quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6844: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (15): Buba, quotidiano, deveres e desenrascanços

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 9 de Agosto de 2010:

Camarada e Amigo Carlos Vinhal, renovadas saudações Guinéuas.

Pretendo traçar um quadro das minhas “estórias,” passadas no Teatro Operacional “TO”, em Buba, passando pela segurança aos trabalhos da abertura da nova estrada por Samba Sambali–Nhala, em direcção a Aldeia Formosa e bem como do meu quotidiano nos deveres e na procura dos desenrascanços.

Com um abraço amigo
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Auto Rodas
CCaç 2381, Os Maiorais de “Empada”


As minhas estórias em Buba (2)

Parte 1

Foto 1 – Guiné> Região Quinara> Buba> Aspecto do Refeitório> 1969 > Na hora da refeição destinada à Companhia. Num quadro negro a simular saborear um pitéu, “argamassa pestilenta” de bianda com chispe que não comi. Fui somente buscar o pão e o vinho, com cuidado o “diabo do bufe” podia tece-las e informar o Oficial Dia.

O refeitório e zonas de apoio de cozinha e despensa apresentavam um estado de degradação de condições miseráveis e desumanas, assim como as mesas e bancos de assentar. As refeições alternavam-se entre chispe, dobrada e salsicharia, produtos com má conservação, e eram confeccionados com o arroz (bianda), o feijão-frade (ciclistas) ou as batatas desidratadas (foto 1). O vinho carrascão chegava em garrafões de 20 litros.

Em Buba, era servida comida com odor pestilento, tratavam-nos de forma irracional sendo uma desconsideração como humanos, digeria uma repulsa de não ter frequentado o CSM e depois quanta diferença em Empada. Mas enfim não há bela sem senão e contudo estou a escrever estas “estórias”..!

Tudo se agravara em Fevereiro/69 após um ataque In a duas Lanchas em que se faziam os transportes de mantimentos, ficando uma temporariamente inoperacional, dificultando ainda mais os reabastecimentos.

Mas como quem não tem cão caça com gato, contrapondo com a deficiência alimentar, sendo eu conhecedor da forma de apanhar peixe por meio de rebentamento. Dando a volta à interdição de usar granadas de mão, pelo perigo dos estilhaços e ao forte estrondo que seria facilmente perceptível pelo Comandante do Sector, Major Carlos Fabião.

Assim, na subida de maré, de preferência da manhã, aguardava a chegada dos fartos cardumes, depois optava por retirar o detonador de uma granada de mão e esta assim por si deixava de produzir qualquer efeito explosivo (ensinaram-me a queimar a carga de rebentamento comprimida de forma inofensiva e lentamente). Seguindo-se quando fosse propício aos maiores peixes, o retirar a cavilha do detonador e lançando-o ao rio, com a detonação dava-se a danificação do sistema da bexiga-natatória dos ditos, levando-os à sua morte e vindos à superfície em que os maiores seriam os escolhidos.
Não seria a melhor forma de apanhar os peixes, devido a algum desperdício de matar grandes e pequenos e em que alguns iam morrer distante, mas era a lei da sobrevivência saciando a fome a muita gente e de outros peixes.

Sendo necessário agora “amanhar” o apanhado, a confecção teria de ser no mesmo dia (para o almoço e jantar) porque não tínhamos frigorífico e o 1.º Cabo Escritas (hoje grande empresário na restauração, em Soure) tinha a incumbência de resolver a confecção. No entanto ficava pendente do 2.º Sargento da Secretaria, João Gouveia (Madeirense) e que nem sempre o libertava atempadamente.

Possuíamos um chalé/abrigo T1, com fogão a petróleo, despensa com vários temperos, batatas do “gamanço,” pão do dia e o vinho trazidos do refeitório, as frutas eram as bananas, laranjas e enlatados, a cerveja e/ou coca - cola (ver foto 2)


Foto 2 – Guiné> Região de Quinara> Buba> Abril-1969 > Pela Páscoa, na sala de refeições (espaldão de morteiro 81mm), estando comendo sobremesa de pudim, está colocado num pequeno alguidar (não havia frio para consolidar). Foi um luxo enviado ao tempo pela minha namorada. Na direita da foto, a zona da espalda do abrigo, onde o cabo escritas dependurado estava a ver um fogacho In.

Quando havia abundância, por vezes tínhamos convidados amigos por conveniência, porque a despensa tinha que estar fornecida, para bom entendedor meia palavra basta e porque quem mexe no mel também lambe os dedos.



Foto 3 – Guiné> Região de Quinara> Buba> Abril de 1969 > Pela Páscoa, eu, assentado no coroamento do espaldão do abrigo do Morteiro 81 m/m e bebendo whisky já com o mostruário da minha garrafeira, porque na Metrópole era contrabando e numa forma geral só era servido em “Bar-Boites.” Não esquecendo o conhecido “Whisky Palhinha feito numa banheira, em Lagoa e tipo Sacavém.

Tendo eu uma certa flexibilidade de horário para exercer funções de especialidade, as quais cingiam-se ao período da manhã e por conveniência dado não termos viaturas distribuídas, havia os mecânicos auto da CCS e da CCaç 2382, os quais só por si pretendiam assegurar o serviço diário.

Estando livre, era normal fazer natação junto ao Cais e o serviço de fotógrafo no exterior, chegando a noite por conseguinte havia energia eléctrica e efectuávamos os trabalhos no pequeno laboratório instalado na gruta do citado abrigo de morteiro.
Como curiosidade em fotografia era fácil obter com bajudas com o peito a descoberto, porque quando pretendiam tirar fotos tipo passe para o Cartão de Identidade “cá mist fotografia di mama firme” e assim sendo dizia-lhes que para aquele fim ficava só do peito para cima.

Foto 4 – Guiné-Bissau> Região de Quinara> Sector de Buba> 1969 > Linda bajuda de mama firme, é um dom de Deus e privilégio da natureza.

Foto 5 – Guiné-Bissau> Região de Quinara> Buba> 1969 > Kadi, filha da lavadeira. No interior da Guiné era comum as bajudas andarem de tronco nu e sem qualquer pudor.


Parte 2

Aos Praças, estavam destinadas instalações de acomodação, de apoio e de defesa, que não eram adequadas na sua capacidade e funcionalidade para a situação de guerra. Estando o Comando ainda numa fase de recuperação, do tempo perdido de adaptação há realidade e que ainda pensavam na sorte da má pontaria In.

Havia quatro casernas (só protegiam-nos do Sol, da chuva e das balas), havendo outros compartimentos para pequenos grupos e tendas de campanha. Nas casernas os beliches pela sua disposição dificultavam uma rápida evacuação.
No ponto de visa sanitário existiam grupos de balneários/lavadouros em condições que deixavam muito a desejar, mesmo sendo o possível.

O Bar e Cantina, também tinham as suas limitações, tomando como referência, em tempo, os cerca de seiscentos militares ali estacionados.

Relativamente ao sistema de protecção em caso de flagelação, existiam valas/trincheiras dispersas pelo aquartelamento e abrigos construídos, alguns de forma tosca e com localizações pouco pensadas (ver foto 4, ponto3).

Durante o tempo que permaneci no Aquartelamento de Buba, o In flagelou estas instalações militares por quatro vezes, só actuando na astúcia devido também há forte actividade no Sector, das nossas tropas de Elite, Pára-quedistas, Fusas e Comandos, das situações realce as seguintes “estórias:”

-Em 22/07/68 e14/02/69, deram-se fortes flagelações a Buba, as quais já foram amplamente descritas por mim nos Postes P5304 e P5699, e agora mencionar seria repetitivo.

-Em 21/04/69 era noite estando com o 1.º Cabo Escriturário António Soares, na gruta do abrigo do morteiro, a executar trabalhos fotográficos, o In flagelara o quartel de Buba com armas pesadas e instaladas na margem esquerda de um braço do Rio Buba.

Como mandavam as regras (em ataque à distância) aguardei na expectativa, o meu sócio “inteligente” foi observar o espectáculo no exterior, dependurado no coroamento do espaldão do abrigo (ver foto 2). Tentei convencê-lo a se recolher mas estava a gostar do espectáculo, dera-se uma explosão, em que tive o pressentimento de ter sido no e/ou junto ao abrigo. Pensando o pior, vociferei c.b. já lerpaste, fui vê-lo estava confuso também pelas terras e estilhaços que lhe caíram por cima.

Na manhã seguinte fomos presenciar os estragos, vimos a sorte que ele teve por a granada de canhão s/r ter vindo na sua direcção e o impacto da mesma dar-se no lado exterior contíguo ao muro do espaldão. Se no local de disparo a pontaria fosse feita mais ou menos uma milésima, “já foste” e hoje não continuávamos grandes amigos.

-Também nos primeiros dias de Maio, quando já aguardávamos o embarque da segunda leva na LDM, de parte do pessoal da CCaç 2381, para se agruparem no Subsector de Empada e a fim de renderem a CCaç 1787 (foto 5).

Estando com camaradas, nos balneários/lavadouro em zona que não incomodava o descanso de outros, para passar o tempo jogávamos à lerpa. Eis que grupo In efectuou uma flagelação, vindo da margem esquerda do rio e lateral ao Aquartelamento. Eu e outro camarada, protegemo-nos dentro de um tanque de lavagem de roupa e os outros seis foram para outro local. Quando ao entrarem no vão de acesso de um abrigo (ponto 6 na foto 4) e por conseguinte dobrados, dera-se uma das explosões de granada de canhão s/r, na parede traseira do Depósito de Géneros ou Arrecadação de Material de Guerra (veja-se foto 4), porém os dois últimos que estavam a aguardar a entrada levaram com estilhaços nas nádegas e nas costas.

Foto 4 – Guiné> Região de Quinara> Buba> Aquartelamento> 1969 > Estou sentado no coroamento do espaldão do morteiro. 1- Balneário e lavadouro; 2- Base do celebre poilão de referência para pontaria In; 3- Abrigo de protecção de construção tosca e com entrada lateral; 4- Parede do impacto da granada canhão s/r In; 5-Rampa; 6- Zona contigua ao relacionado abrigo e com descrição idêntica ao ponto 3.

Tendo efectuado uma visita há Enfermaria, vendo-os nas macas “de nádegas pró ar” com ferimentos e havendo a natural galhofa “com os normais palavrões de ocasião.”
Os sortudos não eram da minha Companhia, mas de unidades de passagem e/ou fixadas em Buba caso ainda existam ou os Enfermeiros de serviço, podiam também dar uma achega daquela situação e porque além do azar tiveram uma pontinha sorte.

Foto 5 – Guiné> Região de Quinara> Buba> No leito do Rio Buba> Maio de 1969 > À esquerda, o Soldado Condutor Auto Hermínio Andrade da CCaç 1787, vindo de Empada de passagem para Quinhámel, depois do ataque a Buba, sendo meu conterrâneo e ex-colega de classe da Escola Primária, fora propositadamente cumprimentar-me. Veja-se as calças com brilho “encharcadas,” teve que saltar da LDM para terra.


Parte 3

Devido a que o In actuava por vezes em situações de surpresa e de vantagem, dava a entender que as nossas tropas estavam a ser controladas em certas acções operacionais e nomeadamente o que acontecia com a 15.ª Companhia de Comandos, que chegara a Buba em Janeiro/69, a qual era comandada pelo Capitão Garcia Lopes e onde também operava o Tenente Robles, identificado pelas cicatrizes na cara.

Não sendo eu parte interventiva nem presencial, embora memoriando algumas situações da 15.ª Companhia de Comandos, Guiné 68/70, não me compete comentar o desenrolar dos prós e dos contras, contados por interpostos camaradas. No entanto não deram tréguas ao In e com resultados de grande êxito militar nomeadamente em 10 de Abril/69.

Sabendo-se que esta Unidade Militar de Elite recolhera a Bissau, em meados de Outubro/69, dado ao grande esforço das acções empreendidas e ao desgaste físico. Posteriormente vários dos seus operacionais foram distribuídos reforçando outras Unidades e inclusive como recompletamentos para a CCaç 2381 (ver fotos 6 e 7).

Foto 6 – Guiné> Região de Quinara> Empada> 1969 &gt > O ex-1.º Cabo Comando Atirador, Nuno Rosa, quando colocado na CCaç 2381.

Foto 7 – Guiné> Região de Quinara> Empada> 1969 &gt > Na Porta de Armas do Aquartelamento, o ex- Soldado Comando Atirador, por exclusão de partes presume tratar-se de “António Bastos.”


Parte 4

Assim como outras Unidades de Intervenção não tiveram tarefa fácil nas missões de patrulhamentos e segurança aos trabalhos de abertura da nova estrada de Buba - Samba Sambali – Nhala - Aldeia Formosa, nomeadamente a CCaç 2381, que estando lutando com insuficiência de operacionais devido a evacuações, baixas médicas e de férias.

Por conseguinte tiveram que alinhar camaradas do Pelotão de Comando e Serviços, situação onde me incluía e tendo o fim de ficarmos colocados em Samba Sambali – Nhala, ex-Tabanca abandonada e a partir 11 de Março/69.

A antes situação deveu-se a que a 10 de Março/69, quando se procedia à ligação da variante da estrada de Samba Sambali – Buba, o “Caterpillar D 7” do BENG, accionou uma mina a/c reforçada causando dois feridos (um Oficial e um Sargento) e elevados estragos à máquina tornando-a inoperacional.

Pela situação deparada do “Caterpillar D 7” não poder regressar a Buba, sendo necessária a sua reparação no local, para dar protecção também a outras máquinas por decisão do COMSECTOR, evitando-se a sobreposição de esforços e de perdas de tempo.
Por conseguinte dentro do cercado da Tabanca, uma máquina de terraplanagem efectuara escavações formando poços para abrigos, onde se montaram tendas de campanha e no seu perímetro amontoaram-se as terras para se construírem roços/trincheiras, sobre as mesmas colocavam-se sobrepostos sacos cheios de terras materializando-as com frestas.

Das várias vezes que efectuei segurança à estrada e escoltas, não ouve algo a assinalar de intervenção com o In por o mesmo não se ter manifestado directamente.

Uma das situações que ainda hoje me está na retina, foi dentro do cercado de Samba Sambali da presença de um indivíduo à civil de raça negra, com muito àvontade não aparentando ser capinador e/ou Milícia, de cara com bom trato e vestes tradicionais que me chamou a atenção. Fitamo-nos olhos nos olhos, ele seguiu o seu caminho, eu como precaução simulando segui-o a certa distância levando a G3 e a observar os seus movimentos, passara por vários e não tendo qualquer interferência. Retirando-se sem ser referenciado nem pelos africanos e nunca mais tornara a vê-lo.

Ponderando a situação deparada fiquei com o dilema se o interpelo poderia dar-me complicações, o de interferir com um civil e/ou elemento da “PIDE,” por meio de coacção sem que para isso estivesse incumbido lembrando a APSICO. Se fosse In já vinha preparado para tudo, eu na dúvida seria o surpreendido e assim joguei na reacção ao acontecimento. Contudo nada acontecera no período que eu ali permaneci, mas, e ainda continuo a relembrar aquela situação.

Nos primeiros dias de Abril/69, a minha CCaç 2381 fora rendida penso que pela CCaç. 2464 e regressando a Buba.
Posteriormente contaram-me que numa das flagelações ao reduto de Samba Sambali, no local onde construi o meu sistema de protecção e de acomodação, um militar africano a quem eu lhe cedera o lugar, foi vitima de granada In e/ou do dilagrama da sua arma (porque eu vi que ele a usava instalada e fiz-lhe essa observação), isto é podendo ter disparado com bala real e causando-lhe acidente.
Assim como soube-se que em determinado dia, guerrilheiros do In disfarçados de capinadores surpreenderam as nossas tropas e tendo estas reagido de imediato pondo-os em debandada (poderá ter algum relacionamento com a minha situação).


Parte  5

Conquanto em Buba havia a suspeição de alguns mandingas, que ao rio iam pescar “nkadjam nha canua” encalhavam a canoa e iam transmitir informações ao In. Quando se ausentavam, por vezes chegavam tarde e não se preocupavam. Nós víamos e comentávamos que estavam conotados com o In, estes por vezes tinham conhecimentos antecipados de alguns movimentos das nossas tropas.
Como curiosidade temos que de noite ao passarmos pela Tabanca e se havia silêncio, era pormenor de que estava para acontecer uma flagelação.

E assim, observara que devido às antecedentes situações suspeitas, no mês de Abril/69, o COMCHEF General António de Spínola, expulsara parte da população de Buba e sendo toda da etnia dos mandingas.

E, lá fomos presenciar o pessoal africano (parecia uma romaria) transportando os seus pertences, com uma algaraviada clamando para que não os mandassem embora, porque todos se achavam inocentes e pagando o justo pelo pecador. Por conseguinte embarcaram no Cais de Buba e ouvimos dizer que levavam “guia de marcha” para uma determinada Ilha do Arquipélago dos Bijagós.

Também a minha lavadeira por ser Fula e mulher de um Milícia, ficou contente pela situação deparada e contando-me que suspeitavam dos pescadores mandingas de serem bandidos.

Assim, citei de forma superficial e sucinta, algumas “estórias” aquando da minha estada em Buba e Samba Sambali – Nhala, com situações várias que foram comuns a muitos camaradas.

Com um abraço amigo
Arménio Estorninho

Ex-1.º Cabo Auto Rodas
CCaç 2381, Os Maiorais de “Empada”
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 9 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6838: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (14): Buba, Operação Larga Passada

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Estorninho:
Como as coisas mudavam na Guiné! No meu tempo 72/74, em Mampatá, invejávamos a comida de de Buba. A verdade é que a companhia que lá estava tinha, diariamente, dois militares cujo trabalho era pescar, com rede ou com linhas e anzóis, desde tainhas a pargos, passando por cações , estes a tiro, quando se ensarilhavam nas redes. Estive lá um mês a render o fur. enf. do Bat.3852.Utilizavam um barco de fibra tipo sintex. Comia-se muito peixe frito mas o cação era de caldeirada. Por esse tempo Buba não era atacada mas sim Aldeia Formosa, nesta altura sede de batalhão.
Ambos falamos verdade, dizendo coisas diferentes, reportadas naturalmente a períodos diferentes.
Um grande abraço
Carvalho de Mampatá.

Carlos Nery disse...

Oiço falar de Buba e recordo aquela imagem da garrafa meia cheia ou meia vazia... Quem vinha de pior (como foi o caso da minha companhia), gostou do que encontrou. Quem estava habituado a melhor...
Pela minha parte, confesso, quando ali cheguei e vi novamente um lençol limpo senti um enorme conforto. Em Contabane, e depois em Mampatá, dormia meio fardado, algumas vezes no chão e de botas calçadas...
Mas não resisto a transcrever da História da Caç 2382 algumas passagens:
07ABR69 - "O esforço exigido ao pessoal era enorme. As longas permanências no mato, a tensão constante, as carências alimentares de variada ordem (durante muito tempo não foi possível consumir carne em Buba, dado que o grande número de pessoal ali sediado tornava quase impossível o reabastecimento necessário) minavam a resistência física e moral do pessoal.
23ABR69 - (Op."Pica-Pau" na zona de Nhala)"Chama-se a atenção para o facto de não estarem os pelotões completos dado que grande número de pessoal ficou em Buba, por conselho médico, em resultado do esforço realizado pelas NT na contra-penetração e segurança dos trabalhos da Estrada Nova. Por exemplo, os 1º e 2ºs pelotões deslocaram apenas 14 praças cada, para a operação".
27ABR69 - "O esforço exigido ao pessoal da guarnição de Buba durante o mês de Abril provocou um aumento considerável de indisponíveis"(Rel. periódico de acção psicológica nº. 4/69).
"A falta de frescos e artigos diversos de alimentação que se fez sentir grandemente neste período influíu enormemente no moral das tropas, em virtude da deficiente alimentação a que o pessoal foi sujeito" (idem).
07MAI69 - "O esforço exigido ao pessoal continuava a ser muito grande. Para avaliar o estado de saúde da guarnição deslocara-se a Buba, em princípios de Maio, um grupo de médicos que elaborou uma lista do pessoal mais depauperado. Esse pessoal foi enviado para Empada a fim de recuperar".

Carlos Nery disse...

Pois é amigo Estorninho, houve tempo em que se comia bem em Buba mas houve outro tempo em que tudo se alterou. Durante 1969 os efectivos em Buba ultrapassaram muitas vezes os 600 homens. Creio mesmo que se aproximaram de 1000, algumas vezes. Não creio que houvesse unidade de mato na Guiné que nestas circunstâncias conseguisse fazer melhor do que o vaguemestre, pessoal de cozinha e padeiros da CCaç 2382 conseguiram fazer, prolongadamente. Durante várias horas do dia serviam-se sucessivos turnos nos refeitórios. E o abastecimento de certos géneros para tanta gente era quase impossível.
Meu caro Carvalho, conseguir pescado para dar comer a tanta gente só se ali houvesse uma empresa de pesca de grande dimensão!
Eu quase me atrevia a dizer que, quem veio depois, beneficiou do esforço das unidades que ali estiveram no terrível ano de 1969.
"Você esteve na pior altura e no pior sítio", disse-me um dia o Carlos Fabião, cortando-me a palavra quando me ouviu, de certa maneira, desvalorizando o esforço ali feito e a que ele assistira.

Anónimo disse...

Caro Camarada Calos Nery,depois de uma leitura mais atenta ao v. comentário/crónica (1) e que para mim teve o fim de tirar ilações. Talvez não se tivesse apercebido de que eu fazia parte da C.Caç.2381 "Os Maiorais." E,Contudo deixou margem para lhe dar algumas achegas esclarecedoras.

Assim, em Aldeia Formosa, Mampatá e Chamarra, os Praças da C.Caç.2381 e da C.Caç.2382 esta sob o seu Comando, estavamos habituados pela alimentação a sermos respeitados como seres humanos e sem duvida alguma.
Por conseguinte também com um nim aceita que em Buba havia insuficiência de alimentos e que não eram de boa qualidade.

Relativamente há forma de acomodação era a possível e aceitável, com um senão da funcionalidade das casernas para uma saída rápida.
Contraponde, desde que embarquei no Niassa em Liboa a 01/05/68 e cheguei a Aldeia Formosa em 26/07/68, não sabia o que era uma cama na acepção da palavra e chegado aqui como Praça fora um bênção.

Quanto ao esforço do pessoal da C.Caç.2381 "Os Maiorais" (1GRCOMB) "Alfa," mais algum pessoal sob o seu Comando e por essa situação foram para Empada recuperar, em 01/06/68.
Tendo ficado esclarecido relativamente a um enigma e o qual trata-se de ao tempo da presença em Empada de alguns barbudos desconhecidos (dos quais tenho foto).

Com cordiais cumprimentos
Arménio Estorninho

Carlos Nery disse...

Certo amigo Estorninho. Sei muito bem com quem estou a falar, aliás já o fizemos algumas vezes anteriormente...
Creio que vou ter mesmo que fazer um Poste sobre os Trabalhos da Estrada Nova... Vou ter que reunir papelada e tentar reconstituir tudo...
Para ver bem como a situação se tornou complicada em Buba: Em AGO69já não havia hipótese de encontrar alojamento para mais gente quando se apresenta em Buba um pelotão de tropa africana. Vieram perguntar-me onde se poderiam alojar esses militares. Não havia hipótese... Decidi então alojá-los na capela. (Então alguns de nós, em Contabane, não nos tínhamos abrigado na Mesquita?)
O extraordinário é que no dia seguinte desce na pista de aviação o Capitão Capelão Militar, de nome Capitão, por coincidência! Há meses que não víamos um capelão em Buba e é logo na manhã seguinte à minha decisão que ali nos chega um e logo duas vezes capitão...
Foi difícil convencê-lo de que aquela situação era excepcional e que nunca tinha ocorrido anteriormente... Tão pouco convencido deve ter ficado que daí a dias lá vinha um ofício do QG pedindo esclarecimentos... Acabei por responder mal a esta nova indagação, embora, aqui para nós, eu ache que tive mesmo o cúmulo do azar!...

José Marcelino Martins disse...

O Capitão Capelão Militar é o Padre Manuel Capitão, que conheci no Regimento de Transmissões no Porto (Quartel de Arca d'Água). Estava colocado no Quartel General, para onde voltou no fim da comissão, e sei, que foi colocado no Quartel General em Lisboa, tendo deixado o sacerdócio e abraçado o casamento.
Já tentei localizá-lo, mas sem sucesso.
O "resort" que tinha em Santa Luzia, era, quanfo me pareceu na altura que lá o visitei, pouco melhor que uma tabanvca de "querintim".