domingo, 9 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12813: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (4): Semanas para esquecer

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 4 de Março de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua habitual Crónica (semanal) Higiénica para publicação.





CRÓNICAS HIGIÉNICAS

4 - SEMANAS PARA ESQUECER

As duas últimas foram tramadas: amigos que nos deixaram sem mais nem ontem e que me fizeram pensar quão mais bera devo ser, considerando o dito "só morrem os bons".
PAZ LÁ ONDE ESTEJAM.

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Mas o blogue continuou cheio de adesões, pleno de colaborações, muitas fotos e mais histórias vividas.

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E no P12733, "O que fazer deste blogue", é sugerida uma ideia no sentido de criarmos algo para que possamos usufruir os merecidos cuidados que nunca tivemos por parte dos governantes cá da terra e até colaborar para que não continuemos esquecidos. Mas... e há sempre a porra dum "mas" eu disposto que estou a entrar nessa, devo contudo lembrar, que já muitas petições foram feitas não só por parte das Ligas... das Associações... dos blogues dos Combatentes, e também individualmente, por centenas, entre os quais me incluo e hoje mesmo 1 de Março, até protestamos ao vivo.

Será talvez, através da alteração do voto, que alguma coisa se conseguirá, considerando que botar o "X" nos habituais não tem resultado apesar de que quem o fez, o fez por acreditar no que dizem os seus mentores mentirosos compulsivos. Nanja eu que até democrata sou e aceito os resultados expressos nas urnas, mas desde que o Sporting deu aquela abada dos sete a um, ao Benfica, deixei-me de politiquices e de futebol e só me tenho dado bem.
Até esse dia fui adepto de vários partidos (nunca militante)... aos dezasseis aninhos era da esquerda, com todos os pobrezinhos que trabalhávamos lá na moagem da minha terra e em 1967, após o regresso vivo da nossa Guiné, até delegado sindical dos Bancários me atrevi a ser e continuei, apesar de me terem avisado:
- É pá se queres "subir" na vida, deixa-te disso agora... espera mais seis anos... aguarda pelo vinte e cinco do quatro de 1974, que aí sim valerá a pena. Vão haver "ocupações", os patrões deixarão de o ser, a Banca será nacionalizada e então sim: "quem tiver olho é rei".

E estava certo sim senhor, não totalmente pois que apesar de tudo, subi o que havia de subir, o que prova que os, trabalho e honradez, também tinham algum valor. Mas lá que vivi em liberdade, vivi sim senhor e durante catorze anos seguidos, mais propriamente, trabalhei na Avenida da Liberdade, junto aos Restauradores, como "caixa" do meu Banco e até fui considerado o melhor de todos, podem crer.

Aceito a democracia (que remédio...) mas aceito melhor a Fisioterapia. Nesta, passam-me a mão pelo lombo e as dores vão passando, naquela passam-me a mão pela carteira e dói... dói... dói cada vez mais. Penso até que nunca mais haverá lenitivo que resolva a situação. Daí que e como atrás digo, penso não valer a pena continuarmos a querer que nos olhem doutra forma, pois que eles mesmos (os deputados) têm plena consciência de quem somos, do que nos é devido e o que ambicionamos. Só que essas boas gentes decerto... filhos e enteados doutros que já por lá estiveram e se reformaram no máximo com doze anos de trabalho insano e também os das juventudes partidárias, não querem que existamos e em boa verdade, dentro de quinze ou vinte anos NÃO HAVERÁ MAIS COMBATENTES menos tempo do que Portugal pagará as dívidas contraídas por eles e os seus partidos.

Soluções em vez de críticas? Claro que as tenho, mesmo analfabruto que sou, mas os poderes oligárquicos que são, não aceitarão... era só o que faltava.
Olhando para aqueles excelentíssimos que fazem leis a seu favor, não vejo lá ninguém que nos represente. E então porque não poderá haver pelo menos um antigo Combatente no para lamento Parlamento? Em boa verdade há lá um, qu'até esteve na Guiné, mas as atitudes que tem tomado, mais parece ser contra nós.

Repito a ideia, que a coisa só se resolverá, com consciência de votar em quem mereça. Anarquia por anarquia... mentira por mentira... mais vale dar um pontapé nos fundilhos de quem muito nos tem prometido e melhor humilhado.
Tenho dito.

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Guiné > Bissorã > 1969: Quartel utilizado pela CCAÇ 13, localizado no centro de Bissorã 
Foto: © Carlos Fortunato (2005)

P12774: O Henrique Cerqueira, que pisou a Bissorã por onde passei uma semana e deixei pacificada, fala-nos daquela pequena dificuldade no atravessamento da fronteira. Também nós tínhamos uma, a d'Elvas, e aquilo era igual. Por isso fizémos outra em terra batida, em Sto. António das Areias, ali perto de Marvão e aquilo era sempre a aviar. Portugueses para lá, Espanhóis para cá e toda a gente sabia como fazer.
Quantas pastas de dentes Colgate bem como Whiskye "Dyc", "caraméis" licores, perfumes o que mais pudéssemos por ali passaram. Havia mais ou menos um acordo entre as autoridades dos dois países, para não chatearem e cumpriam.

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P12763: Esfalfou-se este marmelo a escrever para quê? Ó pá se queres um conselho... desiste. Vá lá vá... que mesmo assim tiveste um comentário, o que significa que ainda tens um leitor (decerto teu amigo... só pode) e a melhor forma de lhe agradeceres é... não mais o incomodares.
Vai por mim... enrola a caneta no saco e dedica-te à pesca. Vai pró teu monte... vai

Veríssimo Ferreira,
Fur. Mil. da CCAÇ 1422,
Guiné 65/67,
Mansabá, Pelundo, K3, Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12789: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (3): Esquecer? Nunca

6 comentários:

admor disse...

Cá temos o nosso Veríssimo Ferreira no seu melhor, a brincar a brincar lá vai dizendo as suas verdades e as nossas também.

Um grande abraço para ti e para os outros camarigos.

Adriano Moreira

Anónimo disse...

Camarada
A marca Lifebuoy (bóia salva-vidas) tinha um sabonete de côr avermelhada com um cheiro a desinfectante.
Deve ser possível obter uma foto dessa embalagem.
Dizia-se que era ligeiramente anti-micótico.
Um Ab.
António J. P. Costa

Tony Borie disse...

Olá Veríssimo.
Este, é o segundo comentário que escrevo, pois o primeiro, ao carregar no lugar exacto, talvez não fosse no lugar exacto e, desapareceu, já é a segunda vez que isto me acontece!.
Olha, a brincar vais dizendo verdades, mesmo verdades que nós antigos combatentes, principalmente vocês aí em Portugal vão sofrendo no dia a dia, isto baseado nas notícias que vejo por aqui.
É caso para se dizer que vamos rindo…sem sorrir!.
Mas nós ainda vamos sobrevivendo, pois fomos uma geração de combatentes, mas os nossos descendentes vão sofrer mais, e de uma maneira talvez mais angustiante, oxalá que não.
Um abraço, Veríssimo,
Tony Borie.

Rogerio Cardoso disse...

Camarada
No meu tempo de Bissorã, de Junho de 64 a fins de 65,Cart.643-AGUIAS NEGRAS, só existia a caserna mais alta, que era mesmo em frente do campo de futebol. No local das outras construções, havia uma metralhadora por nós instalada, razante ao chão, dentro de uma vala, uma máquina de grande poder de fogo, Browning de seu nome, salvo erro 12,7 m/m, por esse lado ninguém entrava. Quanto ao Lifebuoy, era um sabonete que cheirava a criolina, resumindo, depois do banho, ficáva-mos com um cheiro a cavalo, mas era eficiente.

Hélder Valério disse...

Ora, ora, ora.....,

O meu amigo Veríssimo cá está com mais umas das suas "crónicas higiénicas".
Percebe-se isso através da 'presença' do Lifebuoy que faz parte da apresentação em versão 'anúncio amaricano'. Vou-te enviar uma foto duma embalagem actual dum desses 'desinfectantes' que comprei no verão passado numa pequena casa comercial perto de Campo d'Ourique para que assim a 'higiene' fique mais 'fresca'.

Do que escreves hoje ressalto:

A tua fixação no teu alardeado 'mau feitio', chegando ao ponto de sugerires que 'estão a ir' outros em teu lugar. Deixa-te disso! Ninguém morre de véspera, dizem que só o perú! Portanto, conforma-te e vive!

Depois aquela velha questão de 'medires' os teus escritos pelo número e qualidade dos comentários.
Nem penses!
Nada disso está relacionado. Eu acho que é mais agradável ter comentários pois assim pode-se tentar, mas só tentar, perceber se alguém leu o que escrevemos, mas nunca podes ter uma ideia da dimensão quantitativa das leituras.
Por pensar assim, sou dos que procura dar sempre um sinal da leitura, mas isso dá trabalho, exige que sempre, ou quase sempre, se esteja em sintonia com o Blogue (por acaso é o mínimo que se pode fazer por solidariedade com quem está cá todos os dias...) e isso é algo que nem todos podem ou estão dispostos a fazer. Mas não quer dizer, não significa, afastamento ou desinteresse. É mais na senda do habitual atavismo português.

Abraço
Hélder S.

JD disse...

Olá Veríssimo!
Só agora li o teu texto muito bem humurado, com o qual concordo na generalidade.
Sendo tu um veterano dos mais veteranos, revelas uma grande jovialidade, e dás muita frescura às notas que transmites desde a tua vida de rapazola que vergava a mola, até aos inopinados orgulhos de empregado bancário, uma actividade de surripiar a massa, embora sob a capa de comprar barato para vender caro. E chegaste a delegado sindical, e tudo!
Essa era já uma posição visionária para arranjos no futuro do país. E quando tocou a corneta, foram muitos a aproveitar (-se).
Porque me agradou, vou fazer-te um pedido: não te baldes à fisiotereapia, alivia-te das mazelas, que é para não faltares a 20, em Oitavos, com a Magnífica.
És fresco!!!
Um abraço
JD