Lisboa > Praça do Comércio > 4 de dezembro de 2016 > Iluminações de Natal... Mais de meio século depois da guerra colonial, aquela que foi a praça mais emblemática da encenação imperial na época do Estado Novo (*)... Era aqui que se condecoravam, alguns a título póstumo, os nossos heróis...
Batota? Todos fizemos batota: a grande batota que os políticos e os generais faziam na capital do império, a pequena batota que nós, soldados de Portugal, fazíamos, a nível operacional, no TO da Guiné... E batota que todos fazemos hoje, negando a pés juntos que nunca fizemos batota (no mato, na secretaria, no gabinete de planeamento de operações, no quartel-general em Bissau, nos ministérios da Praça do Comércio, e por aí fora)... A batota que ainda hoje fazemos autocensurando-nos, negando, branqueando, esquecendo... muita coisa de que fomos atores ou testemunhas...
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados.
Lisboa > 6 de outubro de 2013 > Praça do Comércio / Terreiro do Paço > Estátua equestre de D. José, com o Cais das Colunas e o estuário do Rio Tejo, ao fundo... Vista panorâmica a partir do topo do Arco da Rua Augusta.(*)
Lisboa > 6 de outubro de 2013 > Praça do Comércio / Terreiro do Paço > Estátua equestre de D. José, com o Cais das Colunas e o estuário do Rio Tejo, ao fundo... Vista panorâmica a partir do topo do Arco da Rua Augusta.(*)
Foto (e leenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.
I. Inquérito 'on line' (**):
"A BATOTA QUE FAZÍAMOS NA GUERRA"...
ASSINALAR UMA OU MAIS FORMAS
Resultados definitivos: total de respostas > 45
As formas mais frequentes de 'batota'...
2. Emboscar-se perto do quartel > 17 (37%)
17. Começar a “cortar-se", c/ o fim da comissão à vista > 17 (37%)
1. “Acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo > 11 (24%)
14. Simular problemas de saúde > 10 (22%)
18. Outras formas > 10 (22%)
3. “Andar às voltas” para fazer tempo > 9 (20%)
16. Falsificar o relatório da ação > 9 (20%)
10. Falsas justificações para perda de material > 9 (20%)
4. Evitar o contacto com o IN (não abrindo fogo) > 8 (17%)
11. Reportar “enganos” do guia nos trilhos > 6 (13%)
As formas menos frequentes de 'batota'...
6. Alegar dificuldades de ligação com o PCV > 5 (11%)
9. Sobrevalorizar o nº de baixas causadas ao IN> 5 (11%)
15. Regresso antecipado p/alegados problemas de saúde > 5 (11%)
7. Enganar o PCV sobre a posição das NT > 4 (8%)
5. Provocar o silêncio-rádio > 3 (6%)
8. Outros problemas de transmissões > 3 (6%)
As formas de 'batota' ainda não referidas...
12. Deixar fugir o guia-prisioneiro > 0 (0%)
13. Liquidar o guia-prisioneiro > 0 (0%)
A sondagem encerrou no dia 4/12/2016, às 18h42.
II. Comentário do editor:
Estamos a falar de "batota no mato"... Afinal, "pequena batota", da arraia miúda, os filhos do povo que fizeram a guerra (e a paz)... Treze anos de "sangue, suor e lágrimas".. Um milhão de homens, portugueses e africanos,,,
Nunca vi um oficial superior, de G3 na mão, oito carregadores, e dois cantis de água, a meu lado, em operações a nível de batalhão (!)... Falo de oficiais de posto superior a capitão, majores ou tenentes coronéis !...
Onde estavam os nossos comandantes, os nossos líderes ? Não passavam de burocratas, chefes de secretaria, alguns deles!... E no máximo, andavam lá em cima, de DO-27, no chamado PCV, a quem tínhamos, nós, os infantes, um ódio de morte!
Acredito que, pelo menos no TO da Guiné, eles já eram demasiados velhos para alinhar no mato connosco!... Tinham idade para ser nossos pais!...
Só conheci um, que foi comigo, connosco (CCAÇ 12), explorar as "imediações" do famiegrado inferno do Xime, no início de 1971, quando já estávamos em fim de comissão: chamava-se Polidoro Monteiro, era tenente coronel de infantaria, oficial da confiança de Spínola, e honrou-nos a todos, honrou as melhores tradições do exército português!..
Já morreu há muito: que descanse em paz!
Pois é, ficam de fora do âmbito deste inquérito, as outras formas mais ou menos "engenhosas" que encontrávamos para "resolver" problemas, típicos da tropa ou da burocrcia militar: por ex, material em falta, que estava "à carga", e que por qualquer razão deu sumiço, foi desviada, estragou-se, danificou-se...
Nada como um ataque ao quartel (ou a explosão de uma mina numa coluna de reabastecimentos) para o 1º cabo quarteleira, o furriel vaguemestre, o 1º sargento e o capitão "atualizarem" os inventários...Essa era a pequena batota de secretaria, a que eu não dou muita importância...
Todos sabemos que, no mato, em operações (mas também em ataques ao quartel ou ao destacamento) havia material e equipamento que podia ficar destruido ou danificado ou ser extraviado: armas, granadas de morteiro e de bazuca, viaturas, sacas de arroz, caixas de uísque e outras bebibas espirituosas, importadas, etc. As vezes, uma minazinha na picada vinha mesmo a calhar, desde que não matasse ou não ferisse ninguém.,..
Não sei se essas práticas se podiam classificar como "batota"... Batota era, para todos os efeitos, viciar as regras do jogo, violar impunemente o RDM, quebrar a unidade comando controlo e o espírito de corpo, perder a confiança no comando, não cumprir as normas, não seguir os procedimentos, etc. O patamar acima de batota, esse, já era crime... Mas não é de crime que estamos a falar...Referimo-nos, ao fim e ao cabo, aos pequenos trques da autogestão do esforço de guerra...
.
Pode ser que alguém, entretanto, tenha histórias para contar sobre estas diversas formas de batota que estava ao nosso alcance: (1) batota no mato, (ii) batota no quartel; (iiii) batota na secretaria; (iv) batota na arrecadação; (v) batota na caserna...
Este inquérito sobre a "batota no mato" não provocou grande entusiasmo, nem emoção, nem controvérsia, nem muito menos surpresas... Nada de novo, na guerra da Guiné, a norte, a sul, a centro, a leste ou a oeste...
Em contrapartida, as respostas parecem-nos verosímeis, consistentes... Por exemplo, ninguém assinalou as hipóteses 12 (deixar fugir o guia-prisioneiro) e 13 (liquidar o guia-prisioneiro).
Simplesmente não eram prática corrente, pelo menos no meu tempo... E eu que fiz diversas operações com guias-prisioneiros, nos medonhos matos do Xime, estou aqui para confirmar que nunca deixámos fugir (muito menos liquidar) nenhum guia-prisioneiro...Não quer dizer que vontade não nos faltasse, às vezes...
Simplesmente isso não aconteceu, embora possa ter ocorrido episodicamente noutros tempos e lugares... E, pelo menos, até agora, ao fim de 13 anos de blogue (!), ninguém até agora teve a coragem ou a frontalidade de confessar que liquidou um prisioneiro no mato!... Nem era expectável que algum camarada nosso viesse, publicamente, confessar ter liquidado um prisioneiro ou um guia-prisioneiro, no mato, em operações, por sua iniciatuva ou por ordem hierárquica... Temos conhecimentos de alguns casos, mas que são contados "off record", nas nossas longas e inytermináveis conversas e inconfidências... Muitas dessas conversas e inconfidências morrerão connsosco... O blogue não é o confessionário do padre nem o divã do psiquiatra... Tentámos abrir uma série "O segredo de...", mas foi um fracasso, um desastre....
Em contrapartida, as respostas parecem-nos verosímeis, consistentes... Por exemplo, ninguém assinalou as hipóteses 12 (deixar fugir o guia-prisioneiro) e 13 (liquidar o guia-prisioneiro).
Simplesmente não eram prática corrente, pelo menos no meu tempo... E eu que fiz diversas operações com guias-prisioneiros, nos medonhos matos do Xime, estou aqui para confirmar que nunca deixámos fugir (muito menos liquidar) nenhum guia-prisioneiro...Não quer dizer que vontade não nos faltasse, às vezes...
Simplesmente isso não aconteceu, embora possa ter ocorrido episodicamente noutros tempos e lugares... E, pelo menos, até agora, ao fim de 13 anos de blogue (!), ninguém até agora teve a coragem ou a frontalidade de confessar que liquidou um prisioneiro no mato!... Nem era expectável que algum camarada nosso viesse, publicamente, confessar ter liquidado um prisioneiro ou um guia-prisioneiro, no mato, em operações, por sua iniciatuva ou por ordem hierárquica... Temos conhecimentos de alguns casos, mas que são contados "off record", nas nossas longas e inytermináveis conversas e inconfidências... Muitas dessas conversas e inconfidências morrerão connsosco... O blogue não é o confessionário do padre nem o divã do psiquiatra... Tentámos abrir uma série "O segredo de...", mas foi um fracasso, um desastre....
A época (natalícia) não ajuda nada à participação bloguística... Andamos já todos com o stresse natalício, com a lista das compras na cabeça e no bolso, com a claustrofobia dos centros comerciais, com a musiquinha do Pai Natal e das renas a azucrinar-nos de manhã à noite,,, E, os mais privilegiados, assoberbados com os preparativos para a passagem de ano no "bem bom" dos hoteis, cá dentro ou lá fora, nos "resorts" de luxo, com vista para o fogo de artifício... Afinal, só o fogo e que nos purifica, simbolicamente falando...
Queimemos mais um ano de vida, camaradas, que este ano já está a chegar ao fim!...
Os editores, tirando ilações da aparente fraca resposta a este inquérito (45 respostas contra as habituais 100 ou mais), prometem não vos maçar mais com estes passatempos bloguísticos, pelo menos até ao fim do ano... Esta é a boa notícia... (Não nos falte o bacalhau especial à mesa de Natal!)
A má notícia é a de que aí vem um novo ano, o ano de 2017...Como sói dizer-se o novo ano é sempre uma incógnita, uma "black box", uma "caixa negra", uma verdadeira caixinha de Pandora... Cuidado ao abrir!... Mas, como os nossos leitores já deram conta, os nossos editores, ou pelo menos eu, já começam a dar o tom festivaleiro da quadra natalícia...
Ontem como hoje, o Natal não se pode/não se podia contornar, adiar, protelar... Aqui é que não se pode mesmo fazer batota... Quem disse que o Natal é quando um homem quiser ? O tanas!... Por favor, não façam batota!... Desde que nascemos. o Natal é a noite de 24 para 25 de dezembro, e todos queremos lá estar, nessa noite mágica, bem vivinhos da costa, de boa saúde, e com muito sede e muito apetite... LG
Notas do editor:
(*) Vd .poste de 14 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (41): Maresias, Lisboa, Tejo, memórias, amnésias... Parte II: O Terreiro do Paço e a(s) cenografia(s) do poder
(**) Último poste da série > 2 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16793: Inquérito 'on line' (92): A "batota no mato": Nunca aprovei e não pratiquei a técnica do campismo"... (António J. Pereira da Costa, cor art ref)
2 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16790: Inquérito 'on line' (90): A "batota" que fazíamos (ou não....) quando em operações, no mato: a votação termina no domingo, dia 4, às 18h42... Só temos até hoje de manha 37 respostas, o que é pouco... Por lapso, não se incluiu a hipótese de resposta 19: "Não, não se fazia batota"...
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Notas do editor:
(*) Vd .poste de 14 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (41): Maresias, Lisboa, Tejo, memórias, amnésias... Parte II: O Terreiro do Paço e a(s) cenografia(s) do poder
(**) Último poste da série > 2 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16793: Inquérito 'on line' (92): A "batota no mato": Nunca aprovei e não pratiquei a técnica do campismo"... (António J. Pereira da Costa, cor art ref)
Vd. postes anteriores:
2 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16790: Inquérito 'on line' (90): A "batota" que fazíamos (ou não....) quando em operações, no mato: a votação termina no domingo, dia 4, às 18h42... Só temos até hoje de manha 37 respostas, o que é pouco... Por lapso, não se incluiu a hipótese de resposta 19: "Não, não se fazia batota"...