quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 – P7366: FAP (56): MIGs, MIRAGEs e miragens (António Martins de Matos)



1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen Pilav Res), enviou-nos hoje, dia 1 de Dezembro, a seguinte mensagem:



MIGs, MIRAGEs e miragens

Quando o pessoal da Tabanca se encontra à volta de uma mesa. logo as histórias e recordações brotam de imediato... a emboscada, a mina, os periquitos, as bajudas, as noites de confraternização, a G-3, a Kalash... e por aí fora.
E volta não volta vem à baila o tema dos MIGs.

Que tinham sido vistos aqui e acolá, certamente pilotados por cubanos, por pilotos da Guiné Conacri ou mesmo do PAIGC, treinados na Rússia, na Líbia ou em Paio Pires, blá, blá, blá...

Falou-se muito de hipotéticos voos sobre o nosso território e até houve quem os tivesse visto a sobrevoar Bissau.

A nós, pilotos, o assunto não nos podia deixar indiferentes. Não podíamos ser apanhados de surpresa, tínhamos que estudar as características do inimigo, ver onde eventualmente poderíamos ser mais fortes e colmatar os pontos mais fracos.

Lá concluímos que, a existirem, os aviões adversários deveriam ser uma das inúmeras variantes do MIG-17, de fabrico russo, de características semelhantes aos nossos F-86 e utilizados por praticamente todos os países sob influência da então URSS.

Na Base de Monte Real já tínhamos ensaiado combates ar-ar entre o F-86 (simulando o MIG) e o G-91, e rapidamente chegámos à conclusão que, a baixa altitude, um F-86 (de melhor manobrabilidade) facilmente abateria um G-91. A única maneira do G-91 sobreviver era furtar-se ao confronto.

Verificámos igualmente que os MIGs-17 ainda estavam a ser utilizados no Vietname e que tinham obtido algumas vitórias sobre caças americanos F-105, aeronaves muito mais modernas e sofisticadas.

O assunto era de tal modo sério que acabou por ser levado às instâncias superiores.

Como solução, a FAP propunha a compra imediata de novos aviões que substituíssem os G-91, a escolha recaía numa aeronave de fabrico francês, os MIRAGE, não por serem superiores aos aviões americanos da altura, mas porque a França era um dos poucos países que ainda nos vendia armamento (no caso dos AL-III até já não se comprava à unidade, era mais ao quilo).

Cabe aqui um parêntesis para esclarecer que uma “compra imediata de aviões” levaria no mínimo uns dois a três anos a ser concretizada. Como estávamos em 1970, teríamos MIRAGEs lá para o início de 1973.

No meio deste desconforto de nos podermos encontrar cara a cara com um MIG-17, o que nos tranquilizava era não haver qualquer confirmação fidedigna de que o país vizinho dispusesse de aviões daquele tipo.

Cá pela minha parte várias vezes fui incumbido de ir voar junto à fronteira, a ver se via algum, nunca os enxerguei.

E deixem-me dizer-vos “ainda bem”, porque tendo o péssimo hábito de fazer perguntas, uma vez calhei a perguntar aos meus superiores, o que deveria fazer caso os avistasse: abatê-los, assustá-los, pirar-me, assobiar para o lado, eventualmente cumprimentá-los ?

Resposta do meu superior, “depois logo se vê”, como se tal fosse possível, num minuto tudo estaria iniciado e concluído.

Se, por um lado, nunca tinha encontrado nenhum MIG, nem por isso as minhas buscas tinham sido sempre em vão, uma das vezes encontrei um avião grande à vertical de Bissorã, um DC-7, seguia de sul para norte, lá fiz a fatídica pergunta aos meus superiores “que fazer?”, quando a resposta chegou já o tipo tinha deixado a Guiné e entrado pelo Senegal adentro.

Era assim a guerra da altura, sem radar que nos indicasse os intrusos, qualquer avião, avioneta, helicóptero ou similar podia atravessar o espaço aéreo da Guiné sem que dele tivéssemos conhecimento, só um olhar ocasional poderia dar algum alerta…

E com a época seca então era um descanso, ninguém via nada, à excepção do pessoal de Aldeia Formosa, esses estavam sempre a ver OVNIs. Ao princípio ainda os tivemos em conta mas depois foi como a história do “Pedro e o Lobo”, fartos de lá ir e nada encontrar, deixámos de os ouvir.

Em conclusão, 500 missões pelos céus da Guiné, para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita e nunca vi nenhum MIG!!!

Passados todos estes anos e ao recordar o tema, penso que a história da ameaça dos MIGs foi demasiado empolada e resultou de um erro de julgamento por parte do Estado Maior (EM), erro iniciado a quando do caso do sobrevoo de Bissau, mal interpretado pelos analistas da altura. Senão vejamos:

Para situar o assunto, diz o Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso que o sobrevoo a Bissau dos MIG-17 se deu a 13 Fevereiro 1970, e que estes sobrevoaram igualmente a Base de Bissalanca. De acordo com os nossos estrategas, o significado da aparição deste avião era claro: “A FAP estava em inferioridade, pelo que foi decidido comprar em França uma bateria de mísseis Crotale e que um dos objectivos da missão Mar Verde fosse a destruição dos MIG-17”.

Dito e feito.

Interessante o raciocínio do EM de então, a FAP em inferioridade, em vez de se ir comprar o tal novo avião que a FAP já tinha pedido, que pudesse enfrentar os MIG, e/ou um radar que cobrisse o espaço aéreo da Guiné, resolverem antes comprar um brinquedo para o Exército.

Até porque, sem o dito radar, a identificação dos alvos continuava a ter que ser feita “a olho”, a ameaça com que os pilotos se debatiam, em vez de diminuir, aumentava...

Não só tínhamos que nos haver com as antiaéreas do IN como ainda passávamos a estar sujeitos a uma CROTALADA amiga, o nosso slogan de guerra estava cada vez mais actual: “Deus nos livre da antiaérea amiga, que da inimiga livramo-nos nós”! ... O meu amigo Pereira da Costa, artilheiro convicto, que me perdoe a “boca”.

Os Crotale foram efectivamente comprados mas só chegaram a Portugal já depois do fim da guerra.

Quanto aos MIRAGE, com um raio de acção capaz de facilmente atingir Conacri, ficámos a vê-los tipo miragem, lindos que eles eram, já me estava a ver no meio das aventuras do “Michel Tanguy e do Laverdure”.

No que respeita à busca e destruição dos MIGs, essas aeronaves necessitavam de uma pista com um comprimento relativamente grande (2,5 km), asfaltada, coisa que na vizinha Guiné apenas existia na capital, tudo o resto era curto e em terra batida.

A existirem eles teriam que estar estacionados em Conacri. No entanto, a quando da Operação Mar Verde, a busca pelo aeroporto acabou por se revelar um fracasso, nem rasto deles.

Constatava-se assim “in loco” que, ao contrário do que tinha sido assegurado pelo EM, na Guiné Conacri não havia MIGs.

Como explicar então o facto de terem sido vistos em Bissau?

No meu entender o caso tinha sido mal analisado pelos estrategas de serviço, antes de tirarem tão importantes conclusões deviam ter ido mais fundo, fazer mais perguntas: Eram MIGs os aviões que sobrevoaram Bissau? Quem os identificou como MIGs? A Guiné do Sekou Touré dispunha de aviões MIG-17?
Para perguntas simples, respostas simples... não... não dispunham!

Então a quem pertenciam aqueles 2 belos e gordos MIGs que, vindos do nada, tinham sobrevoado Bissau e desaparecido igualmente no meio do nada?

O mal dos nossos analistas era estarem sempre a olhar para o umbigo, leia-se Bula, Binar, Biambe... sem levantarem os olhos e verem o que se passava no mundo.

A guerra entre a Nigéria e o Biafra terminara há apenas uns dias, a Nigéria vencedora, mais de 1 milhão de mortos (não, não me enganei, 1.000.000).

Nas forças que apoiavam a Nigéria existiam cerca de 24 MIGs-17, de dono indefinido, pilotados por mercenários de vários países, Alemanha de Leste, Rússia, Reino Unido...

Duas hipóteses eram possíveis:

Como primeira hipótese a Nigéria poderia estar a querer oferecer os seus serviços, pouco provável naquele momento, o próprio Sekou Touré não se sentia muito seguro com os seus vizinhos.
Como segunda hipótese, a guerra terminada e pagamentos recebidos, os mercenários tinham de regressar aos seus locais de origem, o sobrevoo da nossa Guiné ficava nas suas rotas, porque em África e dado que os GPSs ainda não tinham sido inventados, uma maneira fácil de navegar era ao longo da costa.

Combustível a escassear, a vontade de aterrar em Bissalanca deve ter sido enorme, só que Portugal tinha apoiado o Biafra, se aterrassem ficavam com os aviões apreendidos, era preferível continuar até Dakar onde, por um punhado de dólares, podiam reabastecer e seguir viagem, eventualmente para Marrocos ou Argélia, países com aviões semelhantes.

Acham estranho? Eu não acho, ainda que me possam acusar de especulação.

Durante a guerra os aviões para a Nigéria passavam em Dakar, os que se destinavam ao Biafra aterravam em Bissau.

Até tínhamos na Base uma prova deste intercâmbio de aviões, um Gloster Meteor que um piloto a caminho do Biafra e por razões desconhecidas resolveu abandonar na BA-12.

E quantos T-6 tinham passado pela Bissalanca? 5? 10? 50? Não foi Portugal um dos principais apoiantes do Biafra?

Não posso terminar esta história sem voltar a falar dos MIRAGE.

E dar o braço a torcer, sempre a dizer mal dos nossos estrategas e afinal eles sempre acabaram por dizer que nós, os Aéreos, precisávamos dos tais aviões.

Aconteceu quando a Guiné ficou infestada de STRELAs. Só que aqui as coisas passaram-se de um modo um pouco diferente.

Para os MIGs, que acabaram por não aparecer, andámo-nos a preparar ao longo de inúmeros meses, sabíamos como enfrentá-los!! Para os STRELAs... nem sabíamos o que aquilo era... ninguém nos avisou!!!

E foi assim que, de surpresa em surpresa, em poucos dias perdemos cinco aeronaves e quatro pilotos!!!

Passado o choque inicial e identificado finalmente o tipo de arma que nos atacava, o nosso pedido era simples, só queríamos que substituíssem as 4 obsoletas metralhadoras do G-91 por 2 canhões de tipo semelhante ao do AL-III, bastava mudar os painéis laterais do armamento.

E até havia um modelo de G-91, o R-3 (o nosso era modelo R-4), que tinha os ditos
painéis.

Que não senhor, MIRAGEs é que era!!!

Imaginem só, nós a pedirmos um pãozito e eles a quererem dar-nos lagosta e caviar.
No final ficámos sem comer nada.

OK, sem nada também não é verdade, lá estou eu a ser torcido, no final lá conseguimos receber os tais G-91 R-3 com os painéis e os canhões em vez das metralhadoras...
Só que entretanto já estávamos em 1976!!!

Hoje em dia tudo é diferente. Na área operacional a tecnologia actual permite que um avião à vertical de Bissau possa facilmente abater um outro que esteja a passar por Bafatá, nem precisa de o ver, o radar faz todo o trabalho.

No que refere a ataques ao solo, lá dos seus 7.000 metros de altitude um piloto consegue ver o “mau da fita” a fazer pipi atrás de uma árvore, uma bomba largada da aeronave irá cair exactamente aos seus pés, ainda o apanha de calças na mão.

E é por causa de toda esta tecnologia que nenhum piloto vai para o ar sem conhecer as suas ROEs (Rules of Engagement), saber exactamente o que pode e não pode fazer.

Já na área do planeamento estratégico os problemas complexos continuam, como antigamente, a ter quatro tipos de soluções: A boa, a má, a que não lembra ao... e a de Estado Maior.

Um abraço,
António Martins de Matos
Ten Pilav da BA12
__________

Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

7 de Outubro de 2010 >
Guiné 63/74 – P7097: FAP (55): Fuzileiro por um dia (António Martins de Matos)

Guiné 63/74 - P7365: Convívios (285): Novo Encontro da Tabanca da Linha (José Manuel Matos Dinis)



1. O nosso Camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2679,
Bajocunda, 1970/71), enviou-nos, em 30 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:
Novo Encontro da Tabanca da Linha
Camaradas,


Não venho com estórias, nem com polémicas sobre a crise, nem com ideias prosélitas para que votem em mim, antes, trago ao conhecimento geral a notícia sobre o próximo convívio da Magnífica Tabanca da Linha. E desta vez, vingativamente, em local a estrear, mais central, mais aconchegado, a ver se mais melhor. Trata-se do restaurante O INFANTE, na rua João Chagas, 53 - E, entre Algés e Linda-a-Velha, na antiga estrada para Carnaxide. Subindo de Algés, apresenta-se do lado esquerdo. Descendo (oh caraças, atrapalho-me sempre nas descidas...), o melhor é perguntarem.
Identificado o local, passo a pormenorizar o que se combinou com o Senhor Manuel, ex-pára, que atirou o presidente da câmara pela porta do avião, mas equipado de eficaz pára-quedas. Assim, de entradas foi proposto queijo (de ignorada proveniência), presunto (de Vinhais, para que não voltem de lá aos ais), alheira do mesmo sítio (que despertam a gula ao colesterol), e pataniscas (feitas a partir de bacalhau). Quem quiser, para não ser surpreendido, pode levar de casa uma ou mais marmitas, convenientemente llenas de boa petisqueira, que até pode proporcionar-se um concurso de paladares.
Activados com semelhante motor de arranque, passar-se-á aos pratos fortes, e cada um deverá indicar a sua preferência no acto de inscrição (não sejam melgas, têm que indicar a escolha):
1 - arroz de cabidela de galinha ou galo (se não for de aviário, será de Vinhais). Mas adianto, que o Sr. Miguel Pessoa já me gabou essa experiência.
2 - leitão feito no estabelecimento, e espero que alguém se pronuncie.
3 - posta, que não será mirandesa, tendo em conta o patente orgulho dos de Vinhais. Digo eu.
4 - entrecosto de vitela, talvez grelhado, talvez assado no forno, que a tanto não chegou a explicação.
5 - posta, a célebre posta, que enche a pança a todos quantos passam pela região transmontana.
Aqui chegados, espero que bem dispostos e com vontade de passar aos doces, é costume haver meia-dúzia de variedades, todos confeccionados lá, no local. Já não estou seguro, mas se alguém preferir fruta, pode ser que haja. Nesta parte, pedimos como qualquer outro cliente, e em concorrência directa.
Hoje, dia não-sei-quantos de Novembro, três esforçados voluntários, com destaque para o Comandante da Magnífica, deslocaram-se ao Infante, como quem não quer a coisa, no intuito óbvio de avaliar, quer a sala, quer as iguarias, quer o ambiente. O ambiente é que ficou na história, pois o nosso Comandante foi reconhecido por uma linda criatura natural do Cazembe, radiosa de simpatia, e que presta serviço às mesas. Linda a garota. Os outros dois voluntários, o Marques e eu, estupefactos e ciumentos, perguntávamos aos nossos botões onde é isso do Cazembe, que céu na terra ali tão bem representado?
Era já a parte do café que, com o vinho, ficam incluídos no preço estimado, até 20 aéreos.
Quanto à data, decidi democraticamente, e por delegação de poderes, será já no próximo dia dez - 10 de Dezembro, sexta-feira, pelas 12H00. As inscrições devem ser feitas até ao dia 7 anterior, não vá alguém espalhar-se até ao ano novo. Quanto às inscrições, podem fazê-las para mim (913 673 067) ou para o Marques (933 599 115). Por favor, não incomodem o Senhor Comandante.
Prontos, estamos de braços abertos à vossa espera, principalmente, esse homem do mundo que criou o blogue.
Abraços fraternos
JD
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7344: Convívios (201): 7º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves/Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P7364: Parabéns a você (180): Eng Agr Carlos Schwarz, Pepito para os amigos, fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento (Luís Graça, co-editores e restantes tabanqueiros / Miguel Pessoa / Zé Teixeira / Gilda Brás / António Estácio)

1. O cartoon (ele não gosta da palavra, prefere postal) é do nosso artista, Miguel Pessoa (MP), provavelmente o cartoonista mais strelado do mundo (antes de o ser, era... pilav, isto é,  costumava cruzar os céus da Guiné, no século passado, aos comandos de um Fiat G-91, até que no dia 25 de Março de 1973 atropelou um irã no cocuruto de um poilão, lá para os lados de Guileje; esta é, pelo menos, a história que ele há-de contar aos netos, quando chegar a vez dele de ser avô, e que seguramente é muito mais bonita e mágica do que aquela outra versão, mais prosaica, que corre por aí, segundo a qual a sua aeronave teria sido abatida por um míssil terra-ar SAM-7 Strela, de fabrico soviético, disparado por um tal Cab Fati, cujo patrão era um tal Manecas dos Santos, um tipo alteirão que andou a estudar no Instituto Superior Técnico, em Lisboa,  para ser engenheiro, e que poderia dar um grande basquetebolista se não tivesse nascido no sítio errado e, para mais, decidido pegar em armas contra os seus amigos tugas)...

Este cartoon (quer eu dizer, postal) foi feito por encomenda mas o Pepito (que não conhece o MP, mas que esteve há dias no Cacheu com o tal Manecas, de quem é amigo) vai adorar... É, de resto, uma das prendas que a nossa Tabanca Grande manda para o Bairro do Klélé, em Bissau, onde mora o nosso patriarca, com a sua família, a Isabel, as filhas, a neta e demais parentela, empregados, colaboradores  e amigos...

Eis o bilhetinho que o artista, MP,  me mandou: Luís, tenho dificuldade em fazer postais de pessoas com quem não me relaciono. Com o Pepito nunca tive essa oportunidade, por isso o postal que anexo é o melhor que consegui, apenas com a leitura de alguns textos... Um abraço. Miguel.

A prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabnca... é Grande, é o facto de ter sido o nosso amigo Pepito a dar-nos a notícia sobre o paradeiro do homem apontou o Strela ao Fiat G-91, pilotado pelo Ten Pilav Miguel Pessoa, na tarde do dia 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje: Luís: O Caba Fati faleceu durante a nossa guerra de 7 de Junho de 1998. Pepito. Recordo-me de logo a seguir reencaminhar o mail ao MP, com o lacónico (e com laivos de humor negro) comentário Miguel: Já não poderás apertar a mão (e muito menos dar um abraço) ao homem que te quis matar... Luís. Mais uma vez, o MP foi, na sua resposta, de uma elegância e humor admiráveis...

Mas vamos às outras prendas,  o testemunho de alguns dos seus amigos da Tabanca Grande,  a quem eu pedi um palavrinha, bonita, para a ocasião... Desta vez não improvisámos... tanto!

Recorde-se que o ano passado, em 1/12/2009,  o aniversário (os 60 anos!!!) Pepito correram o risco de ficarem em branco, no nosso blogue... Fomos alertados para o lapso pelo nosso camarigo Jo(a)quim Mexia Alves, mesmo em cima do acontecimento:

Meus camarigos editores: Acho estranho o Carlos Schwarz (Pepito) fazer hoje anos e não haver o correspondente texto de parabéns! Ou estou eu enganado? Ou haverá outras razões? Não conheço o camarigo mas será lapso ou estão de feriado como eu? É que se for isso acho muito bem! Abraço. Joaquim.

A resposta, meio-envergonhada, veio ao fim do dia, por minha parte: Joaquim: Só demos conta esta manhã... FOI A MINHA MULHER QUE ME ALERTOU; SOMOS AMIGOS DA FAMÍLIA... E depois demora fazer um poste como deve ser... Isto é para gente profissional, em tempo inteiro... Mas já está, no blogue, desde a hora do jantar... Tens que o conhecer, nas férias em Agosto, em São Martinho do Porto...  Obrigado pelo alerta. Luís.

Foi postado tarde e a más horas (às 19h, mesmo em cima do jantar em Bissau...), mas mesmo assim caprichámos, tentando fazer o nosso melhor (*)...

O ano passado trabalhei só com a prata da casa... para homenagear um homem que não foi nosso camarada (etimologicamente falando), mas é um grande amigo, membro da nossa Tabanca Grande desde finais de 2005. Desta vez, conto com o carinho e a amizade de alguns tabanqueiros muito especiais: o Zé Teixeira, o António Estácio,  a Gilda Pinho Brandão (hoje, Brás), estes dois últimos guineenses da diáspora... Sem esquecer este seu amigo, Luís, mais a Alice, a Joana e o João... (LG).

2. José Teixeira (O rosto mais visível, o líder da nossa Campanha de Angariação de Fundos para Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau):

Pepito:

Em cada dia que nasce,
ousas sonhar com um amanhã mais sorridente,
mesmo quando no horizonte
se apresenta carregado de escuras nuvens.

Acreditas mesmo que é possível a mudança.
Toda a tua forma de ser e estar na vida reflecte isso mesmo.
Tu provocas a mudança.
Avanças, desafias o futuro.
O futuro da tua terra,
que te habituaste a amar nas suas gentes,
cujos sonhos e anseios têm sido continuamente adiados.

Acreditas nas pessoas
e imprimes a confiança necessária
para que se sintam com vontade de agir.
As transformações vão acontecendo.

Tenho bem guardado na mente a visita
que fizemos juntos a Cabedú.
A forma como foste recebido.
A festa daquela dgenti da mato no mais profundo da Guiné,
por ter a partir daquele dia a água potável
que não viam por perto há trinta e cinco anos.
Quiseram a tua presença para inaugurar o fontanário.
Tinham sido aliciados por ti,
apoiados por ti via AD
e motivados por ti a seguirem em frente.

Agora quiseram a tua presença
para com eles entrares na sua festa.
A festa da esperança,
porque muita coisa ia mudar a partir daquele dia
em que tinham água ali mesmo,
na tabanca.
A forma como te pediram para arranjar as simenti
demonstrou bem como confiavam no Pepito.

Deixa-me contar-te um segredo.
Nesse dia, os nossos companheiros de jornada,
no Simpósio de Guiledje,
foram a uma romagem de saudade e turismo a Cacine.
Eu estava pronto para partir na barca quer os levou.
Quando soube que tu não ias,
preferi acompanhar-te a Cabedú.
Eu o Zé Carioca e outro Gringo de Guiledje,
cujo nome me escapa.
Não calculas como me senti feliz.
Logo ali, sentimos o grito das gentes de uma tabanca
que acreditava ser possível melhorar a sua forma de vida,
agora que tinham água.
Vi lágrimas nos olhos do Zé
e eu também chorei de emoção.

Logo ali pensamos que talvez pudéssemos dar uma ajudinha.
Regressados a Portugal,
 o Zé Carioca organizou a campanha de sementes.
Chegaram ao destino e deram fruto.
Provou-o o Carlos Silva no ano seguinte,
quando passou por lá.


Foi ali, naquele bocadinho de terra,
em plena mata do Cantanhez,
naquela gente humilde e analfabeta,
naquelas mulheres vestidas com o fato domingueiro,
que eu acordei para a realidade do povo guineense.
A mudança é possível
quando as pessoas querem
e usufruem dos meios e técnicas.
O Povo da Guiné,
aquela dgenti que eu conheci num ambiente de guerra.
Gente que durante anos conviveu com o fantasma da morte
na ponta de uma espingarda.
Gente a quem outrora foi prometido Uma Guiné melhor.
Gente que se cansou de ouvir slogans de mudança para melhor,
acabou por acreditar em si própria
e procurou fazer caminho.

Outras sementes se lançaram,
naquela linda tarde primaveril.
Ali nasceu a campanha
Sementes e água potável para A Guiné-Bissau.
Campanha que vai dando alguns frutos.

Neste dia em que comemoras mais uma primavera,
eu quero estar contigo,
num abraço de esperança.
O futuro a Deus pertence,
diz o ditado popular,
reflexo da sabedoria das gentes que nos antecederam.
Que o teu futuro seja longo e feliz,
na família que te ama,
nos muitos amigos que te admiram e estimam.

Até sempre, bom amigo.

Zé Teixeira
http://empada.no.comunidades.net/index.php

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]


3. António Estácio, nascido em Bissau, em 1947, no chão papel, de enxerto transmontano, escritor, sinólogo, amigo do Zé Neto, do Mário Dias, do Pepito e do Graça de Abreu, membro da nossa Tabanca Grande desde Maio passado, também fez questão de mandar uma palavrinha para o Pepito, seu amigo e condiscípulo do Liceu Honório Barreto (onde era professora a mãe do Pepito, a Dra. Clara Schwarz, que continua honrar o nosso blogue com a sua presença e com os 95 anos!)


Meu Caro Pepito:

Como vai longe o mês de Dezembro de 1963 quando, no nosso 5º ano do Liceu Honório Barreto, em Bissau e em casa dos teus pais, celebrámos o teu aniversário com um agradável convívio, animado pelo saudoso colega Armandinho Salvaterra que, para gáudio dos presentes, se não furtou a, meio desengonçado, brindar-nos com uns passos de merengue !...

Ao longo da décadas, foram os anos passando e,  ainda que o destino nos tivesse separado e, como no meu caso, levado para remotas paragens, jamais enfraqueceu a nossa amizade, a qual, direi que tonificada pela saudade, se robusteceu.

Nos últimos anos, ainda que por curto período, tenho tido o prazer de estar contigo e me aperceber da seriedade com que, em prol de camadas mais desfavorecidas da população da nossa terra,  acompanhas vários projectos que, através da tua ONG, puseste em prática e do entusiasmo que evidencias em implementar outros.

E se, entre nós, há datas que merecem ser recordadas destaco pela oportunidade a celebração do teu aniversário natalício que hoje, 1 de Dezembro, se assinala. Como tal, proveito a oportunidade que me é dada para te felicitar, desejando que, com saúde e motivação, contes muitos e eu a ver.

Recebe pois um abração do amigo que muito te estima e tanto te recorda.

António J. Estácio [, foto à direita]


4. Gilda Brás (guineense, de nome de solteira Gilda Pinho Brandão, uma órfã de guerra, que através do nosso blogue ganhou um novo país e uma nova família, um caso, de resto,  que muito sensibilizou e mobilizou os amigos e camaradas da Guiné reunidos nesta Tabanca Grande; membro da nossa Tabanca Grande desde 25 de Julho de 2007) (**)

Olá, Amigo Luís, tudo bem consigo? Por cá vamos indo com a graça do Criador.

Que dizer em relação ao nosso Amigo Pepito?  Tudo o que eu possa dizer é pouco para a dimensão do trabalho e do bem que ele tem feito pelos guineenses e não só, portanto, só lhe posso desejar um dia super feliz na companhia de todos que o amam e enviar-lhe um grande beijinho de parabéns com muita amizade e carinho.

Um grande beijinho para si também e um excelente fim-de-semana.
 








5. Luís Graça, Alice Carneiro, Joana Graça, João Graça (algures, em Havana, de férias):









Fonte:  Artur Augusto da Silva - Pequena viagem através de África: Conferência pronunciada em 1963 no Salão Nobre da Associação Comercial  da Guiné, no 46º Aniversário da sua fundação. Bissau: Novagráfica. 2009 (Ed. lit, Henrique Schwarz, João Schwarz e Carlos Schwarz), capa + pp.1-3. Cópia de exemplar oferecido por Clara Schwarz ao João Graça, há dois anos atrás...



Portugal > Grande Lisboa > Alfragide > Luís Graça, frente ao computador, explorando a velha carta (militar) com o mapa geral da então província portuguesa da Guiné (1961)... Por onde andará o seu amigo Pepito ?

Foto: © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados.




Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Klélé > Casa da família Schwarz > 5 de Dezembro de 2009 > O Pepito preparando-se para sacrificar... o queijinho de ovelha  que o João Graça lhe levou de Portugal... com o seu cheirinho tão característico... e que nas alfândegas se confunde com o chulezinho das sapatilhas embrulhadas em papel de jornal...

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados.


Querido Pepito: 

Temos o privilégio de te ter como amigo. Somos privilegiados por tu nos considerares como teus amigos. A amizade exige reciprocidade e sobretudo não deve ser tratada como coisa banal. É uma relação que implica direitos e deveres. Como todas as relações humanas positivas. É uma planta que precisa de ser regada. E adubada. 

Dito isto, cá estamos hoje para te desejar,  não a eternidade (o que seria um bico de obra  só para te poder acompanhar, e nós confessamos que não temos a tua pedalada), mas no mínimo muita saúde e longa vida, com qualidade de cinco estrelas, já que tu mereces tudo... 

Não vamos (por não podermos) estar aí, hoje,  na tua casa, no Bairro do Klélé, com a tua tribo. Fisicamente, falando. Mas estamos,  como o teu irã protector, a zelar por ti e a tua família, a torcer por ti, pela tua AD, pelos teus projectos, pelos teus colaboradores, pelas tuas gentes, no Klélé, no Cacheu, no Cantanhez, que tu ajudas a ganhar asas para voar, a dar autonomia para sair do círculo vicioso da pobreza, a materializar a esperança, a sonhar, a viver com dignidade e liberdade...

Não te imagino longe da tua Guiné, em Lisboa ou noutra cidade qualquer do dito 1º mundo, a gozar as delícias do sistema (era uma expressão, irónica, que eu, L.G., gostava de usar quando passei menos de dois meses em Contuboel, na tua Contuboel, então um "oásis de paz", entre Junho e Julho de 1969). Para além da família e dos amigos, Lisboa também é boa e tem algumas coisas boas, como os médicos, os nossos hospitais públicos, os pastéis de Belém, o queixo de ovelha, as amêijoas à Bulhão Pato e, claro, os Melech Mechaya... Mas a gente sabe que a tua raison d'être está aí, nessa terra que é tua, toda tua, de pleno direito  (e também um bocadinho nossa, por açúcar e por afecto). Claro que a gente gosta de te ver por cá, tanto quanto tu gostas de nos receber lá... 

Acabas de realizar mais um sonho, que foi o Festival Cultural Cacheu, Caminho de Escravos (que decorreu entre 18 a 25 de Novembro deste ano,  no quadro do projecto “O Percurso dos Quilombos: da África para o Brasil e o Regresso às Origens”).  Temos indicações que foi um sucesso, sob todos os pontos de vista...Que melhor prendas de anos o teu irã protector te poderia dar este ano,  diz-nos lá?!... Se estiveres com o teu sorriso de bom gigante, vamos interpretá-lo como um sinal de satisfação pela missão cumprida... Podes imaginar, por outro lado, ao tamanho da nossa pena por não podermos estar aí contigo e com a tua gente, num momento tão especial e histórico como terá sido esse... Hoje, dia dos teus anos, não sabemos se já regressaste a casa, já que, pela informação da tua mamã, deverás estar em Iemberém... A propósito, o Luís telefonou-lhe ontem, tinha acabado de fazer uma pequena cirurgia oftalmológica e estava bem...

Não queríamos terminar sem fazer uma pequena homenagem ao teu pai, Artur Augusto Silva [, foto acima, à esquerda], que foi e continua a ser um exemplo inspirador para ti.  O seu amor por África e a sua sabedoria humana merecem ser melhor conhecidos no nosso blogue e partilhados pelos amigos e camaradas da Guiné. Daí termos tomado a liberdade de ter transcrito, com a devida vénia aos editores do livro (os três  manos Schwarz), as três primeiras páginas de Pequena Viagem através de África

O Pepito, corajoso, determinado, frontal, crítico, realizador, generoso, solidário, visionário, rebelde, libertário, que nós conhecemos e admiramos, foi buscar ao seu pai, Artur,  à sua mãe, Clara, e aos seus antepassados, essa força anímica que o leva a recomeçar, recomeçar sempre, ou sempre que a vida prega as suas partidas...   A vida com as suas minas e armadilhas...

Meia dúzia de anos depois de eu, L.G., calcorrear as estradas e as picadas do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (1969/71), o Pepito está de volta à sua terra, em 1975, como engenheiro agrónomo, casado (com a Isabel), pai de uma filha (, a Cristina), arregaçando as mangas e distribuindo sementes de arroz e de mancarra pelos agricultores do leste e do sul do novo país, do seu país, onde nasceu em 1949... Foi o seu verdadeiro baptimo de fogo, aqui recapitulado:

(...) "Ofereci-me para essa missão e é assim que após uma primeira paragem em Bafatá para distribuir sementes de arroz, carrego 20 toneladas de mancarra com destino a Catió, sul da Guiné-Bissau. Ao chegar a Bambadinca, o condutor do camião redobra de cuidados e atenções. É que, na mesma estrada que ligava a Xitole e depois a Saltinho, tinham 'saltado' poucos dias antes, 2 camiões dos 'Armazéns do Povo' que se desviaram ligeiramente das bermas da estrada e pisado uma mina.


"De olhos esbugalhados, não era só o condutor a dirigir o camião. Também eu o conduzia, sem pestanejar, mas sem pedal nem volante. Era o meu baptismo de 'fogo' nas estradas da Guiné-Bissau que continuaram durante alguns anos a ameaçar todos os que a utilizavam, sem que isso impedisse os técnicos de abdicarem das suas missões patrióticas" (...). (***)

______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 1 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5386: Parabéns a você (46): Carlos Schwarz Silva, simplesmente Pepito, para os felupes, os nalus, os fulas, os companheiros da AD e os tugas... do nosso blogue (Luís Graça)


(**) Vd. poste de 25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1994: Tabanca Grande (29): Gilda Pinho Brandão: uma mulher feliz, que ganha uma nova família e um novo país


(...) Boa tarde, Amigo Luís,



Pois é, este fim-de-semana recebi a visita do nosso amigo Pepito, um ser humano extraordinário e um guineense orgulhoso, que fala do seu país e das suas gentes com uma paixão indescritível, por mim ficava o dia todo a ouvi-lo, pena não ter podido ficar mais tempo.


Relativamente aos meus familiares, falou-me no meu primo Carlos Pinho Brandão, que foi colega dele de curso [, de Agronomia,] das circunstâncias da morte do meu pai [, Afonso Pinho Brandão,] que foram um pouco dramáticas, pois segundo o Carlos contou ele era muito querido pela população, era um homem bastante sociável: ao fazer frente a uns balantas que se queriam apropriar da casa dele, acabou por ser morto, pois estava em inferioridade numérica. O Pepito também falou-me acerca dos fulas, etnia da minha família materna. A seguir ao encontro com os meus irmãos, este foi um dos momentos mais marcantes desde que comecei esta busca pelas minhas raízes (...).

(***) Último poste desta série > 27 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7346: Parabéns a você (179): Agradecimento de Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art.ª da CART 2412

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7363: Que é feito de ti, camarada ? (1): Prakistou, diz o Vitor Junqueira, mas não desconectado

1. Comentário, com data de 23 do corrente,  do Vitor Junqueira ao poste P7318:

Queridos amigos da Tabanca Grande:

Esta manhã, como em quase todas as manhãs, fui tomar o meu cafezito no sítio do costume. Lá me encontrei com os igualmente costumeiros colegas e amigos com os quais resolvo de uma penada os principais problemas do país e do mundo!

Hoje, porém, falámos de saudade, aquele estado de exaltação psicofísica, doce e ao mesmo tempo dorido, que por instantes nos transporta para o seio de vivências que ficaram lá para trás. Dizem que a palavrita é tão nossa que não tem tradução noutra língua, não sendo muito comum no linguajar das tertúlias de machos. Vieram-me à memória os anos de Coimbra (dos amores e desamores), as tardes de estudo e cavaqueira no Piolho, Pigalle, Mandarim, o Teixeira dos jornais e o Tatonas das meninas, os espectáculos no Gil Vicente onde se realizaram também algumas das A M mais selvagens a que assisti, as noites de farra nas repúblicas ... Havia uma chamada Prakistão que albergou, se bem me lembro, um tertuliano especial, o meu colega e amigo Simeão D. Ferreira,  do destacamento de Cutia.

Pois,  meus caros, eu prakistou, mais ou menos bom de corpo, de cabeça, dirão vocês e, não é verdade que ande por aí, meio perdido, meio desconectado. Estou convosco todos os dias, normalmente mais do que uma vez por dia! Aprecio a matéria dada, revejo-me nalguma prosa e,  tacanho que sou, apenas pressinto na verve a corda lírica, vibrante e fácil, dom de apenas alguns tertulianos.

Quanto ao poste do amigo e camarada Manuel Marinho que motivou este comentário, quero dizer-lhe que agradeço as referências a um texto que em tempos escrevi com o coração. Onde o perfume da saudade mantém viva a memória daquela doce africana. E já agora, de outras, como na canção do Kenny Rogers!

Abraços do,
Vitor Junqueira

Guiné 63/74 - P7362: Blogoterapia (168): Por que somos Camarigos, isto é, camaradas + amigos (Joaquim Mexia Alves)

1. Em mensagem do dia 29 de Novembro de 2010,  o nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, define um camarigo.


CAMARIGO

Um comentário do Torcato levou-me a pensar e a escrever para tentar explicar a invenção da palavra camarigo.

Em primeiro lugar o óbvio!

Camarigo é a junção das palavras camarada com amigo!

Quando comecei a frequentar a Tabanca Grande, (já lá vão uns anos), comecei também a descobrir melhor uma relação com os ex-combatentes da Guiné, que não se restringia apenas àqueles com quem tinha estado, mas se alargava a todos os outros que lá estavam, não só na altura, mas também antes e depois.

O termo utilizado pelos militares para se tratarem uns aos outros é camarada, o que está certo sem dúvida, com vemos no dicionário.

Camarada: companheiro de quarto; colega; parceiro; condiscípulo; indivíduos do mesmo ofício; tratamento entre militares e entre filiados de certos partidos políticos…

Ora isto parecia-me pouco, para definir a relação que nos une como ex-combatentes, e até também porque verdadeiramente já não somos militares.

Mas fomos realmente companheiros de quarto, (ainda o somos quando os mesmos sonhos ou pesadelos nos envolvem à noite), e parceiros, e colegas e sei lá mais o quê.

Mas somos muito mais do que isso!

Somos sentimento e emoção, e não é raro num reencontro, numa história contada ou lida, virem-nos as lágrimas aos olhos e apetecer-nos abraçar com força aquele que conta a história, para lhe dizer que sabemos bem o que foi, o que é, e muito provavelmente o que continuará a ser.

Ora isso vai muito para além da camaradagem, pois revela sentimentos de afectividade, de compreensão, de conhecimento, enfim numa palavra: de amizade.

Quando um de nós sofre, não sofre apenas um camarada, sofre também um amigo, por isso sofremos todos com ele, mesmo que não o conheçamos pessoalmente!

Quando um de nós se alegra, não se alegra apenas um camarada, alegra-se também um amigo, por isso nos alegramos todos com ele, mesmo que não o conheçamos pessoalmente!

Quando um de nós morre, não morre apenas um camarada, morre também um amigo, por isso morremos nós também um pouco, mesmo que não o conheçamos pessoalmente!

Lá longe, na Guiné, muitos de nós desabafaram com certeza aos ouvidos do outro, as alegrias e as tristezas de uma vida que se fazia longe de nós.
Um filho que nascia, uma mãe ou um pai que morria, um namoro que acabava, uma dúvida, uma incerteza, um desespero e uma alegria, enfim tudo aquilo que faz parte da vida e que tantas vezes ia parar ao ombro do que estava ao nosso lado, do que estava connosco.

E hoje isso ainda acontece, quando nos encontramos, ou quando nos procuramos num telefonema, ou numa visita oportuna.

Então era preciso para mim, procurar maneira de revelar com uma palavra aquilo que ia descobrindo, aquilo que ia tomando lugar no meu coração.
Porque o amigo também não chegava para definir essa relação:

Amigo: aquele que estima outra pessoa ou é por ela estimado; partidário; amásio; amante; afeiçoado…

E o óbvio apareceu diante de mim.

Somos camaradas, mas somos mais do que isso, somos amigos!
Somos assim camaradas e amigos, ou seja, somos CAMARIGOS!

É isso que eu sinto e é isso que sempre pretendo transmitir em cada encontro e em cada momento em que estamos juntos e não só.

Tenho um coração mole, (graças a Deus), a lágrima fácil, e os braços com uma “tendência compulsiva” para se abrirem, por isso arranjei a palavra que servisse para expressar os meus sentimentos em relação a todos vós.
Por isso gosto de vos tratar pelo nome próprio, para estar mais perto de vós e me sentir mais perto de vós!
Por isso também, aqui fica o meu forte, enorme e camarigo abraço para todos vós.

Monte Real, 29 de Novembro de 2010
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7348: (Ex)citações (113): Achas para a fogueira, ou a influência dos movimentos independentistas na política interna de Portugal (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 25 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7336: Blogoterapia (167): Manhãs de Outono (Felismina Costa)

Fotografia do nosso camarada A. Costa Paulo, com a devida vénia.

Guiné 63/74 - P7361: Contraponto (Alberto Branquinho) (19): Já que se falou de heróis

1. Em mensagem de 28 de Novembro de 2010, Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais um Contraponto:

CONTRAPONTO (19)

JÁ QUE SE FALOU DE HERÓIS…

1 – Herói, herói…
Mas, afinal, o que é um herói?
Eu próprio, passando por Bissau, fui chamado “herói” pelo pessoal do “ar condicionado” e não me senti nada bem. Já contei isso aqui, há uns tempos.

O Dicionário Francisco Torrinha, da Livraria Simões Lopes/Porto, edição dos anos 40 do século passado, define herói do seguinte modo (deixando de lado os heróis mitológicos, semideuses e afins):
«Homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras;…………………………….».

O Dicionário Porto Editora apresenta a seguinte definição:
«Homem ilustre por feitos guerreiros ou de grande coragem;………………………….».

Finalmente o Dicionário HOUAISS (para que não se diga que não falei de “bossa nova”) caracteriza o herói do seguinte modo:
«1 …………;2…………..; 3 indivíduo notabilizado pelos seus feitos guerreiros, a sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade, etc. 4…….5……,6…….7…..8…..
9 indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo………………………………….».


Portanto, é isto mesmo que todos temos em mente quando falamos de heróis, não interessando se esses feitos, proezas, etc. foram praticados em terra, no mar ou no ar, que é como quem diz por militares do Exército, da Marinha ou da Força Aérea.

2 - Mas, ao pensar exactamente nisso, surgiu-me a dúvida sobre se, no ideário (e imaginário) português, o conceito de herói é entendido como aplicável também aos que se destacaram ao serviço da Força Aérea. Ora, vejamos.

3 – Camões, n’”Os Lusíadas”, não inclui no conceito de herói, salvo melhor opinião, qualquer homem do Exército. Enaltece somente os feitos marítimos, a Marinha. Claro que não poderia ter cantado os feitos da Força Aérea, porque ela não existia ainda.
Tomemos como exemplo a terceira estância, logo no início do “Canto Primeiro”, quando Camões explica a obra a que se vai abalançar:

«…………………………………………………
………………………………………………….
………………………………………………….
………………………………………………….
Que eu canto o peito ilustre Lusitano
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
………………………………………................
………………………………………………..».


Note-se: os feitos do Portugueses nos mares foram tais que até Neptuno (deus do mar) lhes obedeceu. Não interessa, portanto, fazer especial menção aos humanos inimigos da armada Portuguesa (digamos, a Marinha).

- E Marte? - perguntarão. - O Deus da guerra também é referido por Camões.

Pois é. Mas, na minha interpretação, a referência que Camões faz à obediência prestada por Marte aos Portugueses, deve ser entendida como numa relação directa com Neptuno, portanto à guerra conduzida nos mares. No entanto, dou de barato que seja, também, uma referência às guerras apeadas feitas pelos Portugueses. Seja, portanto, uma menção aos feitos heróicos do Exército, na medida em que Marte é sempre representado com os pés assentes na terra e não embarcado.

Muito bem.
“Siga a Marinha!”

4 – Mas lembremos, agora, a letra do Hino Nacional. Há nela alguma referência à Força Aérea?
Duas passagens são de realçar:

(i) A Marinha em primeiro lugar: «Heróis do mar…»;

(ii) E uma passagem mais adiante:
«Às armas, às armas
Sobre a terra e sobre o mar
. …………………
»

Note-se: Exército e Marinha somente.
Onde está a referência (implícita que seja) à Força Aérea? Não há!

QUESTÕES:

– Será que para o ideário (e o imaginário) Português não há mesmo heróis da Força Aérea?

– Não deveria a Força Aérea constituir-se em “lobby” para conseguir que seja alterada a letra do Hino Nacional, de modo a fazer referência expressa aos seus heróis?


ANTES QUE OS ELEMENTOS DA FORÇA AÉREA COMECEM A LARGAR BOMBAS, vamos lá repor a verdade histórica e falar de uma curiosidade Portuense:

1 – “A Portuguesa”, apesar de muito anterior a 1910, só foi adoptada como Hino Nacional a seguir à implantação da República;

2 – A aviação só começou a ser Aviação já na parte final da Guerra 1914/18,

Portanto, a letra d’“A Portuguesa” nunca poderia conter qualquer referência à Aviação, então incipiente e não imaginada, então, como instrumento de combate e muito menos em Portugal.

3 – O feito de Gago Coutinho e de Sacadura Cabral no início dos anos 20 do século passado (que teve um grande impacto popular) está assinalado através de um bonito painel desses tempos (em bronze?) no “hall” da Estação de São Bento, no Porto.

Terá sido colocada numa construção destinada a albergar transporte ferroviário por não existir uma estrutura aeroportuária? Ou a razão foi outra?

Alberto Branquinho
__________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7288: Contraponto (Alberto Branquinho) (18): Regresso

Aqui fica a letra (completa) de "A Portuguesa", de autoria de Henrique Lopes de Mendonça.
O autor da música foi Alfredo Keil


Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!


Fonte: http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/portuguesa.html

Guiné 63/74 - P7360: Memória dos lugares (115): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (3) (Constantino Neves)

Fim da publicação das fotografias do espólio de Sérgio Neves que foi Furriel Miliciano na CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), irmão do nosso camarada Constantino Neves.


Fotos 17 e 18 > Foto tirada com camaradas. Em todas elas está um grande amigo dele, chamado Faria, que residia em Sobral do Monte Agraço, tão amigo, que pôs ao filho o nome de Sérgio. Há já algum tempo que perdi o contacto dele. Gostava muito de o rever.

Fotos 19 e 20 > Sérgio Neves em actividade fluvial

Foto 21 > Sérgio Neves ao volante do único carro de Fajonquito, na altura, [Simca]

Fotos 22 e 23 > Quando se tem sede, até um bom tinto, (não sei se do Alentejo, Algarve, Douro ou do Cartaxo), talvez seja da Manutenção Militar com toda a certeza.
__________

Nota de CV:

Vd. postes da série de:

26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7341: Memória dos lugares (112): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (1) (Constantino Neves)
e
28 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7352: Memória dos lugares (113): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (2) (Constantino Neves)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7359: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (1): Intervenção do cineasta António-Pedro Vasconcelos


Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Intervenção, em último lugar, do autor do livro, A Última Missão, José Moura Calheiros, Cor Pára Ref, O título do livro é inspirado na missão, que o coronel chefiou, em Março de 2008, de recuperação dos restos mortais de três soldados pára-quedistas mortos em combate, em Guidaje, em 23 de Maio de 1973, e sepultados no perímetro do aquartelamento... Recorde-se aqui os seus nomes: Manuel da Silva Peixoto, de 22 anos, natural de Vila do Conde; José de Jesus Lourenço, de 19 anos, natural de Cantanhede e António das Neves Vitoriano, de 21 anos, natural de Castro Verde.

Essa missão acabou por levar o antigo oficial pára-quedista rever os anos de guerra em África, em três teatros diferentes, por ele duramente vividos, com o todo o seu cortejo de boas e más memórias.



Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > O cineasta António-Pedro Vasconcelos lendo a sua apresentação do livro do Moura Calheiros. Uma belíssima e inteligente "leitura" do livro de um grande militar português feita por um "paisano", que é também um dos grandes nomes do cinema português... Foi o Prof Rui Azevedo Teixeira, o prefaciador, quem sugeriu, ao autor, o nome do realizador de cinema e conhecido analista desportivo para apresentação da obra. Neste excerto Pedro Vasconcelos começa por evocar a nossa péssima relação com a memória... "Sempre me impressionou que os portugueses tivessem uma tão má relação com a memória"... Há um silêncio, nomeadamente no nosso cinema, na nossa literatura, na nossa ficção, sobre os nossos grandes momentos históricos, fruto da nossa tendência para esquecer em vez de lembrar, de ocultar em vez de mostrar, e sobretudo da dificuldade de nos confrontarmos com a verdade, com as ambiguidades e as contradições de que é feita a acção (individual e colectiva) dos homens e de que a história não pode deixar de dar conta...


Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Aspecto geral da mesa. Na ponta direita está Moura Calheiros, ladeado, se não me engano, pelo Director da Academia Militar. Como cheguei atrasado, não consegui saber qual era exactamente a composição da mesa, mas presumo que seja a seguinte, a contar da esquerda: o editor ou o representante da editora, um elemento (feminino) da equipa do Moura Calheiros em Guidaje, uma das antropólogas forenses da Universidade de Coimbra... Não sei quem é 3.º terceiro da mesa, possivelmente o prefaciador da obra, o Prof Rui Azevedo Teixeira, especialista em literatura sobre a guerra colonial... O 4.º elemento era o António Pedro Vasconcelos, naquele momento a discursar.


Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Três guineenses, o Dani, pára-quedista, do BCP 12, o António Estácio e o Manecas dos Santos (que tinha estado há dias com o Pepito no Cacheu, segundo me revelou, nos escassos dois minutos em que falámos. Estivemos juntos no Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, 1-7 de Março de 2008, onde apresentámos comunicações) 


Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > O Humberto Reis, o Zé Martins e o Danif, o filho da Dona Rosa, de Bafatá (antigo pára-quedista do BCP 12).


Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Uma longa fila, no final, na sessão de autógrafos... Acabei por não poder cumprimentar o autor, com quem já falei uma vez ao telefone há tempos... Transmitiu-me por sua vez o seu apreço pelo nosso blogue, embora tenha declinado o meu convite para ingressar na nossa Tabanca Grande, por razões que eu entendo perfeitamente.


 
Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Excerto (segunda e última parte) do discurso de apresentação do livro, por parte do cineasta António-Pedro de Vasconcelos (n. 1939).

Fotos e vídeo (7' 46''): © Luís Graça (2010). Video alojado em You Tube > Nhabijoes. Todos os direitos reservados.


1. Foi hoje apresentado o livro, A Última Missão, do José Moura Calheiros, Cor Pára Ref, ao fim da tarde (mais cedo, um quarto de hora,  do que o que estava anunciado no nosso blogue). A sessão decorreu no Grande Auditório do Aquartelamento da Academia Militar, na Amadora, perante uma vasta de plateia de algumas centenas de pessoas, entre militares no activo e amigos e camaradas do autor, muitos deles ligados ao BCP 12.

Dos membros da nossa Tabanca Grande, consegui localizar o Humberto Reis, o José Marcelino Martins, o Carlos Silva (e esposa), o João Seabra (que forneceu várias fotos de Gadamael ao seu amigo Moura Calheiros), o Miguel Pessoa, a Giselda, o António Martins de Matos, o António Dâmaso, o António Estácio, só para citar alguns com quem falei...

Falei igualmente com o Danif, o filho da Dona Rosa, de Bafatá, irmão das libanesas, e antigo pára-quedista, que serviu na Guiné sob as ordens do Moura Calheiros (, portanto no BCP 12). Perguntou pelo Zé Brás, seu amigo, do tempo de Tomar... Com ele, estava o Manecas dos Santos, que foi convidado pelo Moura Calheiros para estar nesta cerimónia. O forte simbolismo da presença deste antigo guerrilheiro do PAIGC será sublinhado pelo autor do livro, na sua intervenção, a última da sessão. Recorde-se que o Manecas dos Santos foi um dos míticos comandantes do PAIGC,  responsável  pela Frente Norte e pela artilharia (incluíndo os mísseis Strela). Não sei exactamente se foi ele que comandou as forças do PAIGC que, em Maio de 1973,  fizeram o cerco  à guarnição portuguesa de Guidaje. Também não sei exactamente se foi  ele igualmente que comandou a emboscada à CCP 121 de que resultaram as mortes  dos soldados pára-quedistas. Em Maio de 1973, Moura Calheiros era então o 2º comandante e o oficial de operações do valoroso BCP 12.

A apresentação da obra (de cerca de 600 pp.) esteve a cargo do cineasta António-Pedro de  Vasconcelhos, de que se apresenta um excerto com a segunda (e última) parte. 

A obra, que foi vendida na sessão de lançamento a 25 €, tem a chancela da Editora Caminhos Romanos-Unipessoal, Lda., Porto (contacto por e-mail, na ausência de sítio na Internet: ac.azeredo@hotmail.com)


2. Breve nota biográfica sobre o nosso camarada José Alberto de Moura Calheiros:

(i) Nasceu em 1936 no Peso, Covilhã;

(ii)  Frequentou o Curso de Infantaria da Escola do Exército (1954-1957), hoje Academia Militar;

(iii) Foi admitido nas Tropas Pára-quedistas em 1959;

(iv) Cumpriu três comissões de serviço no Ultramar: Angola (1963-1965) e Moçambique (1967-1969) como comandante de Companhia de Pára-quedistas; e, por fim, Guiné (1971-1973) como 2º Comandante e Oficial de Operações do BCP12, COP4 e COP5 e ainda como Comandante do COP3;

(v) Em Tancos, foi Comandante do Batalhão de Instrução, Comandante do Regimento de Caçadores Pára-quedistas e Comandante da Escola de Tropas Pára-quedistas;

(vi) Em 1977-1981, nos seus três últimos anos de actividade como militar,  desempenhou funções de Chefe do Estado Maior do Corpo de Tropas Pára-quedistas;

(vii) Passou à situação de Reserva em Fevereiro de 1981;

(viii) É licenciado em Finanças pelo ISCEF – Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (hoje, ISEG -Instituto Superior de Economia e Gestão);

(ix) Desempenhou funções de técnico economista no Ministério da Indústria, IPE – Instituto de Participações do Estado bem como na Direcção Financeira de empresas;

(x) Dedicou-se mais tarde à gestão de empresas;

(xi) Hoje está reformado e afastado de qualquer actividade profissional.