1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen Pilav Res), enviou-nos hoje, dia 1 de Dezembro, a seguinte mensagem:
MIGs, MIRAGEs e miragens
Quando o pessoal da Tabanca se encontra à volta de uma mesa. logo as histórias e recordações brotam de imediato... a emboscada, a mina, os periquitos, as bajudas, as noites de confraternização, a G-3, a Kalash... e por aí fora.
E volta não volta vem à baila o tema dos MIGs.
Que tinham sido vistos aqui e acolá, certamente pilotados por cubanos, por pilotos da Guiné Conacri ou mesmo do PAIGC, treinados na Rússia, na Líbia ou em Paio Pires, blá, blá, blá...
Falou-se muito de hipotéticos voos sobre o nosso território e até houve quem os tivesse visto a sobrevoar Bissau.
A nós, pilotos, o assunto não nos podia deixar indiferentes. Não podíamos ser apanhados de surpresa, tínhamos que estudar as características do inimigo, ver onde eventualmente poderíamos ser mais fortes e colmatar os pontos mais fracos.
Lá concluímos que, a existirem, os aviões adversários deveriam ser uma das inúmeras variantes do MIG-17, de fabrico russo, de características semelhantes aos nossos F-86 e utilizados por praticamente todos os países sob influência da então URSS.
Na Base de Monte Real já tínhamos ensaiado combates ar-ar entre o F-86 (simulando o MIG) e o G-91, e rapidamente chegámos à conclusão que, a baixa altitude, um F-86 (de melhor manobrabilidade) facilmente abateria um G-91. A única maneira do G-91 sobreviver era furtar-se ao confronto.
Verificámos igualmente que os MIGs-17 ainda estavam a ser utilizados no Vietname e que tinham obtido algumas vitórias sobre caças americanos F-105, aeronaves muito mais modernas e sofisticadas.
O assunto era de tal modo sério que acabou por ser levado às instâncias superiores.
Como solução, a FAP propunha a compra imediata de novos aviões que substituíssem os G-91, a escolha recaía numa aeronave de fabrico francês, os MIRAGE, não por serem superiores aos aviões americanos da altura, mas porque a França era um dos poucos países que ainda nos vendia armamento (no caso dos AL-III até já não se comprava à unidade, era mais ao quilo).
Cabe aqui um parêntesis para esclarecer que uma “compra imediata de aviões” levaria no mínimo uns dois a três anos a ser concretizada. Como estávamos em 1970, teríamos MIRAGEs lá para o início de 1973.
No meio deste desconforto de nos podermos encontrar cara a cara com um MIG-17, o que nos tranquilizava era não haver qualquer confirmação fidedigna de que o país vizinho dispusesse de aviões daquele tipo.
Cá pela minha parte várias vezes fui incumbido de ir voar junto à fronteira, a ver se via algum, nunca os enxerguei.
E deixem-me dizer-vos “ainda bem”, porque tendo o péssimo hábito de fazer perguntas, uma vez calhei a perguntar aos meus superiores, o que deveria fazer caso os avistasse: abatê-los, assustá-los, pirar-me, assobiar para o lado, eventualmente cumprimentá-los ?
Resposta do meu superior, “depois logo se vê”, como se tal fosse possível, num minuto tudo estaria iniciado e concluído.
Se, por um lado, nunca tinha encontrado nenhum MIG, nem por isso as minhas buscas tinham sido sempre em vão, uma das vezes encontrei um avião grande à vertical de Bissorã, um DC-7, seguia de sul para norte, lá fiz a fatídica pergunta aos meus superiores “que fazer?”, quando a resposta chegou já o tipo tinha deixado a Guiné e entrado pelo Senegal adentro.
Era assim a guerra da altura, sem radar que nos indicasse os intrusos, qualquer avião, avioneta, helicóptero ou similar podia atravessar o espaço aéreo da Guiné sem que dele tivéssemos conhecimento, só um olhar ocasional poderia dar algum alerta…
E com a época seca então era um descanso, ninguém via nada, à excepção do pessoal de Aldeia Formosa, esses estavam sempre a ver OVNIs. Ao princípio ainda os tivemos em conta mas depois foi como a história do “Pedro e o Lobo”, fartos de lá ir e nada encontrar, deixámos de os ouvir.
Em conclusão, 500 missões pelos céus da Guiné, para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita e nunca vi nenhum MIG!!!
Passados todos estes anos e ao recordar o tema, penso que a história da ameaça dos MIGs foi demasiado empolada e resultou de um erro de julgamento por parte do Estado Maior (EM), erro iniciado a quando do caso do sobrevoo de Bissau, mal interpretado pelos analistas da altura. Senão vejamos:
Para situar o assunto, diz o Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso que o sobrevoo a Bissau dos MIG-17 se deu a 13 Fevereiro 1970, e que estes sobrevoaram igualmente a Base de Bissalanca. De acordo com os nossos estrategas, o significado da aparição deste avião era claro: “A FAP estava em inferioridade, pelo que foi decidido comprar em França uma bateria de mísseis Crotale e que um dos objectivos da missão Mar Verde fosse a destruição dos MIG-17”.
Dito e feito.
Interessante o raciocínio do EM de então, a FAP em inferioridade, em vez de se ir comprar o tal novo avião que a FAP já tinha pedido, que pudesse enfrentar os MIG, e/ou um radar que cobrisse o espaço aéreo da Guiné, resolverem antes comprar um brinquedo para o Exército.
Até porque, sem o dito radar, a identificação dos alvos continuava a ter que ser feita “a olho”, a ameaça com que os pilotos se debatiam, em vez de diminuir, aumentava...
Não só tínhamos que nos haver com as antiaéreas do IN como ainda passávamos a estar sujeitos a uma CROTALADA amiga, o nosso slogan de guerra estava cada vez mais actual: “Deus nos livre da antiaérea amiga, que da inimiga livramo-nos nós”! ... O meu amigo Pereira da Costa, artilheiro convicto, que me perdoe a “boca”.
Os Crotale foram efectivamente comprados mas só chegaram a Portugal já depois do fim da guerra.
Quanto aos MIRAGE, com um raio de acção capaz de facilmente atingir Conacri, ficámos a vê-los tipo miragem, lindos que eles eram, já me estava a ver no meio das aventuras do “Michel Tanguy e do Laverdure”.
No que respeita à busca e destruição dos MIGs, essas aeronaves necessitavam de uma pista com um comprimento relativamente grande (2,5 km), asfaltada, coisa que na vizinha Guiné apenas existia na capital, tudo o resto era curto e em terra batida.
A existirem eles teriam que estar estacionados em Conacri. No entanto, a quando da Operação Mar Verde, a busca pelo aeroporto acabou por se revelar um fracasso, nem rasto deles.
Constatava-se assim “in loco” que, ao contrário do que tinha sido assegurado pelo EM, na Guiné Conacri não havia MIGs.
Como explicar então o facto de terem sido vistos em Bissau?
No meu entender o caso tinha sido mal analisado pelos estrategas de serviço, antes de tirarem tão importantes conclusões deviam ter ido mais fundo, fazer mais perguntas: Eram MIGs os aviões que sobrevoaram Bissau? Quem os identificou como MIGs? A Guiné do Sekou Touré dispunha de aviões MIG-17?
Que tinham sido vistos aqui e acolá, certamente pilotados por cubanos, por pilotos da Guiné Conacri ou mesmo do PAIGC, treinados na Rússia, na Líbia ou em Paio Pires, blá, blá, blá...
Falou-se muito de hipotéticos voos sobre o nosso território e até houve quem os tivesse visto a sobrevoar Bissau.
A nós, pilotos, o assunto não nos podia deixar indiferentes. Não podíamos ser apanhados de surpresa, tínhamos que estudar as características do inimigo, ver onde eventualmente poderíamos ser mais fortes e colmatar os pontos mais fracos.
Lá concluímos que, a existirem, os aviões adversários deveriam ser uma das inúmeras variantes do MIG-17, de fabrico russo, de características semelhantes aos nossos F-86 e utilizados por praticamente todos os países sob influência da então URSS.
Na Base de Monte Real já tínhamos ensaiado combates ar-ar entre o F-86 (simulando o MIG) e o G-91, e rapidamente chegámos à conclusão que, a baixa altitude, um F-86 (de melhor manobrabilidade) facilmente abateria um G-91. A única maneira do G-91 sobreviver era furtar-se ao confronto.
Verificámos igualmente que os MIGs-17 ainda estavam a ser utilizados no Vietname e que tinham obtido algumas vitórias sobre caças americanos F-105, aeronaves muito mais modernas e sofisticadas.
O assunto era de tal modo sério que acabou por ser levado às instâncias superiores.
Como solução, a FAP propunha a compra imediata de novos aviões que substituíssem os G-91, a escolha recaía numa aeronave de fabrico francês, os MIRAGE, não por serem superiores aos aviões americanos da altura, mas porque a França era um dos poucos países que ainda nos vendia armamento (no caso dos AL-III até já não se comprava à unidade, era mais ao quilo).
Cabe aqui um parêntesis para esclarecer que uma “compra imediata de aviões” levaria no mínimo uns dois a três anos a ser concretizada. Como estávamos em 1970, teríamos MIRAGEs lá para o início de 1973.
No meio deste desconforto de nos podermos encontrar cara a cara com um MIG-17, o que nos tranquilizava era não haver qualquer confirmação fidedigna de que o país vizinho dispusesse de aviões daquele tipo.
Cá pela minha parte várias vezes fui incumbido de ir voar junto à fronteira, a ver se via algum, nunca os enxerguei.
E deixem-me dizer-vos “ainda bem”, porque tendo o péssimo hábito de fazer perguntas, uma vez calhei a perguntar aos meus superiores, o que deveria fazer caso os avistasse: abatê-los, assustá-los, pirar-me, assobiar para o lado, eventualmente cumprimentá-los ?
Resposta do meu superior, “depois logo se vê”, como se tal fosse possível, num minuto tudo estaria iniciado e concluído.
Se, por um lado, nunca tinha encontrado nenhum MIG, nem por isso as minhas buscas tinham sido sempre em vão, uma das vezes encontrei um avião grande à vertical de Bissorã, um DC-7, seguia de sul para norte, lá fiz a fatídica pergunta aos meus superiores “que fazer?”, quando a resposta chegou já o tipo tinha deixado a Guiné e entrado pelo Senegal adentro.
Era assim a guerra da altura, sem radar que nos indicasse os intrusos, qualquer avião, avioneta, helicóptero ou similar podia atravessar o espaço aéreo da Guiné sem que dele tivéssemos conhecimento, só um olhar ocasional poderia dar algum alerta…
E com a época seca então era um descanso, ninguém via nada, à excepção do pessoal de Aldeia Formosa, esses estavam sempre a ver OVNIs. Ao princípio ainda os tivemos em conta mas depois foi como a história do “Pedro e o Lobo”, fartos de lá ir e nada encontrar, deixámos de os ouvir.
Em conclusão, 500 missões pelos céus da Guiné, para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita e nunca vi nenhum MIG!!!
Passados todos estes anos e ao recordar o tema, penso que a história da ameaça dos MIGs foi demasiado empolada e resultou de um erro de julgamento por parte do Estado Maior (EM), erro iniciado a quando do caso do sobrevoo de Bissau, mal interpretado pelos analistas da altura. Senão vejamos:
Para situar o assunto, diz o Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso que o sobrevoo a Bissau dos MIG-17 se deu a 13 Fevereiro 1970, e que estes sobrevoaram igualmente a Base de Bissalanca. De acordo com os nossos estrategas, o significado da aparição deste avião era claro: “A FAP estava em inferioridade, pelo que foi decidido comprar em França uma bateria de mísseis Crotale e que um dos objectivos da missão Mar Verde fosse a destruição dos MIG-17”.
Dito e feito.
Interessante o raciocínio do EM de então, a FAP em inferioridade, em vez de se ir comprar o tal novo avião que a FAP já tinha pedido, que pudesse enfrentar os MIG, e/ou um radar que cobrisse o espaço aéreo da Guiné, resolverem antes comprar um brinquedo para o Exército.
Até porque, sem o dito radar, a identificação dos alvos continuava a ter que ser feita “a olho”, a ameaça com que os pilotos se debatiam, em vez de diminuir, aumentava...
Não só tínhamos que nos haver com as antiaéreas do IN como ainda passávamos a estar sujeitos a uma CROTALADA amiga, o nosso slogan de guerra estava cada vez mais actual: “Deus nos livre da antiaérea amiga, que da inimiga livramo-nos nós”! ... O meu amigo Pereira da Costa, artilheiro convicto, que me perdoe a “boca”.
Os Crotale foram efectivamente comprados mas só chegaram a Portugal já depois do fim da guerra.
Quanto aos MIRAGE, com um raio de acção capaz de facilmente atingir Conacri, ficámos a vê-los tipo miragem, lindos que eles eram, já me estava a ver no meio das aventuras do “Michel Tanguy e do Laverdure”.
No que respeita à busca e destruição dos MIGs, essas aeronaves necessitavam de uma pista com um comprimento relativamente grande (2,5 km), asfaltada, coisa que na vizinha Guiné apenas existia na capital, tudo o resto era curto e em terra batida.
A existirem eles teriam que estar estacionados em Conacri. No entanto, a quando da Operação Mar Verde, a busca pelo aeroporto acabou por se revelar um fracasso, nem rasto deles.
Constatava-se assim “in loco” que, ao contrário do que tinha sido assegurado pelo EM, na Guiné Conacri não havia MIGs.
Como explicar então o facto de terem sido vistos em Bissau?
No meu entender o caso tinha sido mal analisado pelos estrategas de serviço, antes de tirarem tão importantes conclusões deviam ter ido mais fundo, fazer mais perguntas: Eram MIGs os aviões que sobrevoaram Bissau? Quem os identificou como MIGs? A Guiné do Sekou Touré dispunha de aviões MIG-17?
Para perguntas simples, respostas simples... não... não dispunham!
Então a quem pertenciam aqueles 2 belos e gordos MIGs que, vindos do nada, tinham sobrevoado Bissau e desaparecido igualmente no meio do nada?
O mal dos nossos analistas era estarem sempre a olhar para o umbigo, leia-se Bula, Binar, Biambe... sem levantarem os olhos e verem o que se passava no mundo.
A guerra entre a Nigéria e o Biafra terminara há apenas uns dias, a Nigéria vencedora, mais de 1 milhão de mortos (não, não me enganei, 1.000.000).
Nas forças que apoiavam a Nigéria existiam cerca de 24 MIGs-17, de dono indefinido, pilotados por mercenários de vários países, Alemanha de Leste, Rússia, Reino Unido...
Duas hipóteses eram possíveis:
Como primeira hipótese a Nigéria poderia estar a querer oferecer os seus serviços, pouco provável naquele momento, o próprio Sekou Touré não se sentia muito seguro com os seus vizinhos.
Então a quem pertenciam aqueles 2 belos e gordos MIGs que, vindos do nada, tinham sobrevoado Bissau e desaparecido igualmente no meio do nada?
O mal dos nossos analistas era estarem sempre a olhar para o umbigo, leia-se Bula, Binar, Biambe... sem levantarem os olhos e verem o que se passava no mundo.
A guerra entre a Nigéria e o Biafra terminara há apenas uns dias, a Nigéria vencedora, mais de 1 milhão de mortos (não, não me enganei, 1.000.000).
Nas forças que apoiavam a Nigéria existiam cerca de 24 MIGs-17, de dono indefinido, pilotados por mercenários de vários países, Alemanha de Leste, Rússia, Reino Unido...
Duas hipóteses eram possíveis:
Como primeira hipótese a Nigéria poderia estar a querer oferecer os seus serviços, pouco provável naquele momento, o próprio Sekou Touré não se sentia muito seguro com os seus vizinhos.
Como segunda hipótese, a guerra terminada e pagamentos recebidos, os mercenários tinham de regressar aos seus locais de origem, o sobrevoo da nossa Guiné ficava nas suas rotas, porque em África e dado que os GPSs ainda não tinham sido inventados, uma maneira fácil de navegar era ao longo da costa.
Combustível a escassear, a vontade de aterrar em Bissalanca deve ter sido enorme, só que Portugal tinha apoiado o Biafra, se aterrassem ficavam com os aviões apreendidos, era preferível continuar até Dakar onde, por um punhado de dólares, podiam reabastecer e seguir viagem, eventualmente para Marrocos ou Argélia, países com aviões semelhantes.
Acham estranho? Eu não acho, ainda que me possam acusar de especulação.
Durante a guerra os aviões para a Nigéria passavam em Dakar, os que se destinavam ao Biafra aterravam em Bissau.
Até tínhamos na Base uma prova deste intercâmbio de aviões, um Gloster Meteor que um piloto a caminho do Biafra e por razões desconhecidas resolveu abandonar na BA-12.
E quantos T-6 tinham passado pela Bissalanca? 5? 10? 50? Não foi Portugal um dos principais apoiantes do Biafra?
Não posso terminar esta história sem voltar a falar dos MIRAGE.
E dar o braço a torcer, sempre a dizer mal dos nossos estrategas e afinal eles sempre acabaram por dizer que nós, os Aéreos, precisávamos dos tais aviões.
Aconteceu quando a Guiné ficou infestada de STRELAs. Só que aqui as coisas passaram-se de um modo um pouco diferente.
Para os MIGs, que acabaram por não aparecer, andámo-nos a preparar ao longo de inúmeros meses, sabíamos como enfrentá-los!! Para os STRELAs... nem sabíamos o que aquilo era... ninguém nos avisou!!!
E foi assim que, de surpresa em surpresa, em poucos dias perdemos cinco aeronaves e quatro pilotos!!!
Passado o choque inicial e identificado finalmente o tipo de arma que nos atacava, o nosso pedido era simples, só queríamos que substituíssem as 4 obsoletas metralhadoras do G-91 por 2 canhões de tipo semelhante ao do AL-III, bastava mudar os painéis laterais do armamento.
E até havia um modelo de G-91, o R-3 (o nosso era modelo R-4), que tinha os ditos
painéis.
Que não senhor, MIRAGEs é que era!!!
Imaginem só, nós a pedirmos um pãozito e eles a quererem dar-nos lagosta e caviar.
No final ficámos sem comer nada.
OK, sem nada também não é verdade, lá estou eu a ser torcido, no final lá conseguimos receber os tais G-91 R-3 com os painéis e os canhões em vez das metralhadoras...
Só que entretanto já estávamos em 1976!!!
Hoje em dia tudo é diferente. Na área operacional a tecnologia actual permite que um avião à vertical de Bissau possa facilmente abater um outro que esteja a passar por Bafatá, nem precisa de o ver, o radar faz todo o trabalho.
No que refere a ataques ao solo, lá dos seus 7.000 metros de altitude um piloto consegue ver o “mau da fita” a fazer pipi atrás de uma árvore, uma bomba largada da aeronave irá cair exactamente aos seus pés, ainda o apanha de calças na mão.
E é por causa de toda esta tecnologia que nenhum piloto vai para o ar sem conhecer as suas ROEs (Rules of Engagement), saber exactamente o que pode e não pode fazer.
Já na área do planeamento estratégico os problemas complexos continuam, como antigamente, a ter quatro tipos de soluções: A boa, a má, a que não lembra ao... e a de Estado Maior.
Um abraço,
António Martins de Matos
Ten Pilav da BA12
__________
Nota de M.R.: Vd. último poste desta série em:
7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7097: FAP (55): Fuzileiro por um dia (António Martins de Matos)
Combustível a escassear, a vontade de aterrar em Bissalanca deve ter sido enorme, só que Portugal tinha apoiado o Biafra, se aterrassem ficavam com os aviões apreendidos, era preferível continuar até Dakar onde, por um punhado de dólares, podiam reabastecer e seguir viagem, eventualmente para Marrocos ou Argélia, países com aviões semelhantes.
Acham estranho? Eu não acho, ainda que me possam acusar de especulação.
Durante a guerra os aviões para a Nigéria passavam em Dakar, os que se destinavam ao Biafra aterravam em Bissau.
Até tínhamos na Base uma prova deste intercâmbio de aviões, um Gloster Meteor que um piloto a caminho do Biafra e por razões desconhecidas resolveu abandonar na BA-12.
E quantos T-6 tinham passado pela Bissalanca? 5? 10? 50? Não foi Portugal um dos principais apoiantes do Biafra?
Não posso terminar esta história sem voltar a falar dos MIRAGE.
E dar o braço a torcer, sempre a dizer mal dos nossos estrategas e afinal eles sempre acabaram por dizer que nós, os Aéreos, precisávamos dos tais aviões.
Aconteceu quando a Guiné ficou infestada de STRELAs. Só que aqui as coisas passaram-se de um modo um pouco diferente.
Para os MIGs, que acabaram por não aparecer, andámo-nos a preparar ao longo de inúmeros meses, sabíamos como enfrentá-los!! Para os STRELAs... nem sabíamos o que aquilo era... ninguém nos avisou!!!
E foi assim que, de surpresa em surpresa, em poucos dias perdemos cinco aeronaves e quatro pilotos!!!
Passado o choque inicial e identificado finalmente o tipo de arma que nos atacava, o nosso pedido era simples, só queríamos que substituíssem as 4 obsoletas metralhadoras do G-91 por 2 canhões de tipo semelhante ao do AL-III, bastava mudar os painéis laterais do armamento.
E até havia um modelo de G-91, o R-3 (o nosso era modelo R-4), que tinha os ditos
painéis.
Que não senhor, MIRAGEs é que era!!!
Imaginem só, nós a pedirmos um pãozito e eles a quererem dar-nos lagosta e caviar.
No final ficámos sem comer nada.
OK, sem nada também não é verdade, lá estou eu a ser torcido, no final lá conseguimos receber os tais G-91 R-3 com os painéis e os canhões em vez das metralhadoras...
Só que entretanto já estávamos em 1976!!!
Hoje em dia tudo é diferente. Na área operacional a tecnologia actual permite que um avião à vertical de Bissau possa facilmente abater um outro que esteja a passar por Bafatá, nem precisa de o ver, o radar faz todo o trabalho.
No que refere a ataques ao solo, lá dos seus 7.000 metros de altitude um piloto consegue ver o “mau da fita” a fazer pipi atrás de uma árvore, uma bomba largada da aeronave irá cair exactamente aos seus pés, ainda o apanha de calças na mão.
E é por causa de toda esta tecnologia que nenhum piloto vai para o ar sem conhecer as suas ROEs (Rules of Engagement), saber exactamente o que pode e não pode fazer.
Já na área do planeamento estratégico os problemas complexos continuam, como antigamente, a ter quatro tipos de soluções: A boa, a má, a que não lembra ao... e a de Estado Maior.
Um abraço,
António Martins de Matos
Ten Pilav da BA12
__________
Nota de M.R.: Vd. último poste desta série em:
7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7097: FAP (55): Fuzileiro por um dia (António Martins de Matos)