Queridos amigos,
É a despedida de Ravello, uma despedida em beleza, com vistas panorâmicas em Villa Cimbrone na sua composição eclética, muito ao gosto do romantismo fim de século, registaram-se alguns elementos de extraordinária beleza da pequena catedral, apanhou-se um autocarro até Amalfi, daqui uma viagem de autocarro em que o viandante andou bem apertado a olhar um permanente precipício até Nápoles.
E na manhã seguinte, sem perda de tempo, subiu-se a um ponto alto, um castelo maciço, andou-se à volta de vários bastiões, parecem proas de transatlânticos, muito respeitinho, naquela prisão esteve Leonor da Fonseca Pimentel, "A Portuguesa de Nápoles", ler as suas biografias permite conhecer o mais obscuro da mentalidade fanática e perceber como se comportou na agonia o absolutismo e perceber perfeitamente que os famosos domínios pontifícios iam em breve desaparecer com a chegada de Garibaldi. Mas, acima de tudo, o que se tem mais satisfação em oferecer ao leitor, é uma Nápoles frondosa, a toda a volta.
Que disfrutem!
Um abraço do
Mário
Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (8)
Beja Santos
Villa Cimbrone, espero que o leitor se recorde, é distinguida pelo Guia Michelin com três estrelas. A vila foi construída no início do século XIX por Lorde William Bechett em estilo eclético, daí entrar-se por uma alameda enorme, cercada de parques, fica-se logo com a tentação de andar a bisbilhotar de um lado para o outro, impõe-se a disciplina e vai-se em direção a Belvedere, adornado com bustos em mármore, é o tal panorama de cortar a respiração, e depois saltita-se pelas diferentes áreas do parque, são seis hectares primorosamente tratados, temos aqui a botânica e a cultura de Inglaterra incrustadas num ponto do Mediterrâneo, edificação do fim do século XIX até início do século XX. Cimbrone vem do termo latino cimbronium, lugar de vegetação luxuriante onde se produz da melhor madeira para uso naval. Há muito para ver, nestas edificações ecléticas que encontramos no claustro, na cripta, na diferente estatuária, nas réplicas de tempos, nas grutas, nos terraços, em plenas avenidas. Deixa-se aqui uma pequena amostra.
Finda a visita, o viandante vai-se despedir da catedral de Ravello, fundada no século XI e remodelada no século XVIII. Tem uma esplêndida porta de bronze, os painéis datam do século XII. O Guia Michelin confere duas estrelas ao púlpito pela sua espantosa variedade de motivos e animais fantásticos, obra do século XIII. É de encher as medidas! Adeus Ravello, a peregrinação dirige-se de novo para Nápoles.
Não é um transatlântico, é Castel Sant’Elmo, uma estrutura maciça com bastiões. Oiçam o que o viandante encontrou num guia:
“Nos anos 30 do século XIV, os governantes Angevinos (entenda-se, da Casa de Anjou) fomentaram uma onde de construção no monte Vomero a oeste de Nápoles – a construção da Certosa di San Martino e o aumento e reconstrução da vizinha residência fortificada de Belforte, que tinha sido aditada pela família de Carlos I de Anjou, desde 1275. No século XVI, Pedro Scriba, um importante arquiteto militar da época, transformou o castelo do século XIV para a sua atual configuração de estrela de seis pontas. Por causa da sua posição estratégica, Castel Sant’Elmo tornou-se sob Pedro de Toledo o ponto central do novo sistema de defesa de Nápoles. Foi usado como prisão, um preso célebre foi Tommaso Campanella e os revolucionários de 1799, daqui partiu para o cadafalso Leonor da Fonseca Pimentel. A entrada tem o brasão de Carlos V. O complexo é usado hoje para exposições temporárias e eventos culturais”.
Como é de supor, das muralhas de Castel Sant’Elmo tem-se uma espetacular vista de 360º de Nápoles e da baía.
A Portuguesa de Nápoles, Leonor da Fonseca Pimentel, executada em 1799.
Visitado o Castel Sant’Elmo, parte-se para a Cartuxa e para o Museu Nacional de S. Martinho. Esta imagem não vem a despropósito. Se pouco resta do domínio bizantino ou da dinastia aragonesa, se há bastante património relativo à vice-realeza espanhola e aos Bourbon, a monumentalidade da arquitetura é impressionante. Numa pequena secção de rua podem ser vistas marcas de várias épocas, mas as marcas do classicismo novecentista são eloquentes, casas que são verdadeiros palácios, a atestar conforto e marcas da distinção, o que aqui se mostra multiplica-se por milhares, e a arquitetura ao longo da baía é magnificente, como se Nápoles quisesse dizer a toda a Itália que a sumptuosidade não se circunscreve às ricas cidades de Roma e Milão, ela é a rainha do Sul, sem dúvida.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21048: Os nossos seres, saberes e lazeres (396): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (7) (Mário Beja Santos)