sexta-feira, 29 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4435: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (7): Bissau, a caminho de Fá

Guiné > Bissau > 1968 > Fotos Falantes III (de 48 a 54) > A chegada do Ana Mafalda, o porto de Bissau, uma rua da cidade, navios da marinha, uma LDG a caminho do Xime... Pedaços do puzzle da(s) nossa(s) memória(s)... Fotos do riquíssimo álbum do nosso querido camarada e amigo do Fundão, Torcato Mendonça, que tem já, neste blogue, o estatuto de senador... Espero reencontrá-lo um dias destes, talvez na festa da cereja do Fundão... e dar-lhe um abraço. (LG) Fotos: © Torcato Mendonça (2009). Direitos reservados. 1. Mensagem, de 21 do corrente, do Torcato Mendonça, ex-Alf Mil, CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69 Meus Caros Editores: Como disse tenho tentado arrumar o que por aqui escrevi. Acontece que no último envio foram 'As estórias do José II, parte A', incompleta. Já tinha sido enviada e segue novamente. Ainda bem que tudo passou a 'Estórias de Manssambo'. A partir de agora não há confusões. Que chato que eu sou...mas devia ter arrumado ou tido mais cuidado com o arquivo do que escrevi. Abraços do Torcato (É pesado, se não der trabalho.... Acusem, não me importo e agradeço). A ansiedade fizera erguer-me mais cedo naquela madrugada. Assistia ao primeiro, e rápido, nascer do Sol naquelas latitudes. Ao longe, muito ao fundo, na linha do horizonte por entre a neblina já se avistava terra. O barco navegava em mar chão. Seguia o rumo das Caravelas. Rumo de impérios do passado, de desencantos e desamores. O Ana Mafalda segue o mesmo destino levando militares, não os de quinhentos para o início mas, isso sim, militares do século vinte para o fim do império. Ontem ou anteontem tínhamos passado pelo porto de Pedra Lume, Ilha do Sal, em Cabo Verde. Hoje aí estava o Continente Africano a vir ter connosco rapidamente. Fiquei encostado à amurada de bombordo, mil pensamentos a irem e virem, num falso isolamento. Àquela hora, já o convés estava a ficar cheio de militares, tão ou mais ansiosos que eu. Os velhos militares como o 1º Sargento ou o Sargento Moura Gomes, com mais de uma Comissão naquela terra, iam dando indicações apontando a terra a aproximar-se, cada vez mais por entre a neblina tropical. Quase na linha do horizonte, ao longe avistava-se um ponto negro. Aumenta de tamanho e começa a tomar forma de barco. Aproxima-se de nós um zebro, três ou quatro fuzileiros lá dentro, camuflados gastos, pele curtida por mil sóis da Guiné, acenam em saudação de boas vindas aos camaradas periquitos. Volteiam, duas ou três vezes e afastam-se acenando. Vão para a Ilha de Jeta, dizem-nos os velhos militares. O estuário do Geba e Bissau estão perto. De facto o tempo passa rápido e a terra está logo ali, verde em vegetação luxuriante. Estuário do Geba acima, pouco depois, vê-se uma ilha a estibordo e, a bombordo, apareciam os contornos da cidade. Recordação difusa, tal como a bruma que dificultava a visibilidade. A manhã já ia alta quando chegamos ao porto de Bissau e aí estava a cidade. (F Falantes III, 52). Fundeou o barco, atrás uma ilhota, à frente o cais a vir rio adentro, a marginal da cidade e um edifício grande com letras já meio apagadas – NOSOCO. Há poucos dias li um escrito e recordei esta imagem. - O que é aquilo? – perguntei. Eram os armazéns de uma Companhia francesa, hoje é tudo CUF (até o navio onde íamos) mas com nome de Ultramarina ou de Casa Gouveia. Vai ver e compreender. Resposta clara pois, para bom entendedor era suficiente. Enquanto esperávamos o desembarque, lembro-me de ter feito promessa a mim mesmo: tenho que sair daqui vivo e inteiro. Partido ou morto é igual e têm que voltar todos. Enganei-me. No regresso a Évora faltavam demasiados… demasiados… Não me lembro do desembarque. Sei que fomos para Santa Luzia. Ficamos num barracão enorme, aberto na fachada principal, um montão de colchões a um canto e pouco mais. Para dar as boas vindas, no largo fronteiro umas quantas viaturas destroçadas pelas minas esperavam para serem transformadas em peças… de três ou quatro nascia uma. Para melhor recepção fiquei de serviço á Companhia. A noite chegou rápida como a madrugada. Crepúsculo breve. Terra diferente onde até o Sol ia e vinha com pressa. Só o tempo, aquelas horas naquele barracão eram lentos a desandar. Pouco me lembro daquela noite a não ser uma partida ou brincadeira que me fizeram. Talvez, por volta da meia-noite, vieram chamar-me: - Está a chover. - O quê? Então que não chovia agora, respondi. Vim ver e senti a água a cair, aos poucos, pelas goteiras do telhado zincado. Saí. Não estava a chover. Riam-se os que me tinham chamado. Pois é, pois é, pensem quando dormirmos com as estrelas como manta…bom clima…fortifica o esqueleto. Ficamos cerca de três dias em Bissau. Vi a cidade por alto. Provei algumas comidas, fiz compras com indicação dos velhos, senti o pulsar de uma cidade com vida dada pelos militares e pouco mais (Fotos Falantes III, 48, 54). Na madrugada do dia 25 embarcamos num barco enorme, disseram-me ser uma LDG. O destino já o sabia – o Leste, quartel de Fá, de barco até ao Xime, depois em coluna auto. Simpáticos… Íamos, segundo as informações recebidas, ser a Companhia de Intervenção ao Batalhão (BART 1904), sedeado em Bambadinca. E, então sim, a comissão e a dança ia começar. Hoje, passados tantos anos, ao reler o que atrás foi escrito tenho que parar. Vêm-me à memória, em catadupa um conjunto de recordações. Paro. Nem sei quanto tempo, recostado no cadeirão fiquei, mais lá do que cá ou praticamente todo lá, naquela terra vermelha e ardente…nesse tempo, um jovem militar de empréstimo e vida interrompida. Tento então, antes de continuar, seguindo a metodologia da escrita referida no início, inserir algumas dessas recordações ou estórias dispersas. Continuarei depois, saindo de Bissau até Fá e, a partir daí 'continuar a comissão'. (*) _________ Nota de L.G.: (*) Vd. poste anteriore desta série de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4368: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (6): Raízes...

Guiné 63/74 - P4434: História do BCAÇ 4612/72 (Jorge Canhão) (4): Biologia das Populações



b. População 

(1) Aspecto histórico 

(a) Existem no Sector 04 dois "Chãos" tradicionais, ocupados há longos decénios, ou até mesmo séculos, por duas etnias com características e organizações diferentes: 
 
O "Chão" Balanta, na parte Sul, correspondendo à zona do Concelho de MANSOA que pertence ao Sector; 
 
O "Chão" Mandinga, na parte Norte, abrangendo a área do Posto Administrativo de MANSABÁ que fica dentro do Sector.  

Em qualquer dos "Chãos" predominam as populações da etnia que lhes dá o nome; ambos se prolongam para os Sectores vizinhos. 

(b) Os Balantas, ao que se julga, resultaram do cruzamento de homens Beafadas e mulheres Papeis, na povoação de DUGAL, donde irradiaram para as vastas áreas que actualmente ocupam nas quais predominam as bolanhas. Há notícias de que já no século XIX se encontravam nas áreas pertencentes ao actual Sector 04. Politicamente constituem uma sociedade acéfala, sem máquina administrativa nem instituições judiciais constituídas. O chefe político é o chefe da família; o chefe da povoação tem funções limitadas, não podendo decidir sobre qualquer assunto sem que haja um total consentimento dos chefes de família. Na sua sociedade não existem grandes diferenças de classes sociais ou de riquezas. 

Dada a sua organização político-social, dificilmente aceitaram os Régulos que lhes foram impostos pelas nossas autoridades e que por vezes pertenciam a etnia diferente, do qual resultaram ressentimentos por parte dos Balantas e pouco prestigio para o Régulo que era encarado pelas populações como um funcionário da Administração do que como um chefe natural. 

Constituem a etnia da Província com maiores qualidades de trabalho, mas praticam o roubo de gado - o que entre eles não constitui desonra, mas motivo de orgulho - e por tal facto as outras etnias tem relutância em aceitar os Balantas, visto recearem serem por eles roubados. Esta prática do roubo levou-os a serem considerados, no passado, como sendo possuidores de um elevado espírito guerreiro. Também são considerados como a etnia que mais entraves levantou á penetração portuguesa. Todavia as campanhas contra eles levadas a efeito principalmente nos dois decénios do século XX, por TEIXEIRA PINTO, enquadram-se no plano geral da pacificação da Província não havendo conhecimento de qualquer acção militar em que os Balantas sobressaíssem de forma especial. 

O seu deficiente enquadramento tradicional, antes da eclosão do terrorismo, levou-os a uma dependência económica, política e social de populações de outras etnias, sobretudo os Fulas e Mandingas. Assim as promessas, feitas pelo PAIGC, de libertação dos povos que os subjugavam, induziu os Balantas a facilmente aderirem à subversão; todavia a inclusão sistemática de Balantas nos grupos de guerrilheiros e a contribuição obrigatória de géneros alimentícios aos mesmos grupos levaram-nos a verificar que se tinham libertado duma dependência para caírem noutra; por tal facto deu-se já uma viragem na atitude dos Balantas, face ao PAIGC, nalgumas regiões da província. 

Nos dois CONGRESSOS DO POVO DA GUINE, realizados em 1971 e 1972 nos quais colaboraram todas as etnias, foram abordados alguns dos problemas específicos dos Balantas, podendo a sua solução alterar o panorama da luta que se trava na Província. 

(c) Os Mandingas habitavam já a GUINE antes da nossa chegada; possuidores de vastas tradições e de uma cultura própria, constituíram grandes impérios, dos quais o maior foi o do MALI que durou até ao Século XVII. Distribuíam-se irregularmente por toda a Província e em meados do Século XIX tiveram grandes disputas com os Fulas acabando por ficarem vencidos. 

A sociedade Mandinga, outrora fortemente hierarquizada apresenta-se hoje dividida em dois grupos: a classe dirigente e a classe dirigida; pertencem à primeira os chefes religiosos e políticos; a classe dirigida engloba três ramos de corporações de ofícios: a dos ferreiros, a dos sapateiros e a dos cultivadores de terras e comerciantes ambulantes (Djilas). 
A estrutura judicial andou sempre ligada ao poder político; o chefe da família é o juiz que resolve as desavenças surgidas na família extensa; quando as questões ultrapassam o âmbito familiar, mas se resumem a pequenos delitos, cabe ao chefe da Tabanca com o conselho dos grandes resolvê-los; antigamente só os Régulos julgavam os crimes, mas como os Régulos passaram a ser quase todos Fulas, surgiu uma procura para efeitos de julgamento, junto das autoridades administrativas. 
“O Chão”Mandinga abrangido pelo Sector C4 pertence todo ao Regulado do OIO, cujas populações, por tal facto, tomaram a designação de OINCAS. Os Oincas são considerados pelos outros Mandingas como menos puros, visto terem muitos antepassados Balantas a quem outrora se ligaram por casamentos. A sua organização familiar, social e económica pouco difere da dos outros Mandingas da Província; as maiores diferenças dizem respeito a organização política e religiosa. Assim, a organização política limita-se aos chefes de tabanca, cujos poderes são muito limitados, pois os Oincas sempre recearam estar sujeitos a um só Régulo. Têm o gosto do mando e tendências guerreiras que os levaram muitas vezes a insurgir-se contra a nossa soberania. Salientam-se as campanhas levadas a efeito por TEIXEIRA PINTO, que em 1913 derrotou os Oincas. Desde 1919 que o OIO não tem Régulo, mas os Oincas não se mostram interessados em ter um chefe único. 

Com início do terrorismo, calcula-se que um quinto dos Oincas se refugiou no CASAMANÇA (Senegal), onde mantinham estreitos laços familiares. Dos restantes, grande parte aderiu à subversão, ou por convicção, ou porque a tal foram obrigados, em consequência de as terras onde viviam terem sido envolvidas pela subversão, ou por terem sido acusados muitas vezes de terroristas, o que os obrigou a fugir. A atitude dos que aderiram convictamente à subversão, em grande parte foi devido ao desejo de reaverem a sua independência política e vingar as pressões e prepotências a que foram sujeitos. É de salientar que têm sido raros os casos de apresentação às nossas autoridades de elementos Oincas - população ou combatentes sob controlo IN. 

(d) Merecem uma referencia especial os MANSOANCAS, MANSOANCAS ou CUNANTES, que se localizam na Vila de MANSOA e povoações vizinhas a Norte e Leste, bem como o Regulado do CUBONGE. 

Inicialmente os Mansoancas resultaram do cruzamento de Mandingas e Oincas com Balantas do Norte da Vila de MANSOA; presentemente já se consideram Mansoancas muitos dos indivíduos nascidos em MANSOA, embora filhos de pais de etnia diferente. 


Originou-se assim uma mestiçagem cultural, que faz com que OS Mansoancas não se identifiquem com os Mandingas nem com os Balantas, pois até a sua língua é totalmente diferente. Todavia para alguns autores e em vários documentos, os Mansoancas continuam a ser considerados um subgrupo dos Balantas. 

Revelam uma organização política herdada dos Mandingas, embora rudimentar; estão quase totalmente islamizados, mas não desprezam os antigos ritos animistas. 

Os Mansoancas, principalmente os do Regulado do SANSANTO, aderiram com facilidade ao terrorismo, seguindo as pisadas dos Oincas.  

(e) As populações das restantes etnias existentes no Sector 04 não têm na região um passado histórico que mereça especial destaque. São minorias que vieram mais tarde e embora conservem os seus usos, religião e língua, estão enquadrados na organização político-administrativa local. Faz-se contudo uma referência aos Fulas e Mandingas que habitam em MANSOA, não só pelos seus quantitativos, como também por muitos deles exercerem actividades que os leva a estabelecer frequentes contactos com as outras populações locais (chefes ou dirigentes religiosos, pequenos comerciantes, artífices, cipaios, etc). 

(2) Aspecto humano 

(a) População 

Segundo os elementos colhidos nas administrações do Concelho de MANSOA e do Posto Administrativo de MANSABÁ relativos ao recenseamento de 1972, a população sob controlo das nossas autoridades no Sector 04 totaliza 17117 habitantes. 

Dada a área do Sector - cerca de 1350 Km2 - a densidade da população é de 13 habitantes/quilómetro quadrado. Verifica-se, porém, que cerca de 84% da população habita na região Sudoeste do Sector, na qual se situam 7 das suas 11 povoações (todas menos BISSÁ, PORTOGOLE, CUTIA e MANSABÁ), ocupando uma área de cerca de 25% do total; assim, nesta região, a densidade populacional é da ordem dos 40 habitantes/quilómetro quadrado. Em contra-partida há vastas zonas - principalmente a Leste do ROLOM - que antes do terrorismo já eram fracamente povoadas e no presente se encontram despovoadas. Embora se não disponha de dados concretos, estima-se que haja no Sector cerca de 2.500 elementos da população sob controlo de IN, dispersos pela região de CUBONGE - MORÉS (2.000) e a Norte da estrada MANSABÁ - MANHAU - BANJARA (500).  

(b) Grupos étnicos 

Predomina no Sector a etnia Balanta que totaliza perto de 11.000 indivíduos e constituiu cerca de 63% da população existente. Praticamente, nas povoações situadas no "Chão Balanta" (excepto MANSOA) apenas há populações desta etnia; no Regulado do CUBONGE (a N do RMANSOA) pertencem ao ramo dos Balantas CUNTOI, ou BRAVOS; nos Regulados de JUGUDUL e ENXALE, pertencem ao ramo dos Balantas de FORA. 

MANSOA, tem uma população heterogénea, mas perto de 50% e são Mansoancas (2.583) que, conforme se indicou já, resultaram do cruzamento de Balantas com Mandingas, mas no presente não se identificam com uns nem com outros. 

Segue-se, quantitativamente, OS Oincas e outros Mandingas que constituem a maioria nas povoações de MANSABÁ e CUTIA e cujo total dentro do Sector deve ultrapassar os 2.000 indivíduos. 

As restantes etnias são minorias, que estão deslocadas do seu "Chão" tradicional; de entre elas, são os Fulas que maior influência faz sentir, não só pela sua cultura e modo de vida, como também pela sua expressão numérica e dispersão (por MANSOA, MANSABÁ e CUTIA). 

A população europeia do Sector - metropolitanos e libaneses – é constituída por funcionários e comerciantes com as respectivas famílias e reside em MANSOA, com excepção de 01 comerciante europeu de MANSABÁ, leva uma vida normal, desloca-se com frequência a BISSAU e não há conhecimento de que favoreça deliberadamente ou esteja ligada à subversão. 

DISTRIBUIÇÃO POR ÉTNIAS DA POPULAÇÃO DE MANSOA 

ETNIA ou RAÇA            -               Nº de HABITANTES 

BALANTAS 836 
FULAS 752 
MANDINGAS 485 
MANSOANCAS 2583 
PAPEIS 147 
MANJACOS 68 
BEAFADAS 145 
JACANCAS 61 
SOSSOS 42 
TILIBONCAS 50 
SARACOLÉS 33 
BIJAGÓS 02 
CABOVERDEANOS 29 
BRANCOS > METROPOLITANOS 11 
BRANCOS > LIBANESES 19 

POVOAÇÕES E NÚMERO DE HABITANTES SEGUNDO O RECENSEAMENTO DE 1972

POVOAÇÕES - TABANCAS QUE ACTUALMENTE ENGLOBAM - NÚMERO DE HABITANTES POR TABANCA - NÚMERO DE HABITANTES TOTAL 

MANSOA MANSOA (VILA) 249 5263
LUANDA 2104 
S.TOMÉ                                    984 
ARRIA                                     585 
MANCALÃ 795 
CUSSANÁ                                 286 
MANTEFA 260 
JUGUDUL CUSSANTCHE 55 1525
JUGUDUL 849 
SUGUME 230 
BINIBAQUE     391 
ROSSUM ENCHUGAL 395 1217
BISSORÃ 481 
GAMBIA 142 
ROSSUM                                 199 
UAQUE UAQUE 235 662
CUBOI                                    427 
BINDORO BINDORO           738 1384
DANA 103 
DATE 159 
BARÁ 227 
QUIBIR 51 
POLIBAQUE                            64 
ANSONHE 42 
BRAIA BRAIA 861 1414
QUENHAQUE 351 
CLAQUE-ISMA 75 
INJASSE 127 

POVOAÇÕES - TABANCAS QUE ACTUALMENTE ENGLOBAM - NÚMERO DE HABITANTES POR TABANCA - NÚMERO DE HABITANTES TOTAL 

INFANDRE INFANDRE 376 2909 
CONTUBO 499 
ENCOME 460 
ENCHAQUE 336 
NHENQUE 225 
CLAQUEIALA 151 
INRUIDA 169  
NHAÉ 38  
UANQUELIM 117  
INJASSE 50  
NIMANE I 193  
NIMANE II 295  
BISSÁ BISSÁ 826 826 
PORTO GOLE PORTO GOLE 113 113 
CUTIA CUTIA 137 137 
MANSABÁ  MANSABÁ 1766 1766 
TOTAL 17217 

(c) Modos de vida 

A população autóctone dedica-se quase exclusivamente à agricultura, com especial interesse pelo arroz; há outras culturas – mancarra(amendoim), milho, fundo e mandioca - mas em escala reduzida. O gado, especialmente o bovino, tem também muita importância para os Balantas, não pelo seu interesse comercial, mas porque está ligado às suas cerimónias tradicionais e confere prestígio; daí a sua relutância na sua venda e uma crescente dificuldade no abastecimento de carne. As culturas metropolitanas, mormente os produtos hortícolas, têm fraca expansão e pouca aceitação no nativo, talvez pela dificuldade de obtenção de água para rega. MANSOA constitui o principal centro comercial do Sector; além dos estabelecimentos comerciais dirigidos pelos Brancos e Cabo-verdianos, existem principalmente no mercado local e imediações pequenos "lugares" de venda de panos e bugigangas (quase todos explorados por Fulas e Mandingas) e produtos alimentares. 

Nalgumas povoações existem caçadores e pescadores profissionais; os primeiros são em regra, Fulas. Não havendo cidades no Sector, a população nativa pode considerar-se toda rural. Verifica-se, porém, que BISSAU constitui Um pólo de atracção e que muitos autóctones - sobretudo os mais evoluídos - procuram arranjar empregos ou modo de vida na capital da Província, abandonando as suas povoações. 

(d) Línguas e dialectos 

Cada etnia fala a língua ou dialecto que lhe é própria; os Balantas Cuntoi e os Balantas de Fora compreendem-se, visto que as maiores diferenças linguísticas são na pronúncia. Os autóctones que estão mais em contacto com outras etnias falam frequentemente mais de uma língua ou dialecto. O crioulo - vínculo comum na Província - é compreendido por elevado número de nativos, principalmente pelos mais evoluídos

(e) Religiões, Crenças e Seitas 

Os Balantas, pouco dados à contemplação religiosa, são um povo animista, praticando o culto dos mortos e dos IRÃS. A eles oferecem o melhor que têm: o arroz e o sacrifício dos animais domésticos. Não há, entre os Balantas, qualquer classe sacerdotal, pois o ritualista é na maior parte das vezes o chefe da família. Os Oincas e restantes Mandingas estão islamizados, se bem que o islamismo por eles praticado seja do tipo africano, revelando resíduos do antigo animismo. Os Mansoancas estão quase totalmente islamizados, embora não desprezem os antigos ritos animistas (choros, culto dos antepassados, etc.). Também os Fulas seguem a religião islâmica, com práticas de fundo animistas, como por exemplo, o uso de amuletos, o culto dos mortos e a prática da circuncisão. Nas povoações em que há populações islamizadas há uma mesquita - por vezes rudimentar - e chefes religiosos que presidem as cerimónias. Os chefes religiosos muçulmanos de maior prestígio na região são os Chernos ALAJE INJAI (Futa-Fula), MAMADU DJALÓ (Fula) e MAMADU CASSAMÁ (Jacanca), todos residentes em MANSOA. Por seu turno a população Branca, muitos Cabo-verdianos e alguns nativos são católicos. Há em MANSOA a Missão Católica dirigida por 01 sacerdote, realizando-se actos de culto numa igreja, construída para tal fim na vila.  

(3) Aspecto económico 

A economia do nativo, no Sector, assenta fundamentalmente na agricultura, em especial na do arroz. Embora alguns se dediquem também à pesca, à caça e ao pequeno comércio, a sua influência no aspecto económico, pouco se faz sentir no contexto geral. 

Os comerciantes de MANSOA e de MANSABÁ dedicam-se ao comércio geral, mas raramente dispõem de víveres para alimentação da população europeia; as sucursais da casa Gouveia abastecem de combustível as Unidades e particulares.

Em MANSOA existe uma estação dos CTT, com serviço postal (incluindo encomendas), telegráfico e telefónico. Não há no Sector grandes proprietários nem fazendas que tenham explorações agrícolas ou pecuária. 

As actividades industriais limitam-se, praticamente, ao corte e serração de madeiras feitas por 01 europeu em MANSABÁ. Dada a escassa ocupação europeia e a reduzida actividade industrial, a influência da população Branca no desenvolvimento económico do Sector tem sido pequena. 

Nalgumas povoações existem caçadores e pescadores profissionais; os primeiros são em regra, Fulas. Não havendo cidades no Sector, a população nativa pode con-siderar-se toda rural. 

Verifica-se, porém, que BISSAU constitui Um pólo de atracção e que muitos autóctones - sobretudo os mais evoluídos - procuram arranjar empregos ou modo de vida na capital da Província, abandonando as suas povoações.

(d) Línguas e dialectos 

Cada etnia fala a língua ou dialecto que lhe é própria; os Balantas Cuntoi e os Balantas de Fora compreendem-se, visto que as maiores diferenças linguísticas são na pronúncia. Os autóctones que estão mais em contacto com outras etnias falam frequentemente mais de uma língua ou dialecto. 

O crioulo - vínculo comum na Província - é compreendido por elevado número de nativos, principalmente pelos mais evoluídos (e) Religiões, Crenças e Seitas Os Balantas, pouco dados à contemplação religiosa, são um povo animista, praticando o culto dos mortos e dos IRÃS. A eles oferecem o melhor que têm: o arroz e o sacrifício dos animais domésticos. 

Não há, entre os Balantas, qualquer classe sacerdotal, pois o ritualista é na maior parte das vezes o chefe da família. Os Oincas e restantes Mandingas estão islamizados, se bem que o islamismo por eles praticado seja do tipo africano, revelando resíduos do antigo animismo. 

Os Mansoancas estão quase totalmente islamizados, embora não desprezem os antigos ritos animistas (choros, culto dos an-tepassados, etc.). Também os Fulas seguem a religião islâmica, com práticas de fundo animistas, como por exemplo, o uso de amuletos, o culto dos mortos e a prática da circuncisão. 

Nas povoações em que há populações islamizadas há uma mesquita - por vezes rudimentar - e chefes religiosos que presidem as cerimónias. Os chefes religiosos muçulmanos de maior prestígio na região são os Chernos ALAJE INJAI (Futa-Fula), MAMADU DJALÓ (Fula) e MAMADU CASSAMÁ (Jacanca), todos residentes em MANSOA. 

Por seu turno a população Branca, muitos Cabo-verdianos e alguns nativos são católicos. Há em MANSOA a Missão Católica dirigida por 01 sacerdote, realizando-se actos de culto numa igreja, construída para tal fim na vila. (3) Aspecto económico A economia do nativo, no Sector, assenta fundamentalmente na agricultura, em especial na do arroz. Embora alguns se dediquem também à pesca, à caça e ao pequeno comércio, a sua influência no aspecto económico, pouco se faz sentir no contexto geral. 

Os comerciantes de MANSOA e de MANSABÁ dedicam-se ao comércio geral, mas raramente dispõem de víveres para alimentação da população europeia; as sucursais da casa Gouveia abastecem de combustível as Unidades e particulares. 

Em MANSOA existe uma estação dos CTT, com serviço postal (incluindo encomendas), telegráfico e telefónico. Não há no Sector grandes proprietários nem fazendas que tenham explorações agrícolas ou pecuária.

As actividades industriais limitam-se, praticamente, ao corte e serração de madeiras feitas por 01 europeu em MANSABÁ. Dada a escassa ocupação europeia e a reduzida actividade industrial, a influência da população Branca no desenvolvimento económico do Sector tem sido pequena. 

(Enviado por Jorge Canhão – Ex-Fur. Milº da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72) 

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Nota de MR:

Vd. último poste desta série em:

21 de Maio de 2009 > 
Guiné 63/74 - P4398: História do BCAÇ 4612/72 (Jorge Canhão) (3): Área de intervenção do Comando Chefe 

Guiné 63/74 - P4433: Efemérides: Cerimónia de Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar, em Leça da Palmeira, no dia 10 de Junho de 2009 (Carlos Vinhal)


HOMENAGEM AOS COMBATENTES DA GUERRA DO ULTRAMAR EM LEÇA DA PALMEIRA

Venho dar conhecimento, especialmente aos camaradas combatentes da guerra do ultramar do Grande Porto, da cerimónia de homenagem aos camaradas falecidos em campanha, que se vai realizar no Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira, no próximo dia 10 de Junho, pelas 11 horas da manhã, junto ao Memorial dos Combatentes.

Como nos anos anteriores, esta cerimónia é uma organização da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira (Dr. Pedro Andrezo-Tabuada e senhor Eduardo Pereira) e de um grupo de combatentes.

Temos, entretanto, a promessa do Edil de Matosinhos da construção de um Memorial dedicado aos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos mortos em campanha, que será erigido no complexo do futuro Tanatório de Matosinhos, anexo ao Cemitério n.º 2 de Sendim.

Se este projecto se concretizar, futuramente, esta cerimónia será mais abrangente, pois no Memorial estarão inscritos os 69 nomes dos filhos de Matosinhos que deixaram as suas jovens vidas por terras de África.

Convite emitido pela Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, dirigido à população de Leça da Palmeira



Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art/MA
CART 2732
Mansabá
1970/72

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4432: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (7): 4 dias de inferno em Junho de 1969


Amigos e camaradas, 

QUARENTA ANOS estão passados. 

Vou tentar descrever o melhor possível como foram os 4 dias de Inferno (7, 8, 9 e 10 de Junho de 69) no Hospital Militar. 

Em Março, tentei obter algum apoio para que a história tivesse melhor composição, para ter nas datas as zonas de onde vieram as evacuações, mas como tal não foi possível, vou descreve-la da melhor forma que poder. 

Dia 07 (sábado) 

Começava o dia com manhã calma e serena, como já muitas anteriores, que nos levava por momentos a pensar que a Guerra tinha acabado. Haviam duas semanas passadas que as evacuações eram escassas, tanto por hélios como pela base, passavam dias e dias sem uma evacuação, a calma tornava-se surpreendente. 

Tinha por hábito passar as manhãs de sábado no hospital, só depois de almoço ia até á cidade, os que não estavam de serviço, na maioria, piravam-se logo de manhã. Almocei, fui lavar a camisa que queria vestir, cortei a barba, tomei banho, enfiei-a no corpo e dirigi-me para a entrada principal para ir na carrinha que nos levava para a cidade, atrasei-me, já tinha saído, fiquei a aguardar pelo próximo transporte. 

Passado pouco tempo sinto a meu lado o médico dia, que me pergunta: 

- Para onde vais? 

Em tom de brincadeira, lhe respondo: 

- Vou ás putas! 

- Ias ! E os que lá estão têm de vir, vamos ter muito trabalho. 

Pensei que ele estava a brincar, não sei como ele soube, mas era verdade. 

Talvez não tivessem passado 5 minutos, ás 13h e 17mn, vejo vir em direcção ao Hospital 2 hélios, sem que o tivéssemos previsto… ia começar o INFERNO. 

Começam as corridas desenfreadas das viaturas do hospital para a cidade, tinha-se de ir buscar médicos, enfermeiros e todo o pessoal que fizesse parte do HM. 

A paga dos dias de calma surpreendente tinha chegado. 

Começavam as perguntas sem resposta, pensamentos sem sentido, tudo isto tínhamos de deixar para mais tarde e dar ao cérebro a liberdade de ocupar-se com as orientações necessárias para o trabalho que íamos ter pela frente, tinha de ser feito. 

Não fui dos que corri á cidade por me encontrar á civil, mas desde o primeiro momento fazia a retirada dos feridos dos helicópteros para dentro do hospital. 

Pelas 3 e tantas da tarde, tenho que mudar de roupa para puder dar apoio á ambulância que está de serviço á base, pois para lá, também já tinha começado a corrida. A tarde não tinha começado bem, mas ia ficar pior, saí do hospital com destino á base onde já se encontrava o outro condutor o B (só ponho a inicial de seu nome) lá nos encontrámos e ao mesmo tempo recolhemos os feridos com destino ao hospital, eu saí pala ultima rua da base, ele pela do meio que vinha de frente á porta de armas, chegados ali, ele sai primeiro e lá fui a trás dele directos ao hospital, como devem calcular a boa velocidade, passado os Adidos, em frente á Engenharia dá-se o azar, o B atropela 7 africanos que se encontravam á beira da estrada, não parámos nem ele nem eu, teríamos que desocupar primeiro as ambulâncias, para os vir recolher, quando lá chegamos já tinham seguido num Unimog da Engenharia, se não me engano 5 morreram. A partir desse momento o HM fica com menos um condutor, quando mais falta fazia. 

Resto do dia, trabalho em força, começa o posto de socorros a não ter capacidade para tantos feridos, começasse a pôr macas em fila no corredor com os feridos menos graves, que prontamente ali são assistidos com os cuidados necessários, deixando assim um espaço maior no P S para os casos mais graves que posteriormente iam chegando, que não foram poucos, pudessem ser encaminhados com mais rapidez ao local adequado ao seu tratamento e recuperação, quero com isto dizer, SO, CI (cuidados intensivos), PC (pequena cirurgia) e BOs (blocos operatórios), aqui sim se terá instaurado o caos, não havia mãos a medir, nem médicos, nem enfermeiros tiveram o mínimo descanso pela noite dentro e restante pessoal tinha muito trabalho pela frente e ajudas a prestar. 

Posso dizer que, até dentro do posto de socorros, foram feitas massagens cardíacas (peito aberto) directas ao coração. 

Por muito que me custe, não posso fugir á verdade, alguns tiveram como destino a ultima morada. 

Cama, nem vê-la. 

Estava aberta a sala da messe de sargentos, durante a noite, para se ir petiscando qualquer coisa, mais que não fosse, pão com manteiga e copos de café com leite. 

Dia 08 (Domingo) 
 
Porra, mas que está a acontecer? 

Rompe o dia, sem termos tempo para um bocadinho de merecido descanso e a casa ainda um pouco desarrumada, com o som característico de hélices em rotação, tinha começado mais um dia sangrento não sei se pior ou igual ao anterior, mas melhor não foi. 

Chegada e partida de helicópteros todo o dia, corrida de ambulâncias para cima e para baixo, mas desta vez, com PM no percurso. 

Spínola, chega de manhã ao Hospital para se inteirar da situação. 

É levantada a ideia de se ter de montar um Hospital de Campanha. 

Não se concretiza. 

Corrida de dois Unimogues 404, durante o dia, para a cidade e Brá a fim de recolher militares para dar sangue. 

Entramos uma vez mais pela noite dentro com o mesmo esquema da anterior. 

Cama, nem vê-la! 

Talvez dada a circunstância de só termos entre 20 e 22 anos, pela força de vontade, com a ajuda de algumas chuveiradas que íamos tomando de tempos a tempos, conseguíamos levar a cruz ao Altar, com dignidade e respeito, mantendo a cabeça bem equilibrada no sitio para não haver nenhum descontrolo. 

A sala do copo de café com leite, continuou aberta toda a noite 

Há!... não posso esquecer que os médicos também precisavam, e bem, de serem tratados. 

Quando tinham a possibilidade de descansar um bocadinho, lá o íamos levar a casa para tomar um bom banho e mudar de roupa, era só esperar e traze-lo de volta, fosse de dia ou de noite, alguns médicos, num bocadinho que tinham durante a noite, vinham ao bar encostarem-se um pouco no sofá para descansar a pestana, mas o tempo era pouco até ao reinicio da próxima viagem. 

Éramos uma grande equipa, talvez possa mesmo dizer… que família! 

Dia 09 (2ª. Feira) 

A manhã surgiu mais calma, que alivio, mas a noite uma vez mais se tinha tornado bastante cansativa, ao encarar a claridade os olhos pediam uma boa chapinhada de água, lá os levei para baixo do chuveiro com corpo cabeça e tudo, pois o dia ainda prometia muito trabalho, não com tanta intensidade, mais compassado tanto por ar como por terra. 

Spínola chega de manhã para se inteirar novamente da situação. 

Chegou a ser posta a ideia de serem substituídos os condutores do Hospital por condutores dos Adidos ou da PM. 

Não foi aceite, nem tão pouco para um serviço daqueles faria sentido. 

O Hospital, se não me engano e creio que não, estava com 15 condutores, no mínimo. 

Alguns já tinham começado a descansar pela manhã. 

Cegada a noite, a 3ª foi de vez, fui para a cama, dormi que nem um anjo, nem o diabo me acordaria. 

Dia 10 (3ª. Feira) 

Levantei-me ás 7, a manhã estava calma no exterior. 

Mas o interior do Hospital continuava com bastante trabalho. 

Durante o dia ainda houveram muitas evacuações, mas nada comparado com os dias anteriores. 

Mas como o azar não podia ser só para os de fora, também teria de tocar uma vez mais a nós… não falhou!  

E calhou ao mesmo. 

Como algum pessoal estava a descansar, isto referindo-me a condutores, e os que não estávamos andávamos atarefados, e bem, com os trabalhos em curso, o B, ao ouvir dizer que era preciso ir arranjar mais malta para dar sangue, se ofereceu para ser ele a fazê-lo. 

Todos sabíamos e ele também que não podia conduzir, motivado pelo acidente de sábado atrás, mas tanto pediu e de boa forma o fez que o Tenente deixou. È claro, filho pede…pai cede! 

E lá foi. 

Levou o Unimog Grande com a parte de trás coberta com a capota. 

De regresso ao Hospital, onde só podia trazer 18, trazia 23, quando já estava perto do hospital, em frente ao Bairro da Ajuda, pelo que disseram, um cão aparece-lhe á frente ele guina para o lado da berma falha e tomba, capotando para a vala. Não podia ser pior. 

Se o trabalho no Hospital ainda andava bastante complicado, pior ficamos. 

Deu mortos, feridos e amputados. 

O 1º a socorrer foi um condutor da Base, vinha a passar e levou dois ou três, ao entrar com o autocarro bateu com o mesmo no ferro que levantava na entrada principal que o virou para o outro lado. 

Mais uma noite entrada por ai dentro. 

O condutor B, ficou bastante mal, teve de ser operado á cabeça e evacuado para Lisboa. 

Não sei se se salvou ou não, não soube mais nada dele. Por esse motivo só ponho a inicial de seu nome. 

NOTA: Se tivesse comigo os apontamentos que trouxe, estariam também aqui os nomes dos soldados evacuados e as zonas de onde vieram. 

Tivemos também o apoio da ambulância da base, a esposa de um médico do Hospital, que também era médica, esteve presente. 

Pelo que se falava, todos que eram médicos em Bissau, para lá foram encaminhados. 

Não foi montado Hospital de campanha, mas foram fretados á TAP aviões para fazerem as evacuações para Lisboa naqueles dias. 

As Nossas Queridas Enfermeira Pára-quedistas, não me lembro bem, depois de um dia bem estafadas, á noite ainda lá iam dar uma mãozinha. 

Houveram evacuações nocturnas. 

Fico por aqui. 

Um abraço para todos, 
António Paiva 

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Nota de MR: 

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