segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15606: Inquérito 'on line' (27): "Em 2016 prometo enviar mais fotos e/ou textos para o blogue"... Sim, respondem cerca de 20 a 25 num total (magro) de 57 respondentes...


Guiné > Região de Cacheu > Susana > CCAV 3366 / BCAV 3846 (Susana, 1971/73) > Praia de Varela > Junho de 1971: toureando gado felupe.

[Foto do álbum de um dos nossos mais recentes grã-tabanqueiros, o Armando Costa, de seu nome completo Armando Silva Alvoeiro da Costa (ex-fur mil mec auto, CCAV 3366, Susana, 1971/73)].

Foto (e legenda): © Armando Costa (2016). Todos os direitos reservados.


A. INQUÉRITO DE OPINIÃO: "EM 2016 PROMETO ENVIAR MAIS FOTOS E/OU TEXTOS PARA O BLOGUE"


1. Sim, vou enviar mais fotos >  25 
(43,9%)

2. Sim, vou enviar mais textos >   20 
(35,1%)

3. Talvez mande alguma coisa > 16 
(28,1%)

4. Não, não tenciono mandar mais fotos >   3 
(5,3%)

5. Não, não tenciono mandar mais textos  > 1 
(1,7%)

6. Não sei > 7 
(12,3%)

Votos apurados: 57

Sondagem fechada,  domingo, 10, 18h44. O inquérito admitia mais do que uma resposta

B. Comentário dos editores:

A "colheita" não foi exceciocnal, mas em tempo de "vacas magras" [, vd foto acima,] não nos podemos sentir infelizes... Houve camaradas que responderam à nossa chamada e estão prontos para continuar a alimentar o blogue. Aqui ficam algumas mensagens que temos vindo a receber,

Obrigados a todos/as que nos responderam a mais este inquérito de opinião cujo objetivo principal é, afinal, manter o interesse e incentivar a participação dos nossos leitores.



José da Palma Vagues  > 
Vou mandar mais algumas fotos (14). 

José Inácio Leão Varela  > 
Boa noite Amigos e Camaradas: Tudo bem contigo? 
Eu, mais mazela menos mazela, vou andando bem.  
Claro que vou enviar mais coisas para o Blogue... 
talvez não muita coisa mas alguma por certo irá, 
até porque ainda tenho atravessado na mente um assunto 
que merece um pouco mais de aprofundamento; 
trata-se das circunstâncias em que faleceram os meus dois "Homens" 
na estrada de Tite.. 
pois faleceram ambos em combate traiçoeiro 
e não apenas "faleceram por lá" 
como a informação que relata o triste acontecimento parece deixar transparecer. 
Depois disso, não prometo mais assuntos de guerra pura 
mas por certo um ou outro acontecimento (mesmo humano) me ocorrerá.  
Bom Ano Novo de 2016, 
PS - Ah!.. já respondi ao Inquérito 


Armando Costa > 
Aqui segue um lote de fotos (49) das que possuo da Guiné 
(Bissau, Cumeré, Susana e Varela), do período de 1971 a 1973. 
Em próxima ocasião enviarei mais. A qualidade é a que se pode arranjar, 
resulta da digitalização de postais de fotos que tirei, os negativos perdi-lhes o rasto. 

Paulo Salgado  > 
Irei mandar mais fotos...com interesse. 
 que não sejam meramente pessoais...

António José Pereira da Costa 
Olá, Camaradas
É minha intenção enviar todas as minhas fotos da Guiné.
Vou enviá~las por assuntos:
Segue o primeiro - a Btr AA 3434 que defendia heroicamente (digo eu) a Base 12 
contra ataques aéreos e terrestres como aconteceu por duas vezes que me recorde.
Depois do guião e do emblema de peito um portefólio feito numa noite de exercício de defesa AA. 
O Malogrado TCor Brito voava num T-6 
e largou um ou dois flares - dispositivos para iluminação do campo de batalha) 
que ficavam a pairar à vertical da base e os artilheiros, PUMBA! fogo neles.
E até acertaram...
Era incipiente, mas era o que se podia arranjar. 
A defesa AA da Base tinha muitas limitações, como já se disse, 
mas se houvesse tempo era possível pôr tiros no ar 
que é o que faziam todas as AA da II GM que utilizavam os materiais de que dispúnhamos. 
O resto era rezar e esperar que Deus fosse português (e do Benfica de preferência...).
Caso contrário poderia ser uma tragédia. 
Seguem duas fotos do Cumeré, em MAI71. 
Ainda não estava completamente acabado, mas já fazia serviço 
e "embrulhou" na noite de 9 para 10UN71, 
quando foram atacados todos os quartéis à volta de Bissau 
e ao mesmo tempo 6 foguetões de 122 mm caíam à beira do "Pelicano",
 um restaurante bem agradável de que todos nos lembramos.
Voltarei à antena com mais fotos.

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15594: Inquérito 'on line' (26): "Em 2016 prometo enviar mais fotos e/ou textos para o blogue"... Amigo/a, camarada, até domingo, às 18h44, promete que sim... Precisamos DESESPERADAMENTE de mais fotos e textos em 2016...

Guiné 63/74 - P15605: Notas de leitura (795): “Dois Tiros e Uma Gargalhada”, de Abdulai Sila; Ku Si Mon Editora, 2013 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Março de 2015:

Queridos amigos,
Não é de mais repetir que Abdulai Sila é o nome mais relevante da literatura guineense, injustamente não publicado em Portugal, e não pasmará que um dia ele apareça premiado e muita gente se irá questionar porque razão nenhum, dos seus trabalhos vem à luz em editores portugueses, como se ele não fosse credor, por mérito próprio, da nossa atenção.
"Dois Tiros e Uma Gargalhada" integra muitos dos ingredientes do trabalho deste grande artista, como refere Moema Augel: tensão e surpresa, uma mescla de violência, traição, lealdade, amizade e amor, tudo no palco, é nesse palco que um canalha pretende ver abatido um homem grande com dois tiros nos olhos e os presumíveis executantes regressam humilhados, com as calças borradas, e nós gargalhamos.
Por favor, procurem conhecer Abdulai Sila, esse caso sério da literatura lusófona.

Um abraço do
Mário


O teatro de Abdulai Sila, entre a tradição e a modernidade

Beja Santos

Abdulai Sila nasceu em 1958, em Catió. Estudou em Dresden, então República Democrática Alemã, onde se licenciou em engenharia eletrotécnica. Além de engenheiro, é também economista e investigador social. Foi cofundador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas – INEP, da primeira editora privada da Guiné-Bissau, a Ku Si Mon, e da revista cultural Tcholona.
É hoje o nome proeminente da literatura guineense, os seus romances e o seu teatro são de uma enorme beleza, dotados de originalidade e onde a língua portuguesa aparece renovada pelas suas incorporações da tipicidade guineense. Percebe-se rapidamente que Abdulai Sila manipula com mestria os grandes eixos da tragédia, da crítica política, da utopia, e dos grandes enredos clássicos com o William Shakespeare à frente.

A sua peça de teatro mais recente, “Dois Tiros e Uma Gargalhada”, Ku Si Mon Editora, 2013, regressa, dentro dos seus costumados eixos da farsa acidulada e da iminência trágica, a uma realidade guineense em que o poder evocador da esperança em melhores tempos se digladia com as tentações da corrupção e do poder arbitrário. Quais as linhas de orientação deste prodigioso texto teatral? Amambarka, uma personificação do mal, serve-se de alguns executores a soldo para liquidarem um velho e dois sócios. Os mandantes querem saber as razões que os levam a esta execução, rendem-se ao argumento de quem vão liquidar são traidores. Na cena seguinte, temos uma conversa em que se insinua com subtileza a atmosfera do poder arbitral na Guiné-Bissau, fala-se do culto da personalidade e alguém exproba: “Nós somos um povo valente, honrado, com dignidade, e que não merece o que está a acontecer”.
Alguém anteriormente observa em crioulo: tudu kusa ku tene kumsada i ta tene si fin (tudo o que tem um início tem um fim). Entretanto, os mandantes de Amambarka regressam humilhados, aqueles “homens grandes” mostraram os seus poderes superiores e enxotaram-nos, regressaram com as calças cheias de trampa, Amambarka insiste na execução. E chegamos a um momento de pedagogia, o velho delega em três homens o exercício de um poder coletivo que conduza aquele país à liberdade e ao progresso, os três homens são Kilin, Woro e Dimmo.

Estamos agora no segundo ato, aquele triunvirato no poder passa em revista as mudanças já operadas: habitação decente, saúde gratuita, florescimento cultural; agora o país passou a ser respeitado, a ser um exemplo em África. Mas é preciso continuar. Mas Kilin tergiversa, arranja uma amante, aproveita-se do poder, é manifestamente corrupto. Este segundo ato é um demorado deleto entre Kilin e a sua amante, Sonaa, é aqui que assistimos ao envenenamento do poder, Kilin propõe a Sonaa que esta seja uma falsa primeira dama de alguém que pode vir a ser derrubado, e é aqui que sentimos a influência da peça teatral anterior de Abdulai Sila, “As Orações de Mansata”, uma espantosa adaptação do Macbeth de Shakespeare, peça, aliás, onde também há poderes estarrecedores, sobrenatural, execução de colaboradores e delírios de déspota. Mas o triunvirato é chamado à pedra por esse “homem grande” que dá pelo nome de Kamala Djonko, e este, em termos alegóricos, previna sobre a tentação dos desvios aos grandes ideais, quando observa:  
“Crescemos porque há uma força dentro de nós que nos abraça e à qual nos abraçamos, um poder enorme, que assumimos e que nos leva à procura de algo, mesmo sem termos uma perceção clara do que possa ser a sua forma, dimensão ou natureza. Quando atingimos parte desse algo, o que acontece geralmente é que iludimo-nos e enveredamos por uma outra via, deixamos de acreditar em nós mesmos. Tornamo-nos pouco a pouco descrentes e passamos a ser cada dia mais vulneráveis”. E aí o homem sábio interpela Kilin, é evidente que ele conhece muito bem os desvios deste, vai-se falar de corrupção e desvios de dinheiro. Vendo-se denunciado, Kilin pede a Flor, outra amante, que lhe encontre um executor e é aí que entra de nova em cena Amambarka, é negociado um golpe.

Estamos agora no terceiro ato, Dimmo e Woro criticam asperamente Kilin por este ter procurado assassiná-los, Dimmo e Woro propõem-lhe que ponha termo à sua vida para não se vir a descobrir as suas desonestidades. A tensão teatral eleva-se, os dois elementos do triunvirato recordam as violências do passado:  
“Quanta gente, quantos parentes, amigos, companheiros foram no passado assassinados sem motivo nem justificação? Quantas famílias podem hoje afirmar que não têm um membro que não tenha sido torturado ou fuzilado no passado? Mas quem ganhou com essa situação de caos e de barbárie que foi criada? Será que houve mais sossego? Mais tranquilidade? Mais concórdia? Não! Por isso, este é o tempo de, de uma vez por todas, dizermos a uma única voz, bem, alto, que não vamos aceitar o regresso a esse passado”. Este será o lema que relançará o eixo da concórdia na trama desta peça teatral, quem se tinha embuçado revela a verdadeira face, a verdade volta à tona de água. Woro e Dimmo exigem a Kilin que escreva um livro para passar uma mensagem:  
“Tu vais dizer à nossa juventude e a todos os nossos compatriotas que ainda estão por vir como foi a tortuosa caminhada que fizemos na direção da liberdade e da dignidade, quão dolorosa foi a longa e anárquica noite que atravessamos”. Kilin está arrependido pela sua traição. E Kamala Djonko profere a última tirada teatral em língua Fula: Mo no yade ka artata yo yobho ko lannata (quem parte para uma viagem sem data de regresso que leve bagagem completa).

No posfácio, Laura Cavalcante Padilha, professora da Universidade Federal Fluminense, explana os motes didáticos da obra: a sabedoria dos “homens grandes”, que carregam consigo um conhecimento milenar; o ódio reduzido a farsa quando os executantes regressam humilhados e borrados de medo, o que motiva a gargalhada do espectador; e o terceiro ato em que o mundo abalado volta ao seu lugar. Uma peça de teatro em que se entrelaçam a constatação e a explicação, o ético e o político, em que releva a vitória da sensatez, do perdão e do orgulho coletivo pela reconciliação. E pedagogia, acima de tudo, a violência dá lugar à tolerância, depois de todas as vicissitudes postos no texto teatral. “Dois Tiros e Uma Gargalhada” é um novo triunfo de um escritor que é merecidamente um caso sério da literatura lusófona.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15592: Notas de leitura (794): "Autópsia dum livro proibído", por Armor Pires Mota, edição de autor, 2015 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 – P15604: Agenda cultural (454): Novo livro: 90 Anos de Memórias e Relatos sobre os Clubes, a sua Criação e Trajetórias, Beja 1888 a 1906 (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Luís, meu amigo e camarada

Acabei de lançar mais um livro, o sexto. É uma viagem aos primórdios da Associação de Futebol de Beja. São os 90 Anos de Memórias e Relatos. Um trabalho exaustivo, mas profícuo, sobre os Clubes, a sua Criação e Trajetórias. Foi um trabalho de investigação, onde relato a chegada do futebol a Portugal, 1888, e a Beja em 1906.

Segue-se, naturalmente, a formação dos grupos populares, depois dos clubes que fizeram, e fazem, parte da Associação. Passo por todos. Confesso que foi um trabalho que muito gozo me deu, sendo a elaboração da narrativa um caso talvez único em Portugal. Tanto mais que a Federação Portuguesa de Futebol apoio o projeto. 

236 páginas onde a existência dos filiados na AF Beja é mencionada.

Para ficares com uma ideia, no passado dia 6 o jornal A BOLA menciona a obra.

Junto a cópia.

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


domingo, 10 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15603: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - Parte I: capa, dedicatória, introdução e prefácio (, este com a assinatura de António Graça de Abreu)













"Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", livro  de Mário Vicente  [ Fitas Ralhete],o nosso querido camarada  Mário Fitas, ex-fur mil inf,  op esp,  CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora [, foto atual à direita].l

[Em, cima:]  Capa, dedicatória, introdução e prefácio (este, com a assinatura do nosso grã-tabanqueiro António Graça de Abreu).


Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


1. Começamos hoje a publicar no blogue o livro do nosso camarada, que anda há anos à espera de editor... Na realidade, o livro não é inédito, há uma edição de autor de 2000. (*) 

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada, como nos diz o António Graça de Abreu no prefácio, e a sua publicação, no nosso blogue, em formato digital, está devidamente autorizada pelo autor, Mário Vicente, de seu nome completo, Mário Vicente Fitas Ralhete (ex Fur Mil Inf Op Esp, CCAÇ 726), alentejano, reformado da TAP, pai de duas filhas, avô.

Recorde-se que já aqui publicámos, em 2008,  em dez postes o seu fascinante livro "Pami Na Dondo, a guerrilheira" [capa à esquerda], ed. de autor, Estoril, 2005, 112 pp. (**).

O ano passado o Mário Fitas entregou-nos, em formato digital, esta segunda versão do seu primeiro  livro, que deu novo título, "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2010, 99 pp., em formato digital). Deu-nos "luz verde" para a publicar no blogue, como de resto há muito nos tinha prometido...

Capa de "Putos, ganduilos e guerra",
edição de autor, 2000
O Mário Fitas ainda teve esperança de encontrar um patrocinador para  a 2ª edição, em papel. Mas, convenhamos, não é fácil, nesta conjuntura, e para mais para os escritores que foram combatentes da guerra do ultramar/guerra colonial, encontrar patrocinadores ou mecenas para a publlicação de livros.

Esperamos que os portugueses, sobretudo os mais novos, não queiram esquecer, ignorar, branquear ou escamotear o seu passado. O passado é um património que todos temos a obrigação de preservar, divulgar e valorizar. E sem ele, não há presente nem futuro.

Começamos hoje a reproduzir esse ficheiro que nos chegou às mãos, com o propósito de poder levá-lo a um público mais vasto, começando pelos nosssos amigos e camaradas da Guiné que nos leem.

Estamos gratos ao Mário Fitas pela sua generosidade e camaradagem. Estamos certos que os nossos leitores vão saber acarinhar e valorizar estas memórias biográficas do Mário Vicente / Mário Fitas, fazendo-lhe chegar críticas e comentários, através da caixa de comentários do nosso blogue.  Não se esqueçam que nada é mais estimulante para um autor do que o "feedback" dos seus leitores. E nós temos a obrigação de valorizar o que é nosso. 

Guiné 63/74 - P15602: Atlanticando-me (Tony Borié) (1): Nunca é tarde (1)

Ano Novo, nova série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66). Hoje iniciamos "Atlanticando-me" com o primeiro episódio de Nunca é tarde.




Nunca é tarde - Capítulo 1

Ano Novo, “Título Novo”, desta vez chama-se “Atlanticando-me”, não sabemos se está bem escrito, perdoem lá, vai ficar assim, pelo menos este ano de 2016, a palavra, no nosso modesto entender, quer mais ou menos dizer, que os nossos desejos são aproximar-nos ainda mais desse lindo País, que é Portugal!


Posto isto, vamos à conversa de hoje.

Companheiros, já lá vão uns anos, o nosso filho estava no cumprimento do seu dever, fazendo parte do Corpo de Marines dos USA, estacionado numa base da Califórnia, nós, dadas as facilidades de transporte, pois havia uma companhia aérea que saía de Nova Iorque pela manhã, chegando a Los Angeles à noite, tinha oito ou nove paragens, em diversas cidades, carregando e descarregando pessoas e mercadoria, era uma espécie avião de correio, os lugares eram sem marcação, portanto se saísse num aeroporto e regressasse ao avião, já o nosso lugar poderia estar ocupado por outro passageiro, mas era barato, era quase o preço de um jantar para dois.

Deste modo, talvez duas vezes ao mês, íamos à Califórnia, fazíamos companhia ao nosso filho, levando-lhe entre outras coisas, comida da mãe, muitas vezes estava cumprindo as suas tarefas, logo, não podia estar connosco, então andávamos por ali, frequentando algumas vezes o clube dos Açores, que havia numa cidade próxima, onde um senhor, já de uma certa idade, nascido nos USA, cujo pai fora emigrante, oriundo dos Açores, depois de alguma conversa, sabendo que éramos oriundos da região de Aveiro, nos foi contando a história desta personagem. Nós, pela informação que fomos recolhendo, vamos descrever a história, vai ser em alguns capítulos, pois o espaço no nosso blogue é de ouro, mas vale a pena ler, é uma odisseia de um emigrante, de uma geração antes da nossa. O título é “nunca é tarde”, cá vai o primeiro capítulo:


Os pais do Nico tinham algumas terras na região das areias, mais propriamente nas Gafanhas, mesmo encostadas ao canal de água salgada, a sua mãe, quando o via chegar a casa, todo sujo, com alguma lama nas pernas, logo lhe dizia, com cara de pai:
- Qualquer dia vais ficar enterrado na areia, ninguém te lá vai buscar. Vai lavar-te e não entres em casa assim.

E já mais calma, pensava:
- Isto é que é um vício. Não precisamos de berbigão para nada, pois é tanto, que até o damos aos porcos, este rapaz, sempre metido na areia suja, valha-me Deus!

O Nico, o seu verdadeiro nome era Eurico mas todos lhe chamavam assim, era aquele rapaz muito popular, tipo “o rapaz nosso amigo, da casa do nosso vizinho”, havia muitas pessoas no lugar, que conviviam com ele desde que nasceu, não sabendo o seu verdadeiro nome, era o Nico, que todos gostavam e andava por ali. Na primavera, o seu passatempo preferido era andar aos ninhos, pois já sabia onde os pássaros das terras alagadiças costumavam pôr os ovos. Ajudava os pais no que podia, às vezes ia à taverna fazer recados aos vizinhos, mas a maior parte do seu tempo era passado chafurdando na areia escura, durante a maré baixa, procurando berbigão e às vezes enguias.

Os seus pais tinham tido uma menina antes, que morreu ainda bebé com uma doença ruim, como eles diziam, depois nasceu o Nico, faziam tudo para que o rapaz crescesse com alguma saúde, não gostavam muito que andasse sozinho, mas ele gostava de andar pela beira das terras, encostadas ao canal, descalço, metido na areia, com alguma lama, às vezes, quando a maré já começava a subir, ele até tentava nadar para o meio do canal, era assim, estava-lhe no sangue, adorava água, correr pelas terras, descalço, queria liberdade. Chega a idade, frequenta e termina a escola primária, os pais matriculam-no numa escola da cidade de Aveiro, compram-lhe uma bicicleta, para ir e vir todos os dias, com alguma dificuldade, pois não era muito bom aluno, termina o quinto ano na área de indústria.

Os pais, procurando um futuro para o seu filho, assim que souberam que o senhor Capitão João, que andava na pesca do bacalhau na Terra Nova, estava em terra, logo foram ter com ele, pedindo-lhe:
- Senhor capitão, queríamos pedir a vossa senhoria, o favor, se podia recomendar o meu Nico para embarcar na próxima safra, pois já completou o curso industrial.

O senhor capitão João, informa-os de como devem proceder, o Nico faz os exames, tira a cédula marítima, embarcando como serralheiro mecânico, na próxima safra, no navio bacalhoeiro onde o senhor capitão João era o comandante, seguindo rumo às águas frias do norte do Atlântico, mais propriamente à região de Newfoundland, mais conhecida entre os pescadores portugueses, por Terra Nova.

A Dina, cujo verdadeiro nome era Albertina, era mais nova uns meses do que o Nico, vivia umas casas acima, no mesmo lugar onde vivia o Nico, conheciam-se desde crianças, os vizinhos diziam sempre que eles eram namorados, eram um para o outro, ela completou a escola primária, aprendendo em seguida costura, era a costureira do lugar, muito boa rapariga, todos sabiam que andava perdida de amores pelo Nico.

Quando o Nico completou o quinto ano da escola industrial, os pais deram uma pequena festa para a família e vizinhos mais próximos, onde compareceu a Dina, sempre sorridente e amável para com o Nico, que se enche de coragem e lhe diz:
- Dina, não sei como começar.., mas agora que já completei a escola e vou trabalhar, queria que fosses a minha namorada.

A Dina não cabendo em si de alegria, agarrou-se aos beijos ao Nico, na frente de todos, fazendo estes compreenderem que algo de verdadeiro e sério iria começar entre os dois. Passavam muito tempo juntos, faziam planos para o futuro, a Dina começou a costurar o seu enxoval, entretanto o Nico, embarca para a primeira safra do bacalhau, houve beijos e lágrimas de despedida, promessas de amor eterno, que seriam um do outro até à morte, vieram todos ver o barco sair a barra, junto farol.

No navio, a vida era totalmente diferente do que o Nico imaginava, havia muita disciplina, muito trabalho, as horas de dormir estavam marcadas, tinham que se ajudar uns aos outros, o Nico adorava liberdade, correr pelas terras alagadiças, andar descalço, foi muito difícil os primeiros tempos, até que começou compreender o regime de bordo, aos poucos foi-se habituando, cumprindo o melhor que podia as suas tarefas, regressando com alguma alegria ao ver a Dina, na entrada da barra, acenando-lhe com os braços abertos, assim como os seus pais, esperando-o.

No tempo que está em terra namora a Dina, continuam com as promessas de amor eterno, arranja um trabalho temporário na cidade de Aveiro. Matricula-se outra vez na escola só para aprender o idioma inglês, chegou a altura de embarcar de novo, outra vez beijos, abraços, lágrimas, e lá vai o Nico em direcção aos mares da Terra Nova, já tem alguma prática, tem algum controle no seu tempo, já resolve alguns problemas mecânicos a bordo, já o consideram uma pessoa quase indispensável, vêm a terra, cremos que ao porto de St. John’s, no mar na Terra Nova, abastecer o barco, entre outras coisas de água fresca e de isco para a faina da pesca, como já fala algumas palavras em inglês, todos o querem acompanhar, já é popular a bordo.

(continua)

Tony Borie, Julho de 2015
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Guiné 63/74 - P15601: Blogpoesia (433): Como se... (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728)

1. Em mensagem do dia 9 de Janeiro de 2016, o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), enviou-nos o poema da sua autoria: Nas Asas do Pensamento...



Nas asas do pensamento… 

Nas asas do pensamento eu divagueio 
E corro o mundo. 
Soletro cada letra e cada nota 
Na minha pauta, 
Certo umas vezes, 
Outras mesmo às avessas. 

Fujo às emboscadas que me dá a fantasia 
Busco a luz do azul dos oceanos. 
Cada praia é o espaço 
Onde me dispo e lavo. 
Arremesso ao vento o pó 
Que tolda o meu firmamento. 
Tomo banho na claridade 
Que em ondas me jorra o mar. 

Atravesso searas e pradarias 
Como um lobo esfomeado. 
Rodeio as cercas e os valados, 
Sacio minha fome com sobras de amor 
Que me deixa a humanidade. 

Ouvindo Ravel com piano e uma orquestra

Berlim, 9 de Janeiro de 2016 8h31m 
Jlmg Joaquim 
Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15577: Blogpoesia (432): O Meu Agradecimento, poema de Francisco Santos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 557

Guiné 63/74 - P15600: Parabéns a você (1017): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil Inf das CCAV 3365 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15595: Parabéns a você (1016): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

sábado, 9 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15599: Agenda cultural (453): Apresentação do livro "O Corredor da Morte", da autoria de Mário Vitorino Gaspar, pelo Dr. Mário Beja Santos, dia 13 de Janeiro de 2016, pelas 15 horas, no Auditório da Junta de Freguesia de Alvalade (Mário Vitorino Gaspar)

1. Mensagem de 6 de Janeiro de 2016, do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) com um convite para a apresentação do seu livro "Corredor da Morte" na Junta de Freguesia de Alvalade.


C O N V I T E


Camaradas da Tabanca Grande

APRESENTAÇÃO DO LIVRO "O CORREDOR DA MORTE" de Mário Vitorino Gaspar na JUNTA DE FREGUESIA DE ALVALADE - LISBOA

Auditório da Junta de Freguesia de Alvalade – dia 13 de Janeiro de 2016 pelas 15H00


– A Presidir a Mesa estará a Junta de Freguesia de Alvalade;

– Doutor Mário Beja Santos fará a Apresentação do Livro;

– Estará presente o autor Mário Vitorino Gaspar, e…

– Existirá uma surpresa.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15597: Agenda cultural (452): Apresentação dos livros "Guerra na Bolanha, de Estudante a Militar e Diplomata", da autoria de Francisco Henriques da Silva; "Cartas do Mato" e "Arcanjos e Bons Demónios", da autoria de Daniel Gouveia, dia 14 de Janeiro de 2016, pelas 15 horas, na Messe do Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P15598: Estórias cabralianas (91): Alfero Obstetra, mas também Dentista de Balantas... (Jorge Cabral)

Foto: © Jorge Cabral (2008).

Todos os direitos reservados
1. Mais uma "estória do alfero Cabral" que nos chegou hoje:


Alfero Obstetra, mas também Dentista de Balantas... 

por Jorge Cabral 

[, foto à direita, em Lisboa, na Sociedade de Geografia em 2008; ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]


Numa noite, aí pelas três horas, fui acordado pelas Mulheres Grandes, que me pediram para levar
uma parturiente a Bambadinca.

Embora a bolanha de Finete estivesse transitável, seria impossível atravessar o rio, acordando o barqueiro. Claro que os partos eram assunto de mulheres e foi com muita relutância que me deixaram observar a situação.  Não só observei, como colaborei activamente no nascimento de uma menina.

A partir de então fui várias vezes chamado a intervir e sempre com sucesso. Não sei como esta minha competência foi conhecida aqui em Portugal, o certo é que há uns anos fui convidado para ser padrinho da Confraria das Parteiras. Convite que aceitei com muita honra.

Foto ©: Jorge Cabral (2016).
Todos os direitos reservados
Em Missirá exerci outras especialidades e até fui dentista... Quando cheguei ao Pelotão, existiam quase todas as etnias, Bijagós, Beafadas, Mandingas,  Papéis, Manjacos e um Balanta, além dos Fulas. Pouco a pouco foram transferindo os não Fulas, mas esqueceram-se do Albino, o Balanta.

Desarranchado com todos os Africanos, comia sempre sozinho, mas de vez em quando  apareciam os seus amigos de Fá Balanta e faziam grandes patuscadas...

Um dia surgiu um deles, com um queixal inflamado e o enfermeiro Pastilhas não sabia tratá-lo. Como habitualmente, recorreu ao Alfero. Pedi ao Albino que fosse buscar um alicate ao mecânico Pechincha e também uma garrafa de Constantino. O doente emborcou dois copázios e depois com toda a minha força extraí uma enorme dentola...

Nunca mais houve patuscada dos amigos do Albino, sem aparecer um paciente dentário. Creio que ele partilhava da anestesia.

Finalmente o Albino foi transferido e a minha auspiciosa carreira terminou... Não sei se há Confraria dos Dentistas... Ninguém me convidou... Nem dos Anestesistas...                                                                            

Jorge Cabral
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezenbro de 2015 > Guiné 63/74 - P15526: Estórias cabralianas (90): A Pátria é um Natal, e o Natal é uma Pátria (Jorge Cabral)

(...) Foi no dia 25 de Dezembro de 1970.

Talvez porque o Spinola nos havia visitado há pouco,  o Sitafá, o puto que vivia connosco, interrogou-me:
– Alfero, o que é a Pátria? (...) 

Guiné 63/74 - P15597: Agenda cultural (452): Apresentação dos livros "Guerra na Bolanha, de Estudante a Militar e Diplomata", da autoria de Francisco Henriques da Silva; "Cartas do Mato" e "Arcanjos e Bons Demónios", da autoria de Daniel Gouveia, dia 14 de Janeiro de 2016, pelas 15 horas, na Messe do Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

Em mensagem do dia 12 de Outubro de 2015, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, deu-nos conta da apresentação de mais dois livros da colecção Fim do Império, a levar a efeito no próximo dia 14 de Janeiro na Messe Militar do Porto.


14.º CICLO DAS TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO

Messe Militar do Porto
Dia 14 de Janeiro de 2016


Apresentação de livros da colecção Fim do Império: 

"Guerra na Bolanha, de Estudante a MIlitar e Diplomata", da autoria do Embaixador Francisco Henriques da Silva

"Cartas do Mato" e "Arcanjos e Bons Demónios", da autoria de Daniel Gouveia, 
com os autores




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Nota do editor

Último poste da série de 5 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15581: Agenda cultural (451): Junta de freguesia de Vila Franca de Xira, dias 13 e 20 deste mês, às 21h30, exibição dos filmes "O mal amado" e "Acto dos Feitos da Guiné", respetivamente, de Fernando Matos Silva (que foi fotocine na Guiné em 1969 e em Angola, 1970)

Guiné 63/74 - P15596: Prova de vida (1): Fantasias de Natal... (Manuel Luís R. Sousa)

1. Porque o Natal é quando o Homem quer e porque o nosso camarada Manuel Luís R. Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), quis fazer a sua prova de vida, aqui temos uma ternurenta Fantasia de Natal enviada ao nosso Blogue ontem, dia 9 de Janeiro de 2015.

Amigo Carlos Vinhal:
Recebi recentemente um e-mail do nosso camarada Luís Graça, que tu também deves ter recebido, manifestando a sua preocupação em chegar ao ponto de recear telefonar para qualquer um de nós, temendo que o seu contacto seja já inoportuno, pedindo para dizermos "Ok, ainda estamos cá", como prova de vida.
Estando a rapaziada toda já "entradota", compreendo a sua preocupação. Pela parte que me toca, aqui estou a dizer "OK, ainda estou por cá", enviando-te em anexo um texto para, se o entenderes, o publicares. É um excerto do meu novo livro autobiográfico, prestes a ser editado, que contém uma mensagem de Natal, embora já um pouco extemporânea, para todos os companheiros.
Agora, amigo Carlos, com a publicação deste texto, ou a rapaziada gosta e vai adquirir o livro, espicaçada que foi, assim, a sua curiosidade, ajudando-me a escoar os livros que as editoras me "obrigam" a adquirir, mesmo sendo o autor, ou não gostam mesmo nada deste naco de prosa e o destino dos livros, além de um ou outro que vou por na estante, é uma pilha a um canto da garagem.
Como vês amigo, ainda cá estou e com algum sentido de humor.
Envio-te também uma fotografia para ilustração.

Um abraço para ti e para todos os companheiros, e respectivos familiares.
Bom Ano de 2016
Manuel Sousa



Fantasias de Natal…

Sempre me disseram, em criança, alimentando a minha fantasia, que o Menino Jesus, que eu via habitualmente num dos altares da Capela de S. Luís, - Folgares, Vila Flor - muito pequenino, de feições angelicais, de cabelo loiro, vestido com umas vestes brancas e resguardado numa redoma de vidro, nos visitava na altura do Natal, entrando pela chaminé, para deixar uns presentes nos sapatos que ali encontrasse.

Como é que aquele ser tão frágil e indefeso, – pensava comigo próprio, embora criança – tinha o vigor físico para, pela calada da noite, ao frio, à chuva ou à neve, subir ao telhado da nossa casa e descer depois ao interior, com a dificuldade acrescida de ali não existir qualquer chaminé? As chamas da fogueira crepitavam livremente até ao tecto, saindo o fumo por entre as telhas.

Mesmo assim, pelo sim e pelo não, na noite de Consoada, à falta de sapatos, lá ia colocando os socos junto à lareira, condição essencial para Ele deixar os presentes, segundo me diziam, na expectativa de que aquele Menino seria mesmo capaz de vencer tais obstáculos e descer através das "lares" para me deixar qualquer coisa – um carrinho, uma gaita. Oh...! Que alegria seria a minha.

No dia seguinte, ansiosamente, bem cedo, ia ver os socos que, para minha decepção e tristeza, continuavam intactos e sem qualquer presente. A explicação dos meus pais era a de que ele não teria brinquedos suficientes para todas as crianças, mas que, provavelmente, no ano seguinte seria a minha vez, ou então, diziam-me, que ele não teria entrado pelo facto de a nossa casa não ter chaminé e de não querer "enfurretar" as suas vestes alvas de neve na fuligem das "lares".

Serviam-me de algum consolo estas explicações e consolidava-se em mim aquela ideia de que o Menino Jesus, tão frágil, correndo o risco de se partir o barro de que era feito, não seria capaz de subir ao telhado da nossa casa. Isto por um lado. Por outro, chegava a pensar que Ele discriminava os meus socos, visto que o habitual, segundo me diziam, era porem-se na lareira na noite de Natal os sapatinhos. Coisa que eu não tinha.

Num desses anos da minha meninice, também por altura do Natal, encontrava-me na aldeia da Carrapatosa, onde passava alguns períodos com a minha avó materna. Mais uma vez, na noite de Consoada, levado pela mesma fantasia, a minha tia Aninhas aconselhou-me a colocar os socos no canto da lareira antes de ir para a cama. Com alguma relutância o fiz, pela experiência anterior e visto que a casa da minha avó também não tinha chaminé.

No dia seguinte, bem cedo, "inspeccionados" os socos, para minha surpresa e alegria, estavam atacados de rebuçados. Como criança que era, rejubilei de felicidade! Perante esta realidade, e não perdendo tempo em trincar e chupar alguns deles, percorrendo com o olhar toda a altura entre o tecto e a lareira, não pude deixar de pensar que o Menino Jesus da Carrapatosa era muito mais audaz do que o da minha terra, e imaginava como as suas vestes teriam ficado negras pela fuligem do cadeado das "lares", por onde ele teria descido feito alpinista.

Logo nesse dia, na ida à missa de Natal com a minha avó, a tia Aninhas e os meus primos, à Capela de Santa Luzia, tive a curiosidade de reparar na sua imagem, supondo eu, pelo que fez durante a noite, que estaria toda enfarruscada de fuligem. Para minha admiração, estava imaculadamente limpa, como era habitual, o que me deixou pensativo, concluindo que aquele menino em nada se comparava a outro qualquer. A mim, por exemplo. Porque se eu fizesse o que ele fez, a minha roupa estaria que nem a de um carvoeiro, impregnada de pó negro da lareira.

Só mais tarde tive a noção de que o Menino Jesus, para não se sujar e não apanhar o frio da noite, fez o cambalacho com a tia Aninhas, que era mordoma da capela, incumbindo-a de ali colocar os rebuçados, que Ele tinha requisitado na taberna, do Eugénio ou do Cassiano de Campelos, para serem debitados na Sua "conta". Aqueles a que eu tinha direito – os socos estavam repletos – em compensação dos anos anteriores que não me tinha trazido nada.

Que Menino Jesus nos abençoe a todos em geral e, especialmente, os ex-combatentes.
Manuel Sousa
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Guiné 63/74 - P15595: Parabéns a você (1016): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15591: Parabéns a você (1015): António Murta, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15594: Inquérito 'on line' (26): "Em 2016 prometo enviar mais fotos e/ou textos para o blogue"... Amigo/a, camarada, até domingo, às 18h44, promete que sim... Precisamos DESESPERADAMENTE de mais fotos e textos em 2016...


Foto nº1


Foto nº 1 A

Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Vista aérea de Bajocunda, que ficava a 11 km de Pirada, sede do batalhão.  Vê-se,  ao fundo, a pista de aviação. Foto (editada), proveniente do álbum do nosso camarada, de Silves, Amílcar Ventura.

Foto: © Amílcar Ventura (2009). Todos os direitos reservados. com a devida vénia

A. INQUÉRITO DE OPINIÃO: "EM 2016 PROMETO ENVIAR MAIS FOTOS E/OU TEXTOS PARA O BLOGUE"

1. Sim, vou enviar mais fotos  > 14 (36%)



2. Sim, vou enviar mais textos  > 9 (23%)



3. Talvez mande alguma coisa  > 13 (34%)


4. Não, não tenciono mandar mais fotos  > 3 (7%)


5. Não, não tenciono mandar mais textos  > 1 (2%)



6. Não sei  > 5 (13%)

Votos apurados: 38
Fim da consulta:  domingo, dia 10, 18h44


B. Comentário do editor:

Amigo/as, camaradas: mais uma consulta... Termina domingo, dia 10, às 18h44... Desta vez, todos/as podem responder:

Há ou não mais textos e/ou fotos para mandar, este ano, para o blogue ?

Para já temos 38 respostas... Mas precisamos de mais... Acreditamos que o "filão da Guiné" está longe de se esgotar... É preciso "rapar o fundo ao tacho", camaradas... Precisamos DESESPERADAMENTE de mais textos e fotos para alimentar o "bicho insaciável" do nosso blogue... Por enquanto, isso ainda não paga IVA...

Apelamos sobretudo aos "periquitos" que ainda têm muito para dar ao nosso blogue... E aos "velhinhos", para que que tragam pela mão um filho, um neto, um bisneto...

Um dia ainda haveremos de orgulharmo-nos do nosso blogue e da Tabanca Grande que construímos juntos, tijolo a tijolo, morança a morança, poilão a poilão, irã a irã...

Alguns camaradas, poucos, já tiveram a gentileza de responder ao nosso convite, desafio, apelo,  provocação, grito, SOS... Aqui ficam os seus nomes e respostas (que são também uma forma de "prova de vida"):

José Rodrigues Firmino: 
"Bom ano, tenciono enviar algumas fotos, aquele abraço".

Rui Santos: 
"É claro que serão fotos do tempo de tropa, 
pois outras não fariam sentido, 
vou tentar descobrir algumas que ainda não foram publicadas. 
Prometo !!!"

Alcides Silva:
 "De momento não tenho nada presente ou em memória para enviar, 
com o tempo a passar poderá surgir alguma coisa,
Bom Ano para todos."

Armando Costa: 
"É para já, vou enviar mais fotos, 
é só algum tempo para digitalizar o álbum. 
Um abraço e 2016 em grande".

Silvério Dias: 
"Prometo enviar mais textos, palavra do 651! 
Abraço de tabanqueiro!"

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15586: Inquérito 'on line' (25): Num total de 73 respondentes, há 31 (42,5%) que garante que o "fiel amigo", o bacalhau nunca faltou no Natal, no tempo da guerra"... Mas 1 em casa 4 não sabe ou não se lembra, o que é natural, depois de tantos Natais passados e de tantos fardos de bacalhau comidos...

Guiné 63/74 - P15593: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (13): Um Herói à Minha Porta

1. Em mensagem do dia 8 de Dezembro de 2015, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense da CSJD/QG/CTIG, 1973/74), traz-nos o relato da reacção de um "herói" da Guiné incomodado com a passividade das autoridades metropolitanas.


Um Amanuense em terras de Kako Baldé

(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)

13 - Um Herói à Minha Porta
(bazófia militar)

Como referi anteriormente, eu prestava serviço na CSJD/QG/CTIG - Chefia de Serviço de Justiça e Disciplina do Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné, onde, como Furriel Miliciano Amanuense, coadjuvava um Alferes Miliciano na Secção de “Doenças”.
Esta Secção tratava dos processos de doenças, acidentes, ferimentos e mortes (em campanha, em serviço ou em combate) e a minha principal tarefa, para além dos registos, controle e arquivo, era a de verificar se os mesmos estavam devidamente instruídos, isto é; se continham todos os documentos obrigatórios (ficha do militar, testemunhos, relatórios médicos, etc.) e devolvê-los às Unidades instrutoras, se fosse caso disso.

Como devem calcular, durante a minha comissão militar na Guiné, passaram-me pelas mãos inúmeros processos daqueles, proporcionando-me um bom conhecimento do que, oficialmente, sucedeu em muitas das acções em que as NT (nossas tropas) sofreram baixas (ferimentos ou mortes) por acção directa ou indirecta do IN (inimigo – PAIGC).

Sendo o território da Guiné-Bissau muito pequeno (área equivalente ao nosso Alentejo), qualquer “embrulhanço” (ataque IN) sofrido pelas NT, era rapidamente conhecido em Bissau e os respectivos pormenores eram transmitidos facilmente de boca em boca. Contudo, à boa maneira portuguesa onde; “quem conta um conto acrescenta um ponto”, as notícias chegavam quase sempre exageradas, com algumas bravatas e inúmeras baixas à mistura, factos que não eram minimamente confirmados nos processos que, havendo feridos ou mortos, mais tarde me vinham “parar às mãos”.

Num determinado dia em Bissau, constou ter havido um “embrulhanço” às portas da cidade, sofrido por uma qualquer coluna de reabastecimento que dali saíra.
Falava-se então à boca cheia, entre militares, ter sido esse “embrulhanço” fruto de uma acção muito violenta do IN e onde morreram alguns militares e muitos outros ficaram feridos.

Nestes casos mais “mediáticos” eu tinha por hábito registar a notícia no meu “disco duro” e ficar a aguardar os eventuais processos referentes aos feridos e mortos, se os houvesse.
E houve! Não mortos, mas apenas dois ou três feridos ligeiros e os respectivos processos lá me vieram parar às mãos mais tarde e, se bem me lembro, o que afinal acontecera terá sido o seguinte:
Era uma pequena coluna de reabastecimento cujo destino já não me recordo. Lembro-me que na frente seguia um Unimog com milícias, no meio da coluna duas ou três viaturas com a carga e, a fechar, outro Unimog, mas com militares. A data altura rebenta um pneu da viatura da frente, o pessoal atira-se de imediato para o chão e desata a disparar a torto e a direito.

Resumindo: na queda um milícia partiu um pé, outro deslocou um braço e acho que foi só isso que aconteceu…

Passaram-me pelas mãos muitos processos do género, mas também muitos em que os nossos militares foram gravemente feridos ou mortos em circunstâncias horríveis. Muitos deles por falta de assistência, principalmente após a introdução na guerra, por parte do PAIGC, dos misseis Strella, que impediam a Força Aérea de prestar o apoio célere que até aí prestavam às forças terrestres.
Mas havia também muita bazófia e esta julgo que se estendia aos três TO’s (Teatros de Operações); Angola, Moçambique e Guiné e era usada mais frequentemente e provavelmente por quem, naquelas guerras, levou uma vida sossegada.

Um dos militares mais condecorados do Exército Português, o famoso Alferes Graduado Comando e guineense Marcelino da Mata (hoje Tenente-Coronel), embora reconhecidamente um grande guerreiro, exagerava imenso nos relatos das suas façanhas, referindo algumas vezes ter enfrentado e derrotado, com reduzido número de efectivos, um número elevado de elementos IN, verificando-se posteriormente em relatórios oficiais que nem o seu grupo era tão reduzido, nem o grupo IN tão elevado. Por vezes referia também árvores com mais de cem metros de altura [??].

Se mesmo aqueles cujos actos heróicos eram reconhecidos gostavam de acrescentar uns “pontos”, imaginem os outros que nunca se viram na necessidade de dar um tiro.
Recordo-me que, já depois do 25 de Abril e numa das minhas vindas de férias à Metrópole, ter-se passado comigo um pequeno episódio ao qual me lembrei de dar o título de : “Um herói à minha porta”.

Morava eu então na cidade do Porto, na Rua Aníbal Cunha onde, perto da minha residência, estava instalada a DORN do PCP.
Estávamos no mês de Agosto ou princípios de Setembro de 1974 e houve uma tentativa de assalto àquela sede do PCP, com tiros à mistura, pelo que havia dois cordões militares; um junto à Rua da Torrinha e outro junto à Faculdade de Farmácia (portanto, um no início e outro quase no final da rua) para impedir a passagem de pessoas. A mim deixaram-me passar por ser morador, mas fiquei por ali, junto à porta de entrada da minha residência, a ver o evoluir dos acontecimentos.

Acalmados os ânimos e abrandada a segurança, chega-se junto a mim um camarada da Guiné, dali daquelas Unidades Militares perto do QG/CTIG e que por cá se encontrava de férias, ou tinha terminado a comissão (não me recordo) e, acompanhado da respectiva namorada / mulher (?), começa com esta conversa:
- Ó Magro, estes gajos aqui a brincar às guerrinhas! Queria vê-los lá na Guiné, como nós, a aguentar aqueles ‘embrulhanços’!

Claro que não tive coragem para desmascarar o “herói do ar condicionado” junto da namorada, ou mulher, mas aquela narrativa era bem demonstrativa da bazófia que alguns dos nossos camaradas usavam junto de familiares e amigos para se arvorarem em bravos combatentes, ainda que muitos deles não tivessem dado qualquer tirito.

Provavelmente “arrumavam com eles à chapada”!
Nunca se sabe…, ele há “heróis” para tudo…!
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de abril de 2014 Guiné 63/74 - P12928: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (12): Guerra copofónica

Guiné 63/74 - P15592: Notas de leitura (794): "Autópsia dum livro proibído", por Armor Pires Mota, edição de autor, 2015 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Janeiro de 2016:

Queridos amigos,
Armor Pires Mota é alguém com papel determinante na literatura da guerra colonial. O seu romance "Estranha noiva de guerra" é obra incomparável, está no topo dos grandes legadas literários. "Tarrafo" é um documento assombroso, não conheço outro diário escrito e publicado semanas depois num órgão da imprensa regional.
Como também não podemos desmerecer de "Cabo Donato Pastor de Raparigas" e de "A cubana que dançava flamengo".
Toda a sua obra em torno da guerra é de perda e redenção, o herói atasca-se nas circunstâncias e em dado momento roça o sublime, cruza civilizações, culturas, supera preconceitos, apresenta-se no quotidiano sempre com o passaporte da coragem.
Lamento que a sua obra ande dispersa em edições de autor e que a crítica o desconheça, não conheço tão grave injustiça.
A todos incito a que leiam Armor Pires Mota.

Um abraço do
Mário


Autópsia dum livro proibido, por Armor Pires Mota

Beja Santos

Com data de Novembro de 2015, temos novo regresso de Armor Pires Mota à Guiné. O livro intitula-se “Autópsia dum livro proibido”, edição de autor. O ponto de partida é “Tarrafo", livro publicado primeiro sob a forma de crónicas no Jornal da Bairrada, e depois sob a forma de livro. A censura esteve indiferente ao que saía no jornal, depois surgiu o livro, bem recebido pela crítica, intelectuais afetos ao regime saudaram vivamente esta prosa nova. Em Dezembro de 1965, a PIDE recolheu Tarrafo das livrarias e foi a casa do autor. O livro terá gerado polémica nas Forças Armadas, alvoroço no Ministério da Defesa. Para o autor, “Trata-se de um livro que fala da extensão de guerrilha no Norte, Centro e Sul, das diversas ações das nossas tropas, do tipo de armamento do inimigo, da violência dos guerrilheiros sobre os chefes gentílicos, nomeadamente a matança de muitos régulos que, de início, não alinhavam muito com o PAIGC". A edição censurada de Tarrafo viria a ser publicada em 2013. O parecer das Forças Armadas foi transmitido à Comissão de Censura, encaminhada para o ministro da Defesa, a PIDE fez o resto. De que era acusado Armor Pires Mota? De vários delitos, com se transcreve:
“Quase todas as crónicas relatam operações com acentuada crueza, descrição amiudada e pormenorizada de mortes e de feridos, valorizando o inimigo”; “O retrato que faz da província da Guiné é de miséria”; “No seu conjunto, a obra é desmoralizante para a retaguarda e para todos aqueles que tiverem que servir na província”.

Mas houve, na época, reação viva a esta apreensão. O chefe de gabinete do ministro do Exército enviava ao ministro da Defesa o parecer do Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército:
“Não alcanço, realmente, as razões da apreensão de um livro escrito por um alferes na disponibilidade que viveu a guerra na Guiné durante dois anos, e através de cujas páginas o esforço das nossas tropas, as suas dificuldades e os seus problemas são devidamente realçados.
A meu ver, julgo que fazem falta livros destes, escritos por autores desconhecidos e independentes mas sinceros, a contar ao povo o que fazem os nossos soldados no Ultramar”. Resta ainda esclarecer que houve uma segunda edição, incluía novas crónicas, e com pequenos cortes relativamente à edição anterior. O autor confessa-se:
“O livro perdia alguma genuinidade, mas ganhava alguma performance literária nas novas crónicas que, não compensava a genuinidade da primeira edição, reconheço, passados todos estes anos”.

Armor Pires Mota apensa dados novos: a recruta e a mobilização, a formação do Batalhão 490, em Janeiro de 1963, meses depois partem para a Guiné. Ao batalhão foi atribuída a pior das missões, unidade de intervenção às ordens de Louro de Sousa, lá vão a caminho de Mansoa, Mansabá e Bissorã, são várias as operações ao Morés. Estamos em Novembro de 1963:
“Morés acabou por ser ocupado pelas nossas tropas, depois de muita luta, alguns mortos e feridos. Ali foi hasteada até a bandeira nacional. Visitou o local o comandante-chefe”. No início de 1964, Armor parte para a “Operação Tridente”. O PAIGC reagiu fortemente à ocupação do Como, mas acabou por se retirar. Foram destruídos dois acampamentos, houve 76 mortos confirmados, as nossas tropas sofreram oito. No fim da operação, já um pelotão atravessava sem problemas a ilha. E transcreve a carta em que Nino pedia ajuda às forças do PAIGC na vizinhança, hoje um documento muito citado:
“Camaradas achei obrigado a dirigir-vos estas linhas porque sei que já não tenho nenhuma safa a não que dirigindo-me a vós. Hoje já se faz 48 dias que os nossos camaradas estão enfrentando corajosamente as forças inimigas. Queria que os camaradas retirassem juntamente com a população conforme na solução tomada pelo nosso secretário-geral. Mas o que é certo é que é impossível, porque não temos caminho de fazê-los sair. Por isso agradecia-vos que me mandassem reforços, vindos de todas as partes. Camaradas tenham paciência porque não tenho outra safa a não ser o vosso auxílio”.

É um documento muito pessoal o que Armor Pires Mota nos oferece neste livro, enchendo-o de peripécias, casamentos, alegrias e tristezas. E chegamos a um parágrafo fulcral, como não conheço outro, a propósito da nossa tão desejada correspondência, não resisto à sua transcrição integral:
“A carta era a oração de mão, trespassada de dor e de viva esperança em Deus e nos santos da sua devoção. A carta era a fotografia, o sorriso, o coração grande da noiva, derretendo-se em palavras melodiosas, abrindo-se em sonhos e projetos, em beijos. A carta era o conselho e a força de amigo. A carta era a seara verde em promessas de ouro e o vinho acetinado de uvas amadurecidas. A carta era o melhor sedativo para uma cicatriz ou um rasgão, uma couraça para um estilhaço. Uma couraça forte que podia salvar uma vida das garras terrivelmente aguçadas e sangrentas da metralha atroz. A carta era a terra, o arraial, a Romaria do padroeiro de cada um. As cartas eram a coragem e a fé, a força renascida, a esperança mais viva e mais larga, do tamanho da distância”.

Desembarque em Lisboa em 14 de Agosto de 1965:
“Fui recebido como um herói, que nunca fui. Não tive um único louvor, e muito menos uma medalha, mas sei que cumpri todas as missões que me confiaram”. Com os anos, fortaleceram-se certas amizades de guerra. Transcreve lindos parágrafos de aerogramas que enviou a Lili, sua madrinha de guerra, namorada e mulher, datadas de Bissorã, Ilha do Como, Jumbembem, Bissau e Bula. Transcreve crónicas, ficamos a saber que houve interrogatórios desalmados, que havia forças do PAIGC que cortavam as orelhas a quem não se queria juntar à guerrilha. Há parágrafos lindos nas suas memórias, por exemplo naquela manhã em que subiu para a vedeta Nuno Tristão, no fim da sua participação na Operação Tridente:
“Pousei a arma em sítio seguro e esfreguei as mãos. Depois, passei, por acaso, os olhos por o jornal antigo e achei-me completamente a leste do mundo, nalgum lugar ou buraco onde não chegam notícias nenhumas, longe dele, sem saber dos males que então grassavam por esse mundo de Cristo, sem saber dos últimos escândalos. Subi à torre de comando e disse ao mar palavras de libertação que ninguém ouviu”.

Trata-se de um grande documento, só há a lamentar o risco de ficar confinado a uma pequena edição de autor.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15576: Notas de leitura (793): "Testemunhos de Guerra, Angola, Guiné e Moçambique, 1961-1974", publicação que acompanhou uma exposição que se realizou no Museu Militar do Porto entre Abril de 2000 e Março de 2001 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15591: Parabéns a você (1015): António Murta, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15587: Parabéns a você (1014): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Guiné, 1969/71)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15590: O nosso blogue em números (38): O nº médio de comentários, por poste, foi de 4, em 2015, menos 2 do que em 2011 e 2012... Estamos a comentar menos, talvez o nosso filão se esteja a esgotar... mas por outro lado o sistema de filtragem do Blogger (para impedir o SPAM) é agora mais desmotivador para os nossos leitores: para se comentar tem que se dizer (e mostrar) que não se é nenhum robô!


Gráfico - Nº (médio) de comentários por poste e por ano: em 2015 foi de 4.


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)



1. O número de comentários atingiu, no final do ano de 2015, um total de 61400, mais 5730 do que no ano anterior... Em média por ano e por poste estamos agora nos 4 comentários (Gráfico supra).

Estamos a comentar menos do que nos anos anteriores, o que é normal: em 2011 e 2012, o nº médio de comentários por poste era de 6...  Também é sintoma de algum cansaço e de menos interesse pelo blogue, apesar de termos vindo a aumentar o nº de membros da Tabanca Grande. Muito provavelmente a "velhice" vem agora cá menos vezes do que a "periquitagem"...

Será que o "filão da Guiné" está-se a esgotar ?

Mas é bom não esquecer que agora é muito mais difícil comentar do que há um ano, apesar de continuarmos a funcionar sem moderação: o nosso servidor tem um sistema de filtragem que nos obriga a dizer (e a mostrar) que não somos nenhum robô... O objetivo (louvável) é impedir o SPAM nos comentários aos nossos postes... Mas o controlo pode ser maçador (e desmotivador) para alguns dos nossos leitores... O ideal é cada um de nós estar registado no Blogger, isto é, ter uma conta no Google...

Camaradas e amigos, aproveitem para dizer da vossa justiça, comentando este poste e estes números. LG
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15589: Facebook...ando (38): As reuniões das quartas-feiras da Tabanca de Matosinhos (Maria Isilda)

No último Convívio das quartas-feiras da Tabanca de Matosinhos, Maria Isilda [na foto à direita], esposa do nosso camarada Mário Guerra que pertenceu ao BCAÇ 2845 (Guiné, 1968/70), fez e leu estas quadras aos comensais presentes:


A reunião da Tabanca
Que se faz semanalmente
É um vício que pegou
Na vida de muita gente

Vê-se antigos camaradas
Com histórias que são iguais
Mas de cada vez que as contam
Parece que dizem mais

Eu fiz isto, tu aquilo
Estive na zona pior
É pá, não me digas isso
Que a minha era bem pior

Sofreram todos por igual
Atirados para uma guerra
Que em nome de Portugal
Matou as gentes da terra

A maioria voltou
Com histórias para contar
Mas esses que lá ficaram
Não voltarão a falar

Que todos os que aqui estão
continuem a gozar
Da companhia uns dos outros
Até o século acabar

Maria Isilda
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Notas do editor:

Vd. Facebook da Tabanca de Matosinhos Tertúlia

Último poste da série de 23 de dezembro de 2014 Guiné 63/74 - P14073: Facebook...ando (37): Cartão de Boas Festas (Maria Alice Carneiro)