1. Mensagem do dia 18 de Agosto de 2014 do nosso camarada Alexandre
Coutinho e Lima, Coronel na situação de Reforma (ex-Cap Art.ª, CMDT da
CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73):
Caro Luís
Espero que as férias estejam a correr bem, de modo a que as baterias fiquem bem carregadas para um novo ano de trabalho.
No próximo dia 30 do corrente mês (Sábado), vai realizar-se a comemoração dos 40 anos do regresso da Guiné, das CCAV 8350 (Guileje) e CCAV 8352 (Caboxanque-Cantanhez), com o seguinte programa:
1. 10H00 - Concentração e visita ao Regimento de Cavalaria de Extremoz - Unidade Mobilizadora
2 . 10H30 - Homenagem aos mortos em combate
a. Guarda de honra
b. Colocação de uma coroa de flores
c. Intervenção de um Oficial do Regimento
d. Intervenção de um Oficial, em nome do pessoal presente
3. 11H00 - Descerramento de uma lápide comemorativa, nos claustros
4. 11H45 - Missa numa Igreja de Extremoz
5. 13H00 - Almoço convívio num restaurante em Cabeço de Vide
Aqueles que se quiserem associar a esta efeméride, serão muito bem-vindos.
Quem pretender participar no almoço convívio (preço/pessoa - 20 €), deve fazer a sua inscrição, até ao dia 26 Ago 14 (3ª. Feira):
Rui Pedro Silva - 923 342 006
Coutinho e Lima - 917 931 126
Gostaria que esta comemoração fosse publicitada no nosso blogue.
Um abraço amigo
Coutinho e Lima
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13489: Convívios (616): VI Encontro do pessoal da CART 6254/72, dia 13 de Setembro de 2014, em Paramos - Espinho (Manuel Castro)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13514: Fotos à procura de... uma legenda (33): Professoras que passaram pelas escolas da Guiné colonial... (Nelson Herbert)
Foto nº 1
Foto nº 1 A
Foto nº 1 - B
Uma relíquia, diz o Nelson Herbert!... Legenda sumária: Algumas das professoras que passaram pelas.escolas na Guiné...colonial. Foto enviada pelo nosso amigo Nelson Herbert, jornalista da VOA (Voice of America, Voz da América), de origem guineense. Os únicos dois homens do grupo parecerem ser padres, missionários...
Será que neste grupo está a professora de Bambadinca do meu tempo e do tempo de alguns camaradas do blogue, a Dona Violete da Silva Aires, de origem caboverdiana ? Não me parece, na única foto que temos dela, de c. 1965/66, ela usava óculos escuros e cabelo encaracolado... (LG)
Foto: © Nelson Herbert (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
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Nota do editor:
Último poste da série > 6 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13470: Fotos à procura de... uma legenda (32): A arte xávega... que está a morrer (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P13513: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (1) (Carlos Cordeiro)
Começamos hoje a publicar um trabalho do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), Professor na Universidade dos Açores, na situação de Reforma, intitulado "Unidades Militares Mobilizadas nos Açores Para a Guerra no Ultramar (1961-1975) - Notas Para Uma Investigação.
(Continua)
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13511: Notas de leitura (624): De uma exposição com Eduardo Malta a outra exposição com Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2014:
Querido amigos,
Assim se matam dois coelhos com uma só cajadada.
A Feira da Ladra continua a desvelar os seus tesouros, aqui fica o registo de outros belos desenhos de Eduardo Malta com motivos guineenses. O catálogo da exposição promovida pela Fundação Mário Soares, em 2000, e dedicada a Amílcar Cabral, após a operação de salvaguarda de documentos que corriam risco de se perderem ou ficarem irreversivelmente afectados, depois da guerra civil de 1998-1999, é um documento de incontestável valor, o meu propósito é repertoriar a documentação mais interessante para o curioso ou para quem se quer iniciar nos estudos guineenses.
Um abraço do
Mário
De uma exposição com Eduardo Malta a outra exposição com Amílcar Cabral
Beja Santos
Não é a primeira vez que falamos de Eduardo Malta e da Guiné.
Eduardo Malta é um dos artistas convidados para a Exposição Colonial do Porro, em 1934. É durante a exposição que Malta esboça belíssimos desenhos de gente da Guiné, Angola, Índia, Macau e Timor. Já que se reproduziram os desenhos que ele dedicou ao régulo Mamadu Sissé, que acompanhou Teixeira Pinto durante as campanhas de pacificação, da Rosinha, uma esplendorosa imagem em que captou a pose digna de uma elegante bajuda e em traje à europeia, o principesco Abdulai Sissé, num contido perfil de elegância e majestade. Por isso o reproduzimos aqui. Produto das incursões aos alfobres da Feira da Ladra, desta vez o encontro foi com o álbum de desenhos apresentado na Exposição Internacional de Paris, de 1937, um acontecimento do maior relevo para as artes plásticas europeias e onde Portugal participou com pavilhão próprio e mostra colonial. Vale a pena procurar no Google o Pavilhão Português na Exposição de 1937.
É desse álbum que reproduzimos agora o desenho de Inês, dançarina Bijagó, e de Chadi dançarino Bijagó. Confesso que o desenho da Inês aparece inultrapassável, o claro-escuro é sublime, o modo como o pano se prende no ventre só é possível a um grande artista, e a inclinação dos ombros é irrepreensível. Não direi o mesmo de Chadi, há ali qualquer coisa de esboço apressado, de uma simplificação redutora, fica-se com uma sensação de obra incompleta.
No âmbito do Projeto de Salvaguarda dos Documentos de Amílcar Cabral, a Fundação Mário Soares apresentou uma exposição de documentos recuperados, tratados, digitalizados e fotografados pelo seu arquivo, tendo também utilizado documentos do acervo de Mário Pinto de Andrade e outros cedidos por Iva Cabral, filha de Amílcar. Decorrente do conflito de 1998/1999, muitos documentos de incontentável valor histórico estavam em sério risco, em adiantado estado de degradação, havia que encontrar meios técnicos, humanos e financeiros para obviar ao desaparecimento de tão significativo património.
A exposição mostra como foram tratadas mais de 7500 páginas de documentos, devidamente classificados e indexados antes da sua transferência para suporte digital. A exposição prossegue mostrando os familiares do líder do PAIGC. A sua adolescência, os seus estudos em Lisboa, os seus documentos científicos, depoimentos de colegas que avaliam os seus dotes profissionais.
Mostram-se depois alguns documentos elaborados em Conacri em 1960, Cabral assina Abel Djassi e escreve aos seus camaradas do PAI (antecessor do PAIGC): “Tomai atenção: Eu sou o vosso irmão, o vosso camarada de sempre, aquele que criou o PAI, o nosso Partido autónomo. Eu sou aquele que ama a agricultura. É preciso dizer aos nossos camaradas que estou aqui e que a nossa luta continua”. Seguem documentos e fotografias dos primórdios da luta anticolonial, reproduz-se a cópia do memorando enviado ao governo Português apelando à independência da Guiné, o manifesto aos cabo-verdianos residentes no Senegal, 1961, em que procura demonstrar que os cabo-verdianos são africanos e que devem lutar ao lado dos guineenses.
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13509: Notas de leitura (623): Os "Capitães Generais" e os "Capitães Políticos", por Tenente Coronel Luís Ataíde Banazol (José Manuel Matos Dinis)
Querido amigos,
Assim se matam dois coelhos com uma só cajadada.
A Feira da Ladra continua a desvelar os seus tesouros, aqui fica o registo de outros belos desenhos de Eduardo Malta com motivos guineenses. O catálogo da exposição promovida pela Fundação Mário Soares, em 2000, e dedicada a Amílcar Cabral, após a operação de salvaguarda de documentos que corriam risco de se perderem ou ficarem irreversivelmente afectados, depois da guerra civil de 1998-1999, é um documento de incontestável valor, o meu propósito é repertoriar a documentação mais interessante para o curioso ou para quem se quer iniciar nos estudos guineenses.
Um abraço do
Mário
De uma exposição com Eduardo Malta a outra exposição com Amílcar Cabral
Beja Santos
Eduardo Malta no Porto e em Paris
Não é a primeira vez que falamos de Eduardo Malta e da Guiné.
Eduardo Malta é um dos artistas convidados para a Exposição Colonial do Porro, em 1934. É durante a exposição que Malta esboça belíssimos desenhos de gente da Guiné, Angola, Índia, Macau e Timor. Já que se reproduziram os desenhos que ele dedicou ao régulo Mamadu Sissé, que acompanhou Teixeira Pinto durante as campanhas de pacificação, da Rosinha, uma esplendorosa imagem em que captou a pose digna de uma elegante bajuda e em traje à europeia, o principesco Abdulai Sissé, num contido perfil de elegância e majestade. Por isso o reproduzimos aqui. Produto das incursões aos alfobres da Feira da Ladra, desta vez o encontro foi com o álbum de desenhos apresentado na Exposição Internacional de Paris, de 1937, um acontecimento do maior relevo para as artes plásticas europeias e onde Portugal participou com pavilhão próprio e mostra colonial. Vale a pena procurar no Google o Pavilhão Português na Exposição de 1937.
É desse álbum que reproduzimos agora o desenho de Inês, dançarina Bijagó, e de Chadi dançarino Bijagó. Confesso que o desenho da Inês aparece inultrapassável, o claro-escuro é sublime, o modo como o pano se prende no ventre só é possível a um grande artista, e a inclinação dos ombros é irrepreensível. Não direi o mesmo de Chadi, há ali qualquer coisa de esboço apressado, de uma simplificação redutora, fica-se com uma sensação de obra incompleta.
Capa do álbum de Eduardo Malta apresentado na Exposição Internacional de Paris, 1937
Desenho de Abdulai Sissé
Desenho de Inês, dançarina Bijagó
Chadi, dançarino Bijagó
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Sou um simples Africano…
No âmbito do Projeto de Salvaguarda dos Documentos de Amílcar Cabral, a Fundação Mário Soares apresentou uma exposição de documentos recuperados, tratados, digitalizados e fotografados pelo seu arquivo, tendo também utilizado documentos do acervo de Mário Pinto de Andrade e outros cedidos por Iva Cabral, filha de Amílcar. Decorrente do conflito de 1998/1999, muitos documentos de incontentável valor histórico estavam em sério risco, em adiantado estado de degradação, havia que encontrar meios técnicos, humanos e financeiros para obviar ao desaparecimento de tão significativo património.
A exposição mostra como foram tratadas mais de 7500 páginas de documentos, devidamente classificados e indexados antes da sua transferência para suporte digital. A exposição prossegue mostrando os familiares do líder do PAIGC. A sua adolescência, os seus estudos em Lisboa, os seus documentos científicos, depoimentos de colegas que avaliam os seus dotes profissionais.
Mostram-se depois alguns documentos elaborados em Conacri em 1960, Cabral assina Abel Djassi e escreve aos seus camaradas do PAI (antecessor do PAIGC): “Tomai atenção: Eu sou o vosso irmão, o vosso camarada de sempre, aquele que criou o PAI, o nosso Partido autónomo. Eu sou aquele que ama a agricultura. É preciso dizer aos nossos camaradas que estou aqui e que a nossa luta continua”. Seguem documentos e fotografias dos primórdios da luta anticolonial, reproduz-se a cópia do memorando enviado ao governo Português apelando à independência da Guiné, o manifesto aos cabo-verdianos residentes no Senegal, 1961, em que procura demonstrar que os cabo-verdianos são africanos e que devem lutar ao lado dos guineenses.
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13509: Notas de leitura (623): Os "Capitães Generais" e os "Capitães Políticos", por Tenente Coronel Luís Ataíde Banazol (José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P13510: Parabéns a você (772): Alice Carneiro, Amiga Grâ-Tabanqueira, madrinha de guerra, irmã e esposa de ex-combatentes
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13506: Parabéns a você (771): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metraladora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)
Nota do editor
Último poste da série de 17 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13506: Parabéns a você (771): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metraladora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)
domingo, 17 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13509: Notas de leitura (623): Os "Capitães Generais" e os "Capitães Políticos", por Tenente Coronel Luís Ataíde Banazol (José Manuel Matos Dinis)
1. Em mensagem do dia 13 de Agosto de 2014, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviou-nos uma recensão ao livro de TCor Luís Ataíde Banazol, que versa o período revolucionário pós-25 de Abril de 1974.
Os "Capitães Generais" e os "Capitães políticos"
José Manuel Matos Dinis
Já existe no Blogue uma recensão sobre outra obra do mesmo autor, essa a debruçar-se sobre um imaginário da descolonização, ainda dava os primeiros e controversos sinais do que poderia significar para milhares de pessoas de passagem ou residentes na África "portuguesa".
Agora descobri o livro Os "Capitães Generais" e os "Capitães Políticos" do Tenente Coronel Luís Ataíde Banazol (Prelo Editora, Lisboa, 1976), entre as aquisições que faço em alfarrabistas. Esgota-se em 130 páginas, e transporta-nos para os idos de 76. Trata-se de um texto pessoalizado sobre meia-dúzia de personalidades relevantes do MFA, que, em geral, marcaram períodos do processo revolucionário durante os dois primeiros anos, e através daqueles retratos classifica os períodos então vividos, a partir de análises sarcásticas, que podem questionar os conteúdos de liberdade, democracia, justiça e progresso social, entre as diferentes qualificações que se pretendeu, e ainda se pretende, dar à iniciativa dos capitães.
Segundo Vasco Lourenço em "Avatar", o TCoronel Banazol apareceu numa reunião onde se discutiam requerimentos e processos reivindicativos, e por influência daquele oficial de mais alta patente, os capitães acabaram o encontro com a ideia revolucionária a efervescer. Depois disso, parece ter-se mantido afastado do Movimento, e em 1976, quando edita o presente título, já faz a análise crítica aos êxitos e insucessos da iniciativa revolucionária, dos equívocos, rivalidades e diferenças estabelecidas, que a conduziram a uma revolução "pequeno-burguesa" influenciada pelas actividades dos partidos, que evidenciaram a falta de união em torno de um sentido de orientação claro e unificador entre os militares da génese renovadora.
Logo de início aborda a questão motivadora do Movimento nos seguintes termos: "signo revolucionário decisivo e bem vincado que, como se verá, continuou a comandar todo o desencadear dos acontecimentos até vinte e cinco de Novembro, ponto final prático da conturbada descolonização, apenas catorze dias após a proclamação da independência de Angola. Assim, poder-se-á afirmar que o drama colonial é a via por onde tudo se escoa, como torrente impetuosa que arrasta consigo vidas e haveres, convicções e esperanças, corpos e almas, num torvelinho catastrófico sem paralelo na História de Portugal". E sobre o Programa do MFA ("na reunião de 5 de Março tinha sido assumido como essencial a elaboração de um programa político" - no Avatar) conclui que «estas "criações de condições", lançamentos de fundamentos, e a nível nacional, seriam coisas de entusiasmar, se fosse possível abstrair da existência "dos outros"... e "que se teve de enveredar pela traição ao programa do MFA"» no conjunto de considerandos políticos sobre o ultramar. Também abordou com clareza, crer que "pela primeira vez na História, os escalões combatentes provaram que poderiam decidir da guerra ou da paz, antecipando-se ou mesmo sobrepondo-se às decisões dos altos comandos", e no decurso da orgia revolucionária, também provaram que "poderiam ditar procedimentos a esses altos comandos, fazendo destes apenas coordenadores e procuradores, digamos, dos anseios de paz e de regresso à Pátria donde tinham partido, estrangulados pela angustia e pelo desespero. E é neste contexto que se torna impossível a execução de qualquer directiva superior, desde que ela esteja em desacordo ou de algum modo possa vir a condicionar as aspirações do fim da guerra e do regresso". Ora, a tal "torrente" é facilmente identificada pela "sincronia destas tomadas de posição dos escalões combatentes em África com as reivindicações populares em Portugal... e as conquistas revolucionárias do campesinato e do proletariado levam o passo certo com a retirada sucessiva dos efectivos das frentes de combate", conjugação de actuações que hoje nos permitem ver com clareza que o poder caíra na rua, e tornara-se impossível dar algum nexo de governabilidade ao país.
O autor não refere, mas em simultâneo, Portugal confrontava-se com a perda dos rendimentos das colónias, com a fragilização ou destruição da capacidade produtiva na metrópole, com o esvaziamento financeiro, com a crise do petróleo, e com o surto inflacionista que as circunstâncias potenciavam. Atenuou a situação, o recurso às reservas financeiras acumuladas e alguma quantidade de ouro vendido, a que se sucedeu o primeiro pedido de assistência ao FMI, que impôs regras para sufoco da algazarra nas ruas. Era o inicio do controle sobre o "Poder Popular".
O autor identifica três fases para o período revolucionário, e em cada uma elege personalidades do MFA marcantes no respectivo desenvolvimento. Na primeira fase, de gaúdio e entrega do poder ao general Spínola, com manifestas divergências entre oficiais spinolistas e puristas da revolução, tornou-se "justo e necessário e impunha-se que um dos homens mais importantes da Revolução dos Capitães fosse utilizado para comandar uma força capaz de colocar Lisboa, principalmente, ao abrigo das surpresas revolucionárias", do que viria a resultar o PREC como oposição à acção de Spínola e em sintonia com o Poder Popular. Refere-se aos "capitães-generais", e a Otelo em primeiro lugar. A segunda fase é a dos "nove", depois dos SUV e da ocupação de quartéis, que ameaçaram novamente a estabilidade dos militares do quadro permanente, cujo corolário aconteceu em vinte e cinco de Novembro. O Documento dos Nove veio assim oferecer os princípios de equilíbrio necessários à consagração do regime democrático. Sentia-se que "a maioria dos portugueses o que quer é saúde e dinheiro", tendo em vista "a integração, como parente pobre, de uma Europa pretensamente rica", ideias muito propaladas pelos partidos ditos democráticos de feição ocidental que tinham criado tentáculos de influência nas Forças Armadas. E acrescenta numa breve análise: "Vai-se de vento em popa para um sistema pluralista, muito bem, agora sim, mas não se chegou a saber bem o que os capitães pretenderam com a Revolução, além de acabar-se com a guerra colonial.
Recapitulando: primeira fase avançada para obedecer à tormenta da convulsão descolonizadora; segunda fase, a fase de transição, que é a que se atravessa na hora em que se escrevem estas linhas, com a descolonização terminada e as tropas à braseira da família. Esta fase irá até Abril das eleições. Seguir-se-lhe-à a terceira fase, a legal, a da «reconstrução», onde não será admissível o «aventureirismo»,salvo se ele partir de forças eminentemente anticomunistas".
Apesar do pouco tempo decorrido desde o vinte e cinco de Abril até à edição em Junho de setenta e seis, o autor faz uma rara apreciação dos acontecimentos, independente de influências, e com o humor de observador inteligente. Acaba com algumas apreciações sobre alguns personagens da revolução, e só é pena não ter tido vontade ou oportunidade para se alongar com outros pormenores reveladores de muitas falácias e influências que ainda perduram como verdades incontestáveis.
Desejo-vos boas leituras.
JD
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13499: Notas de leitura (622): Trajectórias divergentes: Guiné-Bissau e Cabo Verde desde a Independência, na Revista "Relações Internacionais R:I", dirigida por Nuno Severiano Teixeira (Mário Beja Santos)
Os "Capitães Generais" e os "Capitães políticos"
José Manuel Matos Dinis
Já existe no Blogue uma recensão sobre outra obra do mesmo autor, essa a debruçar-se sobre um imaginário da descolonização, ainda dava os primeiros e controversos sinais do que poderia significar para milhares de pessoas de passagem ou residentes na África "portuguesa".
Agora descobri o livro Os "Capitães Generais" e os "Capitães Políticos" do Tenente Coronel Luís Ataíde Banazol (Prelo Editora, Lisboa, 1976), entre as aquisições que faço em alfarrabistas. Esgota-se em 130 páginas, e transporta-nos para os idos de 76. Trata-se de um texto pessoalizado sobre meia-dúzia de personalidades relevantes do MFA, que, em geral, marcaram períodos do processo revolucionário durante os dois primeiros anos, e através daqueles retratos classifica os períodos então vividos, a partir de análises sarcásticas, que podem questionar os conteúdos de liberdade, democracia, justiça e progresso social, entre as diferentes qualificações que se pretendeu, e ainda se pretende, dar à iniciativa dos capitães.
Segundo Vasco Lourenço em "Avatar", o TCoronel Banazol apareceu numa reunião onde se discutiam requerimentos e processos reivindicativos, e por influência daquele oficial de mais alta patente, os capitães acabaram o encontro com a ideia revolucionária a efervescer. Depois disso, parece ter-se mantido afastado do Movimento, e em 1976, quando edita o presente título, já faz a análise crítica aos êxitos e insucessos da iniciativa revolucionária, dos equívocos, rivalidades e diferenças estabelecidas, que a conduziram a uma revolução "pequeno-burguesa" influenciada pelas actividades dos partidos, que evidenciaram a falta de união em torno de um sentido de orientação claro e unificador entre os militares da génese renovadora.
Logo de início aborda a questão motivadora do Movimento nos seguintes termos: "signo revolucionário decisivo e bem vincado que, como se verá, continuou a comandar todo o desencadear dos acontecimentos até vinte e cinco de Novembro, ponto final prático da conturbada descolonização, apenas catorze dias após a proclamação da independência de Angola. Assim, poder-se-á afirmar que o drama colonial é a via por onde tudo se escoa, como torrente impetuosa que arrasta consigo vidas e haveres, convicções e esperanças, corpos e almas, num torvelinho catastrófico sem paralelo na História de Portugal". E sobre o Programa do MFA ("na reunião de 5 de Março tinha sido assumido como essencial a elaboração de um programa político" - no Avatar) conclui que «estas "criações de condições", lançamentos de fundamentos, e a nível nacional, seriam coisas de entusiasmar, se fosse possível abstrair da existência "dos outros"... e "que se teve de enveredar pela traição ao programa do MFA"» no conjunto de considerandos políticos sobre o ultramar. Também abordou com clareza, crer que "pela primeira vez na História, os escalões combatentes provaram que poderiam decidir da guerra ou da paz, antecipando-se ou mesmo sobrepondo-se às decisões dos altos comandos", e no decurso da orgia revolucionária, também provaram que "poderiam ditar procedimentos a esses altos comandos, fazendo destes apenas coordenadores e procuradores, digamos, dos anseios de paz e de regresso à Pátria donde tinham partido, estrangulados pela angustia e pelo desespero. E é neste contexto que se torna impossível a execução de qualquer directiva superior, desde que ela esteja em desacordo ou de algum modo possa vir a condicionar as aspirações do fim da guerra e do regresso". Ora, a tal "torrente" é facilmente identificada pela "sincronia destas tomadas de posição dos escalões combatentes em África com as reivindicações populares em Portugal... e as conquistas revolucionárias do campesinato e do proletariado levam o passo certo com a retirada sucessiva dos efectivos das frentes de combate", conjugação de actuações que hoje nos permitem ver com clareza que o poder caíra na rua, e tornara-se impossível dar algum nexo de governabilidade ao país.
O autor não refere, mas em simultâneo, Portugal confrontava-se com a perda dos rendimentos das colónias, com a fragilização ou destruição da capacidade produtiva na metrópole, com o esvaziamento financeiro, com a crise do petróleo, e com o surto inflacionista que as circunstâncias potenciavam. Atenuou a situação, o recurso às reservas financeiras acumuladas e alguma quantidade de ouro vendido, a que se sucedeu o primeiro pedido de assistência ao FMI, que impôs regras para sufoco da algazarra nas ruas. Era o inicio do controle sobre o "Poder Popular".
O autor identifica três fases para o período revolucionário, e em cada uma elege personalidades do MFA marcantes no respectivo desenvolvimento. Na primeira fase, de gaúdio e entrega do poder ao general Spínola, com manifestas divergências entre oficiais spinolistas e puristas da revolução, tornou-se "justo e necessário e impunha-se que um dos homens mais importantes da Revolução dos Capitães fosse utilizado para comandar uma força capaz de colocar Lisboa, principalmente, ao abrigo das surpresas revolucionárias", do que viria a resultar o PREC como oposição à acção de Spínola e em sintonia com o Poder Popular. Refere-se aos "capitães-generais", e a Otelo em primeiro lugar. A segunda fase é a dos "nove", depois dos SUV e da ocupação de quartéis, que ameaçaram novamente a estabilidade dos militares do quadro permanente, cujo corolário aconteceu em vinte e cinco de Novembro. O Documento dos Nove veio assim oferecer os princípios de equilíbrio necessários à consagração do regime democrático. Sentia-se que "a maioria dos portugueses o que quer é saúde e dinheiro", tendo em vista "a integração, como parente pobre, de uma Europa pretensamente rica", ideias muito propaladas pelos partidos ditos democráticos de feição ocidental que tinham criado tentáculos de influência nas Forças Armadas. E acrescenta numa breve análise: "Vai-se de vento em popa para um sistema pluralista, muito bem, agora sim, mas não se chegou a saber bem o que os capitães pretenderam com a Revolução, além de acabar-se com a guerra colonial.
Recapitulando: primeira fase avançada para obedecer à tormenta da convulsão descolonizadora; segunda fase, a fase de transição, que é a que se atravessa na hora em que se escrevem estas linhas, com a descolonização terminada e as tropas à braseira da família. Esta fase irá até Abril das eleições. Seguir-se-lhe-à a terceira fase, a legal, a da «reconstrução», onde não será admissível o «aventureirismo»,salvo se ele partir de forças eminentemente anticomunistas".
Apesar do pouco tempo decorrido desde o vinte e cinco de Abril até à edição em Junho de setenta e seis, o autor faz uma rara apreciação dos acontecimentos, independente de influências, e com o humor de observador inteligente. Acaba com algumas apreciações sobre alguns personagens da revolução, e só é pena não ter tido vontade ou oportunidade para se alongar com outros pormenores reveladores de muitas falácias e influências que ainda perduram como verdades incontestáveis.
Desejo-vos boas leituras.
JD
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13499: Notas de leitura (622): Trajectórias divergentes: Guiné-Bissau e Cabo Verde desde a Independência, na Revista "Relações Internacionais R:I", dirigida por Nuno Severiano Teixeira (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13508: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte IV: Nem bem com Deus nem com César, ou a dupla dificuldade de ser-se sacerdoite vestido de camuflado numa terra a ferro e fogo...
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 32 >
"Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART 1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Edifício do comando. Presença de militares, civis da administração, correios e comerciantes locais.
"Da esquerda para a direita, (A) um militar, de camuflado que não consigo identificar; (B) de costas, o cap médico Morais; (C) o comandante, ten cor Abílio Santiago Cardoso; (D) quatro funcionários dos Correios e Administração; (E) o comerciantes Sr. José Saad [, libanês,] e filha; (F) o comerciante, Sr. Mota: (G) o comerciante Sr. Dantas e filha; (H) o comerciante Sr. Barros; (I) o electricista civil Jerónimo: (J) e, por fim, o alf mil capelão Horácio [Neto Fernandes]".
Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Catió - Vila > A igreja mandada edificar pelos missionários italisnos, entranto expulsos da zona, Guiné, no início da guerra...
Foto de Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados
1. Continuação da publicação do testemunho do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Horácio Fernandes.que foi alf mil capelão no BART 1913 (Catió, 1967/69) (*)
[ Horácio Fernandes: foto à direita tirada pelo nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mec armam, CCS/BART 1913].
Esse tstemunho é um excerto do seu livro autobiográfico, "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009, pp. 127-162). O livro já aqui foi objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos (*). (LG)
O Horácio Fernandes vive há 4 décadas no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio no início dos anos 70. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.
Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, (1995): Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia (147 pp.) (A tese de dissertação, orientada pelo Prof Doutor Stephen R. Stoer, já falecido, está aqui disponível em formato pdf).
Nesta IV parte (pp. 143-148), o autor realta-nos a dupla dificuldade que era ser capelâo militar, aos olhos dos militares (e em especial dos furriéis e alferes milicianos, já mais afastados da prática religiosa), e ao mesmo tempo ser sacerdote católico, aos olhos dos civis, e em especial dos balantas cristianizados... A outra etnia predominahte em Catió eram os fulas, ilsmazizados. Os missionários italianos que estavam em Catió tinham sido explusos pelas autoridades portugueses no início da guerra.
Foi o nosso camarada e amigo Alberto Branquinho quem descobriu o paradeiro do seu antigo capelão (*). Tenho a autorização verbal do autor, dada por altura do nosso reencontro, 50 anos depois da sua missa nova (em 15 de agosto de 1959, em Ribamar, sua terra natal), para reproduzir esta parte do livro, relativa à sua experiênciade como capelão militar na Guiné, muito marcante e decisiva para o seu futuro como homem e como padre. Ele irá abandonar o sacerdócio ainda nop início dos anos 70, depois de regressar da Guiné e fazer uma curta experiência como capelão da marinha mercante aos serviço do Stella Maris.
Eu e o Horácio somos parentes, pertencemos ao clã Maçarico, de Ribamar, Lourinhã: a minha bisavó paterna e do seu bisavô paterno, nascidos por volta de 1860, eram irmãos. (LG)
Último poste da série < 15 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13498: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte III: Um periquito praxado com pornografia à mesa do comandante... E as primeiras impressões (más) de Catió e do destacamento de Ganjola...
Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Catió - Vila > A igreja mandada edificar pelos missionários italisnos, entranto expulsos da zona, Guiné, no início da guerra...
Foto de Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados
1. Continuação da publicação do testemunho do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Horácio Fernandes.que foi alf mil capelão no BART 1913 (Catió, 1967/69) (*)
[ Horácio Fernandes: foto à direita tirada pelo nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mec armam, CCS/BART 1913].
Esse tstemunho é um excerto do seu livro autobiográfico, "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009, pp. 127-162). O livro já aqui foi objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos (*). (LG)
O Horácio Fernandes vive há 4 décadas no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio no início dos anos 70. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.
Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, (1995): Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia (147 pp.) (A tese de dissertação, orientada pelo Prof Doutor Stephen R. Stoer, já falecido, está aqui disponível em formato pdf).
Nesta IV parte (pp. 143-148), o autor realta-nos a dupla dificuldade que era ser capelâo militar, aos olhos dos militares (e em especial dos furriéis e alferes milicianos, já mais afastados da prática religiosa), e ao mesmo tempo ser sacerdote católico, aos olhos dos civis, e em especial dos balantas cristianizados... A outra etnia predominahte em Catió eram os fulas, ilsmazizados. Os missionários italianos que estavam em Catió tinham sido explusos pelas autoridades portugueses no início da guerra.
Foi o nosso camarada e amigo Alberto Branquinho quem descobriu o paradeiro do seu antigo capelão (*). Tenho a autorização verbal do autor, dada por altura do nosso reencontro, 50 anos depois da sua missa nova (em 15 de agosto de 1959, em Ribamar, sua terra natal), para reproduzir esta parte do livro, relativa à sua experiênciade como capelão militar na Guiné, muito marcante e decisiva para o seu futuro como homem e como padre. Ele irá abandonar o sacerdócio ainda nop início dos anos 70, depois de regressar da Guiné e fazer uma curta experiência como capelão da marinha mercante aos serviço do Stella Maris.
Eu e o Horácio somos parentes, pertencemos ao clã Maçarico, de Ribamar, Lourinhã: a minha bisavó paterna e do seu bisavô paterno, nascidos por volta de 1860, eram irmãos. (LG)
Nem bem com Deus nem César...
(Contnua)
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Nota do editor:
Último poste da série < 15 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13498: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte III: Um periquito praxado com pornografia à mesa do comandante... E as primeiras impressões (más) de Catió e do destacamento de Ganjola...
Guiné 63/74 - P13507: Recortes de imprensa (69): O jornal Notícias De Cá e De Lá, na reportagem sobre os 128 do Concelho de Loures, cita o nosso Blogue (José Marcelino Martins)
1. Em mensagem do dia 13 de Agosto de 2014, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70), enviou-nos um recorte do jornal Notícias De Cá e De Lá com uma reportagem da Comemoração dos 128 anos do Concelho de Loures, onde no parágrafo assinalado na imagem se faz referência ao nosso Blogue e ao Zé Martins.
Nota do editor
Último poste da série de 14 DE AGOSTO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13497: Recortes de imprensa (68): Notícia sobre o lançamento do livro "O Corredor da Morte", do nosso camarada Mário Gaspar, no Jornal Apoiar
Clicar na imagem para ampliar
____________Nota do editor
Último poste da série de 14 DE AGOSTO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13497: Recortes de imprensa (68): Notícia sobre o lançamento do livro "O Corredor da Morte", do nosso camarada Mário Gaspar, no Jornal Apoiar
Guiné 63/74 - P13506: Parabéns a você (771): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metraladora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 16 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13502: Parabéns a você (770): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 16 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13502: Parabéns a você (770): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)
sábado, 16 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13505: Quem era, afinal, o cap art Carlos Borges de Figueiredo, cmdt da CART 2742 (Fajonquito, 1970/72), morto em 2/4/1972, num sangrento domingo de Páscoa? Bem como o infeliz sold Pedro José Aleixo de Almeida? (José Cortes / Luís Graça / Carlos 'Gomes' / Cherno Baldé / António Bernardo)
1. Uma das versões sobre a tragédia de Fajonquito, ocorrida no domingo de Páscoa, de 2 de abril de 1972, já aqui nos foi contada pelo José Cortes, ou melhor, foi-me contada de de viva voz, ao telefone, pelo José Cortes e reproduzida por mim (*).
Recorde-se que o José Corttes [, foto atual à direita], vive em Coimbra, trabalhou como técnico de manutenção nos SUCH [, Serviços de Utilização Comum dos Hospitais] e foi fur mil at inf Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74, a companhia que foi render a CART 2742 de que o cap art Carlos Borges de Figueiredo foi comandante até 2/4/1972.
Recorde-se que o José Corttes [, foto atual à direita], vive em Coimbra, trabalhou como técnico de manutenção nos SUCH [, Serviços de Utilização Comum dos Hospitais] e foi fur mil at inf Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74, a companhia que foi render a CART 2742 de que o cap art Carlos Borges de Figueiredo foi comandante até 2/4/1972.
O José Cortes falou-me com emoção desses tempos da Guiné. Ele próprio tem um filho que foi paraquedista e esteve em missões de paz (por ex.,Timor, Bósnia). Mas, como muitos outros camaradas, queixa-se de que nem sempre a família tem pachorra para ouvir as suas recordações da Guiné. Uma das que está bem presente na sua memória é a da morte do capitão e mais três ou quatro militares da companhia (a CART 2742, Fajonquito, 1970/72) que eles foram render.
Recorde-se que a CART 2742, comandada pelo cap art Carlos Borges de Figueiredo e, posteriormente, pelo alf mil art Baltazar Gomes da Silva, era uma unidade orgânica do BART 2920, mobilizada em Penafiel no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, tendo assumido a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 2436, em 13 de Agosto de 1970, e vindo a ser substituída pela CCaç 3549 em 21 de Maio de 1972..
Recorde-se que a CART 2742, comandada pelo cap art Carlos Borges de Figueiredo e, posteriormente, pelo alf mil art Baltazar Gomes da Silva, era uma unidade orgânica do BART 2920, mobilizada em Penafiel no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, tendo assumido a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 2436, em 13 de Agosto de 1970, e vindo a ser substituída pela CCaç 3549 em 21 de Maio de 1972..
O José Cortes tinha-me prometido contar essa história,k por escrito, mas só não o fez o fez por, alegadamente, ter "fraco jeito para a escrita". Aqui vai, pois, a sua versão oral (*):
(i) havia um soldado da CART 2742 que, uma vez terminada a comissão, queria ficar na Guiné como civil;
(ii) ao que parece o cap art Carlos Borges Figueiredo manifestou, desde logo, a sua firme oposição à ideia do soldado, de resto contrária a todo o bom senso e sobretudo ao RDM: ter-lhe ditro;: "se viesrte comigo, voltas comigo!";
(iii) em consequência, as relações entre o soldado da CART 2742 e o seu comandante tornaram-se conflituosas; neste contencioso, foi envolvido também o primeiro sargento;
(iv) a mulher do capitão havia mandado, da metrópole, "dez quilos de amêndoas" (sic) para distribuir pelo pessoal da companhia; a distribuição foi feita pelo próprio comandante, no refeitório, no domingo de Páscoa, 2 de Abril de 1972;
(v) quando chegou a vez do soldado em questão, o capitão terá passado à frente, num ato que aquele interpretou como de intolerável discriminação;
(vi) o soldado levantou-se, sem pedir a licença a ninguém, e saiu do refeitório; dirigiu-se ao seu abrigo (ou à sua caserna) e veio para a parada com "duas granadas de mão já descavilhadas", uma em cada mão (umna cena digna dos filmes do Faroeste);
(vii) foi direito à secretaria: o primeiro sargento ter-se-á apercebido, a tempo, das malévolas intenções do soldado, tendo-se posto a salvo em bom tempo;
(viii) no interior da secretaria, estavam o capitão, um alferes e um furriel; ninguém sabe o que se terá passado lá dentro; o soldado terá deixado cair as duas granadas, descavilhadas; o teto da secretaria foi pelos ares; lá dentro ficaram 4 cadáveres
(ix) mortos, em 2/4/1972, todos do Exército, por acidente (sic), constam os seguintes nomes, na lista dos Mortos do Ultramar da Liga dos Combatentes:
- Alcino Franco Jorge da Silva, fur mil;
- Carlos Borges de Figueiredo, cap art;
- José Fernando Rodrigues Félix, alf mil;
- Pedro José Aleixo de Almeida, sold básico.
(x) sabemos que o sold básico Pedro José Aleixo de Almeida era natural de Portel, em cujo cemitério local repousam os seus restos mortais; foi o protagonista desta trágica história (fonte: Portal Ultramar Terraweb > Os mortos em campanha do BART 2920, 1970/72);
(xi) por sua vez, o alf mil art op esp José Fernando Rodrigues Félix era de Moimenta da Beira em cujo cemitério local está sepultado:
(xii) o cap mil art Carlos Borges de Figueiredo era natural de Vila Pouca de Aguiar; a sua última morada era Meadela, Viana do Castelo, possivelmente a terra da sua esposa;
(xiii) por último, o fur mil Alcino Franco Jorge da Silva também era de op esp, sendo natural de Carcavelos. Cascais; está sepultado no cemitério de S. Domingos de Rana;
(xiv) não sabemos o que faziam os dois rangers na secretaria, possivelmente terão vindo em auxílio do capitão com a intenção de desarmar o militar, o sold básico Pedro José Aleixo de Almeida, que trazia consigo as duas granadas descavilhadas (ou só uma, segundo outras versões), pronto possivelmente para acaber com a sua vida e de quem mais se lhe atravessase no caminho;
(xv) o José Cortes fala em cinco mortos, mas tudo indica que sejam apenas os quatro que constam da lista da Liga dos Combatentes;
(xvi) li, em tempos, que o caso foi também utilizado pelo serviço de propaganda do PAIGC (nomeadamente pela "Maria Turra", da Rádio Libertação) para desmoralizar as tropas portuguesas: há um documento do PAIGC, no Arquivo Amílcar Cabral, no portal Casa Comum, desenvolvido pela Fundação Mário Soares (FMS), que faz referência ao sucedido, e e que de momento não consigo localizar;
(xvii) o facto de o insólito caso ter ocorrido em Fajonquito, na fronteira com o Senegal, significa que foi de imediato conhecido da população local, das autoridades do Senegal e do PAIGC; o nosso Cherno Baldé, na altura com 10/11 anos, faz referência, num dos seus postes a este trágico "acidente", que ocorreu a 100 metros, quando ele estava a brincar com outros putos na parada (**);
(xviii) gostaríamos de ter outras versões deste acontecimento; infelizmente não temos ninguém, na nossa Tabanca Grande, da CART 2742 / BART 2920; julgo que seja difícil, ainda hoje, aos camaradas da CART 2742 abordar esta história, tão trágica quanto absurda...
Infelizmente, este caso não foi único no TO da Guiné: o acesso fácil a armas de guerra e a usura física e mental da guerra ajudam também a explicar estes surtos de violência patológica que, de tempos a tempos, ocorriam nas nossas fileiras.
Quantos suicídios terão havido no CTIG, ao longo da guerra ? Quantos homícídios terão ocorrido, dentro das NT ?
Na lógica da hierarquia militar, estes casos eram eufemistica e hipocriticamente tratados como "acidentes com armas de fogo" (sic).... E assim ficarão, para a história - como acidentes, inexplicáveis - , se não houver da parte dos contemporâneas e das testemunhas presenciais destes casos a vontade de contribuir, com depoimentos em primeira mão, para o seu esclarecimento...
Intrigam-nos casos como este. O que podia levar um militar português a querer ficar na Guiné, na vida civil ?
- Podia não ter ninguém à sua espera, na sua terra, não ter família, não ter amigosM;
- podia, por qualquer razão, querer esquecer a sua origem ou condição;
- podia estar perdido de amores por alguma bajuda;
- podia estar pura e simplesmente deprimido ou psicótico...
Um indivíduo deprimido ou psicótico pode facilmente perder a noção do perigo, ficar indiferente a uma situação de perigo imediato e iminente, e até desejar a sua própria morte. Não nos parece ter sido uma acção premeditada, pensada e amadurecida a frio... Em princípio, foi uma acção precipitada, irreflectida, impulsiva. O tal "acto de loucura" da "vox populi"...
A ser verdade que o capitão deliberadamente ou não discriminou o soldado, aquando da distribuição das amêndoas, isso poderá ser sido "a gota de água" que transformou um conflito disciplinar num massacre... No final da comissão de uma companhia, na festa do em que se celebrava o dever cumprido, no domingo (afinal, sangrento) de Páscoa de 2 de Abril de 1972...
3. Comentário do nosso leitor (e camarada) Carlos Gomes (*):
3. Comentário do nosso leitor (e camarada) Carlos Gomes (*):
Gostava de comentar o drama da Páscoa de 72 em Fajonquito. Longe de mim fazer juizos de valores, de quem quer que seja, nem fomentar polémicas. Da CCS do BART 2920 fui destacado como enfermeiro para a CART 2742, sediada em Fajonquito, no periodo de 2 dezembro 70 a 20 maio de 71. Por conseguinte um ano antes do trágico acontecimento [2/4/1972]. Se bem me lembro, foi nesse periodo que também chegou o sold Almeida à CART 2742. Dizia-se que ele vinha dos comandos, expulso ou castigado.
Conheci o Almeida quase de imediato, pois ele tinha problemas de pele em várias partes do corpo que passei a tratar. Passado algum tempo apercebi-me que ele, Almeida, tinha algumas pertubações a nivel emocional. Não esqueço a forma maliciosa como a rapaziada o apelidava ou tratava: Almeida, "apanhado, bate mal da bola, maluco"...
O Almeida estava sempre a alinhar nas saídas para o mato, dava para perceber que as relações com o comandante da companhia não eram das melhores. Lembro um episódio em que o Almeida lavava os dentes à porta da camarata e o cap Figueiredo lhe chamar a atenção para o que estava a fazer, o que gerou entre ambos alguma discussão.
Como é óbvio, tambem conheci o cap Figueiredo, algumas vezes lhe prestei assistência. Homem possante e de elevada estatura, era um eximio jogador de futebol de salão. Pelo que sei era militar de carreira (e não miliciano). As suas atitudes na liderança da companhia, em vez de gerar confiança, tinham o efeito contrário. Eu sempre que podia, evitava-o...
2 de Abril de 1972: Tragédia. Pelos relatos que me chegaram, o Almeida passou-se de todo, queria o ajuste de contas com o capitão e o primeiro sargento...Com uma granada na mão, descavilhada, entra na secretaria onde pretende ficar com o capitão e o sargento. O alf Alcino e o furriel Félix tentaram demover o Almeida. Disse-se que o Almeida gritou para que eles saíssem, ao alferes e ao furriel, o que não fizeram ou não tiveram tempo de o fazer. Quanto ao sargento, talvez só ele possa dizer como escapou.
As razões para este acto tavez no concreto nunca se venham a saber, mas duma coisa tenho eu a certeza: actos como estes e tantos outros que aconteceram nesta guerra, não aconteceram por acaso (...)
4. Comentário do Cherno Baldé (**)
(..:) Depois do "acidente" ou melhor do homicidio, a versão que circulou e ficou até hoje entre a população nativa é bem diferente daquela que estou a ler agora na maior parte dos comentários.
Pela versão que prevaleceu entre nós, alegadamente, o soldado Almeida estava revoltado por não poder voltar à sua terra após várias comissões de serviço, em virtude de um castigo a que estava sujeito e tinha decidido acabar com a sua vida e com ele, também, a do comandante da companhia. Claro que isto faz parte dos rumores que circularam, na ausência de informações oficiais, na altura.
Quero dizer a quem me quiser ouvir, e isto por minha conta, que o Almeida era um soldado "profissional" muito aguerrido que dificilmente poderia levar uma vida civil pacata no meio indígena ou gerindo uma lojeca ou um restaurante para servir a malta europeia numa cidade qualquer da Guiné.
Quero dizer a quem me quiser ouvir, e isto por minha conta, que o Almeida era um soldado "profissional" muito aguerrido que dificilmente poderia levar uma vida civil pacata no meio indígena ou gerindo uma lojeca ou um restaurante para servir a malta europeia numa cidade qualquer da Guiné.
O Almeida não era um soldado vulgar e via-se claramente que no se tinha integrado na companhia dos restantes soldados milicianos aos quais ele nutria muita pouca consideração e/ou respeito.Tão pouco se podia integrar no meio dos pretos, embora se identificasse com eles. Penso que, antes de mais, o nosso amigo Ameida (ele era de facto um amigo e defensor das crianças que frequentavam o aquartelamento, ai de quem se atrevesse a fazer mal a uma criançaa na sua presença!) deve ter sido mais uma das inúmeras vitimas daquela guerra terrível. (..)
Guiné > Região de Bafatá > Fajonquito > CART 2742 (1970/72) > "Fajonquito em festa... Com a CART 2742 (1970-72) o ambiente entre a tropa e a população melhorou bastante, atingindo níveis nunca antes vistos. A foto de 1971 (amigavelmente enviada pelo ex-Furriel Mil. José Bebiano), mostra uma calorosa recepção de um grupo de artistas vindos da metrópole para animar a malta. Ao meio e ao lado de uma das artistas pode-se ver o nosso saudoso Cap Carlos Borges de Figueiredo. O rapazinho nas mãos do homem dos óculos escuros é o Carlitos, filho de um soldado português que, mais tarde, iria à procura do pai, tendo aquele recusado o encontro à última da hora. O ex-Furriel José Bebiano, que era de rendição individual, tendo feito toda a sua comissão em Fajonquito poderia, eventualmente, identificar os soldados que acompanham o seu Comandante nesta foto." (Foto de José Bebiaao; legenda de Cherno Baldé).
5. Cherno Baldé > Homenagem póstuma ao Cap Carlos Borges de Figueiredo (**)
(...) Em 1970 chegou uma nova companhia (CART 2742 do Cap Figueiredo) e com ele inaugurou-se o período mais profícuo e dinâmico de Fajonquito. Nessa altura sentiu-se, de facto, que a Guiné estava a mudar e positivamente. Foi nessa altura, também, que acabei por me fixar no quartel como faxina num dos quartos da ferrugem (condutores), onde tinha a clara consciência de estar no meio de amigos, mas nem por isso isento de perigos. Sentia-me a vontade quando estava na caserna com os meus amigos condutores, mas sempre vigilante quando deambulava sozinho dentro do quartel. A idade, o stress provocado pela guerra, as saudades da terra natal e, provavelmente, o sentimento de impunidade por actos considerados menores, propiciavam alguns exageros em forma de brincadeira que não eram sancionados. Claro está que, salvo raras excepções, normalmente os lobos não se comem uns aos outros.
O Cap Figueiredo baniu a proibição da entrada no quartel, abriu as portas aos meninos, mas como contra partida pediu para que todos fossem à escola depois das horas de trabalho de faxina. Não era agradável, mas compensava. Pela primeira vez, foram colocados postes de iluminação na rua principal da vila, para alegria da criançada. Os oficiais da companhia davam apoio aos professores locais dentro e fora das aulas, com modalidades de futebol e ginástica. Foi instituída uma merenda para todos os alunos e prémios aos que se distinguiam nas aulas e nos exames finais, por exemplo, a participação nos campos de férias da Mocidade Portuguesa.
Muitas das pessoas que hoje são quadros nacionais na Guiné-Bissau têm uma dívida de gratidão aos soldados portugueses que, como o Cap Figueiredo e o grupo dos seus oficiais e sargentos, contribuíram para a sua formação de base.
Guiné > Região de Bafatá > Fajonquito > CART 2742 (1970/72) > "Fajonquito em festa... Com a CART 2742 (1970-72) o ambiente entre a tropa e a população melhorou bastante, atingindo níveis nunca antes vistos. A foto de 1971 (amigavelmente enviada pelo ex-Furriel Mil. José Bebiano), mostra uma calorosa recepção de um grupo de artistas vindos da metrópole para animar a malta. Ao meio e ao lado de uma das artistas pode-se ver o nosso saudoso Cap Carlos Borges de Figueiredo. O rapazinho nas mãos do homem dos óculos escuros é o Carlitos, filho de um soldado português que, mais tarde, iria à procura do pai, tendo aquele recusado o encontro à última da hora. O ex-Furriel José Bebiano, que era de rendição individual, tendo feito toda a sua comissão em Fajonquito poderia, eventualmente, identificar os soldados que acompanham o seu Comandante nesta foto." (Foto de José Bebiaao; legenda de Cherno Baldé).
5. Cherno Baldé > Homenagem póstuma ao Cap Carlos Borges de Figueiredo (**)
(...) Em 1970 chegou uma nova companhia (CART 2742 do Cap Figueiredo) e com ele inaugurou-se o período mais profícuo e dinâmico de Fajonquito. Nessa altura sentiu-se, de facto, que a Guiné estava a mudar e positivamente. Foi nessa altura, também, que acabei por me fixar no quartel como faxina num dos quartos da ferrugem (condutores), onde tinha a clara consciência de estar no meio de amigos, mas nem por isso isento de perigos. Sentia-me a vontade quando estava na caserna com os meus amigos condutores, mas sempre vigilante quando deambulava sozinho dentro do quartel. A idade, o stress provocado pela guerra, as saudades da terra natal e, provavelmente, o sentimento de impunidade por actos considerados menores, propiciavam alguns exageros em forma de brincadeira que não eram sancionados. Claro está que, salvo raras excepções, normalmente os lobos não se comem uns aos outros.
O Cap Figueiredo baniu a proibição da entrada no quartel, abriu as portas aos meninos, mas como contra partida pediu para que todos fossem à escola depois das horas de trabalho de faxina. Não era agradável, mas compensava. Pela primeira vez, foram colocados postes de iluminação na rua principal da vila, para alegria da criançada. Os oficiais da companhia davam apoio aos professores locais dentro e fora das aulas, com modalidades de futebol e ginástica. Foi instituída uma merenda para todos os alunos e prémios aos que se distinguiam nas aulas e nos exames finais, por exemplo, a participação nos campos de férias da Mocidade Portuguesa.
Muitas das pessoas que hoje são quadros nacionais na Guiné-Bissau têm uma dívida de gratidão aos soldados portugueses que, como o Cap Figueiredo e o grupo dos seus oficiais e sargentos, contribuíram para a sua formação de base.
O meu caso não é paradigmático porque fui obrigado a ir às aulas que detestava com todas as minhas forças, mas a teimosia dos meus pais, em particular a minha avó, e também, porque o quartel já não servia de refúgio aos refractários, tinha que cumprir as condições do nosso Capitão, depois pouco a pouco o meu horizonte que antes estava confinado à vida da minha aldeia e arredores, foi-se abrindo as maravilhas da ciência e do mundo externo.
Mas como se costuma dizer, Deus escreve direito por linhas tortas, porque, depois de tudo o que fizeram por nós, estava predestinado que ele e parte dos seus oficiais nunca voltariam à sua terra natal. Eis a razão desta homenagem, também, ao Cap Carlos Borges de Figueiredo.
A toda a sua família e aos que o conheceram ou partilharam parte da sua vida e do seu percurso, quero expressar, em meu nome pessoal e em nome de todos os habitantes de Fajonquito, os meus sentimentos de pesar, mesmo que tardios e enaltecer o comportamento do Cap Figueiredo, como homem e como militar que, a justo título, foi um comandante exemplar para a sua época, que veio, sem medo, para o cenário da guerra trazendo consigo a semente da paz; que sem descurar a defesa dos seus homens, transformou as operações militares em operações para a promoção do desenvolvimento; acreditou na capacidade dos mais novos para a construção de uma Guiné melhor sem esquecer a sabedoria dos mais velhos; que investiu parte dos poucos recursos de que dispunha numa derradeira tentativa de construção dos fundamentos do homem novo que a Guiné tanto precisava.
Carlos Borges de Figueiredo foi oficial e comandante que compreendeu como poucos e soube executar com mestria a nova filosofia que o Gen Spínola queria com a sua politica "Por uma Guiné Melhor” (...)
6. Comentário de António Bernardo [nosso leitor e camarada, mas não registado na Tabanca Grande; pertenceu à CCS/BART 2920]
Muito embora, seja um dos melhores textos do Cherno Baldé (**), o mesmo peca por um retrato falseado, no que respeita ao cap art Carlos Borges de Figueiredo, cmdt da CArt 2742, sedeada em Fajonquito e subunidade do BArt 2920 (1970/72).
Mas como se costuma dizer, Deus escreve direito por linhas tortas, porque, depois de tudo o que fizeram por nós, estava predestinado que ele e parte dos seus oficiais nunca voltariam à sua terra natal. Eis a razão desta homenagem, também, ao Cap Carlos Borges de Figueiredo.
A toda a sua família e aos que o conheceram ou partilharam parte da sua vida e do seu percurso, quero expressar, em meu nome pessoal e em nome de todos os habitantes de Fajonquito, os meus sentimentos de pesar, mesmo que tardios e enaltecer o comportamento do Cap Figueiredo, como homem e como militar que, a justo título, foi um comandante exemplar para a sua época, que veio, sem medo, para o cenário da guerra trazendo consigo a semente da paz; que sem descurar a defesa dos seus homens, transformou as operações militares em operações para a promoção do desenvolvimento; acreditou na capacidade dos mais novos para a construção de uma Guiné melhor sem esquecer a sabedoria dos mais velhos; que investiu parte dos poucos recursos de que dispunha numa derradeira tentativa de construção dos fundamentos do homem novo que a Guiné tanto precisava.
Carlos Borges de Figueiredo foi oficial e comandante que compreendeu como poucos e soube executar com mestria a nova filosofia que o Gen Spínola queria com a sua politica "Por uma Guiné Melhor” (...)
6. Comentário de António Bernardo [nosso leitor e camarada, mas não registado na Tabanca Grande; pertenceu à CCS/BART 2920]
Muito embora, seja um dos melhores textos do Cherno Baldé (**), o mesmo peca por um retrato falseado, no que respeita ao cap art Carlos Borges de Figueiredo, cmdt da CArt 2742, sedeada em Fajonquito e subunidade do BArt 2920 (1970/72).
É bom lembrar que, embora ostentasse galões nos ombros, era um homem boçal, diria mesmo que labrego, igual a muitos outros que comandavam outros homens.
A sua personalidade conflituosa levou ao ajuste de contas, ocorrido no domingo de Páscoa,de 2 de Abril de 1972, e aqui já abordado no post 5938 (*)
António Bernardo
[CCS/BART 2920, Bafatá, 1970/72]
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 6 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)
(**) Vd. poste de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...
(**) Vd. poste de 15 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13500: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (47): Retrato de uma família - A guerra, a pobreza e a presença dos soldados portugueses
Vd. também poste de 24 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6244: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (14): Cap Figueiredo: Capiton Lelö dahdè ou capitão cabeça inclinada
(...) "O que vou dizer pode parecer paradoxal se não incongruente. O Sr. Carlos Borges de Figueiredo, ao contrário de muitos outros, foi um Capitão pacifista pois ele tinha-se distinguido, sobretudo, pela promoção da educação entre as crianças nativas (o número de alunos na escola local tinha aumentado significativamente facto que poderia estar ligado ao ambiente de paz criado e uma grande sensibilidade pelos problemas sociais da população) e organização de eventos sócio-culturais que, não só afastavam, por algumas horas, o espectro da guerra e da morte entre a tropa mas eram também muito úteis e importantes na construção de relações de aproximação e de confiança com a populaçã local, tão prezada por General Spínola.
Foi nessa altura que, pela primeira vez, recebemos a visita de grupos musicais vindos da metrópole. Numa dessas visitas, lembro-me da presença de uma ou mais mulheres cantavam o Fado. A música era muito morna, lenta demais para o nosso gosto temperado na ritmada, quase violenta dança de tambor mandinga. No meio de tudo isso, não nos escapou um detalhe importante. Notamos a deferençaa e o extremo respeito com que todos a(s) tratavam. O respeito dado àquela(s) mulher(res) contrastava de forma flagrante com a maneira como habitualmente lidavam com as nossas mulheres, fossem elas grandes ou pequenas. E não estou a referir-me, claro esta, à esposa do Capitão que, também, deve ter visitado Fajonquito.
Ele ficou conhecido no meio da populacao local com o nome de Capiton Lelö dahdè o que na lingua fula significa o Capitão cabeça inclinada. Talvez aqueles que o conheceram de perto me possam corrigir, parece que ele tinha o hábito de inclinar ligeiramente a cabeça para um dos lados, daí o nome com que o baptizaram e que fica para a historia." (...)
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Guiné 63/74 - P13504: Blogpoesia (387): Artífice da Paz (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)
1. Em mensagem do dia 12 de Agosto de 2014, o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos este poema a que deu o título de Artífice da Paz.
Artífice da Paz
Dei comigo apavorado,
Ao toque do clarim.
Convocava-me para a guerra,
Fazendo de mim um soldado,
E eu não queria viver assim.
E segurei as palavras, num turbilhão,
Que da boca me fugiam, sem tino.
O combate, a fuga ou a prisão,
Eram o meu triste destino.
E sem poder fugir da guerra,
Sem poder fugir de mim,
Eu que queria amar a terra,
Comigo me desavim.
... ... ...
E alinhei como combatente,
De estratégia bem estudada,
Ser comigo, coerente,
E fazer da guerra uma justa jornada.
Das balas fiz doces palavras,
Que atirava com sorrisos.
Continuamente…
E sorrisos, recebia,
Alegremente.
As granadas dos canhões,
Em momentos bem precisos,
Transformei-as em abraços
Que uniam corações
Quase sempre empedernidos.
Dois anos vivi correndo,
Séculos e séculos, sem fim,
Caminhando pelo sonho
No longo do rio da esperança.
E regressei ao futuro
De um passado já vivido,
Um presente de bonança.
Triste pelo que vi e sofri,
Alegre pela vida que vivi.
E retomei o caminho, longe da guerra,
Gritando ao fora de mim
– Vale a pena, nesta terra,
Lutar…
Lutar e fazer da vida um festim.
José Teixeira
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13490: Blogpoesia (387): Manchas e nódoas... (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)
Artífice da Paz
Dei comigo apavorado,
Ao toque do clarim.
Convocava-me para a guerra,
Fazendo de mim um soldado,
E eu não queria viver assim.
E segurei as palavras, num turbilhão,
Que da boca me fugiam, sem tino.
O combate, a fuga ou a prisão,
Eram o meu triste destino.
E sem poder fugir da guerra,
Sem poder fugir de mim,
Eu que queria amar a terra,
Comigo me desavim.
... ... ...
E alinhei como combatente,
De estratégia bem estudada,
Ser comigo, coerente,
E fazer da guerra uma justa jornada.
Das balas fiz doces palavras,
Que atirava com sorrisos.
Continuamente…
E sorrisos, recebia,
Alegremente.
As granadas dos canhões,
Em momentos bem precisos,
Transformei-as em abraços
Que uniam corações
Quase sempre empedernidos.
Dois anos vivi correndo,
Séculos e séculos, sem fim,
Caminhando pelo sonho
No longo do rio da esperança.
E regressei ao futuro
De um passado já vivido,
Um presente de bonança.
Triste pelo que vi e sofri,
Alegre pela vida que vivi.
E retomei o caminho, longe da guerra,
Gritando ao fora de mim
– Vale a pena, nesta terra,
Lutar…
Lutar e fazer da vida um festim.
José Teixeira
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13490: Blogpoesia (387): Manchas e nódoas... (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)
Guiné 63/74 - P13503: Bom ou mau tempo na bolanha (62): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (2) (Tony Borié)
Sexagésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Dizem que é o “Novo Mundo”, não sei de onde veio esta expressão, mas a presença de europeus andou por aqui, como andou pela África, pela Oceânia e por outras paragens, pois as aldeias, vilas ou cidades, em qualquer “virar de esquina” por onde passamos, mostram-nos “Europa”.
Muitas vezes, mesmo na estrada, guiando, olhamos a paisagem e lá está, a casa “europeia”, a cerca em volta do quintal, o cão preso a uma corrente, as vacas pastando, um pequeno quintal em redor da casa, um poço com uma “roldana”, em geral as casas foram construídas próximo de um ribeiro, ou de um local onde existe água, às vezes são locais isolados, mas lá estão as árvores em seu redor, algumas já velhas, da idade da casa.
Existem zonas, por onde passamos, que são autênticas “savanas de África”, mas quando surge uma casa, é “europeia”, onde há cultivo, é quase igual ao modelo que se vê na Europa, não, como eu via em Mansoa, em Bissorã ou no Olossato, portanto lá na África, aqui, no que dizem ser o “Novo Mundo”, o modelo europeu está sempre presente, sempre se vê ao “dobrar de esquina”, como é costume dizer-se, embora os europeus também tivessem levado alguns costumes lá para África.
Nós, ainda era madrugada, abandonámos a estrada número 24, que nos levou de leste para oeste e de sul para norte, entrando por poucas milhas na estrada número 57, tudo isto no estado de Illinois e, lá está, sem nos apercebermos, estávamos a fazer o mesmo percurso que os missionários franceses fizeram muitos anos atrás, quando desembarcaram, talvez nos portos de New Orleans, Savannah, Charleston, Philadelphia, ou Boston, pois foram eles os primeiros europeus a explorarem a região do actual Illinois, quando em 1763 fazia parte da Nova França, altura em que passou ao domínio britânico, mas em 1783, após o fim da Revolução Americana de 1776, passa a fazer parte dos Estados Unidos e em 1818, tornou-se o 21.° estado americano.
Estávamos na parte sul do estado, onde a agricultura é uma importante fonte de renda e onde geograficamente, o Illinois se caracteriza por o seu terreno ser pouco acidentado e também pelo seu clima altamente instável, mas não nos afectava muito esta particular observação, pois passadas umas horas já circulávamos na estrada 64, com alguma chuva e um pouco de vento, mas não ciclónico, pois o Jeep e a Caravana ia segura, sempre sem dificuldade, com suficiente visibilidade e alguma segurança, indo a caminho da cidade de St. Louis, já no estado Missouri, que também foi fundada pelos franceses no ano de 1763, estando localizada na confluência do rio Mississippi e do rio Missouri, funcionando na altura como entreposto comercial. Esta cidade, devido à sua localização, foi motivo de guerras entre franceses e ameríndios, passou para as mãos espanholas e mais tarde, juntamente com o resto do território da Louisiana, foi devolvida à França, tendo a cidade sendo adquirida posteriormente adquirida a este país, pelos Estados Unidos, com a “Compra da Louisiana”.
A cidade de St. Louis, mais tarde, converteu-se em ponto de partida de exploradores do Oeste Americano e colonizadores que emigraram para Oeste e hoje quem se aproxime da cidade, mesmo a muitas milhas de distância, pode avistar o “Gateway Arch”, que dizem que é o mais alto monumento em solo norte americano.
Nesta cidade, que já pertence ao estado do Missouri, que também foi adquirido pelos Estados Unidos na célebre “Compra da Louisiana”, no ano de 1803, cujo cognome é Mother of the West (Mãe do Oeste), é uma das primeiras regiões do novo território a ser povoada por colonos norte americanos. À medida que o país passou a expandir-se em direção ao oeste, o Missouri passou a ser uma das principais escalas dos emigrantes, tendo-se tornado no 24.° estado norte americano em 1821. Dizem que a indústria agropecuária do Missouri fazia grande uso do “trabalho escravo”.
Deixando um pouco a história para trás, seguimos na estrada 70, com longas zonas desertas, quintas, algumas abandonadas, plantações de milho ou trigo, algumas manadas de vacas, áreas transformadas em zonas de caça, poços de petróleo trabalhando, geradores de energia movidos a vento, até à cidade de Kansas City, ainda no estado do Missouri, pois existem duas cidades com o nome Kansas City, uma no estado de Missouri, outra no estado de Kansas, onde depois de atravessar a cidade entrámos em Kansas City, Kansas, regressando de novo Kansas City, Missouri, rumo ao norte pela estrada 29, entrando no estado de Iowa, parando na cidade de Council Bluffs, no estado de Iowa, para ver o encontro de futebol, a contar para o campeonato do mundo, entre os USA e Portugal, com um resultado que não nos deu nem alegria nem tristeza, aqui fomos dormir.
Neste dia, percorremos 668 milhas, com o preço da gasolina variando entre $3.38 e $3.70 o galão, que são mais ou menos 4 litros.
Tony Borie, Julho de 2014.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 9 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13478: Bom ou mau tempo na bolanha (60): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (1) (Tony Borié)
Dizem que é o “Novo Mundo”, não sei de onde veio esta expressão, mas a presença de europeus andou por aqui, como andou pela África, pela Oceânia e por outras paragens, pois as aldeias, vilas ou cidades, em qualquer “virar de esquina” por onde passamos, mostram-nos “Europa”.
Muitas vezes, mesmo na estrada, guiando, olhamos a paisagem e lá está, a casa “europeia”, a cerca em volta do quintal, o cão preso a uma corrente, as vacas pastando, um pequeno quintal em redor da casa, um poço com uma “roldana”, em geral as casas foram construídas próximo de um ribeiro, ou de um local onde existe água, às vezes são locais isolados, mas lá estão as árvores em seu redor, algumas já velhas, da idade da casa.
Existem zonas, por onde passamos, que são autênticas “savanas de África”, mas quando surge uma casa, é “europeia”, onde há cultivo, é quase igual ao modelo que se vê na Europa, não, como eu via em Mansoa, em Bissorã ou no Olossato, portanto lá na África, aqui, no que dizem ser o “Novo Mundo”, o modelo europeu está sempre presente, sempre se vê ao “dobrar de esquina”, como é costume dizer-se, embora os europeus também tivessem levado alguns costumes lá para África.
Nós, ainda era madrugada, abandonámos a estrada número 24, que nos levou de leste para oeste e de sul para norte, entrando por poucas milhas na estrada número 57, tudo isto no estado de Illinois e, lá está, sem nos apercebermos, estávamos a fazer o mesmo percurso que os missionários franceses fizeram muitos anos atrás, quando desembarcaram, talvez nos portos de New Orleans, Savannah, Charleston, Philadelphia, ou Boston, pois foram eles os primeiros europeus a explorarem a região do actual Illinois, quando em 1763 fazia parte da Nova França, altura em que passou ao domínio britânico, mas em 1783, após o fim da Revolução Americana de 1776, passa a fazer parte dos Estados Unidos e em 1818, tornou-se o 21.° estado americano.
Estávamos na parte sul do estado, onde a agricultura é uma importante fonte de renda e onde geograficamente, o Illinois se caracteriza por o seu terreno ser pouco acidentado e também pelo seu clima altamente instável, mas não nos afectava muito esta particular observação, pois passadas umas horas já circulávamos na estrada 64, com alguma chuva e um pouco de vento, mas não ciclónico, pois o Jeep e a Caravana ia segura, sempre sem dificuldade, com suficiente visibilidade e alguma segurança, indo a caminho da cidade de St. Louis, já no estado Missouri, que também foi fundada pelos franceses no ano de 1763, estando localizada na confluência do rio Mississippi e do rio Missouri, funcionando na altura como entreposto comercial. Esta cidade, devido à sua localização, foi motivo de guerras entre franceses e ameríndios, passou para as mãos espanholas e mais tarde, juntamente com o resto do território da Louisiana, foi devolvida à França, tendo a cidade sendo adquirida posteriormente adquirida a este país, pelos Estados Unidos, com a “Compra da Louisiana”.
A cidade de St. Louis, mais tarde, converteu-se em ponto de partida de exploradores do Oeste Americano e colonizadores que emigraram para Oeste e hoje quem se aproxime da cidade, mesmo a muitas milhas de distância, pode avistar o “Gateway Arch”, que dizem que é o mais alto monumento em solo norte americano.
Nesta cidade, que já pertence ao estado do Missouri, que também foi adquirido pelos Estados Unidos na célebre “Compra da Louisiana”, no ano de 1803, cujo cognome é Mother of the West (Mãe do Oeste), é uma das primeiras regiões do novo território a ser povoada por colonos norte americanos. À medida que o país passou a expandir-se em direção ao oeste, o Missouri passou a ser uma das principais escalas dos emigrantes, tendo-se tornado no 24.° estado norte americano em 1821. Dizem que a indústria agropecuária do Missouri fazia grande uso do “trabalho escravo”.
Deixando um pouco a história para trás, seguimos na estrada 70, com longas zonas desertas, quintas, algumas abandonadas, plantações de milho ou trigo, algumas manadas de vacas, áreas transformadas em zonas de caça, poços de petróleo trabalhando, geradores de energia movidos a vento, até à cidade de Kansas City, ainda no estado do Missouri, pois existem duas cidades com o nome Kansas City, uma no estado de Missouri, outra no estado de Kansas, onde depois de atravessar a cidade entrámos em Kansas City, Kansas, regressando de novo Kansas City, Missouri, rumo ao norte pela estrada 29, entrando no estado de Iowa, parando na cidade de Council Bluffs, no estado de Iowa, para ver o encontro de futebol, a contar para o campeonato do mundo, entre os USA e Portugal, com um resultado que não nos deu nem alegria nem tristeza, aqui fomos dormir.
Neste dia, percorremos 668 milhas, com o preço da gasolina variando entre $3.38 e $3.70 o galão, que são mais ou menos 4 litros.
Tony Borie, Julho de 2014.
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13478: Bom ou mau tempo na bolanha (60): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (1) (Tony Borié)
Guiné 63/74 - P13502: Parabéns a você (770): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13480: Parabéns a você (769): Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84 (Guiné, 1961/63) e Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Cond Auto da CCAÇ 4745 (Guiné, 1973/74)
Nota do editor
Último poste da série de 10 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13480: Parabéns a você (769): Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84 (Guiné, 1961/63) e Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Cond Auto da CCAÇ 4745 (Guiné, 1973/74)
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Guiné 634/74 - P13501: A propósito de praxes e do Polidoro Monteiro que eu conheci, em Bambadinca, quando fui instrutor de mílícias: "O médico está preso!" (Paulo Santiago, ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho e Bambadinca, 1970/72)
1. Um texto do Paulo Santiago, já de 26 de fevereiro último, mas que esteve em "stand by", por decisão dos editores já que fazia referência explícita a um camarada nosso, que ainda está vivo, e que foi alf mil médico... Omite-se o seu nome, de acordo com as nossas regras editoriais. Não faz parte da Tabanca Grande. (LG
Assunto: Polidoro
Luís:
Ainda a propósito do poste do Armando Pires (*), e também do muito que se tem falado de praxes (**), lembrei-me de uma história do Polidoro [, ten cor inf, último comandamte do BART 2917, Bambadinca, 1970/72, e entretanto já falecido], aflorada em tempos, muito pela rama. Se achares interessante, publica.
Paulo Santiago.
2. O Polidoro Monteiro que eu conheci:
"O médico está preso!"
Quando em outubro de 1971 cheguei a Bambadinca, havia lá um médico que conhecia de vista e de nome, melhor de alcunha...
No meu tempo, na Escola Agrícola de Coimbra, não havia praxes, tinham sido proibidas uns anos antes no seguimento de uma situação que tinha corrido mal. Os alunos dos liceus, e os caloiros da Universidade de Coimbra, ao contrário, viviam num certo "terror", evitando ter encontros, após o toque da "cabra" com os "praxadores mores". Nestes, os mais conhecidos, e mais temidos, eram o nosso futuro médico, e o "Mata-Gatos", assim chamado por maltratar gatos, naqueles dias em que se sentia frustrado por não efectuar "rapanços".
Foi o ex-praxador coimbrão que eu fui encontrar em Bambadinca como médico.
Um dia, estava a fazer um "cross" com a companhia de milícias, repentinamente caí redondo. Meio reanimado, trouxeram-me para o posto médico. Diagnóstico: tensão arterial situada em 4-7,5. O clínico manda uma caralhada, diz que estou bastante fodido, e receita-me... whisky, em bastantes tomas durante o dia. Também aconselhou descanso.
Pedi ao ten cor Polidoro para me dispensar de duas ou três formaturas matinais, mas não lhe disse qual tinha sido a receita para a subida da tensão arterial. Esta normalizou ao fim de uns dias e, claro, bebi mais que aquilo que já bebia. Soube mais tarde que não faltavam medicamentos para a baixa tensão.
Num dia de novembro, há uma coluna de abastecimentos ao Xitole, e um Unimog 411 vira-se. O condutor, um militar da CCAÇ 12, suicida-se dando um tiro na cabeça. Trouxeram o corpo para a capela de Bambadinca, onde numa pseudo autópsia aconteceu algo que não devia ter acontecido.
Pela mesma altura, o Pelotão Daimler foi rendido. O alferes médico em questão tinha lá a mulher (a primeira) mas quase todos os dias à hora de jantar, deixava-a no quartel e vinha comer e beber (bastante) para casa do gajo da PIDE/DGS, ou para casa do Rendeiro [, comerciante,] de quem era conterrâneo.
Na primeira noite de serviço dos "periquitos" do pelotão de cavalaria, o soldado de sentinela no posto, ao cimo da rampa, vê a altas horas um civil, branco, a aproximar-se, manda-o parar e pede-lhe a identificação. O civil era o médico, vinha bem "carregado" e pôs-se a disparatar com o militar. Felizmente, apareceu o sargento de dia, que informou o soldado:
- É o nosso alferes médico.
Tudo acalmado, o nosso alferes médico vira-se para o soldado de sentinela, dizendo:
- Andas com uma cor muito pálida, amanhã passas no posto médico para te dar um medicamento.
"Periquito", ingénuo, cumpridor da ordem de um superior, no dia seguinte lá estava no posto médico. Neste existia um soldado maqueiro, bruto, meio sádico... Quando o médico topou o militar de sentinela na noite anterior, disse:
- Oh Fulano Tal, este gajo necessita levar cinco ampolas de Vitamina C, subcutâneas dadas como tu sabes, e hoje leva duas e nunca mais vai esquecer a minha cara.
Diziam que aquelas injecções eram extremamente dolorosas, o certo é o militar ter ficado cheio de dores, nem sentado, nem deitado podia estar durante mais de um dia.
Acabou o curso de formação de milícias, fui passar o Natal e Ano Novo ao Saltinho. No dia 6 de janeiro de 1972, fui de heli para Bissau e, passados três ou quatro dias, regressei de avioneta a Bambadinca, juntamente com o 2.º comandante, o major Anjos de Carvalho. Na pista, à nossa espera, estava o ten cor Polidoro:
- Só vim aqui para vos dizer que o médico está preso. Está no quarto, a mulher foi embora e ele, quando terminar os dez dias, vai recambiado.
O pelotão de cavalaria, no fim do ano, fez uma festa convidando o comandante. Veio à baila a cena das injecções de Vitamina C. Parece que a tampa do Polidoro saltou, já havia os rumores da "autópsia" e outras cenas pouco edificantes. No dia seguinte, arranjaram transporte para a mulher do médico, e na Ordem de Serviço saiu a punição...
Julgo que ninguém ficou admirado com o sucedido.
Paulo Santiago
[ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72. instrutor de mílícias em Bambadinca; engenheiro técnico agrícola reformado; natural de Águeda]
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"
(**) Vd. poste de 15 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13498: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte III: Um periquito praxado com pornografia à mesa do comandante... E as primeiras impressões (más) de Catió e do destacamento de Ganjola...
Polidoro Monteiro, em Bissorã, 1971. Foto de Armando Pires (2014) |
Ainda a propósito do poste do Armando Pires (*), e também do muito que se tem falado de praxes (**), lembrei-me de uma história do Polidoro [, ten cor inf, último comandamte do BART 2917, Bambadinca, 1970/72, e entretanto já falecido], aflorada em tempos, muito pela rama. Se achares interessante, publica.
Paulo Santiago.
"O médico está preso!"
Quando em outubro de 1971 cheguei a Bambadinca, havia lá um médico que conhecia de vista e de nome, melhor de alcunha...
Pedi ao ten cor Polidoro para me dispensar de duas ou três formaturas matinais, mas não lhe disse qual tinha sido a receita para a subida da tensão arterial. Esta normalizou ao fim de uns dias e, claro, bebi mais que aquilo que já bebia. Soube mais tarde que não faltavam medicamentos para a baixa tensão.
Pela mesma altura, o Pelotão Daimler foi rendido. O alferes médico em questão tinha lá a mulher (a primeira) mas quase todos os dias à hora de jantar, deixava-a no quartel e vinha comer e beber (bastante) para casa do gajo da PIDE/DGS, ou para casa do Rendeiro [, comerciante,] de quem era conterrâneo.
- É o nosso alferes médico.
Tudo acalmado, o nosso alferes médico vira-se para o soldado de sentinela, dizendo:
- Andas com uma cor muito pálida, amanhã passas no posto médico para te dar um medicamento.
"Periquito", ingénuo, cumpridor da ordem de um superior, no dia seguinte lá estava no posto médico. Neste existia um soldado maqueiro, bruto, meio sádico... Quando o médico topou o militar de sentinela na noite anterior, disse:
- Oh Fulano Tal, este gajo necessita levar cinco ampolas de Vitamina C, subcutâneas dadas como tu sabes, e hoje leva duas e nunca mais vai esquecer a minha cara.
Julgo que ninguém ficou admirado com o sucedido.
Paulo Santiago
[ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72. instrutor de mílícias em Bambadinca; engenheiro técnico agrícola reformado; natural de Águeda]
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"
(**) Vd. poste de 15 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13498: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte III: Um periquito praxado com pornografia à mesa do comandante... E as primeiras impressões (más) de Catió e do destacamento de Ganjola...
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