Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 21 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)
Foto: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Cor Pilav Ref)
Luís:
Para entrar na "fila de espera", envio-te este texto ligeirinho que, na minha óptica, embora não sendo escrito por nenhuma delas, me foi contado por uma das intervenientes, pelo que penso que talvez possas incluí-lo na série "As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas". Não gastes tudo de uma vez, que senão acabam-se-me as memórias...
(...) Embora eu goste de escolher os títulos dos meus textos, deixo ao teu critério a escolha do título para este trabalho, por recear que possa ser mal aceite aquele que eu escolhi. Embora eu tenha logo referido que este era um texto ligeirinho, um pouco 'revisteiro'....
Abraço. Miguel
2. As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (*) >
OS TOMATES DO CAPELÃO... E OUTRAS FRUTAS
por Miguel Pessoa
No meu tempo na Guiné, os tomates do capelão da BA12 eram muito cobiçados, muito por culpa das nossas enfermeiras pára-quedistas que, sempre que podiam, faziam uma colheita na horta que o padre A... mantinha junto à igreja da Base.
Era generalizada a opinião, entre quem deles se servia, de que os tomates do nosso capelão, embora pequenos, eram sumarentos e saborosos e enriqueciam qualquer salada. E sabe-se o gosto que o pessoal tinha por tudo o que lhe lembrasse a metrópole. E era vê-los a "deitar abaixo" uma saladinha feita com tomates fresquinhos, acabadinhos de apanhar...
É claro que o padre A... calculava perfeitamente quem eram os malandros (neste caso as malandras...) que lhe andavam a "derreter" a fruta, mas pactuava simpaticamente com a situação, dado ser por uma boa causa.
Mas não se ficava pelos tomates a razia que as enfermeiras pára-quedistas faziam na fruta da base. Para além da fruta que iam comprando ao responsável pela horta da Base, lá iam marchando de vez em quando uns limões, uma papaia, que o pessoal a alimentar era muito e de bom apetite.
Nem o cajueiro do Comandante escapava (do Comandante é um modo de dizer, que estava junto ao comando da Base), sendo que, um dia, havendo uma escada à mão, duas enfermeiras (de que não vou referir os nomes...) resolveram atacar o dito cujo. Estavam elas neste preparo, penduradas nos ramos altos, quando passa o Comandante da Base, com o seu séquito.
O facto é que o Comandante não reconheceu "as intrusas", pois se viam apenas as calças do camuflado, pelo que invectivou energicamente as duas "delinquentes", julgando que eram soldados da Polícia Aérea; e as duas no topo da árvore também não reconheceram a voz do Comandante, pelo que reagiram verbalmente em termos que não vou reproduzir aqui...
Tendo as partes procedido à identificação mútua, o incidente acabou por ficar sanado, pese embora o Comandante tenha prosseguido a sua viagem resmungado contra a lata daquele pessoal, sublinhado por um sorriso complacente dos militares que o acompanhavam.
Miguel Pessoa
3. Comentário de L.G.:
Miguel: Como tu me disseste ao telefone, e muito bem, de vez em quando temos que mudar de folhetim, de teleponto ou de registo, que isto de "sangue, suor e lágrimas" (sic) também chateia, cansa e até pode matar (o blogue, a nossa paciência, a pachorra dos nossos leitores ou seguidores)... E, nesse caso, nada como o humor de caserna, coisa que é muito própria, específica, única, como a própria expressão indica, dos militares da tropa...
O humor (talvez mais do que a sorte) é que protege os audazes... Que me perdoem os nossos camaradas dos comandos, se lhes estou a glosar a divisa Audaces fortuna juvat [A sorte protege os audazes].
O humor (temperado q.b., com uísque e água de Perrier) era, na Guiné, o nosso talismã, a nossa mezinha, o nosso amuleto mágico, contra as balas de amigos e inimigos, contra a costureirinha, contra a Kalash, contra o RPG, contra o Strela, contra o tédio, contra o desânimo, contra o medo, contra a desesperança dos dias, contra as abelhas, contra os mosquitos, contra o cozinheiro, contra o vagomestre, contra o sargento, contra o RDM, contra o capitão, contra o comandante, contra o Com-Chefe, contra Deus e o Diabo...
Temos, na Tabanca Grande, alguns seguidores deste deus menor do Olimpo. Convenhamos que o género não é fácil, é preciso talento para não cair na grosseria, na boçalidade, na alarvice, registos com que muitas vezes, mas injustamente, se confunde o humor de caserna... com a linguagem do carroceiro... ou de alguns instrutores que tivemos na recruta!... ("O instruendo não mexe nem que lhe passe um c... pela boca!).
Grande cultivador do género (humor de caserna) é o nosso Jorge Cabral a quem nunca, por nunca, ouvi dizer um palavrão, tanto lá como cá. Em contrapartida, eu que era um menino de coro passei a falar pior do que o carroceiro e o meu instrutor da tropa...
Tudo isto para te dizer que os tomates do quintal do capelão, surripiados pelas nossas queridas enfermeiras pára-quedistas, é uma história de cinco estrelas, que merece figurar numa próxima antologia do nosso humor bloguístico... Obrigado, a ti e à tua fonte... presumivelmente transmontana.
PS 1 - Convenhamos que há um humor de género... Isto é, o sentido de humor de homens e mulheres pode diferir... Não rimos da mesma maneira, nem pelos mesmos motivos... Não rimos das mesmas anedotas. De homens e mulheres militares, não sei, que eu na tropa só convivi com machos... De qualquer modo, acho que elas usam mais a inteligência emocional...
PS 2 - Quem se lembraria dos tomates do capelão ? Esta história, se lhe quiserem pôr alguma brejeirice, malícia ou picante - mas com elevação e elegância... - só podia nascer da cabecinha das nossas meninas, que, como sabem, eram originalmente enfermeiras civis, tendo entrado para a Força Aérea como militares graduadas (nem me perguntem qual é a diferença)... Por outro lado, para ter tomates e outros hortícolas, o nosso capelão sabia da poda, era de origem rural ou camponesa... Saber trabalhar uma horta não é para todos/as...
PS3 - Já quanto aos machos, a história pode ter outra leitura, a que é completamente alheio o autor que, pelas provas já dadas, é incapaz de, em condições normais, de dizer uma palavrão.
PS4 - É que, caros camaradas da Guiné, não podemos esquecer que, na nossa língua, o vocábulo tomate tem, no plural, uma conotação, um significado vernáculo; não se trata só dos frutos do tomateiro, como também dos testículos... que até são, no sul do país, um petisco muito apreciado, uma especialidade gastronómica (túbaros ou tomates de carneiro, por exemplo)...
PS5 - Como dizem os lexicógrafos, tomates (no plural) é um tabuísmo ("palavra, locução ou acepção tabus, consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas de maioria na maioria dos contextos")... Ou em termos mais simples, são os nossos palavrões... que por pudor só escrevemos, em público, por iniciais seguidas de três pontinhos (f... da p..., por exemplo).
PS6 - Não é (não foi) preciso pôr uma bolinha ao canto superior do poste, como fazem os senhores e as senhoras da nossa televisão (pública)... Mas se fosse preciso fazer um aviso ao público, poderia rezar assim: Avisa-se o respeitável público que nos lê (e vê) que a palavra "tomates do capelão" só quer dizer isso mesmo, os frutos do tomateiro que existe (ou existia) no quintal ou jardim do capelão...
PS7 - Espero que o Miguel, o capelão, as senhoras enfermeiras pára-quedistas e os demais camaradas que passaram pela BA 12, em Bissalanaca, me perdoem o excesso de explicações e o consequente abuso...do tempo de antena do editor. Mas se quiserem comentar a história (o texto e o contexto), façam favor, que o autor gosta e os editores apreciam...
PS8 - Já não era sem tempo: temos finalmente a nossa Força Aérea, no nosso blogue, a voar alto, valorosa e garbosa, por cima das nossas tropas, quer eu dizer, das nossas cabeças... Era bom que agora também aparecessem, com mais assiduidade, os furtivos fuzos e marinheiros... Para compor o ramalhete das NT...
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Nota de L.G.:
(*) Vd. postes da série As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas:
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3931: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (2): Elementos para a sua história (1961-1974) (Cor Manuel A. Bernardo)
28 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)
7 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3994: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4): Uma civil, e transmontana de Sabrosa, na tropa (Giselda Pessoa)
8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher
14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)
Guiné 63/74 - P4064: Humor de caserna (8): O Silva cagou-se (António Matos)
Caro Luís Graça,
se achares graça à estória, pois que faça parte do acervo deste nosso blog.
Um abraço,
António
O Silva cagou-se...
Como se torna saboroso recordar estórias daquele tempo...
Como é gratificante podermos contar na primeira pessoa uma aventura ou retrato da vida dum militar compulsivamente transformado em combatente pela integridade física que queria preservar por achar cedo morrer por causa alheia...
Como é ridiculamente transtornante pensarmos que uma linha muito ténue separou a alegria e o ímpeto da vida, do estoiro duma bala no crâneo...
Como é infantil o facto de um traque deixado sair ao sabor dum momento de extremo stress podia ter ocasionado uma tragédia de contornos difíceis de contabilizar...
Como é difícil imaginar a mágoa que hoje podia assoberbar as mentes de pais extremosos que recordavam filhos caídos numa guerra...
A estória que vos venho relatar tem a ver com uma passada nos Açores aquando da formação da Companhia 2790, num exercício preparatório da realidade ultramarina, mas que teve a versão real mais tarde, em plena Guiné, aquando duma Operação ao Choquemone.
Estávamos nos Arrifes, em 1970.
Fazíamos uma progressão em direcção a um determinado objectivo que pretendíamos tomar.
Deslocávamo-nos em formação de um Grupo de Combate.
O treino consistia numa deslocação silenciosa tendo em vista a tomada dum objectivo sem que o inimigo, por perto, nos localizasse.
O terreno era pródigo em material estaladiço sob a pressão dos pés em andamento pelo que as instruções iam no sentido de não se fazerem ouvir as consequências dos constantes crache-crache que iam acontecendo.
A conclusão seria confrontar os soldados com um cenário de guerra onde a referenciação das nossas tropas podia transformar-se numa carnificina.
Tudo corria bem.
Os soldados interiorizavam o exercício...
A páginas tantas, um soldado protagonizava uma cena de descontrolo gástrico que se evidenciou numa hilariante e ruidosa situação provocada por um flato intestinal - o Silva cagou-se!
É por demais desnecessário recordar a cena que, do ponto de vista pedagógico, serviu de emenda a quantos a temeram.
No silêncio da noite e perante a ânsia de chegarmos a local seguro após uma Operação no TO da Guiné, éramos confrontados com o insólito duma descarga de gás intestinal em estado de grande tensão por parte dum soldado, que teve como efeito a perca de qualquer concentração defensiva para se transformar na mais estridente das gargalhadas colectivas jamais ouvidas...
O Silva cagou-se e, a partir daí, foi cognominado de Silva Cagão!
Tudo acabou em bem uma vez que ou o inimigo não se encontrava por ali ou, atacado por idêntico estado de euforia, não teria tido capacidade de reacção.
Nunca mais o Silva se livrou do apelido.
Justiça seja feita. O Silva, verdadeiro sósia do John Wayne, viria mais tarde a ser um dos grandes heróis desconhecidos da guerra do ultramar ao afrontar, de peito feito às balas, um conjunto de malfeitores maltrapilhos que emboscaram o Pelotão, mas que viram nesse Homem e na sua coragem a impossibilidade de darem o grito do Ipiranga sem que levassem para casa a marca da sua pontaria e sangue frio.
Como açoreano e eventualmente imigrado nas terras do tio Sam, jamais o localizei.
Lamento.
António Matos
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3567: Humor de caserna (7): O Pastilhas e a bajuda (Gabriel Gonçalves, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)
Guiné 63/74 - P4063: Em busca de... (67): Celestino Júlio Coelho Monteiro, ex-combatente na Guiné nos anos de 1969/70 (João Bénard Garcia)
Boa noite Luís,
Estive a pesquisar o seu blogue à procura de um ex-combatente na Guiné e não consegui encontrá-lo. Creio que me poderá ajudar embora me faltem alguns dados para o localizar.
Chamo-me João Bénard Garcia e sou jornalista do 24horas.
Falei há umas semanas com o senhor Celestino Júlio Coelho Monteiro, que tem agora 66 anos (teria na altura 26/27 anos) e que me disse ter estado na Guiné entre 1969 e 1970 e que saiu de lá quando chegou o Marechal Spínola. Ele não me disse em que companhia combateu, apenas que esteve no interior da Guiné onde, usando palavras suas, “a guerra era do piorio”.
Desde a altura em que falei com ele nunca mais consegui que me voltasse a atender o telefone. Tenho necessidade urgente em contactá-lo ou falar com camaradas da companhia que se reunam em convívios.
Decidi recorrer a si depois de ter dado voltas e mais voltas na internet e depois de ter contactado a Liga dos Combatentes e a Associação de Veteranos de Guerra. Devo ter tido azar mas ninguém atendeu o telefone.
Se acha que me pode ajudar, por favor envie-me um e-mail com os seus contactos que responderei de volta.
Despeço-me, agradecendo desde já a atenção,
Cumprimentos,
João Bénard Garcia
213306411
914991383
joao.a.garcia@24horas.com.pt
jobegarcia@gmail.com
2. Hoje mesmo foi enviado este mail à Tertúlia pedindo ajuda para encontar este nosso camarada:
Camaradas e Amigos Tertulianos
Contactou-nos João Bénard Garcia, Jornalista do Jornal 24 Horas, pedindo ajuda para encontrar um camarada nosso de nome Celestino Júlio Coelho Monteiro, que deve ter estado na Guiné nos anos de 1969/70.
Peço a todos e especialmente aos suspeitos do costume uma pista para encontrar este nosso camarada.
Um abraço e votos de bom fim de semana.
Carlos Vinhal
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Nota de CV
Vd. último poste da série de 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3877: Em busca de... (66): Sérgio Nuno procura camaradas de seu pai, da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, Guiné 1967/69
Guiné 63/74 - P4062: Meu pai, meu velho, meu camarada (3): No Dia Mundial da Poesia (António Graça de Abreu)
Foto: © António Graça de Abreu / Universitária Poesia (2001). Direitos reservados
1. No Dia Mundial da Poesia, 21 de Março, por que não ir buscar um dos nossos e homenagear a nossa poesia, a nossa língua, as nossas raízes... a começar pelos nossos pais (*)?
O António Graça de Abreu, desde que regressou, em 1974, da Guiné e da África, descobriu outro continente e outro país, a China, onde há uma civilização milenar que respeita e cultiva a memória dos mais velhos...
Sem o seu conhecimento (e a sua autorização formal), mas seguramente com a sua cumplicidade de amigo e camarada, vou aqui repescar um belíssimo poema, com um mix (muito dele, António) da nostalgia chinesa e da saudade portuguesa, que escreveu ao pai, quando este chegou ao fim da sua viagem terrena.
É do livro China de Seda (2001), dedicado ao seu filho Pedro, um lusochinês, da idade do meu João... O António tive a gentileza de me oferecer um exemplar com a seguinte dedicatória: "Ao Luís Graça, ainda, sempre mais China, com a admiração e a amizade do António Graça de Abreu. Estoril, Março de 2007".
Meu pai de regresso ao vazio
Não mais pequenos prazeres no declinar dos anos,
almoçar por aí, circundar montes,
palavras, sonhos gastos, mil histórias,
os dias sem fortuna, ainda menias a florir.
Concluída a viagem,
tens agora por espaço, todo o tempo.
Lágrimas por te ver partir,
de regresso à imensidão do vazio
entre ciprestes, muros brancos,
lages, flores, silêncio.
Reencontrar-nos-emos um dia,
por certo, sob a terra fria,
ou talvez ao sol, no céu,
almoçando numa nuvem.
António Graça de Abreu
China de Seda.
Lisboa: Universitária Poesia.
2001. p. 26
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Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores da série Meu pai, meu velho, meu camarada:
20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)
21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4060: Meu pai, meu velho, meu camarada (2): Militar de carreira, herói da 1ª Grande Guerra, saiu do RAP 2 como eu (David Guimarães)
Guiné 63/74 - P4061: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (3): Do Trópico de Câncer à Mauritânia (2.ª Parte)
Fotos: © José Manuel Lopes (2009). Direitos reservados.
1. Continuação da publicação do diário de bordo do nosso camarada e amigo José Manuel Lopes, ex- Fur Mil, CART 6250, > CART 6250 , Os Unidos de Mampatá (Mampatá, 1972/74)
24 de Fevereiro
Às 9 horas estamos de partida, percorridos apenas 12 Kms uma paragem num controle, mais um “cadeau”, logo a seguir aos 16 Km.s outra paragem, na travessia da Mauritânia foram, nada mais nada menos que 15 em 561 Kms. Ao km 495 após Nouadhibou, passamos por Nouakchott a capital da Mauritanea, seguindo logo em direcção à fronteira com o Senegal, pois o objectivo era ir ficar a St. Louis. Para evitar a travessia do rio em Rosso, onde a burocracia da passagem é muito complicada, tivemos de fazer um desvio de mais 100 Kms numa estrada de terra muito difícil e já de noite. Controlados na fronteira em Djama seguimos até St Loius para o Niji Hotel Souwo, o grupo separou-se indo os de Coimbra jantar a casa de um comerciante português, depois de uma cena caricata em que o sujeito nos tentava despachar (ao grupo de Matosinhos), e lá se foi o jantar surpresa anunciado em Coimbra.. A malta de Matosinhos jantou muito bem num restaurante ali ao lado servidos por 3 bonitas emigrantes da Guiné Conakry, simpáticas e eficientes. St. Louis é uma cidade bonita com um movimento muito intenso, constituída por uma ilha e um istmo aos quais se chega por duas bonitas pontes provavelmente da autoria de Eiffel, muito semelhantes às que existem no Porto, na Régua e no Pinhão. A cidade tem uma actividade piscatória muito grande e pela quantidade de camiões deve fornecer peixe para todo o Senegal e países vizinhos.
Percorridos 854 Kms
25 de Fevereiro
Logo pela manha saímos de St. Loius, mas já o transito era muito intenso. Depois da travessia das pontes, houve que trocar Euros por CFAS, na proporção de 1€ por 650 CFAS, atestar as viaturas e andar que já se fazia tarde. A paisagem ia mudando, mais vegetação, mais gente e mais povoações, andados 73 Kms passamos por Louga, aos 196 Kms Thies uma grande cidade a visitar com tempo, andados 272 Kms Diourbel, depois Kaulach após 336 e finalmente Tambacounda com 654 Kms percorridos após St. Louis. A viagem foi mais longa pois contornamos a Gambia, mas a estrada estava em construção e o caminho paralelo estava lastimoso. Por breves períodos na parte final íamos pela estrada já construída, mas estava impedida frequentemente por barreiras de arvores, havia que descer o talude até à estrada lateral, por vezes com algum risco. Chegamos já de noite a Tambacounda. Neste percurso se passou um episódio desagradável. Um militar demasiado zeloso pretendeu multar duas viaturas que ao desviar-se duma vaca que atravessava a estrada, pisaram o risco continuo, numa recta enorme que atravessava uma povoação. Irregularidade feita a pequena velocidade (20 a 30 Kms/hora), mas o senhor estava irredutível e não recuava nas suas pretensões. O Santos protestava, em sua ajuda aproxima-se o condutor do Nissan e deita a culpa para a vaca, e a vaca era mesmo culpada, atravessou sem dar cavaco a ninguém onde não havia passadeira, numa estrada feita para carros e ela nem ia a puxar carroça.
O militar estava intransigente e alguém diz “isto é uma merda” em português, sem se lembrar que merda em francês é muito parecido. O militar toma-se de brios confisca as cartas dos condutores e o caldo está entornado. Então aparece o António, Guineense radicado em Coimbra, que foi de uma utilidade extrema, e com paciência fala suponho que em Fula com o militar e muito diplomaticamente resolve o conflito. António tem a família em Buba para irá com o grupo de Mampata. Pessoa afável, bom companheiro e com quem trocamos impressões sobre a Guiné, as suas potencialidades na agricultura e no turismo.
A Guiné precisa de investidores e mais Antónios e muita paz, para trilhar o caminho certo.
Percorridos 654 Kms
26 de Fevereiro
Estamos perto da Guiné Bissau, mais precisamente a 200 Kms da fronteira e depois serão 235 até Bissau. A ansiedade nos “periquitos” é enorme e a vontade de partir até Pirada ainda maior. Na fronteira da parte do Senegal enquanto esperávamos metemos conversa com alguns Senegaleses, falavam português e um deles conhecia Lisboa e tinha vivido 10 anos em Nova York. Simpáticos e conversadores, ainda se tornaram mais afáveis quando lhes dissemos que éramos ex- combatentes e o que nos trouxe até à Guiné. Não foi difícil esta ultima fronteira e em Pirada os militares foram muito simpáticos, um deles acompanhou-nos até Bissau. De Pirada seguimos para Gabu (ex Nova Lamego), depois Bafatá que a malta dos Unidos não conhecia, pois apenas estivemos em Bolama e depois no Sul em Mampata Forrea. Bafatá é uma cidade bonita, mas em mau estado de conservação. A estrada é boa e a viagem segue até Bambadinca, Conturé, Matu Cão, Porto Cole, Mansoa, Nhacra e depois Bissau. Parece muito maior a cidade, mas algumas ruas estão muito más, nem sei como dizer, se são alcatrão com buracos, ou buracos com alcatrão. Vamos almoçar a um restaurante dum português de Campanhã na rua da Pensão Coimbra, local muito agradável e de boa comida. Nota-se a presença de muitos portugueses e encontro um Reguense de Alvações. Os vendedores ambulantes são mais que muitos. Depois do almoço vamos até João Landim onde ficaremos dois dias antes de partir rumo à “nossa” terra Mampatá. Gostava de encontrar Bissau melhor, mais asseada e limpa, estou confiante que as novas gerações se houver mais Antónios vão melhorar o aspecto da cidade. De Bissau para João Landim também há um controle militar. È agradável o local onde vamos ficar, com várias casas de um dois e quatro quartos, uma sala para almoços e uma piscina. Depois de um banho está na hora de jantar, o que fazemos nesta unidade hoteleira de João Landim.
Foram percorridos desde a Covilhã 5.725 Kms. Portugal, Espanha, Marrocos, Mauritânia, Senegal (contornamos a Gambia) e Guiné Bissau.
Depois de jantar alguns foram até Bissau, a maioria preferiu recuperar da viagem e deixar para o outro dia a visita à capital.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4034: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (2): Do Trópico de Câncer à Mauritânia
Guiné 63/74 - P4060: Meu pai, meu velho, meu camarada (2): Militar de carreira, herói da 1ª Grande Guerra, saiu do RAP 2 como eu (David Guimarães)
Fui agora recuperar um texto, já com quase 4 anos (!), do David Guimarães, o nº 3 (em termos de antiguidade) da nossa Tabanca Grande (originalmente, Tertúlia)...
Recorde-se que o David Guimarães (ex-Fur Mil At Atilharia e Minas, Xitole, sede da CART 2716 / BART 2917, 1970/73), vive em Espinho, é funcionário da Segurança Social, reformado, e membro do Grupo de Fado de Coimbra do Choupal até à Lapa. (Na foto acima, vêmo-lo, no Xitole, a partir mantenhas com a Helena).
O RAP 2 (Gaia) fez parte da minha família (**)
por David Guimarães
Sempre me preocupei, durante a guerra, em contar cá para a Metrópole (era assim que então se dizia) não propriamente as peripécias da nossa vida militar mas as coisas mais belas que encontrava na Guiné: os mangueiros carregados de mangas, os milhares de morcegos que povoavam o céu ao escurecer e ao amanhecer e que dormiam nas árvores, os macacos, as galinhas de mato, etc.
Eu achava que deveria poupar a minha família e que esta não teria que ouvir e até viver a guerra em directo: bastava para isso o sofrimento de saber que eu andava por lá...
Foi assim que eu senti e vivi a guerra. Lembro-me um dia, quando alguém me disse:
- Guimarães, este batalhão vai para a Guiné - ... Ainda estávamos no RAP 2 em Gaia. E eu exclamei:
- Ainda bem, é a província mais próxima de Portugal para vir de férias...
Não será aqui o sítio certo para falar do RAP 2. Mas na minha vida pessoal foi um marco importante. Foi de lá que foi mobilizado o meu pai, militar de carreira, para ir servir em França… na 1ª Grande Guerra (Ele nasceu em 1893 e eu nasci quando ele tinha 54). É de lá mobilizado o meu irmão que parte, com o BART 525, para Angola e sou eu mobilizado, no BART 2917, para servir na Guiné...
Ironias do destino ou coincidências de graus de parentesco... É que, entre o meu irmão e o meu pai, também é mobilizado para África um primo meu, em 1º grau. Não há dúvida, aquele Regimento entrou na nossa casa, muito antes de eu ter nascido... Se fosse isto um romance serviria para dizer que a minha existência como que começou ali. Mas isto é outra história que, não sendo menos curiosa, não vem agora a propósito...
Não pensem que há algum anacronismo quando eu refiro que o meu pai foi mobilizado, pelo RAP 2, para servir a Pátria, em França, em 1917... O meu pai nasceu em 1893 e eu em 1947, o que quer dizer que nos separam 54 anos... 2º Sargento de Artilharia de Campanha, segue para França, integrado no Corpo expedicionário, comandado pelo General Gomes da Costa.
Como mera curiosidade, sou eu que tenho a caderneta militar e as condecorações de meu pai: guardo com toda a estima sete medalhas, sendo uma delas a da Vitória... Por outro lado, e como sabem, nós estivemos na 1ª Guerra Mundial e não na 2ª.
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Notas de L.G.:
(*) 10 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIX: Estórias do Xitole: 'Com minas e armadilhas, só te enganas um vez' (David Guimarães)
(**) Vd. poste de 20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)
sexta-feira, 20 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)
Casou com a Maria da Graça (n. 1922), em 2 de Fevereiro de 1946. Em 29 de Janeiro de 1947, tiveram o primeiro rebento (foto à direita)... Aqui estou eu, om oito meses, ao colo da minha mãe, e ao lado do meu pai, Lourinhã, Jardim da Nossa Senhora dos Anjos, Setembro de 1947
Memórias de Cabo Verde (1941/43)
Luís Henriques: Nascido em 1920, na Lourinhã, 1º cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, Batalhão do Regimento de Infantaria nº 5, expedicionário em Cabo Verde, na Ilha de São Vicente, cidade do Mindelo, de 1941 a 1943.
Se bo ta moda um tracolança
'M ca sabê
Se bo vida ta na balança
'M ca e culpode
VELOCIDADE / Cesária Évora
E m'dojr bo caba q'ues esparate
Pa ca ba pobe nome d'velocidade (2 vezes)
Oia q'ma tude cosa forte
Um dia ta t'chega na fim
Se bo ta moda um tracolança
'M ca sabê (2 vezes)
Se bo vida ta na balança
'M ca e culpode
Ja'l soma ta bem ta treme
Q'tude se vaidade estilusinha (2 vezes)
Ele ca t'ma fe na ques desgraçode
Q'tava traz d'quel esquina ta guital
Se bo ta moda um tracolança (...)
Instrumental de clarinete
Se bo ta moda um tracolança (...)
Ja'l soma ta bem ta treme. . .
Se bo ta moda um tracolanca...
1. Meu pai, meu velho, meu camarada:
Ontem, 19 de Março, dia do pai, a escassos meses de fazeres 89 anos, já no ocaso da tua vida, quis-te fazer uma singela homenagem, recuperando alguns escritos e fotos das tuas memórias de Cabo Verde, 1941/43 (*). Tenho consciência de que o nosso relógio biológico não nos permite adiar para as calendas gregas estas conversas de pais-filhos. Quando éramos mais novos, não tínhamos tempo nem pachorra para confidências e sobretudo para revisitarmos o passado. Agora, temos mais paz e sobretudo mais sabedoria e cumplicidade.
Eu próprio, vasculhando em tempos o baú das minhas memórias (físicas) da guerra colonial, acabei por deparar com as velhas fotografias, amarelas, riscadas, rasgadas, amarrotadas, algumas delas já irrecuperáveis, do teu tempo de expedicionário em Cabo Verde. Começa por aqui o meu interesse por esse tempo em que eras jovem e foste chamado a cumprir o teu dever para com a Pátria.
Por ironia do destino, também tu fizeste a tua tropa no Ultramar, em plena II Guerra Mundial, como muitos outros jovens da tua geração. Vinte e oito anos depois, eu seguirei as tuas peugadas, passarei ao largo de Cabo Verde e irei desembarcar em Bissau, em finais de Maio de 1969. E, já agora, deixa-me dizer-te quanto me penitencia o facto de nunca de ter escrito uma simples carta ou aerograma a dizer-te: "Meu camarada...". Nunca te chamei camarada!
Já as conhecia, de puto, a essas velhas fotos. Conheci-as, de cor e salteado, de tanto ter desfolheado o album, de capa preta, com papel transparente para as proteger. SE queres que te diga, esse álbum de fotografias foi para mim um janela para o mundo. Foi-se progressivamente desconjuntando, até desaparecer. Não sei como algumas das fotos sobreviveram mais de sessenta anos. Uma boa parte acabou por se perder, com muita pena minha, que hoje lhe dou outro valor.
Alfragide, em minha casa > 1º trimestre de 2008 > Aos 88 anos, Luís Henriques fala da sua estadia no Mindelo, como expedicionário, no tempo da II Guerra Mundial... Uma fala espontânea, genuína, sincera, singela, ingénua, sem quaisquer preocupações com o politicamente correcto... Vídeo não editado. É uma conversa... a três: avô, filho e neto... Em fundo, surgem vozes femininas, chamando para o jantar: a neta, a nora...
Vídeo (8' 21''): © Luís Graça (2008). Direitos Reservados (Alojado no You Tube > Nhabijoes. )
Nunca entendi, em puto, o significado dessas fotos do teu álbum. Que fazias tu, que faziam aqueles homens numa terra distante, numa ilha careca, sem árvores nem bichos, aonde se chegava por mar, em grandes barcos que levavam magotes de gente ? Uma terra onde não chovia e a fome matava a pobre gente que lá vivia ou vegetava!... Foi mais tarde, ao ler a Hora di Bai, do Manuel Ferreira (1917-1992), expedicionário como tu (entre 1941 e 1947), que eu soube dessa tragédia imensa, a fome que assolou, nos anos 40, São Nicolau, São Vicente e outras ilhas do arquipélago.
Foto (à esquerda) > Legenda > No verso da foto:
"O Paquete Mouzinho. Oferecido pelo meu amigo José B. Lourenço no dia em que o fui visitar ao Hospital em São Vicente. 26 de Julho de 1942. Luís Henriques,(...) em S. Vicente, C. Verde".
Dá-me uma certa nostalgia, pai, quando revejo as tuas velhas fotos, de ti, expedicionário (que palavrão!), em Cabo Verde, na Ilha de São Vicente, durante a II Guerra Mundial (1941/43). É que elas também fazem parte do meu imaginário de criança.
O fascínio que tenho pelo mar e pelas ilhas vem também muito provavelmente deste contacto precoce com Cabo Verde, que de resto só conheço por imagens: minto, estive uma hora ou duas no avião da TAP Lisboa-Bissau, quando regressei de férias, da minha comissão militar na Guiné, em paragem técnica, no aeroporto do Sal... Julgo que nem sequer descemos do avião. A única imagem com que fiquei da ilha foi... a de um cabra a roer sacos de plástico junto do arame farpado do aeroposto!
Foto (à esquerda) > Legenda no verso da foto:" No dia 11 de Abril chegaram estes dois barcos hospitais italianos ao porto de S. Vicente para irem fazer troca de prisioneiros e doentes com os ingleses. 1942. Luís Henriques".
A minha geração, a da guerra colonial (1961-1974), a que viveu e lutou duramente em Angola, Moçambique e Guiné, tem tendência a ignorar ou a esquecer a geração anterior, a de seus pais, que, em nome da Pátria, também foi mobilizada para os mais diversos sítios dos nossos territórios ultramarinos. Os sacrifícios que eles fizeram foram enormes: não poucos morreram, por motivo de doença; e outros terão ficado com a saúde arruinada.
É certo que os soldados da tua geração, pai, não estiveram directamente em guerra (excepto em Timor, ocupada pelos japoneses), mas os expedicionários (como então se chamavam) sofreram o pesadelo da II Guerra Mundial. Sei muito pouco da história político-militar dessa época, mas em Cabo Verde chegou a temer-se a invasão dos alemães, dado o valor estratégico do arquipélago, à semelhança do arquipélago dos Açores, cobiçado pelos aliados. Quantas vezes me falavas disso, meu velho, dos espiões, alemães, italianos, ingleses..., que por lá havia.
Legenda da foto à esquerda: No verso da foto, lê-se:
"23/7/1941. Chegada ao 1º Batalhão Expedicionário do R.I. nº 5 a São Vicente, Cabo Verde. Na fotografia estou eu com alguns camaradas da minha companhia. No porto do Mindelo fomos entusiasticamente recebidos. Luís Henriques".
Reproduzo aqui um testemunho, publicado pelo Diário de Notícias, no âmbito da celebração do 60º aniversário do fim da II Guerra Mundial, da capitulação da Alemanha nazi, a 8 de Maio de 1945. Um dia em que tudo pareceu possível... , até no Portugal de Salazar.
Aproveito para inserir aqui mais algumas fotos, recuperadas e digitalizadas, do teu/nosso velho álbum, devidamente anotadas e datadas, com a tua bonita letra, pai, e às vezes a tinta verde (eu sei que eras tu quem escrevia as cartas para as namoradas dos teus camaradas que eram analfabetos, às vezes vinte e tal ou mais por semana).
Foto à esquerda > Legenda > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >
"O belo porto de mar de São Vicente; ao centro o ilhéu que se confunde com um barco. Outubro de 1941". Luís Henriques (ex-1º Cabo nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5, que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, no Lazareto, 1941/43).
"Viver em Cabo Verde à espera da invasão" . Diário de Notícias. 14 de Abril de 2005.
"Eles eram missionários, homens com uma missão de paz e não de guerra. O seu objectivo era defender Cabo Verde de uma possível invasão alemã durante a II Guerra Mundial." A história de um desses soldados, António Gavina, do corpo expedicionário do Regimento de Infantaria 11, de Setúbal, é contada pela sua filha, Vanda Gavina.
"O meu pai devia ter vinte e poucos anos quando foi para a ilha do Sal. Acabou por ficar lá durante quase quatro anos", recorda. Os pormenores da passagem do pai pelo arquipélago de Cabo Verde já começam a ser esquecidos, mas uma coisa ficará para sempre na sua memória "Eles não passavam fome, mas viviam em muitas dificuldades, com muitas restrições."
Foto (à esquerda) > Legenda no verso da foto:
"Posição das peças anti-áereas no Monte Socego, São Vicente, Cabo Verde. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura [,natural da Lourinhã,] em 21/3/43. Luís Henriques".
"Os anos da II Guerra Mundial foram anos de seca nas ilhas do Atlântico. A comida não abundava e os soldados alimentavam-se com aquilo que podiam. As recordações desse tempo deixaram marcas em António Gavina. "O meu pai nunca mais comeu percebes na vida. Tudo porque em Cabo Verde viu um dos habitantes locais morrer quando os tentava apanhar", referiu Vanda Gavina.
"Outro dos problemas que o regimento teve de enfrentar foram as doenças. "Lembro-me de o meu pai contar que houve muitos colegas que morreram devido a alguns surtos de doenças que afectaram os homens da companhia."
Cabo Verde > São Vicente > Legenda:
" As peças antiaéreas do Monte Sossego [monte sobranceiro a João Ribeiro, pelas indicações que o meu pai me dá; também havia artilharia contra-costa]. Fotografia oferecido pelo meu amigo Boaventura em 21/7(?)/43 em Mindelo. S. Vicente. Luís H. ".
Segundo a informação que me deste em tempo, meu pai, esta peça, depois de montada, só ao fim de seis meses é que poderia ser usada... Em Janeiro de 1942, a ilha foi sobrevoada por um avião não identificado (possivelmente alemão) e esta anti-aérea ainda não estava montada. Houve alarme geral... O pelotão dele (o 1º da 3ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 5) foi destacado, por uns dias, para o Calhau...
Foto (à esquerda) > Legenda:
Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > "O pôr do sol em São Vicente. O célebre Monte da Cara... E o lindo porto do mar que parece adormecido. Maio de 1963. São Vicente. Luís [Henriques] ".´
"Em 1939, pouco antes do início da II Guerra, Portugal autorizou o Governo de Benito Mussolini a construir um aeroporto na ilha do Sal, para servir de ligação com os países da América do Sul. Com o início do conflito, o projecto italiano, com casas prefabricadas, foi abandonado. Enquanto aguardavam a invasão alemã, que não chegou, os soldados portugueses ajudavam à criação de melhores condições de vida. "Eles ajudaram a construir habitações, não só para eles mas também para os cabo-verdianos", lembra Vanda Gavina.
Sodade de Son Vicente e do Mindelo
Embora não conhecendo as ilhas (como já disse, estive uma escassa hora ou duas no Sal, em paragem técnica do avião que me trouxe de férias, de Bissau a Lisboa, em 1970), prendem-me laços de afectividade a São Vicente e à cidade do Mindelo. Ou, no mínimo, memórias de infância.
Fo (à esquerda) > Legenda no verso da foto:
"O Palácio do Governador de Cabo Verde, situado em Mindelo, [Ilha de] São Vicente. Luís Henriques. 1 de Maio de 1942".
Lembras-te, meu velho ? Falavas-me (e ainda falas hoje, vd. vídeo acima) da ilha e da sua gente com ternura, saudade e compaixão. Felizmente está vivo. Tenho aqui vindo a reproduzir algumas das fotos do seu tempo, que possam ter algum valor documental, apesar da fraca qualidade da imagem (a digitalização foi feita sobre cópias em formato reduzido e em muito mau estado).
Mindelo, hoje a 2ª segunda cidade de Cabo Verde, é, além disso, a terra natal, entre muitos outros artistas, do (i) maior compositor de mornas de Cabo verde, de seu nome (artístico) B.Leza (injustamente esquecido, comemoru-se e a 3 de Dezembro de 2005, o seu 1º centenário de nascimento), além da (ii) grande Cesária Évora.
Foto (à esquerda) > Legenda no verso da foto (a tinta verde, já quase ilegível):´
"Dançando o batuque (sic) na Ribeira de São João, no dia de São João , no interior (?) de São Vicente. Luís Henriques. 24/6/1943".
A festa de São João Baptista Baptista era então (e continua a ser) uma das festividades maiores das Ilhas e da comunidade cabo-verdiana da diáspora.
Amílcar Cabral, embora nascido em Bafatá (1924), de pais caboverdeanos, regressou à terra dos seus antepassados em 1932, e completou no Mindelo o Curso Liceal, em 1943. Era quatro anos mais novo do que tu, meu pai. A guerra de libertação da Guiné terá começado a germinar, enquanto ideia, no Liceu do Mindelo. Não sei, é uma mera hipótese a ser explorada pelos biógrafos de Amílcar Cabral e demais historiadores da guerra colonial. Agora é possível até que se tenha cruzado no Mindelo.
Os mortos e os esquecidos do Império
Cabo Verde > São Vicente > Legenda:
"Hábito de São Vicente. Pisando o milho num almofariz para depois fazerem a cachupa. São Vicente. Maio de 1943 (?). Luís Henriques"
Foram anos muito difíceis para o povo caboverdiano e, em especial, para os mindelenses. Mas também não foram fáceis para os expedicionários portugueses cuja missão, na ilha de São Vicente, era defendê-la de um eventual ataque quer das potências do Eixo (em particular a Alemanha) quer dos Aliados (e em especial a Inglaterra).
As dificuldades eram muitas para o pessoal expedicionário. A alimentação era má e pouco ou nada variada: "Massa com feijão ao almoço; feijão com massa ao jantar". A morbimortalidae elevada (tuberculose, febres intestinais, doenças venéreas...), fazendo jus à frase que ele memorizou e que estava na parede do fotógrafo no Mindelo: "Ouro, seda, vaidade, podridão / No cemitério, igualdade / Mas debaixo do chão"...
A tropa, em S. Vicente, não teria muito que fazer, paa além de uns exercícios de manutenção de homens e material. Uma das actividades favorias dos militares portugueses era a praia e o mergulho.
Foto (à esquerda) > Legenda:
"Tubarão das águas de S. Vicente, apanhado em Junho de 1942. Luis Henriques".
O meu pai, nascido à beira-mar, filho, neto e bisneto de gente ligada ao mar, adorava nadar e fazer mergulho, mas tinha medo dos tubarões... Há várias fotos de tubarões apanhados ao largo da ilha. Todavia, os ataques a seres humanos não seria muito frequente, embora ele ainda hoje me conte estórias de tubarões que arrancaram pernas e deixaram marcas de dentes no corpo de alguns incautos...
Muitos soldados portugueses morreram lá, de tuberculose, de doença, de desnutrição, de solidão, de saudade. Os seus restos mortais ficaram, para sempre, longe de casa, da terra natal, da Pátria.
São os mortos e os esquecidos do Império. Uma saga que durou cinco séculos, e que atravessou a minha própria família do lado paterno: a minha bisavó Maria Augusta Maçarica, nascida em Ribamar em 1864, descendia justamente dos pobres diabos arrebanhados, à força, para os porões das caravelas e nas naus. Embarcados como pau para toda a obra, daí a alcunha (Maçaricos) e, possivelmente mais tarde, o apelido de família (Maçarico).
Foto (à esquerda) > Legenda > "Junto às cozinhas. Pessoal rancheiro. Dia de vinho, dia de alegria. Depois de um jantar à portugesa. Lazareto. Abril 43. Luís Henriques [na foto, é o primeiro, do lado esquerdo]. 3/5/43" .
O meu pai era o 1º Cabo nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5. Ele escrevia muito bem e rápido. Diz que a amizade com os rancheiros era muito importante: os pequenos favores (como o escrever as cartas para as namoradas, madrinhas de guerra, familiares e amigos) eram pagos, pelo pessoal do rancho, com mais um copo ou naco de carne...
O mar marcou-os, aos Maçariços, de tal maneira que nunca conseguiram viver longe dele: foram (e continuam a ser) gente ribeirinha, concentrados maioritariamente em Ribamar da Lourinhã, mas também com um possível núcleo em Mira, sendo marinheiros, aventureiros, mercadores, pescadores, calafates, construtores de barcos, mestres de traineiras, pescadores de lagosta, pescadores do alto, cabos de mar, peixeiros, negociantes de peixe, donos de restaurantes, tascas e hotéis à beira mar, perdidos e achados nas setes partidas do mundo, junto aos cais...
Legenda no verso da foto:
Justa homenagem àqueles que dormem o sono eterno na terra fria. Companheiros de expedição os quais Deus chamou ao Juízo Final. Pessoal da A[nti] Aérea depois das cerimónias desfila fazendo continência às sepulturas dos companheiros. Oferecido pelo meu amigo Boaventura no dia 17-8-1943, dia em que fiquei livre da junta (hospitalar). Luís Henriques".
Meu pai: serve também esta evocação nostálgicas dos teus e dos meus antepassados, para dizer que a geração do teu filho foi a coveira do Império. Não sei se entendes (e aceitas) a expressão. Mas também não faz mal. 500 anos depois, fomos nós que liquidámos o Império. Objectivamente falando. E logo na Guiné. Foi na Guiné que enterrámos os últimos mortos e os últimos esquecidos do Império. Que derrubámos o último padrão das quinas e arreámos a última bandeira verde-rubra. Não é sem um arrepio que escrevo isto...
Mas hoje apeteceu-me invocar aqui os meus antepassados, a nossa gente, e mais concretamente o meu pai, meu velho, meu camarada. Tal como o David Guimarães que há tempos teve a ternura de chamar aqui, à colação, o seu velho pai, herói da 1ª Grande Guerra...
Espero que os meus amigos e camaradas ga Guiné não achem abusivo o 'tempo de antena' que me permiti usar... É, um pouco, para compensar, embora tardiamente, as coisas que na altura, quando estive na Guiné (1969/71) não lhe disse, por não poder ou não querer dizer-lhas...
Um Alfa Bravo, meu pai, pelo exemplo e valores que me deste. Teu, Luís Manel.
Versos ditos pelos bisnetos à avó velhinha Maria da Graça (n. 1922) no dia 6 de Agosto de 2008. Casou com o Luís Henriques, em 2 de Fevereiro de 1946 (foto à esquerda). Ainda em Cabo Verde, por volta de meados de 1943, ele tinha-lhe mandado a seguinte quadra (sempre teve jeito para o improviso e a rima):
Maria, minha cachopa,
Não me sais do pensamento,
Tão logo saia da tropa,
Trataremos do casamento.
No dia dos anos da Maria da Graça, quisemos glosar o célebre verso e mandámos-lhe mais uns tantos...
Felizmente que ainda hoje estão os dois vivos e formem um belo par no Lar e Centro de Dia de Nossa Senhora da Guia, Atalaia, Lourinhã
Minha mãe, minha avozinha,
Tens a graça até no nome,
Não é por seres mais velhinha
Que de amor passarás fome.
Brilhas como uma estrela,
No teu quarto, lá no lar,
Tens uma linda janela,
Com vista de céu e mar.
De toda a gente é querida,
A nossa avó Maria,
Deus te dê uma longa vida
No lar Senhora da Guia.
Maria, minha cachopa…
- Dizia o avô, babado,
Afinal saiu de tropa,
E não ficou logo casado.
Tiveram que esperar,
A Maria e o Luís,
Antes de poder casar
E ser um casal feliz.
É uma bela união
Que deu netos e bisnetos,
Não falhando o coração,
Chegará aos tetranetos.
Tive um sonho visionário
(Que a vida não é só enganos):
Ver o avô milionário,
E a avó chegar aos cem anos.
Parabéns, querida avó,
Por mais este aniversário;
Votos tenho um, um só,
Estar contigo no centenário.
Texto e fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes
12 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIV: Cabo Verde (1941/43) (1): os mortos e os esquecidos do império (Luís Graça)
26 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXVI: Cabo Verde (1941/1943) (2): esperando os invasores (Luís Graça)
22 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLIV: Cabo Verde (1941/43) (3): sodade di Son Vicente (Luís Graça)
4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXV: Cabo Verde (1941/43) (4): Mindelo, terra de B.Leza e de Cesária Évora (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P4058: Memória dos lugares (20): Hospital Militar 241 de Bissau (António Paiva)
1. Mensagem de António Paiva(*), ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 17 de Março de 2009:
Caro Luís, Carlos e Virginio
Acordei tarde, será que acordei?
Cheguei até aqui, por vales e montes, becos e travessas, curvas e contracurvas, talvez pelas circunstâncias da vida, perdi o interesse pela evolução dos tempos e das novas tecnologias.
Não acompanhei o meio mais sofisticado da informação - INTERNET - Onde de se encontra tudo - O passado, o presente e se pode deixar para o futuro.
Adquiri o mínimo dos conhecimentos, consegui descobrir o vosso/nosso blogue e, fazendo a minha apresentação, fui aceite. Passei a fazer parte desta grande família.
Sendo assim, tendo dúvidas, devo perguntar para que me dêem a certeza.
Tendo a certeza, penso já estar seguro para não ter dúvidas.
Ao deparar com o Poste 4029 – As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas, li tudo com a devida atenção e passei aos vídeos que iria ver com o maior interesse, como sabem, iria ver coisas que lá nunca vi. Quando cheguei ao 5/6, por 4 segundos, pode reviver as alegrias e tristezas que ali passei, e bem lá no fundo ver com satisfação, igualzinho, aquilo que lá deixei.
2 Heliportos
Cheguei ao HM241 em Junho de 1968 e saí de lá em Junho de 1970, durante o tempo que lá estive só e sempre conheci dois locais com H para aterragem de helicópteros, um em frente do hospital onde havia espaço suficiente para dois, como algumas vezes aconteceu, e outro em frente à casa mortuária, ambos asfaltados.
Quando em Outubro passo a ter Internet, procuro encontrar HM241, fico surpreso e de boca aberta.
Surge-me o poste 1738 de 7 de Maio de 2007 com uma fotografia completamente estranha para mim e fora dos meus horizontes, com a seguinte legenda:
Guiné > Bissau > Hospital Militar 241> 1972> o Heliporto
Reparo também no poste 1578 de 10 de Março de 2007, com a mesma fotografia, mas de outro ângulo, com a seguinte legenda:
Guiné > Bissau > HM241 > 1972 > O tristemente famoso Heliporto
Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados
Penso que tais fotos, me transtornaram naquele momento o cérebro, não podia acreditar, quando de lá saí não era aquilo, de 1970 a 1972, seria possível tal destruição?
Tentei encontrar fotografia aérea da área do Hospital, não me foi possível.
Sorri anteontem dia l5, o helicóptero que no dia 6 de Abril de 1973 fez a evacuação do Zé de Guidaje acompanhado pela enfermeira pára-quedista Giselda Antunes, mostrou-me que o mesmo H estava lá, tudo como dantes, para receber em segurança quem dele necessitava.
Um abraço a todos
António Paiva
__________
(*) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3917: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (3): Não cobiçar a mulher do próximo
Vd. último poste da série de 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)
Guiné 63/74 - P4057: Convívios (103): Pessoal da CCAV 2748, dia 30 de Maio de 2009 em Benavente (Francisco Palma)
Estimados Luís Graça e Carlos Vinhal
Mais um ano se passou e já as saudades nos levam a aprontar mais um programa de Convívio para reunirmos com os sempre camaradas amigos da nossa Companhia de Cavalaria 2748, Canquelifá, Guiné 1970/1972.
Para além de antecipadamente agradecer a vossa sempre útil divulgaçao do respectivo programa, que junto anexo, no nosso blog.
Francisco A. Palma
Rua Sta. Rita, 239 - Piso 0 - Dt.º
S. João do Estoril 2765-281 ESTORIL
TELF: +351 919 457 954
ALMOÇO CONVIVIO 2009 dia 30 MAIO 2009
Meus caros camaradas e amigos da CCAV 2748
Vimos com esta Convidar a todos para o Convívio 2009 da Companhia de Cavalaria 2748
11.30 Concentração no estacionamento frente ao Restaurante
ALMOÇO PELAS 13.00 HORAS
RESTAURANTE “O MIRADOURO” Rua Vasco da Gama (Ex. Estrada do Miradouro) nº5 BENAVENTE
EMENTA:
APERITIVOS: Martini, Porto, Vinho Branco/Tinto, Moscatel, Cerveja e refrigerantes
Frutos Secos
ENTRADAS. Pão, Manteiga e Azeitonas * Croquetes, Rissóis, Pasteis de Bacalhau, Queijo e Presunto
QUENTES Sopa de Peixe, Bacalhau c/Espinafres, Carne Porco C/Gambas
SOBREMESA: Salada de Frutas,
Bolo Comemorativo e Espumante
Vinhos Branco e Tinto, Refrigerantes, Cerveja, Aguas,
Café, e Digestivo
PREÇO POR PESSOA - 21,00 Euros, Crianças 4 aos 10 = 50%
Os interessados devem enviar a reserva por carta ou para e-mail fapalma@vodafone.pt
PAGAMENTO POR MULTIBANCO
NIB 003300004531255507205 ou
TRANSFERENCIA BANCARIA,
PARA A SEGUINTE CONTA MILLENNIUM bcp Nº: 45312555072
Agência de S. João do Estoril
TITULAR: Francisco Augusto Palma
NÃO FALTES
NOTA:
Camaradas e amigos,
A organização deliberou que os Convívios da CCAV 2748 passem a realizar-se em data fixa, sempre no último sábado de Maio. Este será o nosso dia de festa, independentemente do local.
Esta iniciativa visa:
1º - Que camaradas possam participar noutros convívios, sabendo que o nosso é nesta data;
2º - Tendo o nosso Capitão feito várias comissões, terá assim a possibilidade de melhor controlar a sua agenda e planear a participação nos convívios para que for convidado;
3º- Que camaradas possam planear férias e outros afazeres evitando interferir com esta data.
Só haverá excepção quando haja convívios a nível de Batalhão como o próximo que em princípio será em 2010, em Estremoz. E no caso de coincidir escolheremos outra data
Por último, queremos que toda a CCAV 2748 esteja em peso neste Almoço, para apoiar o “nosso Capitão”, dado que se encontra com problemas graves de saúde. Por isso - NÂO FALTES!
Os organizadores
Francisco Palma Tlm 919457954
Firmino Moreira Tlm 968576949
Obs: - Existe Palco na Sala, onde certamente alguns dos nossos “Artistas” caso queiram se poderão exibir, desde que venham equipados
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4055: Convívios (101): 26.º Encontro do pessoal do BENG 447, dia 25 de Abril de 2009 no Cartaxo (Lima Ferreira)
quinta-feira, 19 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4056: Da Suécia com saudade (10) (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (10): Um certo CMDT de Batalhão nas margens do Cacheu
1. Mensagem de José Belo, ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Reformado, com data de 17 de Março de 2009:
Era Comandante de um Batalhão nas margens do Cacheu.
Por milhares de ridículas razões, e muitas perpotências, não usufruía, realmente, da estima dos subordinados.
Em certa noite, não fora a intervenção "divina" do Capelão teria vindo a tropeçar em armadilha com granada de mão, montada por descontentes, no itinerário entre a messe de oficiais e o seu quarto. Safou-se dessa, não fosse o português o povo dos tais brandos costumes. Mas, em escura noite em que o inimigo resolvera flagelar com armas pesadas a sede do Batalhão, ao deslocar-se em busca de abrigo por entre viaturas parqueadas, foi atingido por violenta paulada que lhe partiu a cabeça.
Ferimento por certo doloroso (ao autor não lhe faltaria vontade!), mas não grave. No entanto, mal o ataque terminou, exigiu o envio de mensagem prioritária para Bissau pedindo a sua imediata evacuação por ferimento grave. O nosso Coronel, depois de aterragem do avião em pista dramaticamente iluminada pelos faróis de viaturas, foi evacuado para o hospital de Bissau.
Aí, ao verificarem que a ferida de guerra se tratava com panos quentes e pouco mais, parece que não tiveram... sentido de humor! O nosso Coronel regressou ao Batalhão, mas a ocorrência foi participada ao Comando Chefe.
Do ComChefe foi enviada mensagem que, em linguagem clara de Cavalaria era "menos compreensiva" quanto ao ferimento do sr. Coronel. E, terminava em irónico P.S: - Sugere-se ao Sr. Comandante do Batalhão o uso do capacete regulamentar nas deslocações no INTERIOR do aquartelamento.
Seria o mesmo nosso Coronel, o tal das escovas de dentes para os porcos à carga do Batalhão? A rapaziada contava que existiam soldados faxinas encarregados da lavagem diária das dentaduras suínas a bem da higiene, e por certo dentro do espírito da campanha... por uma Guiné melhor!
Estava-se então em fins dos anos sessenta.
Estocolmo 17/3/09
José Belo.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3985: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (9): Por que não fui desertor
Guiné 63/74 - P4055: Convívios (102): 26.º Encontro do pessoal do BENG 447, dia 25 de Abril de 2009 no Cartaxo (Lima Ferreira)
Amigo Carlos Vinhal
Espero que estejas de saúde. Segue programa do n/almoço.
Um abração
Lima Ferreira
26.º Encontro Nacional dos Ex-Oficiais, Sargentos e Praças
BENG 447 - Brá - Guiné
É com o maior prazer que vimos convidar V.Ex.ª e Exma. família a participar num Almoço de Confraternização a realizar no dia 25 de Abril de 2009 com o seguinte
PROGRAMA
08h00 - Porto - Partida na Rua Firmeza, 588
11h00 - Lisboa - Partida da Praça Dr. Francisco Sá Carneiro, 12-A
Viagem em modernos Autopullmans para o Cartaxo.
13h00 - Concentração no Restaurante "QUINTA DO SARAIVA" no Cartaxo, seguida de almoço de Confraternização com a seguinte
EMENTA
ENTRADAS - Rissóis, Croquetes, Pastéis de Bacalhau, Azeitonas, Pão de Milho, Pão de Trigo, Grelhados de Enchidos, Vinho Branco e Tinto, Sumos, Águas, Cerveja, Martini e Gin.
SOPA - Camponesa
PEIXE - Bacalhau assado no forno com batatas e salada
CARNE - Perna de Porco assado com ananás
BEBIDAS - Vinho Branco e Tinto da Região, Águas Minerais, Cerveja e Refrigerantes
SOBREMESA - Salada de Frutas e Gelado da "Quinta"
Café e Digestivo (Bagaço)
17h30 - LANCHE - Caldo verde, Arroz de Pato, Fêveras grelhadas, Entremeada, Sortido de Bolos e Bebidas.
ANIMAÇÃO - Conjunto Musical
A instalação sonora estará à disposição de quem quiser relembrar os BONS VELHOS TEMPOS
19h00 - Despedida. Viagem de regresso ao Porto e Lisboa. Chegada prevista para as 23h00 e 21h00 respectivamente
PREÇOS POR PESSOA
Só Almoço - 30 Euros
Viagem e Almoço (Porto) - 50 Euros
Viagem e Almoço (Lisboa) - 45 Euros
As crianças até 4 anos de idade NÃO pagam. Dos 5 aos 9 pagam 50%
Pela Comissão Organizadora
Francisco Gonçalves Araújo
Ex-Fur Mil
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4030: Convívios (100): III Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 7 de Março de 2008 (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P4054: História da CCAÇ 2679 (15): Nova estadia em Canquelifá (José Manuel Dinis)
Senhores editores, Camaradas da Tabanca
Façam o favor de me aturar mais um bocadinho, que isto não aquenta nem arrefenta. A estória das abelhinhas era para ser integrada nesta ocasião e pode, por isso, ser cotejada com outros episódios de guerra.
Abraços fraternos do JD
Nova estadia em Canquelifá
Por decisão das forças vivas em Piche, os dois majores, CMDT do BArt e CMDT de Operações, o Foxtrot alinhou para nova estadia nas termas de Canquelifá, lugar quente e de águas salobras, muito apreciado do pessoal, com a missão de prestar auxílio na actividade operacional.
Ao contrário de Buruntuma, as idas para Canquelifá tornavam-se agradáveis, na medida em que se partilhavam tarefas com os Pelotões locais e isso significava um abrandamento da actividade, enquanto naquela localidade, a existência de um posto da Pide, com inerentes responsabilidades para justificar a função, obrigava ao incremento de saídas para o mato, prevenções, intercepções e emboscadas, que nunca deram resultado, mais parecendo objecto de jogos imaginários a que os peões conferiam a ideia da autêntica operacionalidade do IN.
Lá seguimos para o destino, sempre por prazo indeterminado.
À chegada ao aquartelamento aconteceram as usuais manifestações de simpatia por parte daquele pessoal e instalei-me no mesmo abrigo particular, que partilhei com um furriel local durante a primeira estadia.
Informaram-me que as coisas não corriam bem, que não havia géneros básicos, como o arroz, a massa e a batata, que racionavam cebolas, óleo, azeite e vinho, ao que parecia, em resultado do afundamento de um batelão no Geba. A essa dificuldade, juntava-se a relutância dos nativos para a venda de vacas, problema que fora superiormente solucionado, com a decisão de, pela madrugada, dar um tirinho certeiro numa vaca que se aproximasse do arame. E elas aproximavam-se.
Assim, com a natural determinação para o tirinho e a pontaria regulada pelas necessidades estomacais, até se estabalaceu uma jogatana correlativa, de apostar no abrigo brindado com a visita da ruminante. Sim, porque a partir de certa hora, só valia atirar sobre uma vaca.
De manhã seguia-se a reclamação do proprietário, a quem, mais uma vez, era referida a sua própria responsabilidade na manutenção do gado longe do arame, já que a aproximação dos animais podia encobrir um assalto do IN. Perante o quadro, o proprietário propunha a venda, como forma de evitar o prejuízo, mas a tropa manifestava desinteresse na aquisição do animal jazente, com a carne a estragar-se fora do frigorifico, até fazermos o grande favor de o comprar por metade do preço. Foi a política adoptada até à regularização das trocas comerciais.
O pior, porém, estava para acontecer, porque esgotados alguns géneros, o arroz, a massa e a batata, comíamos carne guisada com pão e a farinha ameaçava acabar.
Ao terceiro dia da minha estadia, do céu chegou o novo capitão que preenchia a vaga de vários meses. Foi à messe fazer a apresentação aos graduados. Não era propriamente comigo, mas tive um baque. O tipo, que era do quadro, fora o meu instrutor de tiro e usava uma linguagem brejeira e ofensiva. Não me reconheceu, mas impôs que na messe me apresentasse convenientemente vestido e barbeado. Mais tarde fiquei com a impressão de ser melhor Comandante de Companhia do que comandante de instrução.
Aeroporto Internacional das Termas de Canquelifá. Distinguem-se, da esquerda para a direita: Morais, Dinis, Gonçalves (Corvo) e Azevedo, a furrielada dos 1.º e 2.º Pelotões.
As abelhas
Num desses dias, coube ao Foxtrot acompanhar um Pelotão local numa extensa patrulha a sudeste de Canquelifá. Estávamos no fim da época sêca, o calor era imenso, a transpiração permanente, por isso a maioria levava dois cantis, já que os cursos de água apenas apresentavam poças estagnadas.
Partimos numa direcção perto da fronteira leste, com a Guiné-Conakri, enviezámos para o rio Caium (?) mais interior e depois flectimos para norte, de regresso. Não posso dizer que estivesse a ser devastadora, mas as sucessivas horas de missão, levaram-nos ao consumo dos alimentos carregados. Algures no mato encontrámos dois nativos que levavam favos de mel. Tamanha descoberta deixou-nos em grande excitação, já que a gulozeima passou a desejo colectivo, para comer logo ali. Conversou-se com os nativos, negociaram-se promessas de pagamento e a verdade é que quem quiz, teve oportunidade de enriquecer a dieta com o inesperado mel. Até vi alguém com um pedaço relevante de favo.
O resultado deste encontro foi a coisa mais inglória por que já passei. As mãos e os beiços ficaram rigorosamente peganhentos e a pouca água para as lavagens não produzia efeito, portanto, menos água e mais incómodo. Mas seria pior. Volvido pouco tempo de saborearmos o mel, aconteceu a tremenda reacção de sede e o mau estar da progressão acentuou-se quando esgotámos a água nos cantis. O mato sêco por onde caminhávamos não dava qualquer solução alternativa. O calor parecia aumentar.
A solução era andar dali para fora e depressa, chegar ao aquartelamento, à água e ao sabão salvadores. Nestas cogitações de sofrimento geral passámos, casuisticamente, por uma espécie de cortiço de abelhas que voavam num zum-zum, sem nos ligar importância, até que, alguém com espírito vingativo lhes atirou um pau. Nessa ocasião, as abelhinhas interessaram-se mesmo por nós. E com tanta dedicação que, como uma esquadra organizada, perseguiram e ferraram os mais infortunados na fuga. Qual fuga! Aquilo foi uma debandada, cada um em busca da salvação, já que a instrução militar não contemplava ensinamentos sobre este IN. A mim, a salvação chegou de baixo de uma manta, quando um Foxtrot deitado no solo e tapado por um cobertor me chamou, que havia lugar para outro. Eram muitas as abelhas, determinadas e aguerridas, que em formações massivas varriam a zona demarcando a autoridade no território. Qual tropa! Qual guerra! Ali mandavam as abelhas.
No fim das hostilidades uma boa parte do pessoal podia exibir as mazslas, alguns com inchaços que lhes conferiam ares carnavalescos, máscaras de disformidade acompanhadas de dor, sede e ansiedade. Não houve baixas, mas as sequelas deram para alguns dias.
Visita do IN às Dingas
A região de Canquelifá era pouco populosa, talvez pela aridez local. A mancarra, o caju e a pastoricia seriam as principais actividades esconómicas, mas com pouca expressão. Algumas aldeias dispersas já tinham sido abandonadas e não passavam de pontos de localização. Outras persistiam, como as Dingas, sem ligação especial às autoridades portuguesas. Ainda assim o agrupamento das Dingas foi saqueado, incendiado e abandonado pela população que rumou ao Senegal, em resultado de uma inopinada acção do IN. Durante a noite, o bréu foi rasgado pela luz emanada das chamas.
Quando ali chegàmos, com uns poucos milicias e populares, nada restava para além dos escombros em brasa que libertavam o fumo e os odores do fogo.
Pela proximidade fomos a Copá. A picada rija não apresentava dificuldades, para além de um pequeno desnível do piso tortuoso, a pedir compensações às suspensões, mas tivémos muita sorte, pois não a picámos, nem o IN se lembrou de a minar.
Da troca de informações não se inferia qualquer indicio de actividade especial por parte do IN, nem se descortinavam novas estratégias para a região.
As noites seguintes, porém, vieram a revelar novas incursões com o mesmo objectivo de despovoar a área. E assim, voltei a acordar durante a noite estrelada, não para me deslumbrar com a imensidão de astros luminosos e as fantásticas correrias das estrela cadentes, mas para observar o clarão luminoso das chamas que devoravam outra aldeia.
Passados cinco dias o Foxtrot regressou a Piche.
Marquei férias para Junho.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3971: História da CCAÇ 2679 (14): Operação Equino Salto, 28 de Maio de 1970 (José Manuel Dinis)
Guiné 63/74 - P4053: Blogoterapia (98): José Silva, um camarada com muita falta de sorte
Como todos vós fui mobilizado para a Guiné, 1971/73 - Aldeia Formosa, onde cumpri a minha comissão, mau grado os infortúnios que podiam advir no teatro de guerra. Poderei afirmar com toda a veemência que a corrente do destino, se é que há destino, se caudicou ao escolher uma vítima, que já o era antes de ter sido.
Após a recruta e encaminhado para a Especialidade de Transmissões de Infantaria (BCC5) Batalhão de Caçadores 5 em Campolide - Lisboa: foi já no IAO, com duas semanas de campo, se a memória não me falha, que fui acometido de doença súbita, no (Inverno do meu descontentemento), perdoem-me o plágio, que a meningite surge nua e crua, a um jovem militar envaidecido com a sua Especialidade e nas espectativas que na época se empolavam.
Transferido para o (HMDIC), em estado muito grave, foi através de algumas vontades altruístas que fui atendido por uma equipa médica, a quem muito devo e quem dera hoje em dia poder abraçá-los, pelo trabalho que tiveram para me curarem de tal maleita, como se dizia em meias idades e há uns séculos atrás. Pensei na altura e já a caminho de casa para uns dias de recuperação, que talvez essa grave doença inibice qualquer hipótese de mobilização, mas como já referi tal não aconteceu.
Ao afirmar dupla vitimização, incluo como é óbvio a ida para a Guiné, a poucos quilómetros de Conácri e num aquartelamento, que como Comando de Agrupamemto, era um alvo apetecível para o PAIGC, com sequentes ataques ao aquartelamento, que se dividiam ora com mísseis terra-ar e canhoadas ou com grupos suicídas, que se encostavam ao arame farpado com a costureirinha e roquetada prá frente, e isto meus amigos foi um caso muito sério, pois às vezes estávamos debaixo de fogo uma e hora e meia.
Hoje em dia, ataques de pânico depressão crónica e enfisema pulmonar: alguém é servido? Perdoem-me ser mordaz, mas a revolta continua.
Sei que em alguns hospitais há a consulta de Stress Pós-Traumático, mas também sei que a maioria nem um tiro deu e, sem vergonha apresentam-se como vítimas da guerra, tendo estado em locais onde as grandes farras e caçadas erm prato do dia. Espero que alguém ponha fim à farsa e que aos hospitais sejam exigidas políticas de atendimento, de forma a evitar os trapaçeiros. Aqui no Porto não há essa política de verdade, não por culpa dos hospitais, mas por políticas descabidas. Era bem preciso que se pusesse fim ao trapaceirismo que já existe por quem diz ter traumas, com o fito de obter relatórios favoráveis para as juntas médicas.
2. Comentário de CV
Aqui fica o desabafo deste nosso camarada que sofre na pele as mazelas deixadas pela sua estada na Guiné. Sabemos que há pessoas que se aproveitam das possibilidades dadas aos verdadeiros doentes para obterem de forma fraudulenta benesses a que não têm direito. Cabe às autoridades e aos técnicos de saúde separar o trio do joio.
Os que são mesmo doentes devem dirigir-se ao hospital mais próximo, Liga dos Combatentes ou Associação dos Deficientes das Forças Armadas e apresentar o seu problema, fazendo menção à qualidade de ex-combatentes da Guerra Colonial.
Olhando pela sua saúde e procurando ajuda, contribuem para o bem-estar do agregado familiar em que estão inseridos.
A todos os camaradas na situação deste nosso companheiro, José Silva (?), os nossos desejos de rápidas melhoras.
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Vd. último poste da série de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4032: Blogoterapia (97): Pois.. Juvenal Amado, Assim não falamos na primeira pessoa (José Brás)