sexta-feira, 9 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6705: O discurso de António Barreto no dia 10 de Junho de 2010 (5): Não há nada a fazer! (António Martins de Matos)





1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen PilAv Res), enviou-nos, em 4 de Julho último, o seguimento da sua mensagem publicado no poste – P6618, a propósito do dia 10 de Junho:


Não há nada a fazer!

Camaradas,

Quando andava na Academia havia um cartaz pregado numa parede que dizia “o Exército é o Espelho da Nação”.
Passada a vaidade e imodéstia de quem inventou tal frase, acredito que as Forças Armadas sempre reflectem o que de bom e de mau se passa no país.
Para que não haja dúvidas em algumas cabeças mais contestárias ou daquelas que gostam de dividir para reinar, sou um militar do Quadro Permanente, o meu suor, a minha coragem e o meu medo sempre foram exactamente iguais ao suor, coragem e medo dos Milicianos de Guidage, Bajocunda, Xitole ou Fulacunda, quer fossem Capitães, Furriéis ou Soldados.

Antes do nosso almoço em Monte Real escrevi um pequeno texto (poste P6618) a tentar demonstrar o que somos e que podemos vir a ser em termos de antigos combatentes.
No entanto acabei de chegar à conclusão que a palavra “podemos” estava fora do contexto, mais apropriado teria sido escrever “poderíamos”.
E porquê?
Porque, aparte algumas palavras de estímulo e encorajamento, tanto em comentários no blogue, como de viva voz, nada mais aconteceu, no fundo estamos conformados com a situação.

Alguém mais distraído dirá numa voz comprometida, “precisamos é de nos organizar”.

Consultado o site do Ministério da Defesa constatei que, não contabilizando as associações clandestinas, existem oficialmente pelo menos 12 (doze) organizações que tratam dos Antigos Combatentes, a saber:
- Liga dos Combatentes (LC),
- Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra (ANPG),
- Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA),
- Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vitimas de Stress de Guerra (APOIAR),
- Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (APVG),
- Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar (ANCU),
- Associação dos Combatentes do Ultramar Português (ACUP),
- Associação Portuguesa de Ex-Combatentes Militares (APECM),
- Associação Sócio Cultural dos Vila-Condenses Ex-Combatentes do Ultramar (ASCVCU),
- Associação de Comandos,
- Associação de Fuzileiros,
- Associação Reformados e Ex-Militares Ex-Combatentes Portugueses França (ARMCPF),
- Comissão de Ex-Militares Portugueses (OGBL)

Se retirarmos deste conjunto a ADFA, entidade que merece todo o meu respeito, o que fazem as restantes, quem as controla, quem as subsidia, a quem prestam vassalagem?

Ainda tentei aprofundar o tema mas confesso ter logo desistido por frustração ao constatar que uma delas há mais de 35 anos que não consegue estabelecer uma simples lista dos que morreram no Ultramar, outra que diz ter 40.000 sócios e que se orgulha de facultar consultas pós-traumáticas, cobra aos seus associados uma quota anual de 20 euros. (com mais 4 euros já podiam ser sócios do meu Spotem!!!!), outras duas que recebem do Estado um subsidio de 125.000 euros/ano (palpita-me que recebem todas mas confesso já não ter tido vontade para investigar).

No seu comentário o amigo Magalhães Ribeiro referiu uma Federação dos Combatentes que, segundo o jornal Sol de 17Dez2007, terá reunido 5 destas Associações.
O pouco que acabei por encontrar da referida Federação foi através do Jornal de Tondela, “O Beirão”, onde é referido que o seu Presidente também o é da ANCU, que alteraram os Estatutos em 27Março2010, que têm um programa para 2010 baseado em 13 items (quaisquer que eles sejam) e que estão a preparar as comemorações dos 50 anos do inicio da Guerra do Ultramar (deve ser coisa fina).

Perdemos no futebol, ainda não foi desta que os futuros Heróis da Pátria se conseguiram afirmar, não por falta de uns tantos golpes de mão ou investidas contra o inimigo ou mortos no campo da honra, antes pelo facto de não terem marcado uns golitos.
Tivesse a coisa corrido bem e já estava a ver o 10 Junho com uma centena de condecorações, do Madail ao apanha bolas, que as medalhas até já deviam estar em banho-maria.
E pronto, vamos continuar a ler “A Bola”, comentar as transferências, o Moutinho que foi para o Porto, “ganda” malandro, ainda que tenha deixado 11 milhões nos cofres do meu amado Spotem.

Como eu gostava de ter nascido em Inglaterra, nem precisava de ser em Stratford-upon-Avon, qualquer cantinho da “Velha Albion” me servia.
Pelo menos tinha a certeza que as futuras gerações iriam respeitar a minha memória.
Assim, paciência, somos como somos, não há nada a fazer...

http://www.youtube.com/watch?v=lygVz1mjkrI&feature=PlayList&p=0D56ED9BA66D4986&playnext_from=PL&playnext=1&index=7

Um Abraço,
António Martins de Matos
Ten PilAv na BA12
____________
Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P6704: Contraponto (Alberto Branquinho) (11): Você é preto!?

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 4 de Julho de 2010:

Caríssimo Carlos
Estou a enviar junto o texto para o Contraponto (11), com os desejos habituais de saúde e sorte, que não é, propriamente, a sorte ao jogo, mas pode ser, também, incluída.

Um abraço do
Alberto Banquinho




CONTRAPONTO (11)

VOCÊ É PRETO !!!


Foi em Outubro ou Novembro de 1966. Em Lamego e durante o Curso de Operações Especiais – “Rangers”.

Talvez não saibam que, durante o curso, os aspirantes e os furriéis (cabos milicianos?) que o frequentavam eram enquadrados em “parelhas”, ou seja, em grupos de dois. Tentavam assim criar um espírito de entreajuda, companheirismo e sentido de co-responsabilidade. O meu sócio/parelha era cabo-verdiano, há muito residente em Lisboa, de quem fiquei amigo. Reencontrei-o, depois do regresso da Guiné, na Faculdade de Direito de Lisboa, para onde me transferi, depois de ter chegado a Coimbra em plena crise de 1969.

Em Lamego, durante o curso, havia provas individuais mas havia, também, provas em que se funcionava por parelhas.

Numa noite fria e de céu estrelado, sem lua, fomos carregados, de olhos vendados, em camiões de caixa fechada e transportados para muitos quilómetros de Lamego, por estradas e caminhos de terra batida. O camião parava de onde em onde e vinha a ordem: - Salta a parelha n.º x!

A parelha apeava-se, eram tiradas as vendas e era largada num qualquer caminho no meio de um pinhal… sem despedidas. Corrigidos os atacadores das botas, amanhadas as calças, corrigido o aperto o cinto e de canhangulo (velho, inútil e avariado) em bandoleira, havia que decidir que caminho tomar.

- Qual era a missão? –( perguntarão).

Era alcançar Lamego e o CIOE (quartel) o mais rapidamente possível, sendo proibido seguir estradas ou caminhos. Se detectados em infracção por um carro militar, estacionado e de faróis apagados, seríamos recarregados para uns excelentes quilómetros lá mais para trás.

A primeira decisão foi deixar que o camião se afastasse e seguir-lhe o rumo, procurando espaço com alguma visibilidade.

Alguém perguntará: - Porque é que não tentavam orientar-se pela Estrela Polar? – Porque não sabíamos se Lamego estava para Norte, para Sul ou Leste ou Oeste…

A tentação foi fazer batota – seguir a primeira estrada ou caminho onde os primeiros faróis surgissem e encontrar uma placa sinalizadora.
Bem agachados e quietos no meio do mato (“mata” seria mais tarde, na Guiné), evitando ser vistos, enquanto os carros passavam.

Caminhámos, caminhámos sem que surgisse qualquer placa a indicar Lamego ou proximidades.
Discutimos, discutimos. – Se queres ir por aí vai tu. Acho que a luminosidade que se vê além só pode ser Lamego.
Como natural do Alto Douro, eu achava que tinha melhor conhecimento do terreno (Onde foi que, meses mais tarde, eu ouvi isto?).

E foi durante estas andanças que ouvimos um cão ladrar. Mas bem longe. Por entre o arvoredo parecia ver-se uma luz muito fraca tremeluzindo, longe e em baixo. Aparecia e desaparecia. E o ladrar parecia vir desses lados. “- Vamos lá perguntar o caminho”.

Começámos a caminhar na direcção da luz. Agora não havia dúvidas – era uma luz. Fraca, muito fraca. “- Vamos depressa, que eu já estou farto disto”.

O terreno começava a descer de forma pronunciada. Comecei a tactear o que me pareceram ser videiras. Lembrei-me dos socalcos do Douro e, como ele seguia à minha frente, aconselhei:

– Vai devagar. Vê onde pões os pés”. Deixei de o entrever e, depois de um barulho de restolhada, ouvi-o cair e queixar-se.

- Onde estás?” – perguntei, tacteando o chão à minha frente.

- Caí, estou aqui”. Usando o canhangulo, fiz o reconhecimento do chão escuro à minha frente. Toquei em arames e percebi que ele tinha caído em cima dos arames de suporte das videiras e, depois, no chão. Estaria, portanto, dois a três metros abaixo. O enleado dos arames teria amortecido a queda.

- Estás bem?

- Estou todo cagado.

Deixei-me escorregar pelo desnível e aproximei-me. Estava bem.
Agora já não se via a luz.

Continuámos, torneando socalco a socalco. O ladrar estava mais próximo e a encosta era cada vez mais íngreme. A luz voltou a surgir lá mais abaixo, mas fraca e parecia apagar-se de vez em quando.

Afinal, estava mais longe do que parecia.

Em terreno quase plano e aberto surgiu o barulho de água a correr. O cão ladrava já mais fortemente, pressentindo-nos. A luz, embora vacilante, era já bem visível.
Caminhámos ainda mais uns dez a quinze minutos e o cão veio ao nosso encontro, ladrando ameaçador. Assobiei-lhe baixinho para o acalmar. Ouviu-se, então, a voz de um homem:

- Quem vem lá?

- Militares. De Lamego.

- Cheguem-se cá. Cala-te, Leão.

O cão parou de ladrar. Caminhei pela laje de xisto na direcção da porta do casebre de onde vinha a luz. O homem esperava à porta.

- São só vocês?

- Só.

Ouvia-se o forte caudal da água do ribeiro correndo ali bem perto.

- Querem um copo de vinho?

- Agradecemos. Dá licença?

Entrámos, limpando as botas na soleira, com o cão atrás de nós, cheirando-nos, com o focinho colado às botas.

- Sentem-se.

O homem foi buscar uns copos de esmalte, andou uns passos no sentido do marulhar da água que corria junto à parede, passou-os por água, sacudiu-os e entregou-nos.

Quando passou junto ao candeeiro de petróleo, a figura agigantou-se na sombra, contra a parede e telhado. Constatei, então, que o homem estava ali por causa do trabalho na azenha (ou moinho de água, como lhe chamam no sul).

Puxou da garrafa e encheu-me o copo. Quando ia encher o copo do meu companheiro, parou, a olhá-lo. Foi buscar o candeeiro, ergueu-o à altura da cara e, com espanto, exclamou:

- VOCÊ É PRETO !!!

Olhou-me e perguntou:

- E está aqui na tropa?

Fixei-o nos olhos, acenei que sim com a cabeça, ao mesmo tempo que pensava: ”E eu sou Branquinho”.

Bebemos o copo de vinho e, já informados, abalámos na direcção de Lamego.

Alberto Branquinho
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6562: Contraponto (Alberto Branquinho) (10): Grafia do crioulo da Guiné-Bissau

Guiné 63/74 - P6703: V Convívio da Tabanca Grande (16): A Guiné em Monte Real ou um Encontro de camarigos (Joaquim Mexia Alves)

1. Depois de uma arreliadora avaria nesta máquina infernal (PC), que não sendo muito importante, dele acabamos por depender, dava uma vista de olhos pelo monte do correio acumulado, e eis que encontro esta pérola cintilante, entre as mensagens à espera de tratamento:

Meu caros camarigos editores
Estava para aqui sentado, à distância de quase uma semana do nosso encontro e, de repente surge o anexo!

Eu gostava de vos agradecer a todos, editores, camarigos que connosco estiveram, aos que não puderam estar, e às camarigas que deram a graça a um encontro que corria o risco de ser um "almoço de velhos" nas suas recordações.

Agradecer também a generosidade de todos os que contribuíram para amenizar a falta dos que não puderam estar e que tanta falta fizeram, porque «todos não somos demais»!

Aqui fica a pobreza dum escrito em fraca rima, mas que sai do coração.

Um grande, forte e camarigo abraço, desta vez primeiro para elas, as vossas mulheres que tão bem vos acompanham, e depois para todos os camarigos, mais apertado e com batimento de mãos nas costas!!!
Joaquim

Foi assim que saiu e é assim que vai... se tiver erros, paciência!!!
Monte Real, 2 de Julho de 2010



2. Joaquim Mexia Alves foi o responsável máximo pelo organização dos três últimos Encontros da Tertúlia, que tiveram um êxito assinalado. Este ano não fugiu à regra, apesar das anormais ausências de pessoas inscritas, quase todas devidamente justificadas. Cremos, não voltará a acontecer.
CV

Aspecto do exterior do Palace Hotel de Monte Real, quando se atacavam já as Entradas e se trocavam as primeiras palavras entre camaradas e acompanhantes.


Aqui fica o poema do incansável Mexia Alves*:


A GUINÉ EM MONTE REAL OU UM ENCONTRO DE CAMARIGOS

A manhã nascera auspiciosa!
O Sol já brilhava
mesmo antes de eu abrir os olhos,
que afinal estavam abertos
há longas horas na noite.
“Quem tem responsabilidades
não dorme”,
diz o ditado,
que eu levei à letra
nessa ansiosa e longa noite.
Chego a Monte Real,
discretamente,
não quero ainda ver ninguém,
pois preciso de ultimar listas,
pensar nas palavras,
que hei-de dizer,
mas que depois de pensadas,
não sairão,
ficaram caladas,
porque nessas alturas
apenas manda o coração.
Chego-me então a eles,
aos primeiros,
que já chegaram,
e a conversa começa,
pelo meio dos abraços.
Um aperto de mão aqui,
um beijo dado ali,
nas mulheres que acompanham,
os homens da guerra ida,
e é tal a confusão,
que quase dou beijos também,
aos homens que vão chegando,
pelo meio de embaraços.
Lembras-te de mim?
Eu lembro-me de ti!
Terás estado em Farim?
Ou Mansoa, ou Bafatá?
Eu estive no Pidjiquiti,
Gadamael, Canquelifá.
Surgem os nomes de tanta terra,
estranhos nomes,
de longínquos lugares,
feitos presença agora,
numa nova vivência
de uma já antiga guerra.
Oh pá, e o coiso?
Que é feito dele?
E aquela emboscada,
aquele ataque,
aquela picada,
aquela operação,
aquela noite mal passada,
à espera da evacuação?
Estás mais gordo!
Estás mais magro!
Olha o que estamos todos,
é cada vez mais velhos!
Eh pá,
Aquele nosso amigo,
lá se foi!
Que queres, pá,
todos temos de partir!
Mas sabes do que ele gostava?
Era assim de nos sentir,
de nos acompanhar a falar,
a contar histórias sem fim,
era de nos ouvir a rir.
E o Sol aperta,
o calor traz recordações,
de manhãs que nasciam quentes,
como se não houvesse frio,
ali naquelas paragens.
Fala-se daqueles que lá ficaram,
dos filhos daquelas gentes,
que ao nosso lado lutaram.
Toldam-se os olhos,
aperta-se o coração,
e quase num grito mudo,
dizemos uns para os outros:
hoje não, pá, hoje não!
Finalmente já sentados,
(posso descansar um pouco),
uns conversam,
outros estão calados,
e outros há ainda,
que de tanto falarem,
tem de beber um copo,
atrás de outro copo,
o que parecendo que não,
lhes solta ainda mais a língua!
Ai pecado meu, pecado meu!
E há discursos,
E discursatas,
e homenagens,
e histórias,
e bravatas!
E há quem cante,
e também toque,
quem encante,
e quem também vá…
a reboque!
Serenamente,
elas estão ali,
orgulhosas dos seus homens,
pensando bem no seu intimo:
nem sabes o que eu passei…
apenas e só por ti!
Cai a noite,
o dia chegou ao fim.
Cala-se lentamente o vozear,
há promessas de encontros,
torna-se difícil partir.
Há abraços repetidos,
uma vez e outra vez,
“está no ir, está no ir”,
mas só apetece ficar,
a falar, a recordar,
a contar mais uma história
para a qual já não há tempo,
para o ano,
para o ano, talvez!
Depõe-se as armas,
despem-se os camuflados,
tiram-se as pinturas de guerra,
e apresenta-se um ar “normal”!
É que durante umas horas,
quase sem ninguém se dar conta,
esteve a Guiné toda inteira,
um dia em Monte Real!


Monte Real, 2 de Julho de 2010
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6697: 20 Anos depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (7): Eu sei quem sou

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6669: V Convívio da Tabanca Grande (11): Caras novas (Parte II): Jorge Araújo, Acácio Correia, Manuel Carmelita, Eduardo Campos, João Malhão Gonçalves, Júlia Neto, Arménio Santos.. (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P6702: Ser solidário (78): Campanha para abrir 10 poços de água e construir 10 fontanários na Guiné-Bissau. Primeira fase, Amindara (José Teixeira)

Mensagem do nosso camarada José Teixeira, com data de 2 de Julho de 2010:

Caríssimos amigos e camaradas
Junto texto e diversas fotos sobre o projecto "Sementes e água potável para a Guiné-Bissau" que permitem apreciar o estado actual da primeira fase do projecto.

Pedia o favor de publicarem no blogue para que todos os camaradas que contribuíram para o projecto possa ter conhecimento do andamento do projecto.

Muito obrigado
José Teixeira



Campanha para abrir dez poços de água e construir 10 fontanários em tabancas no interior da Guiné – Bissau*

Apesar da torneira ligada aos corações dos combatentes da Guiné, que fez jorrar alguns milhares de euros para o projecto SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU me parecer que já sofre da terrível seca que nos apoquenta e deixou de “pingar”  a obra segue em frente.

Juntamos algumas fotos bem elucidativas do andamento das obras em AMINDARA, sem comentários, pois as fotos são bem expressivas.

Ainda não conseguimos a totalidade dos euros necessários, mas está quase.
Para a obra de construção do poço, sistema de elevação de água, depósito e canalização, faltam menos de 100 €.

A AD - Acção para o Desenvolvimento ONG, a Associação local com quem fizemos uma parceria, está a proceder à construção do poço por administração directa o que permite a poupança de algumas centenas de euros.
Ficam assim criadas as condições para a Tabanca de Amindara, ter água potável as necessidades higiénico sanitárias.

Todavia o nosso projecto passa pela dinamização da agricultura, pelo que se torna necessário angariar fundos para a aquisição de sementes. (Segunda fase do projecto).
Temos a garantia, também neste campo, da experiência dos técnicos da AD – Ver http://www.adbissau.org/adbissau/ em fomentar a agricultara através da organização nas comunidades locais de associações de desenvolvimento com o objectivo de preparar tecnicamente os habitantes locais para a cultivo de produtos agrícolas e rentabilização dos meios.
No caso concreto de Amindara juntamos uma foto da senhora (habitante local) que assumiu a responsabilidade de unir os habitantes em torno do projecto que com a nossa atitude ganhou pernas para andar, sobre a orientação técnica e anímica da AD – Acção para o Desenvolvimento.

Ouso insistir no apelo que lancei aos combatentes da Guiné. Uma oferta de 20€ para a dinamização deste projecto, pois como diz o ditado migalhinhas é pão.
As crianças de Amindara merecem melhor sorte. Merecem água pura para saciarem a sua sede sem riscos para a saúde.

Zé Teixeira
Tabanca pequena – Grupo de amigos da Guiné-Bissau

__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6543: Ser solidário (76): O projecto de sementes e água potável para a Guiné-Bissau já arrancou na tabanca de Amindará (José Teixeira)

Vd. último poste da série de 12 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6580: Ser solidário (77): Em busca de fotos da antiga escola do Gabu (José Bastos, União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa)

Guiné 63/74 - P6701: Notas de leitura (127): Caminhos Perdidos na Madrugada, de Fernando Vouga (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
Encontrei-me, cheio de alegria, com o Embaixador Henriques da Silva, ele está a reflectir na sua adesão à tertúlia. Escreve que se farta e qualquer dia temos aí um livro com bastantes surpresas. Trocámos empréstimos, tenho aqui quilos de livros para ler, vou começar pelo “Polón Di Brá”, do João Carlos Gomes, que diz ser um documento de reflexão sobre uma guerra devastadora, desnecessária e justamente imposta ao povo da Guiné Bissau e datado de Novembro de 1998.

Um abraço do
Mário


Caminhos perdidos da madrugada:

Em Bafatá, 27 de Junho de 1971


por Beja Santos

Fernando Vouga é escritor e militar (coronel reformado). Como capitão, fez três comissões em África nos três teatros de operações: em Moçambique, 1966 a 1968; na Guiné, de 1969 a 1971; e em Angola, de 1972 a 1974. O seu romance “Caminhos Perdidos na Madrugada” tem o fundamental da sua acção a decorrer em Moçambique, já no termo da guerra colonial. Na plantação “Chá Molungo” os acontecimentos atropelam-se à medida que em Portugal o processo da descolonização começa a ganhar contornos. Os colonos movimentam-se, mas também crescem a influência dos movimentos de libertação. Nenhum autor esquece a sua identidade ou prescinde de falar de si. É o que faz Fernando Vouga recorrendo a um alter-ego que se movimenta em diferentes cenários: a Academia Militar na Amadora, um cemitério em Castelo Branco, as matas perigosas da região dos Dembos, em Angola, um ataque à cidade de Bafatá, Junho de 1971, a guerrilha maconde no planalto de Mueda. Está aqui uma parte relevante da experiência do autor na guerra colonial.

Para efeitos de recensão, vamos acompanhar os acontecimentos de Bafatá, vistos pelo capitão Álvaro Santos (quem sabe, Fernando Vouga).

A 27 de Junho de 1971, o general António de Spínola desce de um helicóptero em Bafatá, com um ar grave e carrancudo. Não se perde em informalidades, dirige-se de imediato para o Comando do Sector Leste da Guiné.

Na véspera, cerca das onze e meia da noite, Bafatá fora atacada cerca de dez minutos. Em termos militares, tratou-se de um acontecimento pouco relevante mas revestiu-se de uma grande importância psicológica e política. Era a primeira vez que o coração do “chão fula” era atacado, punha-se a nu a fragilidade da sua segurança.

O tenente-coronel que comandava o batalhão local foi sujeito a um ataque cerrado pelo homem do pingalim e do monóculo. O autor refere que grande parte do contingente de guerrilheiros que participara no ataque era constituída por antigos soldados do Exército português, mais propriamente elementos de uma companhia de Comandos que participara na Operação Mar Verde e que ficara em Conacri, feitos prisioneiros. É de pensar que se trata de pura ficção, todos os relatos apontam para o fuzilamento dos elementos do pelotão do tenente Januário que se entregaram às autoridades da Guiné Conacri. O capitão Álvaro Santos era comandante de uma companhia de caçadores aquartelada em Bafatá, assistiu estarrecido à discussão entre Spínola e o seu comandante de batalhão, achou aquela humilhação gratuita, mais a mais em frente de oficiais de patente inferior. De qualquer forma, o capitão Álvaro Santos nutria por Spínola consideração e respeito. Achava-o dotado de uma imaginação prodigiosa, de uma vontade de ferro, de uma energia inesgotável e, sobretudo, com uma fé cega no seu próprio sucesso. Este Spínola era um homem tão crédulo e estava tão confiante no brilhantismo dos resultados da sua acção que numa manhã de Abril de 1970 reunira no Palácio do Governo todos os oficiais com responsabilidades de comando de companhia ou de escalão superior, bem como todos os oficiais de operações, para lhes anunciar o fim da guerra. Durante a reunião, informou que estava a ser levados a efeito contactos com os chefes guerrilheiros com o objectivo de se pôr termo às hostilidades, tendo mesmo dado instruções precisas a todos para se prepararem para receber os guerrilheiros que, dentro de pouco tempo, começariam a entregar-se. Álvaro Santos assistira à reunião. E o autor escreve:

“Álvaro, que regressara de Angola com as suas convicções seriamente abaladas, com esta notícia do fim da guerra na Guiné ganhou novas esperanças, tanto para si como para a pátria que jurara defender. Mas tudo se desvaneceu poucos dias depois, quando soube que, algures nas matas de Teixeira Pinto, quatro oficiais portugueses tinham sido barbaramente chacinados. Precisamente aqueles que, ao longo de vários encontros com um grupo de guerrilheiros do PAIGC, negociavam a sua rendição às tropas portuguesas. E assim terminaram tragicamente as inabaláveis certezas de Spínola que, pelos vistos, tomou a árvore pela floresta. Contudo, o general tinha razão num ponto: a sua política desequilibrara muitas populações em seu favor, e o PAIGC tivera alguns amargos de boca. Assim, é de toda a justiça reconhecer que, no que respeita à melhoria das condições de vida do povo da Guiné e à satisfação de muitas das suas reivindicações, a sua actuação foi notável”.

“Caminhos Perdidos na Madrugada”, de Fernando Vouga, DG edições, 2ª edição, Abril de 2010.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6694: Notas de leitura (126): Guineense Comando Português, de Amadú Bailo Djaló (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6700: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (30): Bissau, Paraíso na guerra

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 10 de Maio de 2010:

Amigo Vinhal
Saúde boa?

O mar da vida tem andado meio encapelado e cavalgar-lhe as ondas obriga a concentração de excepção, por vezes a gestão à hora de tempo e disposição.

Como compromissos são compromissos e até ver sempre gostei e os soube cumprir, cá te mando mais um troço de “Viagem …” - que me continua a levar àquela terra que, com as suas contradições, faz parte única na minha vida - que espero possa merecer atenção dos Tertulianos.

Um grande abraço
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (30)

Bissau – Paraíso na guerra


As “férias” que felizmente nos tinham sido impostas nesta espécie de “capital mundana” iam decorrendo sem sobressaltos inesperados permitindo-me(nos) usufruir da possibilidade de viver uns dias, regendo-nos por parâmetros diferentes mas bem melhores, dos a que até ali estávamos habituados por força de circunstâncias várias.

Na verdade e talvez devido às situações intensas por que tínhamos passado durante a quase dúzia de meses antecedentes, a nossa maior preocupação por aquelas latitudes não era de facto a possibilidade de confrontos belicistas na cidade e antes o “asneirar” em termos de RDMs e afins ou em conflitos escusados e eventualmente puníveis, o que era de certo modo fácil de poder acontecer, bastando para isso uma boca menos própria na altura errada, quem sabe uma falta de “palada” a um qualquer guerreiro combatente de gabinete com patente superior - por norma os mais achacados a gostar de demonstrar a sua força, valor e valentia - que estivesse maldisposto.

Nas digressões “folgosas” e especialmente para o Pessoal fardado, o comportamento e o atavio também eram levados em conta, não fossem os amigos PMs implicar e vir a criar problemas escusados e “sacrifícios” inúteis e indesejados.

Em suma, o lema era tentar passar aquelas “férias” sem dar azo a eventuais punições coartadoras, cumprir com o rigor necessário as missões atribuídas e… gozar o mais possível a estadia que sabíamos ser “sol de pouca dura”!

Os dias iam-se esgotando, as folgas foram sendo aproveitadas e vividas mais ou menos intensamente em conformidade com as ofertas que a cidade nos proporcionava, as disponibilidades e a disposição de cada um.

Desses tempos recordo o cirandar pela cidade, de ”cu alçado” ou apeado, retendo imagens e situações que, na sua grande maioria talvez por não me terem marcado (?) suficientemente, se foram esbatendo e esfumando com o passar dos anos.

Recordo o ir jantar ao “Pelicano” com uns compinchas e já com uns copitos, propositadamente pedir ao empregado guineense uma lagosta fresquinha e “implicar“ com ele quando nos trouxe o dito crustáceo indevidamente… já que o que se tinha pedido era uma garrafa de vinho “Lagosta” fresquinha. Passados uns tempos pedia-se de novo uma lagosta fresca e vindo uma garrafa… implicava-se energicamente dizendo que tínhamos pedido era uma lagosta e não vinho… enfim, infeliz do empregado que já deitava lume pelos olhos mas… o cliente tinha sempre razão e passou a perguntar se era garrafa ou a outra !!!!

Que saudades da lagosta e do camarão àqueles preços e qualidade!!!

Recordo de uma das vezes ter ido beber umas cervejas a um café ou pensão (?) que não recordo o nome, situada numa paralela à esquerda (sentido marginal Palácio) da Av. da República. Por lá estava, sentado na mesa ao lado, o Sargento Teixeira dos Comandos, cabeça rapada e impressionou-me o seu olhar frio de gelar! Cá fora e à entrada da porta, dois pretos travam-se de razões e lutam perante a passividade geral. A dada altura um deles cai por cima de uma bicicleta lá parada e faz um golpe fundo e sangrento na almofada do “dedão do pé”. Sem mais nem para quê senta-se na “espécie de passeio”, saca de uma navalha e… corta o resto da “almofada” deitando-a para a rua!!! Levanta-se e vai embora como se nada fosse.

Lembro ter ido ao UDIB assistir à actuação do animado “Bana”, pelos vistos “coqueluche” à época. Gostei, mas gostei mais das bajudas a arrastar o pé na dança, coisa que me esforcei por acompanhar mas… nem tudo se consegue sempre!!

Conheci o colorido e extaseante mercado de Bandim(?) onde tudo se vendia e onde comprei uma estatueta (busto) facetada de bajuda e outra de um macaco em que o artesão estava a trabalhar e que não deixei acabar, por gostar dela como estava. Claro que não resisti a umas belas peles de cobra (surucucu?) e a uns panos coloridos.

Estatuetas inacabadas-Bajuda e macaco sentado – Guiné-Bissau-M.Bandim 1971
Foto: Luís faria

Lembro alguns bons momentos passados em tons de chocolate, nessa cidade também de “perdição”!

O tempo ia-se volatilizando sem sobressaltos especiais.

Como a excepção confirma a regra, momentos vividos por elementos do 4.º GCOMB num patrulhamento ao final do dia, vieram quebrar um pouco a rotina pardacenta das missões atribuídas, situação essa que ainda hoje é narrada pelos intervenientes e que poderia ter resultado em desfecho complicado e grave, não fora a experiência e presença de espírito das partes e talvez também o modo como encarávamos aquela estadia.

Erros involuntários potencialmente fatais, que aconteciam na guerra e não deveriam acontecer e que muitas das vezes se não assumiam!

Elementos do 4.º GCOMB têm por missão patrulhar em zona pré-estabelecida e assim o fazem sem sobressaltos. Nada se vai passando, como era previsível.

Num descanso do patrulhamento preventivo na esquerda da estrada Bissau – João Landim, lá para as bandas dos aquartelamentos, o pessoal acomoda-se em segurança julgada conforme à situação. A tarde vai alta, a chuva cai em bátegas intermitentes. A dada altura o impensável (?) acontece e um grupo de “turras” (não estávamos lá por essa eventualidade??) aparece de supetão.

Conta o Azevedo:

- Estava descontraído e de repente começo a ver uma serie de “pretos maltrapilhos” armados, descalços e de farda meia rota… apanhei a arma e… um susto do cara…” !!

Recorda o Lobo:

- Apareceu uma chusma de “pretos” com armas deles(IN), mal amanhados e alguns descalços e quando nos vêem dizem: “somos Portugueses, somos Comandos, boa-tarde ” … sois portugueses mas é a pqvp, penso!!! Aperro a arma …”

Alguém os reconhece e avisa:

- São os Comandos Africanos disfarçados.

Seguem caminho sob o olhar curioso e vigilante do pessoal menos convencido e tudo acaba felizmente em bem, ficando um susto valente para recordar na vida!

Duas forças amigas que se cruzam na mesma zona sem prévio conhecimento?!! Fosse noite e talvez a estória tivesse sido outra.

A todos um abraço e até Teixeira Pinto, de novo
Luís Faria
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6403: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (29): Do Inferno ao Paraíso

Guiné 63/74 - P6699: Parabéns a você (129): Viva o senhor professor Peixoto, membro do selectíssimo Clube dos SEXAS! (Luís Graça)



Monte Real, Palace Hotel, 26 de Junho de 2010. V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > Uma foto, muito feliz, do Manuel Carmelita, grande fotógrafo: o Joaquim e a Margarida, o nosso casalinho de professores de Penafiel, apanhados num belíssimo momento de descontracção e de ternura... O Joaquim é também habitué da Tabanca de Matosinhos, frequentada igualmente (e fotografada) pelo Manuel Carmelita. Hoje faz 61 anos. Está connosco há uma ano. A melhor prenda que lhe podíamos era encontrar gente da sua açoriana CART 3414, que andou por Bafatá e Saré Bacar (1971/73).


Fotos: © Manuel Carmelita / Carlos Vinhal  (2010). Direitos reservados


1.  Em 11 de Julho do ano passado, apresentava-se formalmente à Tabanca Grande o senhor professor Joaquim Carlos Rocha Peixoto, casado com outra senhora professora, Margarida Peixoto, um casal encantador que entretanto veio a tornar-se amigo e visita da nossa família no Norte (Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses).

A explicação é fácil: primeiro, o Joaquim foi Fur Mil Ap Inf, com o curso de Minas e Armadilhas, na CCAÇ 3414 (Bafatá e  Sare Bacar, 1971/73) (*), e andou lá minhas bandas da zona leste...  Depois, mora em Penafiel e é professor do ensino básico, 1º ciclo, tendo leccionado durante anos na Casa do Gaiato, em  Paços de Sousa. Aí o professor também foi aluno, recebeu lições grandes de vida, por que naquela instituição acolhem-se e educam-se meninos da rua, alguns dos quais com dramáticas histórias de abandono, violência, exclusão social...

O Joaquim ainda está no activo, enquanto a Margarida já se reformou. O Joaquim é um homem discreto, sensível, reservado. A Margarida é uma típica nortenha, de verbo fácil e a sensibilidade à flor da pele. Já tive o privilégio de estar com eles, na sua belíssima casa nessa belíssma terra, que é Penafiel da qual sabia pouco, no tempo da guerra colonial: era apenas, para mim, a capital do vinho verde (ah!, como bem sabia, o verdinho de Penafiel em Bambadinca!).

Hoje Penafiel, a dois passos do Porto,  é o coração da Rota do Românico do Vale do Sousa, uma região que merece uma prolongada visita não só pelas suas gentes, gastronomia e paisagens naturais como sobretudo pelo seu património edificado, e nomeadamente o Românico de Resistência, vasto, rico e único  (Sugestão de roteiro para visitar os 21 monumentos que compõem a Rota do Românico do Vale do Sousa: 4 mosteiros beneditinos, 10 igrejas, 1 ermida, 2 pontes, 2 torres e 2 monumentos funerários dos quais só existem 6 exemplares conhecidos em Portugal).

Por outro lado, a Margarida está ligada por laços afectivos à freguesia de Paredes de Viadores, no vizinho concelho de Marco de Canaveses, em cuja escola (a Escola de Passinhos / Foz) trabalhou um ano, o primeiro ano da sua vida como professora primária (como então se chamavam as nossas queridas professoras).

Margarida Peixoto, também natural de Penafiel (com 6 anos vividos em Angola, dos 10 aos 16, em plena guerra colonial), voltou a Paredes de Viadores, em 2009,  para reencontrar e homenagear os seus "meninos e meninas" da Escolinha de Passinhos / Foz, no já longínquo ano de 1972... Tinha acabado de sair do Magistério. Foi o seu primeiro ano de trabalho. Tinha cerca de três dezenas de alunos, de ambos os sexos, da 1ª à 4ª classe... Nunca mais se esquecerá deles, das suas caras, dos seus nomes, das suas histórias...

Conhecera a Alice por ocasião do IV Encontro Nacional do Nosso Blogue,  na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria, em 20 de  Junho de 2009. Por um feliz acaso: apresentei-as por que eram da mesma região... Hoje são duas belas amigas. A Alice proporcionou logo a seguir, na sua casa,  nesse verão o reencontro da senhora professora com alguns dos seus antigos meninos e meninas... Eu e o Joaquim estivemos naturalmente presentes... Encantados. Foi um momento único, irrepetível. Como têm sido, para muitos de nós, alguns momentos aqui proporcionados pelo nosso blogue... De tal modo que já paga direitos de autor a frase  O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande. A que se deve acrescentar: Honni soit qui mal y pense  (sem pretensões nem maldade...).

Espero reencontrá-los, de novo, este mês, ou em Penafiel, ou em Candoz, Paredes de Viadores, na nossa casa e na festa da Senhora do Socorro, daqui a quinze dias. Mas antes disso temos que celebrar aqui a festa de anos do Joaquim, membro já do nosso selectivo Clube dos SEXAS.

Em meu nome, dos demais editores e do resto da Tabanca Grande, aqui fica aquele Alfa Bravo que já é marca distinta no tratatamento social entre os amigos e camaradas da Guiné que se reunem sob o frondoso poilão da Tabanca Grande.

Um Alfa Bravo muito especial, comprido, caloroso e largo, tão comprido como o Rio Geba, tão caloroso como o Rio Douro, tão largo como o Rio Tejo que é o rio da minha aldeia... Um beijinho ternurento da Alice para ti e para a Margarida. Esperamos revê-los em breve. Infelizmente, em Monte Real, como sempre, o tempo de convívio é como a areia da ampulheta...Foi bom mas foi curtíssimo... Resta-nos os reencontros em Penafiel, em  Candoz, no Blogue, no Facebook...

Joaquim, hoje não é dia de falar da tropa. Bebo um copo à tua longevidade e saúde. Faz o favor de continuares a ser feliz! Parabéns! Teu amigo e camarada,

Luís Graça

______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4667: Tabanca Grande (160): Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414 (Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)

Vd. poste anterior desta série > 1 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6665: Parabéns a você (128): Mensagens para a Tertúlia (José Firmino / Manuel Maia)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6698: José Corceiro na CCAÇ 5 (14): Emissor receptor AN/PRC-10

1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1969/71), com data de 6 de Julho de 2010:

Camaradas,

Achei piada à foto do Sousa de Castro com o E/R AVP-1, no Convívio da Tabanca Grande.
Esta imagem entusiasmou-me a escrever algo sobre o pai do AVP-1, que é o AN/PRC-10, que têm a mesma gama de frequências e comunicavam muito bem um com o outro.



NOÇÕES DE TRANSMISSÕES DO EMISSOR RECEPTOR AN/PRC-10
De entre os equipamentos de transmissões utilizados no TO de Guerra das ex-Colónias, o mais apropriado para comunicações com os meios aéreos, era sem dúvida o Emissor/Receptor AN/PRC-10.
Vamos então falar um pouco, concretamente, sobre este equipamento de transmissões e as suas virtualidades.
Particularmente já entraram em contacto comigo meia dúzia, de “tertulianos”, da “Tabanca Grande”, para me colocaram questões sobre o E/R (Emissor/Receptor) AN/PRC-10.
Um camarada até me disse que tem dois aparelhos em seu poder, que adquiriu no mercado, mas que não tem o folheto das descrições técnicas nem o de instruções, e perguntou-me se eu o podia ajudar.
Eu respondi-lhe que efectivamente perante o aparelho, não me seria muito difícil lidar com ele e disse-lhe também que tenho a certeza que possuo um livro, sobre transmissões, que contém as descrições técnicas e seu funcionamento, que lho disponibilizaria caso o encontrasse, só que entre os muitos livros que tenho, distribuídos por diversos locais, tem sido difícil localizá-lo e até ao momento não sei onde o livro “atabancou”.

Atendendo ao que ainda me lembro do PRC-10 e apoiando-me em alguns apontamentos que na época registei, quando tirei a especialidade de transmissões, vou tentar em traços gerais dar algumas noções básicas técnicas e teóricas, sobre as potencialidades e funcionamento deste aparelho.

Fotos 1 e 2
O AN/PRC-10 é um equipamento de transmissões portátil, com potencialidades para poder ser instalado num posto de rádio, assim como pode ser montado numa viatura ou num meio aéreo, visto vir equipado com os respectivos acessórios para as diferentes necessidades.
“ O AN/PRC-10 é um emissor receptor móvel, de frequência modelada, praticamente impune às interferências de ruídos parasitas nas suas comunicações, destaca-se a qualidade sonora comparativamente com aparelhos de amplitude modelada.
Foi concebido essencialmente, para comunicações de terra para meios aéreos e vice-versa, tem uma boa qualidade sonora e as ondas de difusão neste meio, terra ar, não têm praticamente obstáculos físicos, aos quais as ondas de frequência modelada são sensíveis.
Para comunicar em terra neste teatro operacional, plano e com arvoredo, o seu alcance é limitado, não só pela potência do equipamento emissor que é fraco em watts (0,9W), mas também devido às características das suas ondas, frequência modelada, cuja propagação é prejudicada por obstáculos físicos; para obstar a esta característica negativa, nos Aquartelamentos, há necessidade de montar um suporte físico, mastro, com altura razoável, com uma antena vertical instalada no topo do mastro, que optimiza a recepção e emissão do AN/PRC-10.
Tem ainda um outro inconveniente nas comunicações, o chamado efeito de captura, isto é, perante dois equipamentos a emitir na mesma frequência para um terceiro equipamento receptor, (central) este selecciona o sinal de maior potência ignorando o mais fraco.” (Descrição que fiz no meu artigo, Poste – 6036).
A gama de frequência do AN/PRC -10, permite-lhe que possa ser sintonizado na faixa de frequência compreendida entre a 38 e 54,9 Mc/s (Megaciclos por segundo) em FM (Frequência Modelada). A emissão é em fonia.
O Emissor e o Receptor são individuais, mas estão dentro do mesmo invólucro que se separa da caixa acondicionadora da Pilha de alimentação, (BA 279U) por dois ganchos-mola laterais.
A Pilha é uma unidade de alimentação complexa, pois tem diversos terminais, (alvéolos) com diferentes valores de tensão, (voltagem) consoante é para alimentar um ou outro componente do equipamento.
A alimentação é normalmente feita pela pilha própria, que tem uma capacidade de armazenamento de energia, que lhe permite debitar corrente por um espaço de tempo muito próximo de 25 horas em funcionamento.
Compreende-se que na função de emissor, as exigências energéticas de intensidade são muito maiores, pelo que o consumo de corrente é bem mais acentuado.

Para tirar o máximo de rendimento na emissão e recepção do equipamento e melhorar a propagação das suas ondas electromagnéticas, a antena neste equipamento tem que ser montada sempre na vertical, cuja difusão, do sinal, é uniforme em todas as direcções. pelo que não precisa de orientação.


Fotos 3, 4 e 5
O alcance de emissão do aparelho depende do tipo de antena utilizada, dos acidentes geográficos e das condições atmosféricas, (humidade relativa, nebulosidade, energia estática de ionização etc.).
É aceitável que em condições, consideradas padrão, com a antena tubular segmentada, (por secções) a maior, as suas emissões se propaguem e sejam captadas com qualidade razoável a uma distância de 8 a 10 km.
Pode acontecer, em condições excepcionais, sem obstáculos, em que até uma nuvem pode servir de espelho reflector e direccionar o sinal na orientação favorável, optimizá-lo, de forma que o alcance da onda electromagnética irradiada pela antena do emissor, possa ser captada por um receptor até cerca de 15 km de distância.
Em Canjadude, em 1971, pode-se testemunhar o seguinte: Durante uma flagelação do inimigo ao Aquartelamento, no dia 21 de Julho de 1971 ao escurecer, o fogo do IN danificou as duas antenas horizontais existentes do AN/GRC-9, que estavam instaladas e suportadas pelos ramos do embondeiro grande, que estava ao lado do campo de futebol e de uma mangueira que estava junto da Parada Alferes Gamboa. (O nome desta Parada, era uma homenagem ao Alferes Augusto Manuel Casimiro Gamboa, que segundo se dizia, já após o término da sua comissão de serviço na Guiné, perdeu a vida numa emboscada do IN, no dia 14 de Dezembro 1967, quando a coluna que o transportava de Canjadude para Nova Lamego sofreu um ataque, em Uelingará, entre Canjadude e Nova Lamego. Contava-se em Canjadude, que foi todo esquartejado no tórax para lhe arrancarem o coração, assim como o despojaram de todos os seus haveres).
Ora, com as antenas danificadas, o Aquartelamento ficou sem transmissões, utilizando o equipamento que era tradicional usar para comunicar com Nova Lamego, pois não tínhamos suporte físico para difundir e captar o sinal hertziano.
Recorreu-se ao PRC-10 que estava no Posto de Rádio, por norma utilizado para comunicar com os meios aéreos, que era servido para a emissão e recepção, por uma antena que estava instalada verticalmente no topo de um mastro com espias, que devia ter para cima de 20m de altura, que por acaso não ficou inutilizado.
Conseguiu-se comunicar com o PRC-10 com Nova Lamego, que dista de Canjadude mais de 20km. As condições de fonia, ainda que com algumas deficiências eram aceitáveis, pelo que a CCAÇ. 5, teve toda a noite comunicações com Nova Lamego.

Foto 6
O equipamento AN/PRC-10 tem três fichas terminais localizadas no painel de comandos para entrada/saída de sinal (de) e para as antenas:
SHORT ANT – Antena Curta que se deve utilizar quando o equipamento está a ser utilizado em caminhada “portátil” pelo operador, tipo mochila, e neste caso deve ser utilizado na base da antena a mola em espiral, para poupar a antena a danos causados no embate contra obstáculos e para a manter na vertical. Com esta antena as emissões dificilmente serão captadas a mais de 4km.
LONG ANT - Antena Comprida segmentada (por secções) feita de cobre, (maior condutibilidade) que devido ao seu comprimento, na ordem dos três metros, quando em movimento deve ser montada numa base elástica, para não se inutilizar ao ir de encontro contra os entraves. Com esta antena as ondas não ultrapassarão os 10km.
AUX ANT - Antena Auxiliar para permitir a localização dos emissores.
NOTA – A antena é o dispositivo físico, que irradia ou capta do espaço a energia transportada sob a forma de ondas electromagnéticas.

NOTA – A antena vertical irradia ondas electromagnéticas em todas as direcções por igual, por isso não há necessidade de orientação, como acontece nas antenas horizontais. Nestas, o plano horizontal definido pela intercepção da antena do emissor, deve formar um rectângulo quando intercepta a antena do receptor. Ou dito de outra maneira, as antenas horizontais de dois postos de rádio, para optimizar a comunicação entre eles, devem ser paralelas e devem ter um determinado comprimento em função da frequência de E/R. Mas isto de orientação, como se pode inferir é teórico, porque obrigaria o posto director a ter tantas antenas quantos os postos satélites, (dirigidos) caso a localização destes não seja em fila (linha).
Os terminais Short e Long Ant, são comuns ao emissor e ao Receptor, por essa razão também quando o equipamento está a emitir não pode receber e vice-versa, por partilharem a mesma antena e outros componentes electrónicos. O interruptor, no microtelefone, serve para fazer a comutação de recepção para emissão, dai a razão porque em transmissões quando se ia terminar a emissão, se dizia, “Escuto” que significava comutar para a recepção o equipamento.

Foto 7
Descrição do painel de comandos:
Na face topo do equipamento temos o painel onde estão localizados os comandos que são:
- Do lado esquerdo temos os três terminais de antena já atrás referenciados;
- POINTER ADJUST – Ajustamento da Referência da Escala; faz deslocar a referência da escala de frequências. Janela para poder ver o ponteiro que indica a escala da frequência.
- TUNNING – Comando de Sintonia; para fixar e fazer procura da frequência do Emissor-Receptor.
- VOL – Comando do Volume; para regular o volume da recepção.
- SQUELCH – Limitador de Ruídos; destinado a eliminar o ruído de fundo.
- AUDIO – Tomada para o Microauscultador;
- POWER – Comutador Geral; - com as posições:
- OFF – Desligado.
- REMOTE – Para o Comando à Distância.

- ON – Ligado.
- CAL & DIAL LITE - Destinado à calibração e iluminação do quadrante.
- DIAL LOCK – Fixador do Comando de Sintonia.
Nota – Tem uma placa destinada à inscrição das frequências de trabalho. (rectângulo definido na superfície do painel de Comandos.)
Nota - O interruptor que comuta da recepção à emissão está localizado no microtelefone.
Para ligar o aparelho depois de já termos colocado a Pilha realizamos as seguintes operações:
- Colocar o comando limitador de ruído – SQUELCH - na posição desligado - OFF.
- Rodar o comando de volume – VOL - para o máximo – todo para a direita.
- Colocar o comutador geral – POWER - em – ON.
- Calibrar a escala de frequência. Este paço serve para verificar se a referência da escala de frequência está correcta.
- Libertar o comando de sintonia – TUNNING – rodando o bloqueador deste – DIAL LOCK – em sentido contrário ao movimento dos ponteiros do relógio.
- Rodar o comando de sintonia –TUNNING - até ao ponto de calibração (indicado a vermelho no mostrador) mais próximo da frequência em que vai trabalhar.
- Colocar o comando de volume – VOL – na posição 10 caso o não tenha feito antes.
- Colocar o comando limitador de ruído – SQUELCH – em desligado – OFF – se o não fez anteriormente.
- Colocar e segurar o comutador – POWER – na posição – CAL & DIAL LITE – e com o microtelefone no ouvido rodar o comando de sintonia até extinguir o silvo que se ouve para um e outro lado do ponto de extinção deste.
- Soltar o comutador geral – POWER – que automaticamente volta à posição – ON.
- Se a referência do mostrador não indicar a frequência de calibração, rodar o ajustamento da referência – POINTER ADJUST – até que este fique rigorosamente sobre o ponto de calibração escolhida.
NOTA – Nunca se deve carregar no comutador de emissão-recepção do microtelefone com o comutador geral na posição – CAL & DIAL LITE.
- Soltar o comando de sintonia – TUNNIG – actuando no fixador do comando de sintonia –DIAL LOCK.
- Rodar o comando de sintonia até a frequência de trabalho ficar debaixo da referência.
- Fixar o comando de sintonia actuando em – DIAL LOCK.
- Afinação do limitador de ruídos:
- Rodar lentamente para a direita o comando limitador de ruídos – SQUELCH – até que deixe de ser ouvido no auscultador do microtelefone o ruído de fundo. Parar logo que o ruído se extinga, pois continuando, a sensibilidade do aparelho é reduzida com prejuízo da recepção. As operações anteriores correspondem à fixação e ajustamento da frequência do emissor e receptor e à ligação de alimentação.
- O aumento do volume de som só é eficaz na recepção rodando o comando do volume para a direita no sentido dos números mais elevados.
- Para emitir premir o interruptor de emissão-recepção do microtelefone e falar no microfone mantendo este afastado dos lábios 5 a 8 cm.
- Para desligar rodar o comutador – POWER – para – OFF.
- Retirar a pilha quando o aparelho estiver inactivo por período prolongado.
A explicação que acabo de fazer é em função do aparelho que conheci, na época em que fui militar do Exército Português, e apoiei-me, como é lógico, nos apontamentos que por acaso ainda possuo, que anotei quando tirei a especialidade de transmissões. Tentei explicar tanto quanto me foi possível com clareza o pouco que ainda sei.

Fotos 1 e 2: AN/PRC -10 com os diversos acessórios.
Foto 3: Operação realizada o dia 26 de Abril 1970 para os lados de Comuda. À frente do operador de transmissões, o Coias, que leva uma antena segmentada na mão, vão três carregadores civis, levando o primeiro o PRC-10 às costas, o segundo leva material diverso e o terceiro leva às costas o rádio Racal que é o aparelho que nos permitia comunicar com o Aquartelamento. Para os civis, estes fretes como carregadores, era uma maneira de poderem ganhar uns míseros centavos para irem vivendo. Já passei por aqui, em operação anterior, com este terreno todo alagado com a água a dar pela cintura.
Foto 4: Eu, a ganhar força, depois de comer a ração de combate e a reflectir para passar a escrito algum acontecimento. À minha frente está uma antena seccionada do PRC-10.
Foto 5: Eu, depois da operação de dois dias à espera das viaturas, que já pediu, para nos transportarem rumo a Canjadude. Logo à minha frente está o Racal e um pouco mais afastado o PRC-10, que tem acoplado a antena de mobilidade no mato (pequena).
Foto 6: Parada Alferes Gamboa, no Aquartelamento de Canjadude. (Na base do mastro onde está içada a Bandeira Nacional, podemos ver um tronco de madeira facetado onde estão inscritas, em sulco, as referências ao Alferes Gamboa). No lado esquerdo podemos ver o abrigo dos graduados. Podemos ver também parte do mastro espiado, que suportava a antena vertical que servia o PRC-10, cuja base estava junto do abrigo de transmissões.
O edifício funcionava como Secretaria e Centro Cripto. Em tempos foi armazém de “Mancarra” (amendoim) da Casa Gouveia.
Foto 7: Face superior do AN/PRC-10 ou Painel de Comandos de Control.

Foto 8: Posto de rádio, novo, de Canjadude. Por cima de secretária estão instalados dois AN/GRC-9 com o respectivo amplificador QR-TA-1-A. Em frente vê-se o comutador telefónico, que deve ser o equipamento BD 72 porque tem 12 linhas para serviço. O PRC-10 consegue-se identificar no lado esquerdo da secretária, (no alçado lateral) dentro duma caixa branca onde está pendurado o microtelefone. 

Foto 9: Novo abrigo de transmissões em Canjadude. Construído atrás da Enfermaria e à frente da Secretaria. O pessoal espera a chegada das entidades locais para a inauguração. Costa, Esteireiro, Vieira, Mateus (africano), e o Baioa em cima do abrigo com cartaz na mão a dar as boas vindas às entidades locais.

Foto 10: A Secção de transmissões no dia da inauguração do segundo posto de rádio de Canjadude. À frente lado esquerdo: Reis, Esteireiro, Albino Conceição, (estes três coexistiram comigo em Canjadude, assim como o meu “periquito” que não consigo identificar), Baioa, Mateus (africano), Vieira; - Atrás lado direito: Furriel Mimoso (com uma cerveja na mão a comemorar a inauguração), Cap. Gil Figueiredo Barros (hoje Coronel na reserva), António Costa, José Marques e Gomes (africano). Como podemos constatar em 1972 já havia 2 africanos na secção de transmissões.

Para todos um abraço e muita saúde.
José Corceiro
1º Cabo TRMS da CCaç 5

Fotos: © José Corceiro (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

29 de Junho de 2010 >
Guiné 63/74 - P6654: José Corceiro na CCAÇ 5 (13): Ritual do Fanado no Aquartelamento de Canjadude

Guiné 63/74 - P6697: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (7): Eu sei quem sou

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 1 de Julho de 2010:

Meus caros camarigos editores
Prosseguindo os escritos da série “20 Anos depois da Guiné, à procura de mim!” 7 que se aproxima do fim.

Um abraço camarigo do
joaquim


DEPOIS DA GUINÉ, À PROCURA DE MIM

20 ANOS DEPOIS (7)

EU SEI QUEM SOU

Os meus pés já não percorrem
os trilhos já tão batidos
tantas vezes já picados
pela ponta
dos nossos medos.
Já não vejo nos olhares
o medo que se faz coragem
quando a raiva de viver
se sobrepõe,
ao momento de morrer.
Já não me dispara o coração
com um ritmo de rajada,
quando aquele som,
surdo e seco,
me diz tão claramente
que vai haver “trovoada”.
Já não me suam os braços,
o pescoço, as mãos,
tudo enfim,
porque secaram os abraços
de quem não chegou,
ao fim.
Sinto-me assim,
como um nada,
algo desenraízado,
olhando tudo em redor,
procurando conhecer,
tudo o que quero esquecer,
que esta terra não é a minha,
ou se é,
não me parece ser.
Já não me estremece o sentir
com o som cavo do morteiro,
apenas me arrepio
com o foguete da festa,
daquele Santo Padroeiro.
Quem é esta gente?
quem é?,
que me olha sem me ver,
que me desdenha e despreza
apenas,
por querer viver.
Será esta a minha gente,
aquela que um dia deixei?,
ou é assim tão somente,
gente que não quer saber,
de me sentir tão diferente,
de ver vazio o meu olhar,
nem quer tentar perceber
tudo o que eu passei,
para não se incomodar.
Devia eu ter morrido?
Não devia ter voltado?
Seria melhor,
pensam eles,
eu por lá ter ficado,
porque assim era mais fácil,
ser rapidamente esquecido,
como morto,
e enterrado,
nessa tão distante guerra,
que não toca este país,
tão longe do seu soldado.
Eu estou bem,
não se incomodem!
Perdoem-me pela ousadia
de ter querido viver,
e mais que tudo,
regressar!
Eu parto já,
numa viagem,
para dentro de mim próprio,
onde me encontrarei,
só comigo,
e com os meus,
que ainda por lá estão,
e mais os que já voltaram,
partindo sempre partindo,
com vontade de voltar,
para novamente partir.
Julgais-me morto,
acabado,
dos vossos afectos,
desprezado,
mas ainda me estou a rir,
de cabeça levantada,
olhando-vos fundo nos olhos,
sem medo e sem vergonha,
como qualquer um de nós,
e grito-vos aos ouvidos:
eu sei quem sou,
e vós?


11.11.91
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6679: Controvérsias (92): A ficção e a guerra (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6615: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (6): Sem Título 3

Guiné 63/74 - P6696: Tabanca Grande (227): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)

Mensagem do nosso camarada e novo amigo José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913,  , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69, com data de 30 de Junho de 2010:

Caros Editores
Venho acompanhando o blogue já há algum tempo e decidi fazer a minha apresentação.

Sou José Ferreira da Silva, fui Furriel Miliciano de Op. Esp. da CART 1689/BART 1913, que esteve na Guiné entre 1967/1969.

Proponho escrever uns textos que possam ser agradáveis, recordando situações vividas na Guiné, sugerindo um nome – “Memórias boas da minha guerra”.

Talvez escreva também outras coisas mais sérias.

Junto as duas fotografias da “ordem” e, desde já, envio o meu primeiro texto – “Bife à Dunane”.

Os meus cumprimentos para todos.
José Ferreira da Silva
(Silva da CART 1689)


************

MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA

1 - BIFE À DUNANE


Para a CART 1689, a ida para as “Termas” de Canquelifá foi, ao contrário do resto da comissão, um período de quatro meses de quase repouso. Constava que “eles” iam mexer com a zona, mas isso só veio a acontecer depois de termos regressado. Já não havia combates por ali há cerca de um ano, o que era uma situação anormal e… agradável.

Entre Canquelifá e Piche havia um destacamento em Dunane. Era um posto segurança avançado, que funcionava a nível de pelotão, reforçado pelos milícias locais, que viviam lá com os familiares. Os patrulhamentos eram pequenos e os serviços eram poucos e bem distribuídos. Além disso, comia-se muito melhor, porque havia fartura de carne. Daí ser chamado “Hotel Dunane”.

Não sei por que razão, eu era presenteado, assiduamente, com um pequeno saco com ovos, que alguém vinha colocar à porta da minha “tabanca privada”. Como eu não os comia, os sacos com os ovos iam-se acumulando.
Resolvi falar com o cozinheiro para saber da possibilidade de fazer um prato especial, que baptizei de “Bife à Dunane” – bife com batatas fritas, ovo a cavalo e picles.

Surgiram, então, algumas dificuldades. Onde fritar tantas batatas? E os ovos?
Começava a duvidar que fosse possível fazer um prato tão sofisticado, mas o cozinheiro, contra o que era habitual, entusiasmou-se. Chamavam-lhe “Madeirense”, mas também era conhecido por “Badalhoco”, que o Serafim Martins Delindro, pasteleiro de profissão, na sua forma especial e acutilante de dizer, corrigia para “Senhor Badalhoco”. Era um pouco barrigudo, meio loiro meio ruivo, sempre com barba de alguns dias, usava um bigode parcialmente queimado pelos cigarros, espetado, excepto no rego do nariz, onde estava colado ao lábio; era difícil saber se seria da cerveja ou do ranho que lhe corria do nariz. Vestia uma camisa encardida, solta por cima dos calções, que se apresentavam abertos à frente, devido à força da barriga e à falta de botões. Calçava umas botas envelhecidas, quase desfeitas pelos pontapés que dava na lenha a arder e nos apetrechos da cozinha.

A frigideira para fritar os ovos foi improvisada com uma chapa com as bordas viradas à força para cima.
Quando lhe entreguei os últimos ovos já estava ele a colocar o óleo na frigideira, que estava assente em cima de uns adobes e a lenha ardia já fortemente por baixo. O “Madeirense”, sob aquele sol escaldante, com a cerveja na mão e o cigarro na outra, transpirava copiosamente.

- Já tá bom, ma Furiel Seilva. – dizia ele - E cuspiu uma “bisga” para dentro da frigideira, a confirmar que o óleo já estava bem quente.

Largou a “bazuca”, chupou a “barona” até aos dedos queimados, deitou-a fora e começou a partir os ovos, um a um, contra a borda da frigideira. Despejava-os imediatamente no óleo, mas, afinal, havia ovos em todas as fases de gestação. Havia alguns ainda bons para comer, outros eram já mais pintainho que ovo e de outros saíam pintainhos que patinhavam no óleo a ferver. O “Madeirense”sacudia-os para fora da frigideira com um graveto que apanhou do chão, gritando:

- Saie dae, filhe da piiiiuta!

E, como a cena se repetia, lamentava-se:

- Ai maezenha, que cuaralhe de sort’a menha!!!

No final ninguém reclamou do cozinheiro ou do cozinhado. Pelo contrário, todos adoraram aquele prato especial confeccionado por um cozinheiro ainda mais especial, que foi muito cumprimentado.

Silva da Cart 1689

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Comentário de CV:

Caro Silva, é caso para dizer que a coisa promete.

Sê bem aparecido nesta Tabanca que a partir de hoje partilharás com os mais de 400 camaradas e amigos que a compõem.

A tua primeira história, para uma série com um título por ti sugerido, é muito engraçada, tendo ainda por cima como interveniente um natural da Madeira.
A minha Companhia tinha como operacionais naturais daquela bonita ilha, pelo que imagino como era para vós estranho o sotaque do vosso mestre de cozinha. Mais difíceis eram de entender, quanto mais afastados fossem do Funchal. Ao tempo dizia-se, do campo.

Já agora permite-me que te diga que enquanto estivemos no BAG-2 (S. Martinho-Funchal), tivemos um óptimo cozinheiro madeirense, o inesquecível Araújo, cuja especialidade eram os bifes de atum, bem melhores que os bifes à Dunane, desculpa lá a imodéstia.

Ficamos, então na expectativa de mais histórias, destas ou mais sérias. Julgo saberes que tens no nosso blogue um camarada de Companhia, o ex-Alf Mil Alberto Branquinho que tem duas séries, uma terminada e outra ainda recente.

Deves utilizar estes marcadores para acederes, respectivamente: às tuas histórias (José Ferreira da Silva e Memórias boas da minha guerra), às do Alberto Branquinho, Não venho falar de mim, Contraponto e aos textos referentes à CART 1689.

Podes também aceder aos mapas das localidades por onde andaste, clicando nos nomes sublinhados e de cor diferente.

Posto isto, recebe um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6626: Tabanca Grande (226): Acácio Correia, ex-Alf Mil, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1973/74)

Guiné 63/74 - P6695: Memória dos lugares (89): Bafatá, Tabatô, Tabaski 2009: Não há preto nem branco, somos todos irmãos, disse a Fátima de Portugal numa cadeia de união... (Catarina Meireles)







Guiné-Bissau > Região de Bissau > Tabatô > 28 de Novembro de 2009 > A cerimónia do Tabaski... em que pela 1ª vez participaram três europeus, não-muçulmanos, duas portuguesas e um espanhol... Uma das portuguesas foi a Catarina Meireles, médica, aqui na foto (a 3ª, a contar de cima), com uma criança mandinga ao colo;  e na 2ª, partilhando a refeição)... Na 1ª foto a contar de cima, temos uma vista geral da assembleia, durante a cerimónia do Tabaski, na aldeia mandinga de Tabatô, a escassos 10 km de Bafatá, na estrada  Bafatá-Gabu. Ainda há dias o Fernando Gouveia andava desesperado para encontrar a localização exacta de Tabatô, que não vem na nossas cartas da época colonial (Será uma povoção de recente implantação ? Ou deslocalizada por causa da guerra colonial ? O João Graça, que passou lá uma noite memorável a tocar com os músicos locais, não me soube esclarecer a data da origem da tabanca; o Fernando, por sua vez, não conseguiu lá ir, quando revisitou Bafatá,  em Abril passado ).

Fotos: © Catarina Meireles (2010). Direitos reservados





Guiné-Bissau > Bissau > Dezembro de 2009 > Na conhecida e conceituada Residencial Coimbra, sita na Av Amílcar Cabral, em pleno centro: da esquerda para a direita, o João, o Mamadu (músico da tabanca mandinga de Tabatô de onde é natural o Kimi Djabaté), o Vitor (cooperante espanhol), a Catarina Meireles (médica, portuguesa, minha antiga aluna na Escola Nacional de Saúde Pública)... Os restantes cinco elementos não sei, de momento, identificá-los. O João Graça, músico e médico, interno de psiquiatria, esteve na Guiné duas semanas, em Dezembro de 2009,  tendo estado mais tempo em Iemberém (onde prestou cuidados de saúde à população local, durante cinco dias), além de Bissau, e visitado ainda a zona leste (Bafatá, Tabatô, Gabu, Contuboel...) e a região do Cacheu (S. Domingos). Em Bissau conheceu a colega Catarina Meireles.


Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados


1. A minha amiga e antiga aluna do Curso de Especialização em Saúde Pública, Dra. Catarina Meireles, natural de Vila Verde (a terra dos lenços dos namorados ou, melhor, e segundo as  palavras da Catarina, a terra onde são as raparigas a escolherem os namorados com quem querem casar ou não ...), passou cerca de 3 meses em missão de cooperação na Guiné-Bissau, no último trimestre de  2009. Mais exactamente na Associação Saúde em Português, que está a actuar em Bafatá (Projecto  "Mais Saúde, Melhor Saúde por Bafatá").

Nesse período fomos trocando mails e eu convidei-a inclusive para colaborar no blogue, com alguns apontamentos sobre a sua estadia em Bafatá. Disse-me que estava a escrever o seu diário e que depois decidiria onde e quando publicar...

Em Outubro de 2009, escrevi-lhe o seguinte, em resposta às suas primeiras impressões da Guiné-Bissau (tinha chegado a 5):

 (...) Catarina, você representa uma geração, a do pós-guerra colonial, que está a redescobri África, nas suas misérias e grandezas… Sendo uma mulher de grande sensibilidade sócio-cultural e para mais médica de saúde pública, além de uma grande minhota, gostaria de poder publicar, no nosso blogue colectivo, Luís Graça & Camaradas da Guiné, alguns crónicas suas sobre esta sua 'viagem de imersão' na Guiné-Bissau" (...).

A Catarina respondeu-me, a 8, nestes termos:

(...) Sim, com efeito sou dessa geração. Mais interessante é o que a minha mãe constata: o meu pai escapou do Ultramar mas os 2 filhos estão em África. O meu irmão há dois anos que anda pelos PALOP e não só, como engenheiro civil de obras públicas. Confesso que ele me abriu portas por me alargar o planisférios mental. Sem medo, com confiança... a nossa geração tem se ser feita de cidadãos do mundo. (...)

Entretanto, a 1 de Dezembro manda-me um outro mail em que afirma ter necessidade de partilhar as suas emoções por ter tido o privilégio de assistir à cerimónia do carneiro, com os habitantes de Tabatô... Adorei o texto e disso-lho, na volta do correio, a 2:

Catarina:  Belíssimo texto. Você é uma mulher de grande sensibilidade, sócio-cultural. Esse fim semana foi mesmo ecuménico… Dou-he os parabéns por ter conseguido vencer as barreiras culturais, mentais e religiosas que, muitas vezes, nos impedem de comunicar com o outro… Essa tabanca é do meu tempo, mas nunca convivi com a respectiva população… Fulas ? Mandingas ? …Eu passei por Contuboel (2 meses), e o resto em Bambadinca (20 meses)… Ia com regularidade a Bafatá…


O meu filho João Graça, 25 anos, médico (acaba de entrar para a especialidade de psiquiatria, no Amadora -Sintra) vai estar aí quinze dias…Em princípio, vai trabalhar uma semana e depois vai dar um giro, revisitando alguns sítios por onde eu andei (Contuboel, Bafatá, Bambadinca…). Parte na 6ª feira, à noite… Seria interessante poderem estar juntos (em Bafatá) (...).

 Mais recentemente, e já com novos projectos de cooperação, a 18 de Junho último, a Catarina deu-me o seu OK para publicar, no blogue, o texto sobre o Tabaski, com a seguinte nota:

Este texto foi um impulso de partilha existêncial... de entre vários... Este, por acaso, tive que - por necessidade terapêutica!! - partilhá-lo... é que há coisas grandes demais para caber num só coração, numa só mente.  Deus, obrigado. (Como dizem os guineenses... eheheh)


Talvez a versão rectificada do texto, junto com fotografia, fique melhor... que acha?


Ao dispôr!!


Catarina


PS - Julga que não continuo a colaborar? Nunca parei. Constituí-me co-fundadora duma ONG e hoje mesmo recebi "material" para arrancar com projecto. E do "meu povo", continuo a receber notícias... Por exemplo, o grupo de música de Tabatô foi ao Mali gravar o primeiro CD. Se soubesse como isto representa uma vitória? Emociono-me, só de lembrar!


2. O Tabaski em Tabatô
por Catarina Meireles


No passado fim de semana fui ao Tabaski - cerimónia de imolação do carneiro (por analogia: Páscoa dos Muçulmanos).

Depois de muitas resistências, dúvidas, declinações... lá consegui que me deixassem assistir ao ritual ("eucaristia") numa tabanca perto de Bafatá, de seu nome Tabatô - muito especial, particularmente pela sua forma de vida comunitária, que assenta na música e dança étnicas. São fabulosos!

Fui com mais uma amiga (portuguesa) e um amigo (espanhol). Vestimos roupas típicas, ocupamos as posições indicadas (segundo a ordem social vigente) e imitamos tudo o que nos diziam para fazer...  E não me senti diferente... ao contrário, até me senti mais especial!

No fim do ritual, chamaram-nos (aos 3 brancos) para junto dos Homens Grandes e ajoelhámos em círculo.

Para quê? Para dar graças a Alá por esta dávida - pela primeira vez 3 brancos visitaram aquela tabanca no dia do Tabaski. Era um sinal divino de prosperidade e de vida longa (incluindo para nós!)

As explicações foram reforçadas várias vezes para que percebessemos o quão importante e bem-vinda era a visita dos 3 brancos.

Eu disse...
- Sim, 3 é número sagrado!

Eles rejubilaram com o entendimento do misticismo!

Foi-me pedido que falasse... e falei.  Pedi uma cadeia de união - corrente de mãos dadas. Expliquei como fazer e disse:
- Não há preto, não há branco, somos todos irmãos... daí esta cadeia de união.

E do meu lado esquerdo soou uma voz meiga, dum dos homens que me acolheu nas 3 vezes que fui a essa tabanca:
- Obrigado, Fátima de Portugal!

Catarina Meireles

Bafatá, 1 de Dezembro de 2009

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Nota de L.G.:

Último poste desta série > 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6683: Memória dos lugares (81): Binta, no Rio Cacheu... Quando o meu anfitrião foi o JERO, da CCAÇ 675 (Manuel Joaquim, ex-Fur Mil, CCAÇ 1419, Bissorã e Mansabá, 1965/67)