José Marques Henriques, sacerdote
da Ordem dos Frades Menores (Franciscanos)ofm),
vigário paroquial da Conceição de Faro e Pechão.
1. Do João Crisóstomo (Nova Iorque) recebemos a seguinte mensagem;
Date: domingo, 29/11/2020 à(s) 21:26
Subject: Resposta ao email sobre os capelães
Caro Luís Graça,
Ainda sobre os capelães na Guiné… acabo de receber algo:
A 24 de Outubro enviei um email ao P. José Marques [Henriques] que está no Algarve. Acredito que esse email nem chegou ou o computador dele considerou-o como "junk" e o meu amigo nem o chegou a ver.
Há dias liguei para o irmão dele (que era do meu curso) e chegou mesmo a ser franciscano mas saiu e vive agora no Algarve.
E através dele confirmei os contactos e, depois de falar com ele ao telefone, enviei novo email, ( de que te fiz conhecimento em Bcc).
Aqui está a resposta que acabo de receber. A informação não é muita mas mas é mais uma "janela" , a meu ver interessante e elucidativa.
Um abraço de saudades de nós dois para vocês os dois...
João e Vilma
2. Mensagem de José Marques Henriques, enviada ao João Crisóstomo (e que este partilha com a Tabanca Grande);
Subject: Resposta ao email sobre os capelães
Date: November 29, 2020 at 2:15:54 PM EST
Amigo João Crisóstomo, aqui vão alguns dados sobre a minha vida de capelão militar:
Parti para a Guiné como capelão, num avião da força aérea, no dia 27 de abril de 1974 (apenas dois dias depois do 25 de abril).
Fui colocado no batalhão de cavalaria, em Bula, mas assistindo mais outros dois batalhões, estacionados em Canchungo e Cacheu.
O meu trabalho desenvolveu-se, portanto, no território dos mancanhas e manjacos. Regressei a Portugal em outubro deste mesmo ano de 1974, num paquete cujo nome não recordo perfeitamente neste momento, mas que julgo ser o Niassa.
Antes de partir para a Guiné como capelão, estive a trabalhar no quartel da Amadora, desde o início de fevereiro de 74, como ajudante do capelão que aí estava colocado. Não fui para a Guiné logo a seguir ao curso, como pretendia, e apesar de ter sido o único a disponibilizar-me para partir para lá, porque fui rejeitado. Colocaram-me na Amadora para me conhecerem melhor.
Tinha vindo da Guiné para o curso de capelães e, como é natural, durante esse curso dei o meu testemunho sobre o que se estava lá passando, e sobre os reais motivos que estiveram na origem da guerra desencadeada pelo PAIGC contra o regime colonial, mas parece que esse testemunho não agradou a Marcelo Caetano nem aos oficiais superiores do regime, a célebre brigada do reumático.
Esta a razão por que só me deixaram partir para a Guiné como capelão, depois do 25 de abril. Aí assisti ao arrear da nossa bandeira e ao içar da bandeira dos Libertadores. O comandante de Bula - o coronel César - não se conformava. Dizia mesmo que tinha vergonha de ser português.
Perante esta atitude, os capitães de abril e majores, tenentes e alferes, que estavam no terreno, resolveram, através dum abaixo-assinado, proceder ao seu saneamento. O que aconteceu, com a minha anuência. Só pus uma condição: não ser o primeiro a assinar.
Um abraço bem apertado deste teu amigo José Henriques
3. Comentário do editor LG:
Obrigado, João. Tu nunca "brincas em serviço", levas as coisas até ao fim e a "carta a Garcia". Agora, e na volta do correio, convida o nosso capelão a juntart-se à Tabanca Grande: tenho um lugarzinho bom para ele, à sombra do nosso poilão, o nº 822.
Recolhemos, na Net, mais os seguinte dados sobre o teu amigo e colega e nosso camarada José Marques Henriques_
(i) é da colheita de 1944 (faz anos a 3 de agosto);
(ii) natural de Ourém;
(iii) foi ordenado padre em 17 de maio de 1970;
(iv) foi missionário na Guiné-Bissau durante 44 anos, antes e depois da independência;
(v) mora em Faro;
(v) é o vigário paroquial da Conceição de Faro e Pechão.
Fonte: Directório da Diocese do Algarve > Pe. José Marques Henriques
Fonte: Jornal Folha do Domingo, (Faro) > 18 de maio de 2020 > Frei José Henriques celebrou 50 anos de sacerdócio, 44 na Guiné e os restantes no AlgarveTem página no Facebook onde se vê que continua a ser muito acarinhado pelos cristãos da Guiné-Bissau, e nomeadamente os do chão manjaco (, ele esteve como missionário no Canchungo até há uns anos atrás, voltando a Portugal por razões de saúde)...
Veja-se aqui este testemunho de Rita Gomes, em 22 de maio de 2020:
(...) Pai Henrique, todo o mundo está a sentir a sua falta, o seu ensino, a nossa igreja em Canchungo, Cacheu nunca mais vai ser a mesma, alguns de nós eram crianças, pre-adolescentes e adolescentes, que saudade, estou emocionada, a presença do Senhor naquela época deixou a marca no coração de cada um de nós, que Deus lhe abençoe e protega cada dia da sua vida o nosso Pai Henrique, Amén. (...)
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Nota do editor:
17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.