como procurou agir no teatro de operações. Retardava cautelosamente a informação sobre a saída para operações ou patrulhamentos ofensivos, só uma ou duas horas da saída, mandava comparecer no seu gabinete os oficiais e sargentos, era aí que se definiam os efetivos a empenhar. Dá um retrato sumário das emoções e tensões provocadas pelo contacto com o inimigo e como procurava, no decurso da comissão, avaliar as capacidades e resistências psíquicas dos seus subordinados. Divide as atitudes e comportamentos entre aqueles que demonstravam situar-se entre o respeito e o medo da guerra e os outros que começavam por se mostrar intimidados, via-se à légua que exerciam um grande esforço para dominar os seus receios e que depois, imprevisivelmente, eram capazes de se soltar e mostrar arrojo debaixo de fogo. Narra uma terrível emboscada que ocorreu em 5 de Dezembro de 1966, que provocou mortes e feridos, e que deixou marcas. A resposta que ele procurava dar passava pela atividade física, torneios com clubes locais e outras unidades e saber responder quando o médico informava que este ou aquele militar estava em baixo de forma ou manifestamente deprimido. Deplora como só recentemente se começa a dar atendimento e a procurar dar apoio a distúrbios de stresse pós-traumático, reconhecendo que se deu um passo gigante com a criação do Centro de Psicologia Aplicada do Exército, onde se estuda e analisa em toda a sua dimensão o fenómeno do stresse.

E aqui finda o depoimento guineense do coronel Piçarra Mourão, condecorado com a Cruz de Guerra de 1ª Classe pela sua comissão em Bissorã.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10655: Notas de leitura (428): "Colapso e Reconstrução Política na Guiné-Bissau 1998-2000", por Lars Rudebeck (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10678: Parabéns a você (497): José António Viegas, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68)

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10672: Parabéns a você (496): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Pacífico dos Reis, Cor Cav Ref, ex-Cap Cav - CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10677: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (25): Os dirigentes do PAIGC não usavam caixa nem cornetim nos quartéis das FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo)








Guiné-Bissau >  Bissau >  Forte da Amura, Panteão Nacional > 7 de março de 2008 > Uma força da PM - Polícia Militar presta continência, enquanto  e ouve o "Toque de silêncio"... Homenagem a Amílcar Cabral e aos outros heróis da Pátria. Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de março de 2008.


Fotos e vídeo (''40): Luís Graça (2008). Alojado no You  Tube > Nhabijoes



1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Rosinha [, foto à direita, Pombal, 2007]:


Data: 14 de Novembro de 2012 11:37

Assunto: Os dirigentes do PAIGC não usavam caixa nem cornetim nos quarteis das FARP ( Forças Armadas Revolucionárias do Povo)


Se for publicável,  talvez seja bom em horas mortas.

FARP e PAIGC não são devidamente distinguidos e separados neste BLOG, nem faz grande diferença que assim seja.

Faria diferença sim, mas para os guineenses se estes não conseguissem separar uma coisa da outra.

Mas para o bem ou para o mal, os guineenses nunca conseguiram separar o PAIGC das Forças Armadas Revolucionárias do Povo [, FARP,], durante muitos anos. (Hoje não sei como será o ponto de vista do povo).

Nos primeiros anos da Independência, os militares das FARP em Bissau, não usavam cornetas ou cornetins nem marchavam ao toque de caixa nos respectivos quartéis. Hoje não sei.

Mas quando Amílcar fundou o PAIGC e foi também co-fundador do MPLA, copiaram os métodos castristas e guevaristas e aí não havia cornetas nem cornetins.

Mas no regime de Luís Cabral pós independência, houve pelo menos uma tentativa de criar esse hábito, ou seja , Luís Cabral chegou a promover o ensino de corneteiros e tamborileiros .

Ouvia-se durante vários dias ensaios de corneta e cornetim, e toques de caixa, dentro da fortaleza da Amura e constava que teriam ido sargentos ou outros militares de Portugal para treinar guineenses.

Pelo  menos os diversos toques desde o recolher, formar, refeições, bandeira, etc. de infantaria,  eu ainda me recordei do meu tempo de tropa passados 20 anos.

Mas isso não chegou a funcionar, não  se chegou a marchar ao toque de caixa, nem a formar ao toque de corneta, ou seja à voz de um único comandante.

Psicologicamente, penso que sem um corneteiro dificilmente haverá um exército disciplinado em tempo de paz, um corneteiro representa a voz de um comandante sobre toda uma unidade.

Conheci e visitei por motivos profissionais aquilo que foi o quartel da artilharia do tempo colonial, e que penso que continuava como sendo dessa arma, com o exército das FARP.

Embora parecesse mais um bairro (tabanca),  devido haver mulheres e filhos dos militares a viver lá dentro, tinha sentinela na porta de armas, casernas numeradas e gabinetes dos comandantes e também se viam circulando militares soviéticos, tinha verdadeiro aspecto de quartel à antiga.

Mas não havia aquele aspecto convencional de um exército, no dia a dia, como sendo ouvir vozes de comando, toques para as diversas formaturas, etc.

Nunca cheguei a saber se o presidente Luís Cabral tinha algum posto na hierarquia militar, ou se era ou foi militar,  tanto na luta como após a independência, assim como Amilcar, ainda não entendi se teve hierarquicamente algum posto.

Mas com posto militar ou não, ele Presidente da República,  se só em 1980 pensou na corneta (Ordem, disciplina nos quartéis),  já foi tarde.

Mas, pode parecer que falo uma baboseira,  como dizem os brasileiros, mas não posso deixar de transmitir uma impressão que jamais  me sai da cabeça e já lá vão...1980-2012=31 anos: se Luís  Cabral tem conseguido impor o toque de recolher, alvorada, e marcha ao toque de caixa, embora possa ser simbólico apenas, mas era um símbolo de ordem e disciplina,  os militares das FARC não teriam tanto tempo para matutar em  "bolsas" étnicas, facciosas e rebeldias que já vinham embrionárias do tempo da luta, e eram conhecidas até por estrangeiros.

E, como os militares durante vários anos mantinham uma atitude e um aspecto, mais de revolucionários do que um exército regular, mesmo os próprios comandantes que se exibiam em viaturas em grandes velocidades, "olha lá vai o Gazela", olha lá vai o Manel Saturnino"  por exemplo, tinham comportamentos de rebeldia,  era impossível para Luís Cabral e governo, pôr um exército em formatura ao som de um corneteiro, em 1980, quando se deu o golpe de 14 de Novembro.

Se o PAIGC e as FARP de Amilcar Cabral deixaram  criar facções  de várias ordens, e não as controlou, no caso por exemplo do assassinato de próprio Amílcar, já no MPLA e as FAPLA de que Amílcar foi co-fundador, as facções como Chipenda, Nito Alves…foram controladas e dominadas e parece que hoje já não existem.

Foi ainda em vida de Agostinho Neto que essas facções foram dominadas. Será que Amílcar Cabral não teve os devidos cuidados com o PAIGC e as FARC, ao contrário dos cuidados que Agostinho Neto teve com o MPLA e as FAPLA?

Claro que entre nós,  tugas, estas coisas que aqui trago, pouco nos dizem respeito, mas só as trago aqui, porque para mim, muitos dos dirigentes dos MPLA e do PAIGC, foram na maioria tão portugueses como nós, tugas, , alguns até a recruta fizeram comigo ou são do meu ano, no meu ou  noutros quartéis, e para mim estavam certos nas suas ideias, mas  no momento errado e com processos  errados, suicidas e criminosos.

Com resultados maus para todos os lados, até para eles próprios.

Claro que isto faz parte da " minha guerra", não quer dizer que não haja a guerra de jornalistas, mirones,  ideólogos e até de africanos que são os que menos testemunham.                                                                                                                                                 

Cumprimentos

Guiné 63/74 - P10676: Recortes de imprensa (61): Un SOS para o pobo vencido da Guiné-Bissau, un país irmao, na fala e nas aspiracións de liberdade (Galicia Hoxe, Xosé Lois García)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 6 de Dezembro de 2009 > O menino de Iemberém... que nos interpela, a todos, não só os pais-fundadores da República da Guiné-Bissau bem como os seus "homens grandes",  mas também todos nós, portugueses, europeus e cidadãos do mundo... "Que lugar há para mim neste mundo que devia ser meu e teu, o nosso mundo, o único lugar que temos para nascer, crescer, viver e morrer com saúde, em liberdade, com dignidade, em paz ?"

Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados





Pagina do GaliciaHoxe.com


Recorte de imprensa, aqui reproduzido com a devida vénia (, obrigado ao autor e ao portal GaliciaHoxe.com), e por sugestão do nosso amigo (e camarada) do Facebook (Tabanca Grande) , Dálio  João Gil Carvalho, 

As preocupações com a grave situação na Guiné-Bissau, em matéria de respeito dos direitos humanos,  são comuns a toda a imprensa lusófona, incluindo a dos nossos irmãos galegos. Muitos dos amigos e camaradas da Guiné, aqui reunidos neste blogue, sentem que têm o dever moral de manifestar a sua solidariedade para com o povo da Guiné-Bissau, dentro do respeito da nossa regra nº 7 ( "não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da atual República da Guiné-Bissau, que é um jovem país em construção, salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo"). É esse o sentido deste poste nº 61 da série 'Recortes de Imprensa'. (LG)

SOS á cidadanía de Guiné-Bissau > XOSÉ LOIS GARCÍA | 05.11.2012


O desamparo dos cidadáns da Guiné-Bissau o evidencia unha grave e drástica situación que os medios de comunicación de todo o mundo, así como institucións e asociacións sociais e culturais están informando sobre unha extensa caza de bruxas que os paranoicos militares están levando a cabo en diversos espazos e escenarios nun territorio e con unha poboación moito menor que a de Galiza.

A recente e turbulenta historia de Guiné-Bissau, complétase agora con un incremento de represións contra un pobo frecuentemente explorado e humillado. A situación actual non deixou de ser complexa para adquirir un grado de violencia extrema por parte dos comandos militares que non deixaron de ter un severo e atroz protagonismo no que confire as liberdades civís e ao principio democrático instaurado polo fundador da nación: Amílcar Cabral.

O que acontece na antiga colonia portuguesa non é de ficción, é dunha crueldade intolerábel, tal como manifestan os teletipos que chegan desde diversos escenarios e que codifican feitos intolerábeis para a comunidade internacional. O pasado 21 de outubro, chegan unha serie de informacións na que vemos a un país cercado e dilacerado, que excede ás convulsións que viña sufrindo desde hai décadas. Os militares golpistas estanse movendo nun ámbito de ilegalidade democrática e institucional. Por iso, a comunidade internacional ten o deber de paralos e devolver o poder civil ao pobo.

As tentativas de Golpe de Estado, desde o asasinato do presidente Nino Vieira, configuran un lastre moi nocivo contra unha cidadanía instrumentada e precaria polo subdesenvolvemento económico e pola falta de estructuras que veñen a acondicionar a un extracto de pobreza, moi peculiar e dentro do contexto dos países veciños.

Os gravísimos sucesos que están acontecendo na Guiné-Bissau están sensibilizando á comunidade internacional, fronte aos protagonistas que están a levar a este país africano ás maiores disidencias e a un desenlace brutal de represión e de matanzas indiscriminadas.

Guiné-Bissau é un país irmao, na fala e nas aspiracións de liberdade, que precisa de un SOS urxente por parte da cidadanía internacional, preocupándose por estes acontecementos a través das redes que nos falan deste inaudito conflicto e dun alto costo de vidas humanas. Un SOS para o pobo vencido da Guiné-Bissau.

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10669: Recortes de imprensa (60): A ONG de Pombal, Afectos com Letras, "dá Natal feliz a crianças da Guiné-Bissau" (Notícias do Centro / Carlos Pinheiro)

Guiné 63/74 - P10675: In memoriam (133): Na morte do 1º. Sargento da Marinha, Augusto Lenine Gonçalves de Abreu, meu primo, meu irmão, meu camarada, que fez uma comissão na Guiné, na LFG Orion, 1966/68 (António Graça de Abreu)




1. Mensagem desta madrugada do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu:


Meu caro Luís

Peço-te que publiques esta pequena homenagem ao meu primo. Talvez te recordes dele, esteve na Biblioteca da República e Resistência, era da Marinha e falou contigo que o convidaste para o blogue,
há uns 4 anos atrás, quando da apresentação do meu Diário da Guiné.
Abraço amigo,


António Graça de Abreu


2. In Memoriam >  Na morte do 1º. Sargento da Marinha, Augusto Lenine Gonçalves de Abreu


Partiu mais um camarada da Guiné, este porque o conheci desde o tempo em que me lembro de existir, por certo um dos melhores de todos nós.

Augusto Lenine Gonçalves de Abreu, 1º Sargento de Marinha, condutor de máquinas, fez a sua comissão na Guiné 1966/68 no NRP Orion, sob o comando do tenente Manuel Lema Santos. Subiu e desceu o Cacheu, o rio Grande de Buba, o Cumbijã incontáveis vezes, esteve debaixo de fogo, apoiou LDGs e LDMs, deu o seu melhor pela segurança de todos. Foi condecorado, duas medalhas atestam as suas qualidades de militar e ser humano de excepção. Da Guiné ficou com a recordação afável do seu povo, a entreajuda e a amizade com tantos militares portugueses.

Cruzou a imensidão dos mares, criou os filhos e os netos, reformou-se, pintava azulejos, era amigo do seu amigo, solidário, sempre disponível para auxiliar quem quer que fosse. E meu vizinho, meu grande Amigo.

Várias vezes tentei levá-lo a entrar no nosso blogue. Nunca quis mas lia frequentemente os postes e estava por dentro do que acontecia.

Quinta-feira passada, dia 8, sentiu-se mal. Um súbito derrame cerebral levou-o para as urgências do hospital de Cascais. Entrou em coma e domingo passado não resistiu. Aos 79 anos, o Augusto Lenine fechava os olhos para sempre.

Foi ontem, dia 14 de Novembro, cremado no cemitério de Rio de Mouro, a urna coberta com a bandeira portuguesa, teve honras militares. Na chegada do corpo ao cemitério, um pelotão da Marinha disparou três séries de balas de salva. Depois, muitas lágrimas, a despedida, a incineração, a entrada no grande vazio, o recolhimento nos braços de Deus.

O Augusto Lenine Gonçalves Abreu era meu primo direito, filho da irmã mais velha do meu pai. Quantas recordações e vivências comuns!...Ontem as lágrimas caíam-me como chuva.

Descansa em paz, meu irmão!

António Graça de Abreu



O nosso camara Augusto Lenine Gonçalves Abreu foi sócio fundador, em 1979, da Associação dos Maquinistas Navais. Em nome de todos os amigos e camaradas da Guiné que fazem e leem este blogue, e que se reunem simbolicamente sob o mágico poilão da nossa Tbanca Grande, apresento à família e ao António Graça de Abreu as nossas sentidas condolências.  Como leitor frequente do nosso blogue, para o qual tinha sido expressamente convidado por mim, e sobretudo como camarada da marinha que pertenceu à equipagem da gloriosa LFG Orion, e como combatente da Guiné, o seu nome passa figurar na lista dos nossos grã-tabanqueiros que a morte veio libertar das servidões da vida na terra. Descansa em paz, camarada. (LG)

Guiné 63/74 - P10674: (In)citações (44): Imagens da minha terra, tão bela e tão sofrida (Cherno Baldé)


Foto nº 1 > Cabaz ou cabaca, da familia das cucurbitáceas 



Foto nº 2 > Uma bolanha, _Bijogro, arredores de Bissau_Setembro de 2012.


Foto nº 3 > Por-de-sol, Bijogro, Setembro de  2012


Foto nº 4 > Dança Felupe, Bissau, Agosto 2012


Fotos (e legendas) : © Cherno Baldé  (2012). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, de 5 de outubro último, do nosso querido amigo guineense Cherno Abdulai Baldé,

 Caro amigo Luis,

Junto envio algumas imagens que, não estando directamente ligadas ao tema do Molléh (recentemente enviado), poderão servir, eventualmente, como elementos decorativos para acompanhar a sua publicação (*).

Um abraço amigo,

Cherno 

2. Comentário de L.G.:


Obrigado, Cherno. Não temos tido notícias tuas. As que nos chegam, da tua terra, não são de molde a tranquilizar os nossos espíritos. Pelo contrário, são fonte de angústia. A situação político-militar, criada pelo golpe de Estado de 12/13 de abril último, tem levado a um clima de violação dos direitos & liberdades dos cidadãos, de perseguições, de arbitrariedades, de represálias, de violência paramilitar e parapolicial, etc., com o o todo o seu cortejo de vítimas indefesas e inocentes. Tememos pelo povo da Guiné, receamos pela segurança e pelo bem-estar dos nossos amigos que lá vivem.

Ainda recentemente, os nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento denunciaram, na sua página na Internet,  o espancamentp selvático de que foi vítima o guinense Iancuba:
"23 de outubro de 2012 > Iancuba amigo, todos nós da Ad estamos contigo

" O que te fizeram releva da barbárie. Foste espancado pelos mais medíocres guineenses da nossa terra. Sim, porque eles se afirmam como tal, mas são de uma Guiné-Bissau que não é a tua, não é a nossa, não é a daqueles que, de facto, lutaram pela libertação do nosso país".


 Aqui vai o resto da declaração de solidariedade publicada, corajosamente,  no sítio da AD:


"Para eles, o obscurantismo, a ignorância, a maldade, a violência gratuita, n fazem parte do seu dia-a-dia. É a sua própria essência. Não conseguem  viver sem eles. Tu, que aderiste cedo à Luta, que foste estudar para melhorar a nossa  terra, que com alguns de nós estiveste na Juventude do Partido, que  fundaste a [ONG]  HAIFA-PALOP, que nunca dobraste a coluna aos poderes  retrógrados, que sempre foste um exemplo de coragem e frontalidade, conta com a nossa solidariedade, nós da AD que procuramos, como tu, um futuro com que sonhámos há longos anos e que nada, mas NADA mesmo,  nos fará desistir ou baixar os braços.

"A Guiné-Bissau vive hoje um dos momentos mais negros da sua curta  História.  Todos os guineenses precisam de ti. Mantém a coragem que sempre  tiveste. Recupera depressa e regressa breve. Quando voltares, estaremos aqui à tua espera para continuar a LUTA".
Cherno, que estas tuas imagens sejam também vistas como uma incitação à paz, à liberdade, à justiça e à confiança no futuro da tua terra, que é também um pouco nosso, pela história, a língua, as memórias e os afectos que nos unem. Que Deus, Alá e os bons irãs vos protejam!

PS - O título do poste é da nossa responsabilidade.