terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15525: Agenda cultural (449): Joana Graça, exposição de pintura, na livraria Ler Devagar, LXFactory, Alcântara, Lisboa, até 26 deste mês



Cortesia de: Joana Graça – A kind of blue (2009). Técnica mista sobre tela. Exposição de pintura, Livraria Ler Devagar, LXFactory, Lisboa, de 16 a 26/12/2015.








Lisboa > Alcântara > LXFactory > Livraria Ler Devagar > Instalada num gigantesca rotativa de 3 pisos... Há magia neste lugar...E dezenas de milhares de livros a treparem pelas paredes,,,

Fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. Há uma Lisboa desconhecida que espera por nós... O LXFactory é desses sítios...
.
"É no ano de 1846 que a Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, um dos mais importantes complexos fabris de Lisboa, se instala em Alcântara. Esta área industrial de 23.000 m2 foi nos anos subsequentes, ocupada pela Companhia Industrial de Portugal e Colónias, tipografia Anuário Comercial de Portugal e Gráfica Mirandela.

"Uma fracção de cidade que durante anos permaneceu escondida é agora devolvida à cidade na forma da LXFACTORY. Uma ilha criativa ocupada por empresas e profissionais da indústria também tem sido cenário de um diverso leque de acontecimentos nas áreas da moda, publicidade, comunicação, multimédia, arte, arquitectura, música, etc. gerando uma dinâmica que tem atraído inúmeros visitantes a re-descobrir esta zona de Alcântara.

"Em LXF, a cada passo vive-se o ambiente industrial. Uma fábrica de experiências onde se torna possível intervir, pensar, produzir, apresentar ideias e produtos num lugar que é de todos, para todos."


(Fonte: LXFactory, com a devida vénia)



2. LER DEVAGAR

"FÁBRICA A FÁBRICA, A LER DEVAGAR CHEGOU À LXFACTORY Dez anos depois de ter nascido numa Litografia do Bairro Alto em Lisboa, é à volta de uma rotativa de três andares que está instalada a Ler Devagar. Instalações, performances, debates, conferências, poesia, teatro, dança, música: fado, jazz, música portuguesa, francesa, brasileira, africana, clássica e experimental instalações , performances, debates, conferências, poesia, teatro, dança, música: fado, jazz, música portuguesa, francesa, brasileira, africana, clássica e experimental."

(Fonte: LXFactory, com a devida vénia)


3. Jona Graça

Psicóloga, pintora, ilustradora e contadora de estórias... Está aqui no Facebook. E com algumas das suas obras na Ler Devagar, no LXFactory, até 26 deste mês. 

Guiné 63/74 - P15524: Parabéns a você (1005): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Com da 38.ª CCOM (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15511: Parabéns a você (1004): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Especias da CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15523: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (9): Abel Santos; António Paiva; Luiz Fonseca; Alberto Sousa e Silva; Vasco Pires e Albino Silva

1. Do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69):


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2. Do nosso camarada António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto no HM 241, Bissau, 1968/70:

Boas Festas e Feliz Natal para toda a Tertúlia

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3. Do nosso camarada Luiz Fonseca, ex-Fur Mil Trms da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73, o seu postal natalício:



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4. Postal de Alberto Sousa e Silva, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70


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5. Mensagem natalícia do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72):

Luís e Carlos,
Aqui de longe (mas tão perto) envio votos de Boas Festas a toda a Tabanca Grande. 
Porém, nas posso deixar passar a oportunidade de saudar toda equipa editorial, pela dedicação e perseverança para manter viva a voz de uma geração, que muitos gostariam de calar, como se assim pudessem sepultar o passado próximo. 

Forte abraço a todos
Vasco Pires

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6. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70:

Boas Festas para a Tabanca Grande e todos os Tertulianos, mas Também e em Especial para os Chefes de Tabanca e ao Carlos Vinhal. 
Feliz Natal e um Novo Ano cheio de coisas Boas entre elas muita Saúde. 

Junto um Grande Abraço, 
Albino Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15521: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (8): Luciana Saraiva Guerra, empresária luso-brasileira, sobrinha do ex-capitão comando Maurício Saraiva

Guiné 63/74 - P15522: Ser solidário (192): A Associação Tabanca Pequena de Matosinhos - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau continua a sua ação de apoio às comunidades locais (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), falando-nos da Associação Tabanca Pequena - Grupos de Amigos da Guiné-Bissau, que não desarma na sua missão de ajudar as comunidades locais daquele país tão pobre, logo bem necessitado da ajuda de todos:


A Associação Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, continua a sua ação de apoio às comunidades locais da Guiné-Bissau. São muitas as necessidades e muitas as formas possíveis para as minimizar, com a nossa ajuda e com a participação ativa dos povos autóctones.

Há diversas Associações no terreno, cada qual com as suas especificidades. A Tabanca Pequena voltou-se para a saúde e bem-estar, o apoio à infância e o desenvolvimento local, entre outras formas de agir em prol do desenvolvimento local.

Apostou na qualidade da água e sobretudo em “trazê-la” para a tabanca. Na realidade ela anda por perto, mas a cerca de vinte metros abaixo da superfície e as populações vão buscá-la, por vezes a três/quatro quilómetros de distância. A solução foi abrir poços nas Tabancas. Abrimos seis e estamos a caminho do sétimo.

Outra aposta foi a fixação da juventude na sua terra, através do investimento local em formas de desenvolvimento. Uma das soluções foi enviar máquinas de costura e fomentar a criação de pequenas associações de mulheres nas tabancas do interior para a aprendizagem da arte de costurar. Já lá estão trinta e três máquinas tipo Singer. Dinamizaram-se associações de jovens bajudas em Iemberém, Catesse e Cabedú. Fomentou-se a criação de uma escola de costura em S. Domingos e estão previstas a abertura de uma escola de tinturaria artesanal e costura em Bissau e outra em Varela. Colocaram-se máquinas em Colibuia, Gandembel, Gadamael, Sangonhá e Djabicunda

No apoio à educação, apoiamos com material pedagógico, brinquedos, livros, mesas e cadeiras um infantário. Enviamos milhares de livros para as bibliotecas escolares, livros escolares e material escolar e pedagógico para diversas escolas.

Fizemos parcerias com outras ONGD nacionais e locais para melhor atingirmos os projetos de interesse e envolvimento comum.

Partimos agora para uma experiência nova – A BIBLIOMOTA.

Em parceria com a ONGD Na Rota dos Povos que tem desenvolvido um excelente trabalho no campo de apoio ao ensino nas Tabancas do Sul da Guiné, vamos dinamizar um projeto de leitura “todo o terreno”.

Uma das grandes dificuldades das crianças, jovens e mesmo até os adultos é ter livros de qualidade para ler. Foram-se criando bibliotecas numa ou noutra escola, mas as tabancas são muitas, algumas não têm escola e as que têm essa sorte, deparam-se com muitas dificuldades desde o espaço físico à falta do mais diverso material e livros. Urge dinamizar a leitura de português.

Nada melhor do que em parceria com a Rota dos Povos e uma ONGD local, pôr no terreno uma moto adaptada, para alguém andar de tabanca em tabanca, em circuitos devidamente organizados e levar e recolher livros de leitura em português.

O Plano está em marcha e a mota já seguiu para a Guiné.

Juntamos fotografias de alguns dos trabalhos desenvolvidos pela ONGD Na Rota dos Povos e naturalmente algumas fotos da “menina dos nossos olhos - a BILBLIOMOTA













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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15512: Ser solidário (191): Agora quem ajuda a "Ajuda Amiga"? (...) "Vamos ficar sem armazéns na Amadora, procuramos um novo espaço, não paramos... Seguem em janeiro de 2016, para a Guiné-Bissau, dois contentores com mais de 1400 volumes, são cerca de 22 toneladas... Com este envio ultrapassamos as 200 toneladas de bens enviados, e entre eles mais de 200 mil livros"... (Carlos Fortunato / Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P15521: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (8): Luciana Saraiva Guerra, empresária luso-brasileira, sobrinha do ex-capitão comando Maurício Saraiva


Cartão de boas festas mandado pela nossa amiga luso-brasileira, Luciana Andrade Guerra, ou Luciana Saraiva Guerra, empresária a viver em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil,  sobrinha do ex-capitão comando Maurício Saraiva (, condecorado em 1970, com o grau de oficial da Ordem Miitar da Torre e Espada, falecido com o posto de coronel), e nossa grã-tabanqueira nº 616.

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Guiné 63/74 - P15520: Notas de leitura (790): “Bichos da Guiné, Caça, fauna, natureza”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Março de 2015:

Queridos amigos,
Há soberbos relatos de caçadas na Guiné, basta recordar João Augusto Silva, irmão de Artur Augusto Silva, este marido da Sr.ª D.ª Clara Schwarz. Mas esta obra de Júlio de Araújo Ferreira surpreende-nos a todos: aquela Guiné de finais de 1940 já não existia, literalmente já não existia, quando ali chegámos.
O caçador fala deslumbrado de Guileje e Madina do Boé, e nós perguntamos se foi mesmo assim, mas todo este relato é apaixonado, está cinzelado pelo permanente arrebatamento do caçador.
Uma obra que merecia ser reeditada, uma memória única, alguém que, 25 anos depois, em 1973, desvela os seus amores pelas terras, pelas gentes e pelos bichos.
Comove e dá que pensar.

Um abraço do
Mário


Bichos da Guiné, por Júlio de Araújo Ferreira (1)

Beja Santos

“Bichos da Guiné, Caça, fauna, natureza”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973, permite uma leitura fascinante sobre o mundo cinegético guineense na segunda metade dos anos 1940, em localidades que nos deixarão estupefactos, este caçador calcorreou de Contabane a Madina do Boé, deliciou-se no Cantanhez e com Guileje, irá falar de elefantes, búfalos, antílopes, hipopótamos, de muitas aves, dissertará sobre a proteção das espécies e podemos ouvi-lo glorificar, extasiado, a Lagoa de Cufada.

Viveu na Guiné de 1945 a 1948 e diz abertamente que a matéria deste livro é apenas fruto da sua observação pessoal. O seu primeiro relato é a viagem que faz de Contabane ao Boé e Banjara. É um autor que não esconde o estilo caligráfico muito impressivo dos naturalistas, ei-lo a sair de Bolama a caminho do continente: “Nas águas estanhadas, apenas uma suave ondulação. Os remadores manobram com desenvoltura os remos toscos, talhados a catana. De tempos a tempos, para dar maior poder à remada, levantam-se por completo no banco que lhes fica em frente, onde apoiam os pés. Uma cantilena bárbara, anima-os e dá-lhes o ritmo. Verdadeiros bronzes; nos corpos nus, lustrosos de suor, os músculos desenham-se a cada movimento, com uma nitidez impressionante”. Durante a viagem regista a presença de melros, de rolas, perdizes, gazelas, porcos. O grande espetáculo são os macacos cães. Contabane, escreve, era uma simpática tabanca de Fulas. Descansa, pois tem duzentos quilómetros à frente até Pitche. Ficamos então a saber que é militar. Parte com o pisteiro, Bárcar Baldé, e o cozinheiro, um rapaz Balanta conhecido por “Um”. Fala das suas armas: um revólver "ponto" 357 Magnum, três carabinas e a inseparável caçadeira, uma velha Sarasqueta calibre 12. Pelo caminho, vai observando as manifestações da vida animal: Búfalos e búbalos, gazelas, vários antílopes. Demora-se a fotografar baga-baga. E chegam a Saala, precisam de comida e ele abate um “frintambá” (cabra de mato). E fala de uma operação curiosa: “A água da cacimba está bastante turva, leitosa. Findo o jantar experimento filtrá-la, fazendo-a passar através de umas ligeiras camadas de areia, que coloquei, alternadamente com outras de carvão da fogueira, dentro de uma lata de Ovomaltine, no fundo da qual abri alguns buracos. Consegui que a água saísse límpida, mas o nosso improvisado filtro deu pouco rendimento”. Mal amanhece, vão montear. Descobrem rastos frescos de um pequeno grupo de elefantes. Lá vão, pé ante pé, à procura de um búfalo. E temos o caçador a falar tecnicamente a sua caça, depois de o abater: “É um bonito bicho, um dos melhores exemplares que me foi dado ver na Guiné. Encontro 1,37 m de altura no garrote e 2,26 m de comprimento do focinho à raiz da cauda. Um olho perdido, em resultado de qualquer antiga refrega, que lhe produziu um extenso ferimento, já cicatrizado”.


Vai fazendo fotografias, enquanto o búfalo é retalhado, o “Um” prepara-lhe umas iscas estupendas. E partem para Madina Dongo, são 25 quilómetros mas parecem-lhe 100. Chegam ao Corubal, que ele acha um rio magnífico: “O Corubal começa a ser belo desde os rápidos de Cusselinta, a poucos quilómetros do Xitole. Daí para montante é um rio verdadeiramente encantador, de margens firmes, ornamentadas em grande parte por uma vegetação luxuriante, limpo, de águas claras, que se espraiam e demoram em tranquilos remansos”. Está extasiado com o rio, o pôr-do-sol parece-lhe um espetáculo feérico. As descrições sucedem-se umas às outras, o caçador vagabundo toma nota de todos os bichos que avista. Seguem de Gobige para Guileje e comenta: “A região continua a ser das mais bonitas que tenho percorrido na Guiné. Muito arborizada, com árvores de bom porte. De vez em quando, num ou noutro vale, um grupo de palmeiras. Lalas e campadas, estão semeadas, em profusão, de cogumelos de baga-baga”. E sente-se deslumbrado com as encostas do Boé. Fala de Guileje: “Impressionou-me, logo à chegada, muito favoravelmente. Uma pitoresca tabanca, melhor e mais cuidada que qualquer das anteriores, encaixilhada entre pequenas ondulações, muito verdejante e animada por passarada vária. A maior quantidade de aves aqui reunida, deve-se à existência de lavras e à própria tabanca”. Fica acordado que irão montear no dia seguinte para os lados do Corubal. Comida nunca falta, tiro aqui tiro acolá caem umas perdizes abatem-se porcos. E chegam a Madina de Boé: “O régulo, Mamadú Alfá Djaló, recebeu-nos principescamente. Na sala, um grande retrato do governador Sarmento Rodrigues com dedicatória, o governador dormira aqui em 17 de Junho de 1947”. Refere o comércio entre o Boé e Gabu Sara (Nova Lamego). Vivem muitos Fulas em Madina: Futa-Fulas Forros, Futa-Fulas Pretos, sobretudo. O caçador conversa com o régulo: “Falámos de um importante melhoramento já ordenado pelo governador: a construção de uma estrada ligando Madina do Boé a Contabane, cujo traçado deveria seguir, sem grandes alterações o itinerário que acabámos de percorrer. Escusado será enaltecer os benefícios de tal obra, permitindo prestar assistência, de vária ordem, a mais uma série de povos, encurtando consideravelmente as ligações de Madina com o mar, com Cacine, Catió, Xitole, Bolama”.


Vão visitar a Lagoa de Tchiamu, grande, com bastante água, mas inferior à de Cufada, há para ali pratos de várias famílias, gansos e frangos de água, e muitos mais, Tchiamu é um verdadeiro santuário de passarada. Nisto, rebenta uma chuvada africana: “A tempestade avançava a passos agigantados, e o céu, cada vez mais negro, revestira-se de um aspeto sinistro, medonho. E nós, míseros mortais, quase correndo, envolvidos por uma luz estranha, que parecia anunciar o fim do mundo”. Conseguem chegar à tabanca quando o céu despeja toda a água, os relâmpagos eram contínuos. E depois a chuva cessou por completo. Na manhã seguinte deixam o Boé a caminho de Gabu Saara, povoação que o autor não apreciou. A viagem segue até Bafatá, daqui passeia-se até Dando e Contuboel. Minuciosamente, regista rolas, pica-peixes, tudo quanto anda pelas árvores e pelos solos. E assim chegam a Banjara, vai à caça e abate dois hipopótamos. Chegou a hora do regresso, encaminham-se para o Xitole, depois Bambadinca, cambança do Corubal no Xitole, e depois de Buba até S. João, com uma curta paragem em Fulacunda. Faz referência a dois grandes passarões negros, os “calaos”, pássaros tristes e sombrios. Sente-se feliz e contente, traz um braçado de magníficas recordações para desbobinar nas horas chochas da velhice e dos reumatismos.


E para surpresa do leitor, naquele tempo havia mesmo elefantes na Guiné, como veremos mais adiante.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15503: Notas de leitura (789): “Esculturas e objetos decorados da Guiné Portuguesa no Museu de Etnologia do Ultramar”, Edição da Junta de Investigações do Ultramar, 1971 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15519: Agenda cultural (448): Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa, hoje, dia 21, 19h00: conferência de Natal do Programa Ciência Viva com o paleontólogo Octávio Mateus, investigador no Museu da Lourinhã, e a quem se deve a descoberta do primeiro dinossauro de Angola



Conferência de Natal do Programa Ciência Viva

com o paleontólogo Octávio Mateus, investigador no Museu da Lourinhã


O programa Ciência Viva vai realizar mais uma conferência de Natal. A deste ano é subordinada ao tema "Na peugada dos dinossauros". O orador é o paleontólogo Octávio Mateus, investigador no Museu da Lourinhã, e vai realizar-se no próximo dia 21 de dezembro, às 19h, no Teatro D. Maria II em Lisboa.

O nosso blogue associa-se com gosto a esta iniciativa, que  conta com a colaboração do Museu da Lourinhã, a que o nosso editor Luís Graça está de há muito ligado, como sócio e antigo membro dos corpos sociais.

A participação nesta atividade é gratuita, carecendo, contudo, de inscrição prévia. Os nossos leitores, interessados neste campo apaixonante das ciências da terra e da vida, poderão  fazer a sua inscrição através deste link. (Fonte: adaptado de Museu da Lourinhã > Notícias)

Sobre o conferencista, o doutor Octávio Mateus:

(i)  é biólogo (pela Universidade de Évora) e paleontólogo, doutorado pela Universidade Nova de Lisboa (em 2005);

(ii) vive na Lourinhã, onde colabora com o Museu da Lourinhã, conhecido pela sua importante colecção de dinossauros;

(iii) tem-se empenhado no estudo dos dinossauros do Jurássico Superior de Portugal;

(iv) tem publicado vários artigos científicos nas revistas nacionais e internacionais da especialidade, incluindo na prestigiada revista Nature;

(v) batizou, como novas espécies para a Ciência, os dinossauros Lourinhanosaurus antunesi (1998), Dinheirosaurus lourinhanensis (1999), Tangvayosaurus hoffeti (1999), Draconyx loureiroi (2001), Lusotitan atalaiensis (2003), Europasaurus holgeri (2006), e Allosaurus europaeus (2006), Angolatitan adamastor (2011);

(vi) desde 1991 que todos os anos realiza escavações de dinossauros e outros vertebrados;

(vii) em Angola descobriu o primeiro dinossauro daquele país, no âmbito de um projecto na área de paleontologia de vertebrados entre Portugal e este país;

(viii) colabora com diversas instituições científicas internacionais, sendo o conselheiro científico da fundação alemã Verein zur Förderung der niedersächsischen Paläontologie;

(ix) o seu interesse por dinossauros fizeram-no viajar pelos Estados Unidos, Brasil, Laos, Tunísia, Moçambique, Marrocos, Mongólia, África do Sul e Angola.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15518: Efemérides (206): Há 44 anos estávamos nos preparativos para embarcar, o que se veio a efectivar no dia 18 de Dezembro de 1971 (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 14 de Dezembro de 2015:

Caros camaradas
Há 44 anos estávamos nos preparativos para embarcar o que se veio a efectivar no dia 18 de Dezembro de 1971.
De madrugada, depois de andarmos toda a noite de comboio, embarcamos e é uma das fotos do nosso embarque que vos mando.

Juvenal Amado


Detesto chuva

Chuva e frio ainda mais. Se pudesse, passaria os verões em Portugal e os invernos nos brasis com caipirinhas, churrascos, banhos de mar e a ouvir aquela música maravilhosa que eles têm.
Se calhar tenho uma veia tropicalíssima, pois por lá também não gostam de chuva. Há até uma pequena estória da autoria de Juca Chaves sobre os soldados brasileiros que combateram na II Guerra Mundial, que se me dão licença passo a resumir.

Estavam os batalhões mobilizados* em parada, a ouvir o comandante-chefe enaltecer o patriotismo, a coragem, a solidariedade, a capacidade de sacrifício, a prometer que eles defenderiam o bom nome brasileiro até à última gota de sangue, quando se ouviu lá do meio das fileiras:
- Meu general e se "chovê?”

E logo perante a satisfação geral, ele respondeu no tom mais marcial possível
- Bem, se "chovê", não vamos!

O assunto ficou logo ali arrumado.

Ao contrário por cá, também tivemos grandes discursos, e alguns camaradas que iam para Angola, viram os aviões a meio da noite desviados da sua rota. Eles que iam um bocado mais descansados quanto ao destino, Angola, acordaram para sua surpresa na Guiné.
Chamou-se a isso ter o pesadelo não quando dormiam, mas quando acordaram.

 O nosso embarque - Lisboa, 18 de Dezembro de 1971

Bem eu não fui enganado, diga-se de passagem, e vi aquele horizonte vermelho vir ao meu encontro lentamente.

Então passei a sofrer de uma secura que não passava de maneira nenhuma, para mais que tinha saído de cá depois de ter apanhado com alguns rigores do Inverno, que nos dá Novembro e Dezembro.
Cá andava então gelado, com os lábios gretados e frieiras até na ponta das orelhas 24 horas por dia, em especial na “colónia de férias” que era Santa Margarida, a seguir Abrantes também pouco melhor, que até fiquei satisfeito pela mobilização. Ao menos acabava-se com o frio.

Mas como diz o ditado, não há fome que não dê em fartura, durante 27 meses não dei vazão às suadelas, à micose e à lica. Passava assim da fórmula 5 para fórmula 8 e era ver quem os tinha mais em sangue na hora do tratamento.
Talvez pior que a sede fosse o nosso organismo a clamar por fresquidão. Só na fase final da comissão comecei a ter frio nas noites de cacimbo.

Voltando à chuva, um dia levantou-se um vento fortíssimo com rodopios a levantar pó, que não se via nada. Vieram as trovoadas de caminho, parecia que os céus se abriam em cascatas de água suja de pó. A malta correu para a chuva tão ansiada em cuecas, em calções alguns, até com sabão na mão, mas acabamos por ficar cheios de lama e a ter que recorrer ao famoso banho fula para a limparmos. O tempo refrescou por momentos e foi uma sensação agradável.

Depois apanhei grandes molhas nas colunas. Pior que ficar com a farda molhada era o sol abrasador que vinha a seguir, em que víamos a água a evaporar, a percentagem de humidade a dificultar-nos a respiração e um cansaço difícil de suportar.
Um amigo de Alcobaça estava no Ralis em Lisboa quando fui fazer o espólio no dia 4 de Abril de 1974. Disse-me há dias que se lembra de eu chegar e a cor que trazia era cor-de-terra. Quase não me conheceu, pois para além da cor, pelo nosso comportameno, não éramos os mesmos que tínhamos ido para lá. Trouxemos aquela terra vermelha no espírito mas na cara é que ela se via.

Um abraço

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Notas:
- A pequena estória sobre os soldados brasileiros não é  de forma nenhuma menosprezá-los e considerá-los menos valentes que os demais soldados de todo o Mundo.

*- Algumas notas sobre a participação dos soldados brasileiros na II Guerra Mundial retiradas do Google.

- Desde 1939, início do conflito, o Brasil assumiu uma posição neutra na Segunda Guerra Mundial. O presidente do Brasil na época era Getúlio Vargas.


Ataques nazis e entrada do Brasil na 2.ª Guerra Mundial

Porém, esta posição de neutralidade acabou em 1942, quando algumas embarcações brasileiras foram atingidas e afundadas por submarinos alemães no Oceano Atlântico. A partir deste momento, Vargas fez um acordo com Roosevelt (Presidente dos Estados Unidos) e o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados (Estados Unidos, Inglaterra, França, União Soviética, entre outros). Era importante para os Aliados que o Brasil ficasse ao lado deles, em função da posição geográfica estratégica do país e de seu vasto litoral.


Participação efectiva no conflito 

A participação militar brasileira foi importante na Segunda Guerra Mundial, pois somou forças na luta contra os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália). O Brasil enviou para a Itália (ocupada pelas forças nazis), em Julho de 1944, 25 mil militares da FEB (Força Expedicionária Brasileira), 42 pilotos e 400 homens de apoio da FAB (Força Aérea Brasileira).
As dificuldades foram muitas, pois o clima era muito frio na região dos Montes Apeninos, além do que os soldados brasileiros não eram acostumados, com relevo montanhoso.


Vitórias 

Os militares brasileiros da FEB (também conhecidos como pracinhas) conseguiram, ao lado de soldados aliados, importantes vitórias. Após duras batalhas, os militares brasileiros ajudaram na tomada de Monte Castelo, Turim, Montese e outras cidades.
Apesar das vitórias, centenas de soldados brasileiros morreram em combate. Na Batalha de Monte Castelo (a mais difícil), cerca de 400 militares brasileiros foram mortos.


Outras formas de participação

O Brasil também cedeu bases militares aéreas e navais aos aliados. A principal foi a base militar da cidade de Natal (Rio Grande do Norte) que serviu de local de abastecimento para os aviões dos Estados Unidos.
Foi importante também a participação da Marinha brasileira, que realizou o patrulhamento e a protecção do litoral do seu próprio país, fazendo também a escolta de navios mercantes brasileiros para garantir a defesa contra ataques de submarinos alemães.

Curiosidade:

Nas batalhas em que os militares brasileiros participaram na Segunda Guerra Mundial, cerca de 14 mil soldados alemães se renderam a eles.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15487: Efemérides (205): Imposição de Medalhas Comemorativas aos Combatentes, dia 8 de Dezembro de 2015, no Regimento de Infantaria 13 de Vila Real (Fernando Súcio)

Guiné 63/74 - P15517: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (7): Os nossos Natais (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 16 de Dezembro de 2015:

Estamos perto do Solstício de Inverno quando o Sol começa a despertar a Terra da sonolência dos dias para um novo ciclo de vida e de renovação.
Os persas nesta quadra faziam grandes festas ao Deus Mitra; os Romanos festejavam as Saturnálias em honra de Saturno e nós filhos de cristãos festejamos desde há séculos um Deus-Menino que significa igualmente o renascer da vida.

Na realidade quase todos os povos antigos que viviam numa comunhão mais próxima com a Natureza e o Universo festejavam este renascer e este despertar. Nós crentes duma religião, de um Deus que se fez Homem, somos também herdeiros de muitos mitos e religiões criadas por muitos povos que nos antecederam. Somos filhos de passados longínquos que nos deixaram marcas que muitos cientistas, historiadores, antropólogos e outros especialistas procuram decifrar.


Com o Natal recomeçam as festas em que se celebra a vida e o despertar da natureza, depois virá o Carnaval a única grande festa pagã que a Igreja Católica não conseguiu substituir ou apagar da memória dos povos, depois virá a Páscoa essa grande festa Cristã em que a primavera começa a cobrir os campos e florestas de verde e a água escorre cristalina e com abundância por regatos, ribeiros e rios.

Sendo o Natal uma época de mudança é também uma época de reviver, de recordar os bons e maus momentos do passado, é um tempo de sentir as ausências dos familiares e amigos que já partiram e por contraste de fazer a festa da vida com os amigos e familiares que nos restam.
Quis o destino que fôssemos jovens num tempo em que Portugal governado por um velho ditador apelava a um passado de glórias de descobrimentos e conquistas passadas na defesa das nossas colónias, em resistência aos ventos da história que assolavam a África e iam desmantelando o mapa desse continente negro de colónias europeias, em países independentes à velocidade de um tufão.

Dispostos ou não a cumprir essa ordem de combate, instituída em dever pátrio, fomos embarcados quase à força, muitos em porões de grandes barcos em condições semelhantes às dos escravos da Guiné, que os barcos negreiros levaram para o Brasil, em séculos anteriores. Muitos passamos por lá dois anos, não a ferro e fogo, mas numa guerra com meses de paz, alternados com dias de emboscadas, minas e bombardeamentos que nos mantinham sempre num estado de alerta e ansiedade.
Muitos vimos camaradas morrerem ou ficarem gravemente feridos e as marcas desses casos tristes ficaram para sempre gravadas nas nossas almas e ainda por vezes nos magoam como cicatrizes que teimam em não fechar totalmente.

Privados do amor dos pais, irmãos, noivas, mulheres, parentes e amigos da infância fomos criando laços de amizade com camaradas e com eles formamos essa grande família que só a camaradagem dos soldados consegue criar. Camaradagem que aprendemos a estender a todos os militares aquartelados nas tabancas próximos pois muitas vezes ouvíamos o rebentamento das bombas quando eram atacados e íamos também sabendo as desgraças que lhes iam acontecendo.
E porque a Guiné era um território pequeno com muitos combatentes, com a guerra disseminada por toda ela, acabamos por estender essa solidariedade e camaradagem a todos os que lá foram parar.

Fomos também fazendo amizade com os homens grandes, as mulheres, as bajudas, gente pobre e em sofrimento, mas sempre amável e gentil . E os meninos da Guiné mal trajados, mal nutridos mas sempre com aquele olhar doce e sorridente.
Sentimos o cheiro forte e quente dessa terra tropical. Ficamos encantados com a beleza dos seus rios, bolanhas, florestas, árvores centenárias, maravilhados com aqueles pores-do-sol magníficos em que o céu ganhava miríades de tonalidades vermelhas e cor-de-rosa que nos deixavam extasiados em contemplação, a pensar se o paraíso bíblico seria aquele.

Para além dos desgostos provocados pelas granadas e pelo matraquear das metralhadoras ficou-nos sempre uma saudade imensa desse cheiros tropicais, das secas, das chuvas imensas, da beleza das paisagens, da bondade das suas gentes e da amizade forjada entre camaradas em dias de tédio e de tristeza por outras ausências.
A Guiné marcou-nos a todos por todas estas razões. A Guiné foi para nós essa Xerazade islâmica, essa lendária rainha persa que nos continua a contar estórias de encantamento, beleza e de pesadelo também.
Os ex-combatentes da Guiné todos o sabem, todos o sentem, são diferentes de todos, pelas razões já apontadas. De Cacine no sul a Susana no norte, a Buruntuma no leste, o clima, as vivências, o calor, a chuva, o troar das bombas ou os trovões das tempestades tropicais, eram idênticos, debaixo do mesmo céu, a mesma vida, ora triste, ora alegre, resignada, atribulada, com bons e maus sonhos

Para compensar os dias de Natal da tristeza, pela ausência da família, passados na Guiné, onde a maior parte das vezes comíamos o rancho de todos os dias, pois não havia bacalhau, polvo, couves ou rabanadas, hoje festeja-se o Natal em casa com a família e fora de casa com essa família alargada que fizemos na Guiné, nas várias Tabancas espalhadas de norte a sul por todo o Portugal.

A todos os ex-combatentes da Guiné, quero desejar bons e alegres almoços ou ceias de Natal, com paz, amizade, fraternidade e camaradagem.
Perto ou longe nunca vos esquecerei, como não se esquecem os bons encontros que a vida nos proporciona.

Um Bom Natal Camaradas!

A todos um grande abraço.
Francisco Baptista
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Nota do editor

Poste anterior da série de 20 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15516: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (6): Com os gaiteiros da Freiria na Lourinhã...Teríamos ganho a batalha de Alcácer Quibir, em 1580, se em vez de guitarras tivéssemos levado gaitas-de-fole(s)... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P15516: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (6): Com os gaiteiros da Freiria na Lourinhã...Teríamos ganho a batalha de Alcácer Quibir, em 1580, se em vez de guitarras tivéssemos levado gaitas-de-fole(s)... (Luís Graça)






Vídeo: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. OGaiteiros de Freiria - Associação Musical e Etnográfica, a convite do presidente da União das Freguesias de Lourinhã e Atalaia, Pedro Margarido, animaram ontem as ruas da vila da Lourinhã, no âmbito da quadra natalícia.

O nosso editor, que adora a música de gaita-de-fole(s), fez um registo em vídeo de um desses momentos, e quis partilhá-lo com os nossos leitores.  Sem ofensa para os cristãos,  este "Gloria in excelsis Deo" já se confunde, no entanto, com o supremo hino à glória do consumo, de tanto ser reproduzido, "ad nauseam", nas nossas ruas, lojas e centros comerciais por esta altura do ano...

Segundo o nosso editor, em vez de guitarras deveríamos ler levado gaitas-de-fole(s), em Alcácer Quibir, em 1580... Recordam-se ? A trágica batalha onde morreram três reis, incluindo o nosso, Sebastião, o "Desejado", a quem é atribuída a frase mais heroica que ele ouviu na tropa e na guerra: "Morrer, sim, mas devagar!"... Com gaita-de-fole(s) seria muito mais bonito e mais digno, mesmo acabando degolado... (Em boa verdade, qualquer que seja a forma que assuma, a morte é sempre uma coisa miserável, na cama, em casa ou no terminal do  hospital, na rua ou no campo de batalha)...

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2015 >  Guiné 63/74 - P15513: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (5): José Teixeira, Tabanca de Matosinhos

Guiné 63/74 - P15515: (In)citações (80): Natal económico para a bolsa, esbanjador em afetos (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2015:


Natal económico para a bolsa, esbanjador em afetos

Mário Beja Santos

Eu começo o meu Natal no dia 1 de Janeiro, planeio a agenda do mês para encontros, entrega de escritos, telefonemas para quem vive longe e perto, aos 70 anos não se pode confiar só na memória.
Percorro mercados à procura de pechinchas e peças que interessem às pessoas que eu amo. Tenho o ano inteiro para saber quem se vai interessar por estes livros, aguarelas, desenhos, molduras, tecidos. Tenho igualmente o ano inteiro para mandar mails e perguntar a toda a gente o que gostaria de ler, questionar sobre obras de arte, enfim desvendar o que o outro gostaria de ter.
E de Janeiro passo para Fevereiro, como sou maratonista e andarilho, vou encontrando coisas, combino almoços, idas ao cinema ou ao teatro e reparto o Natal do mês.

Escuso dizer que é assim em todo o ano, não me precipito a fazer as compras à pressa e a entregar bugigangas que ninguém valoriza, coisas que vão para as gavetas, livros que não serão lidos, objetos que nunca foram desejados. É uma forma de amar duas vezes, escutar o outro e surpreende-lo.
Evito conflitos, amarguras com cláusulas contratuais, não ando a desconfiar de como os outros me interpretam, tenho tempo para fazer o Natal todos os dias.

Menino Jesus
Autor: David Bonyun

Eu sei que é um problema de convicções, tenho comigo uma certa ideia de que aquele Natal significa que nasço e renasço com todos aqueles que encontro, de quem preciso e a quem posso ser útil.

Posso ouvir canções de Natal em Abril ou Junho, posso descontraidamente percorrer as avenidas com iluminações de Natal somente para me sentir em casa, ando num certo presépio em que em vez do bafo da vaca ou do boi sinto a respiração dos outros.
Para que todo isto aconteça, disponho de um espaço onde vou pondo as coisas que compro a partir de Janeiro e que vão ter destino ao longo do ano. Posso ser útil a quem não tem agenda e bloco de notas no mês de Março, já comprei, dou regozijo a quem precisa.
Nunca desaponto os meus amigos cinéfilos, sempre que vou à Feira da Ladra compro dvd’s com filmes históricos, humorísticos, clássicos, sou uma Cinemateca rudimentar, nunca dou Jean Renoir a quem gosta de Sam Mendes.

Enfim, na chamada época natalícia ando desafogado a escrever, a telefonar, a encontrar-me sem tensões, não é possível endividar-me assim, com esta autodisciplina do amor.
Há muitas e muitas décadas atrás a minha mãe dizia-me insistentemente que nunca se vai a casa de ninguém sem levar uma flor, uma planta ou um sorriso.
Tenho impressão que há pessoas que se esfalfam para reverter a culpa de pesados silêncios, de sentidas indiferenças, paga-se com prendas que não se dá com atenções.
Não moralizo, adoto o preceito de não me lançar na correria das compras, a partir do dia 1 de Janeiro já ando a festejar as alegrias do Natal, o que me permite isentar-me das pressões publicitárias, das promoções choque, das tão propagandeadas alegrias de Natal, que não passam de relações comerciais.

E dou-me bem com o sistema, na bolsa e na alma.
Esbanjo-me com os outros e não tenho nada contra com este modelo de desenvolvimento pessoal.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15424: (In)citações (79): Comer crocodilo que comeu homem, é canibalismo? Felupes de São Domingos dizem que 'crocobife' é bom... (Patrício Ribeiro, Bissau)

Guiné 63/74 - P15514: Libertando-me (Tony Borié) (48): Vamos para Norte

Quadragésimo oitavo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 18 de Novembro de 2015.




Vamos para Norte

Com atenção ao trânsito, ouvindo música, conversando com a nossa companheira e esposa, viajámos mais de setecentas milhas na óptimas estradas do sul. Parecem pistas, onde se viaja sem custos até entrarmos nos tais estados no norte, encostados ao Oceano Atlântico, bastante comerciais e industriais. Aí começamos a pagar por usar as estradas rápidas, tal como na Europa, as tais “Portagens” e, a estrada não apresenta um bom estado de conservação, não se comparam com as do sul, a única razão compreensível, é que necessitam de reparação frequente, pois o inverno no norte é rigoroso.

Já passámos Washington, é o mesmo que passar de sul para norte, não sabemos se ainda existe a tal influência da federalização das dívidas contraídas ao longo da guerra de independência, pelos estados, onde, os estados do sul já haviam pago a maior parte das suas dívidas, de que já falámos no texto anterior, o que é certo é que ainda hoje, no ano de 2015, no sul, viajamos pela estrada rápida número 95, em óptimo estado, sem pagar qualquer “portagem”, a partir de Washington, existem curvas acentuadas, descidas, subidas, túneis, onde se paga “portagem”; pontes, onde se paga “portagem”; troços de estrada em melhores condições, mas também, onde se paga “portagem”; então se passarmos o estado de Nova Iorque, continuando para norte, com várias pontes e túneis, continua-se a pagar “portagem”, chegando a pensar algumas vezes que era preferível viajar de avião, pois compensava.

Mas os emigrantes que regressam de visita aos estados do norte, onde tiveram residência e ainda estão os seus familiares e amigos, querem viajar de veículo automóvel, pois no regresso querem parar em Nova Jersey, na histórica cidade de Newark, na portuguesa “Ferry Street”, e comprar, além de bacalhau e azeite, talvez, latas de conserva de atum dos Açores, marmelada, rebuçados “São Braz” ou sabão “Clarim”, para levarem para sul, onde agora vivem, e quem sabe, talvez lembrar a Inês, aquela portuguesa espanholada, que além de fumar “Malrboro” e, tudo o que já dissemos a seu respeito, também usava, pelo menos ao fim de semana um perfume exótico, parecido com aquele que usavam as filhas do Libanês, lá na vila de Mansoa, na então Guiné Portuguesa, que lhe trouxe a Eulália, que trabalhava na “fábrica dos perfumes”, que vivia maritalmente com o Zé Paulo, um rapaz muito educado, que servia ao balcão no “Bar do Minhoto”, no seu tempo livre, pois trabalhava a tempo inteiro na construção, fazendo parte do “gang” do Manuel Murtosa, marido da Gracinda, mulher honrada e respeitadora, que não falava na vida de ninguém, mas não perdia qualquer oportunidade para fazer gestos eróticos com os dedos da mão, piscar o olho ou apalpar o rabo ao Zé Paulo, que era um jovem que ao chegar do trabalho na construção, tomava banho, arranjava as unhas, vestia com elegância, com uma camisa branca e um laço preto, com que atendia ao balcão do “Bar do Minhoto”, onde sem o querer, dada a sua posição, facilitava encontros para, entre outras coisas, trabalho, pois sabia quem precisava de força laboral e quem procurava trabalho, sabia dos problemas, alegrias e desgostos de quase toda a comunidade, indo muitas vezes levar a casa alguns emigrantes que por lá ficavam a beber até mais tarde, como por exemplo o “Carlos das Pombas”, pois viviam no mesmo edifício.


Este bom homem, o “Carlos das Pombas”, cujo apelido lhe foi dado porque trabalhando na “fábrica da reciclagem”, que se localizava próximo de algumas pontes, lá para os lados do Porto de Newark, vivia amargurado, dizendo que tinha perdido a sua honra porque um dia, vendo centenas de pombas, que viviam debaixo das já referidas pontes, pensando “numa valente arrozada”, pediu a alguém uma espingarda e, aquilo era, cada tiro meia dúzia das bonitas aves que vinham parar ao chão, alguém passou por lá, talvez sentindo-se molestado, nunca ninguém soube, ouviu tiros, avisou a polícia, uns minutos depois passa por lá um carro policial, em silêncio, com dois polícias armados, que vendo um homem de caçadeira na mão, naquele local, onde a ramagem quase cobria um homem e o terreno era alagadiço, logo pensaram tratar-se de algum “ajuste de contas da máfia”, o melhor era irem embora com o mesmo silêncio com que vieram, contudo, com alguma coragem, de pistola em punho, foram-se aproximando e, ainda a uma certa distância, ficaram algo surpreendidos, ao verem o Carlos a descalçar as botas, tirar as calças e ir em cuecas, apanhar uma pomba à água, que tinha caído ao lado do rio e ainda esvoaçava.

Quando o Carlos se volta, ainda dentro da água, em cuecas, ao ouvir os polícias ordenarem-lhe prisão e para que fique quieto, mudou a cor do seu rosto, ia-lhe dando uma tontura que quase mergulhava na água, largou a pomba, começou a tremer, tendo um dos polícias entrando na água para o socorrer, claro, os polícias esperaram que se vestisse de novo, foi algemado e levaram-no preso.

Toda a Ferry Street soube da desgraça do Carlos, a sua esposa, a Lucinda, que trabalhava na “fábrica dos perfumes”, juntamente com a Eulália, foram à esquadra em seu socorro, primeiro com o senhor padre, da Igreja Nossa Senhora de Fátima, que falava muito bem inglês, que era um português do Bunheiro, uma localidade próxima da vila da Murtosa, em Portugal, depois logo apareceu o sargento da polícia, filho de portugueses nascidos no Minho, que o libertaram com a responsabilidade de se apresentar ao juiz no dia seguinte, que derivado ao bom comportamento anterior, lhe confiscou a arma, sentenciando-o, entre outras restrições para o futuro, com uma multa por não ter licença de usar arma de fogo e uma pena de serviços comunitários por o período de algum tempo, mas a partir desse momento foi sempre um homem amargurado, não se cansando de dizer que tinha sido preso em cuecas e que era agora a vergonha da família.

Ferry Street, Ferry Street!

Tony Borie, Dezembro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15483: Libertando-me (Tony Borié) (47): É Dezembro, vamos ao Norte

Guiné 63/74 - P15513: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (5): José Teixeira, Tabanca de Matosinhos

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Lisboa > Praça do Rossio > A árvore de Natal de 2016. Foto: LG



1. Mensagem do José Teixeira, com data de ontem, 23h06


Caras/os Amigas/os,

De novo o Natal a entrar-nos pela porta e pela alma adentro.

É o momento de lembrarmos os amigos

que, embora longe, moram no nosso coração.


É o momento de tocarem os sinos

a lembrarem as suas vidas,

a sua saúde,

a sua alegria entre os mais chegados,

se possível na mesa grande aconchegados.


É o que desejo a todos, neste Natal,

em que a família, por excelência, se revelou e apresentou ao Mundo

como modelo e incentivo à interioridade deste tempo natalício.


É bom termos modelos a seguir, assim, diante de nós,

a facilitar o nosso caminho e a consciência dele.
Aproveito a oportunidade para fazer votos de um Natal muito feliz,

numa família reunida em volta de uma mesa

que alimente o corpo e o espírito, numa alegria singular.


E um excelente Ano de 2016, 

repleto de saúde, de paz e de amor.


José Teixeira
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15512: Ser solidário (191): Agora quem ajuda a "Ajuda Amiga"? (...) "Vamos ficar sem armazéns na Amadora, procuramos um novo espaço, não paramos... Seguem em janeiro de 2016, para a Guiné-Bissau, dois contentores com mais de 1400 volumes, são cerca de 22 toneladas... Com este envio ultrapassamos as 200 toneladas de bens enviados, e entre eles mais de 200 mil livros"... (Carlos Fortunato / Carlos Silva)



"Nesta época festiva a Ajuda Amiga entregou mais uma vez um cabaz de Natal aos voluntários carenciados da Ajuda Amiga, pessoas desempregadas, que apesar de viverem com muitas dificuldades, possuem um grande espírito de solidariedade, e durante todo o ano trabalharam para ajudar os outros, doando o seu tempo. Sem eles a nossa missão seria impossível. Aos bens alimentares doados para este fim à Ajuda Amiga, acresceram bens adquiridos pela Ajuda Amiga com a participação dos voluntários na sua escolha, permitindo assim suprirem melhor as suas carências e terem um Natal um pouco melhor." (Fonte: Ajuda Amiga > Notícias > 2015)



1. Mensagem do Carlos Silva. dirigente da ONGD Ajuda Amiga [e nosso grã-tabanqueiro, de longa data: jurista, foi fur mil inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71; tem mais de 90 referências no nosso blogue]:

Data: 19 de dezembro de 2015 às 08:28

Assunto: Gostaria de doar televisão, telemóveis, vestuário, medicação e brinquedos...

Olá, Luís

Espero que o Fortunato diga alguma coisa, no entanto, parece-me não ser possível (*), dado que a senhora vive em Lagos e como tal temos dificuldade em transportar o material para a Amadora.

O Comando da PE ou Lanceiros 2, informou-nos que temos sair de lá.
Conheces alguém que possa ceder um espaço para nós ??

Um abraço com votos de Festas Felizes
Carlos Silva

2. Mensagem do Carlos Fortunato, presidente da Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento [, nosso grã-tabanqueiro, da primeira hora, tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue;  foi fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71; é informático reformado]:

Bom dia

Neste momento já não é possível aceitarmos doações, temos que carregar os contentores no início de janeiro, e estamos a embalar as ultimas coisas que temos em armazém para seguirem nele.

Como refere o Carlos Silva, vamos ficar sem armazéns pois aqueles que estamos a usar vão ser destruídos, mas não vamos parar, depois desta distribuição em 2016, embora a nossa estratégia continue focada no ensino, a partir de 2017 vai passar por construir, escolas, bibliotecas e poços.

Vamos continuar a mandar volumes com bens para a Guiné-Bissau com coisas que sejam importantes, como os livros para as escolas e bibliotecas, etc., obviamente as quantidades serão mais pequenas, não vamos enviar contentores, mas algumas dezenas de caixas em sistema de grupagem, enquanto nestes dois contentores de Janeiro seguem mais de 1400 volumes, são cerca de 22 toneladas, com este envio ultrapassamos as 200 toneladas de bens enviados, e entre eles mais de 200.000 livros.
Como refere o Carlos Silva precisávamos de um espaço, pois vamos continuar a enviar bens.

Penso que enviando menos quantidade será mais fácil consegui-lo, por outro lado existem também outras dificuldades, como os custos de transporte que têm vindo a aumentar, a nossa equipa de voluntários desempregados que tem vindo a desaparecer, pois vão procurar emprego noutros lugares, Portugal não tem emprego para eles, e os velhotes como nós têm dificuldade em realizar certos trabalhos, porque somos nós que recolhemos os bens, embalamos e carregamos os contentores.

Um abraço, boas festas e obrigado pelo intenção, não foi possível concretizar, mas fica o espírito de solidariedade manifestado.

3. Comentário do editor:

A Ajuda Amiga precisa da nossa ajuda. Uma forma solidária de o fazer é a consignação de 0,5% do do nosso IRS. Ver aqui como fazer.

Outra forma é descobrir um armazém onde se possa guardar os bens que vão sendo doados...

Desejamos um feliz Natal para todos os dirigentes, voluntários e parceiros da ONGD Ajuda Amiga e as melhores perspetivas para a continuação da sua ação solidária em 2015. (LG)


"As acções humanitárias e de apoio ao desenvolvimento que realizámos em 2012, apenas foram possíveis graças ao apoio de entidades publicas e privadas, de particulares, dos nossos parceiros, e do empenho dos nossos voluntários, a todos o nosso renovado agradecimento.", lê-se na página da Ajuda Amiga.
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Guiné 63/74 - P15511: Parabéns a você (1004): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Especias da CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15509: Parabéns a você (1003): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

sábado, 19 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15510: Memória dos lugares (326): Fui destacado várias vezes para o Depósito Disciplinar no Forte de Elvas. Subia e descia o morro a cavalo e dormia lá quando calhava ser oficial de serviço (Marques Leandro, ex-Tenente Miliciano, 1953/55)

1. Comentário, deixado no Poste Guiné 63/74 - P10734: Memória dos lugares (197): Elvas, património mundial da humanidade - Forte de Nossa Senhora da Graça (ou Forte Lippe) - A barrilada (António José P. da Costa), pelo nosso leitor, José Manuel Marques Leandro1, ex-Tenente Miliciano, que entre outros quartéis conheceu, nos anos 50, o Forte de Elvas.

CAROS AMIGOS
Não fiz parte do vosso batalhão, mas admiro-vos. Prestei serviço militar como oficial miliciano de cavalaria no ex-Regimento de Lanceiros 1 em Elvas nos anos de 1953, 1954 e 1955.
Fui destacado várias vezes para o Depósito Disciplinar no Forte de Elvas. Subia e descia o morro a cavalo e dormia lá quando calhava ser oficial de serviço.
Há dias enviei um texto2 sobre essa minha experiência ao Senhor Presidente da CM Elvas que muito amavelmente me respondeu que esse texto seria integrado no site do Forte da Graça. Ali conto peripécias no Forte, na barrilada, na cidade e em Badajoz onde folgávamos a nossa juventude. Vi a vossa fotografia da barrilada. Confirmo.
Peço-vos que me cedam essa foto o que desde já muito agradeço3.
Solicito resposta para o endereço que indico.

Desejo a todos Boas Festas com um abraço.
JM Marques Leandro

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2. Entretanto recebemos o texto que agora publicamos


Trunfo era espadas

O Exército não me dispensou logo que terminei o curso em 1953. Eu e a maior parte dos meus colegas fomos incorporados nas Forças Armadas, na Escola Prática de Cavalaria, então em Torres Novas, para ali frequentarmos o curso de oficiais milicianos. Depois, já como oficial, mandaram-me para o Regimento de Lanceiros 1, em Elvas. Nesse tempo, Elvas ficava muito longe de meus pais e a tropa não concedia facilidades, de modo que raramente ia a casa. Contudo, foi um período de que guardo boas recordações. O Alentejo ficou para mim a região de eleição. O Alentejo, Badajoz e as espanholas. A guerra civil em Espanha tinha terminado havia menos de vinte anos, tempo insuficiente para curar feridas e nós bem sentimos isso. Sentimos quando nos contavam os horrores dessa guerra, principalmente, a queda de Badajoz perante as tropas de Franco, em Agosto de 1936. Nessa altura, centenas de habitantes de Badajoz, fugindo aos bombardeamentos e à irracionalidade da guerra civil, atravessaram a fronteira e espalharam-se pelas planícies do Caia. Deste lado, essa gente foi internada no Forte da Graça, fortaleza no cimo de um morro que domina a cidade. Entretanto, o regime de Salazar entendeu-se com o regime de Franco e as pessoas internadas no Forte da Graça foram devolvidas a Badajoz. As camionetas espanholas que as transportavam despejavam-nas na praça de touros e ali eram fuziladas. Um major do meu regimento era nesse tempo alferes e fora encarregado de ir a Badajoz colher informações. Assistiu a fuzilamentos, mas nada podia fazer para evitar o massacre. No meu tempo de tropa, muitos habitantes de Badajoz não esqueciam isso e, sabendo que nós éramos militares, recebiam-nos com alguma animosidade. O que nos valia eram os militares da cavalaria espanhola sediada em Badajoz, os jovens espanhóis e principalmente as espanholas, que nós presenteávamos com pacotes de café, produto muito apetecido em economia depauperada pela guerra. O Forte da Graça, no meu tempo, era uma prisão militar e os oficiais do quadro permanente não paravam lá quando destacados para a guarnição, de modo que o comando territorial ordenava o destacamento de oficiais milicianos do meu regimento para ali prestarem serviço. Fui sujeito a esse destacamento várias vezes. Subia e descia a cavalo o morro íngreme do forte. Dormia lá quando me calhava ser o oficial de serviço. À tardinha, chegavam novos militares presos que marchavam a pé durante vários quilómetros a partir da estação do caminho-de-ferro, cada um deles escoltado por um cabo e dois soldados.

Forte da Graça - Elvas

Os militares marinheiros tinham mais sorte, eram transportados em viaturas da Marinha. Também havia oficiais e sargentos presos no Forte. Os oficiais e só esses, mantinham o direito a continências e honras militares. No Forte não havia água canalizada. Todos os dias, de manhã e à tarde, organizava-se uma coluna de vinte ou trinta soldados e marinheiros presos, com barril de madeira de vinte litros às costas e escolta à vista. Desciam o morro, enchiam os barris em fonte improvisada e regressavam ao Forte, carregando a água. Trabalho penoso, trabalho forçado! Alguns dos militares integrados nessas colunas tentavam fugir e vários conseguiam. A escolta dava muitos tiros, mas não acertava em ninguém. Confidenciavam-me que não acertavam porque não queriam. Cada fuga ou tentativa de fuga era uma carga de trabalhos para o oficial de dia que era obrigado, imediatamente, a tomar providências para a captura, lavrar autos, fazer inquérito, eu sei lá!

A barrilada

Nesse tempo, trunfo era espadas. Os militares é que suportavam o regime, de modo que tudo era mais ou menos militarizado. A Cidade de Elvas era um modelo dessa cultura. Centro urbano sem grande expressão demográfica, mas com grande concentração de tropas, por causa do inimigo espanhol, troçávamos nós. A cidade tinha um estatuto especial na orgânica do Exército. Designava-se Praça Militar de Elvas. Tinha um governador militar, integrava vários regimentos e serviços. O Forte de Elvas, então prisão, tinha também alguma autonomia honorária, como Governo Militar do Forte de Elvas, no meu tempo personalizado por coronel de cavalaria na reserva, bem conhecido na cidade pelo seu aprumo militar e farda permanente e integrava uma prisão militar designada Depósito Disciplinar. Organização militar sobrante das preocupações de Salazar durante a 2ª guerra mundial, 1939 – 1945, quando se tomaram providências em face de iminente invasão por Espanha aliada à Alemanha, o que, felizmente, não aconteceu. Havia o culto das fardas e os civis iam adoptando essa cultura. Recordo que eu e os meus colegas, quando chegamos a Elvas, entramos sem farda no Clube Elvense para o visitarmos, porque sabíamos que ali era o local de frequência das elites da terra. Fomos bem recebidos por um director que nos convidou a associarmo-nos aquela instituição. Como nos interessava frequentar os bailes e outras diversões, aceitamos os impressos-propostas para associados, mas o tal director perguntou se todos nós éramos oficiais. Dissemos que todos menos um, esse era sargento miliciano, embora com curso superior. Então ele esclareceu que os oficiais poderiam ser sócios, mas não o nosso companheiro sargento. Perante isso, recusamos a inscrição e manifestamos a nossa surpresa pelo facto de um clube civil adoptar praxes militares. Ficamos queimados naquela sociedade elvense e fomos criticados, já no quartel, por alguns oficiais do regimento. Foi bom assim, porque isso soube-se na cidade, o que levou o Grémio, instituição não elitista, a eleger-nos amigos e frequentadores especiais. E gozamos bem essa facilidade.

Terminei o serviço militar em Abril de 1955.

Marques Leandro
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Notas do editor

1 - Licenciado em Gestão e Administração Pública pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, trabalhou em Angola, onde nasceu, e continuou a sua carreira na Administração Pública até se reformar na Inspecção Geral de Finanças. Foi Secretário de Estado da Administração Regional e Local dos III e IV Governos Constitucionais chefiados, respectivamente, pelos Eng.º Alfredo Jorge Nobre da Costa e Prof Dr Carlos Alberto Mota Pinto. Foi ainda dirigente da ARCIL (Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã).

3 - O editor enviou em devido tempo a foto da "barrilada" ao Dr. Marques Leandro

Último poste da série de 7 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15453: Memória dos lugares (325): Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo: o N/M Uíge em janeiro de 1967, no meu regresso a Lisboa (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, CCAV 489, Cuntima; e ex-alf mil comando, cmdt do Grupo Diabólicos, Brá, 1965/67)

Guiné 63/74 - P15509: Parabéns a você (1003): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15494: Parabéns a você (1002): António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto do HM 241 (Guiné, 1968/70)