domingo, 7 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15719: Fotos à procura de... uma legenda (68): cinco fotos históricas do cmdt da Op Mabecos Bravios, cor inf Hélio Felgas, na retirada de Madina do Boé (Cortesia da revista Camões, abr-jun 1999, nº 5)


Guiné > Região do Boé > Rio Corubal > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 > A famigerada jangada que servia para transporte de tropas e material, numa  das últimas travessias, aquando da retirada de Madina do Boé.

A foto, histórica, é do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio [Augusto Esteves ] Felgas (1920-2008). Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 5,  abril-junho 1969, pág. 15 (publicação editada pelo Instituto Camões; o nº 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).


Guiné > Região do Boé > Madina do Boé > c. 6 de fevereiro de 1969 >  Op Mabecos Bravios: apoio da FAP, na retirada do aquartelamento de Madina do Boe, guarnecido pela CCAÇ 1790 (Madina do Boé, 1967/69).

A foto, histórica, é do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio Felgas. Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 5,  abril-junho 1969, pág. 10 (publicação editada pelo Instituto Camões; o nº 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).


Guiné > Região do Boé > Madina do Boé   > c. 6 de fevereiro de 1969 > Mais uma outra foto, histórica, do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio Felgas: a última missa celebrada no aquartelamento de Madina do Boé, antes da retirada das NT.

Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 5,  abril-junho 1969, pág. 10 (publicação editada pelo Instituto Camões; o nº 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).


Guiné > Região do Boé > Mandina do Boé  > c. 6 de fevereiro de 1969 >  Mais uma foto, histórica, do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio Felgas: homens e material prontos para deixar a mítica Madina do Boé.

Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 5,  abril-junho 1969, pág. 11 (publicação editada pelo Instituto Camões; o nº 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).


Guiné > Região do Boé > Mandina do Boé  > 6 de fevereiro de 1969 > Mais uma  foto, histórica, do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio Felgas (falecido em 2008, com o posto de maj gen):  momentos dramáticos depois da deflagração de uma mina A/C aquando da retirada de Madina do Boé.

Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 5,  abril-junho 1969, pág.  12 (publicação editada pelo Instituto Camões; o nº 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).


1. Estas fotos, extraordinárias, tiradas pelo então cor inf Hélio Felgas, comandante do Agrupamento nº 2957 (Bafatá, 1968/70)  e comandante da Op Mabecos Bravios (retirada de Madina do Boé, 2 a 7 de fevereiro de 1969), merecem ser conhecidas, partilhadas, divulgadas e comentadas.  (*)


Julgo que fazem agora parte do Arquivo Histórico-Militar. O seu autor morreu em 2008 e a família deve ter doado o seu espólio fotográfico ao AHM.

Foi militar, escritor e professor da Escola do Exército. As suas como militar e português foram reconhecidas com as medalhas de ouro de Serviços Distintos com Palma, Cruz de Guerra (1ª e 3ª classes) e o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

É pena que não tenhamos tido acesso às fotografias originais. As imagens que aqui reproduzimos, com a devida vénia, são da revista Camões, em formato pdf.  São também a nossa maneira, singela,  de relembrar aqui esse fatídico dia 6/2/1969, em que morreram 46 militares portugueses, nossos camaradas da CCAÇ 2405 e CCAÇ 1790, além de um civil guineense, na travessia do Rio Corubal, em Cheche, na retirada de Madina do Boé. (**)  (LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. também aqui o poste  25 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )

(**) Último poste da série > 10 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15472: Fotos à procura de... uma legenda (67): Xitole, 2008, extraordinária fotografia, a do João Rocha!... 40 anos depois com a antiga lavadeira, é muito mais que um abraço ou "o olá como tens passado"... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

Guiné 63/74 - P15718: Efemérides (212): O Carnaval de 1970 (Jorge Picado, ex-Cap Mil)

1. Em mensagem de ontem, dia 6 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72) fala-nos do Carnaval de 1970, sem dúvida um dos mais tristes da sua vida.


CARNAVAL DE 1970 

Como o tempo passa…
Foi há 46 anos… mas tenho ainda bem presente essa época carnavalesca da minha vida…
Não por qualquer acto festivo e alegre próprio de folias, brincadeiras, diversões ou outras actividades burlescas usuais do entrudo. Antes pelo contrário. Por ser Carnaval, o que me pregaram foi, no mínimo, uma “partida de mau gosto”… e só podia advir da Instituição Militar, pois já não era a primeira vez que o faziam.

Embarquei para a Guiné no dia 9 de Fevereiro de 1970, segunda-feira de Carnaval. Assim, no domingo, dia 8, efectuado o almoço de despedida, antecipado, já que naquele tempo a viagem de automóvel para Lisboa era bem demorada e, os que me iam levar, teriam de regressar nesse mesmo dia a esta santa terrinha ilhavense.

Habitava então uma casa arrendada na Rua de Camões, bem perto da dos meus Pais e numa área onde decorreram os melhores anos da minha infância e parte da juventude.
Presentes, todos os familiares mais chegados, fazendo os adultos os possíveis por “camuflar” o triste momento do significado deste acto que nos reunia em volta da mesa, já que os meus filhos e sobrinho, pensava eu, que dada a pouca idade, de tal não se apercebessem.

Embarque rápido, para evitar cenas mais patéticas, acompanhado por meu sogro e no assento traseiro ladeado por dois dos meus filhos, Jorge e João, assim seguimos rumo a sul, pela EN2, via Vagos-Figueira da Foz, até apanharmos a EN1 em Leiria.
Caminho tão conhecido por tantas vezes percorrido, mas com outra disposição, nas minhas frequentes idas e vindas para Lisboa. Só que neste dia sabia que ia… mas… e o regresso?

Percurso tão longo, em que os silêncios eram maiores do que as poucas frases que pretendiam ser animadoras, mas sem efeito visível. Eu já não era o mesmo de há meio ano atrás. Desde que tinha interiorizado que a partir do CPC, não poderia evitar um qualquer lugar numa das Colónias em guerra, pratiquei, digamos, uma auto-terapia de mentalização, tipo “narcoterapia” que “descondiciona” a pessoa, diminuindo-lhe a ansiedade e fazendo-a andar “meio adormecida”. Enfim, tipo “anda no mundo por ver andar os outros”.

Por isso naquela viagem, já quase não dava por nada. Só senti um leve despertar, quando ao desembarcar nos Restauradores, onde pernoitei numa Pensão que existia quase junto do cinema Eden, vi o meu filho Jorge atirar-se para o assento do carro meio a chorar. Ficou em mim gravada essa imagem e a ideia de que afinal, ele com os seus pouco mais de seis anos apercebia-se da minha futura ausência. Mas, posso ainda garantir, que mesmo isso pouco me afectou, pois já “andava nas nuvens”, como depois sempre pela Guiné andei.

Embarquei portanto na segunda-feira de Carnaval, com bom tempo e a “partida de mau gosto”, sentia então mais funda, quando o N/M Alfredo da Silva sai a barra e… ruma a Norte, quando o destino era o Sul!
Aí sim, tive um momento de lucidez e senti uma grande revolta interior. O navio não seguia como TT, mas em viagem normal que eu bem conhecia. Lisboa-Leixões-Mindelo-Praia-Bissau e volta.

Privaram-me de menos dois dias de companhia com a família, já que poderia embarcar na terça-feira durante a tarde em Leixões. E quão importantes eram, naquele tempo de incertezas, todos os momentos passados junto de quem amávamos. Só quem viveu esse período das nossas vidas sabe dar valor a esses pormenores, que afinal eram bem grandes.

Escusado será dizer, que nessa terça-feira, durante aquelas horas que passamos em Leixões, apenas deambulei pelo cais e proximidades, não telefonando sequer para casa, para não agravar mais a saudade.

E assim foi o meu Carnaval de há 46 anos.
Viagem por terra para Lisboa, cruzeiro marítimo para Leixões, passeio pelo cais nesse porto sem vislumbrar qualquer mascarado, mas fantasiado de Capitão do Exército com um grande melão.

Abraços para todos os Tabanqueiros do
JPicado
 
Em primeiro plano, à direita, o Cais Sul da Doca 1 do Porto de Leixões, local habitual para atracação dos navios da Sociedade Geral a que pertencia o "Alfredo da Silva". A foto não representa a época.

Foto: Fonte Internete, com a devida vénia ao eu autor
Legenda: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15714: Efemérides (211): "Desastre na Guiné", título de caixa alta, da 2ª edição do "Diário de Lisboa", de 8/2/1969

Guiné 63/74 - P15717: Memórias de Gabú (José Saúde) (60): A fuga

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
 
As minhas memórias de Gabu

No silêncio da noite dois guerrilheiros do PAIGC piraram-se da prisão de Gabu

A fuga

Relato, com um saudosismo que é próprio da minha pessoa, o conteúdo de uma fuga protagonizada por dois guerrilheiros do PAIGC, feitos prisioneiros, que uma bela noite se piraram de uma modesta e casual prisão existente no quartel novo de Gabu.

Assevero, que o meu primeiro aposento em chão fula, foi precisamente de paredes-meias com a dita cadeia. Naquele tempo alguém terá comentado a razão daquele espaço. Todavia, a coisa, dita com verdade, pareceu soar a “bocas da velhada” – no ciclo de rendição - para amedrontar o pessoal “piriquito” acabado de chegar àquelas paragens guineenses. 

Recordo que a temática acerca da prisão dos dois inimigos de guerra – usualmente conhecidos por “turras” pelas nossas tropas - transpirou a silêncio. Falou-se, sim, sorrateiramente no assunto, todavia as impressões sobre o caso caíram num pressuposto saco roto.

Lembro, que foram alguns os camaradas no quartel que se aperceberam da endiabrada aventura dos homens. Tanto mais que o acontecimento passou quase despercebido à generalidade da maralha. Falou-se do tema mas à socapa, mas comentou-se.

Naquele tempo, e com a guerrilha em plena atividade no terreno, tudo o que transpirasse a eventual curiosidade, ou saísse fora da rotina, era normalmente abafada. Assim, tudo, ou quase tudo, digo eu, era restrito a conversações entre graduados. A malta, o tal soldado desconhecido, combatente exímio e corajoso, cumpria deveres e recreava-se com momentos de ócio que os instantes livres lhes proporcionava.

Mas nem tudo era sinónimo de desinteresse. A novidade carecia sempre de dois dedos de conversa. Dois “turras” presos no quartel sintetizava um interesse acrescentado. Mormente para ver in loco o rosto de dois guerrilheiros com os quais o pessoal da Metrópole combatia no terreno.

Sei que a sua estadia foi efémera. Desconheço pormenores da sua captura e o local. Portanto, debitarei aquilo que, na ocasião, me foi dado saber. Evoco, como dado adquirido, que a chegada ao quartel foi marcada pelo secretismo. Seguiu-se, naturalmente, a sua instalação num espaço considerado de segurança. Uma espécie de “jaula” assegurava, fortuitamente, uma vigia apertada. Um pequeno quarto com uma porta que acusava já algum desgaste, sendo o espaço exíguo, parecia apresentar-se com as condições ideais para os homens pernoitarem sob o segredo dos deuses. Depois, sucedia-se o imprescindível interrogatório, como era hábito.

Mas, nem tudo o que parece é. Ou seja, existiam pequenos pormenores que tacitamente fugiam à intenção dos graduados chefes, homens que já pareciam denotar algum traquejo na guerrilha. Aquele pequeníssimo recanto virava para uma área totalmente livre. Havia, é certo, os arames que limitavam o quartel a que acresce a presença dos sentinelas cuja missão era garantir a segurança, logo, pressupunha-se, que a seguridade dos guerrilheiros inimigos apresentava fiança.

Mas tudo porém se esfumou num horizonte de incertezas, ou contrariamente de profícuas certezas, clarificando melhor o filme a preto e branco visualizado. Na noite da chegada às novas instalações, e sob o silêncio da madrugada, consumou-se a fuga. Os homens, quiçá mestres em escaramuças de guerra e sabendo o que obviamente os esperava, piraram-se sem ao menos deixarem um pequeno rasto da sua auspiciosa fuga.

Acrescente-se que a sua “porta” de saída foi simplesmente uma pequena janela vedada em tijolos de cimento. Os homens escavaram o espaço sem o mínimo de barulho, concentraram no interior tudo o que era entulho e calmamente soltaram o afiado grito de “Ipiranga”, como quem diz, o de liberdade.

Seguiu-se, com certeza, a passagem do arame, facto esse ultrapassado, e lá marcharam pela calada do breu rumo aos seus camaradas. A guerra, para eles, apresentava-se como um pesaroso calvário, sabendo-se que a razão da sua luta no mato era levar o seu povo à independência.

Dessa enlouquecida aventura nunca mais nada se soube!... Peripécias de uma peleja onde o sistemático envolvimento das forças em confronto transmitiam arte no saber contrariar as liças que o IN a todo o instante impunha.

Em Gabu, os dois homens do PAIGC trocaram as voltas ao inimigo, prepararam e concretizaram a fuga que parecia, em princípio, condenada ao fracasso. Mas assim não foi. “Os turras, piraram-se”, comentava-se depois, mas em sigilo, no quartel. 

Passados 42 anos dessa famigerada fuga que deixou de boquiaberta o pessoal que soube da estratégia montada pelos guerrilheiros, revejo a história e ainda hoje admiro a audácia dos afoitos prisioneiros. 


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P15716: Atlanticando-me (Tony Borié) (5): Nunca é tarde (5)

Quinto episódio da nova série "Atlanticando-me" do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66).




Nunca é tarde - Capítulo 5

Companheiros, o tempo cura tudo, o nosso interlocutor, à parte, disse-nos que quando era jovem, também sofreu uma grande dor de amor, pois a sua namorada fugiu para uma praia no México, com o seu melhor amigo, que sabia todos os seus segredos, anos mais tarde, regressaram, pedindo-lhe perdão e, ele já não se lembrava da cara da namorada, mas adiante.
Lembram-se que no último episódio o Mike deixou a política? Cá vai a continuação.

Agora, o Nico, com o filho Mike, à frente de todos os negócios, tinha mais tempo livre, começou por dizer ao filho:
- Eu não preciso de te dizer nada que tu já não saibas, gere os negócios dos teus avós, o melhor que puderes, e se vires que eu ajudo em alguma coisa só dizes, que eu vou acabar com os pensamentos horríveis que tenho na cabeça.

O Mike, ao ouvir estas palavras da boca do pai, ficou um pouco assustado, e responde:
- Que pensamentos horríveis, são esses pai?
E o Nico, diz-lhe:
- Quero ir a Portugal, ver se os teus avós, ainda estão vivos.
O Mike, abraça-se ao pai, e diz-lhe:
- Até que enfim, ganhaste coragem, vai, se forem vivos, podias trazê-los, aqui há muito espaço para eles.


O Nico, outra vez com coragem, vem no comboio até Nova Iorque, compra passagem num navio com bandeira italiana que fazia a carreira da Europa, passando por Lisboa, e embarca.

Passados uns dias, com uma pequena paragem no porto de Vigo, Espanha, desembarca em Lisboa, vem um pouco nervoso, não sabia bem se era dos nervos ou outra coisa qualquer, mas não vinha confiante. Toma o comboio para a cidade de Aveiro, toma um táxi, viajando para o lugar onde vivia quando jovem, que o deixa à porta da taverna, que já não era taverna mas sim um café, com uma esplanada com algumas cadeiras. Entra sem dizer nunca quem era, pergunta pelos pais, se ainda eram vivos, e o dono, homem novo, não se recordava de ninguém com esse nome. Nesse instante, vem de lá de dentro uma mulher, que estava na cozinha, limpando as mãos ao avental que trazia vestido, e diz:
- Devem ser aqueles que viviam naquelas terras perto do canal de água salgada. Oh, já morreram há alguns anos, estão no cemitério numa campa muito bonita, logo à entrada, está sempre cheia de flores.

O Nico não pôde ouvir mais, primeiro começaram uns suores frios, depois começou a faltar-lhe a vista, a cambalear, sentou-se numa cadeira, os donos do café, vendo-o assim, perguntam-lhe:
- O senhor sente-se bem? Oh homem vai buscar um copo com água. Meu Deus, que o senhor está com uma cara!
O Nico, bebeu a água, já com um pouco mais de força, respondeu:
- Não é nada, deve de ser da fraqueza, pois ainda hoje não comi nada, mas digam-me onde é o cemitério?

O Nico, depois de informado, caminha com passos lentos até ao cemitério, vai direito à campa onde pensa que os seus pais estão enterrados, vê uma senhora vestida de preto, ajoelhada na frente da campa, rezando. Ele, a muito custo, pois as palavras não lhe saíam, pergunta:
- Desculpe, é aqui que estão enterrados?...

Não acabou de terminar as palavras, pois essa senhora era a Dina que esperou toda a sua vida pelo seu amor. Ao ouvir estas palavras, logo reconheceu o seu Nico e, tal como fez, quando ele lhe pediu para namorar com ele, o encheu de beijos, na frente de toda a gente. Agora se levantou, olhou para o Nico, abraçou-se a ele, dizendo:
- Eu sabia que regressarias, tal como prometeste, eu acreditava, sabia que falavas verdade quando me disseste que logo virias para casar comigo, me ias levar para os Estados Unidos, afinal, era verdade, continuo com o meu enxoval completo, esperando por ti.
Em seguida lhe contou todos os anos de ausência, esperando por ele, os seus pais, na altura da sua morte, deixaram uma carta onde o perdoavam e o compreendiam.

Casaram numa capela das Gafanhas, regressando ambos aos Estados Unidos, onde o Mike, antigo político de profissão, ao recebê-los, sorridente, de braços abertos, tal como fazia nos comícios de propaganda do seu partido, lhes disse:
- Então pai, que mãe mais bonita me arranjaste, não deve nada à minha falecida mãe. Parabéns pai.

E o clube dos Açores fechou de novo as portas ao público para celebrar uma festa privada, comemorando a chegada do patrão Nico e da sua esposa.

E em breve iria fechar de novo as portas ao público, mas desta vez para celebrar a festa de casamento do Mike, pois andava de amores com uma rapariga cujos bisavós tinham emigrado dos Açores, que era desinibida e sem preconceitos, tinha cabelo preto, quase castanho que lhe tocava nos braços quando lhe falava e usava uma saia curta, mesmo curta, um pouco abaixo do joelho, que quando se movimentava, os deixava ver.

Fim.

Tony Borie, Julho de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15689: Atlanticando-me (Tony Borié) (4): Nunca é tarde (4)

Guiné 63/74 - P15715: Blogpoesia (435): Domingo de Sol (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728)

1. Em mensagem de hoje, dia 7 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), enviou-nos mais um poema da sua autoria:


Domingo de sol

Dia luzente de sol
neste bar de motocas
e motas redondas.

Espalhados nas mesas,
cavaqueiam alegres,
parecem crianças de escola.

Vestem jaquetas de couro
e trazem capuzes.

Se lambuzam de pão com manteiga e azeite
e lambem os dedos.

De goelas abertas,
sorvem café e cerveja.
Das orelhas ao léu e cabeças rapadas,
pendem-lhe os brincos luzentes.

Tatuagem às cores,
tapam-lhe os poros.
Painéis de azulejo,
sem fendas.

Chegam aos pares
e se consolam aos beijos.
Parecem duendes nos bosques.

Se falam numa língua cerrada.
Ecoam no ar gargalhadas agudas.

Na mesa do lado, há um solitário,
que pinta e rabisca
como um menino da escola...

Bar dos motocas, arredores de Berlim, num dia de sol

7 de Fevereiro de 2016
10h54m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15690: Blogpoesia (434): A Força dos Sinais (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728)

Guiné 63/74 - P15714: Efemérides (211): "Desastre na Guiné", título de caixa alta, da 2ª edição do "Diário de Lisboa", de 8/2/1969






Primeira página do "Diário de Lisboa", de 8 de fevereiro de 1969, 2ª edição. Apesar da censura, a notícia (lacónica) da tragédia no Rio Corubal, ocorrida em 6/2/1969, passou na imprensa escrita da época. (Repare-se que não há qualquer referência à retirada de Madina do Boé; o leitor fica com a ideia de que foi apenas um acidente com um jangada,  embora com trágicas consequências; não sei se chegou a ser dado conhecimento aos portugueses dos resultados do "inquérito às circunstâncias que envolveram, o acidente"). 

Recordo-me de ter lido esta notícia e de ter ficado perturbado. Era então 1º cabo miliciano em Castelo Branco, no BC6, e ainda não sabia que já estava (ou estava para ser) mobilizado para a Guiné... LG



(1969), "Diário de Lisboa", nº 16573, Ano 48, Sábado, 8 de Fevereiro de 1969, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_7148 (2016-2-6)


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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15713: Efemérides (210): Triângulo do Boé, num total de 119 militares tombados, 47 só no dia 6 de Fevereiro de 1969, no Rio Corubal, no desastre da jangada, na sequência da retirada de Madina do Boé (José Martins)

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15713: Efemérides (210): Triângulo do Boé, num total de 119 militares tombados, 47 só no dia 6 de Fevereiro de 1969, no Rio Corubal, no desastre da jangada, na sequência da retirada de Madina do Boé (José Martins)

1. Mensagem de hoje, 6 de Fevereiro de 2016, do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com mais um trabalho, desta vez a propósito do 47.º aniversário daquele que foi um dos mais trágicos dias da nossa guerra, o desastre do Che-Che.

Boa madrugada
Aqui vai o que me ocorreu, neste 47.º aniversário do Desastre do Cheche
RIP
José Martins




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Nota do editor

Último poste da série de 6 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15712: Efemérides (209): Há 47 anos, 47 baixas mortais... Em 6/2/1969, em Cheche, no Rio Corubal, no desastre da jangada, na sequência da retirada de Madina do Boé

Guiné 63/74 - P15712: Efemérides (209): Há 47 anos, 47 baixas mortais... Em 6/2/1969, em Cheche, no Rio Corubal, no desastre da jangada, na sequência da retirada de Madina do Boé


Guiné > Região do Boé (?) > "Cemitério à beira do Rio Cheche" (sic)... Estranha (e perturbante) foto do Arquivo Amílcar Cabral, sem legenda nem uma data precisas/(1963-1973)... Estas cruzes só podem ser de militares portugueses... Será de alguns dos nossos camaradas que perderam a vida em 6/2/1969, mais a montante, em Cheche (vd, mapa de Jabia) ?


1. Os corpos poderão ter sido resgatados mais a jusante, na foz do tal Rio Ché Ché Piri (vd. mapa de Padada) ? Terão sido resgatados pelos nossos fuzileiros ? 

De qualquer modo, esta foto deve ter sido tirada por alguém do PAIGC e enviada para Conacri. É a única referência (mesmo indireta) que encontrei, no Arquivo Amílcar Cabral, a esta brutal tragédia que nos enlutou.

A imagem  consta da pasta 05360.000.124 do Arquivo Amílcar Cabral.  Não resistimos à tentação de a publicar, com a devida vénia... precisamente hoje, 47 anos depois do desastre do Cheche, em que tivemos 47 baixas mortais (46 militares e 1 civil).

O Rio Ché Ché Piri, afluente, vai desaguar na margem direita do rio Corubal (vd. mapa de Padada). Mas há um topónimo Ché Ché ou Cheche, que fica na margem esquerda do Rio Corubal, mais a nordeste, do Rio Ché Ché Piri.  Era passagem obrigatória para quem vinha de Nova Lamego  até Madina do Boé, passando por Canjadude, sede da CCAÇ 5 (Os Gatos Pretos). O nosso camarada José Martins pode esclarecer-nos melhor sobre onde terá sido tirada a foto.

2. Comentário do José Martins:

Vou fazer um comentário "soft".

Esta foto, para mim, não é só surreal como ofensiva. A zona de Burmeleu, a jusante do Cheche, não tem as margens como a imagem sugere.
A tragédia ocorreu no rio Corubal e não no Rio Ché Ché Piri. Acho muito estranho que os militares do PAIGC, mesmo depois da independência, fossem retirar cruzes das campas dos militares portugueses, para as colocar ali.

Alguns corpos foram recolhidos por guineenses, mas não prestariam esta homenagem, até porque, ocuparam o espaço de cemitérios com novas moranças, como se viu em reportagens televisivas, na zona de Bafatá.
Perdoai-lhes, Deus, porque  Jesus e Alá são um e único Senhor.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15711: Parabéns a você (1030): Ana Duarte, Amiga Grã-Tabanqueira, viúva do nosso camarada Humberto Duarte; Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74); Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, 1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)




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Nota do editor

Último poste da série de Guiné 63/74 - P15704: Parabéns a você (1029): José Belo, Capitão Inf Ref, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, Médico, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1071/72

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15710: Álbum fotográfico: Guião, Emblema e Louvor da CCAÇ 2585 (José Firmino, ex-Soldado At Inf)

1. Em mensagem do dia 28 de Janeiro de 2016, o nosso camarada José Firmino (Soldado At Inf da CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71) pede-nos para publicar estas fotos:







Guiné 63/74 - P15709: Agenda cultural (463): Apresentação dos livros "Por Chanas do Leste de Angola", da autoria de Ernesto Fonseca e "Desbravando as Silenciosas Picadas dos Dembos, MX-11-26", da autoria de Aniceto Pires, dia 11 de Fevereiro de 2016, pelas 15 horas, na Messe do Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

 

 Em mensagem de hoje, 5 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, deu-nos conta da apresentação de mais dois livros da colecção Fim do Império, sobre Angola, a levar a efeito no próximo dia 11 de Fevereiro na Messe Militar do Porto.





15.º CICLO DE TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO PORTO

MESSE MILITAR DA BATALHA

11 de Fevereiro de 2016, às 15 horas

Apresentação de dois livros sobre Angola:


"Por Xanas do Leste de Angola", da autoria de Ernesto Fonseca (e.fonseca@live.com.pt)


"Desbravando as Silenciosas Picadas dos Dembos, MX-11-26", da autoria de Aniceto Pires (pires.aniceto@gmail.com).
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15674: Agenda cultural (462): Festa do ano novo chinês (do Macaco): Arroios (Lisboa) olha a China: (i) mostra de cinema chinês, de 25 a 29 de janeiro; (ii) exposição de fotografia "O vermelho na cultura chinesa", de 25 de janeiro a 14 de fevereiro

Guiné 63/74 - P15708: Notas de leitura (805): “Trabalhos e Dias de Um Soldado do Império”, por Carlos de Azeredo, Livraria Civilização, 2004 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Janeiro de 2016:

Queridos amigos,
Temos agora o General Carlos de Azeredo como comandante em Bolama, uma cidade decadente que ele descreve com uma certa nostalgia e lembranças de Goa.
Cerca de um ano depois de regressar, Spínola pede-lhe para regressar à Guiné como coordenador dos projetos de reordenamentos e das tabancas em autodefesa, atividade que lhe deu imensa satisfação e faz um balanço positivo das infraestruturas deixadas no interior da Guiné, incluindo poços, escolas e postos sanitários.
Sempre mordaz, refere que a mesma URSS que armava solidamente o PAIGC vendeu-nos o armamento que foi utilizado na operação "Mar Verde". A guerra tem destas coisas que passam pelo puro cinismo de não olhar a quem para escoar a mercadoria mortífera...

Um abraço do
Mário


Trabalhos e dias de um soldado do Império (2)

Beja Santos

“Trabalhos e Dias de Um Soldado do Império”, por Carlos de Azeredo, Civilização Editora, 2004, é um vasto reportório de lembranças de um oficial-general acerca do seu percurso militar, a sua passagem pela política e pelos cargos que exerceu como assessor militar de Sá Carneiro, na Casa Militar de Mário Soares e como autarca do Porto.
No texto anterior, Carlos Azeredo relata a sua passagem pela região do Morés, no Olossato e mais tarde em Aldeia Formosa, vemo-lo agora como comandante do Centro de Instrução Militar de Bolama. Descreve o ocaso da antiga capital da colónia:
“A cidade, situada na ponte oriental da ilha, num local aberto e em parte no declive para o porto e cais no canal de S. João, devia ter sido muito pitoresca no seu velho estilo colonial do século XIX. Com aspetos que faziam lembrar as cidades de Goa.
Com exceção do aquartelamento, do hospital, da velha câmara com o seu frontão e colunas no estilo helénico, o hotel, o antigo Palácio do Governador e as poucas casas que ainda estavam habitadas, o resto da cidade era uma ruína onde todos os meses desabavam uma ou duas casas. De notável havia em Bolama dois monumentos: a estátua do Presidente Ulisses Grant, que arbitrou a célebre questão de Bolama entre Portugal e a Grã-Bretanha, estátua esta situada no jardim central em frente do quartel, e o monumento erguido pelo governo italiano de Mussolini, de mármore, em memória dos dois aviadores italianos que, numa tentativa de volta aérea ao mundo, ali morreram num desastre com o seu avião”.

Durante os sete meses que esteve em Bolama morreram dois soldados guinéus com uma mina implantada na estrada a poente da cidade, foi esta a única atividade do PAIGC na ilha. Em contrapartida, S. João e o seu aquartelamento eram atacados periodicamente.

Em Setembro de 1969 regressa a Lisboa. No ano seguinte, o General Spínola pede-lhe para regressar à Guiné, para coordenar os diferentes projetos do reordenamento das populações, Carlos de Azeredo aceita, regressa em Outubro desse ano, é colocado no Quartel General do Comando-Chefe a dirigir toda a atividade da construção dos reordenamentos e da implantação de autodefesas da Guiné, em substituição do Major Eduardo Matos Guerra. Comenta favoravelmente o trabalho do seu antecessor e adianta:
“Se no controlo dos materiais e das técnicas de construção pouco ou nada alterei, já no que se refere aos planos do aldeamentos e sua urbanização foram introduzidas várias modificações em que trabalharam arquitetos e engenheiros militares. Mas foi sobretudo no que se refere à localização dos novos aldeamentos que os métodos de escolha e definição da sua situação no terreno foram alterados”. Escolhido o novo local, entrava em conversações com os homens grandes, era um laborioso processo de tomada de decisão, visitava o novo local com os notáveis do presumível novo reordenamento, atendia às razões dos autóctones. Mas havia um problema adicional:
“Vezes houve em que as localizações escolhidas recaíram em áreas onde a guerrilha atuava com uma certa frequência, o que levantava dificuldades e punha problemas de segurança, já que o pessoal que maioritariamente trabalhava na construção das casas eram praças europeias retiradas de várias unidades operacionais da Guiné, com profissões na vida civil de pedreiros, carpinteiros e trolhas. Por isso houve casos em que foi necessário deslocar uma companhia operacional para a área de construção”. E faz o balanço:
“À minha saída da Guiné em 1972, tinham sido construídas pelo Exército 1600 casas, 74 postos sanitários e 92 escolas, tudo coberto de zinco, realização que só foi possível pelo grande espírito de sacrifício, muito trabalho e dedicação de anónimos soldados, sargentos e oficiais, que se empenharam com entusiasmo nesta tarefa quase faraónica”.
Mas Carlos Azeredo também tinha o cometimento da instalação das autodefesas. Ia falar com os notáveis da tabanca, fazia-se o cômputo dos homens em condição de usar armas, combinava-se a instrução e a construção de uma muito rudimentar organização defensiva constituída por valas e parapeitos para atirador, com troncos de palmeira e terra, tudo protegido por uma rede de arame farpado.

Considera que só por uma verdadeira lealdade é que foram pouquíssimas as armas desviadas e entregues ao PAIGC. Considera que essa lealdade era tão forte que levou ao clima de terror e aos fuzilamentos praticados. Conheceu casos das nossas tropas em que houve uma total falta de ética militar e exemplifica com uma companhia aquartelada a Norte de Farim, Nema, comandada por um oficial do quadro permanente, figura célebre pela façanha de durante um patrulhamento ter perdido os seus homens. Acontece que a guerrilha do PAIGC atacou a povoação de Farim e o aquartelamento de Nema, o capitão português suspeitando que o régulo local tinha ligações com inimigo, submeteu-o, auxiliado por um sargento, a um interrogatório brutal, e o pobre velho, que afinal era lealíssimo, veio a morrer. Spínola mandou proceder de imediato a um auto de inquérito e o capitão salvou-se porque o comanda de batalhão assumiu a responsabilidade de uma ocorrência acontecida numa sua unidade, Spínola retirou-lhe o comando do batalhão, a despeito desta atitude corajosa.

Fala ainda da operação “Mar Verde” em que uma empresa de Lisboa, a Norte Importadora, comprou armamento à União Soviética, foram a Kalachinkovs, morteiros 82 e RPG 7, tudo comprado a um custo total de 4.500 contos, que foram levados pelos Comandos Africanos. Na parte final deste seu depoimento acerca da segunda comissão na Guiné, e depois de ter enaltecido o trabalho de Spínola faz a seguinte apreciação:
“A guerra tendia, ano a ano, para uma derrota, já que o governo de Lisboa não aceitava o facto de ter de aumentar as despesas com novo reequipamento e armamento para se poder fazer face aos novos meios que a guerrilha cada vez mais tinha ao seu dispor, isto conjugado com uma opinião internacional cada vez mais hostil à política de Salazar, e a paralisia na atuação política de Lisboa face ao problema do Ultramar. Quer na Índia quer depois em África, tínhamos inferioridade de armamento e de meios em relação ao adversário, inferioridade que se foi agravando com o decorrer do tempo. E penso que não foi por toneladas de ouro mas por tacanhez de mentalidade na gestão dos nossos meios financeiros que tal circunstância se verificou”.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15693: Notas de leitura (804): “Trabalhos e Dias de Um Soldado do Império”, por Carlos de Azeredo, Livraria Civilização, 2004 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15707: (De)caras (29): Por mor da verdade... contra as mentiras do Arquivo Amílcar Cabral: comentários de António J. Pereira da Costa, Antº Rosinha, Carlos Vinhal, José Colaço, Luís Graça e Valdemar Queiroz

Fotograma do documentário dos suecos  Lennart Malmer e Ingela Romare  "En Nations Födelse" [Birth of a Nation (Nascimento de uma Nação), Sweden / Suécia, 1973, 48'']:  o único filme que existe sobre a declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau  em 24 de setembro 1973. Passou no DocLisboa 2011.

Não cheguei a ver o filme. Quanto à imagem à esquerda,  julgo tratar-se de uma operadora de radiotelegrafia (código de Morse)  do PAIGC. (LG)

Fonte: Arsenal – Institut für film und videokunst  e.V., Berlim, com a devida vénia.


Alguns comentários dos nossos camaradas ao poste P15702 (*)

1. José Manuel Cancela [ ex-soldado apontador de metralhadora,  CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70]

Caros amigos: há aqui qualquer coisa que na bate certo. Estive enm Nhala,  entre novembro de 1968 e meados de janeiro de 1969. O meu pelotão foi rendido por um  outro da minha companhia, a CCAÇ 2382. É possível que os meus camaradas tivessem sido atacados em 20 de janeiro de 69, mas tenho a certeza absoluta que não  houve nenhum morto, nem tão pouco feridos...


2. António J. Pereira da Costa [coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)]

Olá, camaradas: O problema é que, enquanto nós fazíamos relatórios verdadeiros no que aos feridos e mortos dizia respeito, o insidioso, ardiloso e mauzinho IN  "tinha que apresentar serviço" , daí que os camaradas (guerrilheiros/patriotas/revolucionários) "matassem que se fartavam" (como o Shelltox) e destruíssem tudo, ou quase tudo, nos Campos Entrincheirados dos Colonialistas, Salazaristas, Fascistas e Lacaios do Imperialismo.

Aquela dos dois helicópteros a descer por duas vezes é de partir a moca. E uma mensagem manuscrita com a palavra STOP a servir de ponto final é-o ainda mais.

Claro que, com amigos como estes,  o povo guineense, hoje não precisa de inimigos.


3. Antº Rosinha 

[o último "colonialista português", ou pelo menos o único que faz questão de "dar a cara";  emigrou para Angola nos anos 50, foi fur mil em 1961/62;  saiu de Angola com a independência, emigrou para o Brasil e finalmente foi topógrafo da Tecncil, Guiné-Bissau, em 1979/93, como "cooperante";  resumindo, é um "ex-colon e retornado", como vem no seu cartão de visita;  é membro sénior da nossa Tabanca Grande, o "nosso mais velho", como se diz em África, e por isso, ouvido e respeitado; gosta de dizer o que pensa, sem pensar no politicamente correto]:

É imensamente útil para a história que um dia este blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  vai deixar para a posteridade, estas transcrições arquivadas na Fundação Mário Soares.

Vários motivos: um dos motivos, enorme contradição, este arquivo pertencer à Fundação de Mário Soares, figura anticolonialista a toda a prova, e que em Bissau, MS seja muito pouco apreciado quer pelos antigos guerrilheiros do PAIGC, quer pelos sobreviventes à matança sofrida pelos comandos guineenses que lutaram ao nosso lado (posso explicar noutro lugar esta minha constatação, se interessar).

Outro motivo é que os relatos estão escritos em Português correctíssimo, idioma que corre sérios riscos por aquelas bandas, sempre fica a memória que ali alguém falava um bom português.

Estes relatos também servem para mostrar que não havia áreas libertadas. Poderia apenas áreas abandonadas, o que não era a mesma coisa.


4. José Botelho Colaço [ex-soldado trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65)]

Os comunicados do PAIGC eram assim,  passe a publicidade,"com Dum-Dum não escapa um".

A Companhia de Caçadores 557 no Cachil na noite de 16 de Novembro de 1964, no noticiário do dia 17 da emissora Voz da Liberdade, os militares colonialistas tinha sido dizimados, não escapou um! De facto fizeram um ataque ao quartel em 16-11-1964 mas nem um único ferido sofremos nessa noite.




5. António J. Pereira da Costa

Volto à antena para lembrar que a Fundação Mário Soares é tida como uma entidade fiável.
Porém é capaz de não ser bem assim...
É mau que assim seja e que esteja recheada com "pérolas operacionais" deste tipo.
Será uma maneira de agranelar a nossa memória colectiva. Dentro de alguns anos, estes "relatórios" serão valorizadíssimos por investigadores "independentes", oriundos da Suécia ou de outro país democrático similar,  que se fundamentarão em documentos como estes para contraditar o que os documentos militares portugueses disserem.

Não será uma maneira muito curial, mas lá que vai dar resultado, isso vai...


6. Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Como curiosidade. Os dois primeiros documentos são escritos pela mesma pessoa, embora remetidos por 'Marga' [' Nino' Vieira] e 'Iafai Camará'... Ou tratava-se de uma transcrição de transmissão via rádio/morse? (daí o Stop). 

O terceiro documento, do 'Gazela' [Agostinho Cabral de Almada], parece escrito por alguém com Curso Superior,  muito habituado a escrever.

É evidente, que em tempo de guerra, as forças beligerantes utilizavam métodos de informação/contra- informação para iludir o IN e empolgar as suas tropas.
Cheguei a ouvir a rádio do PAIGC relatando um ataque a Canquelifá, numa noite em que eu lá estava, mas eu nunca sofri nenhum ataque em Canquelifá.
Estes documentos não deixam de ser muito importantes mas, no meu ponto de vista, devem ser analisados como informação/contra informação.


7. Carlos Vinhal,  Leça da Palmeira, editor [ ex-fur mil art MA, CART 2732, Mansabá, abril de 1970/março de 1972]

Não sei qual a utilidade prática da divulgação destes "documentos". É tal a aldrabice que nem de consolo servem a quem, à luz de hoje, é crítico à actuação da nossa tropa na guerra do ultramar ou colonial de então.


8. Luís Graça, editor [ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, jun 69/ mar 71]

É por estas e por outras que o editor LG fez a seguinte observação:

(...) "Reprodução feita aqui com a devida vénia, e para fins exclusivos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. A divulgação destes documentos não implica a validação da sua informação ou a sua aceitação, mas tão apenas o reconhecimento do seu eventual interesse documental para os nossos leitores (e para a historiografia da presença portuguesa em África).

"Compulsados os elementos de que dispomos, para as datas em questão (20/1/1969, 23/3/1969 e 26/7/1971), só encontramos um morto, das NT, em combate, em 20/1/1969: trata-se do sold at Alberto Gonçalves Pinto, natural de Semelhe, Braga, que pertencia à CART 1744, 20/7/1967 - 25/5/1969... Mas esta companhia esteve no norte, na região do Cacheu, em São Domingos, não no sul, em Nhala, ao que apurámos... (LG)"

Amigos e camaradas: para mim, que sou sociólogo, e investigador na área das ciências sociais em saúde, todos os arquivos são "valiosos", o que não quer dizer que tenhamos que considerar, à partida, que a informação que lá vamos encontrar é válida e fiável... Nos arquivos, não há sequer informação, há dados, que depois de "tratados" e "analisados",  podem e devem dar origem a informação e conhecimento, ou seja, "produto científico"... É o caso dos arquivos da PIDE/DGS, ou do arquivo pessoal de Salazar e dos outros, milhares, de arquivos que estão na nossa Torre do Tombo, a nossa "memória coletiva"...

Espero que daqui a 100 anos, o nosso blogue também sirva para alguma coisa...


9. António J. Pereira da Costa

OK, mas talvez fosse bom começar já exarar comentários que permitam desmontar o que é falso e não corresponde à realidade e a própria realidade.

Nos Arquivo Amílcar Cabral [, alojado no portal Casa Comum, organizado pela Fundação Mário Soares,]  a documentação está manipulada e de modo grosseiro e desonesto, com a finalidade única de agradar ao chefe ou "ao partido".

Sendo assim, quem falasse verdade ficava, pelo menos, mal visto.

Os resultados de uma flagelação ou de uma emboscada são difíceis de contabilizar. Por alguma razão nos nossos relatórios aparece a expressão "Grupo In não estimado", só contavam os "mortos confirmados",  isto é, os cadáveres abandonados na fuga ou os feridos efectivamente capturados. As poças de sangue, ou os arbustos partidos pelo "arrastamento dos corpos dos feridos" não contavam como efeitos e nós não tínhamos que agradar ao Partido, o que nos tornava mais honestos nas nossas declarações.

Isto para dizer que os nossos relatórios são mais fiáveis do que os do PAIGC.

Em que é que se fundamentaria aquele chefe para redigir o seu "relatório"? Na sua observação directa? Em elementos infiltrados?

Se calhar será boa ideia que se tenha em conta as características dos procedimentos habituais dos responsáveis de ambas as forças em presença. Além disso, se há coisas que todos sabemos é o número de mortos e feridos e respectivas condições que, vêm sempre à memória nos nossos encontros.

No fundo, estamos perante uma inquinação da informação, ditada por motivos pouco honestos e necessidade de apresentar resultados, mas sempre uma inquinação determinada por povos que nem memória têm e fazem gala nisso. Não esqueçamos que a História da Guiné só pode ser escrita do exterior, visto que as fontes são imprecisas, no mínimo, quando as há. E ainda hoje, como é?

Estamos distraídos? A título de exemplo recordo só "o golpe do Ansumane Mané"...

Claro que Arquivos são Arquivos, mas... não é só com uma correcta interpretação que devem ser abordados. Nas respectivas documentações encontramos montanhas de documentos que não corresponde nem aproximadamente à verdade. (**)
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Guiné 63/74 - P15706: O nosso livro de visitas (187): Bom Ano Novo Chinês - Kung Hei Fat Choi ! 新年快樂!恭喜發財!Happy Chinese New Year ! (Virgílio Valente, em Macau; ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, há mais de 2 décadas; foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; é o nosso grã-tabanqueiro nº 709 (*)



Date: 2016-02-05 5:21 GMT+00:00

Subject: Bom Ano Novo Chinês - Kung Hei Fat Choi ! 新年快樂!恭喜發財!Happy Chinese New


Meus amigos,
親愛的大家
Dear all,

Desejo um Feliz e Próspero Ano Novo Chinês!
在歡樂的佳節,獻上我誠摯的祝福。
祝您新春快樂!萬事勝意!
I wish you a very Happy and Prosperus Chinese New Year!

恭喜發財!
Kung Hei Fat Choi!


      韋子倫
Virgilio Valente



"A wise man makes his own decisions; an ignorant man follows public opinion." (Chinese proverb)

"Um homem sábio decide por si próprio; um homem ignorante segue a opinião pública." (Provérbio chinês) (**)
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Notas do editor:

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15705: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - IV Parte: III - Metamorfose 1 (pp. 20-21)

Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [ Fitas Ralhete], o nosso querido camarada Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada, do livro "Putos, gandulos e guerra" (edição de autor, Estoril, Cascaiis, 2000). A sua pré-publicação, no nosso blogue, em formato digital, está devidamente autorizada pelo autor.


Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra >
 III - Metamorfose 1 (pp. 20-21)

por Mário Vicente


O tempo continuava galopante na sua louca correria, transformando as coisas e as pessoas. Ângelo Roncalli, sargento do corpo médico e capelão militar, da primeira Guerra Mundial, em Outubro de 1958 entra no Vaticano, como Papa João XXIII.  As suas encíclicas Mater et Magistra e Pacem in Terris, o Vaticano II puseram a Igreja em polvorosa, e começam a delinear-se reflexos na Igreja em todo o Mundo, Portugal incluindo mesmo a ignota aldeia da Planície. Há mudança de padre e a igreja é devolvida ao Povo, onde começam a aparecer alguns homens. A própria Colónia, agora Instituto de Reeducação de Menores, sente os ventos da mudança e sofre transformações.

Calças de Palanco vai crescendo, acompanha este desen­volvimento e adere a esse movimento maravilhoso de Baden Powell. A 15 de Agosto de 1959, a Patrulha Estorninho faz a sua Promessa, sendo formada pelos Exploradores, Baté, Calças de Palanco, Torreca, Carcaça, Pouca Sorte, Bertinho, Peta e Pitórrela; este foi o embrião do futuro Agrupamento 137 do CNE a cuja chefia chegam Baté, Calças de Palanco, Bertinho, Manito e outros mais tarde.

Calças de Palanco lê a conclusão aprovada pela Conferência Internacional Escutista [CNE], e fica extasiado: «A Conferência Internacional do Escutismo declara que o Escutismo é obra de carácter Nacional, Internacional e Universal, e o seu objectivo é dotar cada uma das nações e todo o Mundo em geral, de jovens física, moral e espiritualmente fortes. É Nacional, porque visa por meio de organismos nacionais, dotar cada nação de cidadãos úteis e válidos. É internacional, visto que não reconhece fronteiras às boas relações entre escuteiros. Universal, porquanto procura insistentemente incutir o sentimento de fraternidade universal aos escuteiros de todas as nações, classes ou crenças. O escutismo não pretende de forma nenhuma enfraquecer, mas antes fortalecer, as crenças religiosas individuais. A Lei do escuteiro requer que este pratique real e sinceramente a sua religião, e a orientação da Obra proíbe toda a espécie de proselitismo em reuniões mistas.»

Para Calças de Palanco melhor, só de encomenda. Na última mensagem do Chefe, relê e encontra coisas maravilhosas tais como: "Creio que Deus nos colocou neste mundo encantador para sermos felizes e apreciarmos a vida. A felicidade não vem da riqueza, nem simplesmente do êxito de uma carreira, nem dos prazeres. Um passo para a felicidade é serdes saudáveis e fortes enquanto sois rapazes, para poderdes ser úteis e gozar a vida quando fordes homens. O estudo da natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior. Mas o melhor meio de alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros."

Estas e outras palavras grandiosas de Badden Powell, ecoaram profundamente no coração de Calças de Palanco. Aparecem aqui novos putos candidatos a gandulos: Zé Sacristão, Vauna, Carmélia, ManeI Pires, Casado, Cesário, Ratinho, Toi, Ma­nito e outros entram no grupo.

Caminheiros também já temos, e criam-se os Lobitos que, mais tarde, seguirão a trilogia, "putos, gandulos e guerra". Alistam-se então, os putos Caldeirinha, Gri­lezas, Armando, Quim ManeI, os irmãos Saramago, Zé Carlos Chico Zé, Silvino, etc...

Vivem-se momentos eufóricos na aldeia da Planície.

Acampamentos não faltam e toma-se romaria a sua visita, por familiares e outros habitantes. Festas e teatros tornam-se elementos evolutivos da so­ciedade humana. Rafael de Oliveira volta à sua grande paixão e retoma o seu lugar de ensaiador, encenador e coreógrafo dos espectáculos da terra. Dramas, comédias e tragicomédias fazem rir e chorar as pedras da calçada. Gente humilde do povo torna­-se em verdadeiros artistas, e o próprio povo delira em rir. Mas por vezes, gosta também de aflorar os seus sentimentos e sentir a lágrima no cantinho do olho. Faça-se segundo a vossa vontade.

Calças de Palanco, já gandulo, vive intensamente estes tempos e tem o privilégio com Bertinho, de preparar o pequeno-almoço para Dom Manuel Trindade Salgueiro,  Arcebispo de Évora, durante um Jamboree na cidade Museu, na Quinta da Mitra.

Dedica-se ao desporto e ingressa no "O Elvas",  Clube Alentejano de Desportos, como júnior, treinado por Otto Lebre,  conhece grandes triunfos. De terra em terra envolvido com a "Malta do Atum", rapazes do movimento de Baden Powell divulgam a sua obra e colaboram activamente com a Igreja.

Malta do Atum?... Sim, meus amigos, ficou-vos a alcunha, por como ratos da noite, terdes mamado a lata do atum, o que deixou o cozinheiro Torreca apavorado, com as batatas cozidas para o almoço e nada para acompanhamento. Tinha das boas,  o nosso cozinheiro Torreca!... Lembram-se daquela sopa de feijão em que na panela entrou primeiro a massa?... Tudo bem! Era nestas experiências que se ia enriquecendo o saber da vida feito.

Os estudos de Calças de Palanco vão andando, devagar como bom alentejano, para não se cansar muito. Algumas gaze­tas às aulas fazem parte do curriculum, principalmente quando na linda amuralhada cidade, aparecem excursões com "guapas hermanas", dos Colégios do lado de lá da fronteira.

– Manel,  vai buscar a viola! Vamos cantar umas mala­guenhas! –  E seguiam direito ao jardim mandando as aulas e o "Fumachum" às ortigas.

– Também já lá está o ManeI! Foi tão novo não foi, Manela? E deixou tantas saudades! "Cest la vie!"

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Guiné 63/74 - P15704: Parabéns a você (1029): José Belo, Capitão Inf Ref, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, Médico, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1071/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15696: Parabéns a você (1028): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)