Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Guiné 63/74 - P2195: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (6): Hoje perdi o meu braço direito, o Casanova
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
Texto enviado, em 3 de Setembro último, pelo Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70).
Luís, vim hoje de férias e reenvio-te o episódio nº6, na sua versão revista. Como estamos a acabar o período de Missirá, peço-te que vejas as fotografias que ainda não foram editadas a elas referentes.
Peço-te igualmente que me digas se queres entrar em contacto com o Coronel Coutinho Lima, o oficial superior que foi punido por ter abandonado o Guileje. Espero tenhas tido uma boas férias. Amanhã telefono-te. Um abraço, Mário.
Operação Macaréu à Vista - II Parte (6) > Hoje perdi o meu braço direito (1)
por Beja santos
Nova conversa esotérica com Lânsana Soncó
Caminhamos para o fim de Setembro, começo a desinteressar-me em responder às cartas incendiadas que chegam dos entes queridos. Limito-me a agradecer as notícias, comunico que há portadores que levam artesanato, bebidas alcoólicas e tabaco, a minha Mãe está cada vez mais doente, registo novas recusas dos papéis de Bafatá que enviei para o casamento por procuração, volto a escrever à Cristina:
“Desce à Feira da Ladra, se quiseres aproveita a visita ao meu tio Luís Sardo, no Laboratório Medicamenta, em frente a Stª. Engrácia, vais por uma rua íngreme, a descair para Stª. Apolónia, é aí a conservatória onde te entregam a minha certidão. Em Bafatá voltaram-me a pedir a data de nascimento do teu pai. Continuo a receber cartas cheia de arrufos, pedradas e acusações. Há momentos em que nem apetece pegar neste correio. Estou cada vez mais preocupado com o Casanova: agreste, emagreceu muito, não fala praticamente connosco. Aguardo que David Payne venha de férias, sinto que o meu mais directo colaborador caminha para um abismo. Passámos hoje uma dia em domesticidade, com limpeza de arrecadações, pinturas, lavagens de morteiros, arranjos na estacaria e no arame farpado. Amanhã vou a Bambadinca, encontraram algumas alternativas para nos ajudar com esta crónica falta de pessoal. Estamos a ir a Mato de Cão com quinze homens, visto que continuamos a ser obrigados às emboscadas nocturnas e não quero desleixar os trabalhos em Finete. Reflectindo melhor, sugiro que alteremos os nossos projectos para casar em Fevereiro”.
Exausto e melancólico, volto a lanchar com Lânsana, sempre com o caderninho preto à mão e com o apoio do Benjamim e do Cherno como tradutores. A pequenada da escola onde Lânsana ensina a religião islâmica assiste curiosa e ganha a batalha a Jobo Baldé, levando uma pratada de pão quente e Umaru Baldé fica autorizado a fornecer-lhes umas boas fatias de marmelada.
Hoje a conversa centra-se na época seca, nas suas fainas. O padre Lânsana fala na colheita do amendoim, na pesca no rio Gambiel, no cultivo da batata doce nas bolanhas. Aí o Cherno intervém, trocam comentários, fala-se a seguir no pequeno comércio onde se comercializa mandioca por batata doce, em que o amendoim é vendido nas lojas da Casa Gouveia em Bambadinca, bem como o coconote das palmeiras. Depois, Lânsana, Benjamim e Cherno voltam a conversar entre si, põem-se de acordo que a época seca se inicia em Novembro, quando começam os frios que nos obrigam a dormir com camisa e com lençol, é um tempo que vai até aos fins de Abril, há menos mosquitos.
Hoje, Lânsana bebe um chá feito de ervas naturais, que ele próprio trouxe. Está farto de erva cidreira e do chá Li-Cungo, os únicos que consigo encontrar em Bafatá, a próxima vez que for a Bissau tenho que descobrir chá de Ceilão ou da Índia. Falamos depois dos doces e sobremesas dos mandingas. Lânsana, às vezes interrompido por Cherno, fala dos bolinhos de massa de amendoim feitos com farinha de arroz, e onde se põe açúcar ou mel, que aliás também se põe na farinha de mandioca. Aqui a conversa inflecte para o mel, ardo de curiosidade, para mim as abelhas eram assassinas, o mel impensável. Lânsana explica-me que não é bem assim. Acontece que se anda à procura das colmeias, à noite as abelhas são afugentadas pelas tochas acesas, são trazidas as placas onde se aproveita o mel, muito usado pelos pobres que não têm dinheiro para o açúcar.
Escrevo no caderninho: “Confirmo que as frutas que aqui se comem são a papaia, as mangas, as laranjas e o abacaxi”. É nisto que chega o furriel Pires e que me lembra que temos de falar com urgência da folha de vencimentos. Aqui se suspendeu o inquérito, continuará em breve pois temos que falar das madeiras do Cuor, preciso de saber mais sobre esse Mato de Cão que era uma ponta povoada por mandingas no planalto e balantas junto ao rio. O último proprietário de Mato de Cão parece ter sido Mamadu Tubabó (tubabó significa branco em mandinga, disse-me o Cherno). A ver se o Lânsana me ajuda a esclarecer tudo. Tenho igualmente que ir a Santa Helena falar com os irmãos Brandão (António e Manuel) por causa das indústrias de madeira que existiam antes da guerra.
Nova conversa com o Comando em Bambadinca
Volto ao comando de Bambadinca para analisar o nosso plano operacional, escrevi uma carta alertando para a situação insustentável em que vivemos. Estão inicialmente presentes Jovelino Corte Real e Herberto Sampaio. Entreguei o memorando (mais um) onde se expõe a actual situação de meios. Se é verdade que Bafatá pretende retirar a última secção da milícia de Missirá, observei que perderemos a total capacidade de movimento até Mato de Cão, não se pode deixar Missirá entregue à população civil e aos militares doentes.
Fiz questão de informar que revi alguns dos meus pontos de vista e era para mim agora claro que a gente de Madina estava bem informada da minha perda de capacidade ofensiva. Insistia na necessidade de envolver as forças de intervenção disponíveis em Bambadinca (explicitei: a CCaç 12 e o Pel Caç Nat 54) para me apoiarem nas idas diárias a Mato de Cão, no sentido de continuar a ser possível garantir as emboscadas nocturnas, poder continuar a patrulhar nos 5 Km mais próximos e viabilizar a segurança necessária nas viagens do Sintex.
A primeira boa notícia foi a de que a partir do início de Outubro a CCAÇ 12 passará a ir regularmente a Mato de Cão (assim foi, logo nos primeiros dias de Outubro os sucessivos pelotões começaram a participar nas vigilâncias, isto quando a gente de Madina atacou um barco em S. Belchior). A segunda boa notícia foi a de que o Pel Caç Nat 54 iria brevemente render o Pel Caç Nat 52 e que o comando de Bafatá tomara a decisão de manter dois pelotões de milícias completos em Missirá e Finete, pois estaria em preparação uma nova quadrícula entre o Cuor e Enxalé (parecia que finalmente estavam a ver os perigos de um inimigo com crescente capacidade ofensiva junto do Geba). A terceira notícia pareceu-me extemporânea: o novo comando desejava preparar uma operação que redimisse o desaire da Anda Cá e pretendia a minha opinião. Terei respondido que não havia presentemente condições, eu estava com a tropa desfalcada, preparava-se o reordenamento dos Nhabijões, propunha que se esperasse por Novembro, quando se aproximasse a época seca.
Chegou depois o major Cunha Ribeiro que informou estar previsto para fins de Outubro a substituição de viaturas, era inaceitável não dispormos de nenhuma mobilidade. Com efeito, independentemente da época das chuvas, o Augusto e as sucessivas equipas de desempanagem da CCS de Bambadinca já tinham perdido as ilusões sobre os nossos Unimog: não havia milagres para as duas viaturas precocemente envelhecidas. No momento presente, estávamos a viver os atoleiros com pneus estoirados, imprevistas substituições de câmaras de ar, uma secção a montar segurança na bolanha de Finete a um burrinho doente.
À saída da reunião, o major Sampaio pede-me que o acompanhe ao seu gabinete. É aí que me informa que vamos muito em breve fazer um RVIS sobre o Geba, possuem-se informações seguras de que há várias canoas que atravessam regularmente o Geba até aos Nhabijões, há que as localizar e destruí-las.
É com estas promessas que cambo o Geba, é uma viagem serena até Caranquecunda onde vamos assistir, seriam cinco da tarde, a um bombardeamento aéreo sobre Madina: ouve-se o zunir dos T-6, as sacudidelas do solo, são estremeções que ressoam por toda a mata. Durante meia hora, deverá ter sido o inferno entre Madina e Belel. Em silêncio, ficámos todos a pensar no próximo ajuste de contas de Madina connosco.
O colapso do Casanova
A 27 de Setembro [de 1969], fui completamente surpreendido pela violência da crise de nervos em que se abateu o Casanova. Sabíamos que ele estava muito doente, cometi a imprudência de o incumbir diariamente de responsabilidades que excediam a sua capacidade física e psicológica. Tive a oportunidade de conversar com ele e com o Pires sobre o que se passou nessa tarde tão sombria para nós, e ainda recentemente voltei a recapitular os acontecimentos, as versões não coincidem quanto às causas e ao decorrer dos acontecimentos.
Tínhamos almoçado pela uma da tarde, nada previa o desfecho trágico que ocorreu duas horas depois. Estava no meu abrigo a conferir os documentos enviados pelo BENG 447 (tratava-se de mais chapa, sacos de cimento e portas pré-fabricadas), e subitamente o Alcino entrou de repelão aos gritos:
- Ó meu alferes, o nosso furriel Casanova está em fúria, grita com todos, está armado, ameaça matar gente se não lhe obedecerem!
Do limiar da porta, presenciei o impensável: o Casanova gesticulava, vociferava, os soldados batiam as palmas, como se estivessem a divertir-se. O meu braço direito parecia tresloucado, mandava-os calar, sob ameaça. Começava a meia hora mais dolorosa da minha vida, ia avançando, procurava persuadi-lo a não usar a violência, dava pequenos passos, ia confirmando que ele me ouvia e respondia até ao momento em que cheguei junto dele e lhe retirei bruscamente a G3 pelo tapa chamas. É exactamente nesse momento que ele cai pelos joelhos e se enrodilha no solo.
Só a 2 de Outubro é que consigo escrever à Cristina:
“Desculpa este tempo de silêncio, vivemos um acontecimento que nos magoou muito. A 27, o Casanova sucumbiu a uma crise violenta de nervos que o deixou na semidemência. Viveu uma hora em delírio e espasmos, pedi um helicóptero que o levou para o hospital de Bissau. Admito que ele será evacuado para Lisboa, o neuropsiquiatra local não pode dar vazão a um número tão elevado de doentes. Não podes imaginar o abalo que tudo isto nos provocou, as tentativas falhadas para o serenar, vê-lo partir uma maca a delirar, irreconhecível. Já escrevi à irmã a relatar os acontecimentos, escrevi igualmente ao Pedro Abranches para me informar sobre a evolução deste caso. Sei muito bem que nada ficará como dantes, acabo de perder o meu braço direito. Tenho o problema de consciência de não ter agido a tempo e horas”.
Infelizmente, foi tudo ainda mais doloroso para o Casanova, a sua recuperação será muito lenta. No meu abrigo, vezes sem conta, vou gritar comigo, protestarei com as paredes, incriminando-me por não sermos capazes de ver um amigo querido definhar, procedendo correctamente.
Estou a sofrer muito. Na próxima quinzena, ainda irei sofrer mais, quando explodir uma mina anti-carro, em Canturé. Ainda hoje vivo em silêncio o dia 16 de Outubro, sabendo que irei prestar contas diante de Deus.
As leituras da semana
O que li esta semana foi interessante: Os armários vazios, por Maria Judite de Carvalho e O mistério dos bombons envenenados, por Anthony Berkeley, um policial soberbo. Maria Judite de Carvalho de que eu já lera Tanta Gente, Mariana, dá-nos aqui uma narrativa que retrata o desencanto e uma nova feminilidade urbana dos anos 60. Dora Rosário é a pequena burguesa a quem o marido não deixa trabalhar, vivendo uma pobreza envergonhada. Enviuva, dedica-se ao comércio dos móveis antigos, investe na educação da filha, Lisa. É uma existência morna, com os afectos contidos, relações estudadas com uma sogra déspota e ciente da sua classe. Esta existência acabrunhada parece ganhar um novo fôlego quando surge Ernesto, um advogado de sucesso. Ora o que acontece é que Ernesto se vai apaixonar por Lisa e esta retribui. Tudo acaba em casamento de estadão na Basílica de Estrela, o novo sogro ajuda Dora que regressou à vida resignada, aos seus armário vazios, à sua trágica continuidade melancólica.
Capa do livro de Maria Judite de Carvalho, Os armários vazios. Lisboa: Portugália Editora.1966 (Colecção Contemporânea,; 83). Capa de João da Câmara Leme.
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
O que destingue Maria Judite de Carvalho é este poder descritivo do intimismo psicológico onde os seres humanos vão sendo desenhados de uma forma branda, haja o conflito que houver, reservando-se o desfecho surpreendente para o final onde, como é com a maior das naturalidades, os personagens descem às tragédias do quotidiano: “Abri-lhe a porta, fui à janela vê-la, não sei bem porquê. Estava a chover e ela uma mulher cinzenta, um pouco curvada, perdida na cidade deserta depois da peste e do saque. Reparei que o seu caminha era incerto e hesitante, às guinadas, como se estivesse levemente embriagada ou ainda não tivesse acordado totalmente de um longo sono. A chuva continuava, uma chuva mansa e igual, quase lenta, sem interesse em tombar, escorrendo como que passivamente de um céu doente e velho, lacrimejante, fatigado se existir. Era uma dia igual a tantos, agora que eu vivia só”.
Capa do romance policial, de Anthony Berkeley, O mistério dos bombons envenenados. Lisboa: Livros do Brasil. s/d. (Colecção Vamprio, 185). Capa de Lima de Freitas.
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
O livro de Berkeley é um assombro. Um grupo de intelectuais e especialistas reúne-se num Círculo Criminal onde procuram, com objectividade e rigor, decifrar homicídios aparentemente sem solução à vista. Uma caixa com bombons envenenados entra num clube, o destinatário oferece a caixa a outra pessoa, esta leva-a para casa, a mulher morre envenenada. Todos os participantes do Círculo vão apresentando as suas versões, umas atrás das outras são derrubadas, tal a sua fragilidade. Como nas Mil e Uma Noites, as versões sucedem-se, uma com mais apoio e verosimilhança, outras rejeitadas por excesso de fragilidade. Até ao momento em que uma versão aproveita depoimentos anteriores e surpreende o auditório: o criminoso, com elegância, sai da cena, dando sinal que a vida do Círculo não poderá ser afectada pela surpreendente revelação. È o momento mais alto da obra de Barkeley, nascera aqui um clássico.
E da literatura passo para a música. Na minha última ida a Bafatá comprei um presente para David Payne: a Sinfonia nº2 Ressurreição, de Mahler. O Payne, sempre que podia ouvia esta versão da Orquestra Philharmonia dirigida por Otto Klemperer. É o grande Mahler, uma sinfonia heterodoxa, com coros vozes, onze momentos distintos em que no final soprano, contralto e coro anunciam ao ouvinte: “Ó sofrimento, tu que em tudo penetras, arrebatas-me! Ó morte, sempre vitoriosa, agora és vencida! Com as asas que eu conquistei, cheio de amor, eu esvoaço para a luz onde nunca ninguém penetrou!”.
O David Payne merece este presente, é o mais querido dos amigos, dentro de dias, o sofrimento e a morte vão ser nossos vizinhos, quando ele me vier ajudar depois da explosão da mina anticarro e da emboscada em Canturé.
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Nota de L.G.
(1) Vd. post anterior > 12 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2174: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (5): Aquela Terceira Semana Prodigiosa de Setembro
Guiné 63/74 - P2194: Pensamento do dia (13): É na guerra que se revela o pior e o melhor das pessoas (Diana Andringa, Visão, nº 763, de ontem)
Em entrevista ao semanário Visão (nº 763, de 18 de Outubro de 2007, p. 156), Diana Andringa, a co-realizadora do filme As Duas Faces da Guerra (a estrear hoje, em Lisboa, no DocLisboa2007), traz algumas reflexões sobre a guerra e os homens que a fazem e sofrem, na sequência da sua experiência com a feitura deste filme (mais de 30 horas de depoimentos filmados em Portugal, Cabo Verde e Guiné).
Essas reflexões, que consideramos de antologia, merecem destaque no nosso blogue:
“Noutros tempos, Diana não tinha grande condescendência para com os soldados portugueses, achavam que eles deviam desertar e pronto, a minha simpatia ia toda para aqueles que lutavam pelo lado certo.
"Com o tempo foi mudando: Aquela pedra [, tumular, encontrada no Geba, em 1995,]aqueles mortos de 20 anos, o medo, o isolamento, a morte do camarada ao lado (...). Os homens da minha geração passaram por este trauma. Não foi o de poder morrer, todos nós sabemos que podemos morrer. Mas nem todos sabemos que podemos matar, violar, torturar, decepar pessoas. Foi uma geração que ficou marcada por isto, e os filhos nunca o entenderam. No meio de todo o horror, houve quem conseguise pôr um travão e nunca perder a humanidade...
O filme de Diana Andringa (portuguesa, de 60 anos, nascida em Angola) e Flora Gomes (guineense, de 57 anos, nascido em Cadique) está construído com base em depoimentos e estórias de um lado e de outro:
Gosto muito de pessoas, gosto muito da voz. Há lá coisa mais bonita do que uma pessoa inteligente a falar ?
Mais logo um pequeno grupo (relativamente privilegiado...) da nossa Tabanca Grande terá a oportunidade de assitir à estreia do filme, na Culturgest, às 23h, bem como de conhecer pessoalmente a Diana.- A ela, ao Flora e à restante equipa que produziu e realizou este documentário, desejamos boa sorte!
AVISO À NAVEGAÇÃO >
Estreia do filme "As Duas Imagens da Guerra", DocLisboa2007, Lisboa, Culturgest, Grande Auditório, 19 de Outubro de 2007, 23h
Amigos e camaradas:
Amigos e camaradas:
Falei há um hora atrás (10.30h da manhã) com a Diana Andringa. Ele disse-me que tinha
enviado um mail a toda a malta da tertúlia, independentemente de querer e poder ou não ver o filme, a dar instruções para levantar o convite. (Ainda não vi o mail).
Junto à bilheteira, estará alguém ligada à produção do filme com os convites. É uma moça, alta, bonita, descontraída, caboverdiana, que se chama Isabel Mendes...
Eu vou com o Humberto Reis, meu vizinho. Devemos lá estar por volta das 22h. Não se esqueçam que o filme começa às 23h. O local é na zona do Campo Pequeno: Culturgest , edifício sede da CGD, entrada pela portaria da R Arco do Cego (estação de metro: Campo Pequeno).
A Diana diz que haverá espaço para trocar impressões. Esperemos que gostem do filme. É um filme-documentário, é cinema, não é reportagem, baseado em 30 horas de depoimentos, de estórias de combatentes dos dois lados, filmados em Portugal, Cabo Verde e Guiné (Bissau, Mansoa, Bafatá e Guileje). A Diana diz que o filme passará na RTP mas ainda não sabe se sairá, comercialmente, em DVD. O orçamento deles (escasso)
está esgotadíssimo. O filme foi feito com uns escassos milhares de contos, sendo financiado pela RTP e pelo INCAM.
Tenho pena que muita malta nossa não possa estar connosco. Quando der na RTP, avisaremos. É pouco provável que passe nas salas comercais... Aí só passam os filmes comerciais, de Hollywood, que não falam de nós... É por isso que são importantes festivais como este, o DocLisboa2007, em que são apresentados 150 filmes (!), do cinema dito documental, e em muitos casos de produtores independentes (dos EUA à
Noruega, de Portugal a Angola)...
Há grandes filmes para ver, e que estão em competição no festival. O "nosso" (vamos torcer por ele) está em competição na categoria "Investigações" (documentários sobre temáticas sociais, políticas, etc.). Junto o programa do DcLisboa2007, para "abrir o apetite"... Até mais logo. Luís
Luís Graça
Telemóvel: 93 281 08 72 / 93 845 5475
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Nota de L.G.:
(1) Vd. posts de:
8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)
17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2186: Uma guerra, duas vitórias: entrevista de Diana Andringa à RTP África (Luís Graça)
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Guiné 63/74 - P2193: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (1): 18 episódios, às terças feiras (João Tunes / Luís Graça)
Fonte: Espaço Etéreo: O Despertar dos Combatentes do Ultramar > Página de © Joaquim Coelho (2004) (com a devida vénia...)
1. Reprodução, com a devida vénia, do texto do nosso camarada e corredor de maratona... bloguística (já vai no 5º ano!) João Tunes > "A não perder", publicado em 15 de Outubro último no seu blogue Água Lisa (6):
Série documental «A Guerra» estreou na RTP1 terça-feira, dia 16 de Outubro (1)
A série documental «A Guerra», realizada por Joaquim Furtado sobre o período da guerra colonial - que [estreou] terça-feira na RTP1 - vai revelar «muita informação nova sobre factos dados hoje como estabelecidos», segundo o jornalista.
O documentário, que percorre de forma cronológica 13 anos de conflitos nas antigas colónias portuguesas, resulta de uma «pesquisa bastante aprofundada com recurso a muitas fontes para dar uma visão global dos acontecimentos», explicou Joaquim Furtado à Agência Lusa.
«Traz novas informações, novas visões sobre algumas verdades oficiais», disse, apontando como exemplos os acontecimentos logo no início da guerra em Angola, e o episódio que ficou conhecido como o «Massacre de Mueda», em Moçambique, onde morreram centenas de pessoas.
Ao longo de oito anos, viu mais de seis mil filmes, oriundos, nomeadamente, dos arquivos da RTP, dos serviços de audiovisuais do Exército, muitos arquivos particulares e realizou cerca de 200 entrevistas a protagoniastas dos vários lados do conflito.
Sublinhou que, apesar de existir um enquadramento histórico do trabalho, a perspectiva da obra é a de um jornalista: «O meu objectivo é poder dar um contributo para os historiadores tratarem este período», assinalou.
«É essencialmente um visão global com as perspectivas de quem viveu este período chamando-lhe guerra colonial, guerra no Ultramar ou guerra da libertação», destrinçou, sobre os vários protagonistas envolvidos.
2. Comentário de L.G.:
Joaquim Furtado baliza a guerra [do ultramar, colonial ou de libertação, conforme as idiossincracias de cada espectador e a a sua posição político-ideológica] entre o 15 de Março de 1963 (início da rebelião da UPA do aristocrático Holden Roberto no norte de Angola) e a última emboscada na Guiné, dois dias depois do 25 de Abril, na região de Canquelifá, que terá feito vítimas de ambos os lados. Enfim, é discutível, mas é uma tentativa de arrumação de um longo período de guerra de guerrilha e contra-guerrilha em três frentes, a milhares de quilómetros da sede do Último Império Colonial...
O que me impressionou - para além do horror da violência primária, primordial e gratuita (só de um lado, ainda não vimos a resposta do terror branco...) - foi sobretudo o cinismo, o autismo, a hipocrisia, a arrogância, para além da incompetência, das autoridades portuguesas, nacionais e locais, para lidar com a trágica situação, e sobretudo para a prevenir...
A 17 de Março há um comunicado governamental referindo "alguns incidentes junto à fronteira" (sic), quando a essa hora já havia centenas e centenas de pessoas chacinadas, civis, homens, mulheres e crianças... Imagens de horror (o Holden Riberto veio dizer, antes de morrer, que a UPA foi completamente ultrapassada pelos acontecimentos...), imagens que correram mundo, captadas pela máquina fotográfica dos primeiros fotojornalistas improvisados (Horácio Caio, Manuel Graça, etc....) e que o salazarismo tão bem soube aproveitar para pôr a marcha a sua máquina da repressão: Para Angola, rapidamente e em força!...
Mas a tropa, metropolitana, só chega um mês e meio depois. Angola fica a milhares de quilómetros de São Bento. O Salazar nunca pôs os pés em África, mas vai fazer dos acontecimentos de 1961 em Angola a sua "muralha de aço", bloqueando todas as soluções políticas para o "problema ultramarino"...
E serão os pára-quedistas os primeiros a morrer mas também a salvar a situação... O que aconteceu nesse mês e meio em que os colonos se auto-armaram e deram uma resposta à sua maneira ? O terror branco não está documentado neste 1º episódio...
Do lado militar português, ouve-se sobretudo o depoimento do Hélio Felgas (que, no meu tempo, é comandante do Agrupamento de Bafatá, antes de cair em desgraça aos olhos do Spínola) e do antigo comandante da base aérea do Negage, Soares Moura... Mais uma vez a força áerea foi a preciosa ajuda que veio do céu, no apoio às aterrorizadas e indefesas populações.
Estranho, por outro lado, que o jornalista não tenha feito logo a pergunta: Why ? Porquê esta rebelião das massas, dos oprimidos e explorados negros da rica região do café ? Como eram as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores negros ? Como se pode explorar e manipular tanto de ódio de classe (mais que racial...) ? Quem eram os brancos (e os seus criados bailundos) que viviam nesta região ? Qual o verdadeiro papel de teóricos da violência anticolonista e revolucionária como Frantz Fanon (2) ? Qual a sua influência em Holden Roberto, que o cita e admira ?
Espero que os próximos episódios tragam mais pistas... e mais dicas. O narrador deveria explicar, pro exemplo, quem era o Frantz Fanon, citado várias vezes pelo Holden Roverto, na sua entrevista, e hioje completamente esquecido... Ora o Frantz Fanon era um intelectual engagé, como estava na moda dizer-e (e menor grau praticar-se), amigo de Jean-Paul Sarte que publicamente defendeu e justificou a violência revolucionária da UPA... Também se poderia dizer algo mais sobre o apoio dos americanos, do Kenedy e dos pastores protestantes à UPA, um movimento, de base originalmente tribal, aparentemente sem ideologia nem estratégia política...
Por outro lado, há o ponto de vista dos colonos brancos e seus aliados, bem como dos rebeldes da UPA/FNLA. Na Net podem encontrar-se alguns testemunhos que completam estes depoimentos dos entrevistados pela equipa de Joaquim Furtado:
Memórias Angola, 1951-1975 > Página de Telémaco A. Pissarro
Frente de Libertação Nacional de Angola (FNLA) > A histórica União das Populações de Angola (UPA)
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Notas dos editores:
(1) Vd. também Diário Digital / Lusa > 15 de Outubro de 2007 > Série documental «A Guerra» estreia terça-feira na RTP1
(2) Frantz Fanon (1925-1961):
nascido na Martinica, escritor, médico psiquiatra, formado em França, e provavelmente o mais influente teórico do anticolonialismo do Séc. XX. Foi militante da FNLA (Frente Nacional de Libertação Argelina). Morreu de leucemia, aos 36 anos.
O seu livro-testamento é Les Damnés de la Terre [Os Condenados da Terra]. Paris: Maspero. 1961. Prefácio de Jean-Paul Sartre. Reedição em 2002: Paris, La Découverte.
Citação de Frantz Fanon: « La violence qui a présidé à l'arrangement du monde colonial, qui a rythmé inlassablement la destruction des formes sociales indigènes, démoli sans restrictions les systèmes de références de l'économie, les modes d'apparence, d'habillement, sera revendiquée et assumée par le colonisé au moment où, décidant d'être l'histoire en actes, la masse colonisée s'engouffrera dans les villes interdites. Faire sauter le monde colonial est désormais une image d'action très claire, très compréhensible et pouvant être reprise par chacun des individus constituant le peuple colonisé. »
Guiné 63/74 - P2192: O último morto da guerra do ultramar: onde e quando? Guiné, Angola ou Moçambique? (Nuno Mira Vaz)
Angola > 1961 > Desfile de tropas > O António Rosinha, furriel miliciano, aparece aqui em primeiro plano, assinalado com um X (1)... Repare-se no tipo de armamento das NT: pistola-metralhadora FBP, para os graduados; espingarda Mauser, para as praças...Farda: caqui amarelo... Capacete de aço...
A avaliar pelas revelações do 1º episódio da série A Guerra, argumento e realização de Joaquim Furtado, que começou a ser apresentado na RTP 1, no passado dia 16, as NT estavam muito mal preparadas para fazer face à revolta da UPA no Norte de Angola, iniciada em 15 de Março de 1961, com o massacre dos brancos e dos seus aliados negros, nas fazendas de café, postos administrativos e lojas de comércio em povoações mais isoladas. O melhor: segundo a peça televisa do Joaquim Furtado, tudo indica que, devido ao seu autismo, arrogância e incompetência, as autoridades portuguesas, tanto em Lisboa como em Angola, terão sido completamente apanhadas de surpresa pelos acontecimentos em 15 de Março de 1961. Os colonos brancos e os seus serviçais tiveram que se organizar em auto-defesa... e o governador de então é incitado a comprar armas no estrangeiro... Havia então 1500 homens, em armas, de origem metropolitana, e uns escassos milhares, do recrutamento local, para fazer frente aos rebeldes de Holden Roberto, inicialmente apenas armaos de catanas e canhangulos...
O primeiro morto militar português, oriundo da metrópole, na guerra do ultramar, terá sido um pára-quedista, em Abril de 1961, no norte de Angola... E o último morto ? Foi já depois do 25 de Abril de 1974, na Guiné, em Angola ou em Moçambique. Enfim, não é uma questão bizantina, tem um grande carga simbólica... Talvez alguém mais tenha estudado esta questão na nossa Tabanca Grande... (LG)
Foto: © António Rosinha (2006). Direitos reservados
Capa do livro de Nuno Mira Vaz >
Guiné, 1968 e 1973. Soldados uma vez, sempre soldados!
Lisboa: Tribuna da História, 2003.
96 pp.
Foto: Livraria do Guarda-Mor (com a devida vénia...)
1. Mensagem de ontem, 17 de Outubro, enviada pelo coronel pára-quedista e escritor Nuno Mira Vaz (2):
Meu caro Luís Graça:
Sou leitor assíduo do blogue que criou e permita-me que o felicite pela obra entretanto realizada (1). Contacto-o porque uma sua afirmação de hoje está muito longe da realidade (2) . De facto, não foi em Canquelifá, em Abril de 74, que morreram os últimos combatentes dos dois lados. Só para lhe dar um exemplo (porque há muitos mais), foi morto pelos guerrilheiros da Frelimo no dia 4 de Agosto de 1974, na região de Inhamiga (Moçambique) o Major Pára-quedista e meu amigo do peito Manuel Lopes Morais.
Creia que me move apenas a vontade de honrar um blogue que muito prezo, ao qual desejo, bem como ao seu criador e actuais co-responsáveis, as maiores venturas.
O camarada de armas
Nuno Mira Vaz
2. Resposta do editor L.G.:
Caro Nuno: Muito obrigado. É, de facto, um erro factual... Fui induzido em erro pelo trabalho de Joaquim Furtado, que começou a ser divulgado na RTP... Lamento a morte do nosso camarada e seu amigo Manuel Lopes Morais, já tão tardiamente, em Moçambique...
Vou publicar o seu comentário, se mo permite, a bem da verdade e da honra... E já agora sentir-me-ei honrado se você quiser escrever no nosso espaço... O blogue é também seu.
Cordiais saudações.
Luís Graça
3. Resposta do Mira Vaz:
Caro Luís:
Agradeço o amável convite, mas declaro-me impreparado para dar tal passo. Podíamos discorrer a respeito da formatação a que os militares da minha geração foram submetidos, mas o resultado seria sempre o mesmo - ao menos por enquanto. Quem sabe, um dia ...
Cumprimento-o com simpatia e admiração pela obra realizada.
O camarada de armas
Nuno Mira vaz
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Notas de L.G.:
(1) vd. post de 29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)
(2) Vd. post de 16 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2182: Blogoterapia (35): Programa da RTP1, Prós e Contras: Éramos todos bons rapazes (David Guimarães)
(...) Comentário de L.G.:
É miserável que o jornalismo de investigação e de arquivo sobre a guerra do ultramar, guerra colonial ou guerra de libertação (ao gosto do freguês) só chegue à televisão pública 46 anos depois do 15 de Março de 1961 (no norte de Angola) e 33 anos depois dos últimos mortos e feridos em combate, de um lado e de outro, em 27 de Abril de 1974, na zona de Canquelifá (Zona Leste, Guiné)...
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Notas de L. G.:
(1) Vd. post de 10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1581: O elogio dos pára-quedistas das 121ª e 122ª CCP (Nuno Mira Vaz / Vitor Junqueira)
(2) Nota biográfica:
Nuno Mira Vaz >
(i) Coronel de Cavalaria na reserva;
(ii) Mestre em Estratégia e Doutor em Ciências Sociais na área das Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa;
(iii) Fez toda a vida militar nas Tropas Pára-quedistas, tendo cumprido quatro comissões de serviço em África entre 1961 e 1974;
(iv) Entre 1986 e 1989 foi 2º Comandante do Corpo de Tropas Pára-quedistas;
(v) Colocado como assessor no Instituto de Defesa Nacional em 1989, foi responsável editorial da revista Nação e Defesa entre 1997 e 2000 e desempenha funções de coordenador da Área de Relações Internacionais, Estratégia e Geoestratégia desde 1994;
(vi) Professor de Sociologia Militar na Academia Militar desde 1997;
(vii) Autor de diversos livros e colaborador assíduo de publicações que se ocupam de matérias relacionadas com segurança e defesa.
Fonte: Instituto de Defesa Nacional > Divulgação > Publicações > Colecção Atena > Autores(com a devida vénia...)
Guiné 63/74 - P2191: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (5): O baptismo de um periquito no Enxalé
Foto 2 > Primeira lição no Geba, eu, periquito, com os velhinhos da CCAÇ 1439 no Sintex, que até tinha um pequeno motor fora de borda e base para metralhadora.
Foto 3 > Batelões a descer o Rio Geba. Como curiosidade vê-se, ampliando, que o último chamava-se Lisboa. (1)
Fotos: © Henrique Matos (2007). Direitos reservados
1. Mensagem do Henrique Matos, 1º comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68) (2): Caros tertulianos: Aqui vai um pequeno episódio a que chamei Baptismo no Enxalé (3). Saídos de Bolama no final de Agosto de 66 (4) , subimos o Geba numa LDM e depois de deixar os nossos companheiros do Pel Caç Nat 53 no Xime, chegamos a um lamaçal que era o local onde se desembarcava para o Enxalé e onde já nos esperava pessoal e viaturas da CCAQÇ 1439 (madeirenses). O percurso relativamente curto foi picado e serviu para nos dar as primeiras imagens e contar algumas histórias ( pintadas de negro), sobressaindo um ataque que tinham sofrido recentemente sem grandes consequências. Com o capitão de férias, comandava a companhia o Alf Mil Freitas. A tarde ainda ia a meio e como tinhamos apanhado água durante a viagem, a primeira operação foi reunir o pessoal e proceder à limpeza do armamento. Estavamos ali sentados no chão com as G3 que nos tinham sido distribuídas em Bolama, novinhas em folha desmontadas, quando desata uma fogachada dos diabos e nós, apanhados como se costuma dizer com "as calças na mão", a correr como moscas tontas à procura dos abrigos. Assim como começou de repente, parou e era ver agora o pessoal velhinho a rir com este grande ronco. Afinal, tinham sido apenas umas rajadas já combinadas com o pessoal das guaritas, mas para nós, periquitos depenados, o som parecia amplificado e tivemos que aguentar com um risinho muito amarelo. Como é bom de ver, a festa só acabou no bar com o pessoal devidamente regado. Anexo uma foto do baptismo e outras do Enxalé. Grande abraço Henrique MatosGuiné 63/74 - P2190: PAIGC: Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)
Embora a notícia já tenha mais de três anos, não resisto a divulgá-la, pela importância simbólica que representou o primeiro de milhões de tiros que foram dados durante os 12 anos que durou a luta (VB).
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Segundo notícia do portal Bissau.com, de 12 de Setembro de 2004, o coronel Arafan Mané, vulgarmente conhecido por Ndajamba, um dos mais destacados combatentes da Luta Armada de Libertação Nacional, morreu nos princípios do mês de Setembro de 2004, em Espanha, vitima de doença prolongada.
Ndajamba deu o primeiro tiro contra o aquartelamento de Tite, em 1963 . Com 18 anos apenas era o comandante local do PAIGC.
Em 1998, tinha sido alvo de selváticos espancamentos, na sequência do conflito político-militar de 7 de Junho.
(Em cima: Foto de Arafan Mané, dos finais dos anos 60. Do arquivo da Fundação Mário Soares. Com a vénia devida).
Nas cerimonias fúnebres que ocorreram no dia 11 de Setembro de 2004, no Cemitério Municipal de Bissau, diversas figuras políticas consideraram a morte de Arafan Mané como uma grande perda para o país.
Malam Bacai Sanha, ex-presidente da República, considerou irreparável a perda de Arafan Mané e aproveitou a oportunidade para apelar aos governantes para não se esquecerem dos que se sacrificaram pela independência. Mané, concluiu Malam Sanhá, morreu sem que os ideais a que dedicou a sua juventude, fossem alcançados.
Umaro Djaló (em frente, numa foto do Arquivo da Fundação Mário Soares), ex-combatente que esteve ausente do país mais de 20 anos devido aos acontecimentos de 14 de Novembro, também falou para se despedir do seu antigo camarada de luta.
Reforçando as palavras de Malam Sanhá, Umaru Djaló disse que os combatentes pela liberdade da Pátria estão ao abandono e que Ndjamba morreu sem que nada daquilo que soube fosse bem aproveitado.
Arafam Mané que foi responsável político do país, como Secretário de Estado dos Ex-combatentes, Ministro da Defesa Nacional e deputado, duas vezes eleito pelo PAIGC, abandonou a política activa depois da dissolução do parlamento em Novembro de 2002.
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Arafan Mané Djamba (1944-2004)
1944 - Nasce Arafan Mané.
1961 - Entra para o PAIGC, em Conacri, com 17 anos.
1962 - Na qualidade de chefe de grupo, dirige a mobilização das massas populares em São João, Bocana e Tite.
1963 - (i) É considerado o responsável pelo primeiro tiro ao aquartelamento de Tite, em 23 de Janeiro, dando assim início à luta Armada de Libertação Nacional; (ii) Em Abril de 1963 frequenta um estágio de formação sobre a guerra de guerrilha, na República Popular da China.
1964 - (i) É nomeado comandante da Zona-8, sendo posteriomente transferido nas mesmas funções para Zona 2; (ii) Tem a honra de conduzir Amílcar Cabral até Cassacá onde o PAIGC vai realizar o I Congresso; (iii) É escolhido por Cabral para levar missivas a todos os comandantes, à excepção de Nino Vieira, para se dirigirem para Cassacá.
1967 - Desempenhou as funções de comandante geral das operações do comando Sul.
1968 - Frequenta (até 1969) o curso de comando da Marinha de Guerra na ex-URSS.
1969 - É nomeado comandante-chefe da Marinha de Guerra.
1972 - Desempenha também as funções de comandante da região de Tombali.
1973/74 - É o director do “Centro de Instrução Madina Boé”. Após a independência, Arafan Mané é nomeado chefe da Casa Militar da Presidência da República.
1977 - (i) Eleito membro do Conselho Superior de Luta do PAIGC; (ii) segue para Cuba onde frequenta o curso militar na academia Máximo Gorki.
1980 - (i) Promovido a coronel, em Fevereiro; (ii) nomeado chefe do pessoal e quadros e membro do Estado-Maior-General das Forças Armadas.
1982 e anos seguintes - Sucessivamente director da Central Farmedi, do Projecto de Pesca Artesanal em Bubaque e governador da região de Gabú e Bafatá.
1998 - Ex-ministro dos Combatentes da Liberdade da Pátria, considerado um elemento próximo do ex-primeiro ministro Saturnino da Costa, é hospitalizado em Dacar em Outubro de 1998.
2000 - Em entrevista que deu ao DB [Diário de Bissau ?] , conta que “durante a Luta Armada de Libertação, os momentos mais difíceis para ele, para além das mortes de Amílcar Cabral e de Vitorino Costa, foi a Batalha de Komo e o período da mobilização.”
2001 - Noutra entrevista, diz: “Quando recordo a luta, recordo muitos camaradas que perderam a vida e outros que hoje se encontram em situação miserável, por terem dedicado a juventude na luta e depois de guerra ficaram sem forças para trabalhar e não foram prestados atenção e foram simplesmente segregados”.
2004 - Morre em Espanha, vítima de uma doença prolongada.
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Fontes consultadas:
Portal Guiné-Bissau.com > Guiné-Bissau perde um dos seus mais destacados ex-combatentes. Texto de Sabino Santos Lopes, 12/09/2004
Portal Guiné-Bissau.com > Percurso do autor do disparo que deu início à luta armada na Guiné-Bissau. Texto de Tomás Athizar Mendes Pereira. 17/0
Senegâmbia, Boletim Cultural da Guiné-Bissau e regiões vizinhas - Senegal, Casamansa, Gâmbia, Guiné-Conakri e Cabo Verde. Do descobrimento aos dias de hoje. Domingo, Setembro 12, 2004 > A morte do guerrilheiro Djamba
Imagens do notável espólio do Arquivo Amílcar Cabral, da Fundação Mário Soares. Com a devida vénia.
Fixação do texto :vb
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Nota do co-editor vb:
(1) Vd. posts de:
30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)
30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)
6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)
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(*)O Coronel Marques Lopes na continuação do trabalho que tem vindo a desenvolver para a reconstituição histórica da guerra da Guiné, enviou-nos a relação das unidades militares que passaram por Barro.
A certa altura, o Coronel escreve:
Batalhão de Caçadores n.° 23
"Embarque em 28Jun61; desembarque em 06Jul61. Embarque de regresso em 24Jul63.
Síntese da Actividade Operacional
Inicialmente constituiu apenas um comando reduzido, sendo-lhe atribuída a responsabilidade da zona Oeste, desde Varela ao meridiano de Cuntima e ate aos rios Mansoa e Geba.
Em 08Mai63, passou a comando completo, com a chegada dos respectivos elementos de recompletamento: 2.° comandante, CCS, Pelotão de Reconhecimento e Pelotão de Sapadores.
Desde logo instalado em Bula, assumiu a responsabilidade da referida zona de acção, comandando e coordenando a actividade das companhias estacionadas em Teixeira Pinto, Mansoa e Bula (esta a partir de 16Ago61, depois colocada em S Domingos em 12Jan63) e dos pelotões atribuídos em reforço, cujos efectivos se encontravam disseminados por Ingoré, Bissorã, Mansabá, S Domingos, Cuntima, Farim, Bigene, Barro, Cacheu, e sucessivamente, a partir de finais de Out63, por Suzana, Jumbembém, Varela e Caio.
Em meados de Jun63, foi, entretanto, instalada outra companhia, em Farim, com a consequente reformulação das respectivas zonas de acção.
Inicialmente, desenvolveu intensa actividade de patrulhamento, de reconhecimento e de contactos com as populações com vista à sua segurança e protecção, tendo coordenado ainda a acção das suas forças na reacção a primeira acção armada na Guiné, efectuada na noite 20/21 Jul61 em S. Domingos.
A partir de Jan63, a sua actividade incidiu na contra-penetração contra actos de terrorismo."
Guiné 63/74 - P2189: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (2): Febre de guerra ? Espero pelo filme em DVD (Torcato Mendonça)
Fotos: © Torcato Mendonça (2006) . Direitos reservados
1. Mensagem do Torcato Mendonça, de 15 de Outubro de 2007:
Caro Luis Graça: Não me apetece escrever. Dias menos bons, os últimos, em que "a morte desceu à rua " e, queiramos ou não, digamos ou não estar preparados, sempre toca fundo. A Vida continua. Curioso, no dia seguinte à Sua partida nascia-lhe mais um bisneto.
Nesta tarde abri o e-mail e o blogue. Deu-me alento e voltei atrás no tempo. Há muito, muito tempo, o Carlos M. dos Santos, deu-me a conhecer este sítio. Li. Pensava que a "guerra" há muito tinha acabado para mim. Desejava-o. Mas respondi a um post a dizer que o Malan tinha sobrevivido… em Novembro / Dezembro de 69… e, a partir daí, este sítio, felizmente, faz parte da minha vida (1).
Não recordo, tenho preguiça de ir ver, quantos visitantes e postes tinha nesse tempo. Hoje ultrapassou os 400 mil! Dou-te a ti e a todos os parabéns. Queiram ou não, o que lá se passou está a ser relatado por quem o viveu. Por isso, mesmo com parca vontade, te escrevo.
Tenho receio desta "febre" de debates, documentários e filmes. Da Diana Andringa / Flora Gomes conheço os trabalhos e espero um bom documentário, em que ambas as faces se assumam em verdade e sem complexos. Embora conhecendo trabalhos da Fátima C. Ferreira e J.oaquim. Furtado, estou expectante. Desejo que consigam, mas tenho algum receio. Vou ver, ouvir e reflectir se der para isso. Não gravo. Espero que o documentário da Diana / Flora vire DVD (2).
Agora:
- Os meus parabéns ao Mexia Alves [, pelo Fado da Guiné] (3). Logo lhe mando um mail ou, quem sabe, dou-lhe um abraço. Em Mansambo ouvíamos "The Supreme", etc. na Rádio Mansambo, rapidamente silenciada…
- A sondagem foi…escrevi mas não enviei… não li ainda " O Meu Nome É Legião", o último romance do António Lobo Antunes. Espera-me aqui ao lado. Camarada é aquilo… e mais. Sem anátemas que ainda hoje incompreensivelmente a palavra tem, como acontece com guerra colonial, do ultramar ou de um apito…Aceito as várias designações, ditas com respeito. Não tenho qualquer problema em ter sido soldado ou militar na defesa, justa ou injusta, do fim do Império. Que Império? Tenho ali para ler, escrito pelo australiano Patrick Wiilcken – Império à deriva (fuga da corte do João VI para o Brasil). Malhas que o império teceu… Finou-se. Mas cuidado que é assunto a merecer reflexão profunda em respeito por todas as diversas opiniões, desde que honestas. Nunca foi feito. Nunca acertamos contas com a História. O resultado está á vista…
- Espero que esta onda abra debate sério (4). Receio e espero para ver. Colónias, Ultramar, Reino dos Algarves Daqui e D'Além Mar…se agitar, provocar debates elucidativos a servirem os vários Povos, tudo bem. Não acredito em Estados Inviáveis. Acredito em Governantes dispensáveis (5). Outro assunto…
- Uma penúltima palavra para o Virginio Briote. Gosto dos temas agora tratados por ele. Espero que não tenha ficado chateado com a questão do Quirafo. Saúde para o Coronel e dá um abraço ao V.B.
As últimas palavras para ti: parabéns pelo Trabalho (e aos colaboradores mais directos, V.B. e C.V.) e outros. E fui escrevendo. Que o debate desta noite seja esclarecedor e abra caminhos
Querido(s) amigo(s) um forte abraço do,
Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão
torcatomendonca@gmail.com
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Notas dos editores:
(1) Vd. posts de:
15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLIII: O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o (Torcato Mendonça)
16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLX: Bem vindo, alferes Torcato da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (Carlos Marques dos Santos)
25 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P906: CART 2339 e Malan Mané, duas estórias para duas fotos (Torcato Mendonça)
1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané (Luís Graça)
(2) Vd. post de 17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2187: A nossa Tabanca Grande e o filme As Duas Faces da Guerra (1): Estou interessado em comprar o DVD (Fernando Inácio)
(3) Vd. post de 15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)
(4) Vd. post de 17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): o debate dos generais (Inácio Silva)
(5) Vd. post de 14 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2178: Efemérides (6): 24 de Setembro de 1973... Quo Vadis, querida Guiné ? (António Rosinha / Leopoldo Amado)
Guiné 63/74 - P2188: Notas de O Meu Diário (1): Já não posso casar, gritou o Miguel, depois de pisar uma mina antipessoal (José Teixeira)
Ainda acerca do texto do Idálio Reis (1).
Numa das fotos estão 28 minas que foram levantadas no dia 4 de Maio de 1969, conforme texto que escrevi no Meu Diário, que anexo.
As Companhias Operacionais estavam desfalcadas devido a mortes e evacuações ao que se aliava o cansaço provocado pelo desgate do trabalho diário, saídas em contínuo para a estrada e patrulhamentos, o que originava baixas constantes. Então desenvolvíamos acções em conjunto.
Na coluna deste dia, havia pelotões da minha Companhia e da 2317 no terreno.
Creio que também a 2382 esteve envolvida com a montagem de uma emboscada na zona onde normalmente havia festa ou seja a Bolanha dos Passarinhos. O ataque deu-se um pouco atrás num local conhecido pela Curva do Vilaça (*).
Guiné-Bissau> Buba > 2005> Restos do Aquartelamento
Guiné-Bissau> Buba > 2005> Capela Católica em dia de Missa
Fotos: © José Teixeira (2007). Direitos reservados
2. Texto do meu diário
por José Teixeira
Buba, 5 de Maio de 1969
Outro domingo inesquecível. Foi o Miguel como poderia ter sido outro.
Pisou uma anti-pessoal, ficando sem o pé esquerdo e com a perna toda esfacelada.
Saíram de madrugada com destino a Nhala para levar mantimentos.
Depois da Curva do Vilaça (*) detectaram-se três minas anti-pessoais. Os nossos homens puseram-se em posição de defesa e o Sapador preparou-se para as levantar, quando o Miguel se decide avançar um pouco e pisa uma terceira que estava dissimulada junto a um tronco de palmeira.
O IN que estava emboscado no local a assistir ao levantamento, abriu fogo de imediato, mas nada mais aconteceu de grave.
Rapidamente assistido pelo Catarino, debaixo de fogo, o Miguel foi transportado em seguida para Buba de onde o héli o levou até Bissau, enquanto a coluna seguiu o seu destino.
Foram detectadas mais duas minas e uma armadilha com arame de tropeçar, e um cemitério (em cenário) com pedidos para voltarmos para a Metrópole, deixando o povo da Guiné gerir o seu destino. As ameaças de morte, de que o falso cemitério era exemplo, era o que nos esperava se continuassemos a fazer guerra. A Companhia 2317 ficou no local a levantar um campo de 38 minas anti-pessoais.
No dia sete contava partir para a Metrópole em gozo de férias, pois tinha arranjado maneira de ludibriar o Comandante com a ajuda do Alferes Barbosa. Também não era a minha vez de sair, pois tinha regressado no dia anterior à noite de uma patrulha, de um dia, pela área onde se deu a emboscada.
Como o Catarino ia ficar sozinho no Destacamento, ofereci-me para fazer esta coluna. Preparei-me, mas à última da hora lembrei-me que "voluntário na tropa, só para comer ". Pedi desculpa ao Catarino e ele teve de avançar, compreendendo como sempre a minha posição.
Uma hora depois da sua partida sentimos o chocolate a cair e pensei:
- Escapei de boa.
Acompanhámos via rádio a situação e pouco depois chega a viatura com o ferido que assisti, até chegar o héli.
A situação do Miguel e a sua reacção chocou-me muito. Parece que não tinha dores apesar de estar sem um pé e garrotado abaixo do joelho. Só gritava agarrado à fotografia da namorada:
- Já não posso casar.
Pegou numa estampa de Nossa Senhora e disse:
- Nem Tu me salvaste.
No regresso da coluna os colegas contaram que quando se detectaram as minas, houve ordem, como de costume para se baixarem e ficarem em posição de fogo. O Miguel levantou-se e disse que ia ver o que se passava, começando a caminhar em cima do tronco de palmeira. Quando chegou ao topo e pôs o pé em terra, tinha a mina à sua espera. Um descuido que ficou caro.
O Catarino portou-se como um herói, secundado pelo Valente, pois arrancaram debaixo de fogo para junto do Miguel, correndo o risco duplo de serem atingidos pelas balas inimigas ou por alguma mina que pudesse lá estar. Foram encontradas no local 41 minas.
Disseram os meus colegas que o IN formou com terra, campas de mortos, no local da armadilha para os intimidar com frases do género "Branco vai para a tua terra".
J.Teixeira
(*) Nome do Furriel que comandava o Pelotão de Engenharia, que para fugir a uma linha de água que condicionava o trajecto, fez um pequeno desvio, não previsto no mapa. Daí o nome Curva do Vilaça.
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Nota de CV:
(1) Vd. Post de 10 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (FIM)
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Guiné 63/74 - P2187: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (1): Seria bom que o filme saísse em DVD (Fernando Inácio)
Caro Carlos:
Eu tenho estado algo ausente do contacto, mas sempre a espreitar o que aqui se diz.
Se sair um DVD com o documentário eu estou interessado em comprar.
Sou capaz de ir novamente à Guiné, em trabalho, no final do ano ou princípio de 2008. Se eu for aviso com tempo e posso servir de fotógrafo e visitar alguma zona que os camaradas queiram rever, de Bissau ou longe.
Gostaria até de saber qual a zona mais dramática em termos de teatro de operações que eu poderia visitar.
Envio algumas fotos de Bissau e de uma viagem pelo mato.
Com um abraço de amizade,
Fernando Inácio.
2. Seguem-se as fotos que o Fernando Inácio nos enviou, infelizmente sem legendas, tiradas por ele na sua última estadia na Guiné-Bissau, já este ano.
Podem matar saudades dos locais por onde andaram. A maioria de nós jamais voltará a estes sítios.
O nosso amigo propõe-se, em próximas idas à Guiné-Bissau, a visitar alguns locais a pedido da Tertúlia e a fazer umas fotos. Desde já o nosso obrigado.
Foto 1> Guiné-Bissau > Bissau > Maio de 2007> Famosa Casa Carvalho (ANCAR) em Bissau
Foto 2> Guiné-Bissau > Bissau > Maio de 2007> Panorâmica de Bissau
Foto 3> Guiné-Bissau > Bissau > Maio de 2007> Panorâmica de Bissau
Foto 4> Guiné-Bissau > Sítio não identificado > Maio de 2007
Foto 5> Guiné-Bissau > Sítio não identificado > Maio de 2007
Foto 6> Guiné-Bissau > Sítio não identificado > Maio de 2007
Foto 7> Guiné-Bissau > Rio Geba > Maio de 2007
Foto 8> Guiné-Bissau > Sítio não identificado > Maio de 2007
Fotos: © Fernando Inácio (2007). Direitos reservados.
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Notas de CV:
(1) Vd. Post de 3 de Julho de 2007> Guiné 63/74 - P1914: Tabanca Grande (21): Em Farim, em 2007, imaginando um Unimog com tropas portuguesas ao virar da esquina... (Fernando Inácio)
(2) Vd. Post de 8 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, Filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)
Guiné 63/74 - P2186: Uma guerra, duas vitórias: entrevista de Diana Andringa à RTP África (Luís Graça)
Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.
Texto de L.G.:
Em entrevista à RTP África, hoje, às 14) , a Diana Andringa falou da génese e do conteúdo do filme-documentário “As Duas Faces da Guerra”, realizado por ela e por cineasta guineense Flora Gomes (1).
Os exteriores foram filmados nos três países envolvidos na guerra (Portugal, Guiné-Bissau e Cabo-Verde, sendo os dois últimos antigas colónias portuguesas), se bem que tenha havido combatentes de outros países que também participaram, do lado do PAIGC, na luta de libertação. Foi o caso de Cuba, por exemplo (Oficialmente, Cuba perdeu 9 combatentes durante a guerra de libertação da Guiné, entre 1966 e 1974; em Janeiro de 1966, Amílcar Cabral visitou Cuba, no âmbito da I Conferência Tricontinental, de que foi co-fundador)(2).
Na Giné-Bissau, as filmagens de "As Duas Faces da Guerra" foram feitas em Bissau, Mansoa,Geba, Bafatá, Gabu, Guileje... Na primeira visita que tinha feito à Guiné-Bissau, a Diana Andringa ficou fortemente impressionada com o sentimento geral, recolhido das conversas com os antigos combatentes do PAIGC, de que “nós nunca lutámos contra os portugueses, vocês eram igualmente vítimas do mesmo sistema político que nos oprimia”… Em suma, foi uma guerra que não deixou sentimentos de ódio entre os dois contendores.
Diana Andringa conheceu Flora Gomes, nascido em 1949, em Cadique, quando este estava a realizar “Morte Negra” (o seu primeiro filme, "Motu Nega", 1987). O desejo de fazer um filme sobre a duplicidade daquela guerra, terá nascido quando um dia, em 1995, em Geba, perto de Bafatá, no antigo aquartelamento das tropas portuguesas, descobriu uma pedra, que fazia parte de um monumento funerário, e onde constava o nome de dois soldados, mortos precisamente no dia em que a jornalista e realizadora portuguesa fazia 20 anos, ou seja, em 21 de Agosto de 1967 (3)…
Percebeu depois que as memórias podiam apagar-se nas pedras (ainda para mais na Guiné, em que a natureza rapidamente destrói a obra dos homens), mas que é mais difícil destruí-las na cabeça das pessoas…
Referiu depois alguns pontos fortes do filme, além da fotografia e do som, e do trabalho em equipa: dois soldados portugueses, cujo grupo cai numa emboscada, e que assistem a camaradas feridos, voltam a rever hoje, com lágrimas, a cena de há trinta e tal anos … Pode não haver (nem há) stresse pós-traumático em todos os combatentes, nomeadamente entre os portugueses, mas todos ficaram marcados…
No filme, ouvem-se depoimentos de gente que combateu nos dois lados, portugueses, caboverdianos e guineenses… Os primeiros mais comedidos, os guineenses muito mais espontâneos e soltos, dotados de grande oralidade (“São mesmo grandes contadores de histórias”). E mais uma vez, não há ódio no rosto e no coração dos guineenses entrevistados, mesmo naqueles que foram presos e torturados pelos portugueses…
Diana fala então da duplicidade, das duas faces desta guerra. Aliás, como em todas as guerras. Mas esta termina com 2 vitórias: por um lado, a independência da Guiné-Bissau (já declarada em 24 de Setembro de 1973 em Madina do Boé, e rapidamente reconhecida pela comunidade internacional); por outro, a solução política, que foi o 25 de Abril de 1974.
Hoje os antigos militares portugueses regressam à Guiné-Bissau em roteiro de saudade, também sem ódio, e utilizam os recursos da Internet para reorganizar, escrever e divulgar as suas memórias. Diana deu, como exemplo, “o conhecido blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné”.
Um dos entrevistados no filme é o antigo comandante do COP5, que deu a ordem para abandonar Guileje (4). No filme aparece a esposa de Coutinho e Lima a defender esta difícil e corajosa decisão do marido que permitiu salvar 600 vidas (os homens do PAIGC que cercavam o aquartelamento e a tabanca de Guileje, não tinham outra alternativa senão chacinar toda a gente). Pergunta a esposa de Coutinho e Lima:
- O que vale a Pátria ao lado de 600 vidas que se salvam ?
A música do filme foi criteriosamente escolhida, tendo a selecção incidido em canções que marcaram a época (do lado português, Adriano Correia de Oliveira e Zeca Afonso); do lado guineense, temas que inspiravam a guerrilha mas também músicas compostas hoje pelo Flora e o grupo com quem trabalha (O Grupo de Teatro Os Fidalgos, de Bissau) (5).
Diana e Flora quiseram pôr os protagonistas daquela guerra a contar as suas histórias. Diana voltou desta experiência, não com uma mudança de perspectiva (política) da guerra colonial / guerra de libertação – ela que, nascida em Angola, desde sempre se opôs à guerra colonial e admirava Amílcar Cabral – mas com outra noção, outro conceito dos soldados portugueses que rapidamente eram confrontados com a realidade do quotidiano dos povos da Guiné, e compreendiam que aquela terra não podia fazer parte de nenhum glorioso Império Português, do Minho a Timor…
O filme foi “arrancado a ferros” (leia-se: feito com um escasso orçamento), sendo financiado pela RTP e pelo INCAM. Depois da sua estreia em Bissau e em Lisboa (no doclisboa2007, na próxima 6ª feira, dia 19), irá ser exibido na RTP em duas partes (esta inevitável mas lamentável partição é imposta pelos compromissos da programação e publicidade da estação televisão pública).
Diana tem, por fim, uma palavra de grande admiração pelo fundador e líder do PAIGC, de quem diz Manecas dos Santos:
- Amílcar Cabral era insubstituível…
Quem o assassinou (ou mandou assassinar) bem sabia que há homens que são insubstituíveis em certos lugares e tempos da história. Nelson Mandela, Amílcar Cabral…Todos teriam ganho, a Guiné e a própria África hoje seriam seguramente diferentes se ele fosse ainda fosse vivo e tivesse assistido à vitória da luta de libertação (6)…
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Notas de L.G..
(1) Vd. post de 8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)
(2) Vd. post de 12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P956: Antologia (48): Félix Laporta, o primeiro cubano a morrer, num ataque a Beli, em Julho de 1967
(3) Vd. post de 22 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (Diana Andringa)
(4) Vd. post de 27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)
(5) Vd. post de 10 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1831: Macbeth em África ou Namanha Makbunhe no Teatro da Trindade, com os Fidalgos, grupo de teatro de Bissau (Beja Santos)
(6) Vd. post de 12 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1066: Homenagem a Amílcar Cabral, o Inimigo Libertador (João Tunes)
Guiné 63/74 - P2185: Álbum das Glórias (31): 13 brancos maduros do Puto em almoço de homenagem a Marcelino da Mata (Abreu dos Santos)
Foto e legenda: Abreu dos Santos (2007) (2)
Legenda (da esquerda para a direita):
(Na primeira fila:)
1. José Carlos Lourenço Gonçalves - Fur Mil SS, Suc LMP QF12, Guiné 70-72
2. Promotor e organizador do evento
3. António Manuel Constantino Vassalo de Miranda, Fur Mil Cav Cmd, Gr Cmds [que participou na] Op Tridente [, Ilha do Como, 1964].
4. José Manuel Gama Devesa, Alf Mil (...), Guiné 72-74
5. Marcelino da Mata (1)
6. António José Lopes, Sold Cav, CCAV 8350, Guiné 72-74
7. Valdemar Helder Marques Jarego, 1º Cabo Inf, CCAÇ 674, Guiné 64-66
8. Francisco João Vieira Lucas, Sold Cond Cmd, 35ª CCmds, Guiné 71-73
9. Bento Fernando Valente Barbosa, Fur Mil Inf, BCAÇ 3832, Guiné 71-73
10. Tibério Augusto Ruivo Monteiro, Fur Mil Inf, CCAÇ 674, Guiné 64 (ferido em combate, com gravidade, em 12 Set 64 e evacuado; DFA)
11. Manuel Jorge Carvalho, Sold Inf, CART 494, Guiné 63-65
12. José Eduardo Martins Areosa Ribeiro, Fur Mil Art, Bateria AAA3381, Guiné 71-73
(nos bastidores, ou seja, na fila de trás):
13. António Henrique Vicente Jarego, proprietário do restaurante, 1º Cabo Cav, CPM 2344, Moçambique 68-70
14. Alvito Vieira da Silva, fotógrafo convidado, 1º Cabo Cav, CPM 2344, Moçambique 68-70 .
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Notas dos editores:
(1) Vd. postes de:
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1355: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (2): Orgulho-me de o ter conhecido em Guileje (José Carvalho)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
(...) "De acordo com o blogue do Virgínio Briote, Tantas Vidas, o Marcelino da Mata fez parte do Grupo de Comandos, os Diabólicos, estando estado integrado na 1ª equipa" (...), ao tempo em que estiveram em Barro (1965), e que era constituída pelos seguintes elementos: 1º Cabo Marcelino da Mata, Soldado Carlos Alberto dos Santos Roberto, Alferes Briote, Soldado José Feitinhas de Matos/ANPRC10, Soldado Álvaro dos Santos/Enf.
(2) Mail do Abreu dos Santos, de 10 de Agosto de 2007:
Luís Graça,
Não estive na Guiné. Tenho a honra de ter por amigos, e por quem nutro amizade e estima, entre outros, Marcelino da Mata e demais guineenses do extinto Batalhão de Comandos Africanos e portugueses, entre eles o general Almeida Bruno (...).
Cordiais saudações, de Abreu dos Santos
Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): O debate dos generais (Inácio Silva)
Caros amigos e ex-camaradas:
Presenciei ao debate na RTP1, na passada segunda-feira (15 de Outubro último), sobre a Guerra do Ultramar, de princípio ao fim (1). Salvo as intervenções dos membros das associações de defesa dos ex-combatentes, o resto foi tudo déjà vu: não vislumbrei nenhum interesse, em especial.
Um debate em que a maioria dos intervenientes são ou foram oficiais superiores ou generais, obviamente, só poderia versar sobre as questões belicistas ou político-belicistas. Estes senhores não têm contas a pedir ao Estado, porque, sendo do Quadro Permanente, viram todas as suas regalias satisfeitas, na plenitude. Onde estavam os milicianos e os praças? Provavelmente na plateia. Alguém lhes perguntou alguma coisa? Disseram de sua justiça? Nada!
Todos sabemos que as guerras deixam sequelas de vária ordem: pais que viram desaparecer os seus filhos, esposas, namoradas e amigos que viram partir os seus entes queridos, filhos órfãos de pai, muitos deles nem sequer chegaram a ver o progenitor... Cidadãos deficientes que, com muito esforço, sobrevivem, tentando integrarem-se o melhor possível na sociedade, na esperança de serem reconhecidos e apoiados pelo Estado e por ela. Muitos deles são activos e intervenientes e, graças à sua acção, procuram que o seu presente e o futuro sejam passados com alguma dignidade.
O que é que interessa debater e resolver depois de uma guerra? Não será minimizar os danos e os traumas sofridos, tanto os de ordem material, como os de ordem afectiva, psicológica, moral, social e, até, de cidadania? Nenhuma sociedade viverá em paz consigo mesma se não entender, profundamente, esta realidade! Não é enterrando a cabeça na areia, como faz a avestruz, fazendo de conta que o que aconteceu nada tem a ver consigo que os problemas são resolvidos...
E o Estado Português, representado pelos Órgãos de Soberania, órgãos estes titulados por cidadãos eleitos pela referida sociedade, o que tem feito? Mais de trinta anos decorridos desde o fim da guerra (colonial, do ultramar ou de libertação, como queiram), os ex-combatentes lamentam, diariamente, o divórcio do Estado, relativamente às consequências danosas, de vária ordem, a que foram sujeitos e estão sofrendo na pele, por terem sido OBRIGADOS a combater em territórios que, na altura, os responsáveis por este Estado, entenderam classificá-los como "Províncias Ultramarinas" e, consequentemente, fazendo parte do espaço português!!!
A guerra nunca será esquecida, pelo menos por aquelas que a protagonizaram ou por os que, para ela, foram empurrados. Seria bom que os tais cidadãos, eleitos democraticamente, representantes dos Órgãos de Soberania não agissem com hipocrisia, isto é, reconhecessem o esforço, o sacrifício, a privação, o medo, a dor, a doença, a deficiência, a morte, a perda de empregos, o atraso ou a interrupção dos estudos, enfim, uma panóplia de prejuízos de valor incalculável, e reconhecessem em Lei, perante a sociedade que representam - antes que os ex-combatentes morram - que é necessário eliminar, de uma vez por todas, estas nódoas da guerra, que teimam em eternizar-se...
Se tal não for feito, os ex-combatentes morrerão com a mágoa de terem combatido, em vão, sem o reconhecimento devido, do Estado, a quem serviram. Mas os políticos, titulares dos Órgãos de Soberania, eleitos pela sociedade de que os ex-combatentes são parte integrante, jamais repousarão em paz e serão, sempre, considerados, mesmo pelas gerações vindouras, como políticos incultos, insensíveis, autistas e hipócritas.
Em conclusão: como ex-combatente, não me revejo nesta forma de fazer política. Desejo que fique claro que os políticos a que me refiro são todos os que Portugal, infelizmente, teve depois da instauração da democracia , "sistema político em que a autoridade emana do conjunto dos cidadãos, baseando-se nos princípios de igualdade e liberdade". Sou democrata e não sou possuído por nenhum sentimento passadista ou saudosista. Mas fico indignado e triste por assistir a tanta indiferença e insensibilidade...
Cumprimentos a todos.
Inácio Silva
2. Comentário dos editores: Ver o blogue do Inácio Silva Relembrar para Não Esquecer, e em particular o post de 10 de Outubro de 2007 > Email enviado ao Primeiro Ministro de Portugal
(...) Também o Governo, através do Primeiro Ministro já sabe que os ex-combatentes estão indignados com o que aconteceu. Em 24 de Abril de 2007, enviei o email que se segue ao Primeiro Ministro, Eng.º José Sócrates, ao qual anexei a petição feita à Assembleia da República bem como a resposta da Comissão Parlamentar de Defesa Nacional (...)
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Notas dos editores:
(1) Vd. 27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)
(2) Vd. post de 16 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2182: Blogoterapia (35): Programa da RTP1, Prós e Contras: Éramos todos bons rapazes (David Guimarães)
Guiné 63/74 - P2183: Diana Andringa, co-realizadora do filme As Duas Faces da Guerra, cita hoje o nosso blogue na RTP África, às 14h
Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem da Diana Andringa, co-realizadora do filme As Duas Faces da Guerra, em resposta ao meu mail, em que lhe agradeci a oferta de 15 convites para a sessão de estreia, na Culturgest, edifício-sede da Caixa de Depósitos, Rua do Arco do Cego, no próximo dia 19 de Outubro, às 23 horas, no âmbito do 5º Festival Internacional de Cinema Documental (Lisboa, 18-28 de Outubro), mais conhecido por doclisboa2007 (2):
Terei muito gosto se o Mário Dias quiser ir. Ele respondeu-me muito gentilmente, mas não quis ser filmado. Percebo, mas tive pena.
O Flora não vai estar, está nos Estados Unidos.
Não sei como decorrem as sessões, se há uma introdução, ou uma conversa no fim, mas espero que possamos falar um pouco.
Quanto ao vosso blogue, não há que ser modesto: acho uma das coisas mais importantes feitas em Portugal, em termos de guerra colonial e de memória histórica. Aliás, numa entrevista que a RTP me fez sobre o filme (passa na RTP África, quarta, às 14), fiz-lhe referência.
Abraço,
Diana
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Notas de L.G.:
(1) Teor do meu mail:
É uma grande gentileza e simpatia da sua parte...Claro que aceito [os convites]... Já tenho uns sete ou oito interessados, apesar do dia e da hora não serem os mais convenientes. Tenho inclusive um camarada, o Paulo Santiago, que está a tentar organizar a vida dele para poder vir à estreia do v/ filme... Até lá arranja-se seguramente mais gente, embora os camaradas do Norte já tenha reclamado que também querem ver e discutir o filme (noutra ocasião, seguramente...).
Por mim, por nossa parte, temos feito a nossa divulgação do filme e do doclisboa2007... Se a Diana fizer uma pesquisa no Google, com a palavra chave "doclisboa2007", o nosso blogue aparece logo à cabeça... O que significa que tem alguma audiência (sem faltas modéstias, hoje vamos atingir or 400 mil visionamentos... o que não é nada mau).
Vou-lhe dar o meu telemóvel para o caso de querer combinar alguma coisa comigo: 93 281 08 72 (Luís Graça)... Ou mande-me uma mensagem para o meu telemóvel... Espero poder conhecê-la pessoalmente, antes do filme, e trocar algumas impressões consigo e com os meus camaradas de Guiné... Não sei se o Flora Gomes estará presente...
Também não sei se a Diana tem algum nome, dos membros da nossa tertúlia, a quem
queira enviar um convite em especial (Chegou a contactar o Mário Dias, por causa do episódio, belíssimo, que você queria tratar, o encontro dele com o Domingos Ramos no Xitole, na mata, enfim, a história dos dois amigos da mesma recruta e curso de instrução e que vão ficar em dois campos opostos, um no PAIGC - o guineense Domingos Ramos - e outro nos comandos que ajudou a fundar - o português Mário Dias que foi para a Guiné na adolescência e que sempre se considerou um guineense de coração (2)... Infelizmente, quando você me contactou, eu estava de férias, não lhe pude ser muito útil na tentativa de chegar até ao discretíssimo Mário Dias) ...
Vou reservar os seus 15 convites para os que, logo de início, mostraram interesse e disponibilidade em aparecer...e para os restantes que forem entretanto 'aparecendo', via mail... De qualquer modo, os bilhetes têm um preço acessível (conforme consta no blogue e no mail que acabei de mandar a toda a malta da tertúlia). Boa sorte para a estreia do vosso trabalho no doclisboa2007.
Até 6ª feira. Luís Graça
(2) Vd. posts de:
1 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando