1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Outubro de 2012:
Queridos amigos,
A proposta do conceituado historiador guineense Julião Soares Sousa é um documento redigido com franqueza e profundo afecto pelos sofrimentos do seu povo, passa em revista as sucessivas crises, tumultos, intentonas e inventonas desde 1974 ao presente.
Desvela contradições e a posse maníaca pelo poder, recorda como as elites se divorciaram dos interesses da maioria e vivem em permanente locupletação.
Enuncia uma série de pontos que ele considera relevantes para levantar o Estado. E pede debate.
Os guineenses que têm este blogue como sala de conversa, parece-me, têm agora ensejo para depor nos termos construtivos que são o apanágio deste guineense que está a fazer carreira científica brilhante entre nós.
Um abraço do
Mário
Guiné-Bissau: A destruição de um país (2)
Beja Santos
“A estabilização da Guiné-Bissau passa essencialmente pela desmilitarização da política, pela despartidarização das Forças Armadas e pelo fim das lutas pelo controlo do poder na esfera político-partidária. A resolução da crise nacional depende, única e exclusivamente, da nossa capacidade em assumirmos coletivamente os erros cometidos ao longo de quase 40 anos de independência. Depois de tantas convulsões, da desagregação da sociedade guineense e das ameaças que pairam sobre o seu futuro imediato, parece ter chegado o momento de grandes decisões. A única saída é vencer a fragmentação da nossa sociedade, através de uma discussão livre, com a participação de todos os sectores da vida nacional; a recuperação do país e das instituições do Estado é uma matéria que deve interessar e envolver todos os guineenses”, escreve Julião Soares Sousa nas reflexões finais do seu livro “Guiné-Bissau: A destruição de um país” (edição de autor, Coimbra, 2012, contacto: juliaosousa@hotmail.com).
No texto anterior procedeu-se a uma análise sumária das crises, choques político-ideológicos que invadiram a vida da jovem república da Guiné-Bissau, praticamente desde a sua fundação. Retomamos o fio desta meada exatamente com conflito de 1998-1999, que introduziu uma viragem neste ciclo de autoritarismo e despotismo. Se é facto que Nino Vieira, após o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, introduziu uma modificação radical nas relações entre o partido/Estado e a sociedade, durante cerca de 20 anos as Forças Armadas foram progressivamente saindo da dependência do poder político, misturaram-se com dirigentes políticos no acesso ilícito de bens, foram coniventes em perseguições e assassínios, e por fim no tráfico de armas. Em 1998, a sociedade guineense ainda estava em estado de choque pela passagem ao franco CFA, a questão dos antigos combatentes e os vencimentos das Forças Armadas eram questões graves, eternamente dependentes; acresce a divisão do PAIGC e o confronto entre Nino e Ansumane Mané. Ciente da falta de apoios interno, Nino pede a intervenção do Senegal e da Guiné Conacri: o Senegal intervinha para liquidar os rebeldes do Casamansa e, conforme escreve o autor “A precipitação do Senegal em direção à Guiné foi instigado pelo facto de, logo nas primeiras horas, constar que os rebeldes do MFDC combatiam em Bissau ao lado da Junta Militar; a Guiné Conacri e o regime de Lânsana Conté vieram retribuir o apoio que Nino lhes dera a quando da rebelião militar de Fevereiro de 1986, que se saldou em 50 mortos, Nino e Lânsana tinham um acordo de ajuda reciproca, alicerçado em relações pessoais antigas e interesses privados em Lânsana na Guiné-Bissau. Foi um longo conflito de onze meses com vários acordos de cessar-fogo que, mal assinados eram rasgados".
Ainda na presidência de Nino, em Fevereiro de 1999, Francisco Fadul foi designado primeiro-ministro à frente de um Governo de Unidade e Reconciliação Nacional. Depois de desafios e tensões, a junta militar tomou poder em Maio, Nino renunciou e Malam Bacai Sanhá ascendeu ao cargo de presidente da República interino. O que se seguiu trouxe a revelação que os militares não queriam abandonar o poder, exigiram um pacto de transição, confiscaram poderes constitucionais do presidente da República, ao mesmo tempo que o PAIGC em congresso expulsava uma dezena de personalidades de primeiro plano. Seguiu-se um período em que à sombra do desgaste do PAIGC Kumba Ialá soube impor-se pelo seu popularismo. Este período da presidência de Kumba o autor chama-lhe a IV República. A paz não chegou à Guiné. Ansumane Mané foi assassinado, os militares demitiram Kumba em 2003, nunca mais pararam as tricas entre a presidência da República, o primeiro-ministro e a oposição, isto enquanto a situação económica e financeira tinham resvalado para um novo caos. Os militares voltaram à ribalta, exigiram a criação de um Conselho Nacional de Transição Política. O líder do comité militar, Veríssimo Seabra, foi assassinado em Outubro de 2004, Henrique Rosa foi a personalidade escolhida pelas chefias militares e pela sociedade civil para ocupar o cargo de presidente interino, depois do golpe de Estado que depôs Kumba. Nino irá apresentar-se a eleições em Junho de 2005 que derrotará Kumba na segunda volta. É este o marco da fundação da V República, segundo o autor. A instabilidade não parou: em três anos de mandato Nino nomeou três chefes de Governo. Em 2009, em dois dias consecutivos, são assassinados Tagma Na Waie, CEMGFA, e Nino. Repetiu-se a dança do presidente interino, Carlos Gomes Júnior e Zamora Induta foi nomeado CEMGFA. O PAIGC entregou-se a novas lutas internas dilacerantes entre Carlos Gomes Júnior e Malã Baicai Sanhá. Houve novas querelas na hierarquia do mando, desta feita Malam Sanhá exonerou o Procurador-Geral da República, em condições nada pacíficas.
Julião Soares Sousa explica ao detalhe todas estas convulsões, e assim chegamos às eleições de 18 de Março de 2012, interrompidas por novo golpe de Estado militar que iniciou mais um doloroso período com afastamento da Guiné-Bissau da cena internacional. Refletindo sobre a função presidencial, o autor reflete sobre os equívocos e interpretações erróneas dos presidentes que se excederam no uso do poder e escreve: “O regime presidencialista é o que menos serve os interesses do nosso país. O chefe de Estado deve ser suprainstitucional, ter a função de moderação nos grandes debates nacionais. Os presidentes da República eleitos em lugar de serem presidentes de todos os guineenses são por norma presidentes das clientelas, daqueles grupos que apenas sobrevivem bajulando o poder e com grande capacidade para fomentar intrigas e semear ódios”. A sua observação prossegue pelo estado das finanças públicas e a grande desconfiança da comunidade internacional, fala na necessidade de projetos novos na área do turismo, da agricultura, das pescas e da exploração das riquezas de subsolo. Propõe, em consequência, uma alteração, maioritariamente aceite pelo povo guineense para o desempenho macroeconómico reapetrechamento do aparelho de Estado, a dignificação dos funcionários, a coesão da política educativa, uma nova política externa de credibilidade e de boa governança. O que pressupõe um diagnóstico rigoroso e uma energia para superar contradições entre o interesse público e o mercado liberal. Desde os anos 1980 que a Guiné-Bissau promete implementar reformas económicas e políticas, o resultado é a manutenção do poder típico de regimes totalitários e a deriva neoliberal, temos assim explicada a estagnação do país.
O apelo deste insigne historiador é a favor do poder democrático alicerçado em reformas: redução dos poderes do presidente da República; clarificação dos poderes do Procurador-Geral da República, e dessa recuperação política há que passar para a recuperação das instituições do Estado como entidade promotora de bem-estar. Este apelo é escrito na convicção de que a Guiné-Bissau está no limite entre a clarificação democrática e a penosa e inglória ditadura militar. Apela a um grande debate e lembra as palavras do bispo D. Septímio Ferrazzeta, proferidas na sede de Bissau, em 9 de Agosto de 1998: “O povo da Guiné-Bissau é pacato, sabe sofrer, mas até certo ponto… Quando cada um de nós pergunta as razões desta guerra, a resposta estará nos pontos seguintes: ninguém dá ao poderoso direito de ser arrogante; ninguém dará ao soberbo o direito de ser prepotentes; ninguém dará a quem exercer o poder o direito de receber o que pertence aos outros; ninguém dará o direito ao corrompido de matar o inimigo”.
É nestes tempos incertos que é preciso encontrar novos rumos em prol do resgate definitivo do nosso país, conclui o historiador guineense neste documento apresentado com uma proposta susceptível de levantar o Estado e garantir a paz a todos os guineenses.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10956: Notas de leitura (450): Guiné-Bissau: A Destruição de um País, por Julião Soares da Silva (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Guiné 63/74 - P10976: Parabéns a você (525): João Graça, músico e médico que, nesta qualidade, já fez voluntariado na Guiné-Bissau.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10960: Parabéns a você (524): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apont AP do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10960: Parabéns a você (524): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apont AP do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)
domingo, 20 de janeiro de 2013
Guiné 63/74 - P10975: Blogues da nossa blogosfera (61): Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral: mais de 10 mil documentos, integralmente tratados, abertos a partir de hoje ao público
Organizada pela Fundação Mário Soares (e contando com diversas parcerias), a Casa Comum é uma notável iniciativa que reúne para já mais de 6 dezenas de fundos documentais, relevantes para a história e a cultura dos nossos países lusófonos.
Conforme se pode ler no respetivo sítio, "no dia 20 de Janeiro de 2013, 40.º aniversário do assassinato de Amílcar Cabral, é disponibilizado em Casa Comum o Arquivo Amílcar Cabral. Este importante acervo documental foi recuperado e tratado a pedido das autoridades guineenses e com a colaboração da Fundação Amílcar Cabral, de Cabo Verde, e com o especial empenho de Iva Cabral, de Aristides Pereira e de Pedro Pires. Embora incompleto, permanece, ainda assim, um retrato essencial do grande dirigente africano." O arquivo está "integralmente tratado".
(i) Constituído por mais de 10.000 documentos (com cerca de 27.600 páginas), incluindo 1.300 fotografias;
(ii) O âmbito cronológico dos Documentos Amílcar Cabral situa-se entre 1956 e 1976, com excepção de alguns documentos posteriormente incorporados por sua Filha, Iva Cabral, que se referem a actividades profissionais de Cabral e, também, a acontecimentos posteriores à sua morte;
(iii) Essencialmente organizado em Dakar e em Conakry, é constituído por documentação de cariz político, militar e diplomático produzida pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e pelo seu fundador, Amílcar Cabral;
(iv) A documentação de carácter político engloba também os movimentos anti-coloniais africanos (FRAIN, MAC, UGEAN e CONCP) e, de modo menos significativo, os movimentos de libertação de outras ex-colónias portuguesas (MPLA e FRELIMO);
(v)Destacam-se os Manuscritos de Amílcar Cabral (10 % do total da documentação), onde é possível encontrar o rascunho de documentos emblemáticos da luta pela independência, como Unidade e Luta ou O papel da cultura na luta de libertação;
(vi) Deste conjunto constam igualmente algumas das mais importantes tomadas de posição política do PAIGC, designadamente as decisões do I Congresso do PAIGC (Congresso de Cassacá), que ditaram a reorganização do partido e das forças armadas;
(vii) O Arquivo Amílcar Cabral reúne ainda documentação de outras origens, directamente relacionada com os temas nele tratados, designadamente Pedro Pires, Iva Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Vasco Cabral, Manuel dos Santos e Bruna Polimeni;
(viii) Importa destacar o empenho na salvaguarda da documentação de Amílcar Cabral de sua filha Iva Cabral e ainda de Aristides Pereira e Pedro Pires.
(1950), "Amílcar Cabral e Maria Helena Rodrigues", CasaComum.org, Fundação Mário Soares, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05221.000.021 (2013-1-21)
Índice (entre parênteses o nº de documentos)
Arquivo Amílcar Cabral (10194)
01. Amílcar Cabral (67)
02. Antecedentes (198)
03. Movimentos Anti-Coloniais (364)
04. PAI/PAIGC (1674)
05.Organização Militar (1259)
Apontamentos e Instruções
Armamento
Comunicações
Comunicados
Conselho de Guerra
E.P./FARP
Guerrilha
Guias de Marcha
Justiça Militar
Mapas e Cartas
Milícia Popular
Missão Cubana
Missões
Mobilização
Palavras de Ordem
Relatórios
06. Organização Civil (179)
07. Organizações Internacionais (127)
08. Correspondência (4810)
09. Independências (43)
10. Biblioteca Digital (6)
11. Fotografias (1307)
12. Imprensa/Recortes (25)
13. Docs. PIDE/DGS (7)
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07. Organizações Internacionais (127)
08. Correspondência (4810)
09. Independências (43)
10. Biblioteca Digital (6)
11. Fotografias (1307)
12. Imprensa/Recortes (25)
13. Docs. PIDE/DGS (7)
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Nota do editor:
Último poste da série > 1 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10747: Blogues da nossa blogosfera (60): Memórias de Outros Tempos - A Estadia no HM 241, no Blogue Coisas da Vida (Jorge Teixeira - Portojo)
Guiné 63/74 - P10974: A geração seguinte (1): Aníbal Sousa de Castro, Condutor de Feixes Hertzianos (Sousa de Castro)
1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), com data de 18 de Janeiro de 2013 com uma proposta para falarmos dos filhos que como nós pegaram em armas. Aqui fica a sugestão para quem quiser participar na série "A geração seguinte".
Caros amigos,
Entendi que seria uma “série” interessante a publicação no blogue a passagem dos nossos filhos pelo serviço Militar. Assim sendo, envio em anexo uma pequena referência relacionada com a passagem de meu filho na vida militar.
Se acharem conveniente disponham.
Grande abraço a todos camarigos,
Sousa de Castro
MUITOS DOS NOSSOS FILHOS TAMBÉM FORAM À TROPA
A geração seguinte
Estivemos na Guerra do Ultramar até 1974.
Muitos de nós, com família constituída e com filhos, tendo muitos deles cumprido obrigatoriamente o serviço militar, como foi o caso de meu filho nascido a 18JUL1972.
Ingressou na Escola Prática de Transmissões (EPT), situada na Rua 14 de Agosto, Porto.*
Depois de concluir a escola de recrutas transitou para Santa Margarida (Campo Militar de Santa Margarida) onde se especializou em condutor de Feixes Hertzianos.
Cumpriu 11 a 12 meses de serviço militar obrigatório. Foi um militar que não achou muita piada àquela vida, fazia-lhe muita confusão ter mulheres a dar voz de comando, achava muito estranho, como muitas outras situações de que se apercebia e não se relacionavam mesmo nada com a sua personalidade.
(*) - Este quartel foi ocupado até 1993 pelo Regimento de Infantaria do Porto (RIP), antigo Regimento de Infantaria nº 6 (RI6).
Ver aqui a História da Escola Prática de Transmissões
Sousa de Castro
Caros amigos,
Entendi que seria uma “série” interessante a publicação no blogue a passagem dos nossos filhos pelo serviço Militar. Assim sendo, envio em anexo uma pequena referência relacionada com a passagem de meu filho na vida militar.
Se acharem conveniente disponham.
Grande abraço a todos camarigos,
Sousa de Castro
MUITOS DOS NOSSOS FILHOS TAMBÉM FORAM À TROPA
A geração seguinte
Estivemos na Guerra do Ultramar até 1974.
Muitos de nós, com família constituída e com filhos, tendo muitos deles cumprido obrigatoriamente o serviço militar, como foi o caso de meu filho nascido a 18JUL1972.
Ingressou na Escola Prática de Transmissões (EPT), situada na Rua 14 de Agosto, Porto.*
Depois de concluir a escola de recrutas transitou para Santa Margarida (Campo Militar de Santa Margarida) onde se especializou em condutor de Feixes Hertzianos.
Cumpriu 11 a 12 meses de serviço militar obrigatório. Foi um militar que não achou muita piada àquela vida, fazia-lhe muita confusão ter mulheres a dar voz de comando, achava muito estranho, como muitas outras situações de que se apercebia e não se relacionavam mesmo nada com a sua personalidade.
(*) - Este quartel foi ocupado até 1993 pelo Regimento de Infantaria do Porto (RIP), antigo Regimento de Infantaria nº 6 (RI6).
Ver aqui a História da Escola Prática de Transmissões
Sousa de Castro
EPT - Porto, 18JUL1993 - Aníbal Sousa de Castro
Sousa de Castro (Júnior) assinalado com círculo na Escola Prática de TRMS, Porto, JUL1993
Assinatura de todo o Pelotão
Guiné 63/74 - P10973: Agenda cultural (250): Lançamento do livro "Rosa no País das Flores da Luta", de Maria do Céu Mascarenhas, dia 26 de Janeiro de 2013 pelas 16h00 no Auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Lisboa
1. Mensagem de Maria do Céu Mascarenhas (professora cooperante na Guiné-Bissau no ano lectivo de 1977/78), com data de 19 de Janeiro de 2013, solicitando a divulgação do lançamento do seu livro "Rosa no País das Flores da Luta" a ter lugar no próximo dia 26 de Janeiro, pelas 16h00 no Auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro em Lisboa:
Envio em anexo, com pedido de divulgação, um convite para o lançamento do meu livro Rosa no País das Flores da Luta.
O evento é público, pelo que podem aparecer - e dão-me muito prazer - todas as pessoas que se interessem, quer comprem ou não o livro*.
Abaixo mais algumas informações, comuns para todos os convidados:
"Informo que o meu livro Rosa no País das Flores da Luta será lançado no sábado 26 de Janeiro de 2013 no Auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, em Lisboa, perto do Metro de Telheiras. Por cada exemplar da edição reverterá um euro para a Pediatria do Hospital Simão Mendes, de Bissau. Trata-se de uma mistura de literatura de viagens, memórias e autobiografia, com fulcro na minha experiência como professora cooperante no Liceu de Bissau no ano lectivo 1977/78".
Adicionalmente, informo que escrevi este livro aos serões, nos anos de 1998 e 1999, na Alemanha, onde fui docente de Língua, Literatura e Cultura Portuguesas. Depois, aqui em Portugal, conheceu um percurso sinistro mas, finalmente, superados muitos obstáculos, vai ser publicado.
O livro tem uma página com algumas dedicatórias, uma das quais é "A todos os que combateram na guerra colonial" e um capítulo a que chamei "Uma festa de loucos com nome de guerra", o qual se refere a essa guerra e suas sequelas, e tem uma foto, tirada por mim e retirada do meu álbum pessoal, de um abrigo de militares portugueses em Mansabá.
Fico-vos grata pela divulgação do evento e, naturalmente, todos serão bem vindos!
Cordiais saudações
Maria do Céu Mascarenhas
*192 pgs., com fotos a cores, 14,00€
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10957: Agenda cultural (249): No passado dia 15 de Janeiro, foi apresentado o livro Golpe de Mão's, de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira, na Livraria Municipal Verney, em Oeiras (Miguel Pessoa)
Envio em anexo, com pedido de divulgação, um convite para o lançamento do meu livro Rosa no País das Flores da Luta.
O evento é público, pelo que podem aparecer - e dão-me muito prazer - todas as pessoas que se interessem, quer comprem ou não o livro*.
Abaixo mais algumas informações, comuns para todos os convidados:
"Informo que o meu livro Rosa no País das Flores da Luta será lançado no sábado 26 de Janeiro de 2013 no Auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, em Lisboa, perto do Metro de Telheiras. Por cada exemplar da edição reverterá um euro para a Pediatria do Hospital Simão Mendes, de Bissau. Trata-se de uma mistura de literatura de viagens, memórias e autobiografia, com fulcro na minha experiência como professora cooperante no Liceu de Bissau no ano lectivo 1977/78".
Adicionalmente, informo que escrevi este livro aos serões, nos anos de 1998 e 1999, na Alemanha, onde fui docente de Língua, Literatura e Cultura Portuguesas. Depois, aqui em Portugal, conheceu um percurso sinistro mas, finalmente, superados muitos obstáculos, vai ser publicado.
O livro tem uma página com algumas dedicatórias, uma das quais é "A todos os que combateram na guerra colonial" e um capítulo a que chamei "Uma festa de loucos com nome de guerra", o qual se refere a essa guerra e suas sequelas, e tem uma foto, tirada por mim e retirada do meu álbum pessoal, de um abrigo de militares portugueses em Mansabá.
Fico-vos grata pela divulgação do evento e, naturalmente, todos serão bem vindos!
Cordiais saudações
Maria do Céu Mascarenhas
*192 pgs., com fotos a cores, 14,00€
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10957: Agenda cultural (249): No passado dia 15 de Janeiro, foi apresentado o livro Golpe de Mão's, de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira, na Livraria Municipal Verney, em Oeiras (Miguel Pessoa)
Guiné 63/74 - P10972: O nosso livro de visitas (157): Campelo de Sousa, ex-Radiotelegrafista, de rendição individual, Bafatá e Nova Lamego, 1971/72
Guiné > Zona leste > Nova Lamego > Estação dos Correios
Foto: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados.
1. Comentário do nosso camarada Campelo de Sousa, ex-Radiotelegrafista em Bafatá e Nova Lamego, deixado no Poste 8342*, no dia 16 de Janeiro de 2013:
Muito obrigado por mais esta oportunidade, por poder visitar este lindo blog, que nas horas de maior fragilidade é sem sombra de duvida o melhor antídoto.
O autor deste blog merece uma estátua, pelo menos no coração de todos aqueles que de uma maneira ou de outra combateram ou não em terras da Guiné. Pena que tão poucos livros tenham sido publicados sobre a Guerra na Guiné! Mas este blog é o melhor, o mais belo, o mais verdadeiro livro que qualquer homem e mulher devia ler desde a primeira à última pagina!
Mais uma vez, parabéns pela construção deste blog, que tão bem tem relatado a vida dos soldados na guerra da Guiné.
Agora, resta-me pedir ao Sr. Luís Graça, que me diga como devo fazer para enviar algumas fotografias aqui para o blog.
Um abraço de:
Campelo de Sousa
Ex-Radiotelegrafista em
Bafatá e Nova Lamego
2. Comentário de CV:
Caro camarada Campelo,
Muito obrigado por mais este contacto, via comentário, e pelas palavras que diriges ao fundador deste blogue, o camarada Luís Graça. Ele merece-as, mas para que a sua iniciativa se mantenha viva e actuante precisamos de camaradas novos na tertúlia.
Sem mais rodeios, convido-te a subires as escadas e entrares pela porta grande desta caserna virtual, também conhecida por Tabanca Grande, onde cabem todos os camaradas ex-combatentes da Guiné.
Pelo modo como me estou a dirigir a ti, deves calcular que nos tratamos, sem cerimónia, por tu, porque somos exactamente camaradas, que tudo temos em comum enquanto ex-combatentes naquela terra que nos marcou para sempre. Terás tu também que abandonar expressões como, por exemplo, senhor Luís Graça.
Manda uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, diz-nos qual foi o teu posto militar, especialidade, data de ida e volta para/da Guiné, unidades a que estiveste adstrito, locais onde cumpriste a tua comissão de serviço, etc. Respostas a algumas destas perguntas já temos, mas é para ficarmos com todos os teus elementos juntos para consultas futuras.
A tua correspondência e fotos devem ser enviadas sempre para a caixa de correio do editor Luís Graça: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.comluisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores: Carlos Vinhal e/ou Eduardo Magalhães, cujos endereços encontrarás na lateral da nossa página.
Esperamos o teu próximo contacto com os teus elementos básicos para que possamos fazer a tua apresentação à tertúlia. Poderás também começar a tua colaboração neste blogue enviando desde já os teus textos e fotos.
Até lá deixo-te um abraço em nome dos editores
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 28 DE MAIO DE 2011 > Guiné 63/74 - P8342: O Nosso Livro de Visitas (112): Campelo de Sousa, ex-radiotelegrafista de rendição individual (Bafatá, 1970; Nova Lamego, 1971/72), relembrando a sua passagem por Bambadinca
Vd. último poste da série de 9 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10917: O nosso livro de visitas (156): João Nunes, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores, ex-fur mil, CCAÇ 4544,/73 (Cafal Balanta e Bolama, 1973/74)
Guiné 63/74 - P10971: Recortes de imprensa (64): Morte de Cabral interessava a todos (Carlos Lopes, em declarações à Agência Lusa, reproduzidas na página da Angop - Angola Press, 19/1/2013)
1. Excerto da página da Angop - Angência Angola Press, aqui reproduzido com a devida vénia:
Morte de Cabral interessava a todos - secretário executivo de Comissão da ONU
Cidade da Praia - A morte de Amílcar Cabral, há 40 anos, interessava a todas as partes envolvidas nas independências das então províncias portuguesas da Guiné e Cabo Verde, disse hoje à agência Lusa um dirigente guineense das Nações Unidas.
O secretário-geral adjunto das Nações Unidas e secretário executivo da Comissão Económica para África (CEA) da ONU, Carlos Lopes, lembrou que são conhecidos os autores materiais do assassínio de Cabral - Inocêncio Kani e outros guerrilheiros do PAIGC -, não interessando analisar pormenorizadamente a sua morte.
"Os autores físicos do assassínio são conhecidos e as várias justificações que podem estar por trás dos autores físicos têm a sua validade. Não vale a pena estarmos a fazer uma análise mais detalhada para saber a quem interessava a morte de Cabral. "Interessava a todas as conglomerações de interesses que estão por trás da sua morte", sustentou.
Segundo Carlos Lopes [, foto à direita, arquivo das Nações Unidas, Cabo Verde ], após o assassínio de Cabral, abatido a tiro em Conacri a 20 de Janeiro de 1973 e cujos contornos nunca foram devidamente apurados, todos os dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) pensavam que tinha morrido apenas "a personagem" e que muitos outros poderiam continuar o trabalho.
"Isso foi, de certa forma, verdade, porque conseguiu-se atingir as independências. Mas já não é verdade porque a profundidade do pensamento de Cabral não foi substituída até hoje. Não se deve deixar que se responsabilize Cabral pelo que se passou (na Guiné-Bissau e em Cabo Verde) após a sua morte", frisou. "São as pessoas que utilizam o seu pensamento da forma que mais lhes interessa: uns para dizer algo negativo e outros para dizer algo positivo. Todas as grandes personagens são sujeitas a um escrutínio muito mais apurado", sustentou.
Questionado pela Lusa sobre se Cabral foi "ingénuo" ao acreditar ser possível a unidade entre Cabo Verde e Guiné-Bissau, Carlos Lopes lembrou o então muito em voga pan-africanismo, cujo conceito foi expressado de várias formas pelo líder do PAIGC. "No fundo, se acreditarmos no pan-africanismo como utopia mobilizadora, pode-se concluir que valeu a pena, pois levou os dois países à independência. Mas tudo o que se passou após a sua morte é da responsabilidade dos protagonistas pós-Cabral", frisou, aludindo ao corte de relações entre os dois países após o golpe de Estado guineense de 14 de Novembro de 1980.
19-01-2013 16:52
Guiné-Bissau/Cabo Verde
Guiné-Bissau/Cabo Verde
Morte de Cabral interessava a todos - secretário executivo de Comissão da ONU
Cidade da Praia - A morte de Amílcar Cabral, há 40 anos, interessava a todas as partes envolvidas nas independências das então províncias portuguesas da Guiné e Cabo Verde, disse hoje à agência Lusa um dirigente guineense das Nações Unidas.
O secretário-geral adjunto das Nações Unidas e secretário executivo da Comissão Económica para África (CEA) da ONU, Carlos Lopes, lembrou que são conhecidos os autores materiais do assassínio de Cabral - Inocêncio Kani e outros guerrilheiros do PAIGC -, não interessando analisar pormenorizadamente a sua morte.
"Os autores físicos do assassínio são conhecidos e as várias justificações que podem estar por trás dos autores físicos têm a sua validade. Não vale a pena estarmos a fazer uma análise mais detalhada para saber a quem interessava a morte de Cabral. "Interessava a todas as conglomerações de interesses que estão por trás da sua morte", sustentou.
Segundo Carlos Lopes [, foto à direita, arquivo das Nações Unidas, Cabo Verde ], após o assassínio de Cabral, abatido a tiro em Conacri a 20 de Janeiro de 1973 e cujos contornos nunca foram devidamente apurados, todos os dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) pensavam que tinha morrido apenas "a personagem" e que muitos outros poderiam continuar o trabalho.
"Isso foi, de certa forma, verdade, porque conseguiu-se atingir as independências. Mas já não é verdade porque a profundidade do pensamento de Cabral não foi substituída até hoje. Não se deve deixar que se responsabilize Cabral pelo que se passou (na Guiné-Bissau e em Cabo Verde) após a sua morte", frisou. "São as pessoas que utilizam o seu pensamento da forma que mais lhes interessa: uns para dizer algo negativo e outros para dizer algo positivo. Todas as grandes personagens são sujeitas a um escrutínio muito mais apurado", sustentou.
Questionado pela Lusa sobre se Cabral foi "ingénuo" ao acreditar ser possível a unidade entre Cabo Verde e Guiné-Bissau, Carlos Lopes lembrou o então muito em voga pan-africanismo, cujo conceito foi expressado de várias formas pelo líder do PAIGC. "No fundo, se acreditarmos no pan-africanismo como utopia mobilizadora, pode-se concluir que valeu a pena, pois levou os dois países à independência. Mas tudo o que se passou após a sua morte é da responsabilidade dos protagonistas pós-Cabral", frisou, aludindo ao corte de relações entre os dois países após o golpe de Estado guineense de 14 de Novembro de 1980.
No entanto, para Carlos Lopes, há o facto de Cabral ter sido capaz de vislumbrar que a luta de interesses e entre elites dentro do próprio PAIGC ia ser o grande problema depois das independências. "Era preciso construir o Estado e os princípios da igualdade como os principais motores que poderiam evitar certas contradições. E Cabral, na forma como analisou os factores, previu que seria uma luta muito difícil ou mesmo inglória", concluiu.
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Nota do editor;
Último poste da série > 12 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10931: Recortes de imprensa (63): Homenagem, em maio de 2008, ao tenente capelão Joaquim Ferreira da Silva, jesuíta, natural de Santo Tirso, que pela sua coragem e lucidez terá evitado um banho de sangue no campo de prisioneiros de Pondá, Goa, em 19 de março de 1962 (JN- Jornal de Notícias, 12/5/2008)
Guiné 63/74 - P10970: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (23): 24.º episódio: Memórias avulsas (5): "Salazar é qui na manda"
1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 16 de Janeiro de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".
OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA (24)
GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS (5)
"SALAZAR É QUI NA MANDA!"
Foi este o grito que ouvi naquele primeiro Domingo após a minha chegada e durante o desfile, com que cada etnia guineense e nos seus folclóricos fatos tradicionais mostrava a sua fidelidade, dançando e cantando, entre a Praça do Império, lá em cima e o cais do Pidjiguiti, cá em baixo, obviamente.
Tal festarola semanal, apanhou-me de surpresa e em princípio pensei que tivesse sido preparada em minha honra e até agradeci de braços no ar e dedos colados, como se a continência fizesse.
Aterrado fiquei porém, pois que como é que "Salazar é qui na manda?" se ele é o chefe do País Portugal... dos Ultramares... dos Alentejos e tudo?
Perguntei a uma Senhora Professora do Liceu de lá, que me explicou o porquê, e afinal até eu compreendi.
Então é assim:
Em tempos idos, a colónia recebia de quando em vez, uns pretensos inspectores cuja função era a de verificarem como eram tratados os autóctones, pelos mandantes brancos.
As perguntas eram previamente seleccionadas, não fosse a coisa falhar e as respostas dos inquiridos também, só que, tadinhos, nem percebiam como eram enganados sendo sinceros.
1ª questão:
- Que tal a comida?
A resposta honesta era:
- Manga de bianda
A troca do nome do arroz, levava a que fosse interpretado como se enchessem a barriga com carne, dado que nos países ali à volta, franceses como sabemos, era mais ou menos essa a forma de se lhe chamar, "viande" mais concretamente.
2ª questão:
- Como é que vos tratam?
- Ca trata bem, mesmo
E perante isto, a coisa soava bem e sem querer este pobre povo ia, ingenuamente ao que encontro do que se pretendia, daí que para o SIM, lhes ensinaram a dizer "NA" e para o NÃO, "CA".
Por isso aquele desabafo que dá título a esta excelente crónica dum não menos excelente escrevinhador, Senhor de Veríssimo, queria mesmo dizer o contrário do que eu pensei estupidamente.
Grandes e engenhosas mánicas estes Portugueses, sim senhor.
************
Cá o nôsso Furié viera em missão militar altamente confidencial, passar uns dias a Bissau e houvera convidado um amigo de infância, fuzileiro especial agora e já antes e como tal, combatente em Angola e medalhado com a mais alta distinção possível.
Estávamos em Julho de 1966 e serenamente, (mas sem ter nada que ver com esse facto de ser Julho de 66) íamos saboreando o almoço e já três dúzias de ostras haviam sido devoradas, ao mesmo tempo que tomávamos umas bebidas consentâneas com o pitéu, para além das que antes deglutíramos para criar lastro.
Na precisa altura em que ele foi lá dentro ao WC escorrer o caldo às couves, aparecem-me à frente dois garotos bem parecidos, matulões, melhor fardados, engravatados apesar do insuportável calor, com capacete pintado de branco e com as letras maiúsculas PM, lá escarrapachadas.
Tentaram-me sarrazinar o juízo; pedem-me a identificação; implicam com os meus chinelos macaístas de enfiar entre os dedos grande e o do lado; que o bivaque em cima da mesa não estava conforme o regulamento; que os botões da camisa são para estar abotoados; enfim toda uma série de tonterias que lhes mandavam fazer ao pobre soldado que vinha do mato, mato esse que passara ao lado a estes filhos da mãe, e que portanto não conheciam, mas de que já tinham ouvido falar.
Um, o que nada dizia, (se calhar era mudo) tirara o bastão e acariciava-o gulosamente ao mesmo tempo que me olhava com um ar de cão assassino.
Eu veterano, do Vietname viera, não gostei da cena e já me preparava para lhes mostrar a Parabellum 9mm que levava no sovaquinho ensopado de suor, quando eis que surge regressado da mijinha, despenteadíssimo como sempre, com a barba por fazer desde há três anos, camisa para fora do calção e com falta dos dois botões cimeiros, eis que aparece dizia eu, o meu amigo "Cruz de Guerra de 1ª classe" e... ah putos do caraças, empalideceram, ruboresceram e só porque ele lhes disse:
- Paneleiros.... dispersem e já.
Ao que soube mais tarde, que nada lhe perguntei, estes PM's tinham ordens no sentido de não se meterem com a Marinha e particularmente com os fuzos, mas que e se o fizessem teriam de conseguir bater-lhes, ou um castigo severo os esperava.
Partiram em continência e com o jeep a mais de cento e oitenta e três à hora, não sem que antes o meu amigalhaço os tenha mandado para qualquer sítio que não percebi bem mas que estava relacionado com a tia dum deles e não me perguntem se com o gajo do cassetete se com o que me fazia perguntas, pois que foi tudo tão rápido, que nem deu para o identificar.
(continua)
OBS: - A devida vénia ao site dos Especialistas da Base Aérea 12 de onde foi retirada a foto das ostras
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 13 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10933: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (22): 23.º episódio: Memórias avulsas (4): "O nosso Furié"
OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA (24)
GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS (5)
"SALAZAR É QUI NA MANDA!"
Guiné > Bissau > s/d > Desfile na Praça do Império
Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 104".
Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal.
Foi este o grito que ouvi naquele primeiro Domingo após a minha chegada e durante o desfile, com que cada etnia guineense e nos seus folclóricos fatos tradicionais mostrava a sua fidelidade, dançando e cantando, entre a Praça do Império, lá em cima e o cais do Pidjiguiti, cá em baixo, obviamente.
Tal festarola semanal, apanhou-me de surpresa e em princípio pensei que tivesse sido preparada em minha honra e até agradeci de braços no ar e dedos colados, como se a continência fizesse.
Aterrado fiquei porém, pois que como é que "Salazar é qui na manda?" se ele é o chefe do País Portugal... dos Ultramares... dos Alentejos e tudo?
Perguntei a uma Senhora Professora do Liceu de lá, que me explicou o porquê, e afinal até eu compreendi.
Então é assim:
Em tempos idos, a colónia recebia de quando em vez, uns pretensos inspectores cuja função era a de verificarem como eram tratados os autóctones, pelos mandantes brancos.
As perguntas eram previamente seleccionadas, não fosse a coisa falhar e as respostas dos inquiridos também, só que, tadinhos, nem percebiam como eram enganados sendo sinceros.
1ª questão:
- Que tal a comida?
A resposta honesta era:
- Manga de bianda
A troca do nome do arroz, levava a que fosse interpretado como se enchessem a barriga com carne, dado que nos países ali à volta, franceses como sabemos, era mais ou menos essa a forma de se lhe chamar, "viande" mais concretamente.
2ª questão:
- Como é que vos tratam?
- Ca trata bem, mesmo
E perante isto, a coisa soava bem e sem querer este pobre povo ia, ingenuamente ao que encontro do que se pretendia, daí que para o SIM, lhes ensinaram a dizer "NA" e para o NÃO, "CA".
Por isso aquele desabafo que dá título a esta excelente crónica dum não menos excelente escrevinhador, Senhor de Veríssimo, queria mesmo dizer o contrário do que eu pensei estupidamente.
Grandes e engenhosas mánicas estes Portugueses, sim senhor.
************
Cá o nôsso Furié viera em missão militar altamente confidencial, passar uns dias a Bissau e houvera convidado um amigo de infância, fuzileiro especial agora e já antes e como tal, combatente em Angola e medalhado com a mais alta distinção possível.
Estávamos em Julho de 1966 e serenamente, (mas sem ter nada que ver com esse facto de ser Julho de 66) íamos saboreando o almoço e já três dúzias de ostras haviam sido devoradas, ao mesmo tempo que tomávamos umas bebidas consentâneas com o pitéu, para além das que antes deglutíramos para criar lastro.
Na precisa altura em que ele foi lá dentro ao WC escorrer o caldo às couves, aparecem-me à frente dois garotos bem parecidos, matulões, melhor fardados, engravatados apesar do insuportável calor, com capacete pintado de branco e com as letras maiúsculas PM, lá escarrapachadas.
Tentaram-me sarrazinar o juízo; pedem-me a identificação; implicam com os meus chinelos macaístas de enfiar entre os dedos grande e o do lado; que o bivaque em cima da mesa não estava conforme o regulamento; que os botões da camisa são para estar abotoados; enfim toda uma série de tonterias que lhes mandavam fazer ao pobre soldado que vinha do mato, mato esse que passara ao lado a estes filhos da mãe, e que portanto não conheciam, mas de que já tinham ouvido falar.
Um, o que nada dizia, (se calhar era mudo) tirara o bastão e acariciava-o gulosamente ao mesmo tempo que me olhava com um ar de cão assassino.
Eu veterano, do Vietname viera, não gostei da cena e já me preparava para lhes mostrar a Parabellum 9mm que levava no sovaquinho ensopado de suor, quando eis que surge regressado da mijinha, despenteadíssimo como sempre, com a barba por fazer desde há três anos, camisa para fora do calção e com falta dos dois botões cimeiros, eis que aparece dizia eu, o meu amigo "Cruz de Guerra de 1ª classe" e... ah putos do caraças, empalideceram, ruboresceram e só porque ele lhes disse:
- Paneleiros.... dispersem e já.
Ao que soube mais tarde, que nada lhe perguntei, estes PM's tinham ordens no sentido de não se meterem com a Marinha e particularmente com os fuzos, mas que e se o fizessem teriam de conseguir bater-lhes, ou um castigo severo os esperava.
Partiram em continência e com o jeep a mais de cento e oitenta e três à hora, não sem que antes o meu amigalhaço os tenha mandado para qualquer sítio que não percebi bem mas que estava relacionado com a tia dum deles e não me perguntem se com o gajo do cassetete se com o que me fazia perguntas, pois que foi tudo tão rápido, que nem deu para o identificar.
(continua)
OBS: - A devida vénia ao site dos Especialistas da Base Aérea 12 de onde foi retirada a foto das ostras
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 13 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10933: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (22): 23.º episódio: Memórias avulsas (4): "O nosso Furié"
Guiné 63/74 - P10969: Bibliografia de uma guerra (66): A morte de Amílcar Cabral no livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" (Manuel Luís Lomba)
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 19 de Janeiro de 2013, subordinada ao tema execução/assassinato de Amílcar Cabral ocorrida há precisamente 40 anos:
Olá, camarada e amigo Carlos Vinhal,
Na oportunidade da efeméride, submeto-te o texto que, se merecer alojamento no blogue, poderá complementar com a reprodução da narrativa Anatomia do crime político do assassinato de Amílcar Cabral, uma extensa nota de rodapé, iniciada na página 259 do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", que confesso não “saber como colar e cortar”, para a incluir aqui.
Aproveito para explicitar a minha autorização para fazer eco no blogue do que entender desse livro.
Um grande abraço,
Manuel L. Lomba
Nos 40 anos pós assassinato de Amílcar Cabral, o fundador das nacionalidades bissau-guineense e cabo-verdeense, que foi morto a tiro, por compatriotas e seus companheiros de caminho, no logradouro da sua residência em Conakri, na madrugada de 20 de Janeiro de 1973, num contexto de guerra surda intestina.
O acontecimento e suas sequelas deram azo a que o partido-Estado PAIGC aumentasse exponencialmente as suas potencialidades de “máquina de matar” compatriotas, por motivos políticos - cerca de 11 mil, contados de Janeiro de 1963 a Janeiro de 2013, segundo o cálculo de alguns historiadores.
O povo da Guiné, heróico e maravilhoso, tornou-se credor da estima e da amizade da generalidade dos portugueses ex-combatentes, nos 12 anos de duração da guerra “antidescolonialista”, por honra e dever para com o nosso país.
E a História veio presentear-nos com a penosa realidade de que os mesmos barões e as mesmas armas que serviram para expulsar o colonialismo português têm servido para tornar o povo bissau-guineense refém do desassossego e do subdesenvolvimento.
OBS: - Segue-se a digitalização da nota de rodapé Anatomia do crime político do assassinato de Amílcar Cabral que podem ser lida nas páginas 259; 260 e 261 do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" do nosso camarada Manuel Luís Lomba
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10564: Bibliografia de uma guerra (65): As nossas Enfermeiras Pára-quedistas vão editar um livro, precisando de depoimentos daqueles que com elas tenham trabalhado (Miguel Pessoa)
Olá, camarada e amigo Carlos Vinhal,
Na oportunidade da efeméride, submeto-te o texto que, se merecer alojamento no blogue, poderá complementar com a reprodução da narrativa Anatomia do crime político do assassinato de Amílcar Cabral, uma extensa nota de rodapé, iniciada na página 259 do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", que confesso não “saber como colar e cortar”, para a incluir aqui.
Aproveito para explicitar a minha autorização para fazer eco no blogue do que entender desse livro.
Um grande abraço,
Manuel L. Lomba
Nos 40 anos pós assassinato de Amílcar Cabral, o fundador das nacionalidades bissau-guineense e cabo-verdeense, que foi morto a tiro, por compatriotas e seus companheiros de caminho, no logradouro da sua residência em Conakri, na madrugada de 20 de Janeiro de 1973, num contexto de guerra surda intestina.
O acontecimento e suas sequelas deram azo a que o partido-Estado PAIGC aumentasse exponencialmente as suas potencialidades de “máquina de matar” compatriotas, por motivos políticos - cerca de 11 mil, contados de Janeiro de 1963 a Janeiro de 2013, segundo o cálculo de alguns historiadores.
O povo da Guiné, heróico e maravilhoso, tornou-se credor da estima e da amizade da generalidade dos portugueses ex-combatentes, nos 12 anos de duração da guerra “antidescolonialista”, por honra e dever para com o nosso país.
E a História veio presentear-nos com a penosa realidade de que os mesmos barões e as mesmas armas que serviram para expulsar o colonialismo português têm servido para tornar o povo bissau-guineense refém do desassossego e do subdesenvolvimento.
OBS: - Segue-se a digitalização da nota de rodapé Anatomia do crime político do assassinato de Amílcar Cabral que podem ser lida nas páginas 259; 260 e 261 do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" do nosso camarada Manuel Luís Lomba
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10564: Bibliografia de uma guerra (65): As nossas Enfermeiras Pára-quedistas vão editar um livro, precisando de depoimentos daqueles que com elas tenham trabalhado (Miguel Pessoa)
Guiné 63/74 - P10968: Amílcar Cabral, um agrónomo antes do seu tempo (Carlos Schwarz, Pepito, eng agr) (II e Última Parte)
Por Carlos Schwarz
(engenheiro agrónomo)
Novembro
2012
Publicado originalmente no sítio oficial da AD - Acção para o Desenvolvimento, 11 de janeiro de 2013. Cortesia do autor, que é membro do nosso blogue.
(Continuação) (*)
O PENSAMENTO AGRONÓMICO DE CABRAL
A primeira grande e decisiva rutura com os conceitos estabelecidos, dá-a Cabral desde o início, já quando estava a realizar a sua tese no Alentejo. Na altura, vigorava o princípio de que o avanço da agricultura se faria exclusivamente através da introdução de novas técnicas agrícolas. Mais tarde viriam a designar esta opção como “pacote tecnológico”. Cabral, embora reconhecendo a necessidade de se fazer uso de técnicas alternativas, centra no Homem o desafio de toda a evolução agrícola. Basta ver que a agricultura colonial se fazia baseada exclusivamente no trabalho de especialistas das doenças do cafeeiro, de solos, etc., sem que a agricultura fosse vista como um conjunto de componentes em que o ator principal era o agricultor, sujeito ativo e interessado na sua evolução.
[Foto à direita: Amílcar Cabral. Foto do arquivo de Clara Schwarz, Lisboa, 2012]
A primeira grande e decisiva rutura com os conceitos estabelecidos, dá-a Cabral desde o início, já quando estava a realizar a sua tese no Alentejo. Na altura, vigorava o princípio de que o avanço da agricultura se faria exclusivamente através da introdução de novas técnicas agrícolas. Mais tarde viriam a designar esta opção como “pacote tecnológico”. Cabral, embora reconhecendo a necessidade de se fazer uso de técnicas alternativas, centra no Homem o desafio de toda a evolução agrícola. Basta ver que a agricultura colonial se fazia baseada exclusivamente no trabalho de especialistas das doenças do cafeeiro, de solos, etc., sem que a agricultura fosse vista como um conjunto de componentes em que o ator principal era o agricultor, sujeito ativo e interessado na sua evolução.
Cabral rompe com essa visão e integra o elemento humano, o agricultor, como o elemento determinante da modernização agrícola, desempenhando a introdução de novas técnicas agrícolas como uma resposta aos problemas sentidos pelos agricultores. Nesses tempos, fruto desta visão, culpabilizava-se facilmente os agricultores pelo falhanço da não ou má-utilização dessas técnicas, sem se perceber que o nó do problema residia na não compreensão por parte dos técnicos das reais prioridades dos agricultores. É curioso notar que, hoje em dia, aparecem técnicos na Guiné-Bissau, com uma visão ridiculamente oposta, afirmando que não são necessárias inovações técnicas, devendo-se deixar os agricultores entregues a si próprios, uma vez que eles praticam milenarmente a agricultura e já sabem tudo.
[Foto à direita: Amílcar Cabral. Foto do arquivo de Clara Schwarz, Lisboa, 2012]
Para Cabral, a modernização da agricultura devia partir do conhecimento dos sistemas agrários e não da sua compartimentação em disciplinas agrícolas, em que se corria o permanente risco de se ter uma visão e ação parcelar dos desafios locais. Cabral, já nessa altura, perfilhava a tese de que se devia ter simultaneamente um conceito global dos desafios da agricultura e o sentido realista de intervir pontualmente, com respostas práticas às necessidades dos agricultores. Por outras palavras, eram estes que deviam determinar a agenda agrícola da pesquisa e vulgarização e não as estratégias da metrópole colonial a definir a mancarra, o algodão, o café, o cacau, etc., como as espécies a incrementar nas diferentes colónias.
Foi o primeiro a questionar o sistema de agricultura baseado na monocultura, naquela altura o da mancarra, o que representava um perigo para a economia com as flutuações anuais dos preços nos mercados externos, o que colocava o agricultor numa situação de dependência, risco e incerteza. Também a monocultura sujeitava-o à possibilidade de, num mau ano agrícola, não dispor de nenhuma alternativa financeira para fazer frente às suas necessidades alimentares. Acresce que, no caso da mancarra, provocava uma irreversível degradação dos solos, em especial através da sua erosão. Este alerta não só não foi ouvido na altura, como não foi compreendido no pós-independência, estando a Guiné-Bissau a viver hoje o drama do cajueiro. Para Cabral, era preciso “diversificar a produção para não depender só de um produto”.
A importância da implantação de um “sistema de pesquisa-vulgarização” foi assumido desde o início da sua atividade como agrónomo. A transformação do estatuto da Granja de Pessubé em centro de experimentação agrícola, assim como a criação de uma rede de postos dispersos no país para a realização de ensaios de adaptação varietal, evidencia a importância da dinâmica “experimentação-divulgação” na modernização da agricultura guineense. De tal forma que os primeiros resultados dos ensaios realizados, começaram logo a serem difundidos e utilizados.
Os perigos e limites da mecanização agrícola (Cabral refere-se apenas à motorização, não incluindo a tração animal) são exaustivamente abordados num texto de 1953, uma vez que ele é confrontado, logo à sua chegada a Bissau, com uma tese muito em voga, que atribuía o atraso da agricultura guineense ao não uso de tratores agrícolas.
Chama a atenção para vários aspetos, sejam eles de ordem técnica ou socioeconómica, entre os quais o da maioria dos solos agrícolas (encosta e planalto) ser de pequena profundidade útil e “vocacionados” para a erosão, pelo que a mobilização do solo por tratores podia revelar-se prejudicial quando ultrapassa os horizontes aráveis. Existia a ideia errada de que, com a mecanização, se iria aumentar os rendimentos unitários das culturas, quando o máximo que aconteceria, era o aumento da produção. A motorização começa por ser uma questão cultural que exige do agricultor um relacionamento com o motor nos domínios da manutenção, funcionamento correto, planificação, programação, compra de peças sobressalentes, tratoristas, mecânicos, sendo que tudo isso necessita de levar o seu tempo e consolidar-se de forma gradual e lenta. Finalmente, a sustentabilidade financeira do trator prende-se com a sua utilização em culturas comerciais, podendo penalizar a segurança alimentar da unidade familiar de produção e, consequentemente, do país.
A importância da implantação de um “sistema de pesquisa-vulgarização” foi assumido desde o início da sua atividade como agrónomo. A transformação do estatuto da Granja de Pessubé em centro de experimentação agrícola, assim como a criação de uma rede de postos dispersos no país para a realização de ensaios de adaptação varietal, evidencia a importância da dinâmica “experimentação-divulgação” na modernização da agricultura guineense. De tal forma que os primeiros resultados dos ensaios realizados, começaram logo a serem difundidos e utilizados.
Os perigos e limites da mecanização agrícola (Cabral refere-se apenas à motorização, não incluindo a tração animal) são exaustivamente abordados num texto de 1953, uma vez que ele é confrontado, logo à sua chegada a Bissau, com uma tese muito em voga, que atribuía o atraso da agricultura guineense ao não uso de tratores agrícolas.
Chama a atenção para vários aspetos, sejam eles de ordem técnica ou socioeconómica, entre os quais o da maioria dos solos agrícolas (encosta e planalto) ser de pequena profundidade útil e “vocacionados” para a erosão, pelo que a mobilização do solo por tratores podia revelar-se prejudicial quando ultrapassa os horizontes aráveis. Existia a ideia errada de que, com a mecanização, se iria aumentar os rendimentos unitários das culturas, quando o máximo que aconteceria, era o aumento da produção. A motorização começa por ser uma questão cultural que exige do agricultor um relacionamento com o motor nos domínios da manutenção, funcionamento correto, planificação, programação, compra de peças sobressalentes, tratoristas, mecânicos, sendo que tudo isso necessita de levar o seu tempo e consolidar-se de forma gradual e lenta. Finalmente, a sustentabilidade financeira do trator prende-se com a sua utilização em culturas comerciais, podendo penalizar a segurança alimentar da unidade familiar de produção e, consequentemente, do país.
A indiscriminada “recuperação de bolanhas”, feita a eito e sem critério, com o único objetivo de aumentar a superfície cultivada e de ganhar dividendos políticos, foi posta em causa por Cabral, que defendia que o grande desafio que se deparava à agricultura guineense era o do aumento dos rendimentos unitários para ter maiores produções e não o de apostar apenas em aumentar as áreas cultivadas. Na recuperação de bolanhas o caso é ainda mais pertinente, uma vez que são solos com características bem específicas, em que os níveis de salinidade e de acidez são determinantes para inviabilizar os solos ou deles obter rendimentos tão baixos que não justificam o investimento. De nada serve recuperar bolanhas onde se obtenham reduzidas produções de arroz. Curiosamente, esta questão ainda hoje está na ordem do dia, aparecendo decisores e financiadores a investirem em recuperações de bolanhas de produção duvidosa e discutível, politique oblige…
A luta contra a degradação dos solos devido às praticas culturais que favoreciam a sua erosão, a escolha de espécies que acentuavam a diminuição da sua fertilidade, o aumento das queimadas e a redução do período de pousio que limitava a regeneração dos solos mais frágeis, foi outra tónica dominante do pensamento agronómico de Cabral. Procedeu a vários estudos locais e à redação de textos sobre estudos realizados em Fulacunda, insistindo na necessidade da modificação de técnicas culturais que contribuíssem para diminuir os riscos de erosão e para o reforço da sua fertilização, como o do uso da prática da consociação de culturas, o prolongamento do período de pousio e o da preocupação com a cultura de espécies penalizadoras, como a mancarra.
É interessante notar as preocupações ambientais de Cabral, numa época em que elas não existiam e, sobretudo, defendendo um conceito mais avançado, que ainda hoje não é compreendido nem aceite por alguns ecologistas fundamentalistas. Para Cabral, “o Homem também é natureza” e este tanto era percebido como alguém que contribuía para desregular os recursos ambientais, como era visto como o incontornável promotor da sua preservação, em função dos diferentes sistemas de produção das diversas etnias (a que ele chamava “povos”) e a sua atitude perante o uso que cada um fazia dos ecossistemas. Cabral “ambientalista” fazia-se notar sobretudo nas suas reservas à mecanização, à erosão dos solos, às queimadas incontroladas, aos curtos pousios, ao pouco uso da consociação de culturas e à reduzida prática da fertilização natural dos solos. Não considerava o agricultor como um anti-ambientalista que precisasse de ser “educado”, como muitos ainda hoje defendem, mas como o elemento determinante para que, gerindo bem os recursos, os pudesse vir a utilizar em proveito próprio.
Este conjunto de pensamentos que Amílcar Cabral defendia de forma pragmática, mostra até que ponto foi um agrónomo antes do seu tempo, não nos custando a aceitar que, com ele, o pós-independência teria sido muito diferente.
A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA ENQUANTO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO
A forma como Cabral abordou a execução do censo agrícola, acaba por ter os mesmos princípios norteadores que o levam a encarar a preparação da luta pela independência. No recenseamento ele foi confrontado com a exiguidade de recursos humanos, a falta de meios logísticos e poucos recursos financeiros, mas isso não o impediu de levar a tarefa por diante, com enorme sucesso, de tal forma que ainda hoje, 60 anos depois, ele é a base de qualquer informação séria de que se necessite. Também a Luta é começada a preparar com reduzidos recursos, mas é igualmente um sucesso, porque assenta na vontade, determinação, convicção e competência daqueles que nela se envolvem. Contrariamente à tendência “habitual”, que ainda hoje persiste, de nos escusarmos na falta de meios para justificar a nossa incapacidade ou desinteresse, Cabral concebeu uma estratégia a partir da valorização dos poucos recursos que existiam, condicionando o ritmo de avanço e de progresso ao seu aumento e ao maior domínio que deles se ia conseguindo. Durante todo o período da Luta, este foi um princípio sagrado de Cabral, consubstanciado na palavra de ordem: “não dar um passo maior que a perna”.
A luta contra a degradação dos solos devido às praticas culturais que favoreciam a sua erosão, a escolha de espécies que acentuavam a diminuição da sua fertilidade, o aumento das queimadas e a redução do período de pousio que limitava a regeneração dos solos mais frágeis, foi outra tónica dominante do pensamento agronómico de Cabral. Procedeu a vários estudos locais e à redação de textos sobre estudos realizados em Fulacunda, insistindo na necessidade da modificação de técnicas culturais que contribuíssem para diminuir os riscos de erosão e para o reforço da sua fertilização, como o do uso da prática da consociação de culturas, o prolongamento do período de pousio e o da preocupação com a cultura de espécies penalizadoras, como a mancarra.
É interessante notar as preocupações ambientais de Cabral, numa época em que elas não existiam e, sobretudo, defendendo um conceito mais avançado, que ainda hoje não é compreendido nem aceite por alguns ecologistas fundamentalistas. Para Cabral, “o Homem também é natureza” e este tanto era percebido como alguém que contribuía para desregular os recursos ambientais, como era visto como o incontornável promotor da sua preservação, em função dos diferentes sistemas de produção das diversas etnias (a que ele chamava “povos”) e a sua atitude perante o uso que cada um fazia dos ecossistemas. Cabral “ambientalista” fazia-se notar sobretudo nas suas reservas à mecanização, à erosão dos solos, às queimadas incontroladas, aos curtos pousios, ao pouco uso da consociação de culturas e à reduzida prática da fertilização natural dos solos. Não considerava o agricultor como um anti-ambientalista que precisasse de ser “educado”, como muitos ainda hoje defendem, mas como o elemento determinante para que, gerindo bem os recursos, os pudesse vir a utilizar em proveito próprio.
Este conjunto de pensamentos que Amílcar Cabral defendia de forma pragmática, mostra até que ponto foi um agrónomo antes do seu tempo, não nos custando a aceitar que, com ele, o pós-independência teria sido muito diferente.
A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA ENQUANTO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO
A forma como Cabral abordou a execução do censo agrícola, acaba por ter os mesmos princípios norteadores que o levam a encarar a preparação da luta pela independência. No recenseamento ele foi confrontado com a exiguidade de recursos humanos, a falta de meios logísticos e poucos recursos financeiros, mas isso não o impediu de levar a tarefa por diante, com enorme sucesso, de tal forma que ainda hoje, 60 anos depois, ele é a base de qualquer informação séria de que se necessite. Também a Luta é começada a preparar com reduzidos recursos, mas é igualmente um sucesso, porque assenta na vontade, determinação, convicção e competência daqueles que nela se envolvem. Contrariamente à tendência “habitual”, que ainda hoje persiste, de nos escusarmos na falta de meios para justificar a nossa incapacidade ou desinteresse, Cabral concebeu uma estratégia a partir da valorização dos poucos recursos que existiam, condicionando o ritmo de avanço e de progresso ao seu aumento e ao maior domínio que deles se ia conseguindo. Durante todo o período da Luta, este foi um princípio sagrado de Cabral, consubstanciado na palavra de ordem: “não dar um passo maior que a perna”.
Cabral optou pelo envolvimento gradual dos camponeses nas ações, por fases, à medida que os protagonistas iam adquirindo competências e saberes, sem nunca ter pressa em acelerar o ritmo de execução e acabar por “descolar” dos militantes rurais. Nunca imprimiu uma dinâmica que queimasse etapas e exigisse dos camponeses, o maior viveiro de combatentes, atividades para as quais ainda não estavam preparados, apostando tudo na sua organização e capacitação. Tal como se passa na agricultura, a Luta começa com ações simples e de resultados imediatos, que entusiasmam e mobilizam os seus participantes, os quais vão compreendendo e apropriando-se dos mecanismos de conceção e decisão, ganhando maturidade organizativa que lhes permite assumir novas responsabilidades.
Tal como se passa no associativismo agrícola, é importante ter grupos de liderança pequenos, dinâmicos e consequentes, de nada valendo pensar que ter direções pletóricas de militantes é uma boa forma de fazer todos participar. Quando o grupo é grande, começa a verificar-se uma demissão de responsabilidades, empurrando para os outros as suas próprias funções e atribuições e acabando por ficar reduzido à sua expressão mínima, com o inconveniente de se tornarem lideres descrentes e inconsequentes. Privilegiando-se a criação descentralizada de vários grupos de ação em função das atividades e em que os lideres irão sendo envolvidos pelo seu engajamento, capacidade de trabalho em grupo, mobilização dos recursos humanos e pragmatismo criativo na condução das ações, a ocupação territorial é mais consequente.
À partida, um processo de desenvolvimento inovador é sempre minoritário, pelo que, para Cabral se impôs começar pequeno e evoluir gradualmente para um final com grande número de iniciativas simultâneas, coordenadas e reciprocamente potenciadoras. De nada serviria começar a toda a velocidade, gerindo muitas iniciativas ao mesmo tempo para, em pouco tempo e sem a experiência dos quadros locais, se perder o rumo e cair no descrédito. A descentralização dos grupos de ação favoreceu que os melhores militantes sobressaíssem mais rapidamente, que adquirissem maior poder de iniciativa sem ficarem amarrados a uma estrutura centralizada e pesada.
Um processo de desenvolvimento para ser independente devia envolver parceiros estrangeiros o mais diversos possível, pelo que nunca se limitou aos países de leste (China, URSS e os outros do Pacto de Varsóvia), sensibilizando países ocidentais, como a Suécia, e organizações militantes dos EUA, Alemanha, França, etc. Cabral, tal como se opôs à monocultura, apostou forte na diversificação que lhe permitiu garantir a independência de pensamento e ação do PAIGC e ultrapassar sem problemas de maior o conflito sino-soviético, o qual chegou a ser ocasionalmente condicionante.
Amílcar Cabral [, foto `esquerda, Livro de Leitura de 2ª Classe, do PAIGC], embora tenha dedicado, por razões óbvias, uma particular atenção à frente armada, concebeu a Luta pela Independência como um processo onde todas as componentes da vida humana assumiam uma igual importância: saúde, educação, justiça, comércio, cultura, conhecimentos locais, sensibilização internacional, infraestruturas e a agricultura. A sua formação e prática de agrónomo contribuiu certamente para esta perceção, defendendo desde o princípio que não desejava militares mas sim “militantes armados”, isto é, lembrando a todos que as armas eram apenas um momento circunstancial e que o mais importante era o desenvolvimento integral do país. O futuro veio a mostrar, de forma dramática, que Cabral perdeu esta sua aposta. Se durante a Luta era o Comissário Político que dirigia o comandante militar, já poucos anos depois da independência o militar considerou ser o único responsável pelo sucesso da Luta.
Tanto mais dramáticas são as consequências que se registaram, quanto Cabral sempre se assumiu como uma pessoa profundamente antimilitarista:
(i) desde o início tenta persuadir o poder colonial para que a Independência se faça de forma pacífica, sem recorrer a uma guerra, posição não aceite por Salazar, líder de uma das mais retrógradas ditaduras da Europa;
(i) desde o início tenta persuadir o poder colonial para que a Independência se faça de forma pacífica, sem recorrer a uma guerra, posição não aceite por Salazar, líder de uma das mais retrógradas ditaduras da Europa;
(ii) ao longo dos 11 anos de guerra reafirmou sempre a sua disponibilidade em negociar, tanto mais que, como ele sempre dizia, “ambas as partes falam a mesma língua, o português, e podem entender-se rapidamente”;
(iii) chegou ao ponto de, durante a Luta, dar ordem rigorosa para que a ponte do Saltinho, no rio Corubal, não fosse destruída, apesar dos benefícios militares que daí poderiam ter advindo para a guerrilha, ao impedir a ligação norte-sul da tropa colonial; fundamentava esta decisão perguntando, “e depois da independência, onde vamos nós buscar fundos para a reconstruir?”
OUTROS TRABALHOS AGRONÓMICOS
OUTROS TRABALHOS AGRONÓMICOS
Para além dos trabalhos realizados na Guiné-Bissau, Amílcar Cabral exerceu atividade agronómica em Portugal, Angola e Alemanha, a partir de Março de 1955, quando ele e Maria Helena são “expulsos” do país, depois de dois anos e meio de intenso trabalho.
São numerosos os documentos técnicos então produzidos por Amílcar Cabral, referentes àqueles países, tendo por objetivo:
São numerosos os documentos técnicos então produzidos por Amílcar Cabral, referentes àqueles países, tendo por objetivo:
(i) obter recursos financeiros que lhe permitissem viver com dignidade;
(ii) praticar a sua profissão ganhando novos conhecimentos e experiência;
(iii) aguardar a altura de dar o “salto” para o interior da Guiné-Bissau para prosseguir a luta pela independência que começara a organizar logo que, acabado o curso, foi para Bissau
Não nos iremos pronunciar sobre estes estudos e documentos, uma vez que eles não dizem respeito à Guiné-Bissau e serão menos relevantes para a agricultura guineense.
NOTA FINAL
Depois da libertação total da Guiné-Bissau, em 1974, apenas uma pessoa, Luís Cabral, irmão de Amílcar e primeiro Presidente da Republica, vi ter compreendido o seu pensamento agronómico, investindo seriamente na agricultura, lançando numerosos projetos e acompanhando-os permanentemente no terreno com entusiasmo e encorajando os seus técnicos protagonistas. As frequentes visitas ao Centro Orizícola de Contuboel, onde para além da pesquisa se introduziu, pela primeira vez na Guiné-Bissau, a cultura de arroz na época seca, assim como à ENAVI, empresa pública de produção de galinhas e ovos, são disso exemplo.
Depois dele, nenhum outro Presidente se interessou ou se dedicou à promoção e modernização da agricultura guineense.
BIBLIOGRAFIA
- Estudos Agrários de Amílcar Cabral, INEP, 1988
- Juvenal Cabral, Memórias e Reflexões, Instituto da Biblioteca Nacional, Cabo Verde, 2002
- Luís Cabral, Crónica da Libertação, O Jornal, 1984
AGRADECIMENTOS
Para a elaboração destas breves notas recorremos a informações e opiniões de pessoas que nos ajudaram e a quem muito devemos e agradecemos.
Em primeiro lugar os numerosos combatentes da luta pela independência das Matas de Cantanhez, primeira zona libertada, e que nos foram contando, ao longo de anos, a sua vida durante a Luta, das suas tabancas e dirigentes que lá estabeleceram os seus acampamentos de guerrilha.
A Bacar Cassamá, monitor da Granja de Pessubé e antigo combatente de primeira hora, com quem lamento não ter conversado mais tempo.
A José Araújo, dirigente do PAIGC que nos contou, quando estávamos na direção da JAAC (Juventude do Partido) muitos dos pensamentos de Amílcar Cabral, em especial o que ele estava a conceber para o pós-independência.
Não nos iremos pronunciar sobre estes estudos e documentos, uma vez que eles não dizem respeito à Guiné-Bissau e serão menos relevantes para a agricultura guineense.
NOTA FINAL
Depois da libertação total da Guiné-Bissau, em 1974, apenas uma pessoa, Luís Cabral, irmão de Amílcar e primeiro Presidente da Republica, vi ter compreendido o seu pensamento agronómico, investindo seriamente na agricultura, lançando numerosos projetos e acompanhando-os permanentemente no terreno com entusiasmo e encorajando os seus técnicos protagonistas. As frequentes visitas ao Centro Orizícola de Contuboel, onde para além da pesquisa se introduziu, pela primeira vez na Guiné-Bissau, a cultura de arroz na época seca, assim como à ENAVI, empresa pública de produção de galinhas e ovos, são disso exemplo.
Depois dele, nenhum outro Presidente se interessou ou se dedicou à promoção e modernização da agricultura guineense.
BIBLIOGRAFIA
- Estudos Agrários de Amílcar Cabral, INEP, 1988
- Juvenal Cabral, Memórias e Reflexões, Instituto da Biblioteca Nacional, Cabo Verde, 2002
- Luís Cabral, Crónica da Libertação, O Jornal, 1984
AGRADECIMENTOS
Para a elaboração destas breves notas recorremos a informações e opiniões de pessoas que nos ajudaram e a quem muito devemos e agradecemos.
Em primeiro lugar os numerosos combatentes da luta pela independência das Matas de Cantanhez, primeira zona libertada, e que nos foram contando, ao longo de anos, a sua vida durante a Luta, das suas tabancas e dirigentes que lá estabeleceram os seus acampamentos de guerrilha.
A Bacar Cassamá, monitor da Granja de Pessubé e antigo combatente de primeira hora, com quem lamento não ter conversado mais tempo.
A José Araújo, dirigente do PAIGC que nos contou, quando estávamos na direção da JAAC (Juventude do Partido) muitos dos pensamentos de Amílcar Cabral, em especial o que ele estava a conceber para o pós-independência.
A João da Costa, extraordinário intelectual, combatente da independência, que me foi relatando de forma analítica e crítica a história da Luta, dos seus protagonistas e das diferentes frentes, incluindo “a das louras”, o que me permitiu perceber as razões de fundo das sinuosidades do percurso do PAIGC.
A Flora Gomes, cineasta e antigo aluno da Escola Piloto de Conakry, que conviveu de perto com Cabral e que tanto insistiu, apoiou e contribuiu para que elaborássemos estas notas, tendo nós a esperança que elas possam ser úteis para o “filme da sua vida” a que recentemente se abalançou: “Amílcar Cabral”.
A Clara Schwarz da Silva [, foto à esquerda, S. Martinho do Porto, 21 de agosto de 2010], amiga de primeira hora de Amílcar e Maria Helena, e que procedeu à tradução dos textos “Feux de Brousse et Jachères dans le Cycle Culturel Arachid-Mils” e “À Propôs du Cycle Culturel Arachide-Mils en Guinée Portuguaise” por ele apresentados na Conferência Arachide-Mil, em Bambey, Senegal em 1954 e que gentilmente cedeu as fotografias inéditas em que Amílcar Cabral está presente e que fazem parte da sua coleção pessoal.
Texto: Carlos Schwarz
Novembro de 2012
[ Ver, no sítio do Público, o trabalho de multimédia (7' 35''), da autoria de Joana Bourgard, “Amílcar queria de facto fazer bem àquele povo”, que inclui diversos depoimentos de pessoas que conheceram Cabral, e que ainda estão hoje estão vivas. como a nossa amiga Clara Schwarz, mãe do Pepito e decana do nosso blogue]
Texto: Carlos Schwarz
Novembro de 2012
[ Ver, no sítio do Público, o trabalho de multimédia (7' 35''), da autoria de Joana Bourgard, “Amílcar queria de facto fazer bem àquele povo”, que inclui diversos depoimentos de pessoas que conheceram Cabral, e que ainda estão hoje estão vivas. como a nossa amiga Clara Schwarz, mãe do Pepito e decana do nosso blogue]
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Nota do editor:
Vd, poste anterior > 19 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10966: Amílcar Cabral, um agrónomo antes do seu tempo (Carlos Schwarz, Pepito, eng agr) (Parte I)
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sábado, 19 de janeiro de 2013
Guiné 63/74 - P10967: Blogoterapia (221): As nossas vidas valiam pouco ou nada para quem ficava na retaguarda (Júlio Benavente)
1. Mensagem do nosso camarada Júlio Benavente, ex-Fur Mil da CCS/BCAV 1905, Teixeira Pinto, 1967/68, com data de 16 de Janeiro de 2013:
Caros camaradas,
Gostava de vos mostrar a desorganização e a falta de ética militar por que passámos muitos de nós.
Em fevereiro de 1967 chegámos a Bissau pela manhã no navio Uíge.
Até aqui nada de especial, só que permanecemos, até às tantas da noite, a bordo, à espera que chegassem as LDGs que nos haviam de levar rio acima a Teixeira Pinto.
O mais curioso é que o nosso batalhão inteiro não tinha uma única arma, só os marinheiros que compunham a guarnição das LDGs é que tinham algumas metralhadoras.
Quem conhece esse rio, sabe como era fácil alguém, mesmo da margem, lançar algumas granadas para dentro das embarcações e matar dezenas de companheiros.
No dia a seguir à nossa chegada a Teixeira Pinto, eu furriel miliciano mecânico de armamento, mais o meu segundo comandante, major Luís Rodrigues de Carvalho, e o alferes de transmissões, voamos num Dornier de volta a Bissau onde eu fui levantar todo o armamento em caixotes e novamente metido na LDG regressei a Teixeira Pinto.
Escusado será dizer que todo o batalhão ficou cerca de uma semana sem uma única arma, com excepção das que o 7 ou 10 de espadas, que era o pelotão que fomos render, tinha.
Por outro lado, as G3 que vieram nos caixotes eram velhas e a maior parte delas encravava.
Nessa altura aquela zona de Teixeira Pinto era bastante agitada sempre com emboscadas, minas, etc!...
O Pelundo era mau, o Cacheu era mau, e muito especialmente Jolmete onde os ataques eram quase diários. Na única vez em que lá fui tive a sorte de nada acontecer.
A razão por que vos escrevo é para comentar o pouco ou nada que as nossas vidas valiam para gente que ficava sempre na retaguarda, dando ordens e estratégias para muitos de nós que passamos maus bocados naquela guerra. Felizmente isto não se aplica muito a mim.
P.S. - Desculpem a falta de acentuação, mas estou a escrever num teclado americano, e alguns erros de composição e ortografia que possa ter dado, pois já estou um pouco enferrujado, já que vivo há 33 anos nos Estados Unidos da América.
Júlio Benavente
ex-furriel miliciano
CCS/BCAV 1905
North Providence
Rhode Island
USA
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Blogoterapia (221): Fantasmas do fundo do baú... A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva,1º comandante da CCAÇ 2796 , e meu amigo (Vasco Pires, 23º Pel Art , Gadamael, 1970/72)
Caros camaradas,
Gostava de vos mostrar a desorganização e a falta de ética militar por que passámos muitos de nós.
Em fevereiro de 1967 chegámos a Bissau pela manhã no navio Uíge.
Até aqui nada de especial, só que permanecemos, até às tantas da noite, a bordo, à espera que chegassem as LDGs que nos haviam de levar rio acima a Teixeira Pinto.
O mais curioso é que o nosso batalhão inteiro não tinha uma única arma, só os marinheiros que compunham a guarnição das LDGs é que tinham algumas metralhadoras.
Quem conhece esse rio, sabe como era fácil alguém, mesmo da margem, lançar algumas granadas para dentro das embarcações e matar dezenas de companheiros.
No dia a seguir à nossa chegada a Teixeira Pinto, eu furriel miliciano mecânico de armamento, mais o meu segundo comandante, major Luís Rodrigues de Carvalho, e o alferes de transmissões, voamos num Dornier de volta a Bissau onde eu fui levantar todo o armamento em caixotes e novamente metido na LDG regressei a Teixeira Pinto.
Escusado será dizer que todo o batalhão ficou cerca de uma semana sem uma única arma, com excepção das que o 7 ou 10 de espadas, que era o pelotão que fomos render, tinha.
Por outro lado, as G3 que vieram nos caixotes eram velhas e a maior parte delas encravava.
Nessa altura aquela zona de Teixeira Pinto era bastante agitada sempre com emboscadas, minas, etc!...
O Pelundo era mau, o Cacheu era mau, e muito especialmente Jolmete onde os ataques eram quase diários. Na única vez em que lá fui tive a sorte de nada acontecer.
A razão por que vos escrevo é para comentar o pouco ou nada que as nossas vidas valiam para gente que ficava sempre na retaguarda, dando ordens e estratégias para muitos de nós que passamos maus bocados naquela guerra. Felizmente isto não se aplica muito a mim.
P.S. - Desculpem a falta de acentuação, mas estou a escrever num teclado americano, e alguns erros de composição e ortografia que possa ter dado, pois já estou um pouco enferrujado, já que vivo há 33 anos nos Estados Unidos da América.
Júlio Benavente
ex-furriel miliciano
CCS/BCAV 1905
North Providence
Rhode Island
USA
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Blogoterapia (221): Fantasmas do fundo do baú... A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva,1º comandante da CCAÇ 2796 , e meu amigo (Vasco Pires, 23º Pel Art , Gadamael, 1970/72)
Guiné 63/74 - P10966: Amílcar Cabral, um agrónomo antes do seu tempo (Carlos Schwarz, Pepito, eng agr) (Parte I)
Amílcar e Maria Helena recentemente chegados a Bissau
1. Em 11 do corrente, o sítio oficial da AD - Acção para o Desenvolvimento publicou um notável texto do nosso amigo Pepito sobre o eng agr Amílcar Cabral e o seu pensamento pioneiro, no domínio da agronomia. A meu pedido, ele de imediato me mandou esse texto, para publicação no nosso blogue. Dividimo-lo em duas partes, a publicar por ocasião dos 40 anos do seu bárbaro e cobarde assassinato em Conacri, em 20 de janeiro de 1973. Cabral e a mulher, Maria Helena, portuguesa, silvicultora, sua colega do ISA - Instituto Superior de Agronomia, eram amigos da família Silva (Artur Augusto Silva e Clara Schwarz Silva). Há um texto introdutório na página da AD. Aqui vai: representa o ponto de vista dos nossos amigos, guineenses, da AD, não vinculando naturalmente o nosso blogue e os seus editores (LG).
Página oficial da AD - Acção para o Desenvolvimento
AD - Acção para o Desenvolvimento > Pensar Amílcar Cabral
11 jan112013
Este ano, no dia 20 de Janeiro, assinala-se o 40º aniversário do primeiro assassinato de Cabral, em Conakry.
Depois destes anos todos, os dados são mais claros, conhecendo-se muito melhor os organizadores, os mandantes e os coniventes, já que os executores nunca houve dúvidas sobre eles.
Embora haja quem persista em considerar, ao mesmo nível, a eventualidade da implicação de três organizadores: Spínola, Sekou Touré e alguns dirigentes do PAIGC, cada vez fica mais evidente que o principal organizador foi Spínola, que obteve aí a sua única vitória na vida.
Não foi uma vitória militar, porque ele nunca a teve, mas sim política. O ponto mais forte e simultaneamente mais fraco da Luta, era o da “unidade Guiné-Cabo Verde”. Ele conseguiu jogar essa cartada e mobilizar para a sua causa, militantes politica e mentalmente pouco preparados, predispostos para a traição e com uma ambição desmedida.
No 14 de Novembro, Cabral volta a ser assassinado no golpe de estado dirigido por Nino Vieira. Se durante 3 dias não se falou de PAIGC, já de Cabral então foi o silêncio completo durante longos anos.
Hoje, golpistas e seus mentores, voltam a agitar a bandeira de Amílcar Cabral, dizendo-se seus verdadeiros continuadores. Mas, porque nunca perceberam nem entenderam o pensamento de Cabral, falam do Cabral morto, não das suas ideias, posições políticas e opções ideológicas.
Saberão eles que Cabral recusou, no início da luta, deslocar-se à Argélia após o golpe de estado que derrubou Bem Bela, porque não pactuava com estes métodos?
Conta o jornalista-cronista francês, Gérard Chaliand, que acompanhou e divulgou a Luta de Libertação da Guiné-Bissau, no seu livro de memórias “A ponta da navalha” que quando disseram a Nelson Mandela “tu és o maior”, este respondeu com toda a simplicidade “não, o maior é Cabral”.
Quarenta anos depois, a AD partilha com todos um ensaio sobre o pensamento agronómico de Amílcar Cabral, “Um agrónomo antes do seu tempo”.
É o nosso pequeno contributo.
11 jan112013
Este ano, no dia 20 de Janeiro, assinala-se o 40º aniversário do primeiro assassinato de Cabral, em Conakry.
Depois destes anos todos, os dados são mais claros, conhecendo-se muito melhor os organizadores, os mandantes e os coniventes, já que os executores nunca houve dúvidas sobre eles.
Embora haja quem persista em considerar, ao mesmo nível, a eventualidade da implicação de três organizadores: Spínola, Sekou Touré e alguns dirigentes do PAIGC, cada vez fica mais evidente que o principal organizador foi Spínola, que obteve aí a sua única vitória na vida.
Não foi uma vitória militar, porque ele nunca a teve, mas sim política. O ponto mais forte e simultaneamente mais fraco da Luta, era o da “unidade Guiné-Cabo Verde”. Ele conseguiu jogar essa cartada e mobilizar para a sua causa, militantes politica e mentalmente pouco preparados, predispostos para a traição e com uma ambição desmedida.
No 14 de Novembro, Cabral volta a ser assassinado no golpe de estado dirigido por Nino Vieira. Se durante 3 dias não se falou de PAIGC, já de Cabral então foi o silêncio completo durante longos anos.
Hoje, golpistas e seus mentores, voltam a agitar a bandeira de Amílcar Cabral, dizendo-se seus verdadeiros continuadores. Mas, porque nunca perceberam nem entenderam o pensamento de Cabral, falam do Cabral morto, não das suas ideias, posições políticas e opções ideológicas.
Saberão eles que Cabral recusou, no início da luta, deslocar-se à Argélia após o golpe de estado que derrubou Bem Bela, porque não pactuava com estes métodos?
Conta o jornalista-cronista francês, Gérard Chaliand, que acompanhou e divulgou a Luta de Libertação da Guiné-Bissau, no seu livro de memórias “A ponta da navalha” que quando disseram a Nelson Mandela “tu és o maior”, este respondeu com toda a simplicidade “não, o maior é Cabral”.
Quarenta anos depois, a AD partilha com todos um ensaio sobre o pensamento agronómico de Amílcar Cabral, “Um agrónomo antes do seu tempo”.
É o nosso pequeno contributo.
2. AMILCAR CABRAL: UM AGRÓNOMO ANTES DO SEU TEMPO
Por Carlos Schwarz
(agrónomo)
Novembro
2012
À memória de meu pai Artur [Augusto Silva] que, desde criança
me incentivou, sem que eu me apercebesse,
a seguir os caminhos da agronomia;
À Isabel [Levy Ribeiro] , minha forte e decidida companheira de sempre
nesta caminhada difícil mas extraordinária;
Às minhas netas Sara e Clara com a esperança
de um dia poderem viver tranquilamente
na terra adiada com que Cabral sonhou.
UM AGRÓNOMO ANTES DO SEU TEMPO [, foto à direita,]
Aos 28 anos de idade, em Setembro de 1952, poucos meses após ter terminado o curso, regressava à terra que o viu nascer, o agrónomo Amílcar Cabral.
No pensamento trazia certamente as palavras que seu pai, Juvenal Cabral, escrevera no livro “Memórias e Reflexões”, quando se instalara em Bissau em 1911, após “ter deixado as rochas nuas da Paria Negra, da Achada Grande, do Lazareto, e cujo aspeto, severo e triste, parece simbolizar o sofrimento e a dor, meus olhos, maravilhados, contemplaram sem cessar a paradisíaca majestade da flora que, de modo misterioso parece emergir do mar! Por toda a parte árvores frondosas, lindos e esquisitos arbustos que, verdejantes, se espalham pelo solo como tapetes no chão”. “Tudo isto é opulência e vigor, é maravilha que encanta, é riqueza que seduz e predispõe um rapaz a encarar com otimismo a vida neste país.”
Esta visão de seu pai terá influenciado Amílcar Cabral a optar por exercer a sua profissão na Guiné, para além de que, naquela época, a agricultura em Cabo Verde estar votada ao abandono e onde a maior parte dos homens emigrava para o norte (EUA, Portugal e Holanda) à procura da sobrevivência e da vida, tanto mais que outros, desde o final do século XIX, demandavam a Guiné para se dedicarem à agricultura, especialmente cana-de-açúcar, quase sempre associada ao fabrico de aguardente de cana.
Um agrónomo que quisesse de facto exercer a sua profissão, teria de optar pela Guiné, onde tudo podia ser feito, onde tudo estava por fazer e onde a quase totalidade dos habitantes eram pequenos agricultores “indígenas”.
Acompanhava-o a sua primeira mulher, Maria Helena Rodrigues, silvicultora, que chegando 3 meses depois dele, ia conhecer pela primeira vez a cidade de Bissau, nessa altura uma pequena urbe com muito poucos habitantes, espalhados por duas zonas distintas: de um lado a cidade colonial, dita “civilizada”, que incluía a Fortaleza da Amura, o agora chamado “Bissau Velho”, o porto de Pindjiguiti e a avenida da Republica, hoje Amílcar Cabral. Esta parte estendia-se até ao monumento “Esforço da Raça” e Palácio do Governo, nessa altura ainda em construção; do outro, à volta do centro, localizava-se a parte popular, dita dos “indígenas”, onde vivia maioritariamente a etnia pepel.
Era na parte colonial que moravam os poucos intelectuais presentes no país e se encontravam localizadas as grandes firmas estrangeiras como a NOSOCO e a SCOA, às quais se juntavam as portuguesas (A.C. Gouveia, Barbosa & Comandita, Álvaro Camacho e Sociedade Comercial Ultramarina, entre outras) e uma enorme plêiade de pequenos comerciantes libaneses como Mamud ElAwar, Aly Souleiman, Michel Ajouz, etc.
No resto do país o comércio de produtos e bens elementares era fundamentalmente assegurado pelos “djilas”, comerciantes ambulantes que percorriam de bicicleta e canoa todo o território.
Para Cabral, mais do que o refrão da época, “a agricultura é a base da economia”, ele defendia claramente que “a agricultura era a própria economia da Guiné” pelo que era importante os serviços aproximarem-se dos pequenos agricultores.
Por Carlos Schwarz
(agrónomo)
Novembro
2012
À memória de meu pai Artur [Augusto Silva] que, desde criança
me incentivou, sem que eu me apercebesse,
a seguir os caminhos da agronomia;
À minha mãe Clara [Schwarz] que sempre esteve solidária
com as minhas opções e nas mãos de quem vi,
pela primeira vez e ainda nos tempos da ditadura,
os símbolos do PAIGC;
nesta caminhada difícil mas extraordinária;
Aos meus filhos Cristina, Ivan e Catarina
que partilham corajosamente e sem hesitações
os sobressaltos políticos da vida dos seus pais;
de um dia poderem viver tranquilamente
na terra adiada com que Cabral sonhou.
Aos 28 anos de idade, em Setembro de 1952, poucos meses após ter terminado o curso, regressava à terra que o viu nascer, o agrónomo Amílcar Cabral.
No pensamento trazia certamente as palavras que seu pai, Juvenal Cabral, escrevera no livro “Memórias e Reflexões”, quando se instalara em Bissau em 1911, após “ter deixado as rochas nuas da Paria Negra, da Achada Grande, do Lazareto, e cujo aspeto, severo e triste, parece simbolizar o sofrimento e a dor, meus olhos, maravilhados, contemplaram sem cessar a paradisíaca majestade da flora que, de modo misterioso parece emergir do mar! Por toda a parte árvores frondosas, lindos e esquisitos arbustos que, verdejantes, se espalham pelo solo como tapetes no chão”. “Tudo isto é opulência e vigor, é maravilha que encanta, é riqueza que seduz e predispõe um rapaz a encarar com otimismo a vida neste país.”
Esta visão de seu pai terá influenciado Amílcar Cabral a optar por exercer a sua profissão na Guiné, para além de que, naquela época, a agricultura em Cabo Verde estar votada ao abandono e onde a maior parte dos homens emigrava para o norte (EUA, Portugal e Holanda) à procura da sobrevivência e da vida, tanto mais que outros, desde o final do século XIX, demandavam a Guiné para se dedicarem à agricultura, especialmente cana-de-açúcar, quase sempre associada ao fabrico de aguardente de cana.
Um agrónomo que quisesse de facto exercer a sua profissão, teria de optar pela Guiné, onde tudo podia ser feito, onde tudo estava por fazer e onde a quase totalidade dos habitantes eram pequenos agricultores “indígenas”.
Acompanhava-o a sua primeira mulher, Maria Helena Rodrigues, silvicultora, que chegando 3 meses depois dele, ia conhecer pela primeira vez a cidade de Bissau, nessa altura uma pequena urbe com muito poucos habitantes, espalhados por duas zonas distintas: de um lado a cidade colonial, dita “civilizada”, que incluía a Fortaleza da Amura, o agora chamado “Bissau Velho”, o porto de Pindjiguiti e a avenida da Republica, hoje Amílcar Cabral. Esta parte estendia-se até ao monumento “Esforço da Raça” e Palácio do Governo, nessa altura ainda em construção; do outro, à volta do centro, localizava-se a parte popular, dita dos “indígenas”, onde vivia maioritariamente a etnia pepel.
Era na parte colonial que moravam os poucos intelectuais presentes no país e se encontravam localizadas as grandes firmas estrangeiras como a NOSOCO e a SCOA, às quais se juntavam as portuguesas (A.C. Gouveia, Barbosa & Comandita, Álvaro Camacho e Sociedade Comercial Ultramarina, entre outras) e uma enorme plêiade de pequenos comerciantes libaneses como Mamud ElAwar, Aly Souleiman, Michel Ajouz, etc.
No resto do país o comércio de produtos e bens elementares era fundamentalmente assegurado pelos “djilas”, comerciantes ambulantes que percorriam de bicicleta e canoa todo o território.
Fotografia atual da casa onde Cabral e Maria Helena viveram na Granja de Pessubé
A agricultura, então chamada de “indígena”, assentava na produção de arroz para o autoconsumo das comunidades rurais, a qual era praticada há cerca de 3.000 anos e na produção de uma cultura de exportação, a mancarra (amendoim) incentivada pelas empresas estrangeiras que se revezam na sua exportação para a Europa (em bruto ou em óleo). O ciclo da mancarra começa na zona de Buba, incentivada por alemães e percorre um itinerário fácil de identificar pela erosão e degradação dos solos que provoca na Guiné e que passa por Bolama, norte do Oio, Bafatá e Gabú.
Os serviços oficiais de apoio aos agricultores eram praticamente inexistentes ou inoperacionais, confinando-se dentro das infraestruturas técnicas e administrativas que construíam. Não existia nenhum centro de experimentação, de formação de quadros ou de vulgarização.
Este foi o contexto global que se deparou a Cabral à sua chegada a Bissau, ele que vinha para como dizia, “viver o seu tempo e a sua época”, iniciar os desafios políticos da luta pela conquista da independência, defender um desenvolvimento centrado na agricultura e promover a dignidade da população guineense.
Ele e Maria Helena instalam-se na casa da Granja Experimental do Pessubé, atribuída ao seu diretor, na altura situada muito longe do centro de Bissau, num bairro popular da periferia e numa zona isolada e de difícil acesso. A Granja dispunha de cerca de 400 ha onde existia grande número de essências florestais e um pequeno número avulso de algumas espécies frutícolas, como por exemplo cacaueiros.
Nesta altura, quando começa a exercer a sua profissão, Amílcar está convencido de que o processo de independência decorrerá de forma pacífica, nos moldes como se virá a processar nos outros países africanos, pelo que decide começar a construção do novo edifício conceptual agrícola que iria substituir gradualmente o modelo colonial existente.
A Granja de Pessubé vai ser o ponto de partida, para começar a pôr em prática uma estratégia, em três vertentes principais, que ele considera importantes para o desenvolvimento da agricultura guineense:
Começa um trabalho de aproveitamento dos terrenos agrícolas da Granja, utilizando critérios inovadores, em função da natureza dos solos e da sua aptidão, apostando na sua fertilização orgânica com base nas camas dos animais da Granja da Pecuária, na consociação de culturas (mandioca-bananeiras), identificação de pragas e doenças, caracterização das diferentes variedades de cada espécie.
Os serviços oficiais de apoio aos agricultores eram praticamente inexistentes ou inoperacionais, confinando-se dentro das infraestruturas técnicas e administrativas que construíam. Não existia nenhum centro de experimentação, de formação de quadros ou de vulgarização.
Este foi o contexto global que se deparou a Cabral à sua chegada a Bissau, ele que vinha para como dizia, “viver o seu tempo e a sua época”, iniciar os desafios políticos da luta pela conquista da independência, defender um desenvolvimento centrado na agricultura e promover a dignidade da população guineense.
Ele e Maria Helena instalam-se na casa da Granja Experimental do Pessubé, atribuída ao seu diretor, na altura situada muito longe do centro de Bissau, num bairro popular da periferia e numa zona isolada e de difícil acesso. A Granja dispunha de cerca de 400 ha onde existia grande número de essências florestais e um pequeno número avulso de algumas espécies frutícolas, como por exemplo cacaueiros.
Nesta altura, quando começa a exercer a sua profissão, Amílcar está convencido de que o processo de independência decorrerá de forma pacífica, nos moldes como se virá a processar nos outros países africanos, pelo que decide começar a construção do novo edifício conceptual agrícola que iria substituir gradualmente o modelo colonial existente.
A Granja de Pessubé vai ser o ponto de partida, para começar a pôr em prática uma estratégia, em três vertentes principais, que ele considera importantes para o desenvolvimento da agricultura guineense:
A primeira, foi a de transformar a Granja de mera unidade de produção de legumes destinados às autoridades politicas e administrativas coloniais da praça e num local de piqueniques e passeios recreativos, num centro de pesquisa agrícola, enquanto instrumento para melhorar e modernizar a produção dos agricultores.
Cabral concebe e põe em aplicação um programa de experimentação baseado na identificação de técnicas culturais para diferentes espécies agrícolas (compasso, armação do terreno, adubação e época de sementeira), de ensaios de adaptação varietal (arroz, cana-de-açúcar, mancarra, banana, algodão e hortícolas), identificação de pragas e doenças, valorização de variedades locais de certas espécies, como a “juta”, e a introdução de novas espécies como o gergelim (sésamo), soja e girassol.Começa um trabalho de aproveitamento dos terrenos agrícolas da Granja, utilizando critérios inovadores, em função da natureza dos solos e da sua aptidão, apostando na sua fertilização orgânica com base nas camas dos animais da Granja da Pecuária, na consociação de culturas (mandioca-bananeiras), identificação de pragas e doenças, caracterização das diferentes variedades de cada espécie.
Dá início, pela primeira vez, à publicação de resultados da experimentação e de reflexões sobre a agricultura guineense, criando para isso o “Boletim Informativo” trimestral da Granja Experimental de Pessubé onde, para além da descrição das atividades, propunha a reflexão sobre temas importantes, como a “cultura mecanizada”, o “vírus da roseta da mancarra” e a “cultura da juta”.
Amílcar Cabral, Maria Helena e Clara Schwarz [, decana do nosso blogue, à beira dos 98 anos,]na estrada de regresso de Dakar para Bissau em 1954.
[As presentes fotos do arquivo pessoal de Clara Schwarz. O seu marido, o escritor e jurista Artur Augusto Silva, é que conviveu mais com Amílcar Cabral. Clara, que foi professora no Liceu de Bissau, traduziu textos de Cabral para francês. Pepito, o filho mais novo, nasceu em Bissau, em 1949.] [LG]
[As presentes fotos do arquivo pessoal de Clara Schwarz. O seu marido, o escritor e jurista Artur Augusto Silva, é que conviveu mais com Amílcar Cabral. Clara, que foi professora no Liceu de Bissau, traduziu textos de Cabral para francês. Pepito, o filho mais novo, nasceu em Bissau, em 1949.] [LG]
Com uma regularidade notável, foram publicados, desde Novembro de 1952, cinco “Boletins Informativos”.
A segunda, foi o de romper os muros internos em que se confinavam os serviços agrícolas, para os aproximar dos agricultores, que deviam ser os seus principais beneficiários.
Para Cabral, mais do que o refrão da época, “a agricultura é a base da economia”, ele defendia claramente que “a agricultura era a própria economia da Guiné” pelo que era importante os serviços aproximarem-se dos pequenos agricultores.
É assim que a Granja de Pessubé passa a executar ensaios e experiências agrícolas nos postos de Bula, Safim, Bigene, Nhacra e Prábis, fazendo aquilo a que hoje em dia se chama de “ensaios em meio camponês”, como forma de testar a sua adaptabilidade às diferentes condições ecológicas e sistemas de cultura dos agricultores.
O projeto FAO de recenseamento agrícola aprovado pelo governo português em 1947 e logo metido na gaveta, onde pernoitou mais de 4 anos, é rapidamente retomado por Cabral, poucos meses depois da sua chegada a Pessubé, o qual estuda, planeia e executa. Para ele, o censo não era apenas um conjunto de quadros e números, mas também a possibilidade de ler, compreender e agir sobre a dinâmica agrícola prevalecente.
O projeto FAO de recenseamento agrícola aprovado pelo governo português em 1947 e logo metido na gaveta, onde pernoitou mais de 4 anos, é rapidamente retomado por Cabral, poucos meses depois da sua chegada a Pessubé, o qual estuda, planeia e executa. Para ele, o censo não era apenas um conjunto de quadros e números, mas também a possibilidade de ler, compreender e agir sobre a dinâmica agrícola prevalecente.
Este trabalho permitiu-lhe definir de forma precisa a contribuição dos diferentes grupos étnicos guineenses para a produção agrícola, servindo ainda hoje, passados 60 anos, para compreender os sistemas de produção e de cultura por eles praticados.
Por outras palavras, o censo fez sair os serviços agrícolas da sua torre de marfim em direção aos campos dos agricultores, confrontando-os com a realidade que deviam servir e possibilitando a procura de soluções para os seus problemas fundamentais e para a modernização agrícola.
Consciente que o reduzido número de quadros técnicos e a constante falta de recursos impediriam que a pesquisa agrícola fosse realizada e trouxesse resultados úteis e práticos aos agricultores, Cabral fomentou a vinda a Pessubé de diversos técnicos, como a missão pedológica francesa de Dakar, especialistas em cana-de-açúcar, entomologistas, etc.
A terceira, foi a da interação da agricultura guineense com as dos países vizinhos da sub-região
Consciente que o reduzido número de quadros técnicos e a constante falta de recursos impediriam que a pesquisa agrícola fosse realizada e trouxesse resultados úteis e práticos aos agricultores, Cabral fomentou a vinda a Pessubé de diversos técnicos, como a missão pedológica francesa de Dakar, especialistas em cana-de-açúcar, entomologistas, etc.
A participação de Amílcar Cabral na “Conferência internacional Mancarra-Milheto”, realizada em Bembey, Senegal em 1954, onde apresenta a comunicação “Queimadas e pousios no ciclo cultural Mancarra-Milheto”, é uma prova eloquente da sua estratégia de conhecer os resultados experimentais de estações estrangeiras mais antigas, com maior número de técnicos e para marcar a presença e capacidade dos técnicos guineenses nos circuitos científicos da sub-região, aspeto que ele considerava determinante para o período pós-independência.
Internamente, vai começando a criar um núcleo de quadros técnicos que possa garantir a continuidade e reforço destes programas. Deles, realçam-se dois:
(i) Bacar Cassamá, monitor agrícola da Granja, é a primeira pessoa de quem se aproxima e com quem criará relações de amizade e confiança até ao final da sua vida; alto, forte, sério, de riso difícil, com quem terá repetidamente discussões sempre ultrapassadas, porque na sua maneira de ser, a melhor forma de ser honesto era dizer claramente ao “engenheiro” a sua posição e o que pensava; homem que nunca dobrou a coluna, continuou seu amigo e fiel ao PAIGC, mesmo depois do Golpe de Estado de Nino Vieira, quando houve a tentativa de apagar Cabral da história da Guiné-Bissau; acaba por falecer em 2012, esquecido e abandonado por muitos companheiros, com algumas exceções como a de Pedro Pires, ele que foi quem mais tempo acompanhou Cabral;
Internamente, vai começando a criar um núcleo de quadros técnicos que possa garantir a continuidade e reforço destes programas. Deles, realçam-se dois:
(i) Bacar Cassamá, monitor agrícola da Granja, é a primeira pessoa de quem se aproxima e com quem criará relações de amizade e confiança até ao final da sua vida; alto, forte, sério, de riso difícil, com quem terá repetidamente discussões sempre ultrapassadas, porque na sua maneira de ser, a melhor forma de ser honesto era dizer claramente ao “engenheiro” a sua posição e o que pensava; homem que nunca dobrou a coluna, continuou seu amigo e fiel ao PAIGC, mesmo depois do Golpe de Estado de Nino Vieira, quando houve a tentativa de apagar Cabral da história da Guiné-Bissau; acaba por falecer em 2012, esquecido e abandonado por muitos companheiros, com algumas exceções como a de Pedro Pires, ele que foi quem mais tempo acompanhou Cabral;
(ii) Júlio Mota Almeida, prático agrícola na Granja, que acaba por estar presente na fundação do PAIGC em Bissau, em Setembro de 1956. Morre em Portugal em 1982.
Durante dois anos e meio, Cabral percorre a Guiné de lés-a-lés, observando, estudando e escrevendo sobre o fácies da agricultura guineense. Cite-se o caso do estudo local das queimadas e pousios em Fulacunda. Determinante foi a realização do recenseamento agrícola onde, à frente de uma equipa técnica, contactou agricultores, lideres comunitários, jovens e mulheres, apercebendo-se das diferentes lógicas de pensamento e ação de cada grupo étnico, as suas potencialidades e as fraquezas e, sobretudo, as prioridades mais sentidas na promoção da sua forma de vida.
Durante dois anos e meio, Cabral percorre a Guiné de lés-a-lés, observando, estudando e escrevendo sobre o fácies da agricultura guineense. Cite-se o caso do estudo local das queimadas e pousios em Fulacunda. Determinante foi a realização do recenseamento agrícola onde, à frente de uma equipa técnica, contactou agricultores, lideres comunitários, jovens e mulheres, apercebendo-se das diferentes lógicas de pensamento e ação de cada grupo étnico, as suas potencialidades e as fraquezas e, sobretudo, as prioridades mais sentidas na promoção da sua forma de vida.
Em Março de 1955 sai de Bissau num avião da Air France, por imposição das autoridades políticas governamentais coloniais, que o acusam de exercer atividades conspiratórias pela independência da Guiné, o que efetivamente correspondia à verdade, mas não lhes dava esse direito. Autorizam-no a vir anualmente a Bissau, o que ele aproveita em 1956, para colaborar com outros nacionalistas na fundação do PAIGC, num dia de Setembro que mais tarde acaba por ser arbitrariamente fixado como sendo o dia 19. Também em 1959, já com 35 anos de idade, vem a Bissau no ano do Massacre do porto de Pindjiguiti, momento determinante para Cabral perceber que a conquista da independência teria de ser obtida pela luta armada de longa duração e não da forma pacífica pela qual ele sempre pugnou.
Desde que foi expulso da Guiné, Cabral continuou a desenvolver a sua atividade agronómica em Portugal e Angola, dedicando-se sempre à reflexão sobre a agricultura guineense, salientando-se a publicação na revista AGROS, da Associação de Estudantes de Agronomia, do seu texto: “A agricultura na Guiné, algumas notas sobre as suas características e problemas fundamentais”.
Em 1960, estimulado pela independência da Guiné-Conakry e do NÃO à França dado em 1958, decide estabelecer-se definitivamente em Conakry, certo que era o local ideal tendo em consideração a forma como o Senegal tinha decidido aceder à independência. As vicissitudes que a guerrilha passou neste país durante os 11 anos de Luta, veio mostrar que a sua visão estava correta.
Poucos anos antes do seu assassinato, em 1972, consciente de que a vitória militar era um dado adquirido e surgiria a curto prazo, começa a dedicar mais do seu tempo à conceção do futuro Estado da Guiné-Bissau e aí volta a agricultura a estar presente no futuro programa. A vivência em Conakry permitira-lhe identificar os reais perigos com que o novo país se iria confrontar no pós-independência. Um deles são os “atrativos” que a cidade de Bissau iria exercer na cúpula dirigente dos guerrilheiros, a tendência para a intriga e complot político e, finalmente, o descanso do guerreiro. O outro, era o do inevitável esquecimento e afastamento gradual dos dirigentes em relação às populações que haviam participado na Luta.
Poucos anos antes do seu assassinato, em 1972, consciente de que a vitória militar era um dado adquirido e surgiria a curto prazo, começa a dedicar mais do seu tempo à conceção do futuro Estado da Guiné-Bissau e aí volta a agricultura a estar presente no futuro programa. A vivência em Conakry permitira-lhe identificar os reais perigos com que o novo país se iria confrontar no pós-independência. Um deles são os “atrativos” que a cidade de Bissau iria exercer na cúpula dirigente dos guerrilheiros, a tendência para a intriga e complot político e, finalmente, o descanso do guerreiro. O outro, era o do inevitável esquecimento e afastamento gradual dos dirigentes em relação às populações que haviam participado na Luta.
Uma das ideias que Cabral estava a desenvolver quando é assassinado, era o da criação dos diferentes Ministérios governamentais, um em cada uma das capitais regionais do país. Mantinha os dirigentes perto dos cidadãos, empurrava-os para resolverem os problemas concretos das populações e diminuía o risco do “diz que diz”, da conflitualidade estéril e da intriga política. É o retomar da tese de agrónomo de que os técnicos e decisores não se devem fechar entre portas, mas estar perto dos beneficiários do seu trabalho.
(Continua)
(Continua)
Texto e fotos; © Carlos Schwarz (2013). Todos os direitos reservados
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