quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16729: (In)citações (104): Um texto elucidativo... Onde se fala do Restaurante Bar Pelicano, de Momo Turé, do Tarrafal, da PIDE/DGS, do PAIGC... (Mário Serra de Oliveira)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data 12 de Novembro de 2016:

Prezado Carlos:

No decorrer dos anos, toda a gente tem altos na vida... mas, seja em que momento for, quando se recebe uma mensagem como que abaixo vou publicar - deixando aos teus princípios e do blogue, repassar - não há dinheiro no mundo que nos dê tanta saúde e alegria, como ler o dito texto, escrito por alguém que conheci e foi meu companheiro de trabalho n' "O Pelicano".

Mas, deixa-me explicar melhor:

Na sequência de um dialogo sobre os "problemas da Guiné",  eu, por conhecer pessoalmente, alguns dos intervenientes do diálogo, decido opinar dentro dos meus princípios e conhecimentos de causa. Incluso, mencionei Momo Turé - meu braço direito no dito Pelicano. Agora, repara só que... depois de mais de 50 anos (físicos) e cerca de 2 séculos de saudades, me sai esta mensagem, dirigida a 2 dos dialogantes - eu e outro respeitável guineense, vivendo em Paris.

Passo a transcrever...

Um texto elucidativo

"Aos dois interlocutores os meus respeitosos cumprimentos.

Ao Mário, pessoa com quem convivi durante três meses no Bar-Restaurante Pelicano da propriedade do senhor Marques, dono de Grande Hotel em Bissau.

Trabalhei como copeiro à noite (lavador de pratos e copos) e depois garçom no Bar, durante a tarde, ganhando 300$00 escudos guineenses por mês.

Tive o prazer de conviver também, no mesmo espaço, com o Momo Ture, aliás meu primo e vizinho de casas no Pilum de Baixo. Momo Ture foi companheiro da primeira hora de Rafael Barbosa e Amílcar Cabral.

Momo Ture participou da fundação do PAI. Diversas reuniões foram feitas na casa de Momo. Eu era um puto de 8 anos de idade, mas tinha consciência das coisas. Momo costuma nos reunir, pessoas da família,  para explicar as atividades sobre a gestação da política pela independência. Ele nos dizia é para amanhã não ficarem a lés das coisas. Ele perdeu a sua juventude toda na política que veio lhe rendendo prisões e morte. Passou de 7 a 8 anos nas masmorras da minha PIDE em Tarrafal,  Cabo Verde. Após 2 anos de libertado foi se juntar ao PAIGC. Quando foram libertados ele e o Aristides Barbosa, de origem caboverdiano-guineense,  foram os únicos que não assinaram o termo de arrependimento e de integração à bandeira portuguesa do ultramar. Isso está escrito e publicado. Por favor há farta documentação do PAIGC na Fundação Mário Soares, entre cartas, relatórios, atas de reuniões falando sobre a gestação da luta levada a cabo por este Partido, de 1959 até a independência.

Sobre o que problema de MOMO Ture no PAIGC,  só será esclarecido quando o PAIGC é o sucessor da PIDE em Portugal tornarem os arquivos e gravações públicos. Enquanto isso qualquer tentativa de esclarecimento e de discussão sobre a questão serão meras especulações. 

A você,  João Galvão. o meu irmão mais velho,  um forte abraço da Guiné, continuamos apesar de tudo o éramos antes da Luta e continuaremos sê-lo. 

Um abraço guineense também a você, Mário, um brilhante profissional na arte de gastronomia que ouso dizer não conheci um igual. Hoje a minha mulher me "gaba" de ser um bom cozinheiro e respondo a ela… graças a uma pessoa que conheci como o melhor inventor de pratos, o senhor".

Só por isto, vale a pena viver, para relembrar e ser feliz.

Creio que esta mensagem até daria alguma "luz" ao nosso camarada Mário Beja Santos" nas suas pesquisas, nas minhas... já cheguei a uma conclusão que farei constar em "Bissaulónia". Quando sai?... Eh pá, meti-me a fazer uma casa nova de raiz e isso atrasou o projeto do livro.

Deixo a tua consideração o texto acima.
Abraço fraternal
Mário de Oliveira
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16532: (In)citações (102): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte IV): "Viva Médicas e Médicos Portugueses. Viva Portugal com os Negros Unidos" (sic) (carta de 15 de novembro de 2000)

Guiné 63/74 - P16728: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-al mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (3): Em Bissau, em julho de 1973, de passagem para o CIM de Bolama


Foto nº 1 A >  Bissau > Julho de 1973  > Monumento do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, avenida marginal e área portuária


Foto nº 1 > Bissau > Julho de 1973  > Avenida marginal e área portuária

Foto nº 2 > Bissau > Julho de 1973  > Porto do Pidjiguiti


Foto nº 3 > Bissau > Julho de 1973  > Forte da Amura, Quartel General, Comando-Chefe


Foto nº 4 > Bissau > Julho de 1973  > Catedral


Foto nº 5 > Bissau > Julho de 1973  > Estátua do Honório Barreto


Foto nº 6 > Santa Luzia, QG > Julho de 1973  > Piscina


Foto nº 7 > Bissau >   Santa Luzia, QG > Julho de 1973  > António Neto em gozo de licença



Foto nº 8 > Bissau > Santa Luzia, QG >  Julho de 1973 > Luís Mourato Oliveira,  de passagem para o CIM de Bolama


Foto nº 9 > Bissau > Santa Luzia, QG >  Julho de 1973 > Messe de oficiais



Foto nº 9 > Bissau > Santa Luzia, QG >  Julho de 1973 > Piscina


Guiné > Bissau > Julho de  1973 >


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luis Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74).

De rendição individual, o Luís Oliveira veio de Cufar, para o CIM de Bolama, por volta de julho de 1973, antes de ir comandanr o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca). É aí que ele irá terminar a sua comissão e extinguir o pelotão.

Esteve duas semanas no Centro de Instrução Militar de Bolama, tendo passado antes uma semana em Bissau. Recebeu  formação sobre "usos e costumes dos povos da Guiné" bem como sobre ação psicossocial, além de ter dado ainda intrução militar a "mancebos" do recrutamento local.

Da passagem por Bissau,  publicamos algumas fotos que ele nos enviou. (*)

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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16727: Os nossos seres, saberes e lazeres (185): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Haja luz e não haja inundações, Veneza oferece sempre esplendor, suscita todo o espanto porque oferece sem reservas a sua magnificência, a singularidade de uma cidade implantada em lagoas, uma arte que nasceu da tradição bizantina e que deu à humanidade pintores excecionais como Bellini, Mantegna, Carpaccio, Lorenzo Lotto, Ticiano, Tintoretto, Tiepolo, Francesco Guardi e Canaleto. São as pontes, o constante sobe e desce, as sonoridades dos barcos a vapor e os táxis aquáticos, as cantilenas dos gondoleiros, os turistas a ir ou a regressar do centro nervoso da cidade, S. Marcos.
Era uma estadia de pouco mais de dois dias, preparei-me para o programa mais solto do mundo, nada de compromissos e tudo quanto viesse à rede era peixe.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (9)

Beja Santos

São dois dias inteiros na Sereníssima, não dá para encher a cova de um dente, há que ser parcimonioso no que se pretende ver, visitar, calcorrear; acresce que chegou o calor e dá para perceber logo na estação de Santa Lucia que Veneza entrou na enchente, dá mesmo para pensar como é que esta cidade é transitável no Verão. A escolha do aboletamento, os preços moderados, leva o viandante a fixar-se num lugar que se chama Fondamente Nuove, em frente à ilha-cemitério de S. Miguel, felizmente com estação à porta para no final da jornada partir diretamente para o aeroporto de Marco Polo. Portanto, nada de tentações de visitar repetidas vezes a Basílica Bizantina de S. Marcos ou o Palácio dos Doges, nada de andar com guia na mão para entrar naquelas portentosas igrejas barrocas onde se admiram Veronesos, Tiepolos, Tintorettos e Tizianos; igrejas que dão por nomes muitos belos: Santa Maria Gloriosa dei Frari, com obras de Bellini e Tiziano; Madonna della Salute, com a cúpula a dominar o grande canal; San Giorgio Maggiore, fronteira à Piazzetta. O viandante conhece Murano e Burano mas não conhece Torcello, na Laguna, está cheio de entusiasmo por rememorar alguns palácios do grande canal como Cà Grande, Cà Foscari, Cà d’Oro, Cà Pesaro… e assombrar-se com a fachada da Fenice, a magnífica casa de ópera. Fiquemos por aqui. Mal desembarcado, logo o enamoramento com a paisagem sempre desigual, sempre a antítese da monotonia. Sim, esta a Veneza que guardo no coração.



Arrumados os trastes nas frugalíssimas instalações da casa dos Jesuítas, sem agenda organizada para saborear a arte veneziana, toca o viandante de encostar-se ao muro para ver o trânsito de gôndolas ou táxis aquáticos, com escassas horas de luz do dia pela frente, urge avançar pela Rainha do Adriático a caminho de S. Marcos, haja condições e um assento, e ali se fica especado a ver o movimento a partir da Piazzetta até à Praça de S. Marcos, que tem umas proporções tão delicadas. Há praças únicas, desde o Terreiro do Paço à Praça Vermelha mas dito com sinceridade a harmonia da Praça de S. Marcos é um dado perene para quem a contempla. Napoleão Bonaparte tinha carradas de razão.


O viandante volta-se agora para a basílica, já contemplou mil vezes o Campanile, quer tomar nota de alguns elementos da fachada. Leva um guia de Veneza na mão e não tem pejo em reproduzir o que ali se escreve sobre a basílica: em forma de cruz grega e encimada por cinco abóbadas enormes. Uma basílica que tem vindo a conhecer ao longo dos muitos séculos modificações. Olhou para os cavalos, hoje réplicas dos originais de bronze dourado que estão no interior da basílica; passeou-se demoradamente a ver mosaicos da fachada, não são todos tão antigos quanto se pensa, há ali um mosaico do século XVII onde se vê o corpo de S. Marcos a ser levado de Alexandria, escondido num carregamento de carne de porco.



Mais uma deambulação, desta vez o viandante especa-se frente a um conjunto de valor inesgotável, os Tetrarcas, grupo escultórico de pórfiro (Egito, século IV) representa Diocleciano, Maximiano, Valeriano e Constâncio: tetrarcas nomeados por Diocleciano para colaborarem no governo do Império Romano.



Por hoje chega, já foi uma dose cavalar à volta de S. Marcos, amanhã de manhã aqui se virá para ver o interior com algum preceito, a fazer horas para um jantar suculento, começa o desfastio de andar rua a rua. É nisto que uma tabuleta chama à atenção, aqui mesmo viveu e seguramente aprontou algumas das obras-primas que de vez em quando o viandante vai apreciar ao Museu Calouste Gulbenkian, o celebérrimo Francesco Guardi, que aqui também morreu. O viandante tem por ele uma enorme devoção. Artistas venezianos consagrados são Bellini, Mantegna, Lorenzo Lotto, Tintoretto, Veronese, seguem-se Francesco Guardi, Tiepolo e Canaletto, sem desprimor para este último, para o viandante é inimaginável Veneza sem a pintura de Guardi.



Anoitece, paulatinamente Veneza despovoa-se, os turistas concentram-se, seguir-se-á o jantar, e depois ouvir-se-ão os barcos a motor, mais ou menos trepidantes, os barcos-ambulâncias têm aquela sirene angustiante que nos afeta as entranhas. O viandante está consolado com estas horas de reencontro, veio sem pressa e bem gostaria de ir visitar o belo Museu da Accademia ou o Museu de Peggy Guggenheim. Bem se tentou fotografar a ponte do Rialto, a mais célebre das pontes venezianas, estava com tapumes. Na casa dos Jesuítas, espera ao viandante uma cena canalha, às vezes o barato sai caro, são dois quartos servidos com uma só casa de banho, uma senhora russa esteve lá mais de uma hora no duche e outras serventias. Procurou-se um protocolo de funcionamento, impossível, a senhora, por sinais, deu a entender que só falava a língua de Tolstoi. Pelas 4 da manhã, nova barulheira na casa de banho, mais uma hora e tal de esfregação e barulho de secador de cabelo. O viandante perdeu a cabeça, gritou ou imprecou bem alto. Não resultou, repetir-se-á a farsa na noite seguinte.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16704: Os nossos seres, saberes e lazeres (184): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (8) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16726: (De)Caras (52): Um bravo do meu pelotão, o 1.º cabo apontador Manuel Lucas dos Santos: evocando aqui uma delicada escolta a uma coluna que, em 16 de maio de 1973, foi do Pelundo a Jolmete resgatar 6 cadáveres (Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73)



Lisboa > Cais da Rocha Conde dfe Óbidos > 11 de outubro de 1973 > Regresso no T/T Niassa > Alguns dos  bravos do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73) > Da esquerda para a direita, (i) José Eduardo Alves, (ii) Gonçalo Garcia Pedroso (condutor da viatura Daimler, aqui referida nesta crónica), (ii)  David da Silva Miranda (1º cabo mecânico, de óculos escuros), (iv) Lino Pereira Barradas, (v) Manuel Lucas dos Santos (1º cabo, assinalado com um retângulo a verde, o protagonista da história que se conta a seguir, natural de Açor, Góis), e (vi) José Gabriel Caloira.


Lisboa > Cais da Rocha Conde dfe Óbidos > 11 de outubro de 1973 > Regresso no T/T Niassa > O resto dos bravos do pelotão, que acompanharam o seu comandante no regresso a casa: da esquerda para a direita, Manuel Teque da Silva, Ademar Peres Marques, Luís Soares da Silva e Fernando Cândido Silva.


Guiné  > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Janeiro de 1972 >  A “oficina” do Pelotão Rec Daimler 3089.  É visível o 1º cabo mecânico David Miranda que fazia o "milagre" de manter as viaturas sempre operacionais. O pelotão chegou  a ter duas ou três Daimlers, vindas da sucata de Bissau, para "canibalizar". Ao trabalho do Miranda muito ficou a dever o sucesso do Pelotão. O pelotão conseguia ter as cinco viaturas operacionais, do princípio ao fim da comissão, foi um ponto de honra para o seu comandante. Estavam equipadas com a metralhadora MG 42, e circulavam sem a torre giratória. O problema das Daimlers não era o motor mas o sistema de transmissão... A boa conservação das viaturas e das MG 42 era fundamental para a sua operacionalidade e fiabilidade...


Guiné  > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Fevereiro de 1973 > O 1º cabo apontador Manuel Lucas dos Santos, no regresso de uma viagm a Caió


Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73)

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Esta crónica chegou-nos à caixa do correio em 6 de junho passado. Faz sentido publicá-la agora,  depois da edição do último poste relativo ao álbum fotográfico do autor, Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73). 

É um texto inédito, escrito a pensar no nosso blogue, a partir da reconstituição de memórias do ex-1º cabo cav, Manuel Lucas dos Santos. Datado de junho de 2016, não faz parte dos textos (poemas e crónicas) do  livro recente do Francisco Gamelas:  "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp.+ ilust; preço de capa 12,50 €). (*).

Entenda-se também este texto como uma homenagem a todos os camaradas da arma de cavalaria (Pel Rec, EREC...) que alinhavam com os infantes em  colunas  como esta, a seguir descrita, delicada, não isenta de riscos e com momentos de grande tensão (**).

Nesta crónica há uma referência ao condutor Pedroso, o Gonçalo Garcia Pedroso (vd. foto acima), outro dos bravos do Pel Rec Daimler 3089. Iam duas Daimlers na coluna, uma à frente e outra atrás.

Segundo esclarecimento adicional do autor da crónica, e depois de voltar a falar com o Manuel Lucas dos Santos, ele confirmou a data e acrescentou o seguinte:
(i) estas seis mortes (civis ou na maior parte civis), foram contados um a um por ele;
(ii) resultaram de um ataque do PAIGC ao aquartelamento no momento em que população e militares assistiam a uma sessão de cinema ao ar livre;
(iii)  o capitão da companhia de Jolmete foi depois transferido para a companhia africana (, a  CCAÇ 16, ) que estava em Bachile...

O Manuel Lucas dos Santos, há uns largos anos, encontrou-se com o antigo capitão de Jolmete, num casamento, e tiveram ocasião de recordar estes tristes acontecimentos. Acresce ainda dizer que o troço Pelundo-Jolmete era "picada", não era alcatroado, e estava-se já no início da época das chuvas...

Nessa altura estava no Pelundo o BART 6521/72:
(i) mobilizado pelo RAL 5 (Penafiel);
(ii) partiu em 22/9/1972 para o TO da Guiné;
(iii) regressou em 27/8/1974;
(iv) esteve sediado  no Pelundo;
(v) cmdt: ten-cor art Luís Filipe de Albuquerque Campos Ferreira.

Em Jolmete esteve a 3ª C /BART 6521/72 (de 27/9/19721 a 27/8/1974). Teve 2 cmdts: cap mil art Luís Carlos Queiroz da Silva Fonseca; e  cap mil inf  Edmundo Graça de Freitas Gonçalves. Na Tabanca Grande, temos poucos camaradas deste batalhão.

Desconhece-se, por outro lado, as razões que terá levado comandante de batalhão a integrar a coluna a Jolmete e pedir o apoio do Pel Rec Daimler 3089, que estava adido a outro batalhão, o BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73). (LG)


2. Sob o signo do medo

por Francisco Gamelas (com Manuel Lucas dos Santos)

Cedo, por volta das oito da manhã, acabados de regressar do pequeno almoço, depois de já termos feito a escolta da coluna que seguia para Bissau até ao Pelundo, entrou na caserna um mensageiro com uma convocação: o nosso Comandante [, do BCAÇ 3863,] requer a presença do 1º Cabo que substitui o Alferes Gamelas. 

Corria o dia 16 de maio de 1973. O nosso Alferes estava em Bissau à procura de peças para as Daimlers, no cemitério de viaturas semidestruídas que ali havia. Depois da saída do mensageiro, olhei os meus camaradas e comentei: quem é que andou a fazer merda ontem à noite? Ninguém se acusou. 

Respirei fundo, agarrei coragem e lá fui para o covil, como rês a caminho do matadouro. Boa coisa não seria. À porta semiaberta do gabinete, enquanto fazia a continência, pronunciei a fórmula da praxe: dá-me licença meu Comandante? O Tenente Coronel já se encontrava sentado à secretária, de semblante pensativo e preocupado. Não parecia zangado, apenas apreensivo, respondendo em voz baixa, como era seu timbre, mas de forma suave: entre nosso Cabo. Fique à vontade. 

Por detrás das lentes dos óculos os seus olhos miúdos começaram por me sondar durante alguns segundos. Deveria ser visível a minha inquietação e o Comandante ponderava as suas palavras. Ontem, no Jolmete, sede duma companhia do Batalhão do Pelundo, deu-se uma flagelação muito forte do inimigo. Houve vários mortos cujos corpos é preciso resgatar para seguirem para Bissau. 

Com uma breve pausa avaliou o efeito das suas palavras. Não sei o que viu no meu semblante, mas, depois da surpresa, uma inquietação, filha do medo, ia tomando conta do meu espírito. O Comandante continuou. O Senhor Comandante do Pelundo solicitou-me ajuda para ir ao Jolmete resgatar os cadáveres. Perguntou se haveria possibilidade das Daimlers poderem fazer parte da escolta. Pareceu-me bastante preocupado, nosso Cabo

A preocupação dele era visível. Fez outra pausa para me olhar bem nos olhos espreitando uma reacção. Desde quando estes gajos gastavam tanto latim para darem as suas ordens? Nosso Cabo, tenha prontas duas Daimlers para integrarem a escolta ao Jolmete dentro de vinte minutos, seria tudo quanto era necessário para que a ordem se cumprisse sem mais delongas. 

Estas falinhas mansas eram como facas afiadas a penetrarem de mansinho pelo ventre da minha inquietação. Permaneci calado. O nosso Cabo não acha que os devemos ajudar? Perguntou, sem parar de me fitar. Desta vez, o tom já foi mais incisivo, ainda que permanecesse dentro do cordial, mesmo com uma certa dose de intimidade, o que me desconcertava. O Comandante estava a fazer de mim alguém suficientemente importante para ter voto na matéria, o que me inquietava porque nunca tal tinha acontecido, nem seria normal acontecer. Não era este o ADN do relacionamento comando versus subordinados. 

O cerco apertava-se e não tinha como fugir a dar uma resposta. Quem sou eu, meu Comandante, para fazer avaliações. O Pelotão Daimler fará o que o meu Comandante determinar. Um muito leve sorriso acompanhou uma pequena, mas visível descompressão do seu semblante. Estava satisfeito com o evoluir da situação, o mesmo será dizer, que estava satisfeito com os resultados da sua estratégia de abordagem. O Senhor Comandante do Pelundo [, BART 6521/72,]  pode então contar com a ajuda das Daimlers na deslocação ao Jolmete? 

Foi uma pergunta a meio caminho duma afirmação. Limitei-me a articular o óbvio: o meu Comandante sabe que o Pelotão Daimler só está ao serviço deste Batalhão. Contudo, se o meu Comandante entender prestar uma ajuda solidária ao nosso Comandante do Pelundo, o Pelotão Daimler está pronto para cumprir a sua parte.

Desta vez o sorriso foi franco e a descompressão evidente. Óptimo, nosso Cabo. Vou então dizer ao Senhor Comandante do Pelundo que pode contar com duas esquadras dentro de uma hora no Pelundo - e levantou-se para dar por terminada a conversa. 

Ainda arranjei coragem para articular: o meu Comandante desculpe, mas gostaria de fazer um pedido... E ele: Diga lá nosso Cabo. O tom permanecia cordial.  Pretendia que o Senhor Comandante do Pelundo nos garantisse um rebenta-minas a abrir a coluna. Ser uma Daimler a fazer esse papel não seria justo e era um desperdício de uma metralhadora, em caso de problemas. O Comandante, já de pé, olhou-me como que admirado e retorquiu: Compreendo. Tem toda a razão. O nosso Cabo pode contar com a viatura rebenta-minas. 

Fiz a continência, e, de novo, articulei a fórmula aplicável: o meu Comandante dá-me licença que me retire? Resposta:  Dentro de uma hora esteja pronto para partir para o Pelundo, nosso Cabo. Por instruções do nosso Capitão das Informações, que teve a “gentileza” de me informar que era provável haver contacto com o inimigo, a Daimler da frente – a minha - foi reforçada com uma segunda metralhadora e respectivas fitas de munições, para além de mais umas quantas granadas. Que não fosse por falta de fruta que perdêssemos a contra-dança. 

Chegámos ao Pelundo cerca das dez e trinta, onde já nos esperava, no meio da parada, o Tenente Coronel Comandante do Batalhão, que imediatamente se acercou de nós. Obrigado por terem vindo nosso Cabo. E a estupefacção continuava. Este comportamento não era nada normal. Já almoçaram? Perguntou o Comandante. Às dez e meia da manhã ainda ninguém almoçou, pelo que, meio a sorrir respondi: não meu Comandante, viemos com ração de combate. Retorquiu: Vou já mandar preparar um bom almoço para vocês,

E assim foi. Dentro de umas dezenas de minutos, estávamos todos a almoçar, como raramente tivemos oportunidade de o fazer ao longo de toda a comissão. Contudo, a inquietação era mais que muita. Todos os sinais indicavam que a deslocação iria ser bastante perigosa. Se tivermos que morrer, morreremos de bandulho cheio, comentei sarcástico. 

Cerca do meio dia, começámos a organizar a coluna. Ao deparar com o Comandante, perguntei-lhe pela viatura rebenta-minas, que, essa sim, era a minha grande preocupação. O Comandante, apontando com o braço, disse sorridente: olhe ali nosso Cabo. Lá estava uma Berliet atulhada de sacos de areia até acima. Até aqui tudo bem. Siga a marinha e alma até Almeida. Percebi que o Comandante também iria integrar a coluna, o que, por não ser comum, somava alguns pontos a seu favor. 

Pusemo-nos em marcha pelas doze e trinta. Connosco, seguiam na coluna mais seis unimogs com soldados armados. Entre eles seguia o Comandante do Pelundo. A ligação ao Jolmete fazia-se por uma sequência de picadas, em alguns percursos apenas visíveis nos trilhos das rodas das viaturas, onde o vermelho da terra se deixava ver. Nesses trilhos elas seguiam sozinhas, sem necessitar do volante. O resto era vegetação, com capim da altura de um homem a roçar nas laterais. Digamos que poderíamos ser “pescados à mão”. Pedroso, deixa a Berliet afastar-se um bocado, disse para o camarada condutor quando iniciámos a marcha - a nossa Daimler seguia em segundo lugar na coluna. Se houver merda, teremos, assim, mais algumas hipóteses de reagir. 

O trajecto era de cerca de vinte e cinco quilómetros, que foi percorrido debaixo de uma enorme tensão, a baixa velocidade. O que nos corria nas veias era pura adrenalina. Sem qualquer peripécia no percurso, lá chegámos ao nosso destino em pouco mais de uma hora.

O cenário que encontrámos era desolador: destruição e caos, com semblantes fantasmáticos a espreitar pelos cantos. Os seis corpos já estavam alinhados nas macas à nossa espera. Vim a concluir que a Berliet, afinal, não carregava só sacos de areia, também trazia as "salgadeiras" para os cadáveres. Mau sinal. Não iríamos ter rebenta-minas no regresso, quase de certeza. Não seria lógico que a viatura com os corpos voltasse a fazer de rebenta-minas. Foi o que aconteceu. 

Depois dos caixões fechados e do Comandante ter terminado a observação do local e falado com os seus oficiais, regressámos ao Pelundo. Desta feita já não vai haver viatura rebenta-minas, nosso Cabo, teve a “gentileza” de me informar o Comandante. Pedroso, sempre a abrir. Quem quiser que nos siga. Apesar do repto, demorámos a chegar quase o mesmo tempo que tínhamos gasto na ida. A Berliet não poderia acompanhar um ritmo mais enérgico. 

Por volta das cinco e meia estávamos em Teixeira Pinto, sãos e salvos, já depois do grosso da coluna ter ficado no Pelundo. Agora, era só esperar que os níveis de adrenalina descessem, que a serenidade possível recuperasse os seus níveis normais. Entretanto, no que respeita ao horrendo observado no Jolmete, não houve borracha eficaz que o apagasse. Até hoje.

Quanto aos “estranhos” comportamentos dos Comandantes, continuam a fazer-me cócegas nos neurónios. Digamos que, com o medo à mistura, comum a todos nós, a alma humana tem destes comportamentos desalinhados.

Aveiro, junho de 2016
Francisco Gamelas
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Comentário do autor

Este episódio foi-me contado pelo então 1º Cabo do meu Pelotão Daimler Manuel Lucas dos Santos – o narrador da crónica - que, na minha ausência, assumia o seu comando (o meu 1º Sargento estava destacado no Cacheu com duas esquadras do pelotão). 

Durante estes últimos anos, em que, quase sempre, nos nossos almoços anuais este episódio vinha à baila, comecei a dar-lhe alguma importância, mas, sem verdadeiramente compreender as motivações do comando para os seus tão incomuns comportamentos. Até que parei para reflectir.

Será que as Daimlers seriam solicitadas se o Tenente Coronel do Pelundo  [BART 6521/72] não integrasse a coluna?  Obviamente que não: nunca o foram, assim como a enormidade de seis unimogs com tropa armada. Nas minhas colunas para o Cacheu e para Bissau, iam dois.

 E a atitude do Tenente Coronel de Teixeira Pinto [BCAÇ 3863], como se explica? No caso de existirem sarilhos graves com as Daimlers e os seus ocupantes, eles teriam que constar no relatório da acção e alguém em Bissau [leia-se: o gen Spínola] iria perguntar o que é que as Daimlers estavam lá a fazer. Não acredito que fosse a decisão favorável de um 1º Cabo em participar na escolta que ilibasse o Comandante de sérias responsabilidades.

Visto deste prisma, o episódio passa a ter algum interesse, pelo que aqui to deixo à tua apreciação para eventual publicação no teu blogue. (**)
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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P16725: Parabéns a você (1163): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16720: Parabéns a você (1162): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reabast Material da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Coronel Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 6 (Guiné, 1968/70)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16724: Agenda cultural (516): Sessão de apresentação do livro do Paulo Salgado, 5ª feira, dia 17, às 18h30, na Fundação Portugal - África, Rua de Serralves, nº 191, Porto


Convite para a sessão de apresentação do livro do nosso camarada e grã-tabanqueiro Paulo Salgado,  no próximo dia 17, 5ª feira, às 18h30, no Porto, na Fundação Portugal - África. A apresentação estará a cargo do médico pediatra José Manuel Pavão, cônsul honorário da República da Guiné-Bissau no Porto. (*)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 15 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16723: Agenda cultural (509): No passado dia 10 de Outubro, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha, foi apresentado o livro "Quatro Rios e Um Destino" do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P16723: Agenda cultural (515): No passado dia 10 de Outubro, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha, foi apresentado o livro "Quatro Rios e Um Destino" do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (Carlos Vinhal)


No passado dia 10 de Outubro, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha, foi apresentado o livro "Quatro Rios e Um Destino" do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71.

Foi uma jornada emotiva, não porque o nosso camarada precise de nós, mas antes porque ele próprio é uma força de vida e um exemplo. Somos nós que precisamos dele.

A força da amizade entre ele e o médico que o tratou em Bedanda enquanto não foi possível a evacuação, o ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, ficou bem patente e sabemos que perdurará. Um misto de sentimentos fez com que a assistência se mantivesse em religioso silêncio, com algumas lágrimas a fazer arder os já gastos olhos dos Combatentes, e não só, ali presentes.

Ficámos a conhecer melhor o Fernando, a sua força de viver, aquela que todos quereríamos ter para enfrentar os mesquinhos problemas que nos surgem e que julgamos serem os mais importantes do mundo.

Quem venceu a morte e suplantou a adversidade é digno do nosso respeito e admiração.
Obrigado Fernando.

Segue-se a reportagem.

Carlos Vinhal


Ainda antes do início da apresentação foi possível reunir três distintos médicos e um administrador hospitalar: Dr. Paulo Portela (Índia); Prof. Dr. Amaral Bernardo (Guiné); Dr. Reis Lima (Angola) e Dr. Paulo Salgado (Guiné).



A sala estava composta embora o autor do livro merecesse mais audiência.


Momentos antes do início dos trabalhos, ultimam-se os pormenores.


A Mesa, presidida pelo Coronel Sousa Machado, ao centro, tem à sua esquerda: o Dr. Reis Lima, Presidente da Mesa da AG do Núcleo do Porto da LC e à ponta o Coronel José Belchior, coordenador da Tertúlia e Presidente da Direcção do Núcleo do Porto da LC. À direita do Coronel Sousa Machado: o autor Combatente Fernando Sousa e o apresentador, Prof Dr Amaral Bernardo.


O Coronel Belchior deu início à sessão cumprimentando a Mesa e os presentes, dando a palavra ao apresentador do livro, Prof. Dr. Amaral Bernardo que foi Alferes Médico em Bedanda, nos anos de 1970 a 1972, onde se encontrava aquando do acidente que feriu gravemente o autor Fernando Sousa.

Falar do livro e dos momentos vividos em Bedanda, pelo Fernando, nas primeiras horas a seguir ao infeliz acontecimento, foi doloroso para o nosso camarada Amaral Bernardo, que visivelmente comovido, lembrou o seu papel de médico no mato, sem as condições mínimas necessárias para assegurar a sobrevivência do ferido grave que tinha entre mãos. Fez o que pôde até que a evacuação se efectivasse, para que no hospital, com outros meios, o Fernando fosse devidamente tratado. Disse ainda, que foi com a maior emoção e alegria que, passados mais de 30 anos, o encontrou a andar normalmente e a levar uma vida plena.
Salientou o facto de o infortúnio ter criado uma amizade especial entre o médico e o doente que os unirá até ao fim dos dias.


Amaral Bernardo fala do Fernando Sousa com a maior admiração pela sua coragem e força vontade em suplantar as dificuldades.

Chegou a vez do autor, que dedicou as suas primeiras palavras ao homem a quem deve a sua vida, ao seu Alferes Médico e amigo Amaral Bernardo. Disse que a princípio não lhe ficou reconhecido pelo esforço em lhe salvar a vida porque o que queria era terminar ali mesmo a sua existência, mas que depois de ultrapassadas todas aquelas horas, e foram muitas, difíceis e dolorosas, reconhece o quanto lhe deve.

Falou do seu livro, onde descreve as horas, mais más do que boas, enquanto militar e enquanto sobrevivente e lutador, tentando viver com a maior normalidade possível face à sua deficiência de guerra.

Falou de Bedanda, localidade onde conheceu os piores dias da sua vida, a que dedicou um poema intitulado "Bedanda terra de Magia", que começa assim: Bedanda. Terra de nada, repleta de tudo / Sem ruas de avenidas despida / Onde o Tuga espera quedo e mudo / Nas entranhas de África nascida.
Podem ler o resto na página 230 de "Quatro Rios e um Destino"

Falou dos seus versos, do seu último livro "Sussuros Meus", do qual também leu alguns poemas, um dos quais em homenagem à Mulher.

O autor, Combatente Fernando Sousa, diz aos presentes o que o levou a escrever este livro.

Dada a possibilidade de intervenção aos presentes, falou em primeiro lugar o Combatente Carlos Pinto Azevedo, contemporâneo do Fernando Sousa e do Dr. Amaral Bernardo na CCAÇ 6 - Bedanda. Recordou também os momentos dolorosos que todos viveram com o acidente do autor ali presente, contando que no primeiro convívio dos bedandenses, ainda a caminho, se lembraram do Fernando e até puseram a hipótese de ele não ter sobrevivido aos graves ferimentos infligidos. Se fosse vivo, deslocar-se ia com certeza com muita dificuldade, talvez apoiado em canadianas ou até em cadeira de rodas. Quando reunidos, perguntam pelo Sousa, se estava vivo. Aparece então aquele homem caminhado normalmente. "Sem uma perna e andas assim?" - "Sem uma não, sem duas".
Espanto geral, estava ali vivo e são, um verdadeiro Combatente, alguém digno da nossa admiração.

Aqui o editor pede desculpa, mas a foto com a intervenção do Carlos não estava em condições de ser publicada.

Falou seguidamente o Presidente da ADFA-Porto, o Combatente Abel Fortuna, também ele um mutilado pela guerra da Guiné - S. Domingos.
Falou da dificuldade que os Combatentes têm, especialmente os Deficientes para quem tudo são barreiras

O camarada Abel Fortuna, Presidente da ADFA-Porto no uso da palavra.

Levantou-se também da assistência o Dr. Paulo Salgado, nosso camarada tertuliano, para saudar o autor e dizer o quanto o marcou positivamente o seu exemplo

Paulo Salgado - Ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72

Na fila da frente estava o Superintendente Isaías Teles, Presidente da Direcção do Núcleo de Oeiras/Cascais da LC, que falou das Tertúlias do Fim do Império e do apoio que esta iniciativa tem dado na edição ou divulgação da bibliografia da Guerra Colonial.


O Superintendente Isaías Teles falando aos presentes.

Era inevitável que não se falasse das mulheres das nossas vidas, principalmente daquelas que a seu modo, na retaguarda, viveram a guerra e sofreram pelos filhos, irmãos, maridos, namorados, afilhados de guerra, etc.

Levantou-se uma senhora que agradeceu as palavras dirigidas às mulheres presentes, e ausentes, uma mulher que já visitou a Guiné inúmeras vezes e por lá cooperou mais o marido. Estamos a falar, como documenta a foto, de Conceição Salgado, esposa do Paulo Salgado, e mãe de Paula Salgado, todos eles com publicações no nosso Blogue.

Peço desculpa pela foto, não é das melhores.

Conceição Salgado falando em nome das mulheres que também sentiram a guerra

Habitual interveniente nas tertúlias da Messe da Batalha, o Coronel Manuel Ferreira da Silva, que foi Comandante o COP 5, Gadamael/Guileje, falou também da falta de respeito e consideração que algumas autarquias ainda têm pelos Combatentes, mantendo aquela distância fria, quase ignorando que existem, esperando que vão morrendo no anonimato. Ele que é um activo defensor de quem foi chamado para a guerra, que nunca se ganha pelas armas, até que o poder político a resolvesse, contou algumas peripécias, quase hilariantes, que vai ultrapassando com muita persistência.


O senhor Coronel Ferreira da Silva

Da assistência levantou-se alguém que só faltou a uma das muitas tertúlias Fim do Império que já se realizaram na Messe da Batalha, no Porto, e que nunca tinha pedido a palavra antes, o Presidente da Direcção do Núcleo de Ribeirão da LC, o Combatente José Ferreira dos Santos.

Disse que não se podia calar perante o exemplo de força de vida que era o Fernando Santos. Que ia levar um exemplar de "Quatro Rios e Um Destino" para a sua mulher ler. Que melhor homenagem lhe podia fazer?

O Combatente José Ferreira dos Santos, Presidente da Direcção do Núcleo de Ribeirão da LC.

Ainda estava reservada uma surpresa, porque quando o Coronel Belchior se levanta é para dar fim aos trabalhos e dar a palavra ao Presidente da Mesa. Mas desta feita, o Coronel Belchior levantou-se para intervir, fazendo o paralelo entre o Fernando Sousa e ele próprio, ferido duas vezes em combate. Claro que como militar profissional, tantos anos no campo de batalha, ser ferido é quase como inevitável, mas um jovem miliciano ficar mutilado é sempre uma tragédia.

O senhor Coronel Belchior falando de si e do Combatente Fernando Sousa

Como médico que é, e como Tenente Médico Miliciano em Angola que foi, o Dr. Reis Lima não podia ficar indiferente ao que ali se passou. Cumprimentou o Fernando pela coragem em ultrapassar as dificuldades que a sua deficiência lhe acarreta e pela sua escrita sentida, tanto em prosa como em verso.


O senhor Dr. Reis Lima, Presidente da Mesa da AG do Núcleo do Porto da LC, quando se dirigia especialmente ao autor.


Para encerrar a tertúlia da tarde, o Coronel Belchior deu a palavra ao senhor Coronel Sousa Machado, que aproveitou para dizer que também ele, apesar de não ser contemporâneo, enquanto militar, da Guerra de África, também a sua família sofreu as consequências mais funestas daqueles conturbados tempos.


O senhor Coronel Sousa Machado a encerrar os trabalhos da tarde.

Texto, fotos e legendas: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16709: Agenda cultural (508): Lançamento do livro "25 de Novembro, Reflexões", coordenação do Coronel Manuel Barão da Cunha, no próximo dia 15 de Novembro de 2016, pelas 15h00, na Livraria/Galeria Municipal Verney, Rua Cândido dos Reis, 92, em Oeiras