sábado, 7 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (JERO)



1. O nosso Camarada José Eduardo Oliveira - JERO -, (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), enviou-nos a seguinte mensagem: 


A CAMINHO DE IEMBERÉM COMO VOLUNTÁRIA DA “AD”

Camaradas,


Remeto-vos mais um texto que, nos tempos que correm, julgo ser um  grande exemplo de generosidade e amor pelo próximo. Uma senhora, que  poucos meses depois da reforma, resolve ir fazer voluntariado para a  Guiné, para a zona da Mata do Cantanhez.

Família, amigos(as), ex-colegas, ex-vizinhos:
 
Chegou o dia da partida. Hoje às 21.30 embarco para a Guiné-Bissau. No Domingo bem cedo,às 6 da manhã, farei a viagem para o Sul, para Iemberém, onde ficarei a residir nos próximos 6 meses. Vou contente, esperançosa, de muito aprender e, quem sabe, ensinar também.
 
Obrigada a todos os que partilharam comigo estes meses de preparação desta viagem, àqueles que me ajudaram de uma ou outra forma, àqueles que nos últimos dias me têm contactado para um último adeus.
 
Parece que vou para o fim do mundo mas não é assim. São só 3300 Kms de distância, 4 horas de voo e até dá para lá ir de carro. A alguns, os(as) mais atrevidos(as), eu espero um dia receber em Iemberém.
 
Aqui fica para cada um de vós um grande abraço e um até breve.
 
Anabela Pires
(6.Janeiro.2011)


Fotografia: © João Graça (2009). Direitos reservados.

Voluntariado na Guiné 

Conheci a Anabela Pires, em Coimbra, no dia do falecimento de sua Mãe.Já lá vão um bom par de meses. A conversa foi de circunstância e a minha presença na cerimónia religiosa ,no dia do funeral, deveu-se à minha relação fraterna com a sua irmã Margarida Pires, professora em Alcobaça e camarada de boas causas (Defesa de Património Cultural e outras). 

No último Verão soube pela Margarida que a sua irmã Anabela queria fazer serviço voluntário na Guiné. Falei-lhe do nosso Pepito (nickname do Engenheiro Agrícola Carlos Schwarz da Silva), que vive e trabalha em Bissau desde 1975, sendo um dos fundadores da AD - Acção para o Desenvolvimento. 

O mundo é pequeno e a Anabela Pires tinha sido colega e amiga da Alice Carneiro, mulher do nosso Editor Luís Graça. 

Poucos dias depois estava a falar com as pessoas certas e em poucos meses “arrumou” a sua vida para cumprir esse seu velho de sonho de fazer voluntariado em África. 

Esteve em minha casa na passada 4ª. feira, dia 4, a despedir-se e, obviamente a fazer-me perguntas sobre a “nossa” Guiné. Respondi-lhe gostosamente e tentei atenuar alguns dos seus receios em relação “a cobras e lagartos”. E ofereci-lhe um exemplar do meu livro “Golpes de Mão’s” com uma dedicatória em que lhe chamava “Mulher Grande”. 


Pedi-lhe para escrever alguma coisa para o nosso blogue. Agradeceu o convite mas disse-me que era cedo. Escreveria “quando tivesse feito alguma coisa de bom na Guiné”.
Recebi hoje o e.mail que reproduzi no início deste texto. E respondi como segue.

«Olá Anabela




Relendo o texto fixei-me de novo na parte do e.mail da Anabela em que diz:

«A alguns, os(as) mais atrevidos(as), eu espero um dia receber em Iemberém.»

Sinceramente passei ,a partir deste momento, a ser candidato a uma viagem à Guiné.
O futuro o dirá.

Em ano de crise percorrer 3.300 kms…não é (quase) nada!

E por uma boa causa…valerá sempre a pena.

JERO
Fur Mil da CCAÇ 675 
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em: 




Obrigado em meu nome e ,julgo poder dizê-lo, em nome de todos que passaram pela Guiné fazendo a guerra mas recordando, essencialmente, a paz..

Que tudo corra bem e parabéns aos Guineenses por terem junto deles a partir de hoje uma Mulher da sua raça. Uma Mulher (de) Grande (coragem).

Até breve.

Com todo o afecto (com “c”) aceite um apertado abraço do JERO».

Guiné 63/74 - P9324: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (3): Homilia do Alf Mil Capelão Arsénio Chaves Puim, em Viana do Castelo, a 6/5/1970, na missa da benção dos guiões, antes da partida (Benjamim Durães)

Fonte: Excertos de História do Batallhão de Artilharia nº 2917, de 15 de Novembro de 1969 a 27 de Março de 1972. (*)


Anexo ao Capítulo I da História da Unidade >

CERIMÓNIAS DE DESPEDIDA > 06.MAIO.70


 O dia amanheceu chuvoso em Viana do Castelo. Foi o dia marcado para oficialmente a Cidade se despedir do BART 2917. Foi o dia em que cada Unidade recebeu o seu Guião.


Igreja de São Domingos – 10, 30 horas


Na Capela-Mor as entidades de Viana do Castelo que quiseram honrarem com a sua presença:

- Reverendíssimo Arcipreste do Julgado Eclesiástico de Viana do Castelo;
- Governador Civil do Distrito;
- Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo;
- Comandante Militar;
- Capitão do Porto de Viana do Castelo;
- Comandante Distrital da GNR;
- Presidente da Junta Distrital;
- Delegado do INTP;
- Comandante Distrital da PSP;
- Comandante da Secção da Guarda Fiscal;
- Comandante Distrital da Legião Portuguesa;
- Senhoras do Movimento Nacional Feminino local;
- Senhoras da Cruz Vermelha Portuguesa;
- Delegado Distrital da Mocidade Portuguesa;
- Delegado Distrital da Mocidade Portuguesa Feminina;
- Comandante do Batalhão de Caçadores Nº 9.


Estranhos a Viana do Castelo, [eram] apenas o Comandante do RAP 2, Coronel de Artilharia Neto Parra, a quem pelo telefone foi pedido que representasse o Comandante da Região Militar do Porto que,  intimidado pela chuva ou pela distância, brilhou pela ausência, e o Capelão da Região Militar do Porto.

Presente na vasta nave, o Batalhão assistiu à “Bênção dos seus Guiões”,  seguida de missa celebrada pelo nosso Capelão, Alferes dos Serviços Religiosos Arsénio Chaves Puim

À homilia o nosso Capelão Alferes Graduado Arsénio Chaves Puim  [foto à direita] disse:

“Amigos e Companheiros:


"O problema fundamental do homem não é ser oficialmente cristão. O cristianismo existe em razão e em função da verdade e do bem objectivos e não é, portanto, verdadeiro e bom porque é cristianismo, mas é cristianismo, porque é verdadeiro e bom.


"De resto, o cristianismo é essencialmente um espírito e uma vida, uma mentalidade e uma conduta efectiva, que não aceita monopolistas nem detentores absolutos.


"O problema fundamental do homem também não é ser oficialmente cristão, na medida em que isso pode implicar desvio da verdade e do bem, e até cobardia e falta de personalidade, além da falta de estudo e procura. O problema fundamental dos homens, penso que é um problema de seriedade e verdade, de coerência consigo, de autenticidade humana e realização da missão de vida.


"Cristo apareceu num determinado ponto do curso da história humana e, num programa de autêntico revolucionário, destroçou erros, descentralizou frases legalistas, focalizou as grandes virtudes do amor e da justiça e aperfeiçoou o âmbito dos conhecimentos e da Fédos homens.

"A Igreja adoptou, ou melhor, nasceu desse Cristo e pregou-o. Os povos aceitaram-no ou guerrearam-no e todos, em movimentos de adesão ou combate e heresia, influenciando-se mutuamente, têm contribuído para o desenvolvimento progressivo da verdade evangélica e a realização mais precisa e renovada do espírito de Cristo no Mundo, que é de Fraternidade na Liberdade, Acção na Justiça, Paz no Progresso.

"No fim de contas, todo o Mundo e todos nós, Cristãos ou não, assumimos muito do espírito cristão e encontramo-nos num ponto de convergência, não só pelo respeito e amor mútuos, mas na posse da verdade essencial.

"É por isso que aqui estamos todos nesta Missa e que eu ouso confiar na compreensão daqueles que, porventura, em circunstâncias de maior espontaneidade, não estariam aqui presentes neste momento.

"A Missa é de facto, na sua origem, essência e história, um acto do culto católico, que não pode ser número de, programa acomodado sem efeito a propósito ou, ideologias que não sejam a prestação pura de honra ao Pai da humanidade e com Cristo incarnado e sacrificado, e a comunhão da Palavra e do Pão de Deus.

"Julgo porém que, segundo o que disse, esta missa será um acto de grande profundidade existencial e estimulante solidariedade humana e religiosa para esta comunidade, que todos nós formamos - ”O Batalhão 2917”.


"Deixamos com saudades as nossas famílias, estamo-nos a despedir deste simpático povo de Viana do Castelo, e em breve deslocar-nos-emos para a Guiné, onde vivemos juntos dia a dia, pisando as mesmas dificuldades e sacrifícios, realizando a mesma vida, com uma nova família, onde todos formarão um, cada um viverá para todos e todos para os outros.


"Esta hora de missa deverá bem sintetizar, consolidar e intensificar esse espírito de comunidade que nos une, assim como os altos ideais humanos e cristãos, que são apanágios de todos os homens de boa vontade em quaisquer circunstâncias.


"Os exércitos também têm a sua mística altamente humanitária, que não a guerra, essa nunca poderá ser um ideal ou valor em si mas a defesa do direito de todos, a garantia da liberdade dos povos, a consecução da paz justa, o compromisso apenas com verdade.


"O Batalhão 2917 viverá rectamente esta missa e a sua comissão de serviço na Guiné se para todos pesar um desejo sério de sermos homens mais perfeitos, uma comunidade militar autêntica ao serviço dos outros (da África Negra) e construirmos um Mundo melhor.”


Que assim seja!
____________

Nota do editor:


(*) Vd. último poste da série > 6 de desembro de 2012 > Guiné 63/74 - P9322: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (2): "P'la Guiné e suas gentes": a alocução patriótica do comandante, em Viana do Castelo, a 8/4/1970, antes da partida (Benjamim Durães)

Guiné 63/74 - P9323: Álbum fotográfico de José Eduardo Silva: A Marinha e a FAP em 1966

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2012:

Queridos Amigos,
Fotos que nos foram oferecidas pelo Zé Eduardo*, amigo de um primo, autoriza a sua divulgação no nosso blogue. Ele explica a proveniência, di-lo explicitamente.
Um pequenino ronco, mais uma glória para o nosso grandioso álbum.

Um abraço do
Mário


Álbum fotográfico de José Eduardo Silva: A Marinha e a FAP em 1966

Fotos da Guiné, e provavelmente alguma de Cabo Verde, tiradas pelo Capitão de Fragata José Januário da Conceição e Silva, Ajudante de Campo do Ministro da Marinha Almirante Quintanilha de Mendonça Dias, numa visita aos teatros de operações em 1966.
Zé Eduardo



Fotos: © Coleção familiar, cedidas por José Eduardo Conceição e Silva - Jan 2012. Direitos reservados

Notas do editor:

(*) Zé Eduardo é Presidente da Direcção da AGM - Associação Grémio das Músicas

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9322: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (2): "P'la Guiné e suas gentes": a alocução patriótica do comandante, em Viana do Castelo, a 8/4/1970, antes da partida (Benjamim Durães)

Raras são as histórias das unidades, que serviram no TO da Guiné, que transcrevem discursos ou alocuções dos seus comandantes e oficiais. A História do BART 2917 surpreende pela exceção: publica uma alocução do seu comandante, no final do IAO, em Viana do Castelo, bem como uma homilia do seu capelão (o alf graduado cpelão Arsénio Puim, membro da nossa Tabanca Grande)... 

É material de inegável interesse para o estudo dos aspetos discursivos, éticos, disciplinares, doutrinários e político-ideológicos, da formação, comando e enquadramento das NT. Vamos publicar essas duas peças, em separado.

Referência à História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; o excerto que hoje se publica consta da versão, em suporte digital, corrigida, aumentada e melhorada pelo Benjamim Durães, igualmente nembro da nossa Tabanca Grande.  

Com a devida vénia e com o nosso apreço por todos os camaradas do BART 2917 para quem vão as nossas saudações, ainda a tempo, no início do novo ano de 2012. L.G. (*)


Fonte: Excertos de História do Batallhão  de Artilharia nº 2917, de 15 de Novembro de 1969 a 27 de Março de 1972.



CAPÍTULO I

HISTÓRIA DO BATALHÃO DE ARTILHARIA Nº 2917

MOBILIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E DESLOCAMENTO PARA O C. T. I. G.


01 –A Circular Nº 33631/MOB de 15.NOV.69 da Repartição de Oficiais da DSP/ME difundiu a mobilização dos Oficiais superiores para o BART 2917 destinado a reforço do CTIG, ficando assim constituído o seu Comando:

- CMDT – Tenente-Coronel de Artª DOMINGOS MAGALHÃES FILIPE;

- 2º CMDT – Major de Artª                                JOSÉ ANTÓNIO ANJOS DE CARVALHO; e,
- ADJUNTO – Major de Artª                               JORGE VIEIRA DE BARROS E BASTOS.

02 – A Circular 33570/MOB de 15.NOV.69 da Repartição de Oficiais da DSP/ME difunde a mobilização em bloco dos quatro Capitães do Batalhão que, após uma escolha pessoal, ficaram distribuídos como se segue:

- CCS / BART – Capitão de Artª                      GUALBERTO MAGNO PASSOS MARQUES;
- CART 2714 – Capitão de Artª                      JOSÉ MANUEL DA SILVA AGORDELA;
- CART 2715 – Capitão de Artª                      VITOR MANUEL AMARO DOS SANTOS; e,
- CART 2716 – Capitão Mil. de Artª               FRANCISCO MANUEL ESPINHA DE ALMEIDA.




03 – Várias Circulares posteriores nomeiam o restante pessoal do Batalhão.

04 – Depois do estágio de contra-insurreição, frequentado no Centro de Instrução de Operações Especiais em LAMEGO (CIOE), pela quase totalidade dos seus quadros, estes apresentaram-se no RAP-2 (Regimento de Artilharia Pesada Nº 2) onde de 03.DEZ.69 a 20.DEZ.69 decorreu a Instrução Preparatória de Quadros com vista à instrução da Especialidade de Atirador de Artilharia do 4º Turno da Escola de Recrutas de 1969 que ali iria decorrer e que forneceria o grande contingente de atiradores do Batalhão.

- Tendo como Director de Instrução o ADJUNTO DO BATALHÃO (Major de Artª Barros e Bastos), que no desempenho das funções foi sempre interessadamente apoiado pelo CMDT DO BART - TENENTE CORONEL DOMINGOS MAGALHÃES FILIPE, a instrução programada foi frequentemente alterada devido às condições climatéricas do momento. Contudo, com excepção do Aspirante a Oficial Miliciano ANTERO J. D. SOARES que apenas a frequentou durante 5 dias por ter baixado ao HMP, todo o pessoal teve aproveitamento.  [...]

05 – Em 03.JAN e 04.JAN.70 fez-se a concentração no Quartel da Serra do Pilar, (RAP-2) em VILA NOVA DE GAIA, dos recrutas vindos do Centro de Instrução Básica, a quem foi ministrada durante sete semanas a especialidade de Atirador de Artilharia, instrução que decorreu nos terrenos do RAP 2, Monte da Virgem em VILA NOVA DE GAIA, terrenos da Carreira de Tiro de ESPINHO, e matas nacionais na área de CORTEGAÇA-ESMORIZ.

06 – Em 23.FEV.70 inicia-se a organização das Unidades mobilizadas para o Ultramar do 4º Turno de 1969, realizando-se a concentração do BART 2917 na vetusta fortaleza de SANTIAGO DA BARRA, em VIANA DO CASTELO, ficando o BATALHÃO adido ao BC 9 (Batalhão de Caçadores nº 9), seguindo-se-lhe de 02.MAR.70 a 21.MAR.70 a primeira parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IOA).

07 – De 23.MAR a 01.ABR.70, todo o pessoal gozou a “licença de nomeação para o Ultramar” nos termos do Artº 20º das Normas para a Nomeação e Cumprimento de Comissões Militares ficando o Batalhão pronto para embarque em 04.ABR.70.

08 – Entretanto fora tomado conhecimento da Circular 519/PM de 12.FEV.70 da 1ª REP do E.M.E. que informava que o BATALHÃO DE ARTILHARIA 2917 e suas COMPANHIAS DE ARTILHARIA 2714, 2715 e 2716 se destinavam a render no Comando Territorial e Independente da Guiné (C. T. I. G.) o BATALHÃO DE CAÇADORES 2852 e as COMPANHIAS DE CAÇADORES 2404, 2405 e 2406 em serviço na mesma Província.

09 – Em virtude de ter sido protelado o embarque do BART 2917 inicia-se, após o regresso de “Licença das Normas”, a segunda parte de Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (I. A. O.).

10 – Toda a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (I.A.O.) decorreu predominantemente em ambiente muito acidentado (Serra de Santa Luzia em Viana do Castelo) apesar dos esforços feitos pelo Comando do Batalhão para que tal se desenrolasse em zonas tanto quanto possível planas semelhantes às da Província em que o Batalhão viria servir, pelo menos como as de CORTEGAÇA-ESMORIZ onde se haviam desenrolado os exercícios de campo da I. E., mas razões de ordem logística e de planeamento superior impediram a satisfação de tal desejo.

11 – Na segunda parte do I. A. O., a mentalização do pessoal para servir na Província da GUINÉ teve os seus momentos de maior exaltação.

- Quando foi imposto individualmente a cada homem pelo graduado seu imediato comandante, em formatura geral do Batalhão, o emblema do BART 2917 com a sua divisa “P’LA GUINÉ E SUAS GENTES”.      
      
– Quando foram entregues em cerimónia pública os Guiões do Batalhão.


12 – Em 16.MAI.70 o BATALHÃO DE ARTILHARIA 2917 abandonou VIANA DO CASTELO, por via-férrea, a caminho de LISBOA, onde embarcaria na manhã de 17 DE MAIO no navio CARVALHO DE ARAÚJO, rumo à Província Ultramarina da Guiné.

  
13Em 25.MAI.70 o BATALHÃO DE ARTILHARIA 2917 desembarca em BISSAU e segue para o DEPÓSITO DE ADIDOS em BRÁ.

14 – Desembarcaram em BISSAU em 25.MAI.70, 30 Oficiais, 64 Sargentos, na sua maioria provenientes do MINHO com efeito dos 641 homens que desembarcaram em BISSAU, 269 eram naturais daquela Província. [...]

ANEXO 1

AO CAPÍTULO I DA HISTÓRIA DA UNIDADE
EMBLEMAS DO BATALHÃO

- Durante a primeira parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (I. A. O.) concluímos as discussões para encontrarmos o emblema que simbolizasse a nossa Unidade.

- Depois de grande azáfama, em que os projectos se modificavam todos os dias, por unanimidade foi aceite:

- Primeiro a forma (a do ESCUDO das centúrias romanas e ao utilizá-la invocámos a determinação dos Centuriões), depois a cor fundamental - (o VERDE da nossa esperança) a seguir, com os parcos conhecimentos de heráldica e muita boa vontade de todos, a mão firme do Furriel Miliciano Atirador FRANCISCO MANUEL ESTEVES SANTOS, da CART 2716, deu forma às ideias traçando:

- O cavaleiro de um escudete, quartejado pela cruz da Região Militar do Porto; o elmo encimado pelo leão rampante empunhando a granada característicos do Exército Português e das suas unidades de Artilharia; no quartel superior esquerdo do escudete, as granadas da nossa Unidade Mobilizadora (RAP 2); no quartel superior direito a armas da Província da Guiné onde vamos servir; enquadrando todo o conjunto ao alto a designação da nossa Unidade (BART 2917), e na base a nossa divisa “P’LA GUINÉ E SUAS GENTES” lateralmente as palmas de louros que acompanham os vencedores.

- E chegou o dia 08.ABR.70, estava no fim a primeira parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional; já não era uma amálgama de homens, era o BATALHÃO DE ARTILHARIA 2917 formado por um conjunto de equipas agrupadas em secções, estas em Grupos de Combate e estes em Companhias.

- As velhas pedras da vetusta FORTALEZA DE SÃO TIAGO DA BARRA viram formado no seu pátio o BART 2917, sob o Comando do 2º Comandante, prestar continência ao seu Comandante, Tenente Coronel de Artilharia DOMINGOS MAGALHÃES FILIPE e ouviram-no proferir:



 "Militares do BART 2917,

"Estamos hoje aqui reunidos quase todos os elementos que constituem o nosso Batalhão. É desejo de todos nós que, daqui a 2 anos, ao regressarmos, aqui todos também nos possamos voltar a juntar.

"No Ultramar, muitos dos que morrem ou se incapacitam, são vítimas de desleixo e falta de obediência pronta e completa, às ordens recebidas. A maioria das baixas é devida a desastres com viaturas auto ou a acidentes com armas de fogo. Os excessos de velocidade e as manobras perigosas são permanente precaução. No mato só se atira para acertar. Os tiros à sorte, são os que matam os nossos Camaradas.

"No Quartel as armas estão sempre em segurança, sem bala na câmara. Não queremos que a falta de cuidado nos abra ferida na nossa consciência.

"Mesmo em situações difíceis nem tudo está perdido quando não se perde a cabeça. Como vocês irão ver, com os vossos próprios olhos, não é a situação da Guiné tão má como a pintam, e posso assegurar-vos de que ela melhorou consideravelmente nos últimos meses.

"Vai-nos ser exigido muito esforço. Há abrigos para melhorar, trincheiras para abrir, capim para cortar, e tudo isto sob a acção dum sol que queima e de um calor que sufoca. Mas vale a pena, quanto mais suarmos, menos sangue derramaremos. Muito teremos de palmilhar na mata, muitas e longas noites teremos de permanecer imóveis de olho alerta e ouvido à escuta em silenciosas emboscadas, isso nos poupará muitas vidas.

"Procurando, perseguindo e abatendo o inimigo, impedimos que nos procure a nós, nos surpreenda e nos cause danos que todos profundamente sentiríamos. Sendo fortes, corajosos e animados de inquebrantável vontade de vencer, logo o inimigo disso se aperceberá, e perante a nossa força, fugirá como gato de água, deixando-nos livre o caminho do sucesso. Por tudo isto, o Militar do nosso Batalhão cumprirá sempre, com alegria e determinação, as ordens que receber, por mais duras que lhe pareçam.

"O êxito é o prémio da disciplina bem observada e bem compreendida …! Vestimos a mesma farda, somos uma parte do Exército duma Nação que há mais de oito Séculos vem escrevendo, com letras de ouro e de sangue, as mais belas páginas do livro da História do Mundo. Recebemos uma herança do passado, que muitos cobiçaram e cobiçam no presente, mas que temos de a transmitir intacta aos nossos filhos.

"Contra os rochedos da nossa vontade e da nossa fé, se irão despedaçando, uma após outra, as vagas do mar turvo da subversão alimentado pelas águas sujas dos interesses das outras Nações.

"Militares do BART 2917!...

"Somos uma parte do glorioso Exército Português, somos Militares do BART 2917, e isso terá de estar sempre presente na nossa mente, na nossa alma, no nosso coração.

Vai-vos ser agora imposto o emblema da nossa querida Unidade! Vai ele ser o símbolo que nos une. Nele vedes o verde da nossa fé, aureolado pelos louros da vitória que todos ardentemente queremos. Nele estão os elementos representativos do Regimento a que pertencemos e queremos honrar, nele está simbolizado o escudo da Província, onde a nossa passagem, também queremos, fique na memória de todos. Nele está inscrita a legenda “P’LA GUINÉ E SUAS GENTES”, essas gentes portuguesas que, a seu lado e de armas na mão, vamos ajudar a defender, bem como a sua terra, que sendo sua também é nossa.

"Que o nosso emblema inspire nas populações sentimentos de simpatia, estima, confiança e admiração; que o inimigo tema quem o usa no seu peito porque somos o BART 2917; que ele se torne para nós motivo de orgulho porque sempre o honraremos; e que mais tarde, no ambiente calmo das nossas casas, no calor dos nossos lares, colocado em lugar de destaque como relíquia de um passado nosso, recorde com saudade os altos momentos vividos, a amizade que nos ligará para sempre, os esforços e sacrifícios que fizemos, com a satisfação intima de ter-mos cumprido o nosso dever, com o generoso contributo que cada um de nós deu à Pátria, mãe de todos os português de todas as corres, de todas as raças, de todas as religiões e costumes”.
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9021: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (1): Resumo dos factos e feitos mais importantes, por João Polidoro Monteiro, Ten Cor Inf (Benjamim Durães)

Guiné 63/74 - P9321: As minhas memórias (Fernandino Vigário) (1): Um Alferes Capelão que queria ensinar o Pai-Nosso ao Vigário

1. Mensagem do nosso camarada Fernandino Vigário* (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911, Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69), com data de 2 de Janeiro de 2012:

Caro amigo Carlos Vinhal , uma boa noite.
Recebi hoje teu E-mail que fala das dúvidas do Carlos Pinheiro e sobre esse assunto eu já disse o que sei.

Aproveito para enviar uma história passada comigo e um Alferes Capelão que, creio, estava no QG, não sei o seu nome nem o conhecia. Entre missas e funerais eu conheci vários, havia um que, se não estou em erro, com o posto de Tenente,  corpo franzino mas espírito de oficial militar, não dava grande confiança aos soldados.

Vai também duas fotos, uma sou eu no jipe, a outra sou eu mais três amigos e vizinhos que estavam no QG. O outro elemento não faço a mínima ideia quem seja.

Um forte abraço
Fernandino Vigário



AS MINHAS MEMÓRIAS - 1

Um Alferes Capelão que queria ensinar o Pai-Nosso ao Vigário

Caro amigo Carlos Vinhal.
Olá amigos e camaradas.
Estou de volta, e às voltas com a minha memória: como não tenho nada escrito vou tentar reconstituir uma história passada comigo e um alferes Capelão. Hesitei se a devo contar ou não, mas resolvi contar nem que seja para ficar em arquivo.

Eu, Fernandino Vigário,  ex-Soldado Condutor,  estava em Bissau no quartel conhecido por "600". Já no fim da comissão, numa manhã de Domingo (não me recorda a data, mas deve ter sido num dos primeiros meses de 1969), fui escalado para transportar um Alferes Capelão,  ainda bastante jovem a três ou quatro destacamentos limítrofes de Bissau, Safim e outros, onde estavam destacados Pelotões de Companhias do meu Batalhão 1911.

Transportar um Capelão,  para ir celebrar a Eucaristia aos ditos destacamentos, foi serviço que eu fiz várias vezes, e nem sempre foi o mesmo. O que aconteceu nesse Domingo com um bastante jovem, devia ter a minha idade ou pouco mais, que eu não o conhecia, nem nunca soube o nome porque só fiz um único serviço com ele.

Neste Domingo de manhã, depois de darmos os bons dias e trocarmos algumas palavras de circunstância, iniciámos a viagem que nos iria levar aos ditos destacamentos. O Capelão.  além de jovem era simpático e extrovertido, falava pelos cotovelos, e para espanto meu, ainda na estrada de Sª. Luzia ao cruzarmos com uma mulher ainda jovem, cabo-verdiana, por sinal bem jeitosa, atira a seguinte frase:
- Ena pá! Que gaja boa. Uff, que brasa!

Percorridas mais umas dezenas de metros, e de novo ao avistar outra mulher cabo-verdiana,  repete os comentários. Eu,  perante este cenário e vindo de um Padre, olhei-o de soslaio, meio petrificado e a pensar no que é que viria a seguir. Seria aquilo verdade?

Como eu falava pouco, na verdade sou um pouco introvertido e reservado, havia também a hierarquia, alferes e soldado,  a separar-nos, o Capelão resolve puxar por mim.
- Então, condutor, não dizes nada, o gato comeu-te a língua... pra começar diz-me lá o teu nome?
- Fernandino Vigário, meu Capelão, mas todos me tratam por Vigário.
- Vigário? Oh pá, mas és Vigário ou és vigarista?

Hesitei um pouco, mas logo respondi:
- Meu Capelão, eu sou Vigário de nome, mas sei que há por aí uns Vigários com obras feitas. Olhe, alguns até vieram parar a Bissau.
- Pois é, condutor, para quem falava pouco já estás a falar de mais, eu vou ter que te ensinar o Pai-Nosso.

Tive que me fazer um pouco palonço, não senti a rigidez militar e respondi:
- Meu Capelão, não é necessário! Eu na minha parvónia aprendi a Doutrina toda, foi o meu pai que me ensinou. Até fiz a comunhão solene!
- O teu pai ensinou-te a Doutrina mas foi às avessas, agora quem te vai ensinar sou eu.
- Meu Capelão, peço desculpa se o ofendi, mas não vejo onde o tenha feito, e longe de mim ofender quem quer que seja.
-Bem condutor, aceito as tuas desculpas e não se fala mais nisso, afinal hoje é Domingo, é o dia do Senhor, e de ouvir a Santa missa.

PS - Sou católico praticante, e nada me move contra a igreja e os Padres, antes pelo contrário, porque sempre os respeitei e ao contar esta história não pretendo denegrir nem esta, nem os padres, e estou convicto que aquele jovem Capelão tenha dado um bom padre, para mim aqueles comentários sobre mulheres eram fruto da sua juventude.

Um forte abraço para toda a Tabanca.


Malta amiga, maiatos, num Café de Bissau > A partir da esquerda: 1.º Cabo Op Cripto/QG Domingos,  Sousa da CCAÇ 1743, (?), 1.º Cabo Escriturário/QG e eu Fernandino Vigário
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9229: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (40): Comprei um computador pequeno e lentamente fui aprendendo a navegar na Net (Fernandino Vigário)

Guiné 63/74 - P9320: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (7): Fragmentos Genuínos - 5

FRAGMENTOS GENUÍNOS - 5

Por Carlos Rios, 
Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66

A minha curiosidade e ânsia de aprendizagem e o imutável espírito popularucho que sempre fez o meu tipo, contribuiu para que em todo o tempo e locais por onde passei, me interligasse com toda a facilidade com as populações e estas me aceitassem quase sem reserva.
Aqui em Fulacunda e através do Soleimane Djaló e do Salu, milícias que trabalhavam comigo observei e participei em algumas actividades que a população realizava.

Mais que uma vez o Soleimane acompanhado com diversos elementos em que se incluíam mulheres me veio ao quartel chamar para ir à pesca com eles.
O meu amigo pedia-me para levar duas granadas, o que eu fiz embora de pé atrás, desconfiado, levando também à cintura ma pistola Walter e a minha acompanhante, a Formosa (G3); saí a sorrelfa do arame farpado (nunca na Companhia ninguém soube) o aparecer armado, mereceu alguma critica, – não tem perigo Rios, dizia o Soleimane, quando me juntei ao grupo já na tabanca e onde muitos demonstraram o seu desagrado, mas depois de algumas explicações em que transmiti a minha insegurança, não fosse aparecer algum inimigo, etc… lá aceitaram relutantemente e partimos pela picada por 4/5 Km até ao porto no Geba.

Este grupo era constituído por todo o tipo de população em que se incluíam mulheres e crianças e transportava imensos cestos, esteiras e catanas.
De notar que eu era sempre o ultimo da fila; alguma insegurança, sei lá?

Chegados ao local, estava a maré vazia, o pessoal espalhou as esteiras pelo chão e pôs-se na beira da rio com os cestos e as catanas, após o que o Soleimane me disse para lançar as granadas para dentro de água .
Poucos momentos passados um imenso cardume de todo o tipo de peixes, vogava à superfície e foi recolhido em grande quantidade com os cestos principalmente utilizados pelas mulheres, enquanto os homens aos pares junto do tarrafo apanhavam ostras às centenas, enquanto um aparava com um cesto, o outro com a catana raspava aí para dentro as grandes quantidade ali presas.

As mulheres espalhavam o peixe nas esteiras, escolhiam os que entendiam e logo ali na beira do rio os arranjavam e escalavam para depois de preparados, salpicavam-nos com sal e qualquer outro ingrediente que nunca soube o que era, para serem postos ao sol nas coberturas dos tabancas.

Depois do regresso e após um retemperador banho de agua fria, o regresso era sempre muito cansativo e ensolarado dirigia-me à cantina onde se comentava que de certeza ao “turras” tinham bombardeado algum barco patrulha da marinha lá para os lados do porto porque se ouviram bem os rebentamentos. Pela minha parte moita carrasco!

Grandes petiscadas de ostras, peixe seco, etc..etc… fiz no seio da tabanca! Só o diabo dos picantes e bebidas é que eram fogo.
Só muitos anos mais tarde tive oportunidade de entender o porquê daquela preparação do peixe, quando em Sesimbra vi um sistema de tratamento e secagem do bacalhau.

Passados mais alguns dias de momentos e vivências num meio hostil, agreste em que a par de milhões de mosquitos e toda a espécie de insectos, também o barulho ensurdecedor do gerador, e a natural ansiedade e sobressalto pouco nos deixavam descansar, apresentou-se a Companhia 1423, comandada pelo então Capitão P. A., sendo que no dia seguinte saímos em conjunto para uma operação, dita pelos chefes, de grande importância, seguindo então através do capim dado que a estrada se encontrava cheia de abatizes e o caminho por aí nos tornar mais vulneráveis. Perto de Nova Sintra onde à posteriori veio e ser construído um destacamento nosso no entroncamento com a estrada que levava à Ponta de Maasa, já no litoral do rio Geba, o Comandante da Operação mandou avançar ao encontro da estrada decidindo que o nosso Pelotão devia formar três colunas de frente, sendo que após o a realização desta actividade retornaríamos àquele lugar que era o de encontro, o que foi feito, ficando o Vasco à direita eu no centro e o Monteiro na esquerda.

Assim que entrámos na picada aconteceu aquilo que se pode considerar o nosso baptismo de fogo. Fomos confrontados com uma imensa fuzilaria a partir do interior da mata do outro lado da estrada. Coibidos de nos movimentarmos e disparar ou actuar sem pôr em risco os nossos camaradas que se encontravam a par connosco, conforme a desbragada técnica que engendrou o Comandante da operação, e com receio e na iminência de ficarmos imobilizados, avancei de supetão, acompanhado por todo o Pelotão, impulsiva e obstinadamente, sendo nesta altura que toda a coluna se partiu, porquanto o resto das Companhias recuou para o local de encontro já esfrangalhado em grupos, vindo o nosso pelotão e ficar segmentado em três, cada uma das secções laterais tomado a sua direcção e conseguido os meus rapazes obrigar à fuga dos elementos do IN tendo dois destes sido feridos deixando no terreno uma metralhadora PPSH, uma das primeiras a ser capturada na Guiné-Bissau.

Dramático veio a tornar-se este nosso baptismo de fogo, porque seis dos elementos do grupo que estava à minha direita e em que estava incluído o meu amigo e conterrâneo Alferes Miliciano Vasco Sousa Cardoso, curiosamente sobrinho do na altura Governador Geral de Angola, General Silva Tavares, o que pôs em polvorosa as cabeças pensantes daquele Sector, veio a perder-se e infiltrar-se em zona onde proliferavam forças do IN que lhe moveram implacável perseguição durante dois dias, onde passaram provações tremendas acabando depois de um deles se ter suicidado com um tiro na cabeça, já depois de um outro se ter deixado arrastar pela corrente do rio, acabando o Vasco por ser abatido e tendo o Leiró por ultimo sido capturado. Foi por este elemento que foi depois evacuado a partir da Guiné-Conacri, creio que depois de três anos de cativeiro através da Suíça para Portugal. Apenas viemos a tomar conhecimento destes dolorosos momentos, já que uma aura de incompreensão e mistério nos acompanhou, nada jamais nos foi transmitido, já nos anos noventa por nos ter chamado a atenção um artigo numa das revistas da época, e nos deslocámos a Marrases-Leiria (aquilo a que auto-chamo a confraria sempre presente) - o Rui, o Malaca dos Santos, o Monteiro, o Bastos, o Cabral e o Rios, enfim a nata da Companhia. Ah..ah…ah…! Os corpos destes infelizes jovens filhos de Portugal nascidos numa época madrasta para a juventude, exceptuando os filhos e afilhados de figuras de proa e os que fugiam, por lá ficaram a servir de pasto nas miseráveis condições atmosféricas, aos predadores que por lá existiam – esta é a ditosa pátria minha amada!!!

A par da actividade normal e tímida desenvolvida pela desmotivada Companhia, algumas peripécias verdadeiramente rocambolescas iam servindo como motivadoras de uma maior aproximação e conhecimento do pessoal. Num dos dias, entendeu o inaudito Capitão C. que se devia abater uma vaca que tínhamos capturado e trazido para o aquartelamento de um dos patrulhamentos que tínhamos realizado nas redondezas, e munindo-se de uma pistola disparou dois tiros no bicho, ele mais não fez que soltar débeis mugidos mantendo-se placidamente de pé, ai o azougado Silva, condutor auto-rodas, que já não conduzia pois que tinha entrado directamente com o jipe, dentro do buraco junto da messe de Sargentos que o Cap. C. tinha mandado abrir igual ao que também mandara fazer, colado a messe de Oficiais e destinados a abrigos de protecção, pegou numa segunda-feira (marreta de cinco quilos) e pum…, deu uma pancada brutal e certeira na cabeça da vaca e ei-la como fulminada virada de pantanas, ganhou de imediato o cognome de mata-vacas que ainda hoje nas nossas reuniões de confraternização o acompanha; veio a ser um precioso auxiliar do Jaime, o cozinheiro da nossa messe. Nestes buracos que nunca serviram para nada, o da messe de Oficiais foi ainda palco de uma das mais hilariantes cenas a que assistimos: Num violentíssimo ataque ao aquartelamento em que caíram dentro deste dezenas de granadas de morteiro que provocaram imensos estragos, felizmente, sem acidentes pessoais porquanto na maioria nos metemos dentro dos abrigos desmoronou-se para dentro do abortado pré-abrigo a parede lateral da messe e que correspondia ao quarto dos Capitães C. e P. A., pelo que aquele ainda não completamente refeito do ataque, chamou o pessoal, para retirar os escombros e procurar a sua estimada máquina fotográfica, sendo que um dos rapazes ao encontrar uma máquina se apressou a entregá-la ao nervoso e ansioso Caria que de imediato respondeu: - Esse caixote é do P. A., a minha é uma Kodak genuína. Foi o efeito descompressor da tensão daqueles rapazes e o motivo de imensa gargalhada geral.

Com este conjunto de acontecimentos vividos na área de intervenção da Companhia na solidão e isolamento deste local cercado de uma imensidão de mata verde luxuriante que deveria aparentar paz e tranquilidade, mas que era em nosso entendimento, propiciadora dos maiores receios, ansiedades e perigos que se vieram a confirmar; houve ainda oportunidade para as peripécias o mais caricatas possíveis. A messe de Sargentos era mensalmente gerida por um dos comensais, tendo nesta ocasião calhado ao inaudito trovador, Ernesto Fernandes (parece que ainda o estou a ver onde passava a maior parte do tempo; placidamente deitado a simultaneamente, fumar umas cigarrilhas de cheiro horroroso (Negritas), a ler e a beber latas de leite com chocolate; raramente tomava uma refeição como nós entendemos como normal. O Ernesto (bela voz que acompanhava à guitarra, é de origem indiana o que se nota acentuadamente), resolveu um dia presentear-nos com um almoço VIP, com dois pratos.

Estupefactos, quando nos sentamos à mesa, estava com a respectiva chave, dentro de cada prato, uma lata de atum ou sardinha em conserva por abrir. Quem quisesse podia trocar, eram dois pratos dizia o cómico sacripanta. Foi uma paródia pegada para a malta, apenas um pretensioso, isolado complexado Sargento da Companhia barafustou. Como nota curiosa relembro-me do ênfase com que esta codiciosa criatura salientava o facto de já aqui ter feito, em Fulacunda, uma comissão como Furriel Miliciano, mas curioso é que nas diversas conversas com as nossas conselheiras na tabanca, nenhuma delas o conhecia.

Ainda traumatizados e rejeitando sub-conscientemente, a perca do Vasco Cardoso e dos seus companheiros, acreditando que os mesmos ainda poderiam aparecer, ficamos ainda surpreendidos ao tomar conhecimento da ida do Cap. C. para o Hospital de Bissau, para tentar, o que conseguiu, a evacuação para a Metrópole, invocando o agravamento na inócua deslocação a Uaná Porto, que deu origem a sua épica frase “Rumo a Fulacunda”, que utilizava a todo o momento nas parcas curtas incursões que fez fora do Aquartelamento.

Foram feitas alterações na Companhia de tal modo que de quatro passámos a três Pelotões passando o Serigado que era o comandante do segundo pelotão e com o desaparecimento do Vasco a livrar-se das saídas para o mato, passando acolitado pelo inefável Dr. D. N., a comandar interinamente a Companhia.

O Serigado para além de ser o introvertido que já tínhamos detectado desde o início da formação da Companhia ainda em Abrantes, veio a revelar-se um individuo calado, distante e frio, alentejano complexado e desconfiado, que ao assumir o Comando da Companhia, criou um clima de difícil relacionamento porquanto eram visíveis e intoleráveis para nós os tiques de sobranceria e displicência que ostentava despudoradamente, inadequados quanto a nós para um miliciano e poucas vezes encontrado nas nossas andanças e contactos com diversos Oficiais do Q.P. de patente superior.

Nestas alterações e durante um pequeno período ficou o nosso grupo sem comandante de pelotão.

(Continua)
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Nota de CV.

Vd. último poste da série de 4 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9310: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (6): Fragmentos Genuínos - 4

Guiné 63/74 - P9319: Notas de leitura (320): Anjos na Guerra, de Susana Torrão (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Dezembro de 2011:

Queridos amigos,
Já dispomos de muita informação sobre as nossas enfermeiras pára-quedistas, onde o livro de Susana Torrão faz a diferença é escutar estas ditosas profissionais de saúde à volta do seu próprio bilhete de identidade: como tudo começou, qual o cúmulo da sua realização, o que valeu a pena e como aquela experiência as transformou.
Cinco das 46 pára-quedistas contam a aventura do passado para o presente. Temos que ter orgulho no orgulho que elas guardam do que fizeram, do seu próprio medo, do desvelo em momentos de um sofrimento alucinante como conta Céu Pedro Esteves: “Eram dois homens que tinham perdido as duas mãos e ambos os olhos. Durante a viagem dizia-lhes: tenho aqui esta comida – e descrevia o que tinha no prato – como é que lhes sabe melhor? Também fazíamos isto. Dávamos o melhor de nós próprios”.
Com este depoimento fica tudo dito.

Um abraço do
Mário


Anjos na guerra:
Saber um pouco mais sobre as nossas enfermeiras pára-quedistas

Beja Santos

A historiografia da guerra não tem ignorado o trabalho das enfermeiras pára-quedistas; e se há desempenho que nunca foi contestado ou desvelo que tenha sido alvo de reparos, então as enfermeiras pára-quedistas gozam de uma posição intocável. Elas estão no pódio da abnegação e solicitude.

Em “Anjos na Guerra”, Susana Torrão retoma este filão de coragem e saudade, dá voz a um punhado de testemunhos e obtém relatos comoventes (Oficina do Livro, 2011). Como é sabido este Corpo de Enfermeiras foi criado em Maio de 1961, elas receberam o brevê em Agosto desse ano e a sua extinção ocorreu já na década de 80. O livro reconstitui o percurso desse grupo a partir das histórias de Céu Pedro Esteves, Ercília Pedro, Manuela Flores França, Rosa Serra e Francis Matias, 5 das 46 enfermeiras pára-quedistas. Cada um dos relatos, diz a autora, traça uma perspectiva diferente e dá a conhecer as várias facetas do quotidiano destas mulheres, num arco onde cabem os pequenos milagres de enfermagem, os preconceitos que tiveram de vencer, os testemunhos do sofrimento do combatente.

Tudo começou com Isabel Bandeira de Mello que nos anos 50 lançou a ideia e criou as bases para a formação das enfermeiras dos ares; complementarmente, os instrutores, outra peça-chave para a existência deste corpo de pioneiras, dão também a sua interpretação dos acontecimentos. Isabel Bandeira de Mello foi a primeira pára-quedista portuguesa e em 1956, depois de contactar com as pára-quedistas da Cruz Vermelha Francesa, lançou a ideia de formar um Corpo de Enfermeiras Pára-quedistas. Kaúlza de Arriaga, ao tempo Subsecretário da Aeronáutica, apoiou o projecto. Encontrou dificuldades mas conseguiu convencer Salazar, a Força Aérea e as escolas de enfermagem. Assim surgiram as primeiras mulheres nas Forças Armadas. Às candidatas pedia-se que tivessem “boa formação moral, profissional e religiosa, ser obrigatoriamente solteiras ou viúvas sem filhos e não ter cadastro.

A legislação que criou oficialmente as primeiras vagas surgiu em Maio de 1961 e foram aprovadas 11 candidatas. Fizeram o curso em Tancos com a duração de 9 semanas, receberam instrução de ordem unida, fizeram-se altos, familiarizam-se com o armamento, transmissões ou topografia, por exemplo. Em Agosto desse ano terminou o curso com a imposição das boinas às primeiras 5 enfermeiras. Partiram imediatamente duas enfermeiras para Angola, Maria Arminda Lopes Pereira e Maria Ivone Quintino dos Reis.

Céu Pedro Esteves é o que se pode chamar uma veterana de guerra, foi a enfermeira que mais tempo passou em África e nas três frentes de combate, três comissões em Angola, duas na Guiné e uma em Moçambique. A Guiné tem um papel privilegiado no seu depoimento. Viu um piloto desorientado a aterrar no Senegal, conseguiu orientá-lo e assim saíram da encrenca. Houve gente quente que lhe morreu nos braços. Estava uma vez na base, em Bissau, entrou por ali um casal novo aos gritos com o filho morto nos braços: “Eu olhei para a criança – que devia ter uns dois anos -, tirei-lha dos braços e fui com ela para o posto de socorros. Comecei a fazer a ressuscitação: massagem cardíaca, respiração boca a boca, a insistir… e o miúdo começou a fazer a expiração. Disse aos meus colegas para prepararem a medicação e lhe encontrarem uma veia. E chegou o momento em que o miúdo começou a respirar e a rir-se para mim. Eles não conseguiram apanhar a veia – como a criança estava em síncope, era difícil – até que eu lhe consegui apanhar uma veia na testa, pus-lhe o soro a correr e dei-lhe a medicação. Imagine a alegria daqueles pais quando lhes entreguei o filho vivo”. Olhando para trás, Céu Esteves não esconde o seu orgulho por tudo quanto lhe aconteceu como enfermeira de guerra: “Foi uma vida diferente. Valeu a pena!”.

Ercília Pedro trabalhou numa fábrica antes de ser enfermeira e tornou-se mulher de militar, a acompanhar o marido na Guiné. Aqui esteve dois anos como enfermeira pára-quedista, ficou sempre ligada a África, voltará várias vezes como voluntária. Falando da Guiné, assistiu às muitas tensões do hospital civil como responsável pela Urgência. Ercília e o marido viviam em Bissau, ela confessa que andava muitas vezes com o credo na boca e relata uma missão em que o marido participou e aquela força operacional esteve cercada pelos guerrilheiros, tendo morrido uma série de homens. Via chegar helicópteros, inquieta-se pela falta de notícias e foi a casa de outra enfermeira, a Manuela Flores França, esta respondeu-lhe laconicamente que o marido estava bem e que viria hoje. Ercília protestou com a secura da resposta o que obrigou a Manuela a um esclarecimento: “Ercília, eu só te quis dizer que o Pedro estava bem e que chegava hoje. Não querias que te dissesse sobre todos os que morreram e que eram da Companhia dele!... Tinhas tempo de saber cá”. Mesmo depois de ter abandonado a carreira de pára-quedista, continuou a dar apoio aos militares. Quando morria algum, acompanhava o corpo até à casa onde aguardavam o regresso a Portugal: “Sentia que representava a família”. E desabafa: “Um desses militares morreu no último dia antes de vir de férias a Portugal. Era do Pelotão do meu marido. Julgo que lhe tinha nascido um filho nessa altura. Estava muito feliz, e voltava dali a dias. Foram convocados para uma missão e o meu marido disse-lhe para ele não ir, uma vez que já estava substituído. Mas ele entendeu que devia ir, porque o substituto era novo e esta era a última operação dele. E foi. E ficou lá. O meu marido ficou de rastos, com peso na consciência, a achar que devia ter insistido mais. Mas eles tinham aquela ideia de que já tinham participado em tantas operações e que, por mais uma, não lhes iria acontecer mais nada”.

Maria Zulmira André foi a enfermeira que evacuou o capitão Pedro Peralta, do exército cubano, durante a “Operação Jove” em que participou o BCP 12 no corredor de Guileje. Ela recebera a seguinte incumbência: “Temos um ferido muito grave, que é necessário evacuar o mais rapidamente possível, e a Zulmira não o pode deixar morrer”.

Manuela Flores França é uma septuagenária activíssima, percorreu Angola, Guiné e Moçambique. Recorda a morte da enfermeira Celeste Ferreira Costa, apanhada pelo hélice de um avião. Com a passagem dos anos, começou a questionar a razão de ser daquela guerra e lembra-se muito bem de ouvir os soldados dizer na Guiné: “É para defender isto que vimos aqui dar a vida?”. Angola e Guiné-Bissau estão na lista das próximas viagens. Faz o balanço da sua vida: “Não estou nada arrependida. Voltaria a fazer o mesmo. Era daquela vida que eu precisava. Não tenho pesadelos, não tenho remorsos e acho que fiz o que devia. Dei tudo o que pude e o que eles precisavam. O nosso papel foi importantíssimo para as tropas portuguesas”.

Rosa Serra viveu em Mueda, que considera o pior sítio onde esteve. O seu primeiro destino foi a Guiné. A primeira evacuação que lhe coube foi uma menina que vinha com estilhaços: “Ela estava muito mais calma do que eu! A evacuação foi feita num DO e eu nunca tinha entrado num aviãozinho tão pequeno. Como a menina não precisava de vir deitada, peguei nela ao colo porque achei que ela fosse começar a chorar e a gritar. Veio ao meu colo nas calmas, olhava para baixo, para a mata, e ria-se para mim. Foi ela que me descontraiu”.

Estes anjos dos ares deram a mão a moribundos, procuraram acalmar militares em estado de choque, gente picada por abelhas, com o corpo desfeito, a gritar pela mãe. Salvaram vidas e impuseram-se no coração de todos os combatentes, por mérito próprio de quem tudo dá sem nada exigir.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9301: Notas de leitura (319): Milicianos, Os Peões das Nicas, de Rui Neves da Silva (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9318: Parabéns a você (363): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Guiné, 1970/72)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9314: Parabéns a você (362): Ricardo Figueiredo, ex Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, Soldado Condutor Auto da CCAV 489 (Guiné, 1963/65)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9317: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte IV): Agosto de 1974: ainda o caso do BCAV 8320/72 (Bula, 1972/74) (Luís Gonçalves Vaz)

1. Do Luís Gonçalves Vaz em comentário ao poste P9190 (*), em resposta a um comentário (infelizmente anónimo, e que por essa razão foi eliminado, não só por ser anónimo como por pôr em causa a honorabilidade do Cor CEM Henrique Gonçalves Vaz, infelizmente já desaparecido):

Para que não fique nenhuma dúvida:

1º) Muitas das "..." [aspas e reticências] são originais e do próprio punho do já falecido, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, Chefe do Estado-Maior do CTIG na altura;

2º) O estive é mesmo "ESTIVE", não duvide ...

3º) É claro que o coronel Henrique Vaz esteve "em contacto" com os elementos do Batalhão em questão, ao ponto de o Comandante do CTIG ter criticado a sua actuação, conforme se pode inferir pela nota pessoal (in: Agenda do Chefe do Estado-Maior do CTIG) do dia 23 de Agosto de 1974 (ainda inédita neste Blogue);

4º) Todas as Notas que existem, sobre este episódio, são as seguintes; como tal os caros leitores que tirem daí as suas conclusões;

Bissau, 22 de Agosto de 1974


"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320  do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação [...]. "

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 23 de Agosto de 1974


"Como na noite anterior me deitei muito após as 2h, talvez 3 da manhã, levantei-me um pouco depois das 7.30H. A minha "actuação" foi criticada pelo Brigadeiro Cmdt nestes termos: "quem o mandou lá? Fazer concessões em meu nome?!"

Lá lhe expliquei os motivos do meu procedimento. Em vez de me felicitar, eis o que deu! Durante o dia, as "resistências" do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima ... [reticências do próprio] e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...] ceder!, fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre à atenção para a gravidade da situação. ..."

"... Reuni com a comissão que veio de Lisboa sobre os 'Planos de Retirada': Hipótese A e B. Mandei fazer a lista uma a uma para [...]."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 24 de Agosto de 1974


"... O UIGE com o Batalhão do Cunha, o 'famigerado' Batalhão de Cavalaria nº 8320 de Bula, partiu a princípio da madrugada para Lisboa. Estive [algum tempo ou atento?] no Cais a vê-los partir! Disseram-me que até hastearam uma bandeira vermelha com a foice e o martelo!..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
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Nota1:


Espero ter esclarecido mais um pouco este episódio, mais não poderei dizer, pois já não estava na Guiné, na altura destes acontecimentos.

Nota2: 


O brigadeiro Comandante na altura, penso que seria o Brig Galvão de Figueiredo...

Nota3:

Não consigo ler bem,  na Nota do dia 24, a palavra a seguir a "Estive": será "algum tempo" ou "atento", já que na sua escrita o coronel Henrique Vaz utilizava muito as abreviaturas.

Nota final:


A análise crítica de causas e consequências deste episódio só poderá ser realizada pelos próprios intervenientes, e ainda vivos. Como tal fica aqui o desafio, mas serão importantes para "Memória Futura" e para a História da Descolonização, se o fizerem de uma forma "franca, transparente e construtiva", e sempre que possível de uma forma "não emocional"…

Abraços deste Tabanqueiro

Luís Gonçalves Vaz
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9190: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte II): Agosto de 1974: rebelião da CCAÇ 21 (Bambadinca) e do BCAV 8320/72 (Bula)

Guiné 63/74 - P9316: In Memoriam (102): Maria Manuela Flores França, ex-Cap Enf.ª Paraquedista, falecida a 26 de Dezembro de 2011

(Com a devida vénia ao autor)

Nota do Editor:
Os editores, em nome da tertúlia deste Blogue, apresentam à família da Enf.ª Paraquedista Maria Manuela Flores França os seus sentidos pêsames.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9248: In Memoriam (101): Faleceu o Capitão Eurico de Deus Corvacho (CART 1613, Guileje, 1966/68) (Eurico Corvacho, filho)