segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15549: Inquérito 'on line' (24): Num total de 35 respostas, 15 dos nossos camaradas (c. 43%) diz que o bacalhau nunca faltou na mesa de Natal, no CTIG... A inquirição acaba no dia 30, 4ª feira, às 14h10


Guiné > Zona leste > CART 3494 (1971/74) > Xime >  Natal de 1972, o segundo passado no CTIG. De pé, António Costa [1.º cabo]; José Pacheco [20.º Pel Art]; Jorge Araújo e Mário Neves [furriéis].


Guiné > Zona leste > CART 3494 (1971/74) > Mansambo > Natal de 1973, o 3º passado no CTIG >  Da esquerda para a direita: Carola Figueira [furriel]; António Costa, de pé [1.º cabo impd. messe of.]; Orlando Bagorro [1.º  srgt]; Serradas Pereira [alferes]; Luciano Costa [cap mil cmdt CART 3494]; Jorge Araújo, de pé [furriel]; Lobo da Costa [alferes estagiáriodo curso de capitães].


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



INQUÉRITO DE OPINIÃO: "NA GUINÉ, NO NATAL, NUNCA FALTOU O 'FIEL AMIGO', O BACALHAU"


Camaradas: como era na Guiné, nos idos tempos de 1961/74 ?  Como eram as nossas "ceias de Natal" ?...

Recorde-se aqui a nossa série "O meu Natal no mato"... Já publicámos pelo menos 42 postes  nesta série: o último foi assinado pelo nosso camarada Rui Pedro Silva (ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74) (*).

Por outro lado, houve malta que passou 3 natais no CTIG ou a caminho do CTIG: caso,  por ex..  da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74).

O "fiel amigo", o bacalhau, está associado, na nossa tradição gastronómica, à quadra festiva do Natal e Ano Novo...

Na ceia de Natal portuguesa (e nomeadamente nortenha) a tradição era (e continua a ser) comer bacalhau, e de muitas formas e feitios, desde o bacalhau com pencas à "roupa velha"...  Na Guiné, durante a guerra colonial, o bacalhau trazia-nos a lembrança dos sabores da terra e as saudades de casa.

O bacalhau, a saudade e e, a partir de meados do séc. XIX, o fado são três elementos da nossa identidade.

Vd. aqui a propósioyo a um interessantíssimo artigo de José Manuel Sobral e Patrícia Rodrigues - O “fiel amigo”: o bacalhau e a identidade portuguesa. Etnográfica [Em linha], vol. 17 (3) | 2013. desde. [Consult em 28 de dezembro de 2015]. Disponível em http://etnografica.revues.org/3252.

É um artigo que aconselhamos vivamente, disponbível em pdf, e que foca os seguintes pontos: (i) A identificação entre o bacalhau e os portugueses; (iii) Um consumo antigo; (iiii) Razões históricas do consumo do bacalhau em Portugal; (iv) Da penitência ao sucesso; (v) A pesca e o abastecimento do bacalhau: uma síntese breve; (vi) A construção de uma cozinha nacional e o bacalhau: o testemunho dos livros de cozinha; (vii) O bacalhau e os portugueses: uma identificação recriada nas relações e inscrita no corpo e na memória

Bacalhau com "pencas"...
Foto de LG
Como dizem os autores no resumo do seu artigo "o bacalhau possui um estatuto único na cozinha portuguesa, pois é ao mesmo tempo um alimento muito frequente no seu receituário e um símbolo da própria identidade nacional. Neste ensaio procede-se a uma reconstrução genealógica dos diversos motivos e processos que conduziram a esta situação, procurando mostrar que dinâmicas de natureza religiosa, económica, política e ideológica se combinam com uma longa socialização e incorporação, que se traduziu num gosto específico por este tipo de alimento entre os portugueses."


Ler aqui algo mais sobre a história da pesca do bacalhau... 

Recorde-se, por outro lado, que sobre a pesca do bacalhau  (a tal "outra guerra"...) temos já 15 referências no nosso blogue. No nosso tempo, o Estado Novo elevou a "faina maior" à categoria de epopeia nacional... E em 1958 Portugal era o maior produtor mundial de bacalhau seco e salgado...

Houve, até agora, 35 respostas ao inquérito de opinâo desta semana festiva sobre a presença do bacalhau na mesa de Natal na Guiné,  no nosso tempo (1961/71). As opiniões estão assim repartidas:
.

1. Sim, nunca faltou, no Natal > 15 
(42,9%)


2. Não sei / não me lembro > 9 
(25,7%)


3. Faltou pelo menos uma vez > 0 
(0%)


4. Faltou sempre > 9 
(25,7%)

5. Não aplicável. nunca liguei ao bacalhau > 2 
(5,7%)


Votos apurados: 35
(100,0%)

Dias que restam para votar: 2 (termina em 30/12/2015, 4ª feira, às 14h10). Queremos chegar, pelo menos, até às 100 respostas... (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 25 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)

(**) Último poste da série > 15  de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15492: Inquérito 'on line' (23): cerca de 57% dos respondentes, num total de 81, admitem que já caíram (ou foram tentados a cair) no 'conto do vigário', uma ou mais vezes, e sobretudo na vida civil...

Guiné 63/74 - P15548: Notas de leitura (792): “Bichos da Guiné, Caça, fauna, natureza”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Março de 2015:

Queridos amigos,
Estes "Bichos da Guiné" farão parte do meu lote de livros raros.
Temos aqui o entusiasmo do caçador vagabundo, um militar colocado em Bolama que espairece e goza os seus lazeres um pouco por toda a Guiné à procura de búfalos, antílopes, hipopótamos, crocodilos, e aqueles bichinhos que escapam à caça grossa mas que são muito bons no churrasco.
Maravilha-se com a Lagoa de Cufada, encontrou belezas ímpares em Guileje e Madina do Boé.
Até neste aspeto é um relato raro, especioso, que nos põe a questionar o que era aquele mundo de paz e como virou em ferro-e-fogo, pouco mais de dez anos depois.
Um livro, houvesse imperativos culturais luso-guineenses, que merecia reedição, para satisfação de todos.

Um abraço do
Mário


Bichos da Guiné, por Júlio de Araújo Ferreira (2)

Beja Santos

Em “Bichos da Guiné”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973, partilhamos das impressões de um caçador vagabundo, militar na Guiné que aproveita os seus tempos livres na arte cinegética. E é um verdadeiro prazer acompanhá-lo nas suas deambulações, ele cativa-nos com a caça, a fauna e a natureza que o deslumbram. Estamos agora na pista de elefantes. As informações que ele colhera eram nebulosas, as informações eram esparsas. Viveu na Guiné três anos, entre 1946 e 1948, e descobriu que afinal havia elefantes: 

“Pude verificar a presença de elefantes entre o Corubal e a fronteira. Posso também assegurar a sua existência na região de Banjara. Da Mata de Cantanhez, chegavam-me, de tempos a tempos, informações a confirmar a presença de elefantes por ali. Nas várias caçadas que fiz por terras de Contabane, encontrei rastos diversos de elefantes”

Dá como confirmado haver elefantes na Guiné. Considera que é dos aspetos mais apaixonantes, a caça ao elefante: caminhadas de arrasar, intermináveis maratonas, e sugere que é melhor levar o leitor a embrenhar-se com ele pelos matos da Guiné em perseguição dos enormes trombudos.

Lá vai a caminho de Contabane, segue um caminho paralelo à fronteira, até ao cruzamento com a estrada de Cacine, voga ao sabor das fantasias da manada, regista repetidamente as aves e os mamíferos. É uma longa caminhada até se descobrir o rasto, dão com um animal ainda relativamente novo, tem um dente entre 15 a 20 quilos e o outro apenas a raiz. Pé entre pé aproximam-se uns 25 metros: 

“Procurei localizar rapidamente o orifício do ouvido e visando um ponto à retaguarda deste para lá fiz seguir sem perda de tempo os 400 “grains” de uma .404 sólida”.

 O animal tomba com a parte posterior do corpanzil assente no solo, aparecem dois elefantes, parecem ameaçadores, um tiro partiu, a arma desparafusa-se, é preciso mudar de arma, o elefante está tombado leva o tiro de misericórdia, os outros dois elefantes fogem, o abatido é todo retalhado. Depois disserta como se matam elefantes, há discussões apaixonadas sobre o tiro ao cérebro do elefante: 

“É certo que uma bala dirigida à raiz da tromba, ao ouvido, ou acima da linha dos olhos poderá fulminar um elefante, mas o que se torna indispensável é ter em atenção que isso só poderá acontecer em determinadas posições da cabeça do animal em relação ao atirador. A grande verdade é que o elefante não tem o cérebro nos bordos exterior do canal auditivo, nem na raiz da tromba, nem na linha dos olhos… Nem em ponto nenhum da periferia da cabeça. Uma bala, par atingir o cérebro, tanto poderá entrar acima como abaixo da linha dos olhos, ou mesmo num dos olhos, tanto no ouvido como acima, abaixo, à frente ou atrás dele”. Fala sobre as melhores armas, vê-se que escreve tudo com uma ponta de genuíno orgulho: “Os troféus do meu elefante – o dente, uma pata e uma orelha – fizeram tremendo sucesso durante a viagem, e, no dia seguinte, em Bolama, vieram ainda ao meu quintal bastantes africanos para ver os despojos”.

São memórias de um caçador, a seguir vai falar de búfalos, deixa-nos breves apontamentos sobre algumas espécies e aves e comunica-nos o maravilhamento da Lagoa de Cufada. Vale a pena fazer uma corrida apertada pelas suas observações. Sobre búfalos, diz-nos que é um animal de caça estupendo, devido à perseguição pelo rasto, sabe defender-se com habilidade, tem por vezes reações perigosas, na Guiné é a peça de caça número um, já não se pode contar nem com o elefante nem com o leão. Disserta sobre o que é mais apropriado na caça ao búfalo: 

“Sou partidário dos grandes calibres para os grandes animais. É certo que a bala de uma .303 pode matar com limpeza um búfalo. Em minha opinião deve usar-se um projétil mais valente, mais maciço, capaz de fazer face, com maior segurança, a todas as situações”

E prende-nos a atenção com uma caçada em Caur, perto de Empada. As suas descrições são amplas, sensoriais, preenchidas com muitos elementos da natureza. Está no rio Tombali e aproveita para descrever as rias, tem presente que o leitor comum precisa destes condimentos para entender aquela natureza luxuriante e diversificada. Passando para os antílopes, detalha as espécies, aí o leitor comum encolhe-se com tanto búbalo, sylvicapra e redunca, e gazela de lala. Nenhum caçador é indiferente aos símios e ele enumera-os: macacos verdes, macacos cães, macacos fulas, macacos pretos, macacos fidalgos, distingue-os. Por exemplo, os macacos cães são de temperamento muito conflituoso, envolvendo-se em constantes disputas e ficamos a saber que o leopardo é o seu tradicional inimigo. À data, o leão já era raríssimo na Guiné, não avistou nenhum.


Espraia-se em hipopótamos e crocodilos. Os primeiros estavam largamente espalhados pela Guiné, em quase todos os rios e lagoas, até nas Bijagós. Os crocodilos são conhecidos por lagartos. E fala como perito: 

“Qualquer projétil, mesmo com ponta de chumbo, os abate com facilidade; o que é indispensável, evidentemente, é estar bem colocado. A celebérrima carcaça de crocodilo, mais ou menos impermeável às balas, é uma lenda. Contra eles, uma carabina de calibre ligeiro, à volta dos 7 a 8 mm, grande tensão de trajetória, e provida de uma boa alça telescópica, é a minha ferramenta preferida. Refiro-me, como é evidente à caça de dia, porquanto de noite, caçados a farolim, são incrivelmente estúpidos. Até à arma branca se torna possível abatê-los”

Visivelmente contrafeito, fala das cobras, a cuspideira, a “surucucu”, as jiboias, a temível mamba, a bonita cobra verde da palmeira. E derrama-se, lânguido, sobre perdizes, galinhas, rolas, pombos, gansos, mas também recorda os pássaros e a sua plumagem. Deixa-nos páginas impressivas sobre a Lagoa de Cufada, o lugar que ele recorda com maior saudade, é um texto que por si só merecia ser reproduzido num documento sobre conservação da natureza. Por último, é citada a legislação da proteção das espécies, certamente escrito pelo punho de Sarmento Rodrigues, aqui fica um pequeno texto: 

“O verdadeiro caçador em África deverá ser ainda estoico e brioso, lutador e leal, duro e generoso. Terá vista de lince e músculos rijos e flexíveis; ouvidos, como diria Kipling, envolta tde toda a cabeça. Não matará os animais inofensivos com processos traiçoeiros. Bem lhe bastarão as suas armas, produto do engenho humano, para vitimar uma indefesa perdiz; deixe-lhe, ao menos, a possibilidade de empregar as suas asas e prove depois disso que é um destro atirador”.

Que livro belíssimo sobre os bichos da Guiné!
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Notas do editor

Vd. poste de 21 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15520: Notas de leitura (790): “Bichos da Guiné, Caça, fauna, natureza”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15531: Notas de leitura (791): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José A. Paradela): reprodução do capítulo 7 com a descrição da viagem de seis meses, aos 17 anos, em 1954, aos bancos de pesca do bacalhau: Parte I

Guiné 63/74 - P15547: In Memoriam (242): Senhora D. Georgina de Almeida Alves Araújo [1928-2015], Mãe do nosso camarada Jorge Araújo. Estará em Câmara Ardente a partir das 18 horas de hoje, 2.ª feira, na Igreja de Almada, realizando-se o seu funeral na próxima 3.ª feira, às 13h30, para o Cemitério do Feijó - Almada

IN MEMORIAM

Senhora D. Georgina de Almeida Alves Araújo [1928-2015]


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974) chegada ao nosso Blogue às 23h24 de 27 de Dezembro de 2015:

Camaradas
Estou-vos grato e sensibilizado por todas as manifestações de pesar que me tem feito chegar, públicas e privadas, com palavras de muito conforto pela dor causada pela perda de minha mãe - Georgina de Almeida Alves Araújo [n.12.04.1928].

Ao longo da sua vida de mais de 87 anos foram muitos os actos e exemplos que me marcaram e que continuarei a recordar, a admirar e a respeitar. Foi uma verdadeira heroína, pelo seu carácter, coragem e genuína generosidade, e daí muito respeitada nas suas redes sociais. 
Neste âmbito merece destaque a sua acção durante o período militar na Guiné, enviando-me diariamente palavras ternurentas e de ânimo. 

 A senhora D. Georgina no ano de 1948

Enfim... chegou o seu dia, que ela certamente considerou de precoce, pois tinha ainda muito para dar. 

O seu corpo estará em câmara ardente na Igreja de Almada [2.ª feira, depois das 18:00 horas]. 
O funeral realiza-se na 3.ª feira pelas 13h30 horas para o cemitério do Feijó (Almada). 

Obrigado. 

Um abraço, 
Jorge Araújo.
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Nota do editor

Vd. poste de 27 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15543: In Memoriam (241): Acaba de falecer a Mãe do nosso camarada Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494

domingo, 27 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15546: Blogpoesia (428): "Era Dezembro, Mãe" (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa, aniversariante no passado dia 23, juntamente com os camaradas Albano Costa e Carlos Pinheiro, com data de hoje 27 de Dezembro:

Boa noite amigo Carlos Vinhal 
Quebrando um longo silêncio, por aqui, decidi voltar à Tabanca, donde nunca saí! 
Obrigada por mais um ano ter editado o poste alusivo ao meu aniversário e por ter permitido os comentários dos amigos. 

Envio um poema que ofereço a todos os Tertulianos da Tabanca, muito especialmente aos aniversariantes que comigo festejaram a data. 

Grata pela vossa amizade: 
Felismina Mealha

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"Era Dezembro mãe"

Era Dezembro mãe!
Tão Dezembro!
Tão perto do Natal…
E eu quis vir à festa,
Trazendo como prenda
o meu eu, que me ofereceste…
e que ficou tão meu, tão unicamente meu
que, sem ele… não sou eu…
Às vezes, querem que eu, não seja eu,
mas eu, não sei ser outro, senão eu!
E talvez, porque recordo os teus afagos,
os teus beijos, sublimados,
os teus braços e abraços
a tua voz cristalina,
eu… sou ainda uma menina!

Lembro Março, florindo sem cansaço
inundando o largo espaço de poesia,
enquanto no teu regaço, eu sorria e crescia.

Lembro Abril, de luz dançante
quando as nuvens com o vento se fragmentam
e desenham alegria esvoaçante.

Lembro o Maio das novas aves
dos chilreios coloridos, exultantes…

Lembro, os Agostos escaldantes e longuíssimos
que queimavam apenas os dias que passavam…
E à noite, o luar, trazia mensagens de outras galáxias,
Contava-me histórias que ouvia encantada,
ao som de orquestras, que não divisava.

Lembro os Outonos que amavas e me ensinaste a amar
nas cores dos poentes que namorávamos
em êxtase total,
absorvendo aromas que retenho ainda, como se o tempo
tivesse parado, ali à esquina…

E eis que regresso ao Dezembro de então,
Trazendo na mão o presente teu…
que era somente… a luz do que é meu.
Sorrindo me olhaste, sabendo que eu era
a pequena magia desse teu Natal,
Que juntas vivemos, e fomos cantar
A essa Belém, onde, de outra Maria,
um outro Menino…
Nascia também!

Felismina mealha
Agualva, 24 de Outubro de 2012
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15482: Blogpoesia (427): No meio da Ponte (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728)

Guiné 63/74 - P15545: Libertando-me (Tony Borié) (49): Newark, New Yok, Newark

Quadragésimo nono episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 24 de Dezembro de 2015.




Newark, New Yok, Newark! 

Devíamos de ter na altura, talvez 8 ou 9 anos de idade, foi quando celebrámos a “comunhão cristã”, que colocámos nos pés a primeira protecção, uns sapatos usados, oferecidos ou emprestados, não sabemos ao certo, pelo companheiro Carlos, filho do Santos dos Correios de Águeda, que tinha vindo dos lados de Leiria. Até essa idade, era “pé descalço”, no inverno, nas manhãs de geada, divertíamo-nos partindo o gelo das poças de água com os pés, nos carreiros da nossa aldeia, era uma bricadeira agradável, pois o gelo derretia com mais facilidade.
Ufa, até nos arrepiamos só de lembrar, mas é Dezembro, ainda não vimos neve, está muito frio por aqui, mas esta história de colocarmos nos pés a primeira protecção, para nós, ainda é considerada “o nosso primeiro Dia de Natal”.

Deixemos o passado, nesse bonito Portugal, vamos falar de hoje, chegámos a Nova Jersey, viemos em trânsito para Nova Iorque, passámos na cidade de Newark, visitámos a portuguesa Ferry Street, procurámos os lugares nossos conhecidos, onde moravam as personagens de que vos temos falado, está tudo diferente, no lugar do “Bar do Minhoto” está um Restaurante Grill, que aceita reservas via internete; onde morava a Gracinda está um parque de estacionamento, onde uma senhora afro-americana, nos atendeu, embrulhada num enorme casaco e cachecol, pois o frio era muito, teve dificuldade em receber o pagamento e guardar o dinheiro, pois usava umas luvas sem a parte dos dedos, onde sobressaiam umas “unhas azuis”, muito compridas. Perguntámos se falava português ou espanhol, pois era a “Ferry Street”, com um sorriso matreiro, respondeu-nos qualquer coisa como, “mi non habla”.

A Ferry Street tem algumas árvores, está limpa, alguns canteiros com flores, onde havia a loja do Orlando está um grande edifício de um Banco, os estabelecimentos têm portas de vidro, não mais aquelas portas em madeira, que “chiavam”, alguns restaurantes têm esplanadas nos passeios, está uma Avenida para turistas.

Vamos em frente, deixámos a viatura na cidade de Newark, seguindo de comboio, pois o estacionamento na cidade de Nova Iorque é muito caro. Estava nevoeiro, quase cerrado, como se dizia na minha aldeia. Atravessámos um dos túneis do rio Hudson que desagua na ilha de Manhattan, que é o mais densamente povoado dos cinco bairros da cidade de Nova Iorque, que se situa na ilha com o mesmo nome, delimitada pelos rios Hudson, East e Harlem, sendo um dos principais centros comerciais, financeiros e culturais do mundo. É o coração da "Big Apple", é onde estão os arranha-céus, cujas imagens correm o mundo, como o Empire State Building. As luzes de néon no Times Square ou os teatros da Broadway, nós saímos na área do World Trade Center, visitámos mais uma vez o museu educativo, dedicado ao “11 de Setembro”, meditámos em homenagem às vítimas, tomando em seguida o “subway” para a Rua 53, junto da Quinta Avenida, caminhando, fomos vendo a Catedral de São Patrício, parando por mais tempo na área do “Rockefeller Center”, onde está a árvore de Natal que tradicionalmente é um abeto vermelho da Noruega, sendo iluminada por 30.000 ecológicas luzes, que envolvem mais de cinco milhas de fio eléctrico, coroada por uma estrela de cristal Swarovski. Esta árvore de Natal é um símbolo mundial em Nova York, foi acesa pela primeira vez na quarta-feira, 2 de Dezembro, com performances ao vivo na Rockefeller Plaza, entre as Ruas 48, 51, e a Quinta e Sexta Avenidas, onde dezenas de milhares de pessoas todos os dias enchem as calçadas para assistir a este evento, que milhões podem assistir em todo o mundo pelos meios de comunicação que hoje existem.
Faz este ano 83 anos que foi iluminada pela primeira vez, e permanecerá acesa, podendo ser visitada até ao dia 7 de Janeiro de 2016. Oxalá seja a mensageira de Paz para todos nós, em especial para os nossos companheiros combatentes.


Comemos “pretzels cookies”, que é um biscoito típico, parecido com pão, feito de massa, em forma de um nó torcido, que teve origem na Europa, provavelmente entre os mosteiros da Idade Média, que se vende em qualquer quiosque de rua, em Nova Yorque e não só. Continuando a nossa jornada, vendo os edifícios da cadeia de televisão NBC, do Rádio City Music Hall, onde em frente algumas “Rockettes”, que são as tais raparigas que dançando, levantam a perna esquerda ou a direita, todas ao mesmo tempo, fazendo uma coreografia de “cabaré do século passado”, convidam a partilharmos momentos inesquecíveis juntos, experimentando a magia do Natal, transformando tudo num país das maravilhas onde o “Pai Natal” não se cansa de espalhar elogios a todos.

Parámos por momentos no “Times Square”, já andam em montagem de estruturas para as celebrações da passagem de ano, continuando, pela Sétima Avenida, em direcção à estação de comboio “Pennsylvania”, que se localiza na Rua 34, por baixo do edifício de grandes eventos desportivos e não só, que é o célebre e histórico “Madison Square Garden”, onde tomámos o comboio de regresso à cidade de Newark, em Nova Jersey, de novo na portuguesa Ferry Street, onde tivemos a sorte de encontrar um restaurante que dá pelo nome de “Bar & Restaurante Sagres”, com charme, num espaço acolhedor, música ambiente, onde numa escala de dez, damos a nota dez, onde o Henrique, um simpático jovem, que se dedicava ao ensino em Portugal e veio para os EUA há uns anos para “ver a neve”, e que por cá ficou, nos atendeu com simpatia, servindo-nos “Chistorra” e “Bacalhau à Casa” com natas e camarões, que estava bom, mesmo muito bom, oferecendo-nos no final, um copo com vinho do Porto.

Não sabemos se era o efeito do vinho do Porto ou se sonhávamos, mas retornando à Ferry Street, já no regresso, em direcção ao parque de estacionamento, não vimos roupas escuras, xailes, tranças e bigodes, mas sim uma jovem, usava um sapato alto de cada cor, umas meias compridas de um azul escuro, por baixo de uma saia que parecia o lenço que a minha avó usava à cintura, quando ia à romaria do Senhor dos Passos, na vila de Águeda, onde uma espécie de blusa só lhe tapava parte da frente do seu corpo, mascava “chiclets”, algumas pinturas, não para tornar a face mais atractiva, mas sim diferente do normal, o perfume não era exótico, era diferente, o cabelo era curto, pintado com uma cor que nem era verde nem azul, usava óculos à “Hollywood”, não nos olhos, estavam colocados a segurar o cabelo, um casaco de “cabedal” amarelo, debaixo do braço onde usava umas cinco ou seis pulseiras que brilhavam e completavam a história do seu vestuário, falava alto, numa linguagem sem preconceitos, havia “frio de rachar” mas estava excitada, recebendo o calor, talvez do cigarro que fumava, pois era parecido com aqueles que nós algumas vezes, quando estávamos com o moral em baixo, fumávamos lá na então nossa Guiné, pela coreografia talvez fosse alguma descendente da Inês, aquela portuguesa espanholada, do nosso tempo da Ferry Street.

Boas Festas para todos, em especial aos companheiros combatentes e, já agora, se não é pedir muito, que continuemos juntos pelo ano de 2016, com saúde, alegria em ainda por cá andarmos, que nunca nos falte a panela a cozinhar no fogão e alguma “protecção nos pés”.

Tony Borie, Dezembro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15514: Libertando-me (Tony Borié) (48): Vamos para Norte

Guiné 63/74 - P15544: Memória dos lugares (327): O nascer da lua em Candoz... E "por detrás da lua" a serra da Aboboreira, "a serra dos mortos", e mais longe a serra do Marão, "onde mandam os que lá estão"... Ou mandavam, antes de Bruxelas... À direita, pode imaginar-se o rio Douro, Cinfães e a serra de Montemuro, visíveis de dia, da tabanca de Candoz






Marco de Canavezes > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz >26 de dezembro de 2015 > O nascer da lua, do outro lado do vale, já em terras de Baião (as luzinhas são as de 3 freguesias, Mesquinhata, Grilo e Santa Leocádia que rivalizam no fogo de artifício pascal), com o rio Douro ao fundo, a baía de Porto Antigo, do lado direito (não vísível da fotografia), e mais ainda à direita Cinfães e a serra imponente de Montemuro)... Estamos na confluência de 3 distritos (Porto, Vila Real e Viseu)...

Na foto, e por "detrás da lua", pode imaginar-se a serra da Aboboreira, a "serra dos mortos", e mais longe a serra do Marão "onde mandam os que lá estão"... Ou mandavam, antes de Bruxelas e dos eurocratas... Amigos e camaradas, ainda há magia no Portugal profundo que nos resta... LG

Boas festas aos de cá e aos de lá.... Regresso hoje a Lisboa... LG


Marco de Canavezes > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 27 de dezembro de 2015 >  O Portugal profundo que ainda nos resta, visto da "minha janela"...

Fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.



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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de dezembro de 2015 >Guiné 63/74 - P15510: Memória dos lugares (326): Fui destacado várias vezes para o Depósito Disciplinar no Forte de Elvas. Subia e descia o morro a cavalo e dormia lá quando calhava ser oficial de serviço (Marques Leandro, ex-Tenente Miliciano, 1953/55)

Guiné 63/74 - P15543: In Memoriam (241): Acaba de falecer a Mãe do nosso camarada Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494

IN MEMORIAM

Faleceu a Mãe do nosso camarada Jorge Araújo

Amigos e camaradas, recebemos há momentos uma mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974) que diz apenas:

Camaradas, 
A minha Mãe acaba de falecer
Jorge Araújo

Esta é a notícia que não gostaríamos de dar.

Nesta hora muito difícil para o nosso amigo Jorge, apenas nos podemos solidarizar com a sua dor.

Ficamos à sua disposição para divulgar, logo que chegue ao nosso conhecimento, o local onde a sua Mãe ficará em Câmara Ardente, assim como hora, data  e local do funeral.

Lembramos que o Jorge mora em Almada.

Para o Jorge o nosso abraço solidário, e os nossos pesares para toda a família da malograda senhora.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15390: In Memoriam (240): Faleceu o Mário Rodrigues Silva ‘Nascimento’ [1950-2014], ex-soldado da CART 3494 (Xime-Mansambo, 1971/74)... Era um "sem-abrigo", esteve seis meses num lar da Figueira da Foz (Jorge Alves Araújo)

Guiné 63/74 - P15542: Parabéns a você (1009): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 4745/73 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15539: Parabéns a você (1008): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCaç 2852 (Guiné, 1968/70)

sábado, 26 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15541: Efemérides (207): Ataque ao Cachil na Consoada de 1965 (João Sacôto, ex-Alf Mil da CCaç 617/BCAÇ 619)

Cachil - Natal de 1965 - Zona da cozinha atingida pelo ataque IN da Noite de Consoada



1. Mensagem do nosso camarada João Sacôto (ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), com data de 25 de Dezembro de 2015:

Faz hoje 50 anos, no Cachil, Guiné Portuguesa.
Dia de Natal de 1965, no rescaldo do ataque IN da véspera, todo o pessoal da C.Caç 617, se afadigava a pôr o quartel em ordem, e a cuidar dos feridos, alguns dos quais, feridos com gravidade, foram evacuados para o Hospital de Bissau.

Na véspera e durante a ceia de Natal, em que cada um de nós, à sua maneira recordava Natais anteriores em família, com os rituais e hábitos próprios de cada um, naquele momento tão especial e sagrado, fomos vítimas de um ataque impiedoso que nos obrigou a passar de um estado de espírito do qual, emanava paz e saudade, para rapidamente voltarmos à guerra, pegando em armas, tomando posições e disparando para nos defendermos.

João Sacôto

Cachil - Na foto, da esquerda para a direita: Capitão João Bakar Jaló, falecido em combate e um dos militares portugueses mais condecorados; Capitão Marques Alexandre, já falecido este ano e Alferes João Sacôto, eu, que ainda estou vivendo.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15518: Efemérides (206): Há 44 anos estávamos nos preparativos para embarcar, o que se veio a efectivar no dia 18 de Dezembro de 1971 (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15540: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (15): Ao colectivo tertuliano da Tabanca Grande - Bom Natal e um Ano de 2016 com muita saúde (Jorge Alves Araújo)

1. O nosso Camarada Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, (Xime-Mansambo, 1972/1974), enviou-nos a seguinte mensagem no passado dia 18DEZ. 

BOAS FESTAS
AO COLECTIVO TERTULIANO DA «TABANCA GRANDE»
- BOM NATAL E UM ANO DE 2016 COM MUITA SAÚDE -


Foto 1 [postal BF] – Xime - DEC1972. Aquecendo as mãos e o coração em redor dos nossos «meninos do Xime» … enquanto o arroz coze. Será que estamos perante o nosso amigo e camarada José Carlos Mussá Biai?

1. – INTRODUÇÃO

- Memórias do passado que são presente – o NATAL

A primeira efeméride do contingente metropolitano da CART 3494, relacionada com a tradicional quadra natalícia, ocorreu há quarenta e quatro anos a bordo do N/M Niassa, durante a viagem iniciada em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, rumo a Bissau, onde chegou seis dias depois.

Em função do tempo contabilizado na missão ultramarina – cerca de vinte e oito meses – outras duas efemérides semelhantes constam no seu historial, a segunda no Xime, em 1972, e a terceira em Mansambo, em 1973.

A propósito dessas reuniões de elevado simbolismo para todos nós, recordo com mais algumas imagens,recuperadas do baú de memórias, o último Natal da CART 3494 passado no mato. 

3.º NATAL –> 1973 = NO AQUARTELAMENTO DE MANSAMBO

Foto 2 – Mansambo, ceia de Natal 1973. Da esquerda para a direita: Serradas Pereira [Alferes]; António Costa, de pé [1.º Cabo - impd.M.Of.]; Luciano Costa [Cap Mil, 3.º CMDT da 3494]; Lobo da Costa [Alferes Estagiário do Curso de Capitães]; João Manuel Sousa Teles [Ten Cor, 2.º CMDT do BART 3873]; Carvalhido da Ponte [Furriel] e Cláudio Ferreira, de costas [Furriel]. 

Foto 3 – Mansambo, Natal1973. Mesa 1 [esq.]: Abílio Oliveira; mesa central [esq/dtª]: João Godinho; Mendes Pinto; Sousa Pinto [1950-2012] e Benjamim Dias; mesa 3 [dtª]: Carvalhido da Ponte e Jorge Araújo – todos furriéis.


Foto 4 – Mansambo, 1973. Ícone do Aquartelamento de Mansambo – local dos milagres gastronómicos.

Termino, enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa TABANCA GRANDE, e aos leitores assíduos do nosso blogue, uma MENSAGEM DE BOAS FESTAS. 

Ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal e ao Magalhães Ribeiro – os nossos editores permanentes – é devida uma palavra de gratidão pela sua entrega continuada a este trabalho diário de ordenar a prosa e as imagens enviadas pelos camaradas grã-tabanqueiros, sobre as nossas memórias do CTIGuiné. 


Foto 5 – Xime, 1972. Local onde aconteceram as primeiras grandes experiências, e por isso recordamos a “nossa” Tabanca do Xime”.

QUE TENHAM UM BOM NATAL E UM ANO DE 2016,

MELHOR QUE O ANTERIOR, COM MUITA SAÚDE.

Com um forte abraço de amizade
Jorge Araújo
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P15539: Parabéns a você (1008): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCaç 2852 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15533: Parabéns a você (1007): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71) e João Rebola, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2444 (Guiné, 1968/70)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15538: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (14): Giselda e Miguel Pessoa; João Parreira; Ernestino Caniço; Santos Oliveira e Hugo Moura Ferreira

1. Mensagem natalícia dos nossos camaradas: Giselda Pessoa (ex-Sargento Enfermeira Paraquedista da BA 12) e Miguel Pessoa (Coronel Pilav Ref, ex-Tenente Pilav da BA 12:

Desejando um Feliz Natal e boas entradas em 2016! 

Com amizade
Giselda e Miguel Pessoa


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2. Mensagem natalícia do João Parreira (ex-Fur Mil Op Esp da CART 730/BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-Fur Mil Comando, CTIG, Brá, 1965/66)

Caros Camaradas
Editor, Luís Graça e co-editores, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro, bem assim como todos os outros Camaradas Tabanqueiros,
Que tenham um óptimo Natal, e que os dias do Ano Novo sejam uma sequência de proveitosas realizações e repletos de paz e felicidade, são os meus sinceros votos.

João Parreira


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3. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, MansabáMansoa e Bissau, 1970/71):

Amigo Carlos 
Para todo o pessoal da Tabanca aqui ficam os meus votos de Feliz Natal e um óptimo Ano 2016.

Um abraço 
Ernestino Caniço



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4. Postal de Boas Festas do nosso camarada Santos Oliveira (ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66):




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5. Postal de Natal do nosso camarada Hugo Moura Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1621, Cufar e Cachil, e CCAÇ 6, Bedanda, 1966/68)


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Nota do editor

Poste anterior da série de 24 de Dezembro de 2014 Guiné 63/74 - P15537: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (13): Ao Menino Jesus (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)

Guiné 63/74 - P15537: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (13): Ao Menino Jesus (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68), com data de 23 de Dezembro de 2015:

Tomo a liberdade de enviar um pequeno poema, e um conto de Natal, que poderão ser disponibilizados aos visitantes da Tabanca Grande.

Domingos Gonçalves


Ao Menino Jesus

Outrora,
Em Belém,
Quando era tua morada
O bendito
Seio de tua mãe,
Quando vieste a este maldito
Planeta
Para nos salvar,
E vieste à luz
Do dia
Com o nome de Jesus,
Andaste de porta em porta,
Pedindo abrigo
Até ser noite morta,
Mas ninguém te quis aceitar.

Foste nascer
Fora da cidade,
Ao frio, numa gruta,
Aquecido com o respirar
Sereno,
Do burro e da vaca,
Criaturas
De alma impoluta,
Puras,
Deitadas sobre o feno.

Quem diria
Que no meio de tanta pobreza,
Nascia,
Só por amor,
A suprema realeza
O Senhor
Do meu Natal,
O Redentor?
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15529: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (12): No Natal Nasceu Jesus sempre Menino (Mário Vitorino Gaspar)

Guiné 63/74 - P15536: Conto de Natal (23): O antigo Natal (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68), com data de 23 de Dezembro de 2015:

O Antigo Natal

Pelo entardecer, o lavrador recolheu a casa. Era dia de consoada. Na cozinha, a mulher e a filha trabalhavam com afã na preparação da ceia.

A ceia de Natal, da festa grande, merecia canseiras especiais. Era necessário fazer os mexidos, a aletria, as rabanadas, enfim, preparar tudo para que a festa da família fosse mesmo uma festa. E o lavrador, esse, chamou o filho, pegou numa grande infusa de barro vermelho, e os dois foram para a adega, que era um espaço escuro, no rés-do-chão da casa, onde os pipos do vinho se alinhavam, cobertos de pó e de algumas teias de aranha.

Aquele era um espaço onde apenas a luz ténue da candeia de petróleo permitia descobrir as pedras negras do lagar, e a grande trave de carvalho, que o atravessava, com um fuso em madeira na extremidade, que servia para espremer os restos das uvas, por altura das vindimas. Os cascos do vinho repousavam ali, desde a colheita que tivera lugar ainda havia escassos três meses. Voltando-se para o filho, o lavrador murmurou, apontando para um pipo, não muito grande, feito de madeira de castanho, já muito escuro:
- Vamos experimentar este. Daqui costuma sair uma boa pinga.

Menos conhecedor daqueles segredos, que só os muitos anos ajudam a desvendar, o filho respondeu-lhe:
- Está bem, pai. Pode ser mesmo desse. De certeza que deve estar uma categoria.

O velho homem poisou a candeia ali ao lado, sobre um pequeno banco, passou a infusa para as mãos do filho e, servindo-se de uma verruma, começou a retirar de um pequeno orifício que existia na cabeça do pipo, a bucha de estopa que impedia que o vinho saísse para o exterior do casco.
Depois de retirada a estopa, começou a jorrar pelo pequeno buraco, para dentro da infusa, um vinho tinto maravilhoso, que se desfazia em espuma avermelhada, de impressionante beleza.

Ao fim de alguns segundos, o lavrador colocou de novo a bucha no orifício e, voltando-se para o rapaz, disse-lhe:
- Vamos prová-lo. Se não estiver em condições, experimentamos outro.

Num gesto quase religioso, tomou nas suas mãos calejadas a infusa, olhou para aquele líquido sagrado feito com as uvas vindas da generosidade das videiras e do trabalho das suas mãos e bebeu alguns tragos do elixir maravilhoso. Depois, voltando-se para o filho, desabafou:
- Vinho melhor do que este não pode haver. É uma verdadeira preciosidade.
Passando-lhe a vasilha para as mãos, ordenou:
- Anda! Prova também tu esta delícia.

Repetindo o gesto do pai, o moço levou aos lábios o bico da infusa, e saboreou uns golos daquele líquido sagrado, dizendo depois para o velho:
- Sim! Este vinho é uma verdadeira delícia. Não pode haver melhor para uma ceia de Natal.

Em seguida, o lavrador encheu a caneca com aquele vinho tão especial e voltando-se para o filho recomendou-lhe:
- Este, vai levá-lo ao senhor Rodrigues.

O moço lá foi, apressado, entregar aquele presente.
O senhor Rodrigues era um pobre homem que morava ali perto, jornaleiro de profissão, que vivia miseravelmente, com a mulher, também um pobre diabo, para quem a vida tinha sido mais madrasta do que mãe. Mas na noite de Natal aquela gente tinha direito a ter à mesa pelo menos um vinho de excelente qualidade, acabado de jorrar de um pipo acabado de violar.

Enquanto o filho foi à casa do vizinho, o lavrador, deleitou-se a fumar um cigarro, na penumbra da adega, aguardando que ele regressasse. Depois, quando o filho chegou com a infusa, ele encheu-a de novo e ordenou-lhe:
- Este, vai levá-lo a casa de fulana.

O rapaz lá foi de novo levar aquela oferta, que se repetiu várias vezes, generosamente, pois não podia faltar vinho na mesa dos pobres durante a ceia de Natal.
Quando o filho regressou, depois de entregar a última oferta, o homem encheu de novo a infusa e, acompanhado pelo rapaz, subiu para a cozinha que ficava no primeiro andar da casa. Na lareira, o lume ardia a bom arder. Os potes muito negros, feitos de ferro fundido, dispostos à volta do lume, ferviam havia muito tempo e deixavam soltar-se um vapor quente e perfumado, sinal de que a ceia estava quase pronta. Era uma mistura de odores agradáveis que se desprendiam das couves galegas já quase cozidas, do bacalhau e das batatas, que na noite de Natal têm sempre um cheiro e um sabor inconfundíveis.

Quando tudo estava pronto, a mulher do lavrador retirou os potes do lume, escoou a água fervente e colocou toda aquela comida sobre as travessas de porcelana, previamente colocadas sobre a mesa. Depois sentaram-se todos à mesa, na cozinha iluminada apenas pelo brilho da lareira e pela mortiça luz da candeia de petróleo e comeram daquelas iguarias quase sagradas e beberam daquele vinho maravilhoso feito ali, naquela casa, pelas mãos experientes e sábias do homem do campo.

Terminada a refeição, o lavrador e o filho voltaram para a lareira, enquanto a mãe e filha arrumavam os pratos e outra loiça. Foi então que o filho reparou que a mãe não tinha retirado da mesa a toalha de linho muito branco, apenas ligeiramente manchada por algumas gotas do vinho tinto. E voltando-se para ela perguntou-lhe:
- Ó mãe! Por que não retiras a toalha da mesa?

E a mãe, ocupada ainda com o arrumo das loiças, respondeu-lhe:
- Na noite de Natal, a mesa fica posta até ao dia seguinte.
- Então, porquê?
- É que, durante a noite, quando a escuridão baixar sobre a cozinha, as alminhas dos nossos antepassados vêm sentar-se a esta mesa e saciar-se com o nosso pão e com o nosso vinho. É por isso que na noite de Natal a mesa deve ficar posta. Vai ficar tudo conforme estava quando nós terminámos de cear. Depois de saciadas, de terem comido do nosso pão e bebido do nosso vinho, as alminhas vão para a igreja e ficam junto do presépio a adorar o Menino Jesus.

Naquela santa noite, e na casa daquele lavrador, havia como que um ressuscitar de todos os antepassados mortos. Só Deus sabe quantas gerações vinham ali conviver na solidão daquela mesa, na santa noite de Natal! Era a família toda, - as gerações desaparecidas só Deus sabe há quanto tempo, e as pessoas ainda vivas, que ali moravam a celebrar religiosamente a Santa Noite.

Depois de arrumar a cozinha, a mãe e a filha também se sentaram à lareira, junto daquele calor sagrado e toda a família ficou ali durante longo tempo, à espera que chegasse a meia noite, para celebrar o nascimento do Senhor.
Quando a hora sagrada chegou, o lavrador abriu uma garrafa de vinho do Porto, enquanto a mulher trazia o prato com as rabanadas e todos celebraram o Feliz Nascimento. Em seguida, acossados pelo sono, foram descansar.

Antes de sair da lareira, o filho reparou que a mãe retirou do fogo uma grande canhota de carvalho, que apagou com muito cuidado, colocando-a fora do lume.
Curioso, perguntou-lhe:
- Ó mãe! Para que serve essa canhota?

Com muito respeito, a mãe voltou-se para o rapaz, dizendo-lhe:
- Esta canhota é para ser muito bem guardada e serve para se colocar no lume a arder quando houver trovoadas ou tempestades. Por onde o fumo que esta canhota libertar, quando estiver a arder, for passando, a trovoada e a tempestade desfazem-se. É um fumo milagroso o que se liberta desta canhota retirada da fogueira de Natal. Nunca te esqueças disto. Quando fores grande, guarda sempre uma canhota de carvalho, retirada do lume do Natal, para proteger a tua casa. E, se puderes, quando trovejar muito, põe também no lume um bocadinho do ramo de oliveira benzido no Domingo de Ramos.

O filho guardou a mensagem. Nunca mais esqueceu aquelas palavras da mãe. E aquela família, cumprido que foi todo aquele ritual, uma mistura de fé em Deus e na força telúrica bebida ali à sombra do céu da aldeia, e na tradição antiga, que tantos antepassados foram passando de boca em boca, foi descansar. É que, pela manhã, muito cedo, todos tinham de ir à missa, beijar o Menino Jesus e admirar a simplicidade do presépio.

Quantas saudades restarão, hoje, no seio de tantas famílias, - meu Deus -, desse Natal distante?
Já não existem, por certo, pais a contar estas histórias, e também não aquelas lareiras aconchegadas.
Já não há crianças a distribuir infusas de vinho pelos pobres, nem alminhas que vêm pela noite comer na mesa dos mortais!
E já ninguém retira da lareira a canhota de carvalho, o lenho sagrado, capaz de afastar as trovoadas e as tempestades!...

O próprio Menino Jesus no seu presépio, já não é o que era!...
A ele, hoje, dá-se menos importância do que ao Pai Natal, - esse barbudo esquisito, que nesta época aparece por todo o lado, e até entra pelas janelas -, que o suplantou na distribuição das prendas à criançada!
Quem se lembra dele, a descer durante a escura solidão da noite, para deixar no sapatinho, junto à lareira, as tão desejadas prendas?!...

O Natal de outrora, já tão distante, é a saudade.
E não regressa mais!...
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de dezembro de 2014 Guiné 63/74 - P14077: Conto de Natal (22): Uma bênção dos Céus (Domingos Gonçalves)

Guiné 63/74 - P15535: Memórias de Gabú (José Saúde) (58): Noite de consoada em Gabu

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

As minhas memórias de Gabu

Noite de consoada em Gabu

Recordando

Passaram 42 anos! Recordo, com uma lágrima ao canto do olho, aquela noite quente e de luar de 1973, 24 para 25 de dezembro, passada na messe de sargentos em Nova Lamego em plena região de Gabu. Era o tempo da guerra na Guiné e onde os clamores da peleja deixavam explícitos conteúdos que as circunstâncias impunham.

Lá longe, ou seja, na metrópole, num ambiente completamente antagónico, a família juntava-se à volta de uma lareira e cumpria a tradição. Era a noite do Menino. Em Nova Lamego a festa porém era outra.

A malta não se deliciava com as filhoses da avó, não comia o ensopado do galo à meia-noite, não sujava os lábios com os finos chocolates, tão-pouco contemplava as prendas deixados no sapatinho pelo Menino Jesus a um canto da chaminé, enfim, uma série de tradições que, na altura, se protelavam no tempo.

Fazendo jus ao calor que se fazia sentir por aquelas bandas de África, lembro, com ênfase, o momento vivido pela malta que minimamente procura procurava ultrapassar a solidão ingerindo gotas de whisky que paulatinamente, e com o evoluir do breu, toldavam jovens militares que se divertiam de acordo com as possibilidades então deparadas.


Era o tempo, também, para refrescar imaginações e introduzir na noite enlevos de esperança. Ninguém ousava imaginar deparar-se com um possível ataque noturno ao quartel nem tão-pouco uma visita inesperada ao arame por parte do IN.

Vivíamos a noite de consoada de acordo com os meios físicos entretanto encontrados. Com efeito, passados todos estes anos ainda me vem à mente as pequenas brincadeiras a que me propus, visando exclusivamente dar treta à malta, procurando, obviamente, trazer à estampa que aquela noite era literalmente de pura alegria.

Esquecia-se, melhor, procurávamos esquecer a imprevisibilidade que a incerta do mato impunha no dia seguinte, tendo em conta, naturalmente, mais um patrulhamento, ou uma proteção a colunas que a amiúde ocorriam.

Sem me alongar nesta pequena narrativa, apenas recordar os nossos tempos de antigos combatentes na Guiné, deixo os meus votos de Boas Festas e um Próspero Ano Novo de 2016 aos companheiros que comigo palmilhavam o território guineense em tempo de guerra.

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P15534: Manuscrito(s) (Luís Graça) (72): Um dia de cada vez...

Um dia de cada vez

por Luís Graça

Coitado de quem está doente,
Seja na terra ou no mar,
Doente de soltar gemidos, suspiros e ais,
Doente de sangrar e purgar,
Esperando e desesperando
Nas salas de esperança e desesperança
Dos hospitais.

Coitado de quem está desempregado,
E se sente desamparado,
Ficando horas a fio,
Dias, meses e até anos,
Na bicha do centro de emprego,
Ao sol, à chuva, ao frio,
À espera de obter,
Por ali perto,
O primeiro contrato de trabalho
A termo certo.

Coitado de quem pegou na bússola,
Baralhou os pontos cardeais,
E perdeu o norte:
A cabeça é um catavento,
Vai no carrossel da morte,
Sem mão no freio,
Sem receio,
Os cabelos soltos ao vento.

Coitado de quem morre de fome de justiça
E de sede de liberdade;
Coitado de quem ama e não é amado;
Coitado de quem anda de lugar em lugar,
De cidade em cidade,
Fugido, deslocado, aterrado;
Coitado de quem estende a mão à caridade,
Os olhos postos no céu.

Coitado de quem foi à guerra,
Perdeu algo de seu,
A alma, a vista ou uma perna,
E é soldado desconhecido na sua terra;
Coitado de quem não tem Natal,
Mesmo quando quer;
Coitado de quem não acredita na vida eterna,
E que, depois do inferno terrestre,
Não tem lugar no paraíso celestial.

Coitado de quem é velho
E que vive no Portugal, 
Ainda mais velho e relho,
E conta os cêntimos da pensão de cada mês,
E que não espera mais nada da vida
Do que viver um  dia de cada vez.

Natal 2015, 
Lisboa, 24/12/2015