Foto nº 85
Foto nº 88
Foto nº 106
Foto nº 91
Foto nº 100
Foto nº 98
Foto nº 97
Foto nº 102
Foto nº 80
Foto nº 81
Foto nº 324
Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Quartel da Atalaia > Regimento de Infantaria nº 1 (desde 2008)
Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados
Diz o meu "cadastro militar" que (i) fui alistado em 17/6/1967; (ii) passei pelo RI 5 (Caldas da Raínha) (15/7/1968), CISMI (Tavira) (29/9/1968), BC6 (Castelo Branco) (6/1/1969) e RI2 (Abrantes/Santa Margarida) (4/3/1969); antes de (iii) partir para a Guiné, em 24/5/1969, no T/T Niassa...
Desembarquei em Bissau em 30/5/1969. Regressei a casa a 17/3/1971. Desembarquei em Lisboa a 22/3/1969... Enfim, passei, à "peluda" em 16/4/1971... Tudo contado, estive por conta do exército quase três anos da minha vida...
Terminei aqui a especialidade de armas pesadas de infantaria, em 14 de dezembro, com a classificação de 13,41 valores... Fui um instruendo mediano nas provas físicas e na carreira de tiro, safei-me melhor nos testes escritos: recordo-me que se fazia a prova de conhecimentos, na parada, sentados no chão... Eram testes de conhecimentos, de tipo americano: uma pergunta, quatro hipóteses de resposta, onde só uma estava correta...
Passei as férias de Natal na minha terra, Lourinhã., antes de marchar para Castelo Branco. Aí fui promovido a 1º cabo miliciano, a 6 de janeiro, e submetido às praxes da ordem...Nesse inverno beirão passei o maior frio da minha vida... E apanhei o
Por muito que eu me esforçasse, não consegui reviver os dois meses e meio que aqui passei... Não consegui chamar até mim os fantasmas de alguns instrutores e comandantes de companhia, como o Robles, o Trotil e o Esteves que nos metiam muito respeitinho... Eram heróis, cacimbados, da guerra de Angola, dizia-se... Do Esteves, que foi meu comandante, e tinha o poste de tenente, recordo-me da sua única frase de antologia: "Vocês são a fina flor da Nação"... E a malta repetia, baixinho: ... "fina flor do entulho", da merda da feira do gado, da merda das salinas (foto nº 324)...
Na foto nº 97, consta a lista dos militares do RI 1 mortos no TO da Guiné... Há um monumento aos mortos, no final da parada... Na placa, em bronze, dos mortos na Guiiné, constam dois alferes: o Adelino Costa Duarte, morto em conbate em 23/11/65; e o Carlos Santos Dias, que morreu também em combate, em 6/10/66... Mais 3 furriéis, 5 primeiros cabos e 30 soldados...
A foto nº 199 diz respeito ao antigo quartel da Graça, hoje transformado em pousada. Não tenho ideia de alguna vez lá ter entrado, E naw fotow nº 80 e 81 podemos ver a velha fonte que nos matava a sede, e que ficava a caminho do quartel da Atalaia...
Dois meses e meio, em Tavira, na tropa, em finais de 1968, não davam para viver nem muito menos guardar na memória grandes peripécias, paixões, amizades, acontecimentos galvanizantes, figuras marcantes, lugares... A instrução era puxada, e o corpinho ressentia-se...
Afinal de que é que lembro de Tavira do final dos anos 60, para além da ponte romana sobre o Rio Gilão, do mercado, do polvo, do jardim do coreto, das esplanadas, das Quatro Águas e de Santa Luzia? Muito pouco, tirando as peripécias da tropa (por ex., as altifalantes na parada no quartel da Atalaia, as marchas forçadas, as salinas, o tiro real na Ria Formosa com o morteiro, a bazuca e o canhão s/r)...
Dois meses e meio, em Tavira, na tropa, em finais de 1968, não davam para viver nem muito menos guardar na memória grandes peripécias, paixões, amizades, acontecimentos galvanizantes, figuras marcantes, lugares... A instrução era puxada, e o corpinho ressentia-se...
Afinal de que é que lembro de Tavira do final dos anos 60, para além da ponte romana sobre o Rio Gilão, do mercado, do polvo, do jardim do coreto, das esplanadas, das Quatro Águas e de Santa Luzia? Muito pouco, tirando as peripécias da tropa (por ex., as altifalantes na parada no quartel da Atalaia, as marchas forçadas, as salinas, o tiro real na Ria Formosa com o morteiro, a bazuca e o canhão s/r)...
Lembro-me, mal, do quartel da Atalaia, e das míseras condições das nossas casernas e outros espaços coletivos como o refeitório... Éramos sardinha em lata, num edfício de finais do séc. XVIII... Três ou quatro companhias de instruendos das várias epsecialidades (armas pesadasm, transmissões, sapadores...).
Lembro-me isso, sim, de um safado de um alferes instrutor, dos vellhinhos, com sotaque algarvio, que nos humilhava, obrigando-nos a chafurdar na merda da feira do gado, enquanto namorava, à janela, uma fulana lá da terra...
Lembro-me do comandante do CISMI (major, tenente coronel ou coronel, já não sei, daqueles oficiais velhinhos, do tempo da guerra do Solnado...) que nos proibiu a inauguração de uma exposição (documental) sobre a a II Guerra Mundial com o argumento, idiota, de que "para guerra já bastava a nossa, lá no ultramar"...
Lembro-me da velha e anafada prostituta, andaluza, de olho azul, que morava perto do quartel da Atalaia, e que tirava os três aos infantes...
Lembro-me da amázia (?) de um sorja ou de um tenente qualquer que nos acompanhava nos exercícios de campo, vendendo-nos sandochas e bebidas, em regime de monopólio... Acho que tinha uma carroça, puxada por um macho...
Tavira era triste como era triste o meu/nosso país em 1968... Não sei se lá chorei, mas devo ter rangido os dentes, algumas vezes. De raiva...
Dos "casamentos na parada", de que fala o Henrique Cerqueira (em comentário ao poste P12673) (*), ouvi falar, mas não sei se era lenda... Nunca assisti a nenhum, ou então nunca liguei... A verdade é que aquelas miúdas, de sangue fenício, romano, bérbere e africano, eram verdadeiros "lança-chamas"...
Concordo com o juízo do Henrique Cerqueira: os nossos instrutores, na tropa, na época, estavam longe de ser as melhores pessoas do mundo... Acho que merecíamos muito mais e melhor, aqueles de nós a quem calhou, na rifa, a fava da Guiné... Alguns eram mesmo uns pobres diabos, sádicos, prepotentes, mesquinhos, fanfarrões, boçais, incultos... que nem para soldados básicos eu os queria na Guiné... De qualquer modo, nada do que aprendi em Tavira me foi útil na Guiné: à falta de armas pesadas de artilharia, deram-me uma G3 e um punhado de bravos soldados fulas que não sabiam onde ficava Portugal e muito menos falavam português...
Em contrapartida, parece haver alguma saudade do tempo dos "milicianos" por parte da população mais velha de Tavira... Foi o meu sentimento, pelos esporádicos contactos que estabeleci neste fim de semana de "regresso ao passado"... LG
________________
Nota do editor: