Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 16 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4360: História do BCAÇ 4612/72 (Jorge Canhão) (2): Actividade no T.O. do C.T.I.G.
Guiné 63/74 - P4359: Tabanca Grande (143): Amadu Bailo Djaló, Alferes Comando Graduado, incorporado no Exército Português em 1962 (Virgínio Briote)
Amadu Bailo Djaló em 1966 Amadu Djaló - CICA BAC - Bissau - 1962 Amadu Djaló e Ana Djaló > Dacar - 1998 Amadu Djaló, mais recentemente, junto à lápide dos nossos Camaradas mortos nas três frentes da Guerra.
4. Comentário de CV Duas linhas para te dizer camarada Amadu, o quanto nos honra que tenhas aceitado o convite do nosso editor Luís Graça para fazeres parte da nossa Tabanca Grande. Vai também ser manga de ronco a tua presença junto de nós, no IV Encontro da Tertúlia em Monte Real. Vamos todos ter a oportunidade de te conhecer e abraçar, velho camarada de armas guineense. És dos poucos que escaparam ao ajuste de contas do pós-guerra. Muito nos alegramos por isso. Ficamos ansiosos pelo teu livro e por histórias tuas que poderás fazer chegar até nós pelo nosso comum amigo Virgínio Briote. Pessoalmente, espero o dia 20 de Junho para um abraço. Para já fica este abraço virtual em nome de toda a tertúlia, com votos de muita saúde. Carlos Vinhal 5. Em mensagem de 14 do corrente, o VB informou-nos do seguinte: Caro Luís, Carlos e Eduardo, Escrevo-vos para vos comunicar que o Presidente da Associação de Comandos, Dr Lobo da Amaral, me telefonou hoje a dizer que vários camaradas lhe têm telefonado para saber quando vai estar à venda o livro do Amadu. Que têm tido conhecimento através do nosso blogue... Um abraço, vb
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Notas de CV: (*) Sobre o ex-Alf Cmd Graduado Amadu Djaló, vd. postes de: 22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4067: Os nossos camaradas guineenses (3): Amadu Djaló, Fula de Bafatá, comando da 1ª CCA, preso, exilado... (Virgínio Briote) 25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma (Virgínio Briote) 27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4086: Os nossos camaradas guineenses (5): O making of do livro do Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote) 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4102: Os nossos camaradas guineenses (6): Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote) 21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote) (**) Vd. poste de 22 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4234 (Ex)citações (23): A grandezas humana de um comando africano (Virgínio Briote / Luís Graça) Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2009: Guiné 63/74 - P4354: Tabanca Grande (142): Joaquim Macau, camarada do último morto em emboscada do PAIGC (2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973)
Guiné 63/74 - P4358: Em busca de... (73): Camaradas das seguintes Unidades: BAC1, CART 1692, CART 1427, 1966/68 (Tony Grilo)
Com os nossos desejos de um bom regresso:
Amigos e camaradas,
Um forte abraço para toda a rapaziada da Tertúlia e desejos de muita saúde.
Queria pedir-vos um grande favor, pois há 41 anos que procuro reencontrar 3 bons camaradas, que estiveram comigo na Guiné, nos anos1966 a 1968, cujos nomes a seguir menciono:
- Victor Soares Carneiro, era 1º Cabo Apontador de obus de 8,8 cm, pertenceu à B.A.C.1 em Bissau no Q.G. e era de Vila Nova de Gaia;
- Victor Anjas, era Soldado Condutor da CART 1692, encontrava-se em Cacine, também nos anos 1966/68 e era do Beato, em Lisboa;
- António Fernando Pratas, estava em Cabedu na CCAÇ 1427, idem nos mesmos anos.
Se houver alguém que saiba algum indício sobre estes camaradas, agradecia imenso que me informassem.
Ate breve, pois regresso a Portugal no dia 28 Maio próximo.
Amigos e camaradas da nossa Tertúlia, muito obrigado e um grande abraço.
Tony Grilo
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Nota do editor
Vd. poste anterior 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4292: Em busca de... (72): BCAÇ 4615 (Teixeira Pinto 1973/74) (Francisco Teixeira)
Guiné 63/74 - P4357: Questões politicamente (in)correctas (39): Havia racismo nas Forças Armadas Portuguesas ? ... E no PAIGC ? (Nelson Herbert)
"By 30 April 1968 total U.S. military personnel in Vietnam numbered 543,300. Assuming a nine to one ratio, that is nine service and support for each grunt in the bush characteristic of a modern technology (including technologies of the intellect)-based army, such as we had in Vietnam, and you rapidly conclude that all of the fighting was done by no more than 50,000 men at any one time. What this means is that with a surfeit of bodies in the rear, a critical mass was effected that recreated America in Vietnam. RACISM IN THE REAR WAS ALIVE, WELL AND VIRULENT. Both the Viet Cong and the North Vietnamese would exploit this pernicious flaw in the American Character as a divisive weapon illuminating what the war managers could not seem to grasp--the fundamentally political character of the conflict."
[ Até 30 de Abril de 1968,o total de militares norte-americanos no Vietname atingia os 543300. Assumindo uma relação de um para nove, isto é nove especialistas das áreas de serviço e apoio para um operacional na selva, que é o traço característico de um exército de base tecnológica moderna (incluindo as tecnologias da informação e do conhecimento), como tivemos no Vietname, rapidamente se conclui que o número de combatentes na frente de batalha não terá ultrapassado, de qualquer modo, os 50.000 homens. Isto significou a existência de um excesso de forças na retaguarda, tendo como efeito uma massa crítica que recreou a América no Vietname. O RACISMO NA RECTAGUARDA ESTAVA VIVO; EM FORÇA E ERA VIRULENTO. Tanto o Vietcong e como os norte-vietnamitas iriam explorar essa perniciosa falha na cultura militar dos americanos, como uma arma facturante mostrando aquilo que os gestores da guerra pareciam não compreender – a natureza fundamentalmente política do conflito.][Tr. ingl., L.G.]
in Black Studies, de William M King, Afroamerican Studies Program ,University of Colorado, Boulder, Colorado, USA
Não creio que hajam guerras imunes a problemáticas e conflitos raciais latentes, particularmente quando as forças e os homens nelas envolvidas, de um e outro lado da trincheira, forem de origem multirracial. A guerra americana no Vietname foi disso, um exemplo! A guerra travada por Portugal, nos três cenários africanos, não deverá decerto ter sido uma excepção.
Pois, vem isto a propósito da utilização do termo Nharro, num dos postes do blogue, prontamente contestado pelo bloguista José Macedo, por sinal um antigo companheiro de armas, vosso. Nharro é de facto o mais pejorativo termo feito recurso na Guiné colonial, para se referir a um negro, a um nativo. E não estou aqui a ensinar [o Padre Nosso ao Vigário]!
Termo pejorativo, racista, que, quiçá ao longo dos tempos foi-se desprendendo de toda essa sua carga semântica original. Hoje “expressão de afecto” e não tenho neste particular razões para duvidar ter sido com essa intenção, a sua utilização pelo bloguista Henrique Matos , mas pela polémica que a sua utilização e recurso no blogue podem suscitar ( melhor, já suscitou), deixo aqui um repto, um desafio.. quem sabe, uma temática a abordar: a problemática do racismo nas casernas, nas fileiras militares. Terá esse problema existido e afectado a vossa camaradagem ?
Do lado do inimigo, a então guerrrilha do PAIGC é o que se sabe, com todo o seu dramático cortejo de episódios, de que o assassinato de Amílcar Cabral fora quiçá o cume !
A história e a geração pós-guerra (a que me considero pertencer, apesar de 13 anos de vivência desse conflito), muito agradecem !
Mantenhas
Nelson Herbert
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desra série: 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4348: Questões politicamente (in)correctas (38): Os nossos queridos nharros (José Teixeira)
Guiné 63/74 - P4356: Fichas de Unidades (2): BART 2857 (Sector L4), CART 2428 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá), CART 2440 (Piche) (José Martins)
Major de Artilharia Carlos Alberto de Castro Silva Gaspena
Capitão de Artilharia Orlando dos Santos Dias
Capitão de Artilharia José Vítor dos Santos Almeida
Capitão de Artilharia Luís Carlos Santos Veiga Vaz
Capitão Miliciano de Artilharia António Regência Martins Ferreira
Capitão Miliciano de Artilharia Carlos Manuel Paquim da Costa
Nota de M.R.:
Guiné 63/74 - P4355: O Nosso Livro de Visitas (62): José Rocha emitindo a sua opinião sobre a retirada de Guileje
Exmo Sr. Luís
Vi o vídeo do senhor Comandante do Cop 5. É uma tristeza ter Oficiais deste calibre nas forças armadas portuguesas. Este senhor não dignificou em nada os colegas que combateram um pouco por todo lado por Portugal. É uma vergonha que o senhor Luís por várias vezes o defendeu. Publicidade para ajudar a vender o seu livro? Por vezes até tratou por cobardes aqueles que não estavam de acordo. Era bom que o vídeo fosse visto por aqueles que sempre defenderam o herói Coutinho e Lima.
Cumprimentos
José
2. Resposta de CV em 16 de Maio de 2009:
Caro Camarada José Rocha; Obrigado pelo teu contacto.
Para nos reconhecermos como verdadeiros camaradas, se não te importas, vamo-nos tratar por tu.
Fazes uma dura crítica ao Cor Coutinho e Lima, pela sua retirada de Guileje.
A esta distância, tantos anos volvidos, achamos que não é positivo condená-lo. O rumo da história deste sacrificado país acabou por tornar a retirada de Guileje mais um episódio, entre tantos. Uma coisa é certa, pouparam-se muitas vidas. A permanência naquele aquartelamento por mais tempo podia redundar numa carnificina. Quem garante o contrário? Tu?
Acusas-nos de defender o Cor Coutinho e Lima e de dar publicidade ao seu livro. Se reparares bem, não omitimos opiniões categóricas. Afinal estamos aqui para relatar as experiências dos nossos camaradas, respeitando as diferenças de opinião. Mantemo-nos equidistantes para não influenciar quem nos lê.
Vamos publicar esta tua mensagem, embora não concordando com o seu tom. Mas não confundimos o tom com o direito emitir uma opinião, e a ela tens direito.
Já agora, podias explicitar melhor a que vídeo te referes?
Esperando as tuas próximas notícias, deixamos-te um abraço fraterno.
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4340: O Nosso Livro de Visitas (61): Amizades muito especiais (Branco Alves)
Guiné 63/74 - P4354: Tabanca Grande (142): Joaquim Macau, camarada do último morto em emboscada do PAIGC (2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973)
Luís Graça, administradores e co-editores do blogue
Em 27 de Março último enviei-vos um e-mail, não sei se chegou ao destino, que agora reenvio um pouco mais desenvolvido e com algumas fotografias que documentam o que falo.
Sou, Joaquim Macau, natural e residente em Santana do Campo, uma pequena aldeia do concelho de Arraiolos, fui 1.º Cabo Radiotelegrafista e pertenci à 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73, tal como os ex-alferes Renato Adrião e José Zeferino (*).
Os acontecimentos de 15 de Maio de 1974 (**) foram exactamente como eles descreveram, com uma pequena diferença, a granada de RPG que atingiu o Domingos Ribeiro (Pé de Gesso), como nós amigavelmente o tratávamos, penso que foi nas costas e não no peito, é um pormenor pouco importante ser no peito ou nas costas, recordo-me perfeitamente que a parte do corpo atingida ficou totalmente desfeita.
O Domingos já estava bem abrigado, mas ao procurar entrar em contacto com o quartel para informar do ataque e pedir reforços, o rádio AVP1 que sempre utilizavam daquela zona e em perfeitas condições, naquele fatídico dia não funcionou. O Domingos saiu do abrigo para ir ao carro buscar o RACAL, e quando já estava encostado ao carro e a tocar-lhe, foi quando a granada lhe rebentou nas costas e as desfez completamente.
Foi daquele local que outro camarada que não recordo o nome me informou do ataque que tinham sofrido, da morte do "Pé de Gesso" e vários feridos, alguns bastante graves.
Informado o Comandante da Companhia do ocorrido, partiu imediatamente outro Gr Comb para reforço e socorro das vitimas.
Após o regresso ao quartel, foi decidido pelo Comandante da Companhia, voltarmos ao local fazer o reconhecimento, o Horta e o Lourenço, salvo erro os dois telefonistas que estavam no quartel, depois de verem o estado em que ficou o corpo do Domingos, ficaram ainda mais abatidos que eu. Fui eu no lugar de um deles à zona da curva da morte, local onde aconteceu a tragédia.
Pelo que vi no local da emboscada e pelo estado em que ficou o corpo do Domingos, o Abreu dos Santos não tem razão nenhuma quando fala em precipitação e tiros longínquos.
O Domingos disponibilizava-se com frequência para sair em lugar de outro camarada qualquer, o que aconteceu várias vezes. Era serviço que fazia com algum à-vontade, mas naquele dia parecia pressentir o perigo. Quando estava a preparar o equipamento para sair, dizia-nos:
- Hoje não sei o que tenho, não me sinto bem - Parecia pressentir o que iria acontecer de seguida.
Esta fotografia é do Domingos esta à civil, mas como vêem é no quartel em Xitole. Se entenderem publicá-la, por mim não me oponho, mas não tenho permissão da família nem possibilidade de a contactar.
Fotografia do Domingos Ribeiro, Soldado de Transmissões da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, morto na emboscada de 15 de Maio de 1974
Recordam-se deste reservatório? Muitas vezes nem água tinha para um pequeno banho, para os soldados. Para Furriéis, sargentos e oficiais havia sempre água disponível, motivo de discordância e atrito sempre que não tínhamos água.
Eu, observado atentamente por um camarada de quem não sei o nome, num sítio que todos vão reconhecer.
Eu, o Horta de camuflado e o Reis de óculos escuros
Das raríssimas vezes, senão a única, que um passarito deste tipo pousou naquela pista durante a nossa curta mas desgraçada estadia em Xitole. Uma parte do pessoal das Transmissões, em primeiro plano. Da esquerda para a direita, eu, o Reis, 1.º Cabo Cripto, o Martins, 1.º Cabo Cripto e também fotógrafo, o Fur Mil de Transmissões de quem não me recordo o nome. Atrás, não tenho a certeza, mas penso ser o Lourenço Soldado de Transmissões.
Eu, em tronco nu com o 1.º Cabo Telegrafista da Companhia que fomos substituir.
Eu e o Reis junto ao retiro que herdámos.
Aos camaradas aqui retratados, também peço desculpa por poderem aparecer publicamente sem terem autorizado tal ousadia, mas o tempo já passado, será seguramente o melhor cirurgião plástico do mundo.
Aos administradores, editores e co-editores do blogue, se entenderem haver matéria para tal, por mim, podem usar como quiserem, continuem com o vosso árduo trabalho que ele é bastante importante para o conhecimento público da guerra na Guiné.
Para todos um grande abraço, particularmente para o pessoal da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4616,escrevam, devíamos todos, procurar uma forma de nos encontrarmos e realizarmos o nosso 1.º convívio.
Joaquim Macau
2. Comentário de CV:
Caro camarada Joaquim Macau
Bem-vindo à Tabanca.
Antes de mais, e para ficares bem na fotografia, quando puderes manda uma foto tua actual, e se tiveres por aí alguna das antigas, a partir da qual se possa fazer uma antiga tipo passe, manda-a também.
Infelizmente a tua Companhia ficou tristemente célebre pela morte do nosso camarada Domingos Ribeiro, que perdeu a vida em combate, numa emboscada, já depois do 25 de Abril. Qual era o vosso estado de espírito quando, um mês mais tarde, entregaram Xitole ao PAIGC? Como foram as vossas relações com eles?
Se nos puderes pormenorizar estas e outras interrogações, descreveres como era o dia-a-dia vivido com os nossos ex-antagonistas, como se portavam eles em relação a nós, etc.
Continuamos com poucos relatos do pós 25A. Como viveram vocês os acontecimentos?
Caro Joaquim Macau, tens aqui muito assunto para escreveres as tuas memórias.
Deixo-te, em nome da Tertúlia e dos Editores um abraço de boas-vindas. Contamos contigo.
Carlos Vinhal
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2565: Tabanca Grande (57): José Zeferino, Alf Mil At Inf , 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)
(**) Vd. postes de:
27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)
e
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2712: O Nosso Livro de Visitas (9): Picada Mansambo-Xitole: a emboscada do PAIGC, em 15 de Maio de 1974 (Renato Adrião, Austrália)
Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)
Guiné 63/74 - P4353: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (1): O início do Serviço Militar
Junto a minha primeira história. Para ser corrigida, cortada, ou publicada se virem interesse nisso.
Com um abraço do tamanho da tabanca,
José Câmara
Memórias e histórias minhas…
Ao serviço da Pátria: a CCAÇ 3327 e PEL CAÇ NAT 56
O início do Serviço Militar
Era então o dia 29 de Novembro de 1969. A manhã acordara calma, cheia de sol, linda como a cidade da Horta, da não menos bonita ilha do Faial, Açores. Porém, uma tristeza enorme pesava em cima dos meus jovens ombros, e o coração começava a sangrar com a invasão de uma tremenda saudade: acabara de me despedir dos meus pais e irmãos que, nessa manhã, embarcaram rumo aos Estados Unidos da América.
Naquele tempo, os jovens, a partir dos 16 anos de idade, não podíam, por lei, sair do país. O auge do esforço da Guerra no Ultramar assim o exigia. Por esse motivo, naquela manhã, não pude seguir os meus familiares na rota da emigração. O meu sonho americano, como o de muitos açorianos, teria que esperar. Assim, pela primeira vez na minha curta vida, sentia-me sozinho. O serviço militar esperava por mim.
Em de Janeiro de 1970, cruzei os portões do Centro de Instrução Militar de Tavira. Nos sete meses seguintes, o Centro foi a minha casa. Lá conheci outras formas de estar na vida, criei algumas amizades. E lá senti o grande estigma da descriminação.
Findo o curso de Sargentos Milicianos, os meus camaradas continentais foram de férias, com transportes pagos pelo governo. Eu, tal como os outros açorianos e madeirenses, não tive esse direito. Fiquei por Tavira à espera de colocação.
Recruta: José Câmara, primeira linha, segundo da esquerda
Especialidade: José Câmara, segunda linha, primeiro da esquerda
Com as divisas de Cabo Miliciano, Atirador de Infantaria, fui colocado no BII19, então sediado na cidade do Funchal, Ilha da Madeira. Foi ali que, dois dias depois de lá ter chegado, recebi a notícia da minha mobilização para a Guiné. Iria juntar-me, já em rendição individual, à CCAÇ 3327, que estava em formação no BII17, Angra do Heroísmo, Terceira. Voltava, assim, aos meus amados Açores.
Quando cheguei ao BII17, a CCAÇ 3327 estava práticamente formada, e a meio da especialidade. Apenas tive que me integrar no grupo de trabalho. Finda a especialização, fui gozar as minhas férias de mobilização à ilha das Flores, freguesia da Fazenda das Lajes, terra onde nasci, e que já não visitava desde os 12 anos de idade. Tinha deixado a ilha para poder estudar no Liceu Nacional da Horta, Ilha do Faial. Os meus dez dias de férias transformaram-se, por falta de transportes marítimos, em vinte e nove dias de lazer. Mas essas férias foram muito mais que isso…Marcaram o resto da minha vida!…
Férias de Mobilização (Fazenda, Flores): Com o meus tio J. António Silveira e esposa Mariazinha
Durante as férias da mobilização conheci uma jovem de 16 anos. Falamos algumas vezes. Convidei-a para Madrinha de Guerra. Ela aceitou! Essa jovem foi o ombro onde, em sonhos, encostei muitas vezes a cabeça, e deixei escapar, em confissão, as minhas aspirações de jovem. Nesse ombro deixei rolar a maldita lágrima da saudade, ou o desespero de um dia menos bom. Nesse ombro senti o calor e o palpitar de um coração de ouro, e ouvi a voz de uma palavra amiga e de esperança. Mais tarde, nos Estados Unidos da América, voltei a encontrar a minha Madrinha de Guerra, que também emigrara para aquele país. Hoje, como nos sonhos de então, continuo a encostar a minha cabeça naquele ombro. Relembro a lágrima que lhe rolou na face, quando nos despedimos. Relembro a realidade, nua e cruel, ali no meio do mar: o barco que me levaria de volta ao continente português, e a terras de Santa Margarida para o IAO.
A Guiné esperaria um pouco mais!
José Câmara
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)