1. Mensagem do nosso tertuliano Cherno Baldé*, com data de 27 de Dezembro de 2011:
Caro amigo Carlos Vinhal,
Juntamente envio um pequeno excerto do livro de Amadu Ampaté Ba, dedicado ao seu mestre Tcherno Bokar Tall de Bandiagara (Bandjagara). Se acharem que não destoa e tem interesse para publicação, então não exitem, se for o caso contrário, também não há mal nisso. Esta minha iniciativa vem na linha e a propósito da recente publicação de um excerto do livro do Sr. Augusto Schwarz, pai do Eng. Pepito sobre o Cherno Rachid de Quebo que numa publicação anterior já se tinha referido ao Tcherno Bokar de Bandiagara.
Com os melhores cumprimentos,
Cherno Baldé
PS: Eu sei que o blogue privilegia escritos e trabalhos pessoais ainda não publicados mas não resisti à tentação de contribuir na divulgação de uma mensagem e de um ideal de paz e amor fraternal entre os homens de todas as religiões e de todas as regiões do mundo num período em que a violência e a conquista de territórios coloniais fazia furor entre as potencias do mundo.
AS TRÊS LUZES
(…) O olho (‘ayn) que se encontra no fundo de cada homem precisa de uma luz para ver o mundo na sua verdadeira essência e, sobretudo, para perceber as realidades divinas. Mas nem todos os caminhos são acessíveis a toda a gente.
Um dia, estando ele (Tcherno Bokar) a falar (com os seus alunos) sobre a noção da luz (nur em árabe), fiz-lhe a seguinte pergunta:
- Tcherno, quantas luzes místicas existem?
-Oh meu amigo, respondeu ele, eu não sou o homem que viu todas as luzes, não obstante, posso falar-te de três luzes simbólicas:
A primeira é a que tiramos da matéria sólida quando a friccionamos, pondo-a em combustão. Esta luz, assim obtida, não pode aquecer e iluminar senão um espaço bem limitado. Ela corresponde, simbolicamente, à fé das massas, dos indivíduos pouco evoluídos na escala mística. A este nível, os adeptos não podem ir p’ra além da imitação (taqlid) e da letra. A obscuridade da superstição envolve-os, o frio da incompreensão fá-los tremer. Eles ficam encolhidos num cantinho da tradição onde fazem o mínimo de barulho possível. Esta luz é aquela que anima os crentes quando ainda se encontram no degrau da fé dita Sulbu (solida).
A segunda luz é a do sol. Ela é superior à primeira no sentido em que ela é mais vasta e mais potente. Ela ilumina tudo o que existe sobre a terra e o aquece. Esta luz simboliza a fé de grau médio na via mística. Assim como o sol, ela dissipa as trevas logo que entra em contato com elas. É uma fonte vivificante para todas as criaturas. Ela simboliza as luzes que detêm os adeptos no degrau místico da fé dita Sa’ilu (liquida). Da mesma forma que o sol ilumina e aquece todos os seres que, desde este momento, são irmãos, os adeptos que conseguiram chegar a esta luz media, vêm e tratam como irmãos tudo o que vive debaixo do sol e recebe a sua luz. Eles não menosprezam a primeira luz, em virtude da sua função preparatória indispensável, mas eles já não são como os insectos que dançam a volta duma chama de fogo onde, às vezes, se queimam. A primeira luz, assim como aquela que a simboliza pode, dependendo das circunstâncias, ser apagada ou reacendida; pode ser transportada de um lugar a outro; dito de outra maneira, ela pode mudar de forma e de potência, enquanto que a segunda luz mantém-se fixa e imutável na sua perenidade, como a do sol. Ela virá sempre da mesma fonte e continuará igual a si mesma através dos séculos.
A terceira luz é aquela que nos chega do centro da existência; é a luz de Deus. Quem se atreverá a descrevê-la? É uma obscuridade mais brilhante que todas as luzes juntas. É a luz da verdade. Aqueles que têm a felicidade de aqui chegar perdem a sua identidade, transformam-se no que poderia ser uma gota de água caída no (rio) Niger, ou ainda num mar infinitamente mais vasto em extensão e profundidade. Neste grau, Jesus transformou-se no espírito (Santo) de Deus, Moisés no seu interlocutor, Abraão no seu amigo e finalmente, Mohammad (Mahomet) no sêlo das Suas missões na terra.
OS TRÊS GRAUS DA FÉ
Tendo refletido sobre o que tinha acabado de ouvir, perguntei-lhe de novo:
-Tcherno, quantas formas de fé existem, afinal?
Oh meu irmão, respondeu, não sei ao certo. A fé não é quantificável como os membros de um agregado familiar, nem mesurável como a distância de Bandiagara a Mopti. Não se pode pesá-la como o milho de Bankassi ou as frutas do mercado de Dourou. Para mim, a fé é a soma da confiança que temos em Deus e o grau (nível) da nossa convicção e é, também, a fidelidade para com o nosso criador. A fé aquece-se ou se esfria; ela varia de acordo com as pessoas e segundo os meios.
Para simplificar, esquematizo a fé da maneira seguinte: A fé Sulbu, a primeira, que chamei de fé sólida; a fé Sai’lu, a secunda, que chamei de fé liquida; e finalmente a fé ghazyu, a mais subtil, que é como um vapor gasoso.
1. O primeiro grau da fé convém ao comum dos mortais, as massas, aos marabuts agarrados a letra. Esta fé é sustentada e canalizada pelas prescrições impostas por uma lei tirada dos textos revelados, sejam eles judaicos, cristãos ou muçulmanos. Nesse estádio, a fé tem uma forma precisa; ela é intransigente, dura como a pedra, de onde tiro o seu nome.
A fé no grau Sulbu é pesada e imóvel como uma montanha. Se for preciso ela prescreve (decreta) a guerra pelas armas, a fim de preservar o seu lugar e se fazer respeitar.
2. A fé Sa’ilu (liquida) é a fé dos homens que trabalharam e enfrentaram com sucesso as provas do Sulbu, da lei rígida que não admite compromissos. Estes homens triunfaram sobre as suas próprias fraquezas (defeitos) e se engajaram na via que leva à verdade. Os elementos desta fé Sa’ilu resultam do conhecimento; eles reportam-se das veracidades, venham donde vierem, sem considerações de origem ou de antiguidade. Estas veracidades, recolhidas e agrupadas, formam um corpo animado de um movimento perpétuo, duma constante marcha para frente, uma marcha de moléculas de água que brota do fundo das montanhas, escorrem através de diferentes solos, acumulam-se nos obstáculos, depois engrossam ribeiras e rios para, finalmente, desaguar no oceano da verdade divina. Esta fé, assim como o seu símbolo liquido, elimina os defeitos da alma, desgasta as rochas da intolerância e espalha-se em toda a parte, tomando sempre a forma do seu recipiente. Ela penetra os humanos segundo a configuração do seu terreno moral. A fé Sai’lu educa (disciplina) o adepto, fá-lo um homem de Deus capaz de entender e de apreciar a voz de todos os que falam do criador. Ela é vivificante, ela pode solidificar-se e tomar a forma de (grelle) granizo quando for preciso tratar de almas que ficaram no degrau (nível) primário da fé. Ela pode sublimar-se e elevar-se em forma de vapor como a fé Ghaziyu, nos céus da verdade. Ela estabelece o regime da cidadela de paz onde o homem e os animais convivem lado a lado, onde os três reinos vivem na irmandade. Aqueles que a possuem elevar-se-ão contra a guerra.
3. A fé ghaziyu (gasosa) é o terceiro e último grau. É o apanágio de uma elite dentro da elite. Seus elementos constituintes são tão puros quanto libertos de qualquer peso material que os pudesse reter na terra, eles se elevam como fumo no céu das almas puras. Aqueles que chegam a este nível de fé adoram Deus na verdade e numa luz incolor. A verdade divina floresce nos campos do amor e da caridade.
Nota:
Tierno Bokar Saalif Tall (1875/1939) nasceu em Ségou (actual Mali), foi fundador de uma escola corânica (zaouia) em Bandiagara (pais Dogon) para onde a família se tinha mudado após a entrada das tropas francesas em Ségou. Famoso pela sua mensagem de tolerância religiosa e de amor universal foi vitima de uma querela entre facções religiosas rivais envolvendo também o poder colonial francês que não conseguiu reconhecer a profundidade da mensagem de amor e de paz de Tierno Bokar. Antes da sua morte, um dos seus maiores desgostos resultava da constatação do declínio da espiritualidade e do papel cada vez mais crescente do dinheiro na vida das pessoas da sua época.
Referencia:
Excerto extraído do livro de Amadou Hampaté Ba : "Vie et enseignement de Tierno Bokar, le Sage de Bandiagara", Editions : Points (inedit sagesse).
Traduzido do francês por mim (Cherno Baldé), especialmente para o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (Tabanca Grande) e peço desculpas ao autor e a todos por quaisquer erros ou insuficiências que resultarem dessa tradução.
Bissau, Dezembro de 2011.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 25 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9266: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (9): Votos de um novo ano, prenhe de esperanças renovadas, com duas sugestões de leitura (Cherno Baldé)
Vd. último poste da série de 26 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9270: Notas de leitura (316): Literaturas da Guiné-Bissau, Cantando escritos da história (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9282: (Ex)citações (169): As colónias portuguesas antes da Guerra (2): Moçambique (José Brás)
1. Parte II do trabalho do nosso camarada José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), intitulado As Colónias portuguesas antes da guerra.
Moçambique situa-se quase em frente a Angola mas na outra costa do continente africano, numa situação e estrutura de organização económica e social idêntica à de Angola pelo que dispensa grandes notas.
Território com uma linha de fronteira complexa, em resultado da movimentação de múltiplos interesses de potências europeias, Moçambique tem uma superfície, no qual em um seu quarto caberiam Portugal, Bélgica, Holanda e Suíça, com 3.784 km de fronteiras terrestres e 2.795 de linha de costa.
Bartolomeu Dias estabeleceu aqui o primeiro entreposto europeu em 1507.
Em 1890 a Inglaterra apresentou um ultimatum a Portugal, exigindo o reconhecimento dos seus direitos às vastas regiões entre Moçambique e Angola acabando com o sonho português de domínio de um vasto Império nessa zona de África e deitando mão às enormes riquezas em minerais preciosos e outras, entregue pela Inglaterra a grandes sociedades companhias monopolistas criadas por Cecil Rhodes.
Como Angola, também Moçambique é atravessado por numerosos e importantes rios como o Zambeze, o Limpopo, o Save e o Rovuma, grandes fontes de irrigação e de potencial hidro-eléctrico.
Possui muitas regiões propícias à criação de gado, sabe-se que apenas os americanos conhecem o verdadeiro potencial das suas jazidas minerais, sobretudo a partir de 1953, quando a Minneapolis Longyeer a da Aero Service Corporation, procederam a aturadas prospecções.
Conhece-se a existência, pelo menos de, zircónio, turmalinas, fluorite, cromo, bauxite, titânio, volfrâmio, berilo, moscovite, cassiterite, lepidoite, vanádio, carvão, grafite, amianto, magnetites de grande teor de ferro, sal-gema, ouro e urânio.
Em 1950 o recenseamento da população indicava a existência de 5.738.911 indivíduos, entre os quais 91.954 (1.6%) não autóctones, população superior a Angola apesar de território menor, porque o negócio da escravatura que se exerceu intensamente na costa ocidental, não aconteceu na costa oriental.
Em 1955 a população não africana era de 118.691 habitantes distribuídos da seguinte forma:
Os caminhos de ferro têm em Moçambique uma grande importância, não apenas ao serviço da economia interna mas sobretudo das potências imperialistas vizinhas, na União Sul-Africana, nas Rodésias e no Congo Belga, partindo da costa marítima para o interior a fim de garantir o escoamento dos produtos coloniais.
De Norte a Sul, são também numerosos os portos de mar, desde os de reduzida dimensão, aos médios, como Porto Amélia e Nacala, e aos de grande dimensão, como os de Lourenço Marques e da Beira, garantem o tráfego dos países vizinhos.
(Continua)
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 27 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9278: (Ex)citações (167): As colónias portuguesas antes da Guerra (1): Introdução e Angola (José Brás)
Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9280: (Ex)citações (168): A Tabanca Grande, onde todos se reunem à volta da fogueira das memórias (Joaquim Mexia Alves)
AS COLÓNIAS PORTUGUESAS ANTES DA GUERRA (2)
MOÇAMBIQUE
Moçambique situa-se quase em frente a Angola mas na outra costa do continente africano, numa situação e estrutura de organização económica e social idêntica à de Angola pelo que dispensa grandes notas.
Território com uma linha de fronteira complexa, em resultado da movimentação de múltiplos interesses de potências europeias, Moçambique tem uma superfície, no qual em um seu quarto caberiam Portugal, Bélgica, Holanda e Suíça, com 3.784 km de fronteiras terrestres e 2.795 de linha de costa.
Bartolomeu Dias estabeleceu aqui o primeiro entreposto europeu em 1507.
Em 1890 a Inglaterra apresentou um ultimatum a Portugal, exigindo o reconhecimento dos seus direitos às vastas regiões entre Moçambique e Angola acabando com o sonho português de domínio de um vasto Império nessa zona de África e deitando mão às enormes riquezas em minerais preciosos e outras, entregue pela Inglaterra a grandes sociedades companhias monopolistas criadas por Cecil Rhodes.
Como Angola, também Moçambique é atravessado por numerosos e importantes rios como o Zambeze, o Limpopo, o Save e o Rovuma, grandes fontes de irrigação e de potencial hidro-eléctrico.
Possui muitas regiões propícias à criação de gado, sabe-se que apenas os americanos conhecem o verdadeiro potencial das suas jazidas minerais, sobretudo a partir de 1953, quando a Minneapolis Longyeer a da Aero Service Corporation, procederam a aturadas prospecções.
Conhece-se a existência, pelo menos de, zircónio, turmalinas, fluorite, cromo, bauxite, titânio, volfrâmio, berilo, moscovite, cassiterite, lepidoite, vanádio, carvão, grafite, amianto, magnetites de grande teor de ferro, sal-gema, ouro e urânio.
Em 1950 o recenseamento da população indicava a existência de 5.738.911 indivíduos, entre os quais 91.954 (1.6%) não autóctones, população superior a Angola apesar de território menor, porque o negócio da escravatura que se exerceu intensamente na costa ocidental, não aconteceu na costa oriental.
Em 1955 a população não africana era de 118.691 habitantes distribuídos da seguinte forma:
Os caminhos de ferro têm em Moçambique uma grande importância, não apenas ao serviço da economia interna mas sobretudo das potências imperialistas vizinhas, na União Sul-Africana, nas Rodésias e no Congo Belga, partindo da costa marítima para o interior a fim de garantir o escoamento dos produtos coloniais.
De Norte a Sul, são também numerosos os portos de mar, desde os de reduzida dimensão, aos médios, como Porto Amélia e Nacala, e aos de grande dimensão, como os de Lourenço Marques e da Beira, garantem o tráfego dos países vizinhos.
(Continua)
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 27 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9278: (Ex)citações (167): As colónias portuguesas antes da Guerra (1): Introdução e Angola (José Brás)
Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9280: (Ex)citações (168): A Tabanca Grande, onde todos se reunem à volta da fogueira das memórias (Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P9281: Memórias da CCAÇ 617 (1): A batalha de Bissau de Janeiro de 1964 (João Sacôto)
1. Em mensagem do dia 26 de Dezembro de 2011 o nosso camarada João Sacôto* (ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), enviou-nos esta história que passa a constituir a primeira Memória da CCAÇ 617 neste Blogue.
MEMÓRIAS DA CCAÇ 617 - 1
A BATALHA DE BISSAU DE JANEIRO DE 1964
(Como a inofensiva prática de um hobby esteve prestes a dar em grande tragédia)
Nos primeiros dois meses a CCAÇ 617 que substituiu a CCAÇ 274, ficou em Bissau, dependendo operacionalmente do BCAÇ 600 e ainda com a missão de efectuar patrulhas e rusgas com pequenos grupos (Secção ou Pelotão) no sub-sector de Quinhamel as tabancas situadas ao longo da estrada Bissau - Biombo, assim como fornecer algumas escoltas, tendo inclusive, uma Secção tomado parte na grande "Operação Tridente" realizada na Ilha do Como e que instalou uma CCAÇ no Cachil.
Desembarque no Cachil, Ilha do Como Princípio de Dezembro de 1965
Foto: © João Sacôto (2011). Todos os direitos reservadosA minha CCAÇ 617 ficou instalada no Quartel General em Santa Luzia e a messe dos oficiais era ali mesmo ao lado (hoje hotel 24 de Setembro).
Os alferes da Companhia, faziam serviço no Quartel General (Oficiais de Dia e Oficiais de Prevenção).
Logo na primeira semana de chegada à Guiné, ainda maçaricos, estando o meu camarada ALF Santarém de Oficial de Dia e eu de Oficial de Prevenção, combinámos revesarmo-nos na ida à messe para jantar, tendo-me cabido a mim o primeiro turno. No regresso ao QG, para substituir o Santarém, deparo com uma cena trágico-cómica: O meu camarada e amigo Santarém de capacete na cabeça e de G3 ao ombro gesticulando aflito e aos gritos dizia-me: Forma imediatamente o Pelotão de Intervenção e vai para o Laboratório Militar que eles estão a ser atacados e já telefonaram várias vezes a dizer que se não receberem reforços rapidamente, serão todos massacrados.
Apreensivo, nem sabia onde ficava o dito Laboratório Militar, lá formei o Pelotão.
Rapidamente começaram a chegar ao QG vários militares vindos da baixa, com relatos de grandes ataques e tiros por todo o lado. Felizmente, alguns oficiais já batidos e de patentes superiores tomaram a iniciativa de se deslocarem à baixa de Bissau em auto-metralhadora para uma melhor análise da situação, tendo eu ficado em standby, com o meu Pelotão.
O que na realidade aconteceu, foi que um soldado condutor-auto do nosso Batalhão, resolveu ir praticar o seu hobby para o cais do Pigiquiti (pesca à linha), para o que ali se deslocou num Jeep. Ao fazer uma manobra no cais para regressar ao Quartel, acabou por cair à água. Uma patrulha que se encontrava no cais, deu uns tiros na direcção do Forte da Amura, para pedir socorro, estes por sua vez, julgando estarem a ser atacados ripostaram, envolvendo também o pessoal do Quartel dos Fuzileiros. Estava a guerra desencadeada, com o pessoal do Laboratório Militar entre fogos e alarmados pedindo urgentemente socorro ao Quartel General.
Tendo-se esclarecido o motivo daquela situação caricata, tudo voltou rapidamente à normalidade, saldando-se o ocorrido na morte de um militar, o infeliz soldado-pescador.
Um abraço camarada do,
João Sacôto
Ex-Alf Mil
CCAÇ 617
Guiné - 1964/1966
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9240: Tabanca Grande (312): João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil (1964/66)
Guiné 63/74 - P9280: (Ex)citações (168): A Tabanca Grande, onde todos se reunem à volta da fogueira das memórias (Joaquim Mexia Alves)
1. Em mensagem enviada para publicação, o nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, expressa a sua opinião quanto ao cabimento de publicações no nosso Blogue, como é exemplo o trabalho do nosso camarada José Brás no Poste 9278**:
A TABANCA GRANDE
Há uns anos atrás, (já não sei bem quantos), descobri este espaço de memórias de combatentes da Guiné.
Foi logo desde o início um deslumbre para mim, e sobretudo um bálsamo para feridas guardadas, (algumas contadas a outros sem serem compreendidas), e uma oportunidade para me relacionar mais e melhor com aqueles que podiam entender a minha linguagem, (porque a viveram), quando falava da guerra da Guiné.
E aqui fui lendo e contando tantos episódios que a cada um de nós tocaram, nessa “aventura” involuntária, (que nada teve de romântico ou de romance), mas sim de uma realidade muito dura e difícil de se viver.
Aqui troquei argumentos sobre aspectos da guerra, (ganha ou perdida), critiquei alguns textos pela sua dureza fria e sem, (para mim), sentido, sugeri atitudes, recebi conselhos, enfim, vivi a guerra da Guiné, (de tão difícil memória), com aqueles que a viveram e dela têm a vivência e o conhecimento que os torna meus camarigos e eu camarigo deles.
Aqui fiz humor, aqui publiquei versos, aqui exprimi opiniões, e, também, me ri com o humor dos outros, me entusiasmei com a sensibilidade escrita dos camarigos e reconheci para meu conhecimento, opiniões de outros.
Este era, para mim, um espaço de troca de vivências da guerra, fossem elas dos tempos da dita, ou daquilo que ela tinha marcado e ainda marca, nos homens que a viveram.
Tão serenamente como me era possível, fui chamando a atenção ao fundador e editores, para o perigo, (quanto a mim), de se deixar que a politica, fosse ela de que lado fosse, tomar conta deste espaço, remetendo-o para uma mera troca de ideias políticas, (com mais ou menos razão), em detrimento do espaço de troca de experiências vividas ou ainda a viver da guerra da Guiné.
É que, no meu entender, espaços para essa discussão politica existem “às cabazadas” por aí, mas lugares de memórias vividas da guerra no plural, (ou seja com o concurso de muitos), nem por isso.
Com toda a estima, com toda a amizade, com todo o respeito, (inerente obviamente às duas anteriores), que me merece o José Brás, este texto que escreveu, (não o crítico, nem o discuto), não deveria ter aqui lugar, não pela escrita, mas pelo conteúdo que sai da vivência da guerra, para as razões politicas da mesma, e aí, meus caros camarigos, há tantas opiniões válidas com aqueles que as quiserem escrever.
Este texto pode “inaugurar” uma fase deste espaço, em que os textos sobre a guerra propriamente dita serão relegados para segundo plano, porque textos destes têm forçosamente mais respostas, (comentários), do que aqueles que nos tocam apenas a nós combatentes, enquanto tal.
Que seria agora se alguém escrevesse um texto defendendo a politica ultramarina de Salazar, como um sério entrave à expansão sino-soviética em África e no mundo?
Ou se começarem a fazer comparações entre quem manda em quem, em quem é mais colonialista que outrem, e por aí fora?
Repito, espaços desses há muitos por aí, e, (mais uma vez quanto a mim), esta Tabanca Grande só tem a perder se enveredar por tal caminho, e ele, o caminho, está agora definitivamente aberto.
Deixa de ser uma Tabanca Grande onde todos se reúnem à volta da fogueira das memórias, para passar a ser um “parlamento” onde todos falam, mas nunca se encontram.
E, claro, posso estar enganado, mas muito franca e pessoalmente, não foi para ver e estar num espaço assim que tanto me empenhei e dediquei.
Por aqui me fico, esperando ver e ler mais experiências da guerra e do que ela ainda marca nos combatentes, do que experiências politicas que têm o condão de muito mais dividir do que aproximar.
Já sei que alguns virão dizer que tudo é política, etc. e tal, e eu volto a afirmar que espaços desses há os por aí “às toneladas”, (uns mais sérios do que outros, obviamente), mas espaços colectivos como este de memórias de guerra, há muito poucos ou quase nenhuns, sobretudo com o dinamismo que a Tabanca Grande pode ter.
Não interessam recordes de membros, de textos, ou de comentários, interessa sim um espaço onde os combatentes da Guiné saibam que podem contar as suas experiências, vivendo também as dos outros, encontrando-se em verdadeira camarigagem.
Um abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
____________
Notas de CV:
- Título do Poste da responsabilidade do editor
(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)
(**) Vd. poste de 27 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9278: (Ex)citações (167): As colónias portuguesas antes da Guerra (1): Introdução e Angola (José Brás)
A TABANCA GRANDE
Há uns anos atrás, (já não sei bem quantos), descobri este espaço de memórias de combatentes da Guiné.
Foi logo desde o início um deslumbre para mim, e sobretudo um bálsamo para feridas guardadas, (algumas contadas a outros sem serem compreendidas), e uma oportunidade para me relacionar mais e melhor com aqueles que podiam entender a minha linguagem, (porque a viveram), quando falava da guerra da Guiné.
E aqui fui lendo e contando tantos episódios que a cada um de nós tocaram, nessa “aventura” involuntária, (que nada teve de romântico ou de romance), mas sim de uma realidade muito dura e difícil de se viver.
Aqui troquei argumentos sobre aspectos da guerra, (ganha ou perdida), critiquei alguns textos pela sua dureza fria e sem, (para mim), sentido, sugeri atitudes, recebi conselhos, enfim, vivi a guerra da Guiné, (de tão difícil memória), com aqueles que a viveram e dela têm a vivência e o conhecimento que os torna meus camarigos e eu camarigo deles.
Aqui fiz humor, aqui publiquei versos, aqui exprimi opiniões, e, também, me ri com o humor dos outros, me entusiasmei com a sensibilidade escrita dos camarigos e reconheci para meu conhecimento, opiniões de outros.
Este era, para mim, um espaço de troca de vivências da guerra, fossem elas dos tempos da dita, ou daquilo que ela tinha marcado e ainda marca, nos homens que a viveram.
Tão serenamente como me era possível, fui chamando a atenção ao fundador e editores, para o perigo, (quanto a mim), de se deixar que a politica, fosse ela de que lado fosse, tomar conta deste espaço, remetendo-o para uma mera troca de ideias políticas, (com mais ou menos razão), em detrimento do espaço de troca de experiências vividas ou ainda a viver da guerra da Guiné.
É que, no meu entender, espaços para essa discussão politica existem “às cabazadas” por aí, mas lugares de memórias vividas da guerra no plural, (ou seja com o concurso de muitos), nem por isso.
Com toda a estima, com toda a amizade, com todo o respeito, (inerente obviamente às duas anteriores), que me merece o José Brás, este texto que escreveu, (não o crítico, nem o discuto), não deveria ter aqui lugar, não pela escrita, mas pelo conteúdo que sai da vivência da guerra, para as razões politicas da mesma, e aí, meus caros camarigos, há tantas opiniões válidas com aqueles que as quiserem escrever.
Este texto pode “inaugurar” uma fase deste espaço, em que os textos sobre a guerra propriamente dita serão relegados para segundo plano, porque textos destes têm forçosamente mais respostas, (comentários), do que aqueles que nos tocam apenas a nós combatentes, enquanto tal.
Que seria agora se alguém escrevesse um texto defendendo a politica ultramarina de Salazar, como um sério entrave à expansão sino-soviética em África e no mundo?
Ou se começarem a fazer comparações entre quem manda em quem, em quem é mais colonialista que outrem, e por aí fora?
Repito, espaços desses há muitos por aí, e, (mais uma vez quanto a mim), esta Tabanca Grande só tem a perder se enveredar por tal caminho, e ele, o caminho, está agora definitivamente aberto.
Deixa de ser uma Tabanca Grande onde todos se reúnem à volta da fogueira das memórias, para passar a ser um “parlamento” onde todos falam, mas nunca se encontram.
E, claro, posso estar enganado, mas muito franca e pessoalmente, não foi para ver e estar num espaço assim que tanto me empenhei e dediquei.
Por aqui me fico, esperando ver e ler mais experiências da guerra e do que ela ainda marca nos combatentes, do que experiências politicas que têm o condão de muito mais dividir do que aproximar.
Já sei que alguns virão dizer que tudo é política, etc. e tal, e eu volto a afirmar que espaços desses há os por aí “às toneladas”, (uns mais sérios do que outros, obviamente), mas espaços colectivos como este de memórias de guerra, há muito poucos ou quase nenhuns, sobretudo com o dinamismo que a Tabanca Grande pode ter.
Não interessam recordes de membros, de textos, ou de comentários, interessa sim um espaço onde os combatentes da Guiné saibam que podem contar as suas experiências, vivendo também as dos outros, encontrando-se em verdadeira camarigagem.
Um abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
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Notas de CV:
- Título do Poste da responsabilidade do editor
(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)
(**) Vd. poste de 27 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9278: (Ex)citações (167): As colónias portuguesas antes da Guerra (1): Introdução e Angola (José Brás)
Guiné 63/74 - P9279: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (3): Fragmentos Genuínos - 1
1. Em mensagem do dia 22 de Dezembro de 2011 o nosso camarada Carlos Rios (ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66), enviou-nos um extenso trabalho a que chamou "Fragmentos Genuínos" que começamos hoje a publicar, integrado na sua série Fragmentos da minha passagem pela tropa.
FRAGMENTOS GENUÍNOS - 1
O Singular acto de escrever nunca pode ser um esforço solitário e, sempre que possível, para mim um incipiente e ineficiente transmissor de factos e actos praticados, ou que me chegaram ao conhecimento verbalmente ou através de escritos, rocambolescos alguns, pungentes outros e ainda demonstrativos de verdadeiras iniquidades praticados por alguém e agora passados à prosa e dos quais com a devida vénia aos seus autores bem como textos e fotografias que me tornam extremamente grato ao Arquivo Histórico Ultramarino e outra instituições, ouso transcrever.
Há muitas pessoas que embora ausentes fisicamente aqui permanecem no meu sub-consciente estruturando e moldando a minha maneira de ser e pensar e a quem devo agradecer por ter conseguido reunir a energia, vontade e capacidade para levar a bom termo a tarefa a que me propus. Existem como é óbvio inúmeras e variadas formas de homenagear a intervenção e omnipresença dessas pessoas, pelo que imaginei mostrar-lhe o meu agradecimento e gratidão tão só pelo facto de existirem no meu Universo.
No topo da lista esta é claro a minha grande mulher, Fernanda, uma ribatejana dos sete costados (teimosa, resmungona, exigente, obstinada), mas a companheira de eleição para qualquer homem e que me mantém atento e concentrado em todos os aspectos realmente importantes da vida.
O meu filho, a minha nora, disponível e amiga que me presentearam com as maiores riquezas que um homem pode sonhar, as minhas adoráveis netas. E ainda os meus caros camaradas e amigos que tiveram que ao longo dos anos sofrer e participar numa horrenda guerra, prestando a mais sentida homenagem aos mortos e feridos daquele malfadado teatro de horrores, não esquecendo de daqui mandar um abraço de solidariedade aos sofredores de traumas e stress pós traumático com um desejo de incentivo nas suas vidas.
Também aos amigos da área da literatura e cultura pelos conselhos e apoio que me souberam transmitir.
A todos o muito obrigado!
As recordações dos momentos de rigidez, maus tratos e prepotências que eram coisa corrente, e marcaram primordialmente o período de cumprimento do serviço militar na metrópole, porquanto do que se tratava era de preparar, “homens para defender a pátria” no entender e dizer dos “instrutores”; elementos esses de que vim a fazer parte; fui colocado como monitor em Tavira na CISMI; (durante a recruta em Santarém morreu afogado no Tejo um camarada de outro pelotão), fazem aumentar o sentimento de desânimo e tristeza que alastra na despedida e adeus aos entes familiares e à terra que agora fazemos de bordo do Niassa a caminho da barra e no meu caso, começando já a sentir uma profunda nostalgia ao avistar no horizonte os locais da minha vivência; Caxias, Paço de Arcos etc…
No cais da Rocha do Conde de Óbidos
A partida era um momento tormentoso e tão emotivo que muitos sucumbiam em transes dramáticos. Para quantos não era um adeus definitivo aos melhores de todos nós, os jovens.
Quase todo o pessoal se encontrava na amurada do lado direito do barco e empoleirada em tudo quanto era sitio para um emotivo doloroso e incerto adeus. É indescritível o ambiente de ansiedade e inconformismo que quase se tornava palpável no ar. Não suportei a angústia que se instalou em mim e fui postar-me sorumbático e silencioso no Bar e remoer recordações.
Já em pleno oceano sentado no exterior na área da popa do navio espraiando o olhar pelo horizonte rememorei o período de tempo que passei na bonita agradável e acolhedora cidade de Tavira, onde para além de ter tirado a especialidade, me mantive como monitor do CISMI, o que me ocupou de Abril de 1964 até Junho de 1965, de tal maneira que já comentávamos eu e os meus companheiros que não iríamos para as colónias. Sonhos de jovens incipientes e desconhecedores dos mecanismos da instituição para onde tínhamos sido arrancados do seio das famílias. A população era afável e hospitaleira, principalmente em relação aos que se mantinham depois de terminados os obrigatórios cursos. O único senão encontrava-se nas degradadas e exíguas instalações do CISMI e na qualidade da alimentação. O problema era de tal ordem que espalhados por toda a cidade, haviam quartos alugados em casas particulares onde dormia e fazia a sua vida uma percentagem elevada de militares. Havia uma espécie de osmose entre um determinado estrato da população e os militares. Não me lembro durante este largo espaço de tempo de ter havido por parte dos comandos uma negativa aos pedidos de pernoita no exterior a qualquer militar. Creio que no pequeno quartel não haveria espaço minimamente decente para os cerca de seiscentos homens que ali chegaram a estar colocados.
A cidade vivia muito social e economicamente do meio militar
Paisagem da Cidade de Tavira
Havia uma notória falta de emprego e concomitantemente naquela época, entre parte da população a ilusória ideia de que os milicianos eram gente de posses, ideia que recolhi das prolongadas e agradáveis conversas que tive com a minha hospedeira e suas jovens auxiliares, dado que a senhora onde aluguei o quarto e passei a maior parte dos tempos livres, tinha um atelier de costura. Aqui passei bons e felizes dias que compensavam todas as agruras e passagens mais difíceis, no quartel. Poucas vezes me desloquei a casa, pudera; tinham que se pagar as viagens, o que se tornava assaz difícil depois de ter de pagar o aluguer do quarto. Num intervalo entre os dois cursos de que fui monitor e que coincidiu com a Páscoa (aproximadamente quinze dias), aqui me mantive, sendo tratado por todos como um filho e não só. Aqui, neste agradável ambiente externo alguns acontecimentos no quartel ajudaram, a que se fosse começando a moldar o cérebro deste jovem que julga hoje no ocaso da vida ser uma criatura que pretende ter como principal factor estruturante um profundo sentido de humanidade e solidariedade.
A minha pátria é o Mundo. A minha nacionalidade é a humanidade.
Uma das actividades de Tavira – As salinas
(Continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9235: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (2): Miniautocarro civil detona mina anticarro em Encheia
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9278: (Ex)citações (167): As colónias portuguesas antes da Guerra (1): Introdução e Angola (José Brás)
1. Damos hoje início à publicação de uma série de três postes contendo um trabalho do nosso camarada José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), intitulado As Colónias portuguesas antes da guerra, "prometido" num dos seus comentários feitos no Poste 9225*:
Dizia então José Brás:
E voltando ao meu amigo Graça Abreu, a que prometi dar nomes e números dos verdadeiros colonialistas donos de quase tudo o que era economicamente importante nas nossas colónias de África, rectifico:
Vou realizar o trabalho que poderá ser aqui publicado apenas se os editores do blogue assim o entenderem, para que os antigos soldados portugueses entendam o logro da "defesa da Pátria" quando mataram e morreram.
Como resposta a qualquer desejo de AGA, acho agora que o trabalho não valerá a pena, senão no prazer que a mim próprio dará, e esse ficará comigo e com os amigos.
José Brás
Este trabalho foi entendido desde o início como uma forma de demonstrar a natureza da verdadeira Pátria que os soldados portugueses iam defender quando partiam para as ex-colónias de Angola, Moçambique e Guiné, matar, morrer e desbaratar toda uma vida no caso dos feridos em combate ou noutras circunstâncias derivadas, quando deficientes físicos e/ou psicológicos.
Tal objectivo do autor resulta de uma sua afirmação sobre a natureza internacional do capital principal nas grandes empresas, sociedades anónimas e Companhias concessionárias presentes nas colónias portuguesas nos vários sectores da economia, nomeadamente a extracção mineira, os transportes, caminhos de ferro, material circulante, portos marítimos (importantes no escoamento das matérias primas desde os locais de extracção até aos portos de embarque) a agricultura e pescas, pequena indústria instalada e o comércio, interno e import-export.
Dizia eu, também, da crónica dependência de Portugal do capital financeiro do exterior, quer directamente o Estado para a realização de obras públicas, como ferrovias e outras vias de penetração, pontes, portos, no Continente e nas Colónias, quer através dos estabelecimentos bancários nacionais, nomeadamente o Banco Espírito Santo e em especial o Banco Burnay, verdadeira testa de ferro dos capitais estrangeiros em áreas estratégicas do ponto de vista económico, no Continente e nas Colónias, quer para apropriação de matérias primas importantes na indústria transformadora internacional, quer do ponto de vista do objectivo de acumulação de reservas para garantia futura, em especial, americanas.
Esta característica da formação e constituição dos capitais titulares de acções e de percentagens do capital das várias Sociedades Anónimas, quase sempre Sociedades Anónimas, e Companhias Concessionárias de carácter monopolista que recebiam concessões de vastas áreas para explorar em exclusivo os sectores mais importantes em presença, ou garantir prospecção para reserva sigilosa e utilizável no futuro, deve ser tida em conta porque quase sempre mascarava a verdade proveniência do capital titular das empresas e das instituições públicas ou privadas portuguesas.
Por isso, deve duvidar-se, mesmo nos casos em que o capital principal das sociedades e companhias parece português, se realmente o é.
Além disso, dada a natureza parasita da intervenção económica nas colónias, montada na existência de uma imensa mão de obra completamente desqualificada e de baixa produtividade mas de salários extraordinariamente baixos, apostada apenas na produção e exportação de mais valias e enormes lucros, esta acabava por tornar-se como um peso mais a travar o desenvolvimento do Continente, aproveitando tais mais valias e investindo tais lucros, não na criação de condições para produção de riqueza real no País, mas em sectores pouco reprodutivos, tecnologicamente pobres, e em actividades de esbanjamento e luxo de uns tantos, aliás, na senda do que acontecera com as enormes fortunas provenientes da actividade na sequência das descobertas e, já hoje e de novo como uma fatalidade, com a enorme soma de fundos da adesão a à União Europeia.
Esta situação só foi escamoteada às centenas de milhares de jovens embarcados, por uma propaganda ideológica agressiva que apelava a uma obrigação patriótica no exemplo dos antigos heróis portugueses, e pela afirmação de uma Pátria pluri-continental e multirracial, atacada por interesses estrangeiros, quando, justamente, era estrangeira a mão que rapava de Angola o petróleo, os diamantes, o ferro e muitos outros produtos minerais e agrícolas, para transformação imediata nos países em presença e lançamento no mercado, ou para constituição de reservas estratégicas, todos geradores de lucros muito superiores aos que teriam noutros locais devido à natureza especial do colonialismo de um País muitíssimo atrasado, em comparação com os seus vizinhos continentais, a mesma estrangeira que, simultaneamente, armara no Norte de Angola a UPA para a chacina.
Para ter uma ideia dos atrasos nacionais, no Continente e nas Colónias, em matéria de economia, e das disparidades em relação a outras Colónias e outras potências coloniais, uma ideia ainda que ténue, basta saber por exemplo, como informa Basil Davidson, que era negro o maquinista do troço ferroviário no espaço congolês, substituído por um português branco quando entrava no troço angolano, porque o salário deste emigrante das Beiras ou de Trás-os-Montes ou de outra qualquer das províncias portuguesas do Continente, era ainda mais baixo do que o do negro do Congo.
Assim, entremos na esquematização muito simplificada e muito aquém da informação disponível para demonstrar a verdadeira e mais funda realidade, ainda assim, a meu ver, claramente suficiente para provar muito mais do que o que eu houvera dito no referido comentário ao poema do Juvenal, afirmando ser muito pouco portuguesa a Pátria que roubou a vida a quase 10.000 jovens, deixado estropiados quase 20.000 e, de algum modo diminuídos, muitas mais dezenas de milhar, suscitando com isso, pelo menos uma reacção contraditória.
Situada no coração da África negra, com fronteiras de mais de 6.400 Km, 4.837 Km com o Congo Belga, a Rodésia do Norte e a Bechuanalândia, 1.650 Km de costa marítima, 1.770 Km do Luvo, a Norte, ao Cunene, a Sul no comprimento, e uma largura aproximada desde foz do Cunene atá ao Cuando, a Leste, tudo, numa superfície aproximada às de Espanha, França e Inglaterra juntas.
Descoberta a sua costa no século XV por Diogo Cão, as suas fronteiras actuais resultam de alterações significativas ao longo dos tempos em acordos e conferências internacionais que, como é óbvio, nunca tiveram em conta os interesses das populações locais, dividindo muitas vezes etnias e até, dentro destas, tribos.
É atravessada por grandes e extensos rios, com imensas bacias hidrográficas e enorme potencial energético, objecto de estudos realizados sob a direcção da ECA –European Cooperation Administration e encomendados a organizações americanas sob hipoteca de exploração.
No seu espaço geográfico abrigam-se potencialidades extraordinárias, desde logo as do sub-solo, como os diamantes, o ouro, o petróleo, asfaltos, carvões betuminosos, mica, manganés, estanho, fosfatos, sal-gema, vanádio, zinco, ferro, mercúrio, volfrâmio e urânio.
É igualmente muito rica em produção animal, como cera e mel, em regiões propícias à criação de gado e de matérias-primas como as oleaginosas, café, açúcar, fibras vegetais e madeiras.
Em 1950 a sua população era a seguinte, resultado de senso administrativo, ainda que com larga possibilidade de erro por desinteresse das autoridades locais a quem convinha ter disponíveis e sem controlo muita mão de obra para alugar aos recrutadores:
Em 1956 a situação era a seguinte:
A distribuição por etnias do total da população, em 1950, refere o total da população africana por 13 principais, mais 1,296 de portugueses do ultramar, 5.794 estrangeiros e 2.796 indeterminados.
Angola deixou de ser considerada colónia em 1951 e passou designar-se como Província Poruguesa Ultramarina, embora nada tivesse mudado de facto na estrutura social e administrativa, apesar da leitura do Art.º 148 da Constituição. No fundo era o Governo de Lisboa que tudo decidia através do Ministério do Ultramar e dos organismos corporativos, copiados da Itália de Mussolini, o Grémio do milho, as Juntas de Exportação do Algodão, do Café e dos Cereais.
Muito importantes são os seu 3 Portos de Mar principais, sobretudo o do Lobito e o de Luanda, sendo ainda de importância crescente o de Moçâmedes, recém-construído.
(Continua)
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9225: (Ex)citações (166): Gostei dos que… gostaram e gostei, juro que não menos, dos que não gostaram (José Brás)
Dizia então José Brás:
E voltando ao meu amigo Graça Abreu, a que prometi dar nomes e números dos verdadeiros colonialistas donos de quase tudo o que era economicamente importante nas nossas colónias de África, rectifico:
Vou realizar o trabalho que poderá ser aqui publicado apenas se os editores do blogue assim o entenderem, para que os antigos soldados portugueses entendam o logro da "defesa da Pátria" quando mataram e morreram.
Como resposta a qualquer desejo de AGA, acho agora que o trabalho não valerá a pena, senão no prazer que a mim próprio dará, e esse ficará comigo e com os amigos.
José Brás
AS COLÓNIAS PORTUGUESAS ANTES DA GUERRA (1)
INTRODUÇÃO
Este trabalho foi entendido desde o início como uma forma de demonstrar a natureza da verdadeira Pátria que os soldados portugueses iam defender quando partiam para as ex-colónias de Angola, Moçambique e Guiné, matar, morrer e desbaratar toda uma vida no caso dos feridos em combate ou noutras circunstâncias derivadas, quando deficientes físicos e/ou psicológicos.
Tal objectivo do autor resulta de uma sua afirmação sobre a natureza internacional do capital principal nas grandes empresas, sociedades anónimas e Companhias concessionárias presentes nas colónias portuguesas nos vários sectores da economia, nomeadamente a extracção mineira, os transportes, caminhos de ferro, material circulante, portos marítimos (importantes no escoamento das matérias primas desde os locais de extracção até aos portos de embarque) a agricultura e pescas, pequena indústria instalada e o comércio, interno e import-export.
Dizia eu, também, da crónica dependência de Portugal do capital financeiro do exterior, quer directamente o Estado para a realização de obras públicas, como ferrovias e outras vias de penetração, pontes, portos, no Continente e nas Colónias, quer através dos estabelecimentos bancários nacionais, nomeadamente o Banco Espírito Santo e em especial o Banco Burnay, verdadeira testa de ferro dos capitais estrangeiros em áreas estratégicas do ponto de vista económico, no Continente e nas Colónias, quer para apropriação de matérias primas importantes na indústria transformadora internacional, quer do ponto de vista do objectivo de acumulação de reservas para garantia futura, em especial, americanas.
Esta característica da formação e constituição dos capitais titulares de acções e de percentagens do capital das várias Sociedades Anónimas, quase sempre Sociedades Anónimas, e Companhias Concessionárias de carácter monopolista que recebiam concessões de vastas áreas para explorar em exclusivo os sectores mais importantes em presença, ou garantir prospecção para reserva sigilosa e utilizável no futuro, deve ser tida em conta porque quase sempre mascarava a verdade proveniência do capital titular das empresas e das instituições públicas ou privadas portuguesas.
Por isso, deve duvidar-se, mesmo nos casos em que o capital principal das sociedades e companhias parece português, se realmente o é.
Além disso, dada a natureza parasita da intervenção económica nas colónias, montada na existência de uma imensa mão de obra completamente desqualificada e de baixa produtividade mas de salários extraordinariamente baixos, apostada apenas na produção e exportação de mais valias e enormes lucros, esta acabava por tornar-se como um peso mais a travar o desenvolvimento do Continente, aproveitando tais mais valias e investindo tais lucros, não na criação de condições para produção de riqueza real no País, mas em sectores pouco reprodutivos, tecnologicamente pobres, e em actividades de esbanjamento e luxo de uns tantos, aliás, na senda do que acontecera com as enormes fortunas provenientes da actividade na sequência das descobertas e, já hoje e de novo como uma fatalidade, com a enorme soma de fundos da adesão a à União Europeia.
Esta situação só foi escamoteada às centenas de milhares de jovens embarcados, por uma propaganda ideológica agressiva que apelava a uma obrigação patriótica no exemplo dos antigos heróis portugueses, e pela afirmação de uma Pátria pluri-continental e multirracial, atacada por interesses estrangeiros, quando, justamente, era estrangeira a mão que rapava de Angola o petróleo, os diamantes, o ferro e muitos outros produtos minerais e agrícolas, para transformação imediata nos países em presença e lançamento no mercado, ou para constituição de reservas estratégicas, todos geradores de lucros muito superiores aos que teriam noutros locais devido à natureza especial do colonialismo de um País muitíssimo atrasado, em comparação com os seus vizinhos continentais, a mesma estrangeira que, simultaneamente, armara no Norte de Angola a UPA para a chacina.
Para ter uma ideia dos atrasos nacionais, no Continente e nas Colónias, em matéria de economia, e das disparidades em relação a outras Colónias e outras potências coloniais, uma ideia ainda que ténue, basta saber por exemplo, como informa Basil Davidson, que era negro o maquinista do troço ferroviário no espaço congolês, substituído por um português branco quando entrava no troço angolano, porque o salário deste emigrante das Beiras ou de Trás-os-Montes ou de outra qualquer das províncias portuguesas do Continente, era ainda mais baixo do que o do negro do Congo.
Assim, entremos na esquematização muito simplificada e muito aquém da informação disponível para demonstrar a verdadeira e mais funda realidade, ainda assim, a meu ver, claramente suficiente para provar muito mais do que o que eu houvera dito no referido comentário ao poema do Juvenal, afirmando ser muito pouco portuguesa a Pátria que roubou a vida a quase 10.000 jovens, deixado estropiados quase 20.000 e, de algum modo diminuídos, muitas mais dezenas de milhar, suscitando com isso, pelo menos uma reacção contraditória.
ANGOLA
Situada no coração da África negra, com fronteiras de mais de 6.400 Km, 4.837 Km com o Congo Belga, a Rodésia do Norte e a Bechuanalândia, 1.650 Km de costa marítima, 1.770 Km do Luvo, a Norte, ao Cunene, a Sul no comprimento, e uma largura aproximada desde foz do Cunene atá ao Cuando, a Leste, tudo, numa superfície aproximada às de Espanha, França e Inglaterra juntas.
Descoberta a sua costa no século XV por Diogo Cão, as suas fronteiras actuais resultam de alterações significativas ao longo dos tempos em acordos e conferências internacionais que, como é óbvio, nunca tiveram em conta os interesses das populações locais, dividindo muitas vezes etnias e até, dentro destas, tribos.
É atravessada por grandes e extensos rios, com imensas bacias hidrográficas e enorme potencial energético, objecto de estudos realizados sob a direcção da ECA –European Cooperation Administration e encomendados a organizações americanas sob hipoteca de exploração.
No seu espaço geográfico abrigam-se potencialidades extraordinárias, desde logo as do sub-solo, como os diamantes, o ouro, o petróleo, asfaltos, carvões betuminosos, mica, manganés, estanho, fosfatos, sal-gema, vanádio, zinco, ferro, mercúrio, volfrâmio e urânio.
É igualmente muito rica em produção animal, como cera e mel, em regiões propícias à criação de gado e de matérias-primas como as oleaginosas, café, açúcar, fibras vegetais e madeiras.
Em 1950 a sua população era a seguinte, resultado de senso administrativo, ainda que com larga possibilidade de erro por desinteresse das autoridades locais a quem convinha ter disponíveis e sem controlo muita mão de obra para alugar aos recrutadores:
Em 1956 a situação era a seguinte:
A distribuição por etnias do total da população, em 1950, refere o total da população africana por 13 principais, mais 1,296 de portugueses do ultramar, 5.794 estrangeiros e 2.796 indeterminados.
Angola deixou de ser considerada colónia em 1951 e passou designar-se como Província Poruguesa Ultramarina, embora nada tivesse mudado de facto na estrutura social e administrativa, apesar da leitura do Art.º 148 da Constituição. No fundo era o Governo de Lisboa que tudo decidia através do Ministério do Ultramar e dos organismos corporativos, copiados da Itália de Mussolini, o Grémio do milho, as Juntas de Exportação do Algodão, do Café e dos Cereais.
Muito importantes são os seu 3 Portos de Mar principais, sobretudo o do Lobito e o de Luanda, sendo ainda de importância crescente o de Moçâmedes, recém-construído.
(Continua)
____________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9225: (Ex)citações (166): Gostei dos que… gostaram e gostei, juro que não menos, dos que não gostaram (José Brás)
Guiné 63/74 - P9277: Tabanca Grande (314): António Osório, ex-Fur Mil Rec Inf da CCS/QG (Guiné, 1970/72)
1. Correndo o risco de ser deitado borda fora, como se diz na gíria marítima, pelo Luís, aqui estou a receber mais um camarada cuja mensagem ficou nos fundos da minha caixa do correio, sufocada pela imensa correspondência.
Posso desde já anunciar que o nosso camarada António Eduardo Carvalho, que apresentei há dias, já deu notícias, desculpando a minha falta e prometendo ser um membro activo do nosso Blogue.
Passemos ao assunto de hoje, a apresentação formal do nosso novo tertuliano António Osório, ex-Fur Mil Rec Inf que esteve na Guiné entre 1970 e 1972, passando por Gadamael, Cacine e Cameconde.
Dizia-nos António Osório na sua mensagem de 13 de Novembro de 2010:
Caro Luís Graça
Gostava que o meu nome fosse acrescentado à lista dos camaradas que serviram o nosso País na Guiné.
Cheguei às Caldas da Rainha a 06 de Outubro de 1969 para frequentar o 1º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos ficando apto para a frequência do 2º ciclo em 02.12.1970, em Tavira.
Em 21 de Março terminei o 2º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos com a classificação de 14,23 valores na Especialidade de Reconhecimento e Informações.
Mais tarde fui colocado nas Caldas da Rainha como Cabo Miliciano, instrutor dos cursos de Sargentos Milicianos.
Em 18 de Novembro de 1970 embarquei para a Guiné, no navio Ana Mafalda, onde cheguei no dia 24 de Novembro, como Furriel Miliciano, com a Especialidade de Reconhecimento e Informações e colocado na CCS (Companhia de Comandos e Serviços), em rendição individual.
No dia 25 de Novembro rumei a Cacine e mais tarde a Gadamael.
A minha vida no 1º ano de Guiné foi passada entre Gadamael, Cacine e Cameconde como Furriel Miliciano responsável pelas informações militares, na dependência do Comando-Chefe sediado em Bissau.
No segundo ano rumei a Bissau onde me mantive no Comando-Chefe, Rep. Info. (Repartição de Informações Militares) até 01 de Dezembro de 1972, dia em que a bordo de um avião dos TAM, regressei a Lisboa.
Na Repartição Info, tive o privilégio de trabalhar com Firmino Miguel e Almeida Bruno, então Majores do Exército, hoje Generais.
Fui louvado pelo Chefe de Estado Maior QG/CTIG (Ordem de Serviço n.º 279 de 29.11.1972 da CCS/QG), por proposta do Chefe da Repartição de Informações. Foi-me ainda atribuída a Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné pelo Comandante Militar Brigadeiro Banazol, com a legenda “Guiné 1970-71-721 (Ordem de serviço n.º 253 de 28 de Outubro de 1972) da CCS/QG.
Abraço amigo do,
António Osório
2. Comentário de CV:
Caro António Osório, és o segundo caso, e último prometo, de um camarada que por não ter enviado as fotos da praxe estavam em "lista de espera". Como disse anteriormente, não ter fotos não é impeditivo de ser apresentado à tertúlia, só que... passemos adiante.
Na verdade tu não és exactamente um desconhecido na Tabanca já que participaste no V Convívio de 2010 em Monte Real, como prova a foto que se publica.
Formalizada a apresentação, procura as tuas fotos da Guiné e envia-nos algumas das tuas memórias, tais como "segredos" de então, que hoje já podem ser do conhecimento geral dado o tempo que passou e o fim do conflito ser uma realidade.
Recebe um abraço de boas vindas em nome dos 533 tertulianos deste Blogue, instala-te comodamente e começa a trabalhar.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9263: Tabanca Grande (313): António Eduardo Gouveia Carvalho, ex-Cap Mil da CCAÇ 3, Bigene e CCAÇ 19, Guidaje (1974)
Posso desde já anunciar que o nosso camarada António Eduardo Carvalho, que apresentei há dias, já deu notícias, desculpando a minha falta e prometendo ser um membro activo do nosso Blogue.
Passemos ao assunto de hoje, a apresentação formal do nosso novo tertuliano António Osório, ex-Fur Mil Rec Inf que esteve na Guiné entre 1970 e 1972, passando por Gadamael, Cacine e Cameconde.
Dizia-nos António Osório na sua mensagem de 13 de Novembro de 2010:
Caro Luís Graça
Gostava que o meu nome fosse acrescentado à lista dos camaradas que serviram o nosso País na Guiné.
Cheguei às Caldas da Rainha a 06 de Outubro de 1969 para frequentar o 1º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos ficando apto para a frequência do 2º ciclo em 02.12.1970, em Tavira.
Em 21 de Março terminei o 2º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos com a classificação de 14,23 valores na Especialidade de Reconhecimento e Informações.
Mais tarde fui colocado nas Caldas da Rainha como Cabo Miliciano, instrutor dos cursos de Sargentos Milicianos.
Em 18 de Novembro de 1970 embarquei para a Guiné, no navio Ana Mafalda, onde cheguei no dia 24 de Novembro, como Furriel Miliciano, com a Especialidade de Reconhecimento e Informações e colocado na CCS (Companhia de Comandos e Serviços), em rendição individual.
No dia 25 de Novembro rumei a Cacine e mais tarde a Gadamael.
A minha vida no 1º ano de Guiné foi passada entre Gadamael, Cacine e Cameconde como Furriel Miliciano responsável pelas informações militares, na dependência do Comando-Chefe sediado em Bissau.
No segundo ano rumei a Bissau onde me mantive no Comando-Chefe, Rep. Info. (Repartição de Informações Militares) até 01 de Dezembro de 1972, dia em que a bordo de um avião dos TAM, regressei a Lisboa.
Na Repartição Info, tive o privilégio de trabalhar com Firmino Miguel e Almeida Bruno, então Majores do Exército, hoje Generais.
Fui louvado pelo Chefe de Estado Maior QG/CTIG (Ordem de Serviço n.º 279 de 29.11.1972 da CCS/QG), por proposta do Chefe da Repartição de Informações. Foi-me ainda atribuída a Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné pelo Comandante Militar Brigadeiro Banazol, com a legenda “Guiné 1970-71-721 (Ordem de serviço n.º 253 de 28 de Outubro de 1972) da CCS/QG.
Abraço amigo do,
António Osório
2. Comentário de CV:
Caro António Osório, és o segundo caso, e último prometo, de um camarada que por não ter enviado as fotos da praxe estavam em "lista de espera". Como disse anteriormente, não ter fotos não é impeditivo de ser apresentado à tertúlia, só que... passemos adiante.
Na verdade tu não és exactamente um desconhecido na Tabanca já que participaste no V Convívio de 2010 em Monte Real, como prova a foto que se publica.
Na foto, à direita de Álvaro Basto, pode ver-se a esposa do nosso camarada António Osório, e ele próprio.
Formalizada a apresentação, procura as tuas fotos da Guiné e envia-nos algumas das tuas memórias, tais como "segredos" de então, que hoje já podem ser do conhecimento geral dado o tempo que passou e o fim do conflito ser uma realidade.
Recebe um abraço de boas vindas em nome dos 533 tertulianos deste Blogue, instala-te comodamente e começa a trabalhar.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9263: Tabanca Grande (313): António Eduardo Gouveia Carvalho, ex-Cap Mil da CCAÇ 3, Bigene e CCAÇ 19, Guidaje (1974)
Guiné 63/74 - P9276: O nosso fad...ário (8): Canção do Adeus (letra de Manuel Moreira, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vieira Moreira, ou apenas Manuel Moreira, letrista de fados e outras canções, natural de Aguada de Cima, Águeda, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do
Inglês, 1967/69):
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Au revoir, Sylvie,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Oh! Sylvie Oh! Sylvie Oh! Sylvie
Au revoir Sylvie
Para saber mais sobre o Duo Ouro Negro clicar aqui na Wikipédia
Data: 8 de Dezembro de 2011 18:21
Assunto: Canções da Guiné
Luís, vai a minha primeira canção de Guerra (*), começada na viagem de ida para a Guiné dentro do navio Uíge. Como sabes, eu já era casado e com dois filhos. Com música de: Au Revoir Sylvie, do Duo Ouro Negro, a que lhe dei o título "Canção do Adeus". Um Abraço
Manel Moreira,
CART 1746
O N/M Uíge, da Companhia Colonial de Navegação (Imagem: Com a devida vénia... Página da CCAÇ 1496, 1966/68)... Muitos de nós partiram para a Guiné neste navio (ou regressaram nele, como foi o meu caso)... Foi aqui que o Manuel Moreira escreveu a sua Canção do Adeus... Que também podia ser um fado... Mas, neste caso, ele foi buscar a inspiração ao famoso Duo Ouro Negro. Continuamos entretanto a recolher letras de fados, baladas e outras canções, ligadas à temática da guerra colonial. O nosso objetivo é podermos vir a ter uma secção de letras (e músicas) de fados, no Museu do Fado, dedicada à guerra colonial, com destaque para a Guiné... (LG)
__________
Canção do Adeus
Letra: Manuel Moreira
Música: Au Revoir Sylvie, do Duo Ouro Negro [, há um versão disponível no YouTube,] (**)
1
Adeus, minha querida,
Eu vou-te deixar
Vou p´ra outra vida
Que é militar;
Eu vou para a guerra,
Mas sempre a pensar,
Na minha querida terra,
Que um dia hei-de voltar.
Refrão
Adeus, adeus,
Adeus, ó minha Mãe,
Não chore por mim
Porque eu voltarei.
Adeus, adeus,
Adeus, querida Mulher,
Não chores por mim
Que eu volto, se Deus quiser.
2
O I.A.O. terminou,
Fomos embarcar,
O Uíge abalou
Para o Ultramar;
Com Homens a valer,
Partimos com fé
Para defender
A nossa Guiné.
Refrão
Adeus, adeus, etc.
_______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9189: O nosso fad...ário (7): O fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche: letra de José Luís Tavares, recolha de Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)
(**) Letra da canção (disponível aqui)
Au revoir Sylvie
Duo Ouro Negro
E setembro chegou,
Vamo-nos separar,
O verão terminou,
Diremos au revoir.
Ela vai pra Paris
E eu vou ficar,
Vou ficar infeliz
E Sylvie vou lembrar.
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Au revoir, Sylvie.
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Au revoir, Sylvie,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Oh! mon amour,
Oh! Sylvie Oh! Sylvie Oh! Sylvie,
Au revoir, Sylvie.
Na praia deserta,
Nem o sol sorri
E a solidão me fala de ti,
O meu violão também se calou,
Dissemos adeus e tudo acabou.
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Au revoir, Sylvie.
Assunto: Canções da Guiné
Luís, vai a minha primeira canção de Guerra (*), começada na viagem de ida para a Guiné dentro do navio Uíge. Como sabes, eu já era casado e com dois filhos. Com música de: Au Revoir Sylvie, do Duo Ouro Negro, a que lhe dei o título "Canção do Adeus". Um Abraço
Manel Moreira,
CART 1746
O N/M Uíge, da Companhia Colonial de Navegação (Imagem: Com a devida vénia... Página da CCAÇ 1496, 1966/68)... Muitos de nós partiram para a Guiné neste navio (ou regressaram nele, como foi o meu caso)... Foi aqui que o Manuel Moreira escreveu a sua Canção do Adeus... Que também podia ser um fado... Mas, neste caso, ele foi buscar a inspiração ao famoso Duo Ouro Negro. Continuamos entretanto a recolher letras de fados, baladas e outras canções, ligadas à temática da guerra colonial. O nosso objetivo é podermos vir a ter uma secção de letras (e músicas) de fados, no Museu do Fado, dedicada à guerra colonial, com destaque para a Guiné... (LG)
__________
Canção do Adeus
Letra: Manuel Moreira
Música: Au Revoir Sylvie, do Duo Ouro Negro [, há um versão disponível no YouTube,] (**)
1
Adeus, minha querida,
Eu vou-te deixar
Vou p´ra outra vida
Que é militar;
Eu vou para a guerra,
Mas sempre a pensar,
Na minha querida terra,
Que um dia hei-de voltar.
Refrão
Adeus, adeus,
Adeus, ó minha Mãe,
Não chore por mim
Porque eu voltarei.
Adeus, adeus,
Adeus, querida Mulher,
Não chores por mim
Que eu volto, se Deus quiser.
2
O I.A.O. terminou,
Fomos embarcar,
O Uíge abalou
Para o Ultramar;
Com Homens a valer,
Partimos com fé
Para defender
A nossa Guiné.
Refrão
Adeus, adeus, etc.
_______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9189: O nosso fad...ário (7): O fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche: letra de José Luís Tavares, recolha de Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)
(**) Letra da canção (disponível aqui)
Au revoir Sylvie
Duo Ouro Negro
E setembro chegou,
Vamo-nos separar,
O verão terminou,
Diremos au revoir.
Ela vai pra Paris
E eu vou ficar,
Vou ficar infeliz
E Sylvie vou lembrar.
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Au revoir, Sylvie.
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Au revoir, Sylvie,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Oh! mon amour,
Oh! Sylvie Oh! Sylvie Oh! Sylvie,
Au revoir, Sylvie.
Na praia deserta,
Nem o sol sorri
E a solidão me fala de ti,
O meu violão também se calou,
Dissemos adeus e tudo acabou.
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Au revoir, Sylvie.
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Au revoir, Sylvie,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Oh! Sylvie Oh! Sylvie Oh! Sylvie
Au revoir Sylvie
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Guiné 63/74 - P9275: Ser solidário (118): Parabéns à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento que faz 20 anos!
Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Vídeo "AD somos nós > Duração: 9' 25'' > Produção: Têvê Comunitária Klelé > Realização: Demba Sanhá > Ano: 2011.
Sinopse:
"A ONG AD trabalha em três zonas geográficas: no centro em Bissau, no Norte na região de Cacheu e no Sul na região de Tombali. Estas são as caras escondidas que trabalham dia e noite para conquistar os seus desafios para um desenvolvimento comunitário justo e solidário".
No 20º da Aniversário desta ONG guineense, e antes que batam as 24 últimas babaladas de 2011 (que foi, em muitos aspetos, mais um annus horribilis), aqui ficam publicamente registados os nossos parabéns a toda esta fantástica equipa da AD, dos seus fundadores aos seus mais recentes colaboradores... Eles e elas são gente que traz esperança ao presente da sua terra e está a preparar o futuro das suas gentes, apostando em áreas tão vitais como a comunicação comunitária (rádios e televisões comunitárias), a formação profissional, a educação ambiental (com as escolas de verificação ambiental, EVA), o ensino básico, o microcrédito, a saúde, a segurança alimentar...
Alguns deles e delas, portugueses e guineenses, são nossos amigos e fazem parte da nossa Tabanca Grande. Temos muito orgulho no seu trabalho na área do desenvolvimento integrado e sustentável, que acompanhamos, há anos, de mais perto ou de mais longe.
Que o ano de 2012 seja de paz e de esperança para os nossos dois povos amigos, que partilham muitas coisas em conjunto, da história à língua, e estão unidos por fortes laços de amizade e solidariedade. (LG)
Fonte: Youtube > ADBissau... Cortesia de AD - Acção para o Desenvolvimento (2011).
_______________
Nota do editor:
Último poste da série >10 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9176: Ser solidário (117): Espectáculo de Solidariedade de Apoio aos Ex-combatentes Vítimas do Stresse de Guerra (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P9274: Parabéns a você (358): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745 (Guiné, 1972/74)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9253: Parabéns a você (357): Albano Costa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74), Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS/STM/QG (Guiné, 1968/70) e amiga Felismina Costa
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9253: Parabéns a você (357): Albano Costa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74), Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS/STM/QG (Guiné, 1968/70) e amiga Felismina Costa
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9273: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (6): Notícias da Guiné de 9 de Fevereiro de 1969
1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2011:
Camarigo Carlos Vinhal
Como tinha prometido, aqui vai mais um trabalho sobre Bissau, mais concretamente sobre o jornal "Noticias da Guiné".
Em anexo vão as 10 páginas deste número que tu trabalharás informaticamente como tu bem sabes.
Um abraço e votos de bom Natal para toda a Tabanca.
Que o 2012 venha a ser menos mau do que nos vão dizendo.
Um abração
Carlos Pinheiro
RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE BISSAU (6)
Pedaços de História da Guiné
“NOTÍCIAS DA GUINÉ”
Domingo, 9 de Fevereiro de 1969
Na minha qualidade de “privilegiado” por ter passado a minha comissão de 25 meses, 10 dias e não sei quantas horas na cidade de Bissau, tenho-me vindo a aproveitar desse “privilégio” para dar a conhecer, especialmente aos camaradas do mato, nomeadamente aos do meu tempo, algumas das realidades de Bissau que lhes passaram certamente ao lado.
Depois de recentemente ter relatado a “história” da “Presse Lusitânia”, dando à estampa alguns dos seus exemplares, que era trabalhada na “minha guerra”, o STM, quero hoje partilhar com todos os camarigos um exemplar completo do “NOTICIAS DA GUINÉ”, que, como diz o cabeçalho, era o Boletim do Centro de Informação e Turismo da Guiné, o SNI lá do sítio, em tamanho reduzido, como devem compreender.
São notícias daquela época, que têm que ser lidas dentro do contexto que se vivia naqueles tempos, mas que de algum modo merecem ser conhecidas e recordadas para que a memória não esqueça, como agora se diz, para memória futura, mas também porque as mesmas já fazem parte da história.
De entre todo o noticiário desta edição, permito-me salientar algumas notícias por razões óbvias, a saber:
- O 5º aniversário do Programa das Forças Armadas;
- As Visitas do Governador e Comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné;
- Exposição de material capturado ao inimigo,
- A Noticia do Governo da Província da Guiné onde se relata a tragédia da jangada na passagem do Rio Corubal que provocou a morte de 47 militares, com a indicação dos seus nomes que eu sublinho por motivos óbvios e ainda,
- A publicação do Boletim Informativo das Forças Armadas, Boletim periódico, onde informavam somente o que queriam, para não se dizer que não informavam nada. Era a realidade daquela altura…
Mas passando página a página, logo na 1ª, para além de outras notícias, encontramos a evocação, um ano depois, da visita do Chefe do Estado à Província, as Comemorações do 5º Aniversário do Programa das Forças Armadas, o P.F.A. como se popularizou, notícia que continua depois na página 2 mais desenvolvida, permitindo-me ainda destacar a notícia acerca das “Visitas do Governador e Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné”, ao interior da Província, com seguimento também na página 2, onde se relatam visitas a Madina do Boé, Aldeia Formosa, estrada Buba - Aldeia Formosa, Piche, Ponte Caium, Camajabá, Bunane, Copá, Bajocunda, Sinchã Sambel, Canjufa, e Sinchã Sama.
Na 2ª página encontramos então a continuação das notícias da capa como anteriormente referi.
Na 3ª página temos “A cidade - pessoas e factos”, como sejam a Peregrinação a Meca, Mocidade Portuguesa, Numeração de Prédios, Conferência Feminina de S. Vicente de Paulo, Missa por alma de António Ferreira da Silva, Fomento Industrial, Arquitecto Licínio da Cruz, Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné sendo a última a anunciar a chegada de 200 Toneladas de Arroz Novo a Bissau que “começou a ser descascado nos complexos industriais da cidade”. Completa esta página o relato de uma exposição de Jota Álamo no Centro de Informação e Turismo e ainda a publicidade dirigida às Exmas. Classes Médica e Farmacêutica a anunciar a chegada das “modernas escovas de dentes JORDAN” fabricadas na Noruega e distribuídas pela PROQUIL – Bissau.
Na página 4 temos mais publicidade desde o “Grande Hotel” até ao “Dum-Dum” (Spray) distribuído em exclusivo pela PROQUIL, passando pelo “Baygon” em spray e em pó, à venda na Farmácia Higiene – Bissau, Restaurador para o cabelo “DOMINACÔR”, distribuído pela Soc. Com. De Representações, Lda.,Venda de uma máquina de costura e de um “Peugeot 404” em estado novo e Explicações de Inglês, sendo a mesma completada com uma certidão do Notariado Português - Comarca da Guiné onde consta a constituição da Sociedade Por Quotas, “Escola de Condução Gomes & Gomes, Limitada”, com sede na Vila de Farim cujo capital social é de cento e cinquenta mil escudos, totalmente realizado.
A página 5 é totalmente dedicada ao Desporto, Campeonato da Guiné cujos clubes eram a UDIB, o Benfica, a Sacor, a S.C.U., Nuno Tristão, Tennis, e o Sporting, Efemérides, Noticias Em Duas Linhas onde se refere que o Vitória de Setúbal ia jogar em Alvalade com o Newcastle porque o Estádio do Bonfim ainda não tinha luz artificial e ainda que Costa Pereira ia jogar numa selecção internacional com Torres, Eusébio e Coluna, a Taça das Feiras e a final em dois jogos, a chave do TOTOBOLA com os jogos União de Tomar - V. Setúbal, Braga - Sanjoanense, Belenenses - Leixões, Académica - Sporting, CUF – Guimarães, Boavista – Famalicão, A. Viseu – Mar, Covilhã - Salgueiros, Espinho – Penafiel, Valecambrense - Gouveia, Leões – Barreirense, Seixal – Torriense e Luso - Sesimbra, Passatempos desportivos e ainda uma pequena noticia acerca do novo Presidente do Município de Vagos, como podem ver.
Agora na página 6, para além de “Noticias do Estrangeiro” e “Várias Noticias”, de entre as quais vem a “Notícia do Governo da Província da Guiné” acerca da tragédia que foi o desastre da jangada no rio Corubal que transportava parte da CCAÇ 1790 e onde morreram 47 militares por afogamento, com a indicação completa dos seus nomes e ainda uma pequena noticia acerca de uma Exposição de material capturado ao inimigo levada a afeito de 9 a 16 de Fevereiro daquele ano na Fortaleza de S. José de Bissau (Amura) e outra do Conselho Administrativo do Fundo de Construção de Casas para Funcionários onde é anunciado que uma moradia tinha ficado vaga pelo que todos os funcionários civis da Província se podiam habilitar à mesma.
Na página seguinte temos NOTICIAS DA METRÓPOLE, noticias estas de Lisboa, de Fafe, de Valpaços, de Coimbra, de Castelo Branco, de Braga e de Santo Aleixo da Restauração (Moura) falando cada uma delas acerca de motivos do que por cá se passava naquela altura.
Passando à página 8, Anúncios e mais anúncios, do Médico Pediatra Heliodoro Guitana, Instalações eléctricas da S.T.E.I.A., Super VITABRIL creme para o penteado, Anúncios da Câmara Municipal de Bissau a anunciar a venda de terrenos a $40 (quarenta centavos, um cruzado, quatro tostões) o m2, HALAZON spray-oral, Brilhantina Africana, TOTOBOLA - entregue o seu boletim na Confeitaria Império, pedido de emprego, oferta para tratar de assuntos na Metrópole, Farmácia Higiene de Bissau, Secretaria Notarial da Póvoa de Varzim, Venda de Mobílias, de Sinca 1000 GI, Fiat 600, Aparelhagem de Laboratório, Prédio novo, Frigorifico eléctrico Kelvinator 170, Austin 1100, Taunus 12M Super, Aluguer de quarto a casal, de Moradia, de outro quarto, de Cervejaria-Bar, mais uma moradia, outra moradia, ainda outra moradia, Precisa-se de quarto, Compra-se frigorifico a petróleo, a Óptica Barros anuncia ter recebido grande remessa de napas, Sorteio de um Vauxall Velox, Ciclo Preparatório, pedido de emprego, Farmácias de Serviço e Padaria Transmontana no Bairro da Ajuda a anunciar o seu bom, pão, folar transmontano e arrufadas.
Na página 9 temos o Boletim Informativo das Forças Armadas – período de 27 de Janeiro a 2 de Fevereiro e outras notícias continuadas de páginas anteriores onde se inclui o Aniversário do PFA, Uma entrevista com o Dr. Luiz G. Barros e mais um anúncio da Farmácia Higiene de Bissau acerca do 2º DEBUT.
Na última página, a contracapa, temos várias notícias de informação geral como sejam “A viagem de três Toureiros portugueses através do Continente Africano”, “Animal angolano possuidor de dentes com virtude medicinais”, e mais duas notícias de Lisboa, “Condenado por ter atropelado mortalmente dois sexagenários”, e “Duas mulheres e dois homens condenados a prisão maior” e uma notícia de Luanda “Morto vivo causa pânico num Muceque Luandense”. A página termina com uma pequena “caxa” onde se informa, acerca do Dr. Oliveira Salazar, que na quarta-feira, pelas 15 horas locais, foi o eminente estadista transportado para a sua casa em S. Bento. O seu estado é satisfatório.
Por incrível que possa parecer nos dias de hoje, o jornal não indicava a sua ficha técnica e nem sequer o nome do seu Director.
Mesmo admitindo que todo este repositório de lembranças da Guiné e especialmente de Bissau daquele tempo, pouco ou nada possam interessar a muitos camarigos, no entanto quero admitir que os interessados pela História duma época e duma região, poderão encontrar algum interesse nestas recordatórias.
Mas como cada um pode e deve contar o que passou, eu não posso contar nada de tiros, até porque só tive uma arma distribuída por um período de 12 horas, mas entendo que posso e devo contar as peripécias do dia-a-dia duma comissão em que grande parte do tempo nem me apercebia de quando era noite ou era dia uma vez que trabalhava 12 horas e descansava 24.
De qualquer forma, penso que a publicação deste jornal poderá ter algum interesse especial para os sobreviventes da CCAÇ 1790 e para os historiadores o que ali é relatado, de forma muito reduzida, é certo, acerca da tragédia que foi o desastre do Corubal.
A quem tiver tido a paciência de ler este escrito, muito maior do que o habitual, os meus agradecimentos e desde já fico a aguardar os comentários.
Um abração do
Carlos Pinheiro
19.12.11
Nota: - Clicar nas imagens para as ampliar
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8999: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (5): Efeitos colaterais da crise académica de 1969
Camarigo Carlos Vinhal
Como tinha prometido, aqui vai mais um trabalho sobre Bissau, mais concretamente sobre o jornal "Noticias da Guiné".
Em anexo vão as 10 páginas deste número que tu trabalharás informaticamente como tu bem sabes.
Um abraço e votos de bom Natal para toda a Tabanca.
Que o 2012 venha a ser menos mau do que nos vão dizendo.
Um abração
Carlos Pinheiro
RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE BISSAU (6)
Pedaços de História da Guiné
“NOTÍCIAS DA GUINÉ”
Domingo, 9 de Fevereiro de 1969
Na minha qualidade de “privilegiado” por ter passado a minha comissão de 25 meses, 10 dias e não sei quantas horas na cidade de Bissau, tenho-me vindo a aproveitar desse “privilégio” para dar a conhecer, especialmente aos camaradas do mato, nomeadamente aos do meu tempo, algumas das realidades de Bissau que lhes passaram certamente ao lado.
Depois de recentemente ter relatado a “história” da “Presse Lusitânia”, dando à estampa alguns dos seus exemplares, que era trabalhada na “minha guerra”, o STM, quero hoje partilhar com todos os camarigos um exemplar completo do “NOTICIAS DA GUINÉ”, que, como diz o cabeçalho, era o Boletim do Centro de Informação e Turismo da Guiné, o SNI lá do sítio, em tamanho reduzido, como devem compreender.
São notícias daquela época, que têm que ser lidas dentro do contexto que se vivia naqueles tempos, mas que de algum modo merecem ser conhecidas e recordadas para que a memória não esqueça, como agora se diz, para memória futura, mas também porque as mesmas já fazem parte da história.
De entre todo o noticiário desta edição, permito-me salientar algumas notícias por razões óbvias, a saber:
- O 5º aniversário do Programa das Forças Armadas;
- As Visitas do Governador e Comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné;
- Exposição de material capturado ao inimigo,
- A Noticia do Governo da Província da Guiné onde se relata a tragédia da jangada na passagem do Rio Corubal que provocou a morte de 47 militares, com a indicação dos seus nomes que eu sublinho por motivos óbvios e ainda,
- A publicação do Boletim Informativo das Forças Armadas, Boletim periódico, onde informavam somente o que queriam, para não se dizer que não informavam nada. Era a realidade daquela altura…
Mas passando página a página, logo na 1ª, para além de outras notícias, encontramos a evocação, um ano depois, da visita do Chefe do Estado à Província, as Comemorações do 5º Aniversário do Programa das Forças Armadas, o P.F.A. como se popularizou, notícia que continua depois na página 2 mais desenvolvida, permitindo-me ainda destacar a notícia acerca das “Visitas do Governador e Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné”, ao interior da Província, com seguimento também na página 2, onde se relatam visitas a Madina do Boé, Aldeia Formosa, estrada Buba - Aldeia Formosa, Piche, Ponte Caium, Camajabá, Bunane, Copá, Bajocunda, Sinchã Sambel, Canjufa, e Sinchã Sama.
Na 2ª página encontramos então a continuação das notícias da capa como anteriormente referi.
Na 3ª página temos “A cidade - pessoas e factos”, como sejam a Peregrinação a Meca, Mocidade Portuguesa, Numeração de Prédios, Conferência Feminina de S. Vicente de Paulo, Missa por alma de António Ferreira da Silva, Fomento Industrial, Arquitecto Licínio da Cruz, Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné sendo a última a anunciar a chegada de 200 Toneladas de Arroz Novo a Bissau que “começou a ser descascado nos complexos industriais da cidade”. Completa esta página o relato de uma exposição de Jota Álamo no Centro de Informação e Turismo e ainda a publicidade dirigida às Exmas. Classes Médica e Farmacêutica a anunciar a chegada das “modernas escovas de dentes JORDAN” fabricadas na Noruega e distribuídas pela PROQUIL – Bissau.
Na página 4 temos mais publicidade desde o “Grande Hotel” até ao “Dum-Dum” (Spray) distribuído em exclusivo pela PROQUIL, passando pelo “Baygon” em spray e em pó, à venda na Farmácia Higiene – Bissau, Restaurador para o cabelo “DOMINACÔR”, distribuído pela Soc. Com. De Representações, Lda.,Venda de uma máquina de costura e de um “Peugeot 404” em estado novo e Explicações de Inglês, sendo a mesma completada com uma certidão do Notariado Português - Comarca da Guiné onde consta a constituição da Sociedade Por Quotas, “Escola de Condução Gomes & Gomes, Limitada”, com sede na Vila de Farim cujo capital social é de cento e cinquenta mil escudos, totalmente realizado.
A página 5 é totalmente dedicada ao Desporto, Campeonato da Guiné cujos clubes eram a UDIB, o Benfica, a Sacor, a S.C.U., Nuno Tristão, Tennis, e o Sporting, Efemérides, Noticias Em Duas Linhas onde se refere que o Vitória de Setúbal ia jogar em Alvalade com o Newcastle porque o Estádio do Bonfim ainda não tinha luz artificial e ainda que Costa Pereira ia jogar numa selecção internacional com Torres, Eusébio e Coluna, a Taça das Feiras e a final em dois jogos, a chave do TOTOBOLA com os jogos União de Tomar - V. Setúbal, Braga - Sanjoanense, Belenenses - Leixões, Académica - Sporting, CUF – Guimarães, Boavista – Famalicão, A. Viseu – Mar, Covilhã - Salgueiros, Espinho – Penafiel, Valecambrense - Gouveia, Leões – Barreirense, Seixal – Torriense e Luso - Sesimbra, Passatempos desportivos e ainda uma pequena noticia acerca do novo Presidente do Município de Vagos, como podem ver.
Agora na página 6, para além de “Noticias do Estrangeiro” e “Várias Noticias”, de entre as quais vem a “Notícia do Governo da Província da Guiné” acerca da tragédia que foi o desastre da jangada no rio Corubal que transportava parte da CCAÇ 1790 e onde morreram 47 militares por afogamento, com a indicação completa dos seus nomes e ainda uma pequena noticia acerca de uma Exposição de material capturado ao inimigo levada a afeito de 9 a 16 de Fevereiro daquele ano na Fortaleza de S. José de Bissau (Amura) e outra do Conselho Administrativo do Fundo de Construção de Casas para Funcionários onde é anunciado que uma moradia tinha ficado vaga pelo que todos os funcionários civis da Província se podiam habilitar à mesma.
Na página seguinte temos NOTICIAS DA METRÓPOLE, noticias estas de Lisboa, de Fafe, de Valpaços, de Coimbra, de Castelo Branco, de Braga e de Santo Aleixo da Restauração (Moura) falando cada uma delas acerca de motivos do que por cá se passava naquela altura.
Passando à página 8, Anúncios e mais anúncios, do Médico Pediatra Heliodoro Guitana, Instalações eléctricas da S.T.E.I.A., Super VITABRIL creme para o penteado, Anúncios da Câmara Municipal de Bissau a anunciar a venda de terrenos a $40 (quarenta centavos, um cruzado, quatro tostões) o m2, HALAZON spray-oral, Brilhantina Africana, TOTOBOLA - entregue o seu boletim na Confeitaria Império, pedido de emprego, oferta para tratar de assuntos na Metrópole, Farmácia Higiene de Bissau, Secretaria Notarial da Póvoa de Varzim, Venda de Mobílias, de Sinca 1000 GI, Fiat 600, Aparelhagem de Laboratório, Prédio novo, Frigorifico eléctrico Kelvinator 170, Austin 1100, Taunus 12M Super, Aluguer de quarto a casal, de Moradia, de outro quarto, de Cervejaria-Bar, mais uma moradia, outra moradia, ainda outra moradia, Precisa-se de quarto, Compra-se frigorifico a petróleo, a Óptica Barros anuncia ter recebido grande remessa de napas, Sorteio de um Vauxall Velox, Ciclo Preparatório, pedido de emprego, Farmácias de Serviço e Padaria Transmontana no Bairro da Ajuda a anunciar o seu bom, pão, folar transmontano e arrufadas.
Na página 9 temos o Boletim Informativo das Forças Armadas – período de 27 de Janeiro a 2 de Fevereiro e outras notícias continuadas de páginas anteriores onde se inclui o Aniversário do PFA, Uma entrevista com o Dr. Luiz G. Barros e mais um anúncio da Farmácia Higiene de Bissau acerca do 2º DEBUT.
Na última página, a contracapa, temos várias notícias de informação geral como sejam “A viagem de três Toureiros portugueses através do Continente Africano”, “Animal angolano possuidor de dentes com virtude medicinais”, e mais duas notícias de Lisboa, “Condenado por ter atropelado mortalmente dois sexagenários”, e “Duas mulheres e dois homens condenados a prisão maior” e uma notícia de Luanda “Morto vivo causa pânico num Muceque Luandense”. A página termina com uma pequena “caxa” onde se informa, acerca do Dr. Oliveira Salazar, que na quarta-feira, pelas 15 horas locais, foi o eminente estadista transportado para a sua casa em S. Bento. O seu estado é satisfatório.
Por incrível que possa parecer nos dias de hoje, o jornal não indicava a sua ficha técnica e nem sequer o nome do seu Director.
Mesmo admitindo que todo este repositório de lembranças da Guiné e especialmente de Bissau daquele tempo, pouco ou nada possam interessar a muitos camarigos, no entanto quero admitir que os interessados pela História duma época e duma região, poderão encontrar algum interesse nestas recordatórias.
Mas como cada um pode e deve contar o que passou, eu não posso contar nada de tiros, até porque só tive uma arma distribuída por um período de 12 horas, mas entendo que posso e devo contar as peripécias do dia-a-dia duma comissão em que grande parte do tempo nem me apercebia de quando era noite ou era dia uma vez que trabalhava 12 horas e descansava 24.
De qualquer forma, penso que a publicação deste jornal poderá ter algum interesse especial para os sobreviventes da CCAÇ 1790 e para os historiadores o que ali é relatado, de forma muito reduzida, é certo, acerca da tragédia que foi o desastre do Corubal.
A quem tiver tido a paciência de ler este escrito, muito maior do que o habitual, os meus agradecimentos e desde já fico a aguardar os comentários.
Um abração do
Carlos Pinheiro
19.12.11
Nota: - Clicar nas imagens para as ampliar
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8999: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (5): Efeitos colaterais da crise académica de 1969
Guiné 63/74 - P9272: Memória dos lugares (168): Bambadinca, de 1969/71... Evocando a figura do antigo comerciante Fernandes Rendeiro, natural da Murtosa, recentemente falecido... (Leopoldo Correia)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72)> Vista (parcial) da tabanca de Bambadinca, com o O Rio Geba ao fundo, e a saída para leste (no sentido de Bafatá)... Em primeiro plano, a morança do comerciante português Rodrigo Fernandes Rendeiro, casado com uma mulher mandinga, Auá Seide, que tinha uma prole numerosa. Faleceu recentemente, no passado mês de setembro. Paz à sua alma. Fui visita da sua casa e beneficiei da sua hospitalidade. A Auá Seide, que o Rendeiro nunca mostrava aos seus convidados, militares, era uma excelente cozinheira, a avaliar pelo seu chabéu de frango de cuja e sabor ainda me lembro... Também nunca me lembro de ter vistos os seus filhos, embora ele nos falasse, com orgulho, de uma filha mais velha, já a estudar no Continente...
Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Ainda o ano passado, no convívio do pessoal do BART 2917, soube através do Dr. António Vilar, médico, que é de Aveiro, que o antigo comerciante de Bambadinca ainda estava vivo. Teria então cerca de 90 anos ou por aí perto.
Terá nascido, portanto, por volta de 1920. Recordo-me de ele dizer que tinha vindo para a Guiné com 17 anos. Na altura em que com ele privámos, em Bambadinca, era homem de meia idade, perto de 45 anos. (Pelas mimnhas contas, teria nascido em 1925/26). Sempre magro de cara e de corpo (contrariamente ao outro comerciante de Bambadinca, o Zé Maria), tinha uma loja e armazéns junto ao nosso aquartelamento. Fico grato ao nosso leitor (e camarada) Leopoldo Correia por nos dar notícias, embora más, desta família, que era nossa vizinha e de cuja hospitalidade beneficiámos, alguns de nós...
Também o Beja Santos já evocou aqui, há tempos, o Rendeiro e a sua loja, nestes termos:
"Luís, li os teus comentários sobre as guloseimas de Bambadinca. Seria bem interessante que se desencadeasse aí uma tempestade de recordações à volta da mesa, não os acepipes de Bissau mas os desenrascanços das gazelas de mato e peixe da bolanha, bem como os cantineiros que ainda conhecemos e que nos ajudaram a levantar a moral da muita comida sorumbática a que éramos obrigados.
"Quase me sinto a entrar na loja do Rendeiro (o concorrente do José Maria de Bambadinca) onde eu encomendava o caldo de mancarra à subida da rampa, para todo o contingente que me acompanhava, naquele dia". (...)
2. Do nosso leitor e camarada Leopoldo Correia:
De: Leopoldo Correia [mailto:correia.leopoldo@gmail.com]
Enviada: domingo, 25 de Dezembro de 2011 10:29
Assunto: Feliz Natal e um Próspero Ano de 2012, Felicidades!!
Bom dia de Natal. Este contacto é de um camarada conterrâneo do tuga de Bambadinca, Fernandes Rendeiro, que pelo que eu tenho lido era um bom amigo das [Nossas] Tropas.
O Joaquim Mexia [Alves] também o evoca várias vezes. Infelizmente já não está entre nós, pois foi sepultado na sua terra natal [, Murtosa,] em 10/09/2011, tendo eu assistido ao funeral e tido contacto com toda a " ínclita geração", os filhos de Fernandes Rendeiro / Auá Seide, da qual só tenho a dizer bem. A que estudava em Coimbra, era licenciada em direito e era magistrada: faleceu também há cerca de 5 anos. Era juíza do Ministério Público em Lisboa.
Por hoje já basta de más notícias, não acham ?
Continuação de Boas Festas para toda a Família e cumprimentos do
ex-Fur Mil Leopoldo Correia
"Eduque os meninos e não será preciso castigar os Homens" (Pitágoras)
Feliz Natal e um Próspero Ano de 2012, Felicidades!!
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9226: Memória dos lugares (167): As nossas lavadeiras da Guiné, a nossa Amélia de Bissorã (Maria Dulcinea)
Também o Beja Santos já evocou aqui, há tempos, o Rendeiro e a sua loja, nestes termos:
"Luís, li os teus comentários sobre as guloseimas de Bambadinca. Seria bem interessante que se desencadeasse aí uma tempestade de recordações à volta da mesa, não os acepipes de Bissau mas os desenrascanços das gazelas de mato e peixe da bolanha, bem como os cantineiros que ainda conhecemos e que nos ajudaram a levantar a moral da muita comida sorumbática a que éramos obrigados.
"Quase me sinto a entrar na loja do Rendeiro (o concorrente do José Maria de Bambadinca) onde eu encomendava o caldo de mancarra à subida da rampa, para todo o contingente que me acompanhava, naquele dia". (...)
2. Do nosso leitor e camarada Leopoldo Correia:
De: Leopoldo Correia [mailto:correia.leopoldo@gmail.com]
Enviada: domingo, 25 de Dezembro de 2011 10:29
Assunto: Feliz Natal e um Próspero Ano de 2012, Felicidades!!
Bom dia de Natal. Este contacto é de um camarada conterrâneo do tuga de Bambadinca, Fernandes Rendeiro, que pelo que eu tenho lido era um bom amigo das [Nossas] Tropas.
O Joaquim Mexia [Alves] também o evoca várias vezes. Infelizmente já não está entre nós, pois foi sepultado na sua terra natal [, Murtosa,] em 10/09/2011, tendo eu assistido ao funeral e tido contacto com toda a " ínclita geração", os filhos de Fernandes Rendeiro / Auá Seide, da qual só tenho a dizer bem. A que estudava em Coimbra, era licenciada em direito e era magistrada: faleceu também há cerca de 5 anos. Era juíza do Ministério Público em Lisboa.
Por hoje já basta de más notícias, não acham ?
Continuação de Boas Festas para toda a Família e cumprimentos do
ex-Fur Mil Leopoldo Correia
"Eduque os meninos e não será preciso castigar os Homens" (Pitágoras)
Feliz Natal e um Próspero Ano de 2012, Felicidades!!
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Nota do editor:
Último poste da série > 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9226: Memória dos lugares (167): As nossas lavadeiras da Guiné, a nossa Amélia de Bissorã (Maria Dulcinea)
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