quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11794: Manuscrito(s) (Luís Graça) (5): fumo, logo existo

fumo logo existo

mais um dia mundial do não fumador.
global, nacional,  regional, local.
só não o foi na minha freguesia.
nem no tasco que eu frequento.
nem na fábrica onde eu trabalho.
nem no meu bairro (social)
onde não há trabalho decente para a gente.
nem na rua do monóxido de carbono que é a minha.
nem na minha casa
em que o tabaco é o xanax do mulherio.

dizem-me que se aperta o cerco aos fumadores.
que pelas estatísticas são
os que ainda não trabalham
mais os que já trabalham
e os que estão na casa dos trinta
e mais os que já deixaram de trabalhar.
(os que ficaram pelo caminho
ou na ponta final da linha de montagem,

ou na autoestrada da vida, ao km 40, 50, 60).
ouvi o telejornalista de serviço
(fez-me lembrar o porta-voz
do tribunal do santo ofício
que condenou à fogueira o tetravô
do meu tetravô, cristão-novo de penamacor).

o inquisidor-mor malha nas mulheres portugas
que estão a estragar as estatísticas sanitárias.
diz o senhor diretor geral:
os portugas ainda podem orgulhar-se,
(ao menos, valha-nos isso!),
de serem os menos fumadores da eurolândia.

repete o loquaz locutor:
não fumar está na moda.

é politicamente correto, é fixe.
faz à bem à saúde e à carteira.
os portugas que não fumam ou deixaram de fumar
estão na moda, são fixes.

eu, fumador, de maço e meio, me confesso.
desde tancos, ou figo maduro, ou bissalanca,
já não sei onde nem quando comecei a fumar,
mas foi na tropa.
não quero estar na moda, não quero ser fixe.
quero e não quero deixar de fumar,
mas temo o cerco,
como em guidaje.
cerco, é isso.
os tempos são bons para apertar o cerco
aos fumantes. aos novos párias sociais,

aos desalinhados, aos marginais-secantes,
às amplas minorias, aos novos inimigos da ordem pública.

o pretexto pode ser a nova peste branca,
a pandemia da gripe,
o direito à saúde,
a economia da saúde,
os direitos e liberdades e garantias dos não fumadores,
o fumo passivo,
mais as contas públicas, o endividamento das famílias,
o exemplo (triste) do cowboy da marlboro
que era gay e morreu de cancro,
a nova ética do trabalho,

ou a falta de ética e de trabalho,
o sobreaquecimento do planeta,
o medo e sobretudo o medo do medo,
a produtividade do trabalho,
a competitividade das empresas,
a identidade da nação,
a incultura do tabaco,

a globabilização, e a verdade trágica das estatísticas da saúde,
os superiores desígnios do estado e o seu biopoder,
enfim, e não menos importante, 

a poluição tabágica,
que além dos pulmões dos colarinhos azuis
e do resto do corpinho da gente,
dá cabo da pintura dos tetos e das paredes,
do sistema de ar condicionado,
dos microequipamentos,
dos circuitos integrados dos computadores,
das mother boards, dos chips,
das placas gráficas,
dos neurónios dos colarinhos brancos e dourados,
da testosterona da dream team,
dos satélites das telecomunicações,
dos estofos do carro do patrão,
da pele de veludo da gaja do patrão,
do clima organizacional da empresa,
da missão, dos valores, da estratégia,
do ranking de portugal no mundo.


o tabaco que mata meio milhão de eurolandeses por ano,
morrem que nem tordos, dizem,
diz o sanitário de serviço,
doze mil, falando só de portugas.

mais num ano do que em 13 anos de guerra colonial,
e o mulherio a dar cabo da estatística,
diz a senhora enfermeira lá da fábrica!

não vi, todavia,
as empresas portuguesas seguirem o exemplo
das suas congéneres multinacionais
que operam cá no burgo,
como a ibm ou a siemens ou a cisco,
não vi os senhores gestores engravatados lá da minha guerra
virem à televisão dizer com orgulho:
somos mais uma smoke free company,

somos amigos do ambiente,
somos gajos decentes,
somos verde-rubros,
somos patriotas,
não fumem, seus idiotas,
criamos riqueza e saúde,
não fume, seus cabrões,
que o tabaco dá cabo do tesão!...

não, eles, os senhores e as senhoras da gestão do pessoal,
os senhores engenheiros da organização e métodos,
eles e elas, não têm lata para o fazer,
porque antes disso teriam que dar o exemplo,
e mostrar que também dão bons exemplos
de boas práticas noutras matérias
como a proteção ambiental,
a ergonomia da minha máquina de comando numérico,
o apoio aos órfãos e viúvas
dos operários que morreram a trabalhar,
a proteção da saúde e segurança dos trabalhadores,
a consulta e a participação do zé portuga,
a cidadania organizacional, 
ou lá o que isso queira dizer,
as boas contas, o blá-blá,  coisa e tal,
a garantia do trabalho decente,
o sentido de responsabilidade social,

e toda blá-blá de merda que os gajos e as gajas usam.

e a propósito:
alguém sabe explicar-me
o que é isso de trabalho decente, vida decente,
salário decente, condições de trabalho decentes,
cuidados de saúde de decentes,
ambiente decente, educação decente, habitação decente, 

saúde mental decente, intimidade decente,
privacidade decente, humanidade decente ?

também eu quero viver
decentemente,
respirar decentemente,
comer decentemente,
amar decentemente,
envelhecer decentemente 
e morrer decentemente.

hoje é dia mundial do não fumador,
uma vez por ano, todos os anos,
só não o foi na minha parvónia dos arrabaldes,
nem na caserna da minha memória,
nem no tasco que eu frequento,
nem na fábrica onde eu trabalho,
nem no meu bairro (social)
onde não há trabalho decente para a gente
nem dinheiro para o tabaco que engana a fome,
e a apagada e vil tristeza do nosso quotidiano.

e a angústia do amanhã sem amanhã,
a falta de graveto, pilim ou guita
para oferecer uma rosa à patroa
que agora vai fazer cinquenta anos 
e é mais nova do que eu.

hoje foi um dia trivial,
como os outros,
não dei por nada de especial.
hoje o estado arrecadou mais de 600 mil euros
de imposto sobre o vício de fumar,
33 homens e mulheres, meus compatriotas,  morreram
de doenças relacionadas com o tabagismo,
não vi nem ouvi os senhores ministros preocuparem-se
com os que trabucam e fumam,
com os pobres que fumam e que vão morrer,
vão morrer do trabalho e do cigarro e do cancro do pulmão,
tal como os outros que não fumam,
nunca fumaram ou deixaram de fumar.
ou que não trabalham.
um dia todos vamos morrerm
conheço essa teoria, a da dissonância cognitiva,
diz-me o doutor médico do trabalho lá da fábrica
e que até é um gajo porreiro
porque fuma,
tem paleio p'ra malta do fato macaco
e sabe que fumar e trabalhar fazem à mal saúde,
a gente precisa sempre de um bom alibi,
quer dizer uma desculpa,
para adiar a puta da morte
ou fintar a morte como na guiné,
a gente precisa de esconjurar a morte,
a malapata, a doença, a dor,
os medos, os fantasmas da noite,
a mina anticarro ou a emboscada na picada para guidaje.
a travessia do cacheu, a subida ao céu na ponte do jagarajá.
a descida ao inferno de gadamael,
o trânsito no purgatório do xime,
o juízo final em guileje,

o helicanhão a varrer o chão no choquemone,
a danação eterna em  canquelifá.
amen, 
padre nosso, avé-maria
que deus tenha em santo descanso 
os meus pobres camaradas que lá ficaram
e que eu tive de deixar para trás.

minto: o senhor ministro da saúde
que também o é da saúde pública,
da saúde da gente,
das crianças que estão no ventre
das mães toxicodependentes e das mães fumadoras
e das mães operárias do vale do ave,
o senhor ministro
acaba de anunciar a sua (dele e do governo) intenção
de aumentar o número de consultas hospitalares
de desabituação tabágica.
eu aplaudo,
com duas mãos e um rajada de gê três
que era  a minha gaja na  centésima vigésima qualquer coisa
companhia de caçadores paraquedistas.
de setenta e dois a setenta e quatro,
na guiné, longe do vietname.

mas quantas (consultas) não disse, o senhor ministro da doença,
nem onde nem com que meiosm
ele há montes de tugas a pedir ajuda,
não há técnicos para as encomendas,
e, os que há, são voluntários.
psicólogos à procura de espaço de trabalho
no mundo das batas brancas.
há listas de espera de dois anos,
para este tipo de consulta,
no serviço nacional de saúde
sua excelência bem sabe melhor do que eu.
e a propósito: diz-se desabituação
ou cessação tabágica ?
cessação, dizem os puristas.

que fumar é uma doença,
uma pestilência,
um pecado mortal,
um gajo morre e ainda por cima vai para o inferno.
mas o que é que um gajo como eu,
ex-combatente,
fumador compulsivo, de maço e picos
(que a guita não dá para mais),
faz em dois anos ?
dá em doido ?
morre de cancro ?
estoira com os miolos ?
trepa pelas paredes acima ?


em dois anos um portuga fumante como eu
acendeu pelo menos 21900 vezes o isqueiro,
fumou pelo menos 21900 cigarros (fora o cravanço).
ficou exposto a 4 mil produtos químicos
vezes 22 mil cigarros,

ou serão 5 mil ?
mais mil menos mil, tanto faz.


por conseguinte, um gajo está arrumado
ao fim de dois anos de espera na lista de espera
e a continuar a fumar,
e a trabucar.

e a pagar o imposto do vício,
a tirar o leitinho àd criancinhas,
e a foder o coirão, como no morés ou no fiofiili.
eu queria deixar de fumar, 

sinceramente queria deixar de fumar,
talvez alguém me possa ajudar,
lá em casa todos fumam.
e as mulheres (a patroa e as duas filhas) 

mais do que os homens.

eu fico, por isso, sensibilizado
com a sensibilidade do senhor ministro da saúde,
que é doutor e é um gajo bestial,
que se preocupa com a gente.

com os que não fumam
e apanham com o fumo dos que fumam,
mas também com os que fumam e trabalham como eu,
que fiz e perdi a guerra dita colonial,
classe operária, malandra, tunante,
grevista, marginal, quezilenta,
todos feios, porcos e maus,
e fumante como eu,
embora em vias de extinção
enquanto classe mal comportada,

e pior qualificada.


no dia mundial do não fumador,
eu  pichei no muro do cemitério, 
a caminho da fábrica,
fumo, logo existo.
imaginem se eu não fumasse:
estava tramado,
ninguém se preocupava comigo,
mas neste dia tenho a certeza que
alguém se preocupou comigo,
um ministro da saúde, 

médicos, enfermeiros, psicólogos.
padres, polícias, jornalistas, amigos.
cangalheiros, coveiros.
educadores, doutores em ética,
teólogos, estatistas, informáticos, 
locutores da TV, radialistas, epidemiólogos,
patrões do século vinte e um,
gestores do capital humano, 

técnicos de seguros,  sociólogos
e até banqueiros,
tudo gente importante e séria e engravatada.


hoje houve gente que se preocupou comigo.
e isso tocou-me,
deixou-me sensibilizado,
senti-me importante, 
mesmo que sozinho no meio da multidão do metro.
de casa para o trabalho e viceversa, cansado.
talvez eu ainda tenha sorte,
e vá a tempo de me inscrever
numa consulta de desabituação
(perdão, cessação) tabágica
em 2005,

mesmo com meio pulmão,
bem humorado,
a sorrir à vida e a piscar um olho à morte,

ou talvez morra antes, de febre hemorrágica.
ou de uma simples constipação,
ou passado a ferro na passadeira para peões,
numa qualquer sexta-feira à noite
onde há gajos, bêbedos, de carro
com licença para matar,
como eu como me deram um gê três

17/11/2003. 

revisto 

Luís Graça

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Nota do editor;

Último poste da série > 18 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11723: Manuscrito(s) (Luís Graça)(4): Comment ils sont toujours gais, les portugais!

Guiné 63/74 - P11793: O Nosso Livro de Visitas (166): António Madeira, ex-militar do BCAÇ 2912, trazido até nós pelo nosso camarada Juvenal Amado

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 25 de Junho de 2013:

Caro Carlos
Ontem mandei-te um texto onde transcrevia uma história infelizmente real de um camarada da 2912 que se chama António Madeira, natural de Castelo Branco, que está hoje numa situação dificil.
Acabei de receber autorização dele para mencionar o seu nome e assim envio-te o original contada por ele mesmo.
Um abraço
Juvenal Amado


2. Mensagem do nosso camarada António Madeira que pertenceu ao BCAÇ 2912:

Caros amigos deste extraordinário Grupo de convívio à distância, hoje decidi contar-vos uma história pessoal:

Eu não sou muito preciso em datas mas, no dia em que os "piriquitos" do BCAÇ 3872 chegaram a Galomaro (ao principio da noite) nessa tarde eu fui tomar banho à "bolanha" que ficava à saída de Galomaro e à esquerda na estrada para Bafatá. Num dos "mergulhos" bati com a cabeça no fundo da referida "bolanha" e fiz uma luxação na cervical. No dia seguinte fui evacuado para o Hospital de Bissau onde permaneci cerca de um mês.

Passei à disponibilidade com uma má postura na cervical e passados uns anos tive que ser operado no Hospital Stª Maria em Lisboa, ficando com uma parcial mas acentuada deficiência física que, ao longo dos anos, foi aumentando e há dois anos a esta parte fiquei confinado a uma cadeira de rodas e impossibilitado de sair de casa.

É esta a minha recordação viva e diária, de GALOMARO... DESTINO... E PASSAGEM.

A vida continua
Um abraço para todos.
António Madeira


3. Comentário do editor

Caro camarada António Madeira
Muito obrigado pelo teu contacto via Juvenal Amado.
Parece que dominas o computador. Assim, convidamos-te a aderir à nossa Tabanca. Vais ver que começando a contar as tuas histórias e a enviar as tuas fotografias, passas melhor o tempo e ajudas a aumentar este espólio de memórias de ex-combatentes da Guiné.

Diz-nos qual foi o teu posto, especialidade, unidade dentro do Batalhão, data de ida e regresso da Guiné, locais onde cumpriste a tua comissão de serviço e outros elementos que aches útil fornecer para que te possamos conhecer melhor.
Não esqueças de enviar uma foto do teu tempo de tropa para os nossos arquivos.

Pela tua mensagem ficamos a saber que a tua saúde se está a ressentir do grave acidente que sofreste na Guiné. Lamentamos que estejas a passar por essa situação. Oxalá o nosso blogue possa contribuir para ocupares o teu tempo. Casos similares ao teu aconteceram infelizmente com alguma frequência, havendo a lamentar até casos de afogamento e desaparecimento de cadáveres.
Acontecimentos que tinham a ver a juventude, altura em que nos julgamos imortais.

Caro camarada, esperamos mais notícias em breve. Vamos pedir ao Juvenal que te faça chegar a nossa mensagem/convite.

Recebe um abraço em nome da tertúlia e dos editores, e os votos da melhor saúde possível face aos condicionamentos próprios da tua deficiência.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11454: O Nosso Livro de Visitas (165): Um "recuerdo" do ex-1º cabo op cripto Luís Nascimento, CCAÇ 2533 (Camjambari, 1969/71)

Guiné 63/74 - P11792: Convívios (520): XIII ENCONTRO/CONVÍVIO dos Combatentes da Guerra do Ultramar de Barroselas, decorreu em 29 de Junho (Sousa de Castro)



1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte mensagem.


XIII Convívio/Encontro dos Combatentes da Guerra do Ultramar
Barroselas – Viana do Castelo

Como já é tradição a comissão de Combatentes do Ultramar de Barroselas, levou a efeito no dia 29 de Junho de 2013, o XIII Convívio/Encontro.

Pelas 11,00 horas, procedeu-se ao início da cerimónia com, hastear da Bandeira Nacional, junto ao Monumento dos Combatentes ao som de toque apropriado, pela Fanfarra do “Agrupamento 85 dos Escuteiros de Barroselas”, seguido de missa em honra por todos que morreram ao serviço de Portugal, na Capela de S. Sebastião.

Missa concelebrada por vários sacerdotes e antigos capelães do Exército, nomeadamente pelo, ex. Alf. Grad. Capelão - Manuel Martins da Costa Pereira, que serviu o Estado Português na Guiné no BART 3873, no período de Dezembro de 1971 a Abril de 1974.

No final, depois de várias intervenções alusivas ao evento pelas autoridades convidadas, homenageou-se os combatentes vivos e falecidos com deposição de uma coroa de flores junto ao monumento.

Pelas 13,00 horas, animado almoço num restaurante local, com um momento alto ao ser declamado um poema transcrito abaixo da autoria do veterano da Guerra do Ultramar, João Ballester. 

SC

COMBATENTE DO ULTRAMAR

João Ballester (autor do Poema)

Soldado forte, destemido,
Da tua Pátria partindo
Com rumo desconhecido,
Cheio de esperança, sorrindo,
Caminhaste de rosto erguido.

Soldado firme, homem leal,
Cumpridor do teu dever,
Lutaste na guerra colonial
Mas antes quebrar que torcer,
Na tua alma, de raça imortal.

Soldado das amargas ilusões
Que sofreste no Ultramar, 
Vivias em tuas lamentações
Mas também sabias rezar
E suportar tuas aflições.

Que, no Ultramar lutando, 
Nunca mostraste vaidade,
Quantas vezes chorando,
Da família com saudade,
Só desejavas a felicidade.

Soldado que sempre contigo
Tens no peito a Pátria mãe,
De quem tu és um amigo,
Amigo como talvez ninguém,
Eu te saúdo e bem digo.

És a virtude, a nobreza
Do sentimento profundo, 
És o trabalho, a riqueza, 
Foste o exemplo do mundo
És a pura alma, portuguesa.

João Ballester

Algumas fotos:

 Sousa de Castro com o ex. Alf. Grd. Capelão do BART 3873 Manuel Martins da Costa Pereira



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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P11791; Parabéns a você (598): António Nobre, ex-Fur Mil da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11780: Parabéns a você (597): Silvério Lobo, ex-Soldado Mec Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11790: Blogoterapia (231): Boas férias, em segurança (José Belo)

1. Mensagem do nosso camarada José Belo (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, IngoréBuba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref a viver na Suécia), com data de 14 de Junho de 2013:


Um Lapão em férias
Como nunca se sabe o dia de amanhã (nestas nossas idades já Bíblicas), não quero deixar que chegue o Verão sem desejar aos Amigos umas boas férias.

Um grande abraço do
José Belo
...levando a vida muito a sério... como sempre
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11789: Blogoterapia (229): A alegria de subir mais um degrau, seguindo em frente, mesmo já tendo muito mais para quando olho para trás de que quando olho para a frente (Ernesto Duarte)

Guiné 63/74 - P11789: Blogoterapia (230): A alegria de subir mais um degrau, seguindo em frente, mesmo já tendo muito mais para quando olho para trás de que quando olho para a frente (Ernesto Duarte)

1. Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67) com data de 23 de Junho de 2013, a propósito do seu aniversário ocorrido no passado dia 9 de Junho:

Um grande abraço e muito obrigado a todos os homens grandes da Tabanca grande, por se terem lembrado de mim*.
Não respondi logo porque eu tenho caído muito, e já vou vivendo noutra dimensão e como tal vou começando a fazer tudo a esse nível, inclusive passar a pagar os impostos também assim com atraso.
Não! Sou desleixado, desorganizado e não ligo à data e este ano calhou com a mudança para a minha gruta, caverna.
Mais uma vez um obrigado muito grande.
Ainda tenho coragem para escrever duas linhas de loucura.

Ernesto Pacheco Duarte
Mansabá
Morés – Oio


Tenho andado afastado

A alegria de subir mais um degrau, seguindo em frente, mesmo já tendo muito mais para quando olho para trás de que quando olho para a frente.
Para mim é como que a época de fazer uma espécie de balanço, o fim de um ano, o principio de outro, o Verão é o meu verdadeiro inicio de ano.
Gosto muito do Verão.
Gosto muito do campo.
Gosto muito do calor.
Gosto muito da época das colheitas.
Gosto muito de pôr para o lado os casacos.
Gosto muito de esquecer, embora por um período o frio.
Gosto muito da praia.
Gosto muita da paisagem de Verão, ainda com verduras de primavera, mas já muitos louros de Verão.

E é maravilhoso dizer fiz mais um ano, subi mais um degrau, em frente, cheguei a um patamar mais alto, olhando lá de cima para trás a vista é imponente, as imagens passam a uma velocidade vertiginosa, mas mesmo assim é muito bom.
É certo que também tem que se dizer, e não se o consegue fazer sem pelo menos alguma saudade, já falta menos um.
Muitos partimos para esta vida sem objectivos muito definidos.
O nosso grande objectivo é viver.
O nosso grande objectivo é viver de cabeça erguida, com dignidade.

Gostamos muito da nossa liberdade, da liberdade dos espíritos, não nos conseguimos comprometer com as particularidades das religiões, logo nada disso será um objectivo, com as particularidades das politicas, o mesmo, a não ser continuar a ser livre, espíritos mais ou menos independentes.
Enquanto se sobe as encostas suaves e floridas, algumas mais inclinadas, até com grau de dificuldade, há um número de coisas que ficaram, que vão aparecendo depois no nosso horizonte, mas vamos subindo, e além das encostas começarem a ser mais inclinadas, as forças começam a faltar.
Já subimos, nunca é muito, mas já estamos na zona onde as encostas já são escarpas, os horizontes em frente já são muito mais pequenos e é forte aquela tendência que temos em olhar para trás e fazer comparações.
Vemos o caminho que ficou para trás e queremos e dizer a nós próprios, que temos que ir em frente nas mesmas circunstâncias, sonhar não paga ainda qualquer imposto.
E é a única maneira de não sermos como que absorvidos pela própria vida é teimarmos em continuar o caminho de sempre, a subida de sempre, mesmo que ele já não atravesse encostas verdejantes e suba é mais escarpas agrestes e até dizermos que isso é normal.
Mas e as forças e a vontade que deixa de ser espontânea e passa a forçada e a comparação e a saudade, que começa a estar presente em nós e quando não está é lembrada?
Gritamos para nós próprios que nada é diferente que nada muda, de degrau para degrau que subimos, mas até a própria sociedade nos lembra permanentemente dizendo-nos que já não temos idade para isto ou aquilo, e ele são as consultas para isto ou aquilo, ele são as indicações dos lares clandestinos aos 7 estrelas, ele são enfermarias cheias de menos jovens que começamos a ver, ele é visitas constantes à farmácia, sem darmos por isso já estamos vivendo outro mundo, já estamos tendo contacto com uma outra sociedade.
Mas como bom ex-militar digo: andaram, passaram muito próximo, e até um dia.

Abraços
Ernesto Pacheco Duarte
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 9 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11684: Parabéns a você (587): Ernesto Duarte, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1421 (Guiné, 1965/67)

Último poste da série de 18 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11728: Blogoterapia (229): Muito obrigado a todos os camaradas que se lembraram de mim, no meu dia de anos (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P11788: Bom ou mau tempo na bolanha (16): Afro-americanos (Tony Borié)

Décimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Saindo de Nova Jersey, seguindo a rota junto ao oceano Atlântico com direcção ao sul, encontrámos diversos estados que em tempos, para vergonha de alguns capítulos da história mundial, usaram o trabalho forçado de pessoas, vindas principalmente do outro lado desse mesmo Atlântico, da costa de África, pessoas essas, que hoje nos Estados Unidos chamam de afro-americanos.
O Cifra, que neste texto se chama Tony, talvez pela sua experiência durante o conflito da Guiné, teve muitos amigos afro-americanos, teve um com quem trabalhou por dezenas de anos, e talvez lembrando o Iafane, o tal barqueiro do rio Mansoa, também lhe chamava de “brother”, conviveu com ele e com a sua família, viu os seus costumes e a sua maneira de proceder, que não faziam muita diferença dos costumes de qualquer português, do fim do século passado, oriundo de Trás-os-Montes ou da Beira Litoral.

Na sua casa a ementa era à base de carne de porco, alguma salgada, comiam couves, batatas e outros vegetais, comiam milho, que podia ser cosido ou frito, depois de um pouco triturado e mal amassado. Os sentimentos de família eram iguais, ou ainda mais puros que os nossos, era oriundo do estado da Geórgia, tinha algum orgulho em dizer que os seus avós era “escravos”, sabia o que era o bem ou o mal, apesar de ser uma pessoa com o corpo de um atleta, tinha uma humildade rara, mesmo rara, que chegava ao ponto de o Tony lhe dizer por muitas vezes que tinha que ser mais rude e agressivo, para que as pessoas lhe tivessem mais respeito.

Como vinha frequentemente à Florida, o Tony, um dia demorou três dias para fazer a distância, que é mais ou menos mil e quinhentos quilómetros, e veio de automóvel pela costa Atlântica, passando pelas pequenas vilas e aldeias, de Nova Jersey até à Florida. Como vivia do lado sul do rio Hudson, ou seja do outro lado de Manhattan, em Nova Iorque, tomou o rumo do sul e travessou o resto do estado, tomando o barco que cruza a Baía de Delaware, com algum nevoeiro pela manhã e algumas gaivotas, que quando lhe acenam com comida voam até à mão das pessoas. Atravessou o estado de Delaware, onde se pode ver barracas à beira da estrada, tal como se via no Ribatejo, no verão a venderem melões, que vendiam toda a qualidade de marisco fresco, pescado na noite anterior, no fim desse estado atravessou a ponte, que tem mais de vinte quilómetros de extensão, incluindo um túnel, na Baía de Chesapeake, túnel este que está localizado mais ou menos a meio da ponte, que é para dar passagem aos gigantes Porta-Aviões, onde podiam caber muitos milhares das nossas “LDM”, que andavam pelos rios e canais da Guiné, que saem e entram na base naval de Norfolk, no estado de Virgínia.

Passou pelo estado de Carolina do Norte, onde tirando a cidade de Greenville, com algum impacto industrial, especialmente na área farmacêutica, todas as outras povoações, pelo menos junto ao mar, ou são piscatórias ou se dedicam à agricultura, em especial o tabaco. Chegado à cidade de Wilmington, bastante animada, pelo menos à hora que por lá passou, com “música de Jazz” pelas ruas, onde na parte histórica, com um passeio junto ao rio com mais de um quilómetro de extensão, tem todo o tipo de atracções, aí parou e dormiu.

Pela manhã entrou na Carolina do Sul, onde já começou a ver algumas plantações de algodão, que lhe fizeram lembrar a tal fase menos boa da história mundial, passam na famosa praia de Myrtle Beach, com mais de vinte quilómetros de praia e atracções, dizem que nos meses de verão esta praia não dorme, segue rumo ao sul, passa na cidade Charleston, que é uma cidade portuária onde se juntam os rios Ashley e Cooper, e vão juntos para o Atlântico, tem um mercado livre onde se vende de tudo, qualquer pessoa que se queira desfazer de algo, simplesmente vai lá, expõe em alguma banca disponível, e faz o seu negócio. Há esplanadas e cafés como na Europa.

Na Geórgia, já em mangas de camisa, pois o clima já era quente e agradável, parou na cidade de Savannah, é histórica, era o principal porto de transacção de escravos para as plantações de algodão e não só, ainda hoje se pode ver onde existiu o mercado de escravos, tem casas senhoriais, autênticas mansões com extensões de terreno e entradas com portões altos e em arco demonstrando grandeza, em comparação pode ver-se nos arrabaldes junto ao rio, em terras alagadiças, as barracas que eram as habitações desses escravos, avós do amigo do Tony, a quem este chamava “brother”.Esta cidade vive muito do historial do passado, quem vai visitar a parte mais antiga fica um pouco impressionado, ao Tony cheirava-lhe a África, cheirava- lhe às tabancas de Mansoa, parece que tudo tem história, as pessoas sentem-se atraídas por essa mesma história. Próximo do porto de mar algumas ruas estreitas estão lá, a mostrar como os senhores no passado compravam, usavam e depois vendiam ou matavam qualquer bisavô do “Iafane”, barqueiro de Mansoa, que não seguisse as leis de escravatura que na época existiam, em que os bisavós, dos agora afro-americanos, eram tratados simplesmente como peças de ferramenta, nas plantações de algodão, ou numa roça de cana de açúcar, onde a vida de um ser humano tinha o mesmo, ou menos valor que a de certos animais.

Sempre rumo ao sul, no mesmo estado há povoações distantes alguns quilómetros umas das outras, a povoação surge com o aparecimento de uma ponte, sinal de que por ali passa um rio, a seguir, uma pequena casa retirada da estrada, com um pequeno cemitério ao lado dessa mesma casa, dois ou três carros em ruínas, uma pequena plantação de tabaco, uma pessoa ou duas, sentadas na frente da casa mascando tabaco, um cão e algumas galinhas à solta, às vezes um cavalo, seguem-se mais seis ou sete casas idênticas, vem uma loja utilitária, com uma bomba de gasolina, a seguir é a casa dos bombeiros, os correios, no mesmo edifício da polícia, depois uma igreja, retirada e com um largo na frente, e seguem-se mais seis ou sete casas idênticas à primeira, e termina a povoação.


O Tony parou, numa dessas povoações, para encher o depósito da gasolina, não estava ninguém a atender, tinha um letreiro, dizendo que chamasse, bem alto, por determinado nome, assim o fez e surge uma mulher, afro-americana, com três filhos, todos pela mão uns dos outros, e diz:
- Não posso encher o depósito, mas vendo alguma gasolina. Também tenho aguardente de milho, beterraba, cana de assucar e outras plantas, que o meu marido faz na floresta.


O Tony comprou, e a mulher entregou-lhe a aguardente, “moonshine”, dentro de uma garrafa de água mineral, com rótulo e tudo, dizendo que era a melhor água mineral da Geórgia!.

Finalmente, chegou à Florida!.
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11763: Bom ou mau tempo na bolanha (15): Os verdes anos (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11787: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (25): As populações de Sanconhá (Guiné-Bissau) e Sansalé (Guiné-Conacri) trabalham em conjunto para criar área comunitária protegida e transfronteiriça de N' Compa, com apoio das ONG AD e Cadi-Boké


Guiné-Bissau > Região de Tombali >  Parque Nacional de Cantanhez > Setor de Cacine > Corredor transfonteirça > 2013 > Linha da fronteira a 40 km de Boké



Guiné-Bissau > Região de Tombali >  Parque Nacional de Cantanhez > Setor de Cacine > Corredor transfronteiriço > Mata de N' Compa  > 2013 > Zona de encosta  (1) 




Guiné-Bissau > Região de Tombali >  Parque Nacional de Cantanhez > Setor de Cacine > Corredor transfronteiriço > Mata de N' Compa >  2013 > Zona da encosta (2)



Guiné-Bissau > Região de Tombali >  Parque Nacional de Cantanhez > Zona transfronteiriça > Mata de N' Compa  2013 > Interior da 



Guiné-Bissau > Região de Tombali >  Parque Nacional de Cantanhez > Setor de Cacine > Corredor transfronteiriço > Mata de N' Compa >  2013 > Interior da mata   (1)


Guiné-Bissau > Região de Tombali >  Parque Nacional de Cantanhez >  Setor de Cacine > Corredor transfronteiriço > Mata de N' Compa >  2013 > Interior da mata   (2)



Guiné-Bissau > Região de Tombali >  Parque Nacional de Cantanhez > Setor de Cacine > Corredor transfronteiriço > Mata de N' Compa >  2013 > Um dos pontos de água (bebedouros) no pico da época seca


Fotos (e texto):  © AD - Acção para o Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados  [Com a devida vénia...]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Criação da Área Comunitária Protegida e transfronteiriça de N' Compa


Mesmo no sul da Guiné-Bissau, junto à fronteira com a Guiné-Conakry, as  comunidades das tabancas de Sanconhá e Sansalé iniciaram um processo para a  salvaguarda da mata de N’Compa, importante reserva de animais selvagens que a  frequentam pelo acesso à água durante a época seca, bem como de refúgio das
ameaças dos caçadores comerciais, cada vez em maior número.(*)

Ficou decidido que se procedesse para já à identificação das principais espécies  animais que demandam este local, bem como aquelas que estão mais ameaçadas.

No futuro serão realizadas formações para guardas comunitários e guias ecoturísticos. No imediato, já foi identificado um guarda e um guia.

Fonte: Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento > 24 de junho de 2013.  (**)



Guiné > Região de Tombali >Mapa de Cacoca / Gadamael (1954) > Escala 1/50 mil >Posição relatiiva de Sangonhá e de Sansalé (esta já na República da Guiné-Conacri). Outras povoações do regulado de Gadamael: Ganturé, Bricama, Jabicunda... Não tenho a certeza se Cacoca pertencia (na época colonial) ao regulado de Gadamael ou de Cacine. (LG)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)

1. Sobre o magnífico, inestimável e insubstituível trabalho dos nossos amigos da AD - Bissau, nesta região do sul da Guiné, vd. o Relatório de Actividades de 2010 a 2012, em particular o Programa Integrado de Cubucaré (PIC), dirigido pelo eng. Abubacar Serra, a quem mandamos saudações e votos de boa saúde e bom trabalho, extensivos a toda a sua equipa.

Vd. também o trabalho de investigação que o bioantropólogo português Rui Sá está fazer, desde há 7 anos, com os chimpanzés da Guiné-Bissauu: entrevista (15') ao programa Científica Mente, da RTP1, em 25 de maio de 2013.

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Notas do editor:

(*) Sobre o Parque Nacional das Florestas de  Cantanhez (que é preciso salvar!), os seus pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades que ele representam e as ameaças que sobre ele recaem, vd. postes de

24 de abrill de 2008 > Guiné 63/74 - P2793: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (15): Salvemos o Cantanhez (I). Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 .

15 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2846: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (16): Salvemos o Cantanhez (II).

(**) Vd. último poste da série > 3 de julho de 2012 > > Guiné 63/74 - P10108: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (24): questionário de opinião sobre o seu sítio na Net (que tem 8 anos) e sobre a sua página no Facebook (que tem 2 anos)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11786: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (10): Imagens de postais ilustrados (Parte I)


Foto nº 1 [, Um guerreiro... felupe ?]


Foto nº 2  [Uma mulher... papel ou manjaca ?]


Foto nº 3 [. Uma máscara, de etnia não identificada...Nalu, diz o nosso camarada António J. Pereira da Costa, que é colecionador de arte guineense]


Foto nº 4 [, Uma máscara bandá nalú,  diz o nosso Tó Zé; comfirmei num livro do etnógrafo Fernando Rogado Quintino (*)]


Foto nº 5 [Um bela mulher guineense..., possivelmente mandinga, pelos adornos]


Foto nº 6 [, Um  jovem mãe, com filho às costas... Fula ?]


Foto nº 7 [, Máscara de vaca bruta,  bijagó, segundo Fernando Rogado Quintino ]


Foto nº 8  [Imagem de postal ilustrado, muito provavelmente, da coleção de postais ilustrados, edição Foto Serra, Bissau. Campune tatuada, bijagó].


1. Continuação da publicação do álbum de Carlos Fraga, que foi alf mil, na 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, na segunda metade do ano de 1973, indo depois comandar, como capitão, uma companhia em Moçambique, a seguir ao 25 de abril de 1974).(**)

Enquanto fez o seu estágio operacional no CTIG,  o alf mil Carlos Fraga  tirou fotos (e nomeadamente "slides") mas também comprou fotos, incluindo imagens de postais ilustrados.

Publicam-se a seguir 8 fotos da sua coleção de postais ilustrados. Não trazem legendas. Pedimos a colaboração dos nossos leitores para completar ou corrigir as legendas da autoria do editor.

Poucos de nós tinha um conhecimento mininamente sério e aprofundado da composição étnico-linguística da  Guiné e dos seus povos. QA"instrução" que o exército nos deu, era baseada no estereótipo etnocêntrico dos europeus...

Em 1950, os principais grupos étnicos (ou "tribos", como se dizia na época...) eram os seguintes: balantas (160 mil), fulas (108 mil), manjacos (72 mil),  mandingas (64 mil), papéis (36 mil), brâmes (16 mil), beafadas (11 mil), bijagós (10 mil), felupes (8 mil), baiotes (4 mil) e nalus (3 mil) (os números são arredondados por excesso ou por defeito)... Balantas, fulas, manjacos e mandingas representavam, só por sí, 60% do total. A população da Guiné era então de cerca de 510 mil, constituída em 98% por negros. Os mestiços eram pouco mais de 4500 e os brancos não chegavam aos 2300...

Pessoalmente, eu só lidei,  na zona leste (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), com fulas, balantas e mandingas (LG)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de dezenbro de 2012 > Guiné 63/74 - P10857: Notas de leitura (442): Três estudos sobre a Guiné Portuguesa: A população de Cacine, a cestaria e o totemismo (Mário Beja Santos)

(...) António Carreira e Rogado Quintino foram dois estudiosos incontornáveis da historiografia, etnografia e antropologia da Guiné Portuguesa. Deixaram uma enorme bibliografia, basta que o leitor navegue no Google, encontrará estudos surpreendentes, alguns deles há mesmo a possibilidade de serem descarregados. 

Encontrei três pequenos estudos cuja utilidade pretendo partilhar com os confrades. O primeiro intitula-se “Guiné – A população do posto de Cacine no decénio 1950-1960”, por António Carreira. Ele vai seguramente ao encontro da curiosidade de quem, por qualquer razão, viveu ou combateu nos regulados de Gadamael, Quitafine ou Cacine. 

Carreira lembra-nos que este território entrou na posse de Portugal depois de 1886, houve retificação de fronteiras até 1929. Deplora a troca do Casamansa pela região de Cacine, dizendo que o primeiro servia de via de escoamento enquanto os cursos de água de Cacine, sinuosos e pouco profundos, não permitem a afluência do comércio do interior. Para que o leitor entenda como o território até ao início da luta armada tinha predominantemente Balantas, Nalus e Fulas, é importante compreender que a prolongada guerra de 1863-1888, travada entre Fulas e Beafadas e Mandingas, fez aproximar da região de Cacine grupos étnicos que até então viviam em outras áreas. Deu-se uma migração de Fulas que passaram a influenciar os Nalus. 

De acordo com o estudo do recenseamento, encontravam-se presentes quase todas as etnias, com raras exceções importantes, como os Bijagós. Depois o autor debruça-se sobre a estrutura familiar dos Nalus, eram profundamente animistas e, tal como os Bagas e os Landumás foram sujeitos à islamização. Possuíram, até à islamização, uma arte excecional, marcada por máscaras e tambores. De acordo com o trabalho de Carreira, dos anos 50 para os anos 60 do século passado deu-se uma evolução demográfica impressionante, ultrapassou os 50 %, os animistas foram predominantes neste crescimento (Balantas, Nalus, Beafadas e Sossos).

Quanto aos dados demográficos, no regulado de Cacine, a povoação de Cacine tinha uma população inferior a 500 habitantes, seguia-se Cassacá, depois Cacoca, Cabaz e Cabochanquezinho no regulado de Gadamael, havia mais população em Sanconhá (Sangonhá), Ganturé, Bricama, Jabicunda. Quanto ao regulado de Quitafine, o maior núcleo populacional era Cassebeche, seguindo-se Canefaque e Calaque. 

O autor discreteia ainda sobre a estrutura familiar, as ocupações por etnias e deplora que o recenseamento não contemple o grau de instrução das populações autóctones e apela a que se venha a conhecer em novos censos dados relevantes sobre as confrarias islâmicas. Este estudo apareceu publicado na revista do Centro de Estudos Demográficos, em 1972. (...)


Vd. também postes de;:




Guiné 63/74 - P11785: Notas de leitura (496): O Império Africano 1890-1930, coordenação do Prof. Oliveira Marques (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2013:

Queridos amigos,
A Nova História da Expansão Portuguesa foi um ambicioso projeto coordenado por Joel Serrão e Oliveira Marques, 12 volumes que abarcaram as origens, a expansão, a colonização atlântica, o império oriental, o império luso-brasileiro, o império africano e o seu final.
Este volume de onde se extrai a recensão em apreço tem a ver com uma Guiné que já não depende de Cabo Verde, que substituiu o comércio negreiro por uma exploração agrícola baseada sobretudo no amendoim; uma Guiné com inúmeros conflitos de tal sorte que foi necessário esperar pelo primeiro governador da República para derrubar as muralhas à volta da fortaleza de Bissau.
Enfim, uma fonte informativa que poderá pesar na curiosidade de quem pretende ir mais longe sobre a história da Guiné.

Um abraço do
Mário


A Guiné, entre a Monarquia, a República e a Ditadura

Beja Santos

“Império Africano 1890-1930”, com coordenação do Prof. Oliveira Marques (Editorial Estampa, 2001), é um dos 12 volumes da Nova História da Expansão Portuguesa, projeto que foi dirigido por Joel Serrão e Oliveira Marques.

As condições internacionais ditadas pela Conferência de Berlim exigiram às nações imperiais uma política de conquista territorial e de delimitação de fronteiras. Se é facto que na substância há uma continuidade entre a Monarquia e a República e entre esta e a Ditadura, há matizes políticos dignos de realce. A República esforçou-se por uma política de autonomia colonial, visou-se a descentralização, criou o regime dos altos-comissários, prosseguiu com maior solidez uma campanha contra o regime de trabalho indígena, mas com resultados mais aparentes do que palpáveis. A cultura colonial imiscuiu-se em múltiplas preparações profissionais, caso da Escola do Exército, da Escola Naval, do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, Escola de Medicina Tropical, Escola Colonial, mesmo os estudos superiores de Direito e de Agronomia foram influenciados. Quase no termo da República, a Agência Geral das Colónias e o seu boletim surgem como fontes de divulgação cultural e científica, num universo editorial de importância irrecusável. Basta pensar em Fernanda de Castro e o seu best-seller “Mariazinha em África”.

A Guiné conheceu transformações enormes: separou-se de Cabo Verde, foram definidas as suas fronteiras, a exploração agrícola substituiu o comércio negreiro. A grande falta são os colonizadores, a província desligada de Cabo Verde assenta numa orgânica administrativa que seria uma quase ficção caso não houvessem efetivos militares. Todas as divisões administrativas acabavam por ser ineficazes, os administradores não possuíam meios para as percorrer, não podiam garantir a lei nem arrecadar os tributos. Foi preciso esperar pela pacificação para desenvolverem as comunicações, cujo expoente foi dado pela abertura da estrada Bafatá-Bambadinca, ao tempo do administrador de Geba Calvet Magalhães. Foram tempos de grande agitação, estes 40 anos que levaram à afirmação da soberania portuguesa. Só a chegada de tropas e o seu envolvimento direto, na última década do século XIX, permitiram sortidas eficazes e submissões com apresamento de armas. Carlos Pereira, o primeiro governador nomeado pelo regime republicano, determinou o derrube das muralhas e assim se estabeleceu o relacionamento entre os temíveis Papéis e a população de Bissau, até então acantonada na fortaleza.

Deve-se a Teixeira Pinto a estratégia ofensiva que conduziu à pacificação na área continental, até 1916. Submeter os grumetes, foi o seu primeiro objetivo, sem o qual Bissau permaneceria na agitação. Como ele escreveu: “Os grumetes são papéis batizados, tendo parentes na ilha e estão ligados aos cabo-verdianos, hão de opor uma resistência enorme à ocupação da ilha – o que é necessário fazer, custe o que custar, pois é deprimente para nós que no primeiro posto da província onde vão vapores estrangeiros nós só dominemos dentro dos muros da praça. Dizem que a ilha de Bissau há de ser o meu cemitério mas, apesar disso, hei de tentar a ocupação porque prefiro lá morrer a deixar manter a humilhação porque o Governo passa todas as vezes que os estrangeiros passam na praça e perguntam porque se não pode ir ao interior da ilha".

A despeito de inúmeras conspirações, e lavado à prisão Abdul Indjai, inicia-se um período de um certo desenvolvimentismo. Era escasso o povoamento de europeus, o número de não indígenas em 1924 não seria superior a 500 pessoas distribuídas por Bolama, Bissau, Cacheu, Farim e Bafatá. A presença francesa e alemã tinha grande significado e os sírios, chegados depois da proclamação da República, passaram a ser os comerciantes do interior. Entra-se pois na ocupação territorial, vivia-se já um período de paz, fora ultrapassada a época em que se pensara dar concessões a companhias majestáticas, ideia que fizera o seu curso no final do século XIX, na Guiné não tivera nenhum sucesso. O amendoim, que no final do século XIX, estava no topo das exportações, com a República encontrou novos produtos concorrentes: a borracha, o coconote, a cera e os couros, mas foram produtos que não aguentaram a concorrência mundial. Uma parte substancial dos produtos importados não existia em Portugal: vejam-se as nozes de cola, o tabaco e os tecidos.

Finda a I Guerra Mundial, a Alemanha voltou a ser um parceiro ativo, grande comprador de coconote, mancarra, óleo de palma, cera, borracha e arroz. Uma economia tão pobre iria ditar a pequenez das receitas mesmo com um montante por palhota, os emolumentos e a carga aduaneira.

Este documento sobre a Guiné foi escrito por Célia Reis que apresenta uma boa bibliografia, onde ela destaca a investigação de René Pélissier, bastante enquadradora do período em questão, já que ele investigou os acontecimentos entre 1841 e 1936.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11773: Notas de leitura (495): A Guiné que vou encontrando na Feira da Ladra (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11784: Os nossos médicos (56): respostas ao questionário: José Manuel Matos Dinis [,CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]; José Santos [CCAÇ 3326, Mampatá e Quinhamel, 1971/73]; Rui Santos [4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]; Mário Serra de Oliveira [, BA12, Bissalanca, 1967/68]; e João Martins [, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69]

1. Mais algumas respostas ao questionário sobre Os Nossos Médicos (*):

José Manuel Matos Dinis [, ex-fur mil, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]:


Vou procurar responder sucintamente, embora aqui ou ali me espalhe um bocadinho.

1 - Eu tive necessidades várias  [, de recorrer ao médico e/ou enfermeiro].

2 - Mais que uma vez { fui visto por médico].

3 - A minha companhia não tinha médico. Em Piche, enquanto ali estivemos, também não havia médico, Mais tarde, a espaços, tivemos um médico de proximidade em Pirada. Só fui visto por médicos em Bissau, no HM 241.

4 - Usei dos serviços dos enfermeiros por várias vezes. Os enfermeiros da minha companhia, e os que estiveram ao nosso serviço oriundos de outras unidades, foram sempre extraordinários de competência e dedicação. E no que me diz respeito, quero expressar uma grande gratidão. Até um puto que fazia de enfermeiro em Bajocunda tinha a nossa confiança, como se de um profissional se tratasse.

5 - Vide resposta anterior.

6 - Não havia. Faleceu um camarada por indução errada de diagnóstico. Se tivesse sido seguido mais de perto, talvez estivesse entre nós.

7 - Como referi, em Piche, na ocasião, não havia médico. Mais tarde, a espaços, em Pirada havia consulta.

8 - Sim. Estive lá, [no HM 241, em Bissau,]  25 dias, e pedi alta para regressar ao mato. Era um cliente de luxo, e não me queixo do tratamento, nem dos sumos italianos, nem das frutas sul-africanas. No penúltimo dia, um médico (miliciano?) referiu-me que a minha baixa, apesar dos dias decorridos, não justificava a evacuação para Lisboa, mas que podia ali reter-me mais algum tempo. Agradeci, mas senti saudades da família.

9 - Vide resposta anterior e um post publicado.

10- Não, senhor, com muita pena [,de nºao ter sido evacuado para o HMP, em Lisboa].

11- Vide resposta anterior.

Faço votos de muita saúde aos camaradas.

Abraços fraternos


José Santos [ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 3326, Mampatá  e Quinhamel, 1971/73]


1) Eu fui enfermeiro em Mampatá
2) Fui visto no HM 241, em Bissau
3) Sim
6) Não
7) Não
8) Sim, fui queimado estive lá, [no HM 241,] 45 dias,  internado
10) Fui evacuado de avioneta
11) Não

Fui muita vez ao Hospital levar doentes de Mampatá e colegas nossos, andei bastante de avião pois o furriel nunca ia, o capitão tinha mais confiança em mim, porque eu já lidava com medicamentos,  estava empregado numa farmácia, e ele não tinha confiança no furriel,  daí ser sempre eu que andava com os doentes.
Um alfa bravo
José Santos


Rui Santos [ex-alf il da 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]
Luís, Boa noite!!!

Tive três ataques de paludismo no território da Guiné, um em Bedanda (tratado pelo enfermeiro da unidade 4ª CC) e em Bolama tive dois, penso que porque bebi a autêntica água salobra das bolanhas, que tanta gente fala, mas eu bebi-a juntamente com os meus amigos/soldados pretos (tratadas pelo enfermeiro e por ordem do Dr. Guilherme Peixe, médico do CIM). Não desejo a ninguém que isso aconteça pois já cá no continente tive mais três vezes, é obra ...

Claro que minha mulher foi assistida ... pelo nascimento da minha filha no Hospital Principal de Bissau (Civil) pelo dr. Círio Andrade, mas como minha mulher teve um ataque de paludismo dias antes de acabar o tempo, eis que tomou,  por minha autorização e acordo do Dr. Círio, a velha camoquina (antipalúdico mas abortivo), e assim nasceu uma miúda em chão papel. que tem agora 48 anos e tr`^e filhos, bem haja dr.Círio.

Abraço
Rui G dos Santos

Mário Serra de Oliveira [, ex-1º cabo escriturário, BA 12,
Bissalanca, Bissau, 1967/68, a viver hoje nos EUA]
 Camarada Luis Graça!

Recordo com admiração um médico do exército - eu era da FAP -, o  Dr. Trigo. Forte de fisíco e forte de mentalidade. recordo que um dia dei sangue no Hospital militar e,  creio que foi ele, para recuperar mandou dar ums "biscoitos e um cálice de vinho do Porto tinto!"...  Fiquei como novo.

Mais tarde, creio que já na vida civil, se bem recordo, recebi-o como cliente no restaurante O Pelicano. Poderei até estar confundido mas creio que não. Boa pessoa e bom médico.

Abraço a todos.

PS - Seria verdade [, como eu já vi escrito no nosso blogue,] que alguns militares "bebiam cerveja, e comiam bananas em jejum!...para apanharem uma "hepatite" que dava direito a evacuação?


João Martins [, ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ]
Caros camarigos:

Recordo que fui assistido por um médico quando estive cerca de uma semana em Gadamael Porto, porque, na sequência do meu exercício matinal de natação nas águas do rio, começaram-me a doer os ouvidos. A assistência foi rápida e consistiu na introdução nos ouvidos de um aparelho para extração da "porcaria" e colocação de um desinfetante. As melhoras foram imediatas.

Quando estive em Ingoré, em fins de 69 e com quase 24 meses de comissão, tive um forte ataque de paludismo em que já não via quase nada à minha frente, tendo mesmo dificuldade em deslocar-me. Recordo que, na altura, fui chamado à presença do comandante do batalhão que pretendia levar novamente os obuses para um lugar afastado do aquartalamento para fazer fogo para mais dentro do Senegal, é claro que o informei que não estava em condições de efectuar tal operação e que, face à distância e às condições, o tiro não tinha grande hipótese de ser certeiro embora eu utilizasse para o efeito um goniómetro. Fiquei sempre com a convicção, simples premonição, que se lá voltasse perderia a vida, porque o IN, prevendo que tal facto poderia ocorrer, teria armadilhado o local. Dessa vez não recordo qualquer assistência médica. Limitei-me a cobrir-me completamente por cobertores e a curar-me com o calor da cama.
Grande abraço

João Martins
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Nota do editor:

Postes anteriores da série:

27 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11770: Os nossos médicos (55): Sondagem (n=93): 35% dos respondentes dizem ter passado pelo HM 241 (Bissau), e 8% foi evacuado para o HMP (Lisboa)

(...) Mesmo assim, estes dados, respeitantes a 93 respondentes não deixam de ser curiosos, podendo revelar algumas tendências:

(i) Só uma minoria (17%) é que nunca esteve doente, ou pelo menos nunca terá recorrido ao médico ou ao enfermeiro;

(ii) Três em cada cinco foram vistos, uma ou mais vezes, pelo médico; e outros tantos pelo enfermeiro;

(iii) Havia um ou mais médicos em cada batalhão; já o mesmo não aconteciam a nível de companhia (segundo 37% dos respondentes);

(iv) 35% da rapaziada conheceu o HM 241 (Bissau); ou esteve lá internado, ou foi lá a uma consulta externa (de especialidade):

(v) Oito por cento do total dos respondentes foram evacuados para a metrópole, para o HMP (Hospital Militar Principal), em Lisboa...

Seria interessante que estas respostas, apesar do seu nº relativamente reduzido (n=93), pudessem ser objeto de comentários de respondentes e não-respondentes... Como sempre, as respostas são anónimas. E a sondagem realizou-se ao longo de 6 dias (de 22 a 27 de junho, tendo terminado às 13h).. Mais uma vez os nossos agradecimentos a que se dispôs a perder um minuto e fez questão de colaborar. Bem hajam, camaradas! (...)

27 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11769: Os nossos médicos (54): Respostas ao questionário: José Colaço (CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) , Fernando Costa (BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, mar73 / set74) , e Rogério Cardoso (CART 643 / BART 645, Bissorã, 1964/66)

26 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11764: Os nossos médicos (53): Homenagem ao pessoal da saúde do meu BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74 (Juvenal Amado)

24 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11756: Os nossos médicos (52): Com o pessoal do meu batalhão, partiram, em 24/4/70, no T/T Carvalho Araújo, très alf mil médicos: Vitor Veloso, José A. Martins Faria e Eduardo Teixeira de Sousa (António Tavares, ex-fur mil, CCS/ BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72)

19 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11731: Os nossos médicos (51): O BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) teve pelo menos 4 médicos e prestava assistência à população civil (Benjamim Durães)

18 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11724: Os nossos médicos (50): Os batalhões que passaram pelo setor de Farim tinham um número variável de médicos, de 1 a 4... Quanto ao HM 241, era só... o melhor da África Ocidental (Carlos Silva, 1969/71)

14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11704: Os nossos médicos (47): Qual era a dotação médica de um batalhão ? Três médicos por batalhão, diz-nos o ex-alf mil méd J. Pardete Ferreira (CAOP1, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)

(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa