segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10814: Convívios (486): Almoço/Convívio de Natal da Tabanca dos Melros, ou o Último Voo de 2012 (Jorge Teixeira - Portojo)

1. Qual cuco que se aproveita do ninho alheio, aproveitamos a reportagem feita pelo nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo) no almoço de Natal da Tabanca dos Melros, levado a efeito no passado sábado, dia 15 de Dezembro de 2012, e publicado na página daquela Tabanca.

Assim, com a devida vénia ao Jorge Teixeira (Portojo) e à Tabanca dos Melros, aqui fica o trabalho.

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Tabanca dos Melros

ECU's - Encontro de Ex-Combatentes do Ultramar Português

O Último Voo do Ano 2012

Nem frio nem chuva, que felizmente não se apresentaram, mas com muitos Melros e outras passaradas, finalizou-se o ano no nosso Ninho do Choupal.

Pássaros houve, assim se pode dizer, que se levantaram do seu ninho caseiro onde penavam haviam dias sob olhares atentos, para não faltarem aos Copos que se prometeram muitos e bons. 
  
Depois da passagem pelo Museu, há que acomodar a barriguinha a umas Entradas pouco violentas. Salgadinhos, charcutarias, patés e outras viandas, desapareceram com a rapidez do relâmpago, não o das bolanhas.
  
Sumos e Águas bem tratadas. Cerveja, Branco, Tinto, Rosé, colheita da Casa. Vocês sabem a que me refiro.

Expectativa para o tradicional discurso do Presidente, que como todos os discursos, ninguém ouviu. Mas foi salvado com palmas que se devem ter ouvido na sede do Município.

Depois da espectacular Sopa de Nabos que só os de Gondomar sabem preparar, uma terrina de Tripas para Melros especiais. Quem não chora não mama... mas foram tantos os que choraram que só deu uma colherzinha e apenas para alguns.

Com um visual destes, ninguém resiste. Nem os doentinhos...

Uma das mesas que exposeram remédio para o colesterol. 
  
No vai e vem da mesa para a mesa, tempo para umas galhofas do Neca.

O Vinhal deveria estar a lembrar-se de alguém que também adôôôraaa Bolo-Rei.

A coisa dura e dura e dura, mas o Carmelita já saciado treina as aéreas.

Cantares, Música e Bailarico para semi-acabar a festa.

Constou-se que andam uns desaparecidos na noite. Mas ós pois logo se vê...

Coisa mais esquisita. O fotógrafo estava lá, mas estaria de gatas ????

Para Memória Futura a foto de Família.

Adeus, até ao Ano, isso é em 12 de Janeiro.

Boas Festas
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10767: Convívios (485): Almoço/Convívio de Natal da Tabanca dos Melros, dia 15 de Dezembro de 2012 no Restaurante Choupal dos Melros - Quinta dos Choupos - Fânzeres - Gondomar

Guiné 63/74 - P10813: Mi querido blog, por qué no te callas?! 1): A notícia da morte do blogue foi manifestamente exagerada... No final do ano, atingiremos a cifra de 1 milhão e 250 mil visitas (Luís Graça)

 [Foto à direita: Uma  das imagens  ícones do nosso blogue: o  2º Gr Comb  da CCAÇ 12, 1969/71, no subsetor do Xitole do setor L1, Bambadinca;    

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados]

1. Há dias deixei, expresso em letra de forma, no poste P10786,  o meu obrigado a um leitor anónimo (que se fazia passar por J. Antunes, que eu não sei quem seja), pelos votos de "mau agoiro" em relação ao futuro do blogue.

Qual arguto médico de medicina interna, o nosso leitor anónimo (a quem eu estou a dar demasiada importância, já se que refugia por detrás de uma máscara), ele olhou para o corpo envelhecido - quiçá, cadáver adiado ! - do nosso blogue e fez  um prognóstico sério, reservado, doutoral:  as "deserções dos pioneiros" (sic) não auguravam nada de bom, enquanto os comentários, ao que parece, se iam  rarefazendo, a produção bloguística baixando, a malta definhando, desaparecendo, desertando, morrendo...

Eu procurei ler nas entrelinhas, juntando outros comentários, lidos ou ouvidos aqui e acolá... E, confesso,  aproveiteu a ocasião para dramatizar, sugerindo que o Facebook é mais divertido, mais interativo, mais espontâneo, mais descontraído, mais descomprometido... E depois, nestes últimos anos,  mil blogues e páginas no Facebook floresceram, sobre a guerra dita colonial, à sombra ou à pala  do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (também conhecido carinhosamente, para uns, depreciativamente, para outros,  como o blogue fora nada)...

Em suma, ó malta, enterrem o blogue, que eu vou já ao facultativo pedir a devida certidão de óbito!...

Comentário meu: Ao que parece, a notícia da morte do blogue foi manifestamente exagerada...

Não me dirijo mais ao J. Antunes (porque,  se ele fosse um verdadeiro camarada da Guiné,  nunca se esconderia por detrás do bagabaga do anonimato,), mas sim a todos os nossos leitores, homens e mulheres de boa vontade. Vejamos:

(i) nove anos é muito na Net (nem eu sei se lá chegaremos, ao dia 23 de abril de 2013, para soprar as velas!);

(ii)  a lei da vida é um dia o blogue morrer, como tudo o que é vivo e que mexe;

(iii) só não sei quando nem como;

(iv) espero,ao menos, que seja com a devida dignidade: de pé, como o  poilão da Tabanca Grande;

e (v) quanto às eventuais honras fúnebres, fica claro, desde já, que de acordo com o seu testamento vital o blogue as dispensa, as honras ditas fúnebres, sejam civis, religiosas ou militares...

Obrigado aos nossos críticos, anónimos ou não. Obrigado, sem ironia. Obrigado, mesmo. Vejo os seus comentários como um repto, um desafio, não apenas aos editores e colaboradores mais próximos, mas a todos aqueles camaradas da Guiné que acreditaram (e ainda acreditam...) neste projeto de restituição da voz de um geração sofrida e silenciada ou, no mínimo, esquecida...

O blogue faz sentido enquanto não esgotarmos o baú das nossas memórias, enquanto não exaurirmos a mina das nossas vivências e emoções, enquanto houver matéria-prima para publicar fotos, documentos, histórias, poemas, diários, recensões bibliográficas, etc., e por fim , mas não menos importante, enquanto os nossos editores e colaboradores tiverem unhas e dedos para  continuar a tocar guitarra (neste caso, a teclar no computador, a editar o poste nosso de cada dia)...

Consideramo-nos portugueses de lei e guineenses de coração. Não escondemos também essa nossa  dupla condição. Estamos aqui , antigos combatentes, por que fizemos uma boa química com aquela terra, com aquela gente, e só queremos no futuro que aquele bom povo encontre os verdadeiros caminhos da independência, que são os da paz, do desenvolvimento sustentado, da democracia, da liberdade, da justiça.

Em 2004 abrimos uma espaço na Net para a partilha de memórias e de afetos à volta da Guiné que conhecemos, nos nossos verdes anos, quando por lá andámos trilhando os caminhos da guerra e da paz. Como eu disse esta manhã ao nosso camarada e escritor Armor Pires Mota (em comentário ao poste P10812), sentamo-nos à mesa redonda da Tabanca Grande, a imensa mesa onde comemos o mesmo pão, uma mistura que eu diria - sem querer ofender nenhum crente, trata-se de uma metáfora - que foi amassada por Deus e pelo Diabo.

Fomos camaradas de armas, no passado, somos companheiros hoje pelo desejo comum de partilha de informação, conhecimento, experiências e vivências no TO da Guiné, entre 1961 e 1974. Sem qualquer agenda político-ideológica, nem muito menos alinhamento político-partidário. Somos um espaço de liberdade e de pluralismo de que todos  beneficiam, autores de postes,  leitores, comentadores, investigadores...

Procuramos fazer pontes entre o passado, o presente e o futuro. Somos também um blogue lusófono, e solidário:  esta geração de antigos combatentes pode e deve ajudar também a fortalecer as pontes que ligam Portugal e a Guiné: a história, a língua, a cultura,  os afetos, os caminhos que trilhámos na guerra e na paz, e enfim, a economia, por que não ?!...

Fica aqui o convite, a todos os nossos leitores,  para se fazer uma análise SWAT ao nosso "querido blogue": vamos identificar e apontar (i) pontos fortes, (ii) pontos fracos, (iii) ameaças e (iv) oportunidades, pensando sobretudo em 2013, mais um "annus horribilis" que nos espera a todos... O Miguel Pessoa já fez o "cartanito" de parabéns pelo próximo 9º aniversário (, a 23 de abril de 2013). Mas comemorar, com antecedência, os anos de homens e bichos dá azar, dizem. Vamos, pois, continuando a fazer o blogue todos os dias, não obstante as dificuldades (financeiras, logísticas, técnicas, psicomotoros, etc.) com que os editores também se deparam, mas das quais não costumam, por pudor,  falar em público...

Em suma, lá vamos blogando, rindo, às vezes gemendo e até chorando, pelo menos até ao dia 23 de abril de 2013 (se o mundo não acabar antes, como nos ameaçam!). Com o apoio de todos os amigos e camaradas da Guiné que nos honram com a sua presença, a sua amizade, a sua camaradagem.

Esta tomada de posição do editor Luís Graça, a título pessoal, e à revelia da democracia que é esperado praticar-se à volta e à sombra do nosso poilão, suscitou já  alguns comentários, uns inseridos na caixa de comentários do referido poste P10786, outros enviados pelo correio interno da Tabanca Grande. Vamos começar a publicar uma seleção de alguns desses comentários. Para os devidos (e desejados) efeitos!...

Um desses efeitos  é seguramente a colheita de sangue novo, a entrada de novos grã-tabanqueiros, a par do apelo ao regresso de muitos dos tabanqueiros "seniores" que, por um razão ou outra, se terão eventualmente afastado  (passando a venerar, por exemplo, outros irãs que se levantaram mais alto em poilões bem mais altos e bem mais fortes!), ou que  andam por aí perdidos pelas matas da descrença, da desmotivação, da lassidão... (Sim, por que  isto de blogar também cansa, e mexer no passado dói!).

A quadra natalícia não é a mais propícia para este exercício de blogoterapia...Mas já que a vida continua, arranjemos um bocadinho (de tempo e pachorra) para fazer os comentários, críticas e sugestões (incluindo as de melhoria)....

O editor Luis Graça

PS - Vejam o título desta série não como uma chantagem (emocional ou outra) mas apenas como uma prov(oc)ação...Teremos que ter argumentos se alguém nos interpelar, nomeadamente em língua castelhana: "Mi querido blog,  ¿por qué no te callas?"... 

Não, não é que haja alguém - que eu saiba! - que queira calar o blogue... Mas às vezes já tenho ouvido comentários, entre dentes,  do género: "Já cheira mal, a guerra colonial"; "Porra, que ainda não lamberam as feridas todos!"; "Passam a vida a desenterrar os mortos"... 

Por muito injustos e cruéis  que estes comentário possam ser e parecer ser - e são-no facto, na nossa opinião -, temos de estar preparados para responder àqueles que nos acusam de estar, por vezes, a "discutir o sexo dos anjos"...

De qualquer modo, há números que de tempos a tempos é bom lembrar e que mostram que o blogue ainda está vivo, e mais: de boa saúde e até há quem o recomende...

(i) Vamos atingir no final do ano de 2012 a simpática cifra dos 4,4 milhões de visitas (ou visualizações), cerca de 1,25 milhões mais do que no final do ano anterior;

(ii) Começámos a "blogar" em abril de 2004 (início da I Série) e o primeiro milhão de visitas só foi atingido em fevereiro de 2009;

(iii) Estaremos, em 31 de dezembro de 2012,  próximo dos 600 grã-tabanqueiros, formalmente registados;  quando começamos a II Série do blogue, em junho de 2006, éramos apenas 110 "tertulianos";

(iv) É verdade que não vamos chegar ao final do ano com tantos postes publicados como em anos anteriores: 1756, em 2011; 1956, em 2010; 1887, em 2009...Quando muito,  ficaremos em 2012  pelos 1560, mesmo assim muito mais do que em 2008 (1285), 2007 (1000) e 2006 (508):

(v) Devemos ultrapassar no final do ano um total de 38 mil comentários (desde maio de 2010, início dos registos estatísticos), correspondendo o ano de 2012 a um total prevísível  de 9700 (26,6 comentários por dia);

(vii) Um em cada 7 dos nossos visitantes vem de Portugal, os outros 3 do resto do mundo, por esta ordem (decrescente): Brasil, EUA, França, Alemanha, Canadá, Rússia, Reino Unido, Espanha e Cabo Verde Verde;

(viii) Temos além disso uma página no Facebook, chamada Tabanca Grande, com 971 amigos (muitos dos quais combatentes da guerra colonial, mas nem todos membros do blogue, longe disso).  

Guiné 63/74 - P10812: Conto de Natal (1): Papagaio Verde Versus Estrela do Norte (1) (Armor Pires Mota)

1. Apresentamos hoje o primeiro capítulo, de quatro, do Conto de Natal, "Papagiao Verde Versus Estrela do Norte", um original do nosso camarada Armor Pires Mota (ex-Alf Mil Cav da CCAV 488/BCAV 490, Guiné, 1963/65), oferecido pelo próprio, ao nosso Blogue, para ser publicado nesta quadra.


CONTO DE NATAL

PAPAGAIO VERDE 
Versus ESTRELA DO NORTE 

A dois combatentes lucidamente
apaixonados pela Guiné-Bissau,
Drs. Mário Beja Santos e Carlos Silva

A velha aldeia de Lala…

(Ou melhor, de Algures, por razões óbvias, que o meu tenente-coronel irá certamente descortinar) foi terra de África onde amei e sofri que nem um capado. Pois, que nem um capado! Agora, Algures mudou de sítio, mas não de nome. Nem de chefe de tabanca, o Gibril, o mais alto e o mais velho de todos. Tão pouco medrou. Fica na saída para Samã, onde me encontro neste preciso momento, de visita. Entre pesadas lágrimas e comoções fortes.

Apesar de tudo e dos anos, não esqueci o lugar amargo, onde volto, não para combater fantasmas, medos, mas para rever a boa gente. Logo, ao nosso anúncio, no barulho de um jipão ou na sua travagem brusca, me havia de aparecer Abdul, homem feito, já avô, à frente de um colorido cortejo a perguntar: corpo di bó? Corpo di bó… nosso alfero Casanova? Reconhecemo-nos os dois, depois de alguma natural hesitação, num abraço irmão, gritando os nomes. Foi assim neste preparo que Abdul começou a falar no Papagaio Verde… Outros olhavam-me desconfiados. Tiveram dificuldade em lembrar-se, obviamente, de meus traços. Muito normal. Perdi o cabelo, ganhei rugas com os trabalhos, mas, sobretudo, com os desgostos da vida; o azul dos olhos é menos limpo e preciso. Amarrotado, será o termo exacto. É certo que queria lembrar-me de todos os nomes. Só consegui recordar-me de alguns, que saltaram lá do fundo das areias movediças da memória. Antes de partir, revi papéis, até aerogramas em busca de nomes de gente e de terras. De peripécias também.

Para desfazer as dúvidas, fui forçado a mostrar-lhes fotografias do velho aquartelamento e da velha tabanca. Fotos que, pelo sim pelo não, levava comigo. Foram quase o meu cartão de apresentação. Mostrando-lhas, ia perguntando por cada um, este e aquele e aqueloutro, lembrando, também eles, nomes, capitães, alferes, furriéis, soldados, contando casos. E o reverso também foi verdade e eloquente. Daí a pouco, estávamos sintonizados, sem qualquer espécie de receios. Apesar da guerra e do tempo transcorrido sobre enxames de cicatrizes, não nos havíamos expulsado da vida uns dos outros. Por isso, não tardou a despertar a empatia de outros tempos. Agora, era só dar corda, fazer conversa. Desmontar o tempo e prolongá-lo. Desfivelar lembranças e dar-lhes guita.

Entre lágrimas e abraços largos ou contidos, estou entre gente negra e boa do meu tempo e de outras crianças, como então, igualmente de olhos mansos e muito húmidos e ainda de umbigos intumescidos. Crianças que os pais e os professores ensinam a aprender, devagar, um país novo, a soletrar outros sonhos, a adivinhar outros horizontes, a fazer contas de crescer. Mas confesso que logo senti o vazio de tanta gente que faltava, mas, sabia também, tinha uma certeza, que estava do meu lado de dentro, no vértice da alma. É certo que envelhecem as nossas mãos ao mesmo tempo, mas, às vezes, não envelhecem as memórias, apesar das sombras que carregamos de um tempo e de um lugar.

O terreiro ainda cheira às chuvas que tombaram de um céu de chumbo, anunciadas por relâmpagos tracejantes, ontem, e já esta manhã. As rajadas das chuvas e dos ventos queriam, à viva força, levar as cangras das moranças. O costume. As nuvens, volumosas e apressadas, correm para o sul. Como há trinta anos, Nas nuvens correm a minha alma e o meu corpo esfarrapado pelas memórias, restos de vidas de outros camaradas, enquanto o vento escreve ásperas melodias nos ramos de todas as árvores que no fundo incomodam. É isso que eu pressinto.

Com todos, o alquebrado chefe Gibril, que enxotava dois ou três cães magros, aturdidos pelas moscas, rilhando o dente, e com os mais velhos, parto mantenhas. Com as crianças reparto afectos na oferta de livros e lápis, lápis de todas as cores que África tem: branco-sumaúma, manga-laranja, banana-papaia, noitibó-colibri, azul eléctrico, azul-marinho, verde-tarrafo, pomba-verde, amarelo-dendém, negro-Papel-Balanta, chocolate-Fula-Futa, Fula, vermelho-acácia-buganvília, cadernos, muitos cadernos, para que pintem sua casa e sua terra, seus rios e suas canoas, um rebanho de volta, uma manada de vacas na cerca, um bando de pássaros conversando coisas de sempre sobre palmeiras e rios, gazelas e galinholas, sobre tanta coisa que sabem, pousados nos dorsos ou nos cornos de algumas vacas; livros, brinquedos, plasticina e, por acaso, meia dúzia de iô-iôs. Mas também bolachas e bombons, muitas bolachas e rebuçados. Esvaziei duas malas. Mais que fossem.

Foi uma festa. As crianças, descalças como no princípio do mundo, essas andavam num sino: batiam palmas, saltavam à minha volta, quase entravam em batuque, que é onde melhor se respiram os ritmos da alma africana e, em dias de ronco, onde explodem todas as paixões eróticas. Por mim, senti-me quase triste: tudo aquilo não era nada. Gesto de quase nada perante aqueles olhos infinitamente abertos, numa expressão de grande ansiedade, mãos desertas de pão macio e novo.

Nada, se comparado com as muitas caixas, cheias de livros escolares, novos e velhos, roupas e calçado, mais material hospitalar, mais mãos abertas, mais afectos, que, mais do que uma vez por ano, lhes deixa, com largas mantenhas e coração a derreter-se de ternuras e comoções, vicentinamente, o branco de coraçon, o rei-mago de prendas e afectos, que também viveu e sofreu na tabanca de Algures, o Carlos Silva. Trabalho cansado, dizem os mais velhos, mas muito gratificante e significativo, acrescento eu.

Os miúdos, esses arregalavam os olhos e voltavam a saltar, cantando; os homens e mulheres, com as mesmas chinelas plásticas de enfiar o dedo de há mais de trinta anos, interrogavam: quando volta home de coraçon, nosso alfero? Por certo, não iria demorar, adiantava-lhes como um crédito de esperança, o único banco para quem é pobre. Como eles.

As mulheres e as raparigas, mama firme, regressavam das lalas, que agora cultivavam sem medos e sem obrigação de dividir o arroz ou a mancarra por terceiros, com a resignação de quem aceita uma lei, de quem não tem meios para escapar à exploração, fossem administradores ou simples chefes de posto, que guardavam uma parte do fruto do seu suor e trabalho. Depois, ainda havia, antes da guerra, alguns lojeiros sem escrúpulos, onde as contas nunca diminuíam, pelo contrário, avolumavam-se como nuvem no céu em tempo de tornado.

Algumas mulheres chegavam, de balaios à cabeça, cheios de quase nada. As mais novas traziam as crianças atadas às costas com amplo lenço. As raparigas alegres como pássaros, com panos vistosos presos à cintura, mostravam a pele luzidia, a mama firme, sempre atraente, ardendo sonhos e desejos. Um ou outro homem vinha das bolanhas ou campadas com a velha catana debaixo do braço.

Todos queriam estar no centro do acontecimento. Era um homem branco. Olhos perscrutadores. Os homens mais velhos, de rostos enxutos (rapazotes ao tempo), mas, agora anavalhados de rugas, ali estavam ainda: Gibril Sosso, Mamadu Sissé. Esses contavam, no bentabá, histórias passadas, ou faziam tempo à sombra. O costume. Vida mansa, corriqueira, sem grandes horizontes. Entre as mulheres, que se iam juntando, receosas, reconheci pelos traços a Fili, a Sano, a Fatu, as belas raparigas do meu tempo, mas faltavam outras. Outras, mais novas, eram totalmente desconhecidas. Mesmo assim, sorriam a alma, mansamente, à minha presença. Pressentiam amizades antigas com seus avós.

Na contra luz, Algures desola-me. Mudou-se e não mudou. Não sei porquê, dói-me. Pouco ou nada sobra de nós. Uns pedaços de vida, mais de dor e morte, que a guerra não desaparece nunca. À primeira vista, só um marco ficou: a amizade.

A nova tabanca está mais pequena, julgo que com menos moranças, mas também posso estar enganado. E falta-lhe a serração do cabo-verdiano que, quando sentiu a ameaça do PAIGC, se escapuliu. O campo de aviação é uma seara de capim, onde só os pássaros pousam e levantam. Mais as nuvens das rolas. As populações reocuparam as antigas aldeias, como Fambantã, e os terrenos que haviam abandonado. Não há sinais da nossa passagem e de outros. Paisagem quase desabitada de nós. Ao contrário dos antigos aquartelamentos do sector (como Nema, Cuntima, Candjambare), tudo foi demolido e arrasados todos os abrigos das metralhadoras e do pessoal. Também, afinal, para que prestavam? Tudo, não direi bem. Salvaram-se a messe e a casa onde dormiam o capitão e os furriéis. E a bela Mónica, pois, num Natal, por sinal, sem dedos no gatilho. De qualquer modo, tudo me faz regressar mais de trinta anos atrás, quando a aldeia estava deserta e já não barulhava sob o estridular das máquinas de uma serração. Quando a tropa lá chegou, estava abandonada.

Rodeado de tantas mulheres, a quem custava falar, me pareceu, por via de todos os trastes que carregavam à cabeça e nas mãos (e não era por via disso, só entendi mais tarde) ou por outra razão que só elas sabiam, logo perguntei, como para confirmar o que, infelizmente já sabia, via Net, pela que fora a menina bonita da tabanca, do quartel, a mais querida, a inesquecível Usse ou melhor, na nossa terna linguagem, Usita, de corpo franzino e de uns olhos cintilantes, um sorriso profundo e tranquilo, e que, por vezes, à noitinha, muito terna, se ia sentar, ora nas pernas do Dr. H. S. Franco, solteiro, mas muito paternal, ora nas do furriel Lima, que Deus também já lá tem, muito solícito e menineiro, amparada de mimos nos seus braços. O resto do sol, alaranjado como cacho de palmeira, dourava-lhe a pele macia, o cabelo em trança. Nos pulsos usava malilas. Era sempre a primeira a esperar-nos junto do cavalo-de-frisa, feito de cibe, quando regressávamos do mato. Às vezes, chorava a nossa tristeza ou esconjurava o nosso desânimo com o seu sorriso enorme, pegando na nossa mão. Também outras a imitavam na sua inocência. Cenas ontem comoventes e lembradas agora dolorosamente no local com lágrimas que tentei apagar com palavras desconexas e puxando o boné para os olhos.

Mostrei-lhes uma foto, a cores, de Usita. Tinha uns belíssimos 18 anos. Trajava um vestido florido, onde sobressaía a cor rosa, e um lenço, apertado no coruto da cabeça, escondia-lhe o cabelo, todo em bandós, tombando sobre o pescoço, alto e elegante, adornado com um colar de várias e belas missangas. O vestido, nada decotado e sem mangas, era curto, bem por cima do joelho, e justo o suficiente para desenhar-lhe um grácil busto, onde marcavam pontos os seios rijos e as ancas cheias. Os olhos eram redondos e festivos. Dos lábios carnudos desprendia-se o lume de um sorriso fino e redondo, largo e infinito, arregaçado até à quase luxúria, bem desenhado por entre a fieira dos dentes, impecavelmente brancos. A pele luzidia. Macia e boa. Nas orelhas reluzentes brincos; no braço direito uma pulseira fina. Os dedos pingando uma malinha branca. Calçava sandálias de couro. Estava feliz. A tropa e o pessoal da tabanca continuaram a respeitar-se, depois de nós, era quase uma família. Por outro lado, Usita tinha ali, todos os dias, sob os seus olhos, às vezes sob os seus lábios, o grande amor da sua vida, o seu alfero. (Omite-se, obviamente, o nome, para salvaguardar relações actuais). A rapariga só tinha olhos para ele. Suponho, não tenho a certeza, que foi o próprio oficial miliciano que quis guardá-la, como num filme, aquele momento, no esplendor da sua beleza.

Por mim, confesso que, quando vi a sua foto no écran do computador, graças ao e-mail do Carlos Silva, fiquei radiante, a admirá-la. Encantadora, de verdade! Porém, este embevecimento foi efémero. Essa alegria logo entrou em ruína, quando, em nota de rodapé, soube que casara com um combatente da liberdade, que gostava tanto de usar as camisas cubanas, as goiabeiras, como as palavras e barbas de Fidel. Não sei por quantas vacas foi ajustada aos pais (também não será de bom tom perguntar-lhes, nem isso interessa para o caso) ou por quantos pesos. Duas vacas valiam mais ou menos quinhentos pesos. Mas sei que ela valia muito mais: respeito, amor, carinho, um chão livre.

Casada, fora então viver para “o chão papel” de Bissau, onde sofreu violência doméstica de toda a ordem, pois, desconsiderações, maus-tratos, vindo a morrer. Havia-se enamorado, bem antes deste casamento, esclareça-se, de um alferes com quem continuara, ainda por algum tempo, a corresponder-se em português escorreito. Ardendo paixão antiga, fogo ardente. As cartas eram verdadeiros hinos ao amor. Disse-mo o meu amigo e eu acredito. Estava ali, salvo as devidas distâncias, uma pequena sóror Mariana Alcoforado de África, que dizia do seu sofrimento pela ausência do alferes e das vezes que lhe passara pela cabeça pôr termo à vida.

“ (…) Não posso viver mais sem ti. A minha vida é um calvário, todos os dias. Escolhi o marido errado, que pensa mais na revolução do que em mim. Na revolução e nas mulheres combatentes. Vem buscar-me. Leva-me contigo. Combinaremos quando e como. Estou desesperada. Sozinha, não sei o que realmente fazer. Já pensei várias vezes em matar-me. Se calhar, é o que irei fazer, não sei quando, mas não tenho outra saída. A única é o teu amor por mim. Amo-te imenso, não me sais do coração, ora em fogo por ti, ora em revolta surda contra o Mamadu Candé (…)

Creia, meu tenente-coronel, que, ao confirmar, mais uma vez, a sua morte, levei um segundo murro no estômago. Ainda mais forte. Como se a terna rapariga fosse da minha família. Parece impossível, mas foi isso que aconteceu, passado todo este tempo.

Eu, como todos, gostava dela e do seu sorriso quente, orvalhado de azul. Duas lágrimas fenderam-me os olhos, doeram fundo, e lembrei ali o que já havia escrito, mais ou menos isto, numa pausa de tristeza e silêncio. Coisa pindérica, dirá, nunca foi com a poesia, mas, olhe, são palavras muito sofridas:

Choro, Usita, a tua ausência, nos teus eternos olhos transparentes e buliçosos de colibri. Durante quase dois anos, eu ia a escrever desde sempre, conheci os teus olhos e mãos, dedos longos, escrevendo em cadernos letra redonda, de mão firme e sábia, e doçuras na tardinha, quando vinhas trazer-me a roupa lavada. Lembras-te ainda? A tua mãe era a minha lavadeira. Dava-te sempre mais alguns pesos. As tuas mãos e os olhos inocentes traziam-me assim a força e o desejo da paz e sei que da tua boca se soltava um sorriso fresco como se fosse um pássaro azul. Hoje, trazes-me a tua lembrança branca de eternidade, dás-me de tão longe a tua mão branca. Talvez, um dia, ainda possa vir a escrever um livro ou um poema de África, que comece e acabe, exactamente, com o teu nome. O título até já o desenhei: “A menina que tinha sorriso de pássaro azul”. Ou já estou escrevendo. Hoje, trazes-me a África que passa constantemente por debaixo das janelas dos meus dias, da varanda da minha casa. Trazes-me a luz limpa das madrugadas amanhecendo o perfume e a cor das acácias vermelhas e o rumor dos rios. Não é o tempo que me faz falta. É o teu sorriso azul, o resto da tua história, da tua acesa paixão pelo alferes, bela como um conto de fadas… Com um fim que não merecia, eu sei.
Alá esteja contigo onde quer que estejas, querida Usita!
Alah uquibaro!


Quem também não enxerguei foi a bela Fatumata.
Fiz algumas perguntas: Casou com o João? Teve filhos? O que lhe aconteceu, que não a vejo? Que papel desempenhara na luta? Em que tabanca morou?

Consegui saber naquele momento pouco menos do que nada. Que acompanhara o João na clandestinidade, na fuga ao inevitável cutelo ameaçador, mas já não chegara com ele a Algures, adiantou uma mulher alta em seus ombros estreitos, deitando algumas lágrimas que escondeu com as mãos. Foi como que um segredo que fez crescer o alforge das angústias e das perplexidades. Ficámos por ali. Mas prometi-lhes que ainda havíamos de falar noutra altura. O grupo fechara-se nesse aspecto, adensando a nebulosa de um mistério. Talvez as lágrimas fossem o caminho para desvendar mais alguma coisa, pensei, mas a sós. Noutra ocasião. Queria, no fundo, sacudir alguns fantasmas, que estavam a surgir, mas alguns pingos apressados de chuva rasgaram as nuvens e mataram naquele ponto a conversa. Fomos uns para cada lado.

(Continua)

Guiné 63/74 - P10811: Notas de leitura (440): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Setembro de 2012:

Queridos amigos,
O livro do soldado Manuel Luís Rodrigues Sousa “Prece de um Combatente”, é credor da nossa atenção. São memórias, reconstituições por vezes muito afetuosas, é uma escrita muito singela, é o seu modesto contributo para a história da guerra colonial (palavras suas).
Tudo começa no orgulho pelas suas raízes, a candura e a ingenuidade com que enfrentou os contratempos e os infortúnios tocam obrigatoriamente o leitor.
Pediu ajudas para ilustrar o seu relato. É uma sinceridade que nos prende do princípio ao fim. Ele fala em nomes das praças, fala e toca-nos no coração.

Um abraço do
Mário


"Prece de um Combatente": memórias de um soldado em Jumbembém

Beja Santos

Sabe bem juntar as memórias do soldado Manuel Luís Rodrigues Sousa perto dos diários dos soldados Calvário e Góis. É sabido que a literatura assente em memórias tem sido campo da eleição predominantemente de oficiais e de alguns sargentos, ora o estudo das mentalidades carece de apreciações pessoais das praças, saber como viveram a guerra, de onde vieram, em que se transformaram. O soldado Sousa satisfaz todos estes requisitos. Antes de partir para a Guiné, fala-nos da sua linhagem, provém de pais naturais de Carrazeda de Ansiães e de Vila Flor, Manuel Sousa veio à luz em Folgares, nasceu em 1951. Até ir para a tropa, viveu nesta ruralidade, visitar familiares entre os Folgares e Carrazeda de Ansiães eram cerca de dez quilómetros percorridos a pé ou de burrico, estrada não havia na época. Fala-nos desses vínculos: “Periodicamente a família encontrava-se em visitas mútuas, ora nos Folgares, onde viviam os meus pais, eu e todos os meus irmãos, ora na Carrapatosa, onde vivia a minha avó, o tio Armindo e esposa, a tia Aninhas, além dos meus primos, filhos deste casal que vivia com a minha avó, a Natália, o Alexandre, o Fernando e o Ricardo. Fazia ainda parte deste núcleo de familiares o meu primo Chico”. Conta-nos histórias familiares, e depois temo-lo a assentar praça, em finais de Julho de 1972. A saída de casa não foi fácil, estavam ali todos os seus tesouros: “Ali cresci e trabalhei no trabalho duro do campo, de sol a sol, melhor dizendo, de noite a noite, sem conhecer férias, fins de semana ou coisas parecidas”. Os pais, desgostosos, viram partir o “seu Manuel”.

Recruta em Vila Real, adaptou-se bem, como tinha pouco dinheiro, ali passou praticamente todos os fins de semana. Seguiu para Abrantes, a sua especialidade era de atirador. E é aqui que recebe convite para ingressar na polícia, decidiu recusar. Em finais de Novembro parte para Tomar, vai formar batalhão destinado à Guiné, o BCAÇ 4512. A despedida é emocionante, é recordação inesquecível, esta partida com destino a Tomar: “Desta vez não foi via Carrazeda de Ansiães, nem tive o apoio da velha mula no transporte da mala. Porque que guia de transporte só me permitia utilizar o comboio e como o dinheiro não abundava para pagar a camionete desde Carrazeda de Ansiães até ao Tua, desta vez tinha de descer ao vale do Tua, com destino à estação de Codeçais, através de um caminho íngreme e tortuoso, num percurso de cerca de oito quilómetros, passando pelas aldeias de Pereiros e Codeçais. Transportava eu a mala e um meu irmão mais novo, o Zé, que me acompanhou até a estação, transportava um saco que continha o fardamento camuflado que tinha trazido para a minha mãe ajustar no tamanho. O meu pai fez questão de me acompanhar até à saída da aldeia, até ao Barreiro, já com a aldeia de Pereiros à vista. Chegada a hora da separação, irrompeu destroçado em alto choro, envolvendo-me num longo e apertado abraço. As emoções e as lágrimas misturaram-se por alguns instantes, após o que nos desenlaçámos e, de lágrima no canto do olho, juntamente com o meu irmão, lá segui rumo à estação”.

Em 6 de Dezembro, o BCAÇ 4512 ruma para a Rocha do Conde de Óbidos, o Uíge vai levá-los para Bissau. Desembarcam e vão para o Cumeré, instalam-se em tendas no campo de futebol, fazem o IAO, é na limpeza das casernas do Cumeré, a varrer o chão, que ele apanha uma pequena medalha de ouro com inscrição “Deus de guarde”. Chegara a hora de abarcar para Jumbembém via Farim. Segue-se a descrição do local: “Situava-se numa ligeira elevação do terreno, pouco significativa na planura característica da Guiné, junto a uma linha de água designada por Rio de Jumbembém. No lado sul, salteada por algumas instalações de utilização militar, uma delas era uma antiga serração, com telhas em chapa a esvoaçarem ao vento, a que se chamava quartel. Na parte norte estava concentrada a tabanca, formada por casas quadradas, construídas em alinhamento, em várias filas, de blocos de terra, cobertas a chapas de zinco”. Detém-se sobre as comunicações, os costumes das populações, a relação com as crianças e as primeiras operações a Bricama, em meados de Janeiro, ainda com a CART 3359. Descobrem uma casa de mato, há para ali fogo intenso e ele escreve: “Vi um ancião negro no meio do terreiro, entre as palhotas, de pé, trémulo, com um dos braços cortados por uma rajada ou estilhaço, sensivelmente pelo cotovelo, apenas ligado por uma pele que ele sustentava com a outra mão”. Na segunda ida a Bricama, um guerrilheiro do PAIGC foi varado com uma rajada, um camarada teve ferimentos e foi evacuado.

Manuel Sousa esteve atento aos pormenores: ao que se disse sobre o assassinato de Amílcar Cabral, às estratégias de aliciamento das populações, a uma noite de cinema em Jumbembém em que foi exibido o filme “Os Três Mosqueteiros”, à chegada dos mísseis Strella. E em Maio de 1973, ele vai participar no inferno de Guidage. Primeiro, em 10 de Maio, parte para Guidage o 2º pelotão da sua companhia, o livro de Manuel Sousa inclui o relato do furriel Fernando Costa Gomes de Araújo sobre esta deslocação a Guidage. Em 23 de Maio, chegou a vez do pelotão de Manuel Sousa, ele vai descrever com muita singeleza e contenção a morte do seu camarada Domingues Martins da Silva Lopes. Manuel Sousa vai a picar, vão de Binta para Guidage. Vai trocando algumas palavras com Domingos Lopes e, imprevistamente, o drama aconteceu, já Manuel Sousa tinha picado cerca de 50 metros de uma árvore de grande porte, ocorreu atrás um enorme explosão, quando ele chegou à referida árvore viu o Domingos Lopes morto, enquanto um furriel dos Comandos, com o rosto esfacelado gritava “ai minha mãezinha”. E confidencia que a morte deste seu camarada o marcou, estivera com ele até ao último instante, depois do regresso de Guidage ajudou a reunir todos os seus parcos haveres para os devolver à família. E escreve: “A mala e um pequeno espólio de objetos que incluía um gravador de bobines que, dias antes, à cabeceira da sua cama e da minha, ao lado uma da outra, reproduzia frequentemente em alto volume o folclore minhoto, região da sua naturalidade que, a partir dali, se calou para sempre. Tenho bem presente aquela imagem da mala apertada com um cordel em volta e a sensação que me assaltou ao pensar no drama da chegada daquela encomenda aos seus destinatários”. Fez mais amizades, recorda Orlando Augusto Pires, que estava em Binta, criou-se uma forte amizade, em 1975 reencontraram-se, estavam ambos incorporados na Guarda Nacional Republicana. Com os desencontros da vida, passaram-se muitos anos e depois veio a saber que o Pires falecera, acometido de doença súbita no dia do casamento da filha mais nova. E exalta a simplicidade, a generosidade, a nobreza de carácter daquele seu amigo.

Sempre bom observador, colige notas sobre os macacos, as minas, os trabalhos do pelotão de serviço (ir buscar lenha, dar apoio aos cozinheiros, descascar batatas, confessa que desviava algumas, o jantar era sempre de fome, cozia aquelas batatas com algumas couves, supria as suas necessidades). É nisto que ocorre a morte do alferes Nuno Gonçalves da Costa.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10798: Notas de leitura (439): "Dona Berta de Bissau", de José Ceitil (Mário Beja Santos)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10810: Álbum fotográfico de Fernando Súcio (2): Bula, 1972/74





1. Segunda série de fotos do álbum do nosso camarada Fernando Súcio (ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275,Bula, 1972/74), estas já referentes à sua estadia na Guiné.





Bula, 1972/74 > BCAV 8320 > Viatura de piquete

Bula, 1972/74 > Francisco, de Lamego, e Súcio

Bula, 1972/74 > O Batatinha da dança do Nhirren e o seu protector Súcio

 Bula, 1972/74 > Fortim dos Fulas > Brincadeira parva

Bula, 1972/74 > Fortim dos Fulas > Fátima e Súcio

Bula, 1972/74 > Súcio e Honório > Caçada de um burro do mato

Ao "bandido" do Fernando com um um pio dos amigos Olhero e Herculano

Bula, 1972/74 > Carregamento de granadas para o 11,4

Bula, 1972/74 > Armamento do PAIGC

Bula, 1972/74 > Tabanca dos Fulas > Estrada de Binar

Bula, 1972/74 > Súcio e Grou
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10800: Álbum fotográfico de Fernando Súcio (1): Elvas, Figueira da Foz e Bula

Guiné 63/74 - P10809: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (20): Notícias da minha antiga companhia, a CCAÇ 3460/BCAÇ 3863, e do meu substituto, o alf mil Potra


   1. No Diário da Guiné, do António Graça de Abreu (AGA), há apenas duas ou três referências à sua antiga companhia, ao seu substituto, o alf mil Potra, e ao comandante, o cap mil Morgado...  .. Aqui se reproduz alguns excertos  do Diário do AGA, com a devida vénia... Procuramos assim colmar a ausência de referências, no nosso blogue,  à CCAÇ 3460, esperando que outros leitores possam trazer informação complementar sobre essa subunidade (que andou por Bolama, Cacheu, Bianga e Bissau... (LG):   
                                 
(...) Canchungo, 18 de Setembro de 1972

Entrei para a tropa em Outubro de 1970. Durante seis meses em Mafra, com a recruta e especialidade, fizeram de mim um pequeno aspirante a oficial miliciano atirador de Infantaria. Fui colocado no Batalhão de Caçadores 5, em Lisboa, onde dei instrução a soldados durante um curto espaço de tempo. 

Segui para Tancos, para a Escola Prática de Engenharia e em dois meses tirei um curso de Minas e Armadilhas. Fui mobilizado para a Guiné e colocado no Regimento de Infantaria 1 na Amadora, para formar Batalhão, exactamente este Batalhão 3863 que veio para o chão manjaco. A minha companhia 3460 foi parar ao Cacheu, mas eu não parti para a Guiné juntamente com estes homens.[1] 

Uma operação a uma velha luxação crómio-clavicular no ombro direito, resultado de uma cena de pancadaria em que fui o personagem principal quando tinha dezassete anos, devidamente explorada, possibilitou-me a passagem aos serviços auxiliares. Fui reclassificado com a especialidade de Secretariado e desmobilizado. 

Fiquei no R I. 1, como simples alferes amanuense no batalhão de Mobilização. Permaneci na Amadora durante um ano e já estava convencido de que o Ultramar não seria o meu destino. Até que fui novamente mobilizado para a Guiné, destinado a este CAOP. Quando deixei de pertencer ao Batalhão 3863 e à sua companhia 3460 [2], fui substituído no lugar de comandante de um pelotão de trinta homens, todos operacionais, pelo alferes miliciano Potra. Vi-os partir, reencontrei-os agora aqui, conheço quase toda a gente do Batalhão.

O Potra, o alferes nomeado em minha substituição na companhia 3460, devia encontrar-se no Cacheu, onde praticamente não há guerra. Está em Bissau, no hospital militar, sem a perna direita, desfeita pelo rebentamento de uma mina anti-pessoal. O Rocha, o alferes meu amigo que comanda um pelotão no Bachile é que me deu a notícia, no bar de oficiais do CAOP. Foi como se tivesse recebido um soco no estômago, caí como um pedregulho numa das cadeira de lona e lá permaneci um pedaço, sem mexer. Quantos homens sem pernas, quantos mortos, mas eu não os conheço e a vida continua!… Desta vez foi o Potra, podia ter sido eu. Que mal fez o rapaz para merecer tal sorte?

Ele permaneceu apenas durante dois meses no Cacheu. Como tinham militares a mais na vila, o Potra foi transferido para uma companhia de africanos em Mansabá, uma zona de muita porrada. Numa das saídas para o mato, pisou a mina anti-pessoal que lhe levou a perna.
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[1] Quando o batalhão 3863 deixou a Amadora e viajou para a Guiné, metamorfoseei a cantiga “Partindo-se” de João Roiz de Castelo-Branco, escrita no século XIV, assim:


Partem tão tristes os tristes,
Tão tristes de levar guerra
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns nesta terra.
Tão tristes, amargurados,
Tão doentes nesta vida,
Tão doídos, revoltados,
Em tempo de despedida.
Partem tão tristes, chorosos,
Tão longe de esperar bem,
Tão perdidos, tão saudosos
“Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém”.

[2] Para a história resumida do Batalhão de Caçadores 3863 e da “minha” companhia 3460, ver Resenha, 7º. vol., tomo II, pag. 157-158.
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(...) Canchungo, 25 de Setembro de 1972

No início de Outubro vou a Bissau, tratar da minha primeira viagem de férias a Portugal e comprar uma máquina fotográfica. Vai-me fazer bem sair daqui, mudar de ares. Como é que vou para Bissau? De avião, a passarola pode cair, de coluna, por estrada, estamos sujeitos a ser emboscados. Mas estas coisas são tão raras que nem se podem ter em conta. A morte não espreita atrás de cada palmeira. É verdade que todos os dias acontecem desgraças - o Potra ficou sem uma perna, -  mas é preciso não mistificar, nem mitificar a situação militar. Eu não sou um operacional, sei onde me meto.

Ultimamente isto tem andado num virote, a guerra A, B, C, tantas letras até ao fim do alfabeto! (...)

(...) Canchungo, 30 de Setembro de 1972

O capitão Morgado veio do Cacheu até cá, o que sucede com alguma frequência, para tratar de pequenas operações com o meu coronel ou de outros assuntos com o seu comandante de batalhão. O Morgado é miliciano e comandante da Companhia 3460, a que pertenci. Sempre mantivemos um bom relacionamento, é boa pessoa, afável no trato e nas ideias. Hoje dizia-me: “Você não sabe o que perdeu em não vir para a minha Companhia, aquilo lá no Cacheu é uma estância de férias formidável:” E ria, ria. Não lhe falei nos fuzileiros mortos, recordei-lhe apenas a perna desfeita do alferes Potra, meu substituto. Já não riu, não me falou mais nas delícias do Cacheu.

Mas é verdade que o lugar, uma das vilas mais antigas da Guiné, vive em paz, não é atacada. O problema é a Caboiana e Jopá, as zonas libertadas do PAIGC perto do Cacheu e de Canchungo. A companhia 3460 não vai lá, por isso vivem tranquilos.

Sinal de paz e boa vida, o capitão trouxe-nos uns quilos de camarão cozido, fabuloso, grande, gostoso, pescado nas águas do rio Cacheu.

(...) Mansoa, 15 de Maio de 1973


Não há evacuações de helicóptero directamente do mato por isso os rapazes de Mansabá chegaram aqui ontem, os corpos sujos, as caras cobertas de pó, os olhos cheios de lágrimas, com um soldado que tinha uma perna desfeita por uma mina. O médico fez o que pôde e depois o infeliz foi levado para o hospital de Bissau. Lembrei-me do alferes Potra, meu substituto, que também ficou sem perna em Mansabá. Compreender estes homens, o porquê disto tudo. Sem literaturas. Eu, quase sem reacção, o coração ainda dói mas a cabeça esfria.

[, Foto à esquerda:  o AGA, em Cufar, 1973]

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10597: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (19): A pobreza em chão manjaco

Guiné 63/74 - P10808: Agenda cultural (241): Últimos dias da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62... Lisboa, Padrão dos Descobrimentos: até 30/12/2012


Os territórios da Índia Portuguesa, tal como os aprendíamos na escola primária (Cortesia de José Varzeano, autor do blogue Correio das Lembranças)



A exposição conta com a colaboração do Observatório Político, que fez o contexto geopolítico


(À  esquerda:) Fausto Diabinho recebe, da PSP, a ordem de mobilização, no seu próprio local de trabalho, uma farmácia de Lisboa. Fez a tropa em Elvas, em 1956.  (À direita:) Fausto Diabinho, em Goa, 2/7/1960, um ano e cinco meses antes da invasão (17/18 de dezembro de 1961).


Regimento de Lanceiros nº 1, Elvas > Despedida do ERC 1 (Esquadrão de Reconhecimento nº 1), mobilizado para a Índia.


Um grupo de alferes a bordo do Niassa, a caminho da Índia... Curiosamente, pertenciam à CCAÇ 11 e CCAÇ 12, as mesmas designações das duas companhias africanas que irão nascer em Contuboel, leste da Guiné, em meados de 1969...


O desembarque, em batelão, no porto de Mormugão, Goa.

Algumas das fotos da exposição (aqui reproduzidas, com a devida vénia...). 

1.  Amigos e camaradas, nomeadamente os da Grande Lisboa:

Seria uma pena perderem esta exposição, que está patente no Padrão dos Descobrimentos,  já desde o dia 30 de setembro, e que termina no próximo dia 30 dezembro.

Pode ser visitada, de terça-feira a domingo, das 10.00h às 18.30h. A entrada são 3 €.

No sitio oficial lê-se: "O Padrão dos Descobrimentos, dedicado a todos os que difundiram a cultura portuguesa no mundo, apresenta esta exposição como parte da sua memória viva, evocando o esforço e a coragem de todos os homens que são um testemunho das várias facetas da história lusa de além-mar.

"Este Álbum de Memórias. Índia Portuguesa 1954-62, criado a partir de fotografias, documentação e recordações dos militares portugueses, espólio recolhido por Fernanda Paraíso, com o apoio da Associação Nacional de Prisioneiros de Guerra (ANPG), retrata a vida dos militares, prisioneiros de guerra na sequência da ocupação indiana dos territórios portugueses na Índia, em Dezembro de 1961, até ao momento do seu repatriamento.

"À presente exposição, comissariada por Fernanda Paraíso, une-se o contributo do Observatório Político que introduz o enquadramento complementar para a compreensão do quadro histórico e político de meados do século XX, no qual se inscrevem os acontecimentos narrados"...

2. Tomo a liberdade de apresentar algumas fotos que fiz, aquando da minha visita à exposição, no passado dia 25 de novembro. Gostaria de chamar  a atenção para os excertos dos diversos diários mantidos pelos militares portugueses que ficaram prisioneiros das tropas invasoras indianas, e que só regressaram à Pátria em 1962, depois de cinco meses e meio de cativeiro. Comemora-se. portanto, este ano,  o 50º aniversário dos últimos soldados da Índia... E por outro lado, enfatize-se o carinho com que estes homens, nossos camaradas da guerra colonial, tanto do exército como da marinha, reuniram documentos, objectos, fotos, etc. que ilustram esta fase final da nossa presença na índia, entre 1954 e 1962. É também o testemunho de um geração que tem sofrido a ignomínia do silêncio. Parabéns à comissária Fernanda Paraíso e ao EGEAC.

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Guiné 63/74 - P10807: Parabéns a você (511): António Paiva, ex-Soldado Condutor do HM 241 de Bissau (Guiné, 1968/70)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10802: Parabéns a você (510): Francisco Santos, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

sábado, 15 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10806: Memória dos lugares (201). Bambadinca e o seu fontenário de 1948 (José Carlos Lopes / Humberto Reis / Libério Lopes / Luís Graça)




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, José Carlos Lopes no cimo da famosa fonte de Bambadinca... Poucos fotógrafos deram contam  deste monumento... E, no entanto, milhares de homens em armas passaram ao seu lado... É uma construção dos anos 40 (conforme inscrição, visível na foto: 1948). Já aqui falámos desta fonte em poste anterior (*).

Foto: © José Carlos Lopes  (2012). Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 1996: A fonte de Bambadinca. Quando o Humberto Reis voltou à Guiné, em viagem de negócios e de saudade, passou por Bambadinca e tirou esta chapa. A fonte ainda estava lá, e - o mais importante - funcionava!... E continua a lá estar, mais de 60 anos depois da sua construção: veja-se no Google Earth!...



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista (parcial) da tabanca de Bambadinca, com o Rio Geba ao fundo. Em primeiro plano, contígua ao arame farpado, a casa e o estabelecimento comercial do Rendeiro, um dos poucos colonos portugueses que conhecemos na Guiné, em 1969/71.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Entrada principal, pelo lado leste (sentido Bafatá), do aquartelamento. O fontenário está sinalizado com um círculo a vermelho, ficava a uns 100 metros da casa e estabelecimento comercial do Rendeiro.






Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (lado leste) do aquartelamento, ligando à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá. Este troço que ladeada o "morro" de  Bambadinca, fazia a ligação com a estrada, em conmstrução, Bambadinca-Xime (que será posteriormente asfaltada, em 1971 ou 1972). Ao fundo, o Rio Geba Estreito. São visíveis as instalações do Pelotão de Intendência, junto ao importante porto fluvial de Bambadinca. O fontenário de aqui falamos, comnstruído em 1948, está sinalizado com um círculo a vermelho.

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados



A fonte, de 1948, em foto de 1964... Enviada pelo nosso camarada Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65).
Foto: © Libério Lopes (2012). Todos os direitos reservados,





Guiné > Zona leste > Carat de Bambadinca (1955) >  Escala 1/50 mil > Pormenor. Bambadinca ficava num cruzamento ligando a leste Bafatá (e Nova Lamego), a sul, Mansambo - Xitole - Saltinho, e a sudoeste, o Xime.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. (**)

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