segunda-feira, 4 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4281: Tabanca de Matosinhos (10): O nosso camarada Almeida de Gandembel precisa de ajuda (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70, com data de 2 de Maio de 2009:

Caros amigos e camaradas.

Junto o texto que escrevi sobre o Almeida de Gandembel.
Pela sua leitura podeis sentir o seu estado de saúde e o meu estado de alma.
Na segunda-feira vou à ADFA saber o que se pode fazer por ele

Abraço fraterno
José Teixeira


O MONSTRO DE GANDEMBEL CONTINUA A FAZER VÍTIMAS

O dia estava a chegar ao fim. Minha mãe, velhinha de oitenta e oito anos, esperava-me à porta do Centro de Dia de apoio à terceira idade.

Ali ao lado um rosto conhecido de alguém da minha idade, que não via há uns tempos e nunca pensei encontrá-lo ali. Era o camarada Almeida de Gandembel. Abatido, psiquicamente destruído.

Ao ver-me a comoção tomou conta dele, as lágrimas deslizaram pela face. Eu contive as minhas, mas o meu coração estremeceu e chorou também. Era o seu primeiro dia naquela casa que outrora os povos do norte da Europa batizaram de casa dos elefantes.

O Almeida de Gandembel que algumas vezes nos deliciou na Tabanca de Matosinhos cantando o Hino de Gandembel e tantas outras canções que nos transportavam de novo para a nossa juventude. O Almeida deixou de cantar o seu hino. Agora chora de desalento.

O Hino que os camaradas da CCaç 2317 cantarolavam, quantas vezes acompanhados pelo ribombar das canhoadas que o um inimigo impiedoso, raivosamente despejava sobre Gandembel, bem no meio da mata do Cantanhez, como que a porta do carreiro da morte.

O Hino que nos fins dos anos sessenta era o símbolo da nossa resistência, nos muitos campos de batalha semeados pela Guiné, como que um grito de lamento.

O Hino que o Almeida gravou em CD com tanto carinho em 2007 e foi o centro do show musical que animou a festa de recepção aos participantes do Simpósio de Guilege em 2008, no antigo quartel general em Bissau, agora transformado num Resort.

Ali, ao som da sua música, combatentes das duas frentes, deram as mãos, cantaram e dançaram, animados pelo Conjunto Furkuntunda que deu nova alma ao nosso hino, transformando um lamento de guerra num grito de paz.

O Almeida perdeu a vontade de cantar.

http://www.youtube.com/watch?v=wPZ05F0eo7w

-Sabes, Teixeira, a mulher continua a trabalhar e eu fico sozinho em casa, mas não consigo suportar o isolamento. Aquele silêncio!...
Os fantasmas que te perseguem
, pensei eu.

A sorte tem sido madrasta para o Almeida. Não lhe bastou, a fome a sede, o medo e a raiva ao ver os seus camaradas tombar, mortos ou feridos a seu lado. Não lhe bastou ter fintado tantas vezes a morte, nos trezentos e setenta e dois encontros (ataques e emboscadas) com o inimigo, que um se camarada foi contabilizando, nos cerca de oito meses que viveu em Gandembel, sem contabilizar tantos outros que vivenciou nas picadas de Buba.

Uns anos mais tarde, o seu filho único, quando cumpria o serviço militar, morreu num estúpido acidente. Regressava à sua Unidade vindo de Santa Margarida onde estivera em treino operacional. Um acidente na estrada, entre duas viaturas de civis, fê-lo saltar da viatura para acorrer às vítimas na sua missão de enfermeiro. Nesse instante uma terceira viatura, ceifa-lhe a vida.

A família Almeida ficou destroçada. Ele nunca mais voltou a ser o mesmo Almeida, mas a sua grande fé ia lhe dando forças. Tentava abafar as suas mágoas rezando e cantando. Na última vez que esteve na Tabanca de Matosinhos, trouxe a Biblia para nos ler um Salmo e a sua voz para nos deliciar mais uma vez com a sua canção preferida – O Hino de Gandembel e outras canções do seu reportório de outros tempos, que acompanhamos com prazer.

Agora, passa o dia sentado num velho sofá a ver televisão, absorto da realidade que o rodeia.

O Monstro Gandembel que um governador mandou construir, enterrando lá centenas de contos, e outro governador, no mesmo ano, mandou abandonar, deixando lá cerca de cinquenta jovens vidas e enviando outras tantas para Lisboa, quantos delas estropiadas para o resto da vida. Esse terrível monstro continua a fazer vítimas.

Neste dia de quinta feira, a noite chegou mais cedo para mim.

O Almeida a cantar na nossa Tabanca de Matosinhos


2. Comentário de CV

Hoje o nosso camarada José Teixeira não veio até nós com as melhores notícias da Tabanca de Matosinhos. Infelizmente a vida também é composta de acontecimentos menos agradáveis, e a falta de saúde do nosso camarada Almeida de Gandembel, é um assunto preocupante, principalmente para os camaradas que mais de perto privam com ele.

Aqui deixamos os nossos votos de rápidas melhoras.
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Vd. último poste da série de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4212: Tabanca de Matosinhos (9): Manga di ronco na grande Tabanca de Matosinhos (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P4280: No 25 de Abril eu estava em... (9): RI 15, Tomar, à espera de ir para a Guiné (Magalhães Ribeiro)

Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, da CCS/BCAÇ 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá (1974), que recentemente entrou para o grupo de editores deste Blogue.

Nasceu no dia 27 de Março de 1952, no concelho de Matosinhos. Seguiu para a Guiné, em 1974, já depois do 25 de Abril, tendo regressado em 15 de Outubro do mesmo ano, na última viagem, com tropas, do navio Uíge.

Vive e trabalha no Porto (Departamento de Manutenção Mecânica da Produção Hidráulica, EDP). Actualmente é Vice-Presidente da Delegação do Porto da APVG (Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra) e pertence aos Corpos Directivos da AOE (Associação de Operações Especiais) e da LAMMP (Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto).

Estandarte e Brasão do BCAÇ 4612/74. Divisa: Dignos e Leais. Ao centro, Estandarte do RI 15 de Tomar. Divisa: Conduta Brava e em Tudo Distinta


1. O Eduardo, desde o fim do mês de Abril, é co-editor do nosso Blogue. O eterno Pira de Mansoa é periquito na idade, na Guiné e no grupo dos editores. Temos que lhe arranjar um poleiro na Tabanca.

A sua colaboração vai ser muito importante, dada a necessidade que tínhamos de mais alguém para nos ajudar a levar a cabo este trabalho diário, muito desgastante.

Se virmos as estatísticas do mês de Abril, verificamos que foram publicados 149 postes, distribuídos do seguinte modo: Luís Graça, 30; Vinhal, 117 e Eduardo 2. Vejam que há praticamente 5 postes publicados por dia, a que corresponde um trabalho de cerca de 4 horas. A juntar a isto há que responder às diversas solicitações nos bastidores da Tabanca.

Pelos motivos expostos, saudamos a chegada do Eduardo ao corpo editorial.
CV


2. Mensagem de E. Magalhães Ribeiro com data de 1 de Maio de 2009:

Boa noite amigos Luís, Vinhal e Briote,

Estive aqui a teclar uma carta que enviei ao meu Amigo e RANGER Raul Moreira da Silva Marques, em 27 ou 28 de Abril de 1974.

O Marques estava em Mansoa e pertencia à CCS do BCaç 4612/72.

Sempre vivemos os dois aqui no Porto, éramos da mesma Especialidade e o meu destino era substituí-lo, pertencendo eu à CCS do BCaç 4612/74.

Escusado será dizer que somos amicíssimos.

Infelizmente, o Marques está a recuperar, segundo me disse, relativamente bem, de vários problemas de saúde.

Espero que, com a colaboração da sua filha Elisa, o consiga convencer, mais dia menos dia, a tornar-se mais um camarada a juntar-se a nós no blogue.

Já temos um camarada bloguista - o Jorge Canhão -, do mesmo batalhão dele, mas que era da 3.ª Cia.

Penso que este texto é oportuno, dados os 35 anos que decorreram sobre a Revolução do dia 25 de Abril de 1974.

Já o disse, mais que uma vez e repito, que dado estar mobilizado para a Guiné desde no início do ano de 1974, e pelo modo como evoluia a guerra, achei o 25A74 um milagre.

Repara que eu já estva casado desde 05MAR72 e, entretanto fui pai de um puto maravilhoso em 04NOV73.

Muito resumidamente, penso que houve pelo menos duas hipóteses dos governos de Salazar e Ceatano terem resolvido pacificamente os problemas ultramarinos, evitando a mencionada revolução:

1 - deviam ter dado emprego aos africanos que acabavam os seus cursos superiores, pois foi uma maioria deles que, revoltada pelo ostracismo e rejeição a que foram votados, incentivou e deu vida aos movimentos de libertação;

2 - podiam ter pensado, já depois de iniciadas as hostilidades, na possibilidade de autodeterminação aos povos envolvidos através de eleições livres;

Isto é o que eu penso, pois com o avançar dos anos na guerra, como todos bem sabemos, até no armamento estávamos a ficar cada vez mais inferiorizados, com muito material desadequado e, ou obsoleto, muito dele proveniente da 2.ª Guerra Mundial, enquanto o inimigo ia recebendo armas cada vez mais modernas e eficazes (mísseis incluídos).

Uma das bocas que eu ouvi não raras vezes, em fins de 1973 e inícios de 1974, era que o nosso pessoal andava na Guiné a combater mísseis com G3.

Despeço-me com um abraço Amigo para vós do MR.

Fotos de contraste, para dar uma ideia dos efeitos físicos que a Guiné, me provocou. Uma antes da partida para a Guiné e outra já no regresso, na sala de estar, a bordo do Uíge.


Tomar, 27 de Abril de 1974

Amigo RANGER Marques,

Eu sei que a informação que vos chega aí a Mansoa sobre o que aqui se passa no Continente é praticamente nula e, ou, muito deturpada, por isso, vou-te descrever, resumidamente, os últimos acontecimentos.

GOLPE DE ANTEONTEM - 25 de ABRIL

No passado dia 25 de madrugada, decorreu aqui no Continente um golpe de Estado. Uma coluna militar, com carros blindados, da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, acompanhado por 240 homens (a maioria recrutas com pouca experiência militar), avançou para Lisboa a fim de destituir o Primeiro Ministro - Marcelo Caetano -, que, na altura, se encontrava no Quartel do Carmo.

Assim se iniciou uma marcha revoltosa, que diziam envolver muita gente, mas o que é certo, é que quando a dita coluna chegou ao Terreiro do Paço, cerca das 05h30 da manhã, não estava lá mais ninguém.

Pelas últimas notícias, esta coluna, tinha como missão, ocupar ao Terreiro do Paço, controlar o Banco de Portugal, a Rádio Marconi e os acessos à Praça do Município, enquanto outros militares revoltosos tinham a seu cargo apoderar-se de outros pontos vitais em Lisboa como, a TV, rádios, PIDE, polícia, aeroporto, ministérios, etc.

É claro que este golpe foi previamente preparado, ao pormenor durante vários meses, entre um grupo de militares, muitos deles capitães, afirmando-se descontentes quanto ao modo como o país estava a ser governado e, fundamentalmente, em relação ao problema da Guerra que travamos em África.

Mas, muitos outros militares ignorantes deste movimento, continuavam, como é lógico, a serem fiéis à política adoptada, quer pelo falecido Salazar, quer posteriormente, quase na íntegra, seguida por Marcelo Caetano (MC).

Creio que o MC, não sabia de nada (ou muito pouco) sobre esta marcha sobre Lisboa.

Mais penso que ele, ainda escaldado pelos acontecimentos do 16 de Março, deste ano, com o pessoal do RI5, trazia alguns dos seus intervenientes sob a alçada da PIDE, e devia ter alguma informação, por muito dispersa e vaga que fosse, sobre alguns zuns zuns, que sempre escapam nos preparativos como o desta revolta.

Por isso, o MC devia estar a contar, mais dia menos dia, com uma nova tentativa de revolta militar.

Mas é fácil deduzir que ele pensava estar seguro e que, quando tal acontecesse sobre a sua pessoa e tudo o que o envolvia, e ele representava em Portugal, contaria nas horas decisivas com o socorro/combate suficiente, de muita gente que lhe era fiel, afim de dominar os seus protagonistas.

Foi isso mesmo que aconteceu, quando se apercebeu que estava em movimento mais uma revolta, MC apelou àqueles que lhe haviam jurado estarem do seu lado ou, pelo menos, ao lado da Pátria e a bem de Portugal.

Assim, correspondendo aos seus apelos, poucas horas depois o Brigadeiro Junqueira Reis acorreu ao Terreiro do Paço com um coluna, constituída por vários carros blindados, do Regimento de Cavalaria 7, cuja base é na Calçada da Ajuda. Nota bem que estes carros de combate eram de grande calibre e poder de fogo.

A certa altura deu-se o confronto, que eu imagino como sendo um duelo do tipo dos filmes americanos, tendo de um lado o Cap Salgueiro Maia e o seu pessoal, e do outro o Brigadeiro Junqueira Reis com os seu blindados e soldados.

Foram momentos de muita tensão e angústia, mas cruciais ao bom sucesso do golpe.

Apesar de outros momentos dramáticos que então se viveram, esta foi a resistência mais séria e perigosa colocada aos revoltosos, que podia ter redundado num banho de sangue.

Às tantas o brigadeiro ordenou seca e rispidamente a um dos seus homens que fizesse fogo sobre o Capitão Salgueiro Maia.

UM MILAGRE DEU-SE ENTÃO!

Foi o Alferes Miliciano Fernando Sottomayor, do RC7, que na Ribeira das Naus, desobedeceu, inequivocamente, às ordens do Brigadeiro Junqueira dos Reis para disparar sobre Salgueiro Maia e as suas tropas.

O Brigadeiro furioso, deu ordem de prisão ao Sottomayor e ordenou aos soldados que o rodeavam que disparassem, tendo-se também este recusado a disparar.

Então o Brigadeiro Junqueira dos Reis disparou dois tiros para o ar, tentando com esta atitude que alguém lhe seguisse o gesto e começasse a disparar.

Vendo que ninguém reagia às suas palavras e acções, abandonou o local e dirigiu-se para a rua do Arsenal.

ASSIM DESTA FORMA SE EVITOU O QUE PODERIA TER REDUNDADO UM HORRÍVEL E TRÁGICO BANHO DE SANGUE DE CONSEQUÊNCIAS IMPREVISÍVEIS!

Felizmente as coisas correram bem a esta malta que se envolveu nesta arriscada e imprevisível aventura.

2 HERÓIS

Digam o que disserem, escrevam o que escreverem, sobre a revolução do 25 de Abril de 1974, jamais mudarei de ideias sobre os dois Homens destemidos, que fizeram vingar a revolução.

Um, o Capitão Salgueiro Maia, porque deu corajosa e frontalmente, a cara e o peito desarmado como poucos homens o fariam neste mundo, e o Alferes Miliciano Fernando Sottomayor porque, como foi dito, desobedecendo a uma ordem superior, não disparou o tiro que podia ter originado o caos no país inteiro.

DEPOIS DISTO APARECERAM MUITOS HERÓIS

Posteriormente, ao descobrirem-se mais a fundo outros detalhes programados a cumprir entre o pessoal envolvido na revolução, soube-se que outros militares, que deviam estar em vários pontos cruciais antes da coluna do Capitão Salgueiro Maia chegaram muito depois, cumprindo as acções que tinham assumido pela sua parte, como prender os Ministros da Defesa, do Exército e da Informação e Turismo que, entretanto, ao saberem do movimento em curso, tiveram tempo para fugirem, pelas narrações que me chegaram, por um buraco que conseguiram abrir na parede de um pátio que, fazia paredes meias com o Ministério da Marinha.

Depois já se sabe o que aconteceu, por demais noticiado, surgiram e continuam a surgir muitos heróis a dizer que: - Eu estive lá, eu fiz, eu aconteci... etc. etc.

Entre as objectivas e simples declarações de um homem sério, justo e humano que considero ser Salgueiro Maia, uma jamais esquecerei, que se referia à memória dos seus homens (na flor da idade) a morrerem em combate no tarrafo, nas bolanhas e sob as minas na guerra da Guiné

NÓS EM TOMAR NO RI 15

Agora reina uma grande confusão e bandalheira, nós aqui no RI 15 (em Tomar), estivemos em estado de grande preocupação e angústia, porque durante os dias 25 e 26 a informação que nos chegava era escassa, confusa e até contraditória.

Durante a dia 25 recebemos ordem para nos armarmos e municiarmos todos e vimos as viaturas a saírem das garagens. Estava tudo preparado só não sabíamos para quê!

Chegavam notícias de Unidades que aderiam aos golpistas e outras não.

Aqui devem estar mais de 600 homens em armas, pessoal que já cumpriu a recruta e que neste momento está com 4 semanas de instrução na Especialidade de Atiradores de Infantaria.

Começou a constar (boato?), que o nosso comandante, se mantinha fiel ao Regime e não aderia ao entretanto designado MFA (Movimento das Forças Armadas) e, caso houvesse resistência aos revoltosos ele avançaria connosco para Lisboa em socorro do MC.

Ainda não consegui saber se isto foi verdade ou boato.

No dia 26, estava tudo resolvido, a bem, e afinal acabou por imperar o bom senso e, pelo menos, excluindo algumas saídas de secções (12 a 13 homens), para prender os PIDES, e efectuar algum controle em pontos vitais dos acessos a Tomar, nada de anormal me constou.

Até breve se Deus quiser, espero que isso por aí em Mansoa vá correndo pelo melhor, os 18 meses que aí tens estão quase a terminar e facilmente presumo, que estás ansioso que nós aí cheguemos, para poderes regressar a casa.

Vamos a ver no que isto dá, já que muita malta já diz que não quer ir para a Guiné, que não deve ir nem mais um soldado para o Ultramar, etc.

Espero que não se instale a anarquia e a bandalheira total.

Um grande abraço amigo do
Magalhães

Apesar de a Nação se encontrar em estado de alerta, ainda houve quem arranjasse um passaporte de dois dias.


3. Comentário de CV:

Ainda não tínhamos um testemunho de alguém que estando na Metrópole, já mobilizado, à espera de embarque para a Guiné, tivesse assistido ao 25 de Abril. O Eduardo deixa-nos aqui as suas impressões em cima do acontecimento, numa carta que enviou ao seu (nosso) camarada Marques, este sim em Mansoa, à espera de ser rendido.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4106: No 25 de Abril eu estava em... (6): Pirada, a ferro e fogo (Joaquim Vicente Silva, 3ª CCAV / BCAV 8323)

Guiné 63/74 - P4279: Blogoterapia (101): Obrigado, Manuel Maia, emocionaste-me até às lágrimas (José Brás)

1. Mensagem do nosso camarada José Brás, que foi Fur Mil da CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), e é autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura):

Caríssimos

Carlos, Luís e Briote


Não tem nada a ver com a guerra, isto que quero dizer-vos, agora, de lágrimas a rebentar por sob as pálpebras quando leio de voz alta, só e em frente ao monitor, a escrita do Manuel Maia (*).

De voz alta porque quero emocionar-me até ao limite, na oportunidade de não ter quem me chame de maluco.

De lágrimas a rebentar porque, felizmente, continuo a poder emocionar-me perante os sinais do humano quando chegam altos como este rio de palavras engenhosas, talentosas e suadas.

Que maravilha!

Cercados por centrais globais de (des)informação e por um real saído dos noticiários das televisões, o dia-a-dia carrega-nos de pesadas preocupações acerca do futuro do mundo e da humanidade.

Talvez que, no fundo, não seja mais do que a velhíssima tendência para o pessimismo que nos atinge depois de anos de lutas e esperanças.

Gente como o Manuel Maia são a garantia de que não passa disso e de que a comoção e a imagem das mãos dadas por cima de incertezas continuarão a marcar o homem do futuro na sua dualidade divina e na sua multiplicidade de andarilho.

Afinal, já nem sei se foi de guerra ou não que quis falar, porque ninguém fala de guerra senão para falar de paz.

Um abraço (normal) para vocês e outro de agradecimento ao Manuel Maia.

José Brás

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

domingo, 3 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > A beleza dum rosto sereno numa criança cafinense

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Distribuição de água à população de Cafine, antes da feitura do poço.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O imenso Cumbidjã (da pesca à granada, quando era possível...)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Antes da mais uma partida em Sintex para o reabastecimento de frescos e correio (Cufar ou Cadique).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Uma canoa, barco IN. O 2º a ser utilizado pelo homem desde o período pré-histórico. o 1º fôra concebido de pele de animais...

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O Manuel Maia, "pilando em Cafine"

Fotos (e legendas): © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem do Manuel Maia, com data de 2 do corrente. (O Manuel Maia, formado em história, foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74; salvaguardadas as devidas proporções, é já considerado o Camões do Cantanhez , o bardo de Cafal Balanta (*)


Caro Luis, o meu sincero agradecimento pela edição da minha História de Portugal em Sextilhas (**), que aproveitarei para acabar de enviar de forma faseada. [No total, são mais de três centenas e meia]

Com o que ora envio,fica concluída a dinastia Afonsina.

Um grande abraço. Manuel Maia


A História de Portugal em sextilhas (II parte, até ao fim da 1ª Dinastia)

36-Com clero foi rei Sancho algo incapaz,
mas seu irmão Afonso, mui sagaz,
ao acertar co´a Igreja, a quem exorta.
Chegado de Paris,"visitador",
o "defensor" do reino,"curador",
mais tarde faz d´acordo letra morta.


37- Marido de Matilde de Bolonha,
com ceptro português, Afonso sonha,
sondado o tinha o clero lusitano.
Intrépido, domina os partidários
de Sancho, renitentes,solidários
do rei "Capelo", vítima de engano...


38-A aceitação de Afonso teve entraves,
alcaides houve com recusa às chaves
dos seus castelos ao novo senhor.
O cerco a Guimarães e a Faria,
igual pressão que Óbidos sentia,
mostrou daqueles grande pundonor.


39-Para acudir no reino às despesas,
Afonso abriu mão das suas presas,
vendendo as herdades confiscadas.
No campo militar, Faro conquista,
e p´ra manter Algarve tem em vista
medidas por acordos rubricadas.


40-Assim el-rei Afonso, "O Bolonhês",
Algarve luso garantiu de vez,
impondo uma fronteira por tratado.
"O Sábio" em troca o casamento quis,
de Afonso com bastarda Beatriz,
mau grado o lusitano ser casado...


41-Em Badajoz acordo foi selado
p´ra ser, depois nove anos, consumado...
denúncia de Matilde fracassara...
Recusa Afonso ao Papa explicações,
de bigamia enjeita acusações,
devolução do dote,nem pensara...


42-Reinando já decénios "Bolonhês",
a Igreja prestigia um português,
p´ra Papa um lusitano é distinguido.
Seu nome Pedro Hispano ou Julião,
p´ra Igreja, XXI como João,
por nebulosa morte surpreendido...


43 - "Das letras um egrégio varão"...
é magnum in scientia,diz-se então
do Papa que foi mestre em medicina.
Um lente em matemáticas, soberbo,
filósofo, senhor de rico verbo,
que os ramos do saber todos domina...


44-E reza a lenda,el-rei dissera um dia,
que a outro casamento acederia
se um novo dote assim lhe fosse dado...
Acordo em Badajoz selou fronteira
nas cortes de Leiria,vez primeira,
o povo passa a ser representado,,,


45-Dinis,o rei chamado "Lavrador",
da armada lusitana fundador,
poeta de miltrovas bem famosas...
desposa d´Aragão, rainha santa
que faz o tal milagre que encanta,
ao transformar do manto, o pão em rosas...


46-D´aragonesas terras, Deus o quiz,
saindo p´ra casar com D.Diniz,
chegou D.Isabel, bela princesa.
Trazendo na bagagem por missão
fazer da caridade devoção,
encantaria a gente portuguesa...


47-El-rei Diniz seria o criador
da escola de estatuto superior
de formação de lentes, embrião.
Desenvolveu as feiras e mercados,
fortaleceu a indústria dos pescados,
matais e linhos pôs em ascensão.


48-"O Bravo", Afonso Quarto, oitavo rei,
seguindo os pais ns rédeas da grei,
enceta guerra acesa com Castela.
O genro foi razão motivadora,
em causa o tratamento,vida fora,
imposto p´ra Maria, filha bela...


49-Mau grado a desavença e o agravo,
pediu Castela ajuda ao luso "Bravo"
na guerra ao sarraceno no Salado.
Afonso não enjeita a ocasião
para apoiar o genro,pois então,
ataque ao Mouro assume-se sagrado...


50-Como aia de Constança, de Castela,
chegou Inês de Castro, moça bela
por quem Infante Pedro se enamora.
Mau gradoo casamento co´a primeira,
presença da galega à sua beira
fará crescer paixão a toda a hora...


51-Bastardos vão nascer da ligação
mais tarde transformada em união,
após precoce morte de Constança.
Enlace faz sentir a corte em p´rigo...
familiares de Inês são inimigo
que se insinua,trai,nunca descansa...


52-Validos pressionam noite e dia
dizendo estar em risco a sob´rania,
levando el-rei a crime bem nefando.
A ideia é posta,clara,sem rodeios,
Inês tem de morrer por quaisquer meios,
há risco p´ro futuro de Fernando...


53-Misericórdia, roga Inês, prostrada,
os olhos marejados,mui cansada,
ao rei Afonso IV, empedernido.
Os filhos do regaço lhe arrancaram
e a jugular, num golpe, lhe cortaram
matando assim amor tão proibido...


54-O medo do futuro da Nação
roubou a Afonso, a dor, a compaixão,
deixando o filho Pedro, tresloucado.
Chegado ao poder este entroniza,
cadáver já ossada, e oficializa
enlace tão brutalmente ceifado...


55-P´ra uns "O Crú" e outros "Justiceiro",
monarca novo, el-rei Pedro primeiro,
nas Cortes d´Elvas seu povo protege.
Impõe travão ao clero, sustém nobres,
ganhando a adoração das gentes pobres,
o sofredor de amor dez anos rege.


56-Virá depois Fernando,"O Formoso",
versátil e também mui belicoso,
Castela o fez três vezes perdedor...
Reinado seu não foi apenas guerra,
deu "lei das sesmarias" para a terra
e às naus vai imprimir forte vigor.


57-Castela viu Trastâmara matar
herdeiro Pedro e seu trono ocupar,
ouvidos são rumores de insurreição...
Achando ter direito àquela c´roa
el-rei Fernando parte de Lisboa
co´a ajuda de Granada e Aragão.


58-Sedento de conquista,"O Inconstante",
julgando sairia triunfante,
acorda o casamento de seguida...
A noiva,Leonor, linda princesa
da reputada corte aragonesa
"p´ra tia" ficaria, preterida...


59- Derrota humilha o rei da lusa gente
que altera o seu noivado,de repente,
um nome igual tem nova candidata...
Segunda Leonor,é de Castela,
do rei que quis depor,é filha bela,
de novo,o nó de enlace, ele desata...


60- E outra Leonor,pior das três,
provou, que "à terceira foi de vez",
impondo ao rei Fernando ida ao altar...
O povo sai à rua em alarido,
dizendo barregã havia sido
aquela com que o rei se vai casar...


61-Recebe o rei a dita por consorte,
em Leça do Bailio, cá no Norte,
secreto foi enlace, acto brejeiro,
Razão o povo a tinha,foi provado,
que o diga Álvaro Pais,envergonhado,
por vê-la meretriz do Conde Andeiro...


62-Na terra não forjou seus cabedais,
burguês, comerciante, Álvaro Pais,
que foi chanceler-mor de Portugal.
Estatuto social então vigente
que assenta no poder terratenente,
em si ganha inimigo figadal...


63-Serviu os reis D.Pedro e D.Fernando,
deixando cargo vago,logo quando,
indignidades viu em Leonor...
Pretexto foi doença que o minava,
cansaço da função que se arrastava,
p´ro impedir de dar o seu melhor...


64-Detendo em Fernão Lopes atenção,
visível,bem diferente é a versão,
daquilo que, em verdade, Pais sentia.
"Gram nojo que pela desomrra del rei"
comum é sentimento em toda a grei,
"segumdo ha maa fama rainha avia"...


65-Morrendo el-rei, não há filho varão,
a Leonor,regente, se diz não,
e nem se aceita D. Beatriz.
Sucumbe a dinastia Afonsina.
p´ra dar lugar à nova,Joanina,
que vai ter fundador "Mestre de Aviz" ...


66-Chegado p´ras exéquias reais,
sentindo o mestre a ofensa ser demais,
ataca,enraivecido,o Conde Andeiro.
Guiado pelos nervos seu punhal,
produz um ferimento não letal,
de pronto "corrigido" por escudeiro...


67-A honra lusitana foi lavada
a golpes de punhal e de uma espada,
tombado foi o biltre, finalmente.
A amásia Leonor deixou o paço,
fugindo, a sete pés, para o regaço
d´outro qualquer amante, certamente...


68-Sabendo dominar a oratória,
João das Regras mostra a vitória
do mestre entre os quatro pretendentes.
Foi "filha do pecado", Beatriz,
os outros, por traição, Cortes não quis,
a escolha agradou às lusas gentes...

manuel maia

[Fixação / revisão de texto: L.G.]

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

(...) Fui Furriel Miliciano da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 que rumou, depois do necessário IAO do Cumeré, para Bissum/Naga.

Aí nos mantivemos uns sete a oito meses para sermos apanhados na famosa operação do Cantanhez que implicou a ida de dois Grupos de Combate, (entre os quais o meu...) para Cafal - Balanta, ficando adstritos à Companhia residente (que ali se encontrava apenas há dias...) vivendo em condições infrahumanas em buracos escavados no solo sem a possibilidade de protecção de "tecto" pois o homem do monóculo não autorizava senão panos de tenda e folhas de palmeira.

Esta parceria com Cafal durou uns três a quatro meses até à chegada do resto da minha Companhia que foi destacada para Cafine (distando cerca de 2 km dali...)

Então, já reunidos, passámos a viver em tendas de campanha até termos concluída a feitura dos reordenamentos, consubstanciada em largas dezenas de habitações para a população. Só então procedemos à construção de mais algumas para serventia da companhia...

Foi um trabalho insano, mas que nos deu plena satisfação e que permitiu, estou certo, - a juntar ao episódio da captura algo fortuita de Rafael Barbosa, líder guinéu do PAIGC (em rota de colisão com os dirigentes caboverdeanos...) - a saída precoce da região, a título de prémio, creio bem...

Foram nove ou dez meses ali passados, naquela zona minguada de tudo menos de mosquitos e balas... (...)


(**) Vd. postes de:

2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3915: Cancioneiro do Cantanhez (1): De Cafal Balanta a Cafine, Cobumba, Chugué, Dugal, Fatim... (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4277: Convívios (120): Pessoal da CCS do BCAÇ 4612/72, confraternizou no dia 02 de Maio de 2009, em Benavente (Magalhães Ribeiro)


No passado dia 2 de Maio, a CCS do BCAÇ 4612/72 concretizou em mais um almoço/convívio, com lanche incluído, desta feita no restaurante Fandango, em Benavente.

Recordo que esta foi a companhia que a minha foi substituir, em Mansoa, no ano de 1974.Apesar dos anos 35 anos que já se passaram, eles continuam a dizer que acolhem um dos seus periquitos com muita satisfação e alegria, embora já não me recebam com os terríveis e "enxovalhantes" pios, com que me receberam na Guiné, com a condição de eu não abusar da sua "benemerência".

Com uma ajudinha do tempo, que nos proporcionou uma maravilhosa tarde quente e seca, vieram mesmo a propósito umas mesas no átrio do restaurante, à sombra das árvores circundantes, para que uma boa parte dos participantes aproveitassem para recordar as velhas, entretidas e aferroadas suecadas.

Com o passar dos anos, também as nossas esposas e familiares vão enraizando os elos de empatia e amizade, que muito contribuem para um melhor ambiente e bem estar entre todos os presentes. Assim, em grupos rotativos, cavaqueando aqui e acolá uns, e outros em volta do portátil do Jorge Canhão (da 3ªCia), através de fotos desse fresco passado lá se foram recordando locais e peripécias, fazendo as horas voar.Os preparativos e demais trabalhos deste ano estiveram a cargo do Pauleta e do Alves, tendo tudo corrido conforme o programa previsto.
Não há bem que sempre dure, por isso este terminou mais esta belíssima festa anual mas, Deus quiser, para o ano haverá mais, porque melhor não pode ser.






























Fotos do Jorge Canhão

(Magalhães Ribeiro)
CCS do BCAÇ 4612/74

Guiné 63/74 - P4276: Recortes de imprensa (18): O Campo do Tarrafal e as distorções da História, por Pedro Pires, PR de Cabo Verde (Nelson Herbert)

1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert, que há dias apresentámos como correspondente de A Voz da América (*)... Ele mandou-nos uma notinha a corrigir essa informação: "Apenas um reparo que em nada altera o conteúdo da notícia. Sou senior-editor do serviço em português para a África, da Radio Voice of America, com sede em Washington e não correspondente. Mantenhas, Nelson Herbert".

Nelson, aqui fica a correção e o meu pedido de desculpas pela imprecisão. Temos, além disso, em comum o facto de os nossos pais terem sido expedicionários em Cabo Verde, na década de 1940. É uma história a que eu quero voltar. (LG)



Assunto - História, História

Não podia deixar de partilhar a oportunidade desta intervenção do presidente caboverdiano, com os demais bloguistas...

Bom fim de semana

Nelson Herbert


2. Botícia da Lusa > Tarrafal: "Há distorções a corrigir" na História da África, diz PR de Cabo Verde

Tarrafal, Cabo Verde, 2 de Maio (Lusa) - O presidente de Cabo Verde defendeu a necessidade de, “num acto de memória”, a história da África, nomeadamente a dos países de expressão portuguesa, ser “revisitada”, de forma “descomplexada e despida de apologias justificantes”.

Discursando sexta-feira na sessão de encerramento do Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal, que decorreu na vila homónima situada no norte da ilha de Santiago, Pedro Pires sustentou que os historiadores terão de a ver “de modo realista, objectivo e descomprometido com conveniências patrióticas”.

“Coloca-se a necessidade de, num acto de memória e sob um ângulo científico, crítico, descomplexado e despido de apologias justificantes, revisitar frequentemente a História”, referiu.

Pedro Pires aludia às frequentes discrepâncias na história das independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP - Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), cujas “conveniências patrióticas” distorcem os factos reais.

“A história deve ser reelaborada, ou melhor, aperfeiçoada, de forma sistemática, porque há distorções a corrigir, omissões a regular e esquecimentos ou vazios premeditados a rememorar. Cabe aos historiadores de hoje rever a situação, na medida em que não precisam de justificar os factos, devendo, tão-somente, narrá-los de forma objectiva, realista e científica”, frisou Pedro Pires.

“Para os africanos, é crucial repensar a sua história. Para isso, devem usar a sua própria lente: olhar para nós mesmos, com a nossa própria visão da História e do Mundo. Há que ver o nosso percurso histórico, as nossas forças e fraquezas, através da nossa percepção de nós mesmos e não recorrer à percepção dos outros, mesmo que sejam as mais eruditas”, sustentou.

Para uma melhor compreensão da questão, Pedro Pires recorreu a um provérbio africano: “Enquanto os leões não tiverem os seus próprios historiadores, as histórias da caça continuarão a glorificar o caçador”.

Na ligação feita do tema da sua intervenção ao Simpósio, o chefe de Estado cabo-verdiano lembrou que foram patriotas de Cabo Verde que, uma semana após a Revolução dos Cravos em Portugal (25 de Abril de 1974), “decidiram enfrentar e derrubar o símbolo mais significativo e mais temido”, no arquipélago, “do sistema opressivo colonial e da ditadura salazarista: o presídio do Tarrafal” [Vd. foto acima, retirada do blogue do nosso camarada João Tunes, Água Lisa (6)]. (**).

“A decisão e a determinação dos nacionalistas cabo-verdianos surpreenderam as autoridades coloniais. A inteligente antecipação das várias consequências do «25 de Abril» e no seu imediato aproveitamento colocaram as autoridades coloniais em estado de desorientação, na defensiva e perante um dilema irresolúvel: reprimir ou não reprimir. Qualquer das opções tinha consequências desfavoráveis para o poder colonial”, contou.

“(A autoridade colonial), impotente, optou pela cedência, pois já se encontrava extremamente abalada com a derrocada dos principais pilares do regime e com as derrotas políticas e militares. Naquelas circunstâncias, a alternativa de repressão não seria praticável. Assim, começou, nestas ilhas, o desmoronamento do sistema de dominação colonial”, reivindicou.

Para Pedro Pires, o encerramento do “Tarrafal”, a 01 de Maio de 1974, há precisamente 35 anos, revestiu-se de um “forte simbolismo”, pois permitiu “mostrar a impotência e o esgotamento a que tinha chegado o domínio colonial, sendo, por essa razão, “um marco relevante no processo de conquista da independência” de Cabo Verde.

Fonte: Agência Lusa (com a devida vénia...)

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4273: Recortes de imprensa (17): Engenhos explosivos do nosso tempo continuam a matar, desta vez na região de Mansabá (Nelson Herbert)

(**) Vd. também notícia da Angola Press, 2 de Maio de 2009:

Cabo Verde: PR cabo-verdiano realça necessidade de se transformar Tarrafal num monumento de tolerância

Tarrafal (Do enviado especial) - O presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, avançou sexta-feira à noite, em Tarrafal, Ilha de São Tiago, a necessidade de se transformar o Campo de Concentração de Tarrafal num Monumento de Tolerância, de Amizade, de Dignidade e de Diálogo entre povos e culturas.

Falando na sessão de encerramento do Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração de Tarrafal, o chefe de Estado de Cabo Verde disse que, por representar um tempo de história conjunta é, sobretudo, um património histórico comum a cabo-verdianos, angolanos, guineenses e portugueses. (...).

Organizado pela Fundação Amílcar Cabral, em colaboração com os Ministérios da Cultura de Angola e Cabo Verde, o simpósio reuniu antigos reclusos do Tarrafal provenientes de diferentes países, reconhecidas personalidades, políticos e estudiosos.

O simpósio visou a recolher testemunhos e documentos sobre a vida e as actividades dos antigos presos políticos para formar um acervo histórico e museológico sobre aquele campo de concentração. (...)

sábado, 2 de maio de 2009

Guiné 63/74 – P4275: Tugas - Quem é quem (4): João Bacar Jaló (1929-1971) (Magalhães Ribeiro)

Já muito se disse no blogue sobre um dos maiores Heróis da Guerra na Guiné, o Capitão Graduado João Bacar Jaló (JBJ), Comandante da 1ª Companhia de Comandos Africanos (1970/71).







No entanto, creio que o documento que hoje aqui anexo (cuja única indicação é que é uma publicação do SPEME - Serviços de Propaganda do Estado Maior do Exército, Bissau, Junho de 1971), onde se apresenta uma sua pequena biografia, ajudará, com certeza, a complementar o nosso conhecimento daquele homem, que serviu exemplarmente mais de 22 anos o nome de Portugal e o Exército Português, tendo falecido em combate, em 16 de Abril de 1971.

Gostava de fazer um apelo a quem melhor conheça o modo como ele morreu, para que nos ajude a esclarecer se o que me contaram é verdade, e que é a seguinte: O JBJ quando saía para uma missão levava, habitualmente, várias granadas presas no suspensório ao nível do peito. Nesse dia 16 de Abril, tal como diz na brochura, ele acorria em socorro de um dos seus homens feridos, progredindo em sua direcção e, ao passar sob uma árvorezita, um dos seus galhos engatou-se numa das argolas das granadas, acabando por a despoletar.

Ao aperceber-se do clique da espoleta da granada, e da eminente explosão da mesma, o JBJ gritou para os homens que o rodeavam: - CUIDADO! – tendo-se lançado de imediato para o solo e tentado abafar sob o seu corpo a consequente explosão.

Mais me contaram que todas as outras granadas que ele transportava, explodiram também por “simpatia”, tendo-lhe mutilado horrivelmente o corpo.

Será esta a Verdade?

Na foto de Jorge Caiano (Post P3879), podemos ver o malogrado JBJ, em Fá Maninga, em 1970, no dia do juramento de bandeira da 1ª Companhia de Comandos Africanos. É o 5º homem de pé, na segunda fila, da esquerda para a direita.

Na foto à esquerda (Post 2569), JBJ em Catió, em 1967, ainda Tenente de 2ª linha (a que fora promovido por distinção em 1965) .

Foto e legenda: © Benito Neves, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67). Direitos reservados.

.

Nesta foto (à direita) de Abril de 2006, do Virgínio Briote (Post 2569) vê-se a lápide funerária de JBJ no Cemitério em Bissau.

Reprodução de um folheto, datado de 1971, da responsabilidade do SPEME - Serviços de Propaganda do Estado Maior do Exército, CTIG, Bissau, Junho de 1971 (pp. 9-13):










Magalhães Ribeiro,

Ex-Fur Mil Op Esp/RANGER, Mansoa, 1974. 

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 Notas de MR:

Ver artigos de:

20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2569: Tugas - Quem é quem (3): João Bacar Djaló (1929/71) (Virgínio Briote)

10 de Dezembro de 2007> Guiné 63/74 - P2340: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (5) - Parte IV: Pami e Malan são feitos prisioneiros (Mário Fitas) 

 4 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2239: Tugas - Quem é quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73) 

 23 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2207: Tugas - Quem é quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril 

 Ver também: 20 de Maio de 2007> Guiné 63/74 - P1769: Estórias do Gabu (4): O Capitão Comando João Bacar Jaló pondo em sentido um major de operações (Tino Neves) 

 8 de Fevereiro de 2007> Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha 

 30 de Maio de 2006> Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes) 

31 de Maio de 2006> Guiné 63/74 - DCCCXXVII: A 'legenda' do capitão comando Bacar Jaló (João Tunes) 

11 de Junho de 2005>  Guiné 63/74 - P103: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

1. Mensagem, com data de 16 de Fevereiro último, de Manuel Maia (*), ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), a quem já chamámos, meio a sério, meio a brincar, o Camões do Cantanhez , o bardo de Cafal Balanta (*)


HISTÓRIA DE PORTUGAL EM SEXTILHAS


Agora que se aponta para uma Europa una, de nacionalismos esbatidos, uma Europa desprovida de fronteiras,onde o tempo de forma inexorável dita as suas leis propiciando o esquecimento desta panóplia de culturas - enxamear de povos onde as diferenças por que se bateram tantos dos nossos avoengos poderão vir a ser ignoradas - creio ser justo trazer à liça algo da chamada "História do passado" em que se enaltece a importância do papel individual, se referenciam batalhas (episódios marcantes desses nacionalismos), se descrevem factos isolados,sem denotar preocupações de cariz conjuntural.

A forma encontrada,numa poesia onde a sextilha foi a aposta, procura num tom despretensioso relembrar feitos relevantes de figuras prenhes de prestígio,que por mérito próprio souberam alcandorar-se a um lugar de destaque no seio deste povo a caminho da nona centúria.

Trata-se de uma forma diferente de abordagem da História, utilizando a rima como veículo de apoio ou, se quisermos, aproveitando toda a musicalidade da poesia, aflorar o passado num balizamento que vai da ancestralidade até ao último quartel do século XX.

São duas as faixas de leitores a atingir;

(i) O universo escolar,num posicionamento de apoio ao manual escolhido,
possibilitando ainda ao docente - através de pequenos pormenores evocadores -
o situar no tempo de determinados factos rememorizadores do enquadramento pretendida;

(ii) E o indivíduo,com hábitos de leitura, ou não, que frequentou a escola primária no período anterior à revolução abrilina, incapaz de resistir à nosltalgia desse período epocal, podendo ainda neste item englobar as largas centenas de milhar na diáspora para os quais,estou certo,a linguagem simples será factor primordial de acessibilidade.

O Autor: Manuel Maia



1 - D´Iberos pelos Celtas invadidos
resultam Celtiberos já fundidos,
gerando os lusos genes que hoje herdamos.
Depois Alanos, Vândalos, Suevos,
Romanos, Godos ´inda outros coevos,
com Mouros, mesclam sangue que ostentamos.


2 -Na tribo lusitana resistente,
que ao invasor romano fará frente,
um nome sobressai entre os demais.
Das armas, Viriato, um amador,
até então não mais do que pastor,
destroça afamados generais.


3 -Pretor Vetílio, Fábio Emiliano,
Nigídio, Lélio, até Serviliano,
caíram derrotados, perdedores.
Mais tarde Roma envia Cipião
que usa como arma a vil traição,
morrendo o luso às mãos de embaixadores.


4 -Sertório Quinto, general romano,
tornou-se um dia chefe lusitano,
gigante a combater as legiões.
Tal como em tempos idos,Viriato,
foi alvo de hediondo assassinato,
dinheiro de Perpena fez traições...


5 -De Munho e Ouruana, a sorte quiz
nascesse em Ribadouro, Egas Moniz,
da corte um rico-homem, mui sagaz.
Por Britiande em Lamecenses terras,
prepara infante Afonso para as guerras
que a vida a um rei ousado sempre traz...


6 -Mercê do seu empenho e honradez,
logrou o fim dum cerco, certa vez,
a Guimarães vergada ante invasor.
Infante à vassalagem condenado,
Moniz, de fiador fica obrigado,
falhou promessa Afonso, incumpridor.


7 -De corda no pescoço e pé descalço,
tal como um condenado ao cadafalso,
partiu Egas Moniz para Toledo.
Palavra foi penhor de homem honesto,
família solidária com seu gesto,
disposta a dar a vida vai sem medo.


8 -Sensível à grandeza de atitude,
responde com a mesma magnitude
Afonso que é monarca de Leão.
Recusa o sacrifício,um acto nobre,
faceta de humanista que descobre
a força enorme que há num coração...


9 -D' Henrique e Teresa, Afonso foi gerado,
e em seus hercúleos ombros sustentado
o reino, Portugal, que impõe respeito
às c´roas de Castela e da Moirama,
na ponta de uma espada que reclama:
"P´ros povos, liberdade é um direito!"...


10 -Em S. Mamede vence a mãe,Teresa,
Cerneja com Leão deu-lhe a certeza
que Ourique contra Mouros confirmou:
Fadado foi p´ra rei por ser audaz!
Vencendo em Valdevez vai selar paz,
com Leoneses donde se soltou...


11 -Com Vico a rubricar (um cardeal)
acordo feito sob ordem Papal,
de mil cento e quarenta e três datado.
Zamora foi o palco escolhido,
e ali p´las duas partes é assumido
que passe a reino o que era só condado.


12 -Forais a muitas terras concedidos,
vantagens, privilégios repetidos,
dão a argamassa ao reino, as suas bases...
Religiosas Ordens e Cruzados
nas lutas contra os Mouros são usados,
pretextos pela Fé, bem eficazes.


13-Ao Papa é vassalagem prometida.
Quatro onças foi a tença exigida
p´ro fausto alimentar na Santa Igreja.
Presúrias são criadas p´ra defesa
de terras que à moirama em luta acesa,
se ganham com peleja após peleja...


14-Defesa e crescimento, uma constante
em prol do reino, sempre a todo o instante,
motivação do nosso fundador.
Coimbra tem o corpo sepultado
daquele agora aqui tão evocado,
Afonso Henriques, rei "Conquistador".


15-Da corte já arredio, ex-cavaleiro,
homiziado, agora bandoleiro,
"Geraldo Sem Pavor", arrependido.
P´ra resgatar as culpas do passado,
assalta, noite adentro, acto arrojado,
"Yeborah", mourisca, decidido.


16-Surpresa e rapidez na ousadia
de ataque a cada homem da vigia,
permitem franquear portas da entrada.
Tomando então cidade facilmente
Geraldo a entrega ao rei como presente
que dele o faz alcaide, de assentada...


17-D.Fuas foi de Afonso companheiro,
mui destro a cavalgar, bom marinheiro,
das duas artes granjeando fama.
De Porto-Mós, alcaide o fez el-rei
mais tarde o almirante -mor da grei
que destroçou galés da vil moirama.


18-Sitia Porto-Mós, Gamin o Mouro,
enraivecido, igual na arena, ao touro...
mas nessa noite azar lhe bate à porta.
Sabendo da incursão estando em Leiria,
D. Fuas acorreu com maestria,
de madrugada, ataque mouro aborta...


19-Desbaratando a tropa, os chefes prende,
Gamin, forçado, ali logo se rende
levado p´ra Coimbra, onde o rei mora.
D. Fuas por Afonso foi louvado,
além de enormemente agraciado,
p´lo acto cometido em boa hora...


20-Lisboa sofre ataque via mar,
galés mouriscas querem saquear
a urbe p´ros negócios atraente.
D. Fuas vai armar alguns navios
e ao largo do Espichel vence os gentios
ganhando a admiração de toda a gente.


21-De volta p´ra Lisboa amplia a frota
vogando, encontra Mouros que derrota,
em Ceuta, onde alguns barcos apresou.
Lisboa o vê chegar triunfalmente,
p´ro ver partir de novo, para sempre,
´smagada a frota lusa, se finou...


22-Gonçalo Mendes,velho Lidador,
de mil batalhas justo vencedor
cavalga a céu aberto o alazão.
Luzente cervilheira, duro arnez,
pesado lorigão, grande altivez,
o tronco erguido, a Toledana à mão.


23-Fronteiro foi de Beja,com valor,
noventa e cinco anos de vigor,
fidalgo a boa luta não renega.
Sabendo d´agarena posição
avança peito aberto p´ra misssão
ciente da vitória na refrega.


24-O mês é Julho, o sol abrasador,
um magrebino chefe é opositor
´stá em luta aberta a cruz e o crescente.
Astuto Almoleimar, chefe berbére,
alfange à cervilheira lhe desfere,
do golpe o velho luso se ressente.


25-Rasgada a carne o ombro esmiuçado,
ficou o Lidador muito abalado,
mas firme sem perder da luta o norte.
Avança qual cruzado contra o mal
cravando a Toledana no gorjal,
do mouro que se esvai até à morte.


26-De rubro sangue a terra está tingida,
centenas são os corpos já sem vida,
rasgados por espada ou azagaia.
Dois nomes entre todos são destaque,
o mouro Almoleimar, chefe de ataque,
e o velho Lidador, homem da Maia.



27-Seguindo o pai na saga aventureira,
tomou Alvor e Silves, Albufeira,
D. Sancho, novo rei, "Povoador".
Mas cedo irá mudar sua estratégia
devido à Moura concertação régia
que reconquista as terras de Almansor.


28-Tarefa passa a ser o povoar
da terra vasta com gente a minguar
que obriga a ser estrangeiro, um bom recurso.
Com bispos teve atritos importantes
mas tudo ficaria como dantes
co´a Igreja a dominar no seu percurso.


29-O fruto da união de Dulce e Sancho,
Afonso mui doente,um corpo ancho,
de lepra sofredor, sobreviveu.
À Santa Senhorinha é atribuída
a milagrosa cura então sentida
que o rei, erguendo templo, agradeceu.


30-Dos seis Afonsos, "Gordo" foi segundo,
nutrindo pelo reino amor profundo,
ao clero e nobres vai impor travão.
Fez lei para as desamortizações,
obriga a comprovar as doações,
mercê d´Inquirições feitas então.


31-Não tinha " O Gordo" o gosto pela espada,
visando antes ter "casa arrumada",
daí sua apetência administrativa.
Criou as Leis Gerais, ineditismo,
mostrou lá por Tolosa brilhantismo
na briga ao Infiel, mui positiva...


32-Seu filho, Sancho, ascende ao trono luso,
sujeito a mil pressões fica confuso
cedendo ao clero,às tias, à nobreza.
Mau grado as lutas mouras ter vencido,
poder real ficou enfraquecido,
no ar pairava a dúvida, a incerteza.


33-Notável na refrega, este monarca,
que o Alentejo logo todo abarca,
tomando aos Mouros Elvas, Juromenha,
depois Serpa, Aljustrel, Mértola, Moura,
rumando p´ro Algarve, "qual vassoura",
"limpeza" de Tavira logo engenha.


34-Raptada foi rainha a contragosto(?),
prostrado fica rei face ao desgosto,
sentiu monarca, fôra abandonado.
Estratégia irmão montara com o clero,
levando o Papa a impor golpe severo,
sofrido, viu seu trono ser cassado.


35-"Capelo" inseguro co´a nobreza,
lidando com o clero sem firmeza,
sofreu deste suprema humilhação.
Mostrando ter do Papa grande medo,
deposto foi enviado p´ra Toledo
p´ra lá viver sem digna condição.

Manuel Maia

[Fixação / revisão de texto: L.G.]
_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4087: Blogpoesia (33) : O bardo de Cafal Balanta (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4273: Recortes de imprensa (17): Engenhos explosivos do nosso tempo continuam a matar, desta vez na região de Mansabá (Nelson Herbert)

1. Engenhos exlosivos do tempo da guerra colonial, deixados no terreno pelas NT ou pelo PAIGC (minas, armadilhas, bombas...), continuam infelizmente a matar, quase meio século depois de se ter iniciado a luta armada...

(Nas fotos, do Xico Allen, tiradas em Sinchã Jobel, na região de Bafatá, em 22 de Abril de 2006, vemos bombas da Força Aérea Portuguesa que foram lançadas sobre a base do PAIGC, durante a guerra, e que não chegaram a explodir; na foto da esquerda, o nosso amigo e camarada A. Marques Lopes) (*).

É mais uma história trágica...Tivémos conhecimento desta notícia da Agência Lusa, através do nosso amigo, guineense, Nelson Herbert, correspondente de A Voz da América:


Bissau, 30 Abr (Lusa) - Um engenho explosivo da guerra colonial matou duas crianças e feriu gravemente dez pessoas na localidade de Djendú, a 80 quilómetros da capital da Guiné-Bissau, informou um responsável da aldeia situada nos arredores de Mansabá.

Citado pela rádio privada Galáxia de Pindjiguti, Malam Cissé informou que o engenho explodiu quarta-feira à tarde quando as crianças estavam a assar a castanha do caju e as mulheres na extracção do óleo de palma.

“As crianças assavam a castanha do caju, como fazem quase todos os dias, as mulheres estavam a extrair o óleo de palma, de repente há um estrondo enorme na aldeia. Foi uma tragédia. Uma menina morreu logo ali, a outra viria a falecer a caminho do hospital”, declarou Malam Cissé.

Este responsável pediu às autoridades centrais em Bissau que façam deslocar técnicos ao local para que possam vistoriar a aldeia.

“Temos medo. Quem sabe não haverá lá mais engenhos explosivos”, afirmou Cissé.
De acordo com este responsável, a ‘Tabanca’ (aldeia) de Djendú “está de luto” pela morte das duas crianças, mas também “apreensiva”, uma vez que dez pessoas foram atingidas pela explosão, encontrando-se internadas em diferentes hospitais do país.
“Só Deus sabe o que vai acontecer a essas pessoas”, declarou Malam Cissé, acrescentando que a população está com medo dos engenhos explosivos.

“Quem nos garante que podemos apanhar o nosso caju sem correr o risco de pisar numa bomba?”, questionou Malam Cissé, sublinhando que o engenho que explodiu estava na aldeia “há muitos anos”. MB.


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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXIII: Do Porto a Bissau (17): Finalmente entrámos em Sinchã Jobel (A. Marques Lopes)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4272: O Nosso Livro de Visitas (59): Em busca de Pami Na Dono, a guerrilheira (Branco Alves / Mário Fitas)

Cascais > 9 de Abril de 2009 > Comemorações da Batalha de La Lyz (Flandres, Bélgica, I Guerra Mundial, 9 de Abril de 1918) > "Embora tarde, não quero deixar de enviar as fotos referentes às comemorações da batalha de La Lyz no passado dia 9 em Cascais. Guarda de Honra e Guiões da Associação de Comandos, Liga dos Combatentes e Associação de GEs. O porta guião da Liga dos Combatentes, Orlando Rosa, pertenceu à C.CAÇ 1567, Guiné" (MF).

Cascais > 9 de Abril de 2009 > " Foto: o primeiro do lado direito é Mário Fitas, ex-Fur Op Esp, CCAÇ. 763, Cufar, tendo à sua direita Luciano Mourão, Presidente da Junta de Freguesia do Estoril que pertenceu à C.CAÇ 816 em Bissorã. Ao lado do Gen Chito Rodrigues, o dr. António Capucho, presidente da Câmara de Cascais, seguindo-se o Comandante Naval de Cascais" (MF)

Fotos (e legendas): © Mário Fitas (2009). Direitos reservados.



1. Mensagem de Branco Alves, com data de 27 de Abril:

Meus Caros Luís Graça & Camaradas da Guiné

Há alguns meses ao procurar a palavra GUINÉ, deparei casualmente com algo que desconhecia, ou seja, este admirável PONTO DE ENCONTRO dos ex-militares que de passagem por aquela TERRA se transformaram de adolescentes em homens numa rápida, dificil e desconhecida transição.

Tenho saboreado, por um lado com alguma tristeza mas por outro com um pouco de orgulho escondido, a generosidade da juventude daquele tempo que se entregou, dando a própria vida em muitos casos, e o esforço e dedicação em tudo o mais que lhe era exigido, com um esgar de esforço num momento breve para no seguinte irradiar a satisfação do sorriso no cumprimento da obrigação.

Algumas vezes viajo acompanhando os excelentes contadores de histórias no deambular das suas narrativas que tão sabiamente transmitem a sua vivência daquele tempo. OBRIGADO A TODOS ... e que apareçam muitos mais.

Tenho adquirido, sempre que possível, alguma literatura respeitante ao tema da GUINÉ BISSAU e acompanho com bastante preocupação o desenrolar sinuoso da vida daquele país; há algum tempo algumas publicações, referidas no blogue, chamaram a minha atenção, vou encontrando uma por outra, mas há uma delas que por mais voltas que tenha dado em livrarias que não consigo encontrá-la: Trata-se de Pami Na Dono, a Guerrilheira, de Mário Vicente Fitas.

Será possível encaminharem-me no sentido de obter essa publicação ? Agradeço e fico a aguardar a vossa informação, se assim o entenderem.

Bem, meus caros, certamente que perguntarão, e com bons motivos, quem é este pendura; pois estive na GUINÉ entre Fevereiro de 1970 a Janeiro de 1972 em EMPADA, BUBA e BISSAU, integrado na CART 2673, LEÕES DE EMPADA, como Alferes Miliciano e o meu nome é Branco Alves.

Um grande abraço para todos, Branco Alves.


2. Resposta do Mário Fitas, autor do livro em questão:

Caro Branco Alves,

É com imenso o gosto que te ofereço o livro Pami na Dondo, a Guerrilheira, basta dizeres para onde queres que o envie.

Antecipadamente chamo a atenção que o livro não é uma grande obra literária, mas sim um documento de grande valor para análise do que foi a Guerra na Guiné.

Fui Fur Mil de operações especiais, da CCAÇ 763, companhia em quadricula no sector de Cufar, um pouco abaixo de Empada.

A CCAÇ 763 fez a sua comissão toda em Cufar. Actuando desde Cufar a Cobumba e passando para o outro lado do Cumbijã: Camaiupa, Cachaque, Cabolol, Cobumba, Flaque Injã, Caboxanque, Cadique, Darsalame, cruzamento de Salancaur/Mejo, etc...as suas bolanhas, matas, pântanos e rios, foram itinerários das férias deste BANDO em terras da Guiné, por isso com alguma experiência (vivida).

Como o rio Cumbijã é bastante longo, envio um abraço do seu tamanho.

Mário Fitas


PAMI NA DONDO, A GUERRILHEIRA
Autor: Mário Vicente [Mário Fitas]
Prefácio: Carlos da Costa Campos, Cor
Capa: Filipa Barradas
Edição de autor
Impressão: Cercica, Estoril, 2005
Patrocínio da Junta de Freguesia do Estoril
Nº de páginas: 112

Advertência: Trata-se de uma obra de ficção, embora inspirada em factos reais, em especial na actuação da CCAÇ 763, os Lassas, que estiveram e viveram em Cufar, no sul da Guiné, nos anos de 1965 e 1966.

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Nota do Editor:

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4074: O Nosso Livro de Visitas (58): Carlos Ventura, ex-combatente da Guiné da CCAV 3406/BCAV 3854 (Nova Lamego, 1972/74)