Guiné- Bissau >
Simpósio Internacional, 1 a 7 de Março de 2008: Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau > Belíssima montagem digitalizada de Guileje, executada pelo Guedes, sobre fotografia a preto e branco do aquartelamento em Dezembro de 1964, antecipando a visão do espectacular diorama da povoação e aquartelamento no tempo da CCAÇ 726 (1965/66), feito por Nuno Rubim para o futuro Núcleo Museológico de Guileje.
Foto:
Guiledje: Simpósio Internacional (2007) (com a devida vénia...).
1. Mensagem enviada para todos os amigos e camaradas da Guiné, pelo
Engº Agrónomo Carlos Schwarz - o nosso Pepito -, na sua qualidade de Director Executivo da AD -Acção para o Desenvolvimento, Bissau:
Caro Amigo:
A partir de hoje terá à sua disposição o
site sobre o
Simpósio de Guiledje onde poderá acompanhar os preparativos e a organização do mesmo, bem como ter acesso a informações úteis sobre hoteis, restaurantes, centros culturais,
boites, etc. (1)
Poderá conhecer os oradores e os temas de comunicação, o programa dia a dia, os promotores e patrocinadores e também terá uma rubrica [,um fórum,] onde poderá participar com sugestões ou lançando temas para debate.
Bem vindos a todos
Carlos Schwarz
Director Executivo da AD
Lisboa,
Campus da
Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa > 6 de Setembro de 2007 > Da esquerda para a direita, Nuno Rubim, Carlos Scharwz (Pepito) e Luís Graça.
No
sítio oficial do Simpósio Internacional (que infelizmente foi descontinuado) havia um link, destacado, do nosso blogue, o que muito nos honrou... Para a comissão organizadora, o nosso blogue tfazia a confluência de pessoas, memórias, sentimentos, ideias e afectos, ajudando a tornar possível a realização, em Março de 2008, desta grande iniciativa que muito nos honra, a todos, ex-combatentes de um lado e de outro...
Foto: ©
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
2. O futuro Núcleo Museológico de Guiledje
O Coronel de Artilharia, na reforma, Nuno Rubim, reputado especialista em história da artilharia, nosso amigo e camarada (2), com duas comissões de serviço na Guiné, durante a guerra colonial - uma delas tendo comandado, como capitão, a CCAÇ 726 - tem-se vindo a empenhar, árdua, competente e generosamente, há cerca de 2 anos a esta parte, à complexa mas bela e apaixonante missão de criação do Núcleo Museológico de Guileje e em especial ao diorama do respectivo quartel, "uma obra impar que estará disponível durante o Simpósio e que nos enche de orgulho, a todos quantos se abalançaram a esta iniciativa", diz o sítio oficial do
Simpósio Internacional.
O Núcleo compreenderá um Centro Documental que disporá de um Diorama do quartel, um grande
Poster com as posições militares do PAIGC no momento do assalto final a Guileje (em Maio de 1973), uma exposição de fotografias e um serviço de computadores contendo um arquivo digital, documental e fotográfico, onde através de um conjunto de entrevistas em formato DVD estarão registados os testemunhos de muitos dos participantes guineenses, caboverdianos, cubanos e portugueses que por lá passaram durante a guerra colonial (3).
O Diorama do Nuno Rubim: uma das joias da coroa do futuro núcleo museológico de GuilejeO Diorama foi projectado por Nuno José Varela Rubim e realizado por ele, com a colaboração de Carlos Miguel de Vasconcelos Tavares, Isabel Pereira Pimentel, Maria Júlia de Sousa Rubim, Maria Tereza Rubim, Nuno Emanuel e Marcela.
As fotografias que permitiram a feitura do Diorama foram cedidas, na sua grande maioria, por Alberto Pires (mais conhecido por Teco), ex-militar da CCAÇ 726, o qual foi incansável na sua pesquisa. Outras foram enviadas por Carlos Guedes, também da mesma Companhia. Ambos também forneceram informações sobre vários aspectos importantes da configuração do quartel. Foram ainda aproveitadas várias fotografias do saudoso Capitão José Afonso da Silva Neto - o nosso saudoso Zé Neto (1929-2007) - que pertenceu à CART 1613 (1967/68), onde exerceu funções de 1º sargento.
Foi também importante o levantamento topográfico efectuado em Guiledje em 2005, por Fidel Midana Sambú.
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Uma das beldades locais, fotografadas pelo nosso saudoso Zé Neto (1929-2007)
Foto: ©
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o nosso co-editor Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726, sob o comando do Nuno Rubim... Voltarama agora a colaborar juntos no projecto Guileje... Vd. post de 14 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726) ... O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes saiu da CCAÇ 726 para se ofereceu, como voluntário, para os comandos, onde foi camarada do Briote nos comandos... O Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos e colaboradores (4).
Na concepção do Diorama foram tidos em consideração os seguintes elementos:
- Na povoação de Guileje estiveram instaladas unidades militares portuguesas desde Fevereiro de 1964 até Maio de 1973;
- Assumida a decisão de ser feito um diorama, foi necessário determinar a data que o mesmo iria representar, dado que ali estiveram instaladas 11 Companhias, além de outras unidades (pelotões, etc.);
- No decurso desse período, e sobretudo a partir de 1969, o aquartelamento sofreu alterações significativas;
- Escolheu-se a data de 1965/66 pela seguinte razão de ter sido nessa altura que aí esteve sediada a unidade com maior tempo de permanência, a CCaç 726 (a qual, juntamente com a unidade que se lhe seguiu, a CCAÇ 1424, foi também a Companhia que efectuou mais operações no sector e sofreu mais baixas em combate);
- O Diorama (maqueta) pretende pois representar o aquartelamento e a tabanca nesse período;
- A escala escolhida foi a de 1/72, permitindo desse modo adaptar modelos em miniatura comercializados;
- Após aturado trabalho de estudo, recolhendo fotografias e declarações de ex-militares que ali estiveram no período em causa, foi possível desenhar um plano à escala para aí serem inseridas as localizações de edifícios, cubatas, abrigos e outros detalhes;
- Estes, depois de também serem desenhados à escala, foram construídos utilizando plástico, madeira, metal e resina, e depois pintados de forma a representá-los tão exactamente quanto possível;
- No diorama poderão ser observados, além das infraestruturas, modelos de viaturas, depósitos, diversos utensílios, etc…
- E até uma aeronave, uma DO-27, que trazia frescos e correio, proporcionando desse modo talvez o único momento de alegria para as tropas portuguesas e seus aliados...
No núcleo museológico haverá ainda um espaço de exposição para armamento, equipamento e outro material, português e do PAIGC, que está a ser (ou venha a ser) cedido, tal como:
- um Unimog e um Pentenclas, meios de transporte de referência de um lado e outro da barricada;
- armas do PAIGC: uma RPG-7 (ou RPG-2), um morteiro de 82mm (ou 120 mm), uma metralhadora pesada Degtyarev (ou Goryunov), uma ligeira Degtyarev, pistolas-metralhadoras - PPSH (a famososa costureirinha), Thompson, M23 - , espingardas semi-automática e automáticas (AK-47 Kalashnikov, Simonov, Mosin-Nagant) e pistolas (Tokarev e Ceska).
- armas de Portugal: espingardas automáticas G-3 e FN, uma metralhadora MG-42, uma espingarda Mauser, LGF
e Dante, morteiroa (60mm, 81mm e 10,7cm), pistolas (Parabellum e Savage).
3. Comentário de L.G.: Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau... É com regozijo que o nosso blogue se associa a esta bela iniciativa e sauda fraternalmente a sua comissão organizadora... Este simpósio internacional, que também podia ser realizado em Portugal, não celebra a derrota de ninguém, mas sim a vitória de dois povos que continuam ligados por laços históricos, afectivos, culturais e linguísticos... Como de um lado e de outro temos dito, esta iniciativa faz parte de um projecto mais vasto de desenvolvimento integrado e sustendo - o projecto Guiledje -, e no essencial representa o triunfo da vida sobre a morte, a vitória da paz sobre a guerra, a primazia da memória (viva) sobre o esquecimento e o branqueamento da história, a afirmação da esperança no futuro, o reforço da amizade e da solidariedade entre os nososs povos (5)...
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 6 de Setembro de 2007 >
Simpósio Internacional (1-7 Março de 2008) (1): Uma iniciativa a que se associa, com orgulho, o nosso blogue(2) Vd. posts de:
18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1189: O tertuliano Nuno Rubim, especialista em história militar
11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)
(3) Vd. por exemplo os seguintes posts:
Vd. as memórias do Cap Zé Neto:
25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (Fim): o descanso em Buba
Vd. ainda a correspondência do J. Casimiro Carvalho:
25 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 9113 de Maio de 2007 >
Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento14 de Maio de 2007 >
Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira24 de Maio de 2007 >
Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!18 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'(4) Vd. post de 12 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares(5) Sobre o nosso apoio ao Projecto Guiledje, vd. entre outros o post de 23 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLXXXII: Entrevista a Fernando Pereira, correspondente do Expresso, sobre o Projecto Guileje (Luís Graça)
Declarações de Luís Graça ao jornalista Fernando Pereira, correspondente do
Expresso em Bissau, em 23 de Maio de 2006:
"Em cerca de 735
posts (ou textos) publicados no nosso blogue, no espaço de um ano, uns 10% foram dedicados ou fazem referência a Guileje (ou Guiledje, segundo a grafia da Guiné-Bissau).
"Guileje, o aquartelamento de Guileje, o corredor da morte de Guileje, a Mata do Cantanhês, mas também Madina do Boé, Gandembel e Gadamael, entre outros locais no sul, têm ainda hoje, passados mais de trinta anos sobre o fim da guerra colonial, uma enorme carga mítica, simbólica e afectiva para os ex-combatentes portugueses na Guiné...
"A retirada de Madina do Boé saldou-se por um trágico acidente que vitimou quase meia centena de camaradas nossos; mas Guileje é considerado o único aquartelamento da Guiné que fomos compelidos a abandonar por razões militares e psicológicas: a pressão da guerrilha do PAIGC era de tal ordem que a situação se tornou insustentável...
"Tanto para as tropas portugueses como para o PAIGC é um momento, se não de viragem
(militar), pelo menos carregado de simbolismo...
"Eu estive destacado, na zona leste, em Bambadinca, numa companhia africana, a CCAÇ 12, de Junho de 1969 a Fevereiro de 1971. Não conheci Guileje nem Gandembel. Mas no meu tempo contavam-se muitas estórias (falsas ou verdadeiras) sobre a degradação da situação militar no sul, e em especial em Guileje, Gadamael, Gandembel. Por exemplo, era extremamente popular a letra do Hino de Gandembel.
"Cantarolávamos, para espantar os nossos medos, exorcizar os nossos fantasmas e
denunciar o absurdo daquela guerra a que estava condenada toda a juventude de
um país, as quadras do Hino de Gandembel:
Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.
(...) Temos por v'zinhos Balana ,
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três te protege(...)
"Numa primeira fase, apoiamos o projecto Guileje, da AD - Acção para o Desenvolvimento, dando-o a conhecer, divulgando-o na Internet, recolhendo documentação sobre a presença militar portuguesa em Guileje (incluindo testemunhos de militares que por lá passaram)...
"(...) Citando o líder da AD e autor da ideia, Pepito, o projecto Guiledje representa o triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da história...
"É importantíssimo que a Guiné-Bissau recolha e preserve os testemunhos dos guerrilheiros do PAIGC que lutaram pela independência, e que pertencem a uma geração que está a desaparecer... É importante igualmente ouvir o depoimento dos ex-combatentes e das autoridades militares portuguesas...
"(...) Há uma crescente interesse pela Guiné-Bissau, por parte de uma geração como a minha que fez a guerra colonial e que hoje tem disponibilidade, vontade e poder de compra para ir à Guiné, juntar o útil ao agradável: fazer a sua romagem de saudade, exorcizar os seus fantasmas, visitar os lugares e as gentes que estão na sua memória, reconciliar-se com o passado, evocar os seus mortos, fazer o luto, conhecer o país de hoje, contribuir também para o seu desenvolvimento através de projectos integrados e inovadores como me parece ser este, liderado pelo Pepito e a AD" (...).