sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16623: Inquérito 'on line' (77): Num total de 117 respostas, 62% diz que, nos sítios onde esteve, no mato, nunca houve familiares de militares, metropolitanos ou guinenses... Comentários dos camaradas Jorge Cabral, Vasco Pires, Jorge Canhão, Rogério Cardoso, Carlos Mendes Pauleta, Eduardo Estrela, José Colaço, J. Diniz Sousa Faro e Manuel Amaro


Guiné > Região do Óio > Bissorã > c. 1973/74 > Maria Dulcinea (Ni), esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira, que esteve com o marido e o filho em Bissorã, de outubro de 1973 a junho  de 1974 (*). [O Henrique Cerqueira foi fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e  CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74]


Guiné > Região do Óio > Bissorã > c. 1973/74 > Miguel, o filho do Henrique Cerqueira, e da Maria Dulcinea (Ni),  com a filha de um capitão da CCS, no quintal da casa dos Cerqueira.


Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1973/74 > Miguel, a Maria Dulcinea (Ni), de costas, com a esposa de um outro militar de Bissorã, também de costas, em visita a Mansoa.

Fotos (e legendas); ©  Maria Dulcinea (Ni) / Henrique Cerqueira  (2011), Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NO MATO, NO(S) SÍTIO(S) ONDE EU ESTIVE, NA GUINÉ, HAVIA FAMILIARES NOSSOS"...

Resultados finais (=117)



1. Sim, esposas (não guineenses) > 26 (22%)

2. Sim, esposas e filhos (não guineenses) > 13 (11%)

3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias) > 14 (11%)

4. Não, não havia > 73 (62%)

5. Não aplicável: não estive no mato > 3 (2%)

6. Não sei / não me lembro > 0 (0%) 

Total: 117


O prazo de resposta terminou em 20/10/2016, 5ª feira, às 6h52.  O inquérito admitia até três respostas: por exemplo 1, 2 e 3.


B. Comentários dos nossos  camaradas, leitores do blogue (**):

(i) Jorge Cabral

Missirá era um Quartel ou uma Tabanca? E estar no mato, o que era? Tudo fora de Bissau? Bafatá era mato? Por outro lado, e como se sabe, as mulheres fulas acompanhavam sempre os maridos militares. (...) Assim no meu Pelotão [, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71] , existiam 24 soldados, 19 mulheres e 32 crianças...


(ii) Vasco Pires

Nós,  da Artilharia, "herdávamos" um Pelotão [, o 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72] com cerca de trinta soldados e outras tantas mulheres, e uns quantos filhos, e, sinceramente, às vezes ficava difícil de a administrar. (...) Felizmente, lá em Gadamael,  como já referi anteriormente, os Furriéis eram dedicados, eficazes e leais (Furriéis Kruz e Oliveira). Eu mesmo (com os Furriéis) morava na tabanca, bem como os soldados e cabos de recrutamento local.


 (iii) Jorge Canhão

Em relação ao poste do meu camarada Carlos Fraga, há um pequeno equívoco da parte dele, pois em Mansoa, além de esposa do cmdt do batalhão, esteve lá também a esposa e filho do cap Patrocínio, então da CCaç 15, a esposa e filha de um camarada nosso mas da CCS, assim como a esposa de um furriel (Roma) da CCS. Penso que também a esposa do major de operações da CCS estava lá. Inclusive numa festa africana em Mansoa, um individuo atirou uma granada para o meio da festa tendo provocado bastantes feridos, estava lá o camarada Jesus (o tal da CCS) com a esposa e a filhota, que felizmente não foram feridos.

Jorge Canhão,  ex fur mil. 3ª Caç/BCaç 4612/72


(iv) Rogério Cardoso

Em 1964 e 1965 a Cart 64, "Águias Negras", estava sediada em Bissorã. O seu 1.º sargento,  de nome Rogério Meireles, estava acompanhado da mulher e de uma filha de pouca idade, residia numa pequena casa fora do aquartelamento. Acabou ao fim de 1 ano deixar de pertencer à companhia  por ter problemas de estômago, e deste modo foi embora com a família. Digo de passagem que foi o melhor que ele fez, pois, quando de alguns ataques noturnos, aquelas pobres sofriam bastante. Também o furriel vaguemestre mandou ir a mulher, que chegou a Bissau no dia seguinte a ele ter sido ferido, mas sem gravidade. Ele ao fim de uns meses também mandou a mulher de regresso, pelas mesmas razões do anterior caso.


(v) Carlos Mendes Pauleta

O camarada Fraga refere que não existiam familiares de militares em Mansoa. Como o Jorge Canhão referiu no seu comentário, tal não corresponde à realidade. Além dos militares identificados pelo Canhão,  também o major António Rebelo Simões, 2.º Comandante do BCAÇ 4612/72, vivia com a sua esposa. Se assim não fosse como poderia um 1.º cabo sapador ter sido castigado por estar a "espreitar" a esposa do 2.º comandante do batalhão a tomar banho?


(vi)  Eduardo Estrela [ ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

(...) Lembro-me bem que em 1970 estavam em Farim, a esposa dum fur mil e a esposa e filha dum 1.º sargento. Não me recordo a que unidades militares pertenciam, mas ambos estavam integrados na guarnição do Batalhão 2879, do qual a minha CCaç 14 fazia parte como unidade de reforço.


(vii) José Botelho Colaço

Penso que nos primeiros anos da guerra no verdadeiro mato não havia um mínimo de condições [para alojar familiares de militares, quer esposas, quer filhos]. Além disso a cultura que nos foi ministrada também não ajudava nada para que tal acontecesse, os filhos e esposas não guineenses coabitarem connosco no mato.

Na minha CCaç 557 (1963/65) a única mulher que nos fez companhia foi a esposa do médico mas só nos finais de 1964 quando no regresso do mato (Ilha do Como) a Bissau e nos fixámos em Bafatá. Aí a drª Maria Luísa foi uma companheira amiga e presente no dia a dia além do doutor, ela era,  e ainda é para nós, militares da 557, a nossa amiga doutora.


(viii) José Diniz Carneiro de Sousa e Faro

O meu caso assim como todos os combatentes pertencentes à BAC 1 / GAC 7 que estavam no mato, os pelotões de Artilharia tinham sempre familiares dos seus praças oriundos de incorporação territorial que transportavam consigo os seus familiares (mulheres e filhos). Era frequente utilizar duas ou mais viaturas só para transporte dos familiares que eram alojadas nas tabancas. Em Binar (1970) tinha um soldado com 6 mulheres.

J. Diniz S. Faro, ex-fur mil art, 1968 - 1970


(ix) Manuel Amaro

No meu BCAÇ 2892, em 1970,  Aldeia Formosa (Quebo), estiveram, durante pouco tempo, duas senhoras, esposas de um Alferes e de um Sargento. A estada foi curta porque o PAIGC, depois de um tempo de quase ausência, decidiu aumentar a sua acção na zona. O único branco civil em Aldeia Formosa era o agente da PIDE/DGS, de apelido Manjerico.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  26 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)

(...) Quando chegamos a Bissorã e entro na nossa 'Casa' fiquei espantada pois estava decorada com assentos dum carocha, as camas eram da tropa, tínhamos um frigorífico a petróleo, a casa de banho eram dois bidões de chapa. Tínhamos chuveiro pois o Henrique conseguiu ir buscar água bem longe (daí a explicação do seu estado de magreza pois que arranjou casa, fez uma abrigo, decorou a casa e sempre fazendo a sua actividade militar, porque na CCAÇ 13 não se mandriava).

Quanto à nossa alimentação, foi organizada do seguinte modo: as refeições dos adultos vinham duma espécie de restaurante (O Labinas') que tinha um acordo com a tropa, mas as refeições do nosso Miguel era eu que as confeccionava com artigos comprados na messe e outros sempre que possível na população.

Entretanto eu e o Henrique tiramos a Carta de Condução no mesmo dia em Bissau. Não pensem que nos facilitaram a vida, não, pelo contrário, foram bem exigentes no exame em Bissau.

Para além de ter tido um Natal muito especial em 1973, com pinheirinho (uma folha de palmeira enfeitada), rabanadas e aletria, tudo isto foi enviado pela família da metrópole. Mas o que mais gostei foi ter partilhado esse Natal com outros soldados que invadiram a nossa casa que até se esqueceram que havia algures por ali uma Guerra.

Entretanto veio o 25 de Abril, e tive a oportunidade de ir cumprimentar o pessoal do PAIGC ainda no seu estado de combatentes inimigos. Uns dias antes os "patifes" tinham-nos bombardeado com foguetões, porque pareciam não estarem satisfeitos com o susto que me pregaram em Dezembro, ao infligirem-nos um bruto ataque que foi o meu baptismo de fogo.  (...)

Em Junho [de 1974] regresso a Portugal com o Miguel, e em Julho regressa o Henrique, e uma vez mais fui ter com ele a Lisboa ao RALIS onde foi (fomos) definitivamente desmobilizado[s].

(...) Antes de acabar, lembro que em Bissorã viviam mais senhoras, esposas de militares, ou seja dum soldado, dum furriel e de um capitão que tinha uma menina linda de quem vou tomar a liberdade de publicar a foto, junta com o meu Miguelito. (...)



(**) Vd. os últimos postes da série:


17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)

13 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16597: Inquérito 'on line' (73): Até ao dia 20 deste mês, responder à questão "No mato, no(s) sítio(s) onde eu estive, havia familiares nossos... esposas com ou sem filhos"

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16622: Memória dos lugares (348): Olossato, com o Moura Marques, o Grão de Bico, a São... 35 anos depois (Paulo Salgado, ex-alf mil cav op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; autor do livro "Guiné: crónicas de guerra e de amor", 2016)



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > O Grão-de-bico, ontem criança, hoje homem grande, pai de filhos, reencontra o ex-1º cabo Moura Marques e o ex-alf mil cav op esp Paulo Salgado, da CCAÇ


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > Rio Olossato > O Paulo Salgado e o Moura Marques, 35 anos depois...


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > Maqué > O centenário poilão de Maqué... Um monumento vivo... Na foto, o Paulo Salgado e o Moura Marques


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região Autónoma de Bissau > Cumeré > 2006 > Uma viagem de regresso ao passado...A cumplicidade de dois antigos camaradas de armas...



Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > Rio Farim > 2006 > Cambança do rio..."A bos portuguisis? Pai di nôs!"...

Fotos (e legendas); © Paulo & Conceição Salgado (2006), Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O regresso de um homem bom! (*)

por Paulo Salgado  

[ex-alf mil cav op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; administrador hospitalar reformado,  transmontano,  apaixonado pela África Lusófona, cooperante, autor do livro "Guiné: crónicas de guerra e de amor", 2016]

Quero falar-vos do Moura Marques [MM] – camarada de luta, companheiro de labutas, amigo de confidências. Nos idos meses de 1970-1972.

Foi no Olossato que se forjou uma solidariedade grande, mas já em Santa Margarida se notava ali a bondade e valentia do Moura Marques, para quem não havia heroísmos nem cobardias, para quem mais valia a verdade do que o servilismo. Se foi louvado, só o poderia ser pela coragem, pelo exemplo, pela calma que dele transparecia, que dele irradiava.

Ontem, dia 26 de fevereiro de 2006, 35 anos depois de a CCAV 2721 embarcar para Lisboa, fomos ao Olossato: ele, a Maria da Conceição e eu,  no Prado. Devagar, para bebermos em conjunto as emoções, e rememorar momentos vividos com os outros camaradas.

Saída em direcção a Bula e dali para Bissorã: o largo, as fotos ao que resta de Os Bigodes, as casas coloniais envelhecidas pelo tempo inclemente, a picada, que outrora era picada por causa das minas, e, não sei por que razão, agora estava linda, avermelhada, e, ao lado, as pequenas bolanhas do alto do Maqué, onde está o mais belo poilão que conheço da Guiné [, foto nº 3], o que resta do aquartelamento do pontão do Maqué, não mais do que algumas paredes onde ainda se descobre uma fresta espreitando para a mata lá atrás (ai quantas sentinelas feitas pelos infernais, pelos vampiros). As fotos da praxe [Foto nº 2]. O marejar de lágrimas do MM.
– Vês, ali, Salgado, tantas horas de trabalho na construção do heliporto, quantas horas perdidas na solidão da mata, quanto de nós ali está ! – dizia ele, emocionado… E a Maria da Conceição tirando as fotos das mais bonitas que já vimos…

Na ligeira subida para o Olossato, alguém grita correndo:
Bolea, patim,  bolea!

Parámos. Uma mulher vinha correndo:
Um mindjer prenhadu sta ali na caminhu!

E nós, os três, preparados para o que desse e viesse que as dores e contracções (percebiam-se) eram repetidas e já nos imaginávamos a fazer de parteiros na beira da estrada…Felizmente a mulher aguentou. E lá foi levada com mil cuidados ao centro de saúde. E nós, como sorrimos de satisfação e de alívio.

O reencontro com os amigos. Um deles anda se recordava do cabo Moura. E o Moura Marques mais uma vez emocionado:
– Bolas, um homem sofre, com este exorcismo... (palavras do MM).

Uma oferta aos amigos. Uma visita à campa muçulmana do Suleiman Seidi. Uma oração em silêncio, um silêncio de saudade, uma saudade enorme – o Suleiman era um irmão. Eu que o diga. O Moura Marques chorou, de pé, honrando a memória de soldado milícia português – um homem chora quando tem que chorar, bolas.
– Olha, ali era o PC, e ali o local dos morteiros; acolá o bar…
– E ali, bem visível a caserna, agora escola de marabu...

O sol já caía a pino. E os amigos, de volta: mantenhas, e o desejo manifesto do Grão-de-bico (homem agora com quatro filhos…menino era naquele tempo) [Foto nº 1]:
– Cabo Moura, leva-me para Lisboa.

Que carinho e que ternura e que vontade de ter outra vida o desejo destes homens, dos que estiveram connosco dos que combateram do outro lado.
– Salgado, isto é demais!

Lá fomos em direcção ao rio Olossato, sempre bonito e frondosas as margens, lodoso, embora. Mais fotos e sempre as crianças, as belas crianças. Umas bolachas que a Conceição distribuiu, fizeram-nas sorrir. Sorrir ainda mais, se é possível.

 Depois a picada para Farim com passagem por Cansambo (só possível agora visitar, pois naquele tempo estava arrasada) e K3; a travessia de canoa a remos para a outra banda: Farim. Tarde quente de calor do sol e de calor humano. Uma cerveja meio quente junto da Fatu Turé e Mustika Turé, encarregadas do bar da festa carnavalística (assim lhe chamou o comandante da canoa! – um neologismo (?!) para o nosso vocabulário.
Boa tarde! A bos portuguisis? Pai di nôs.

O que responder a tal fé antiga? Sem palavras.

De novo a cambança. No meio do rio [foto nº 5], gritou o comandante da canoa vizinha, a motor, sorrindo:
Li, tene manga di lagartus [crocodilos]…

A corrida para Mansabá, umas fotos do jovem ferreiro e da forja… Depois, Mansoa. Um hospitalzinho novo, da cooperação francesa, e as ruínas do quartel com soldados sentados à sombra dos mangueiros…!

E a seguir, Uaque. O último olhar para uma viagem longa, mas emocionantemente bela, reconfortante. Estava (quase) feita a catarse… O Moura Marques:
– Meu Camaradão, meu amigo!...


PS - No dia anterior, estiveramos em Nhacra e no Cumeré {Foto nº 4)… exactamente no dia em que pela última vez o MM almoçara com o seu amigo Fernando (periquito) que viria a morrer em emboscada dois dias depois…

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Notas do editor:

(*) Texto, revisto,  a partir do poste de 2 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P584: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (12): reviver o passado em Olossato

(**) Três últimos postes da série >

18 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16499: Memória dos lugares (347): Samba Juli, Sansancuta e Demba Tacobá, tabancas fulas em autodefesa, a sudeste de Bambadinca, para as quais foi destacado por mês e meio, em 20/7/1969, o 3º pelotão da CPM [, Companhia de Polícia Militar,] 2537 (Bissau, 1969/71), a que pertencia o sold cond auto Jerónimo de Sousa, hoje secretário geral do PCP

Guiné 63/74 - P16621: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte II: Fórmula para construir um aquartelamento de raiz, no mato: primeiro é preciso braços, cabeças, pernas, G3, pás, picaretas, enxadas, GMC do tempo da guerra da Coreia, etc.; depois cibes, areia ou pó de picada, terra, cimento, chapas, bidões, e muitos outros materiais; a seguir, construir paredes, tetos, telhados, abrigos, latrinas, manjedouras e outras amenidades hoteleiras; por fim, misturar tudo com... sangue, suor e lágrimas !




O  "campo fortificado" de Mansambo. Vista aérea (c. finais de 1969, princípios de 1970 ?). Foto do fur mil op esp, Humberto Reis (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). 




O  "campo fortificado" de Mansambo. Vista aérea (c. finais de 1969, princípios de 1970 ?). Foto (ampliada)  do Humberto Reis.

Sobre esta foto, escreveu o Carlos Marques dos Santos [e fica em aberto a questão da data: se a foto foi tirada, de heli ou de DO,  só pode ser de 1969 (2º semestre), 1970 ou 1971 (janeiro/fevereiro), já que o Humberto Reis, tal como os restantes camaradas da CCAÇ 12, chegou ao setor L1 (Bambadinca) na 3ª semana de julho de 1969 e terminou a sua comissâo em março de 1971; mas esta vista aérea também pode ser de 1968, tirada por algum amigo do Humberto, da Força Aérea: nesse caso, seria de Mansambo ainda construção; na realidade, parece faltar ainda o arame farpado, os 2 espaldões do obus 10,5 que só vieram em janeiro de 1969; vamos tentar esclarecer o "mistério" com o Humberto]: 

"Quanto à foto de Mansambo, a vista aérea – que é espectacular e que pessoalmente agradeço - gostava de saber de que ano é, se o Humberto tiver esses dados. A zona está totalmente nua, só com uma grande árvore ao fundo que se encontra à entrada do aquartelamento, pois vê-se a bifurcação para a estrada Bambadinca-Xitole (esquerda-direita). Falta ali uma árvore, a tal de referência para o IN, e que os nossos soldados chamavam a árvore dos 17 passarinhos, tal era a quantidade deles, que se situava na parte mais afastada da entrada. A mancha branca de maior dimensão seria o heliporto. Faltam os obuses, um de cada lado à esquerda e à direita. Ao lado dessa árvore ficava o depósito, que era uma palhota, de géneros e munições, que ardeu a 20 de Janeiro de 1969 (nesse dia chegaram os 2 Obuses 105 mm). Era véspera do aniversário da CART 2339. Ao fundo vê-se uma mancha à esquerda do trilho de entrada que era a tabanca dos picadores. À direita no triângulo de trilhos, ficava a nossa horta. A fonte ficava à direita da foto onde se vêem 3 trilhos, na mancha mais negra em baixo. Se confrontares com um mapa da zona vê-se aí uma linha de água."  



O Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil, CART 2339 
(Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69)


CART 2339, Viriatos... leais e nobres
























Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2026). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda parte do trabalho sobre a "construção de Mansambo em imagens", realizado pelo Carlos Marques dos Santos, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), subunidade adida ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Depois de pronto, ao fim de largos meses, a "Maria Turra" chamava-lhe o "campo fortificado de Mansambo". O Mamadu Indjai não deu descanso à rapaziada da CART 2339, os famosos "Viriatos",,, Não houve tempo para tirar férias, gozar a piscina do "resort", curtir os fins de tarde românticos ou ir fazer uns piqueniques nos rápidos do Rio Corubal, era um Saltinho... 

O Mamadu tanto lhes f... o juízo  que eles um dia pregaram-lhe uma partida, fizeram-lhe uma espera, a ele e ao seu bigrupo quando atravessavam a estrada a caminho de casa...  e o Mamadu, o terrível,   teve que ir de padiola para o hospital de Boké. Desta vez, mesmo gravemente ferido,  safou-se. 

Conta a lenda  que seria mais tarde...  fuzilado pelos seus próprios camaradas de armas, na região do Boé, por estar envolvido, em Conacri,  na conspiração que levou ao assassinato de Amílcar Cabral... Amor com amor se paga...  Enfim, fica para a história como vilão e traidor. Se tivesse morrido às mãos do 3º Gr Comb, da CART 2339, a que pertencia o nosso Carlos Marques Santos, hoje seria um herói nacional, como o Domingos Ramos ou a Titina Silá, com direito a mausoléu na Amura (, o panteão nacional).  A história tem destas partidas... (LG)

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Nota do editor:

15 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16603: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte I: era uma vez uma obscura tabanca do regulado do Corubal que mal se via no mapa...

Guiné 63/74 - P16620: (Ex)citações (320): Fiquei triste e revoltado com a imagem da piscina do QG de Bissau, parecia um SPA!... Era uma afronta para estava no mato (Armandino Oliveira, ex-fur mil, CCS / BCAV 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato (1966/68; vive no Brasil há 40 anos)


Guiné > Bissau > Anos 70 > Quartel General em Sta. Luzia > Piscina, a que tinham acesso os oficiais do QP e milicianos, e seus familiares.

Foto do álbum do nosso saudoso António [Henriques Campos] Teixeira, o "Tony" (1948-2013), ex-alf mil da CCAÇ 3459 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6, Bedanda, 1971/73).

Depois da independência, as instalações hoteleiras (messe e quartos de oficiais) do QG foram transformadas em hotel, o Hotel 24 de Setembro (hoje Hotel Azalai 24 de Setembro, 4 estrelas, sito na Av Pansau na Isna, Santa Luzia, 285 Bissau, Guiné-Bissau).

Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2016). Todos os direitos reservados.  

1. Comentário,  com data de 18 do corrente (*), de Armandino 
[José de Jesus] Oliveira, ex-fur mil da CCS / BCAV 1897,  Mansoa,  Mansabá e Olossato (1966/68); vive no Brasil há 40 anos, e é membro da nossa Tabanca Grande desde 8 de maio de 2011:


Boa tarde,  meu amigo Luís Graça:

Fiquei muito triste, para não dizer revoltado, com as imagens da piscina do QG de Bissau, parece um SPA .

Enquanto milhares estavamos na selva, combatendo, morrendo, vendo colegas e amigos sendo destroçados e outros se suicidando, pegando malária, em condições bem degradantes, psicologicamente .

Não posso gostar desse artigo, é uma afronta a todos que foram para a GUERRA !

Só louco ou insano levaria a família para o campo de batalha, só no QG de Bissau.

Era furriel miliciano do BCAV 1897, estive em Mansoa , Mansabá e Olossato (1966/1968 ).

Creio que entendes a minha revolta . (**)

Abraços
Armandino
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Notas do editor:
(*) Vd,. poste de 17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)

(**) Último poste da série > 10 de outubro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16585: (Ex)citações (319): O cap inf José Abílio Lomba Martins que eu conheci, no Enxalé, em novembro de 1963, antigo professor da Academia Militar, cmdt da CCAÇ 556 (Bissau, Enxalé, Bambadinca, 1963/65) (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65) (*)

Guiné 63/74 - P16619: Parabéns a você (1151): Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Art da CART 643 (Guiné, 1964/66)


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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16614: Parabéns a você (1150): Carlos Filipe Coelho, ex-Soldado Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/74) e Joaquim Ascenção, ex-Fur Mil AO Inf da CCAÇ 3460 (Guiné, 1971/73)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16618: Convívios (772): 56º Convívio da Tabanca do Centro, Monte Real, Leiria, dia 28 de outubro, 6ª feira




1. Última edição da revista Karas de Monte Real, edição do mês de setembro de 2916. É órgão da Tabanca do Centro, de que é régulo é o Joaquim Mexia Alves.  Editor-in-chief: Miguel Pessoa.

Dá-se aqui notícia do 55º encontro ou convívio... Os convívios da Tabanca do Centro são sempre na última 6ª feira de cada mês, sendo frequentados por largas dezenas de camaradas, veteranos da Guiné (mas também são abertos aos ex-combatentes que passaram por Angola e Moçambique, ou serviram noutras antigas províncias ultramarinas portuguesas, de Cabo Verde a Timor)...  O blogue da Tabanca Grande tem 72 seguidores., e já publicou, desde 2010, mais de 800 postes.

A área de influência da Tabanca do Centro, que tem sede em Monte Real, Leiria, é muito vasta, indo buscar clientela tanto a norte (Grande Porto) como a sul (Grande Lisboa) e, essencialmente, na região centro.

2. O próximo convívio, o 56º, já está marcado para o dia 28 deste mês. Instruções dadas ao pessoal que se pretende inscrever:

(i) têm até às 12h00 de 26 de outubro para efectuarem a vossa inscrição;

(ii) não se esqueçam de indicar os nomes do pessoal que inscrevem;

(iii) o preço da refeição mantém-se nos 10 euros por pessoa;:

(iv) a ementa continua a ser o tradicional Cozido à Portuguesa;

(v) o mínimo de inscrições é 40 e o máximo é 80 (lotação da sala dpo restaurante);

 (vi) as inscrições poderão encerrar antes do prazo limite se aquele número (80) for atingido;

(vii) usar a caixa de comentários dos anúncios do almoço ou enviar uma mensagem para tabanca.centro@gmail.com


3. Alguns termos da gíria tabanqueira (de acordo com a sua Centropédia, o dicionário da Tabanca do Centro,  da autoria do editor do blogue e da "Karas de Monte Real",  o nosso strelado, talentoso, perspicaz, bonacheirão,  e (quase sempre) bem-humorado Miguel Pessoa que, geograficamente falando, é sulista, não é centrista):


Amado Chefe

Termo carinhoso usado para identificar o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, grande impulsionador da Tabanca do Centro. Sem qualquer ligação a um determinado país asiático… “Chefe” por ser o líder do grupo, “Amado” por ser apreciado e respeitado por todos.

Café Central

Em Monte Real, é o local habitual de encontro do pessoal da Tabanca do Centro antes do almoço de convívio. Marcada a concentração para as 13u00, muitas vezes já fervilha de pessoal bem mais cedo – é a vontade de se reverem amigos e se reatarem conversas interrompidas há um mês… Também é ponto habitual de reunião depois do almoço para o pessoal que tem mais relutância em regressar a casa.

Camarigo

Termo criado pelo Joaquim Mexia Alves, aglutinando as palavras “camarada” e “amigo”, conforme ele explica em: http://www.tabancadocentro.blogspot.pt/2013/07/o-porque-do-camarigo.html

Cozido de Monte Real

O petisco à volta do qual decorrem os nossos convívios, dada a excelência do mesmo. Prato de referência da Pensão Montanha, em Monte Real, o ponto de encontro habitual da Tabanca do Centro.


D. Preciosa

A responsável pela Pensão Montanha e naturalmente pelo bem-estar do pessoal da Tabanca do Centro. Com laços afectivos ao pessoal ligado à Guiné (o irmão fez lá a sua comissão de serviço) é uma excelente anfitriã dos nossos almoços/convívios, tratando-nos como gente da família e fazendo-nos sentir como se estivéssemos em casa.

Director da “Karas de Monte Real”


Em determinada altura dos nossos convívios o Miguel Pessoa decidiu arrancar com a edição no blogue de uma publicação mensal - “Karas de Monte Real” – onde os nossos convívios ficassem registados (com reportagem fotográfica e comentários alusivos). Objecto da apreciação de uns tantos e de críticas biliosas de outros (estamos a lembrar-nos do grupo da FRELIBU e de mais uns tantos primos desses…), o Director da “Karas” garante a continuidade da revista nos moldes em que já habituou os seus leitores. Desempenhando funções na edição/actualização do blogue, dá ainda assessoria ao Régulo da Tabanca na realização de novos projectos.

“Karas” de Monte Real

Integrada no blogue da Tabanca do Centro - http://www.tabancadocentro.blogspot.pt/ - é uma “revista” essencialmente dedicada à reportagem dos convívios da TC, com fotos alusivas e comentários mais ou menos mordazes. Sai geralmente no fim de cada mês, com reportagem fresca do último convívio.

Exemplo: http://tabancadocentro.blogspot.pt/2014/03/revista-karas-de-marco.html


Pensão Montanha

Na rua principal de Monte Real, é o local da realização dos nossos almoços. Para mais pormenores ver “D. Preciosa”.


Régulo da Tabanca


Falamos do Joaquim Mexia Alves (o Amado Chefe) que em 2010 decidiu organizar a Tabanca do Centro, aglutinando pessoal já conhecido do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (Tabanca Grande) e outro menos habitual, da zona centro.

Ver “Amado Chefe” e “Tabanca do Centro”.
Tabanca do Centro (TC)

Embora considerada “do Centro”, o facto é que reúne nos seus convívios gente vinda do Porto, Matosinhos, Viseu, Vila Real, Aveiro, Figueira da Foz, Buarcos, Fátima, Cadaval, Lisboa, Cascais, etc., para além dos locais – Leiria, Marinha Grande… e Monte Real.

Criada em Janeiro de 2010, por iniciativa do Joaquim Mexia Alves (Ver “Amado Chefe” e “Régulo da Tabanca”), as suas actividades têm como epicentro a vila de Monte Real, próximo de Leiria. Esta criação teve como objectivo, para além de se manter os contactos através da Net, o de reforçar e aumentar a confraternização dos “velhinhos” da Guiné, proporcionando almoços/convívios com uma periodicidade mensal (ou quase…), não se pretendendo naturalmente originar um afastamento ou dissensão com a Tabanca-Mãe, antes criando um complemento àquela.

Ver http://www.tabancadocentro.blogspot.pt/

Tabanca Grande (ou Luís Graça & Camaradas da Guiné)

Blogue de origem do grupo inicial dos “atabancados” da Tabanca do Centro, à qual continuamos naturalmente ligados.

Ver http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/

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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16594: Convívios (771): No passado dia 5 de Outubro de 2016, realizou-se o XXI Encontro dos Combatentes da Guiné da Vila de Guifões, com a deposição de uma coroa de flores no Monumento aos Combatentes daquela Vila e um almoço que decorreu numa Quinta de Barcelos

Guiné 63/74 - P16617: Os nossos seres, saberes e lazeres (180): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
É um intrujice, ou talvez uma doce ilusão, julgarmos que a boa preparação da viagem fecha as portas aquele imprevisto que nos deixa de boca à banda. Lê-se o texto do livro, olha-se as imagens, entra-se depois no local e então toma-se conta de que valeu a pena classificar este palácio de Diocleciano como património da humanidade, porque é um edifício que conserva a sua monumentalidade, ali se embrenham cruzamentos estilísticos que dão um produto notável e geram no visitante um sentimento de como a Europa é feita de retículas, de movimentos artísticos reelaborados e regionalmente adaptados. Basta pensar que em Split a arquitetura romana, os estilos românico e gótico, o renascimento e o barroco conversam entre si, há pequenas igrejas paleo-croatas, aqui se lutou para empregar o glagolítico e a língua nacional nos livros litúrgicos e foi a Split que o maior artista croata de sempre, Ivan Mestrovic, legou uma esplêndida galeria de obras escultóricas.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (5)

Beja Santos

Qualquer porção de terra europeia pode gabar-se de ser uma encruzilhada cultural e facilmente se abonam razões. Por cá, tivemos um pouco de tudo com o picante das invasões bárbaras e o rescaldo dos Descobrimentos. Os eslavos do Sul, pela sua posição, assistiram à divisão entre o Império Romano do Oriente e do Ocidente, em 395, a partilha celebrada em Aix la Chapelle é de Carlos Magno e o imperador de Bizâncio, em 812, a divisão das Igrejas em 1054, a chegada dos Turcos Otomanos que permaneceram 500 anos nos territórios correspondentes à Bósnia Herzegovina e ao Kosovo. E já aqui temos falado de Veneza, do reino sérvio, do Império Austro-húngaro. Podíamos ir mais atrás até às colónias gregas e depois o Império Romano. Em Pula, onde os romanos deixaram um anfiteatro soberbo, o império Austro-húngaro dispunha de um poderoso porto militar.
Isto para introduzir Split, a magnífica, o topo do topo a que se arroga o viajante nesta diagonal pelos países dos eslavos do Sul. Pena que neste caso as imagens não valham por mil palavras, mas o viajante entrou de boca aberta e dali saiu arrelampado com a grandiosidade da cidade-palácio. Tudo se deve ao imperador Diocleciano que construiu um grandioso palácio aqui, ele que era dálmata, entre 295 e 305 depois de Cristo, aqui deixou o seu mausoléu que mais tarde foi adaptado à catedral com o bispo João de Ravena.
Entra-se e circula-se por Split e nem sempre temos presente que já foi palácio a despeito de todas as transformações que aqui tem ocorrido.



Consta que Diocleciano escolheu este local por razões climáticas e pela beleza da paisagem. O palácio é um dos exemplares mais belos e melhores conservados da arquitetura da época romana tardia. Mais tarde, depois dos Ávaros e dos Eslavos terem destruído Salona, Split desenvolveu-se como centro urbano, submeteu-se aos soberanos croatas, depois a Veneza, ao Império Austro-húngaro, segue-se a Jugoslávia, hoje a Croácia.
Visitar Split é deambular pelo palácio Diocleciano, 215 metros de comprimentos, 175 metros de largura, 30 mil metros quadrados de história, três grandes portas, a Porta de Ouro a Norte, a de Prata a Leste e a de Ferro a Oeste. Uma cidade circundada de muralhas com uma espessura de pelo menos 2 metros e uma altura de 24. A ornamentação da fachada, perto do mar revela uma esplêndida galeria coberta de arcadas. E as caves, sujeitas a exploração arqueológica depois da II Guerra Mundial, são magnificentes pela dimensão e arcaria.



É agradável conversar com gente da terra, estão esclarecidos acerca da grandiosidade envolvente, explicam que a metade norte do palácio abrigava a guarda imperial, os servos e os escravos, alistavam as oficinas e toda a parte da logística e manutenção. A meio do palácio, ainda hoje o ponto nevrálgico por onde circulam os turistas, está o peristilo com as colunas de coluna róseo e de mármore branco, proveniente do Egipto, com capitéis coríntios; o mausoléu octogonal do imperador é hoje a catedral da cidade, dispõe de um campanário medieval imponente; e ali perto está o templo de Esculápio ou de Júpiter e o acesso aos apartamentos do imperador.




O peristilo guarda a sua imponência, uma esfinge egípcia original parece policiar a ordem no local mais visitado de Split, saindo dali o visitante é brindado com uma nova revelação, perto da Porta de Ouro construiu-se na Idade Média a pequenina igreja de S. Martinho, impossível não ficar comovido com esta relíquia da igreja do tempo da mais austera sobriedade.



A catedral encerra elementos preciosos de diferentes estilos: portas monumentais com relevos, um crucifixo gótico do século XIV, o gótico, o renascimento e o barroco cruzam-se frequentemente.




Dou plenas garantias ao leitor que pode visitar à confiança a esplendorosa Split, prepondera a massa de pedra e os tesouros deixados pelo imperador Diocleciano, pode-se almoçar ou jantar numa sala adossada a uma das muralhas do palácio, passear por ruas estreitas com estilos heteróclitos, veja-se esta senhora ao telemóvel, perto de uma porta de alumínio e cercada por reminiscências romanas, medievais e contemporâneas. Ainda não estou completamente em mim, a ter que joeirar o cômputo das imagens, tenho a ilusão que ainda não saí de Split. Doce ilusão, pois amanhã de manhã vou admirar a obra de um grande escultor, Ivan Mestrovic, antes de partir para o Parque Nacional dos Lagos de Plitvice.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16593: Os nossos seres, saberes e lazeres (179): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16616: Lembrete (18): É já amanhã, dia 20, 5ª feira, a sessão de lançamento do livro do nosso camarada Paulo Salgado, "Guiné: Crónicas de Guerra e de Amor", na Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95, Lisboa, às 18h00... Com a presença do autor (que vive em Vila Nova de Gaia) e apresentação a cargo do escritor Rogério Rodrigues.


Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > Ponte de Maqué > 1976 

Foto: © Paulo Salgado (2016). Todos os direitos reservados.


Guiné-Bissau > Maqué > 2006 > " O mais belo poilão que conheço da Guiné" (Paulo Salgado) [. na foto, o Paulo Salgado, sentado, e Moura Marques, de pé, ambos antigos militares da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72].

Foto (e legenda): © Paulo & Conceição Salgado (2006). Todos os direitos reseravdos






1. Mensagem do Paulo Salgado (ex-alf mil cav op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72); membro da nossa Tabanca Grande, desde 18 de setembro de 2005 (*); manteve, no nosso blogue, uma colaboração regular, com pelo menos duas séries, em 2005/2006, quando esteve em Bissau à frente do Hospital Nacional Simão Mendes:  Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) e Bombolom II (ver aqui através do marcador Bombolom):

Data: 17 de outubro de 2016 às 23:15
Assunto: Lançamento do livro (**)

Caro Luís,

Segue um novo formato de divulgação do lançamento do livro - para recordar aos camaradas do blogue.(***)

Até quinta-feira.
Um abraço 

Paulo Xavier Fernandes Cordeiro Salgado
Administrador Hospitalar - ENSP/UNL
Pós-graduado em Administração Pública - UMinho
Pós-graduado em Direito dos Contratos - UCP
Mestre em Gestão-Especialização em Gestão e Administração de Unidades
de Saúde-UCP
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(...) Fiz a minha comissão no Olossato e Nhacra entre Abril de 1970 e Março de 1972.

Fiz uma segunda comissão em 1990/92, como cooperante na área da saúde. Matei fantasmas; chorei no Olossato; ri-me com as crianças que rodearam a minha viatura; revisitei o Suleiman que me reconheceu passados vinte anos!!! E depois vieram alguns homens grandes...e imensos...

Tenho ido várias vezes a Bissau desde 1996 - os amigos que tenho feito...! As desilusões que tenho sentido da parte dos guineenses. Mas também a esperança.

Irei fazer outra comissão de um ano, dentro de poucos dias...! Loucura? Utopia? Talvez.

Mas sejamos claros: indo de encontro aos objectivos que definiste: olhar a África e para África só faz sentido no plano de um vero e recíproco respeito. 


(...) Nós fizemos parte de uma História que não está contada. Há muitas histórias e estórias, encontros e desencontros; há quem queira olhar para trás e compreender; há quem deseja nem sequer pensar no que passou e no que se passou. Compreendamo-nos todos. Pois somos diferentes. (...)

(**) Vd. postes de:


Guiné 63/74 - P16615: O que é feito de ti, camarada ? (6): Carlos Filipe Coelho (ex-Soldado Radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)... Um resistente, duplamente resistente... Faz hoje anos... Parabéns, amigo, e até sempre! (Juvenal Amado)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador, à civil... Um homem gentil que aqui aprendeu a amar aquela terra e aquela gente...




A caminho da Guiné, num dos navios da nossa marinha mercante, o "Angra do Heroísmo", que largou do Tejo em 18/12/1971, cheio que nem um ovo...

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador, uma especialidade pouco usual...



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador 




Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > O Carlos Filipe, radiomontador, da CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) esteve internado 32 dias em Bissau, antes de ser evacuado, com hepatite,  para o Hospital Militar da Estrela em Lisboa, onde esteve 173 dias.


Fotos © Juvenal Amado (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Mensagem, com data de 9 do corrente, do  Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas,  CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; autor de "A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem - Guiné, 1971 - 1974"  (Lisboa: Chiado Editora, 2015, 308 pp.)


Carlos,  mando aqui alguma coisa escrita para o poste do Carlos Filipe. Também envio fotos que tenho dele e junto a talhe de foice,  porque falo do Jamba,  uma foto em que o Catroga trata do filho dele.

Um abraço, Juvenal
Encontramo-nos a miúde na Amadora [,onde vive, sozinho, viúvo, com uma filha a viver no Cacém, e doente, doente de longa duração, mas resistente...]

Bebemos um café numa esplanada muito agradável perto da casa dele. Falamos de tudo mas em especial da Guiné, da sua situação interna, da sua classe politica, do seu injustiçado e sofrido povo.

Não consegue esconder desgosto por ver o partido de Amilcar Cabral não ser melhor que os demais, depois de tantas lutas, também ele se afunda na corrupção, no lodo dos interesses instalados e dos que se querem instalar.

Soubemos há tempos que o quartel de Galomaro foi transformado em armazém serração, que faz parte da praga que abate as suas florestas e que por isso não se pode filmar nem fotografar. As provas do crime, aguardam por embarque para Bissau em Bambadinca, ou no Xime. No Geba,  rio que cruzamos cheios de dúvidas e ansiedades das chegadas e alegrias das partidas, cumprirão mais uma etapa que levará a madeira das milhares de árvores abatidas para a China.

Para trás fica a destruição do meio ambiente, a sua fauna e flora. A Guiné que nós conhecemos, é só um resquício na nossa memória, é como vermos alguém morrer jovem e belo, vamos sempre lembrá-lo assim.

Acabamos por lembrar Galomaro mais o Regála, o Jamba [, foto à esquerda,] que era do PAIGC na clandestinidade, andava dentro do quartel por onde queria e lhe apetecia, a alegria das lavadeiras, Bafatá com os seus restaurantes e o seu comércio vibrante, a piscina, a praça, os vendedores de óculos de sol e relógios das melhores marcas “suíças” que só trabalhavam o tempo de sair da cidade....

As loucuras dos almoços às 10 da manhã, com whisky e charutos para rematar, pois a coluna tinha que sair com o correio o mais tardar às 11,30. Bebíamos mais uma para a viagem no caminho já à saída de Bafatá à esquerda,  numa tasca que,  segundo diziam.  eram de um individuo de Alfeizerão, que jogava com um pau de dois bicos e nem um copo de água dava à malta. Mandava-nos ir beber ao poço e era se queríamos.

Carlos ri-se da minha forma de falar, relembrar,  e dos rodeios que faço para lá chegar. Há dias levei-lhe um emblema do nosso batalhão. Só para ver aquele olhar iluminar-se e aquele corpo magro que resiste ao sofrimento crescer um palmo, metaforicamente falando, valeu apena.

Telefonou-me no dia 4 deste mês e eu não dei por isso. Quando reparei telefonei-lhe logo mas já não me atendeu. Tenho-lhe telefonado todos os dias sem conseguir falar com ele. Não me admiro,  pois por vezes está semanas e meses sem falar comigo, até que um dia vejo que é ele,  atendo, fico a saber, pela sua voz sumida e fraca, que esteve internado, ou que a quimio o deitou abaixo de tal maneira que nem comer nem beber consegue.

Volto-me a encontrar com ele e lá voltamos à Guiné e ao blogue dele,  Bissau Resiste, onde ele se digladia com guineenses e não só, de tendências e religiões várias. Facto que lhe grajeia amigos e possivelmente mais inimigos.

Fico a pensar onde vai buscar semelhante força.

Não sei quando vou falar com ele novamente, não sei se lhe consigo dar os parabéns pelo seu aniversário pessoalmente, mas nem por isso quero deixar esquecido e vou beber um copo à sua resistência e força, que o faz vencer todos os dias mais um dia.

Parabéns, Carlos Filipe.  recebe um abraço deste teu camarada, que o 3872 juntou e a Guiné uniu.

Até sempre, amigo.

Juvenal


Um resistente: o Carlos Filipe Coelho (ex-soldado radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74) ... Foto atual... Vive na Amadora, sozinho, viúvo, com uma filha a viver no Cacém, e doente, doente de longa duração, mas resistente, duplamente resistente, um lutador...Tem 22 referências no nosso blogue.... Mas no seu blogue, "Bissau Resiste", tem mais de 7 mil postes publicados, em 4 anos, desde meados de 2013...




Cabeçalho do blogue do Carlos Filipe, "Bissau Resiste", criado em agosto de 2013 e atualizado até ao início de outubro de 2016. Tem mais de 70 seguidores. O nº de postes anuais é notável:  2016 (926); 2015 (3215); 2014 (2391); 2013 (790).


 2. Comentário do editor:

Caro Juvenal, és um grande ser humano. O que fazes pelo teu (e nosso)  amigo e camarada, é digno de registo, é um exemplo para todos nós, É isso a camaradagem e a solidariedade humana. É também esse espírito da Tabanca Grande.

Sim, eu sabia que Carlos Filipe estava (ou esteve) doente, há uns anos atrás.  Mas não sabia era o resto da história nem lo prognóstico da doença...  Há estoicismo e dignidade na maneira como o Carlos tem enfrentado a adversidade e fintado a morte.

Se conseguires estar com ele,  hoje, no dia do seu aniversário natalício, dá-lhe um abraço, de todos nós,  do tamanho do poilão da Tabanca Grande e bebe um copo com ele, por ele, por ti  e por todos nós, que merecemos viver mais uns aninhos cá na terra, para compensar os que perdemos na guerra... Mesmo de muletas... por que como diz o provérbio popular "mais vale andar neste mundo de muletas  do que no outro em carretas"... (LG)
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