Escrito por Tina Kramer
Para a minha tese sobre as memórias da Guerra Colonial/Luta de libertação eu fui para a Guiné no mês de Fevereiro até Junho em 2011
3 - Buba – Tite – Bolama – Guiledje – Cassacá (de 2 a 14 de Maio 2011)
Durante uma terceira viagem fomos ao sul do país e parámos entre outros em Saltinho, Buba, Tite, Bolama, Catió, Guiledje e Cassacá. Para mim o sul foi a região ainda mais quente do que o resto da Guiné. Além disso o mato é muito denso e a maioria das estradas estão numa condição deteriorada. Pelo menos o rio em Buba traz um bocado de vento e frescura à noite.
Depois de dois dias em Buba com visitas na câmara, no aquartelamento e com algumas conversas com antigos combatentes, fomos a Tite. Quando tínhamos chegado lá alguns polícias que estavam a fazer sesta indicaram-nos para Sintchã Lega, uma tabanca pequena perto de Tite, para falar com um combatente que participou no primeiro ataque em Tite. Antes de ir lá visitámos ainda o antigo aquartelemento de Tite, que está abandonado. Dentro nas paredes há pinturas interessantes dos portugueses, mas mal compreensíveis. O antigo combatente em Sintchã Lega contou-nos do Capitão Curto, do primeiro tiro da luta em Tite e da sua desilusão com o desenvolvimento da Guiné depois da independência.
O antigo aquartelamento português em Tite, 5 de Maio de 2011
Foto ©: Tina Kramer Opiniões sobre futebol no muro do antigo quartel em Tite, 5 de Maio de 2011
Foto ©: Tina KramerPinturas do exército português na parede do antigo quartel em Tite, 5 de Maio de 2011
Foto ©: Tina KramerPinturas do exército português na parede do antigo quartel em Tite, 5 de Maio de 2011
Foto ©: Tina KramerNo mesmo dia decidimos continuar o trajecto até à ilha Bolama e ficámos a noite lá. No dia seguinte visitámos a cidade e eu estava impressionada com os prédios abandonados e as ruínas, todos resíduos dum passado completamente diferente. Bolama parecia como uma Lisboa miniatura e ainda hoje pergunto-me porque a gente não utiliz ou não restaura estes prédios. Quem reina a ilha são os morcegos que estão activos nas mangueiras mesmo durante o dia. Desfrutámos ainda a praia -infelizmente cheia de lixo – mas a água estava limpa e com as palmeiras parecia um paraíso.
Bolama, 6 de Maio de 2011
Foto ©: Tina Kramer Bolama, 6 de Maio de 2011
Foto ©: Tina KramerDias depois, com a indicaçao do Carlos Schwartz (Pepito), visitámos Guiledje e o museu impressionante ao pé do antigo aquartelamento. Tem um guarda simpático e inteligente que nos mostrou a exposição e que sabe muito sobre a história da guerra. Espero que o projecto vá continuar e incluir mais a população de Guiledje, porque os antigos combatentes que falaram connosco em Guiledje ainda nunca foram ao museu.
A antiga entrada do aquartelamento de Guiledje, 8 de Maio de 2011
Foto ©: Tina KramerO museu ao lado do antigo aquartelemento de Guiledje, 8 de Maio de 2011
Foto ©: Tina KramerMais tarde continuámos para Cassacá, onde aconteceu o primeiro congresso do PAIGC de 13 a 17 de Fevereiro 1964. O sítio no mato era sagrado e reservado para ceremónias tradicionais dos Nalus, mas foi cedido a Amílcar Cabral a pedido dele. Os anciões garantiram que o congresso podia acontecer sem que fosse descoberto pelo exército português. Só depois foi bombardeado pela aviação portuguesa durante oito dias. Hoje é um lugar histórico e ainda sagrado.
Sítio do primeiro congresso do PAIGC em Cassacá, 9 de Maio de 2011
Foto ©: Tina KramerMissirá
Várias vezes fomos a Missirá, a tabanca onde o Abdu nasceu e onde o Mário Beja Santos foi estacionado durante a guerra. Visitamos a família do Abdu e o irmão do Abdu mostrou-me a aldeia e os sítios históricos da guerra (o pouso dos helicópteros, antigas emboscadas, o antigo alojamento do Mário). Gostei muito dessa aldeia, da sua tranquilidade e da sua vida muito mais relaxada do que na Europa.
Largo de Missirá, 3 de Março de 2011
Foto ©: Tina Kramer Meninos de Missirá, 2 de Junho de 2011
Foto ©: Tina KramerEsturrar o cadju em Missirá, 2 de Junho de 2011
Foto ©: Tina Kramer Preparar o cadju em Missirá, 2 de Junho de 2011
Foto ©: Tina KramerAté aqui só podia falar um pouco da nossa viagem. Ainda temos que organizar as notas e as impressões na cabeça e analizar os dados.
Mais uma vez quero agradecer ao Mário Beja Santos, ao Abduramame Serifo Sonco, à família dele e a todos os camaradas e às famílias deles em Portugal e na Guiné-Bissau que me ajudaram durante a minha pesquisa.
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Nota de CV:
Vd. postes de:
19 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8928: A nossa expedição à Guiné (Tina Kramer) (1): Gabu - Lugadjole (de 28 de Março a 7 de Abril de 2011)
18 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8930: A nossa expedição à Guiné (Tina Kramer) (2): Bula e Cacheu (de 12 a 18 de Abril de 2011)