quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7602: Memórias de Mansabá (12): No coração do Óio, bem perto do Morés (Ernesto Duarte / Carlos Vinhal)

 MEMÓRIAS DE MANSABÁ (12)

1. Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, com data de 7 de Janeiro de 2011:

Quarenta e tal anos e Mansabá ainda aí estás, com toda a tua força

Caro Carlos
Que a tua vida e a dos teus continue a correr pelo melhor, são os meus sinceros votos, os meus pedidos aos céus.
[...]
Já vi a publicação, está espectacular, gostei de ver, embora quase tudo relacionado com aquele tempo me pareça, um sonho, ou um pesadelo, coisas que pouca diferença fazem, se fosse em Mansabá pedia, parece-me que era o que eu podia fazer, uma menção honrosa, que depois de investigado podia ir a louvor, e digo mais, revi uma montanha de coisas a correr, num segundo, e senti emoção, raiva, alegria e até a saudades, muitas saudades dos que partiram, dos que têm partido ultimamente, muito e muito obrigado Carlos.

Como bom miliciano, como bom homem de Mansabá ao pedir o favor da publicação foi um risco corrido, com plena consciência, era só e mais nada do que poder falar com alguém que fala a mesma língua do que eu, e possivelmente encontrar camaradas do mesmo ano e contar quatro ou cinco coisas que amanhã sejam lidas de outra maneira, que não sejam lidas como a maioria dos nossos contemporâneos as lêem, e que ao lê-las como realidade, como história viva, isto não é pretensão, muito menos falta de humildade, mas desejo que esse alguém, se torne um defensor da paz muito mais convicto, mas por outro lado tenho dúvidas que alguma coisa alguma vez funcione nesse sentido, mas lá vai, não é um alerta é um grito do fundo da alma guerra não, nunca mais.

Às vezes duvido se não está tudo a ser visto com um sinal contrário! Este ano apareceu no mercado uma espingarda e uma pistola metralhadora, aliás vários modelos, funcionando a pilhas, mas exactamente iguais às verdadeiras, em sistemas, em carregadores, e em cadencia de tiro e mesmo com balas plásticas, dentro dos 10 metros tinham uma eficácia muito boa, venderam-se milhões em Lisboa, com paginas na Net explicando tudo, com todo o pormenor.

O teu comentário, eu atrás de mim no OIO, só conheci os Águias Negras, que fizeram Cutia, tinha sido acabada de fazer poucos dias antes da nossa chegada e se em pormenores se a minha memória não falha, sofreram lá um ataque violentíssimo, e ficaram no terreno, mortos os primeiros dois ou três cubanos, e uma bazuca, tendo passado de se dizer que tinham, a confirmar-se que tinham. Chegados a Mansabá tínhamos água boa, tínhamos trincheiras, e aquele barracão com uma cama. Estavam a acabar Manhau, ainda fomos lá ajudar na decoração. Para aí uma semana antes da nossa chegada se tanto, tinham sofrido um ataque violentíssimo, tendem deixado no terreno um morteiro 82 rachado, parecendo que tinha rebentado uma granada dentro do cano, são os assuntos de fala na altura em que nós chegamos. A nossa chegada foi muito melhor com o apoio deles.

Mas aqui também não sei se não os prejudicamos mais do que ajudamos! Nós nunca conseguimos impor o tempo de guerra, as pessoas não compreendem isto, andamos quilómetros e quilómetros sem dar um tiro, sem ver ninguém e num repente, era a loucura. Eles aprenderam com todos os que foram antes e vocês já encontraram tipos não só com o conhecimento do terreno, mas já com muita técnica de guerra e uma principal, levando a luta para o sitio que lhes interessava e aquelas companhias de milícia que nós treinamos, para onde foram ?

Mamboncó, no sentido para Cutia à direita havia uma série de imbondeiros e era a descer um pedaço aí por 64 foram os F não sei quantos penso que do Montijo, pôr ordem na zona, deixando depois lá uns buracos, que no meu tempo foram limpos duas ou três vezes pela artilharia.

O senhor da serração no meu tempo era um fulano de idade, racista com uma criada cabo verdiana, eu gostava muito da tabanca andava sempre por ali e como tal e como eu gosto muito de conversar, conversamos muito, até ao dia em que nós não lhe trouxemos um tractor enorme de Banjara.

Tenho muitas duvidas se com a nossa maneira de ser, não passamos coisas de mais para o outro lado pensando que estávamos a fazer bem e se calhar muitas delas tiveram efeitos contrários, que deus nos perdoe porque a intenção foi sempre a outra.

O tipo mal acabado que estava em Mansabá em 65 e que eu me lembre era o Barata, não me lembro de mais nenhum, os outros sargentos eram bem acabados.

Carlos quanto a publicação de fotos, tu és o técnico eu só digo obrigado.

Vou parar mas volto, digo já faço alguma confusão com os palcos, eram todos muito iguais e naquele tempo as máquinas que tinham flash eram outras e havia quase sempre muita pressa.

Claro, quanto ao escrever mal, já não tenho idade para me preocupar muito, só me fica o respeito por vocês.

Um grande Abraço
Ernesto Duarte


2. Segunda mensagem de Ernesto Duarte, esta com data de 9 de Janeiro de 2011:

Herói, um fulano de coração grande que está no sítio errado na hora errada

Boa noite Carlos

Eu não jurei que vou encher a tua caixa de correio, até porque eu rebentava primeiro, mas como a língua Portuguesa é muito traiçoeira e mais quando não se sabe lidar muito bem com ela, que é o meu caso, gosto muito mais de números, mas como bom militar, que horror, mas como tipo de Mansabá, cá me vou adaptando.

Eu fui não sei quantas vezes, ponho-me residente em Mansabá, a Cutia, mas muitas e muitas vezes, passava-se aquela ponte, junta a uma ex serração, que levámos às costas, subíamos para Mamboncó por uma coisa chamada estrada, com tanto buraco ou tanto alto, nunca soube bem o que era, andava-se aquele pedaço, relativamente bom, Alto de Mamboncó ao fim descíamos por outro campo, que de estrada não tinha
nada.

Eu não acredito em heróis, heróis são fulanos muito homens, muito humanos, com grande espírito de sacrifício, abnegação, amor ao próximo, e um grande coração, e estando no sitio errado na hora errada, o que aconteceu com todos os que foram ao Ultramar. Estiveram no sitio errado na hora errada, para mim são todos heróis, ou Homens Grandes.

Eu falei naquele pedaço de caminho, eu sei que a Guiné infelizmente está cheia deles, mas aquele para quem passou pelo OIO conhece bem e pode avaliar o esforço gigantesco que era escoltar colunas por aquele espaço de estrada. E algumas colunas de abastecimento para Farim e Bafatá com muitas e muitas viaturas. E o trabalho mais importante até talvez fosse não ser soldado, mas sim o comer lama e encharcados e na outra sol de queimar, comendo pó e mais pó e eles quais formigas movimentando-se constantemente para a frente para trás, onde era preciso empurrar, empurrar muito para tirar do buraco ou subir o alto, pôr paus, tirar, paus, segurar, segurar para não se voltar, disparar onde fazia falta e no fim sorriamos uns para os outros, até talvez brincássemos, mas o nosso prémio ninguém nos podia dar, mas também ninguém nos podia tirar, era a nossa satisfação, a satisfação de termos cumprido, não cumprido com A, B ou C mas com nós próprios, uns com os outros, sabíamos que estávamos sós, até talvez nessas alturas não nos revoltássemos muito, mas o grupo sentia uma muito, muito boa satisfação colectiva.

Não te queria assustar, queria e quero dizer que tu, que vocês, não estão no sitio errado, na hora errada, antes pelo contrário, estão no sitio certo, na hora certa mas meteram ombros a uma obra muito grande, para nós podermos falar, contar episódios que pesam no fundo das nossas almas, e a possibilidade de encontrar camaradas que foram amigos e encontrar novos camaradas, novos amigos, que por um capricho do destino, só numa época diferente, deram os mesmos passos, ao ponto de se poder dizer que se confundem, mas com aquela parte que eu acho maravilhosa, a alegria de ser solidário a satisfação de auxiliar, uma satisfação que muitos lhes podem dar, dizendo obrigado, mas que se matem que se esfolem, ninguém lha pode tirar é vossa, e dentro da vossa simplicidade e humildade, sintam a pleno o seu sabor.

Já me esclareci totalmente penso eu.
Vou passar mais umas duas semanas fora.

Um abraço e até um amanhã, depois, depois,
Ernesto Duarte


3. Comentário de CV:

Caro Ernesto, que bom tenhas entrado na tertúlia, porque és da geração a quem a minha muito deve.
Apenas 5 anos nos separam, mas parece uma eternidade, e é numa guerra como foi aquela.

Vocês deixaram-nos a papinha feita, como que um tapete vermelho por onde circulávamos com mais (relativa) segurança, apesar das dificuldades que nos eram impostas pelos possíveis e inesperados encontros com o IN que partilhava aquela parcela de estrada. Mamboncó foi para nós um local fatídico, onde perdemos dois camaradas, o Manuel Vieira e o Espírito Santo Barbosa*, além dos mais de 20 feridos que tiveram de ser evacuados, naquele dia 6 de Dezembro de 1971, a pouco mais de um mês de a CART 2732 terminar a sua comissão de serviço.

Estrada Mansoa - Mansabá > Zona de Mamboncó por onde passava um dos corredores de acesso ao Morés

Fur Mil Nunes, Soldado Barbosa* e Fur Mil Vinhal

Unimog 404 ao serviço da CART 2732 consumido pelas chamas após ter sido atingido por fogo IN em 06DEZ71 na zona de Mamboncó

Mansabá fica na confluência de importantes itinerários, a saber: para Leste, Bafatá; para Oeste, Bissorã; para sul, Mansoa e para Norte, Farim

Mansabá era, no tempo da CART 2732, um quartel modelar onde havia segurança e o mínimo de conforto para várias centenas de homens, graças aos camaradas que antes de nós por lá passaram.

Atenta à foto que abaixo publico e verifica as alterações efectuadas, nomeadamente na zona superior direita da foto onde eram as Casernas, Bar e Refeitório dos Praças, Cozinha, Depósito de Géneros, Arrecadação de Material de Guerra e outras instalações.


 Vamos dar por finda a nossa conversa que é só do interesse dos mansabenses ou de quem por lá passou.

Um abraço para ti com votos de boa saúde
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7586: Panfletos de Ação Psicológica (2) (Ernesto Duarte)

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7466: Memória dos lugares (118): Destruição do Mercado Central Bissau (2) (Nelson Herbert)

Guiné 63/74 - P7601: Ser solidário (97): III Concurso de Fotografia a levar a efeito pelos Lions Clube da Senhora da Hora (Jaime Machado / Álvaro Basto)

1. Aproveitando o trabalho feito pelo nosso camarada Álvaro Basto no sítio da Tabanca de Matosinhos, com a devida vénia e pedido de desculpa pelo atrevimento, levamos ao conhecimento da tertúlia a realização do III Concurso de Fotografia levado a efeito pelos Lions Clube da Senhora da Hora (Matosinhos), pelo que os interessados em participar podem e devem ler a Introdução e os Regulamentos, abaixo.



__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7595: Ser solidário (96): Evento sobre a Guiné no próximo dia 15 em Coimbra (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P7600: Blogoterapia (172): Obrigado, camarigos, os melhores anos da minha vida são os que estão para vir porque os outros jamais voltam... (Rui Alexandrino Ferreira)







Guiné > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > Os primeiros foguetões 122 capturados aos guerrilheiros do PAIGC. No foto, ao centro Cap Mil Rui Ferreira, comandante da CCAÇ 18, com dois dos seus homens.


FERREIRA, Rui Alexandrino - Rumo a Fulacunda. 2ª ed. Viseu: Palimage Editores. 2003. [1ª ed., 2000]. (Colecção Imagens de Hoje). 415 pp. Preço: c. 20€. Capa do livro, à direita.




Fotos: © Rui Ferreira (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todoso os direitos reservados.


1. Mensagem, assinada pelo nosso camarigo Rui Alexandrino Ferreira, remetida por Maria Hermínia Ferreira:
  


Meu caro Luís Graça,
Meus caros Carlos Vinhal , Virgínio Briote e Magalhães Ribeiro,
Meus caros camarigos:

Para utilizar a expressão feliz com que o Mexia Alves definiu o nosso blogue,  começo por vos desejar tudo de bom que possa acontecer. Hoje dou comigo a pensar que efectivamente sou um "cheio de sorte" porque quem tem amigos como os que eu tenho ou uma família que nunca deixou de me apoiar quando passei na descida que fiz ao inferno num sofrimento para o qual me faltam palavras embora me sobre em emoção.

Agravado subitamente em princípios de Dezembro o estado debilitado da minha saúde a uma semana de exames médicos, fui internado de urgência no Hospital de São Teotónio em Viseu e poucas horas depois transferido de ambulância para o Hospital de Santa Maria em Lisboa.



Tal era a gravidade da minha situação que fui operado nesse mesmo dia às coronárias. A minha recuperação tem sido um mar de tormentas e só hoje 12 de Janeiro me sinto com alguma capacidade para poder exercer o privilégio de escrever.


Gostava de vos dizer que hoje me sinto como se tivesse renascido. Acabaram-se as alucinações, os medos, as desconfianças, as dores, o mau estado geral que me acompanhou meses a fio.


Se por um lado não posso nem devo esquecer e muito menos de agradecer todo o amor,  a amizade,  a disponibilidade com que sempre me rodearam a minha esposa, filhas, cunhados,  a que junto a grande frota de amigos que Deus me deu, também não posso deixar de vos dizer que os melhores anos da nossa vida são os que estão para vir porque os outros jamais voltam.

 Um Grande Abraço Rui Alexandrino Ferreira


[ Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]







Recorde-se que o Rui Alexandrino Ferreira nasceu em Angola (Lubango, 1943). Vive actualmente em Viseu. Fez o COM  (Curso de Oficiais Mlicianos) em Mafra em 1964. Tem duas comissões na Guiné, primeiro como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) e depois como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72). Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão. Publicou em 2001 a sua primeira obra literária, Rumo a Fulacunda. Conhecemo-nos desde 2006. O Rui teve então a gentileza de me mandar um exemplar da 2ª edição com a seguinte dedicatória:


"Ao ilustre camarada e antigo combatente, Luís Graça, na esperança e na expectativa de o poder ajudar no muito que tem feito para não deixar cair no esquecimento o marco que influenciaria a vida colectiva dos Portugueses na segunda metade do Séc XX, que já lá vai - a guerra colonial.

"Com a alegria de quem sente renascer uma sã e leal amizade, no desejo de reviver os nossos vinte anos, e sentir o orgulho de termos sido o que fomos e o orgulho de o termos feito. Com um grande abraço do Rui A. Ferreira, Viseu, 23 /Out /2006".



2. Comentário de L.G.:


Querido Rui: Sê bem vindo de novo à vida... e à nossa companhia sob o poilão da Tabanca Grande!... Vejo, pela tua mensagem de hoje, que estiveste nas mãos de grandes profissionais de saúde, do Serviço Nacional de Saúde, e que não deixaste em Lisboa, no Hospital de Santa Maria, os teus neurónios, o teu fino sentido de humor, o teu forte sentimento de partilha e de camarigagem, o teu arreigado amor à vida, o teu optimismo e a tua determinação, nem muito menos o teu talento para a escrita... Ficamos  à espera da prometida 3ª edição do Rumo a Fulacunda (revista e aumentada) ou do novo livro de que me falaste em Monte Real e que já estava na forja, antes desta tua crise de saúde. 

Até ao nosso próximo encontro de 1º grau!  Um grande xicoração da malta toda, do tamanho da distância (física e simbólica) que vai do Quebo a Viseu, e do Lubango à Tabanca Grande!


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Nota de L.G.:


Último poste da série >  30 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7527: Blogoterapia (171): Caminante no hay camino (José Brás)

Guiné 63/74 - P7599: Blogpoesia (106): Homenagem (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  8 de Janeiro de 2011:

Carlos,
Aqui vai mais uma "homenagem" a AB, esse destemido cabo de guerra que nos presenteou com a referida entrevista, onde nos epitetou de membros de bandos...

Um grande abraço.
manuelmaia



"HOMENAGEM"

Importa do "artista" conhecer
a hora da entrevista acontecer,
p`ra avaliar do grau do enxovalho...
Seguida às refeições tem cotação
diferente de de outra ocasião,
que "etílicos vapores", são do "carvalho"...


Na fétida e vomítica entrevista,
qual escarro doentio do "artista",
um despautério, insulto tão soez...
Apelidou de bandos, quais "bandidos",
soldados esforçados e sofridos
que lhe guardaram coiro e altivez...

Por moço de recados sempre tido,
anota Bruno, assim foi conhecido,
do homem grande mero ajudante...
No lote das medalhas preso ao peito,
tem falta da da honra e do respeito,
devido a todo e qualquer semelhante...

Mas essa não se ganha nas campanhas
das pseudo/guerras feitas artimanhas,
herdada vem nos genes do humano...
Se estrela, dum qualquer faz general,
o berço é de importância capital,
destrinça o arrivista do ser lhano...
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7568: Blogpoesia (102): Sociedade lusa (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7592: Blogpoesia (105): P'rá vala, p'ra vala (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P7598: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (39): Na Kontra Ka Kontra: 3.º episódio




1. Terceiro episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 11 de Janeiro de 2011:




NA KONTRA
KA KONTRA


 3.º EPISÓDIO

Sempre que ia ver um filme trocava algumas impressões com o porteiro Ibraim. Ibraim como o filho do profeta. Este, em determinada altura, diz-lhe que tornando-se sócio do Sporting Club de Bafata os bilhetes para o cinema lhe ficam mais baratos, pois as sessões tinham lugar no ringue de patinagem do Sporting Club. Passam a conviver com mais assiduidade. Muitas vezes se vê o Alferes com o Ibraim na esplanada do Restaurante Transmontana, o Alferes bebendo uma “meia cerveja” enquanto o Ibraim, muçulmano, toma uma “fanta”. Tornam-se verdadeiros amigos. Muita coisa o Alferes fica a saber sobre os hábitos dos africanos, que duma maneira geral são bastante fechados. O Ibraim conta-lhe episódios passados com as suas namoradas e o Alferes imagina o dia em que “sairá” com uma bajuda. Chega a levá-lo a um baile nativo na tabanca da Ponte Nova, onde o nosso Alferes, jogador como é, se sente como uma carta fora do baralho. A casa de “bajudas” existente na tabanca da Rocha, perto do início da estrada para Bambadinca também não o motiva, pelo que os seus estados depressivos se sucedem. A “lerpa” é o seu refúgio.

A ordem para seguir para Madina Xaquili foi entendida pelo Alferes Magalhães como um bom presságio. Ia mudar de ares. Contrariamente às bajudas da cidade, talvez as das tabancas fossem mais “acessíveis”.

Neste KA KONTRA, na ida para Madina Xaquili, o Alferes Magalhães segue primeiro numa coluna auto, de Bafata para Bambadinca onde pernoita. Antes, e cumprindo ordens, permanece junto de um abrigo até depois da meia noite, tudo porque o pessoal e sobretudo o comandante, mais conhecido por “Pimbas”, ainda está traumatizado com o primeiro ataque a Bambadinca, quinze dias antes. Nada se passa nessa noite e no dia seguinte parte, sorte a dele, noutra coluna para Galomaro, onde ouve o segundo ataque a Bambadinca. Aí e porque ainda se está a construir o novo quartel, dorme num antigo celeiro de mancarra, juntamente com todos os elementos da Companhia, do último soldado ao Capitão. No dia seguinte uma coluna de três Unimogs leva-o a Madina Xaquili.

Bambadinca.

Dentro duma normalidade castrense e porque já se vinha ouvindo o barulho dos motores da coluna há algum tempo, o Alferes de segunda linha, João Sanhá, comandante do Pelotão de Milícia, está à sua espera. Descarregado todo o material e géneros que tinham vindo de Galomaro para possibilitar a vida naquele fim do mundo, a coluna rapidamente se põe a caminho da sede da Companhia tanto mais que já se está no princípio da época das chuvas e os caminhos começavam a ficar intransitáveis. A pedido do Alferes Magalhães o João Sanhá indicou as moranças disponíveis para instalação dos oito elementos metropolitanos acabados de chegar.

Enquanto o elemento que mais tarde se viria a saber já ter pertencido à Legião Estrangeira ia tratar de fazer o primeiro almoço, outro trata da instalação de uma antena para se comunicar com Galomaro e os demais vão à procura de alguns paus para, com a ajuda de umas tábuas que tinham trazido, construírem uma mesa e dois bancos corridos para futuramente se poder comer decentemente e não como na primeira refeição, que se comeu em cima dos joelhos.
Cabe ao Alferes Magalhães, juntamente com o João Sanhá, dar uma volta pela tabanca ver com o que pode contar, nomeadamente os abrigos, para depois pensar em tudo o que havia a melhorar para a defesa de um possível ataque do PAIGC.

Não foi preciso andar muito. Junto a uma morança, uma mulher que mais parece uma bajuda, tem ao colo uma criança de cerca de ano e meio. A beleza da mulher, o olhar meigo, o transvazar do seu sorriso ternurento, o peito desnudado, causaram alguma perturbação ao Alferes.

– Estou na tabanca certa, teria pensado.

Depressa se apressou o João a explicar:

- Esta é a Bobo, mulher do milícia Sadjuma, com o meu filho Bonco ao colo.

A Bobo com o Bonco, filho do João Sanhá.

Continuam a inspecção, tendo o Alferes Magalhães manifestado interesse em ver a zona da fonte, tanto mais que a água que tinham recolhido na passagem pela tabanca de Umaro Cossé, era branca, parecia leite ou cal de pintar paredes. Descem a pequena encosta desembocando numa zona ensombrada onde mulheres lavam roupa. Por se ter passado duma zona com muita luz para a obscuridade o nosso Alferes tem alguma dificuldade em distinguir todos os vultos presentes. Porém um sobressai de imediato pelo seu porte altivo. Rapidamente os olhos do Alferes, forçados pelo desejo incontido, se adaptaram àquela luz difusa não precisando de antes ter fechado um olho como tinha aprendido na instrução no Quartel do Convento de Mafra. O que tinha à frente dele reportou-o por momentos ao tempo em que, na Escola de Belas Artes do Porto, tinha estudado a história da Grécia antiga e a perfeição das suas mulheres representadas na profusa estatuária da época.

Fim deste episódio

Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7589: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (38): Na Kontra Ka Kontra: 2.º episódio

Guiné 63/74 - P7597: Parabéns a você (201): Adilan, o menino que Manuel Joaquim trouxe da Guiné (Miguel Pessoa)

1. Mensagem de Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado:

Caros editores
Já não sei como ou porquê, encontrei em qualquer lado referência ao aniversário do Adilan, o "miúdo" guineense que o nosso camarada Manuel Joaquim adoptou e trouxe no seu regresso. Foi uma história que me interessou e, embora o Adilan não seja um tertuliano nem conste da lista de aniversariantes, pareceu-me justo fazer esta singela homenagem ao Manuel Joaquim, publicando este postal do Adilan na data do seu aniversário (12JAN) - até porque do Manuel Joaquim não tenho nenhuma indicação de quando faz anos...
Ficaria assim lembrada a efeméride por interposta pessoa...

À vossa consideração.

Abraço.
Miguel




2. A Tabanca, associando-se à original ideia do nosso design Miguel Pessoa, vem junto do nosso camarada Manuel Joaquim, apresentar felicitações por mais este aniversário de Adilan, o seu menino guineense.

Estão ambos de parabéns e merecem o melhor da vida.
__________

Notas de CV:

Vd. postes de:

10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7261: História de vida (32): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 1ª Parte (Manuel Joaquim)
e
12 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7267: História de vida (33): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 2ª parte (Manuel Joaquim)

Vd. último poste da série de 10 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7582: Parabéns a você (200): Bernardino Rodrigues Parreira, ex-Fur Mil da CCAV 3365/BCAV 3846 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73) (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7596: Lugares de passagem, de José Brás (2): Amigos e camarigos presentes na sessão de lançamento, em Loures, 6 de Janeiro de 2011


 Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Lançamento do livro do José Brás, Lugares de Passagem (Lisboa, Chiado Editora, 2010) > Constituição da mesa, da esquerda para a direita: Mário Beja Santos, José Brás, Carlos Teixeira, Vitor Ramalho e Luís Graça...


Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Lançamento do livro do José Brás > Da esquerda para a direita: José Brás, Carlos Teixeira (presidente da CM Loures, eleito pelo PS) e Vitor Ramalho (antigo deputado do PS, antigo secretário de Estado, especialista em direito do trabalho)... No final da sessão, o Carlos Teixeira, natural de Cinfães, conm 53 anos, evocou emocionado os tempos em que o seu pai, militar da carreira, andou pelos vários teatros de operações  (foi nomeadamente  1º sargento da CCAÇ 13, em Bissorã, no tempo do nosso Carlos Fortunato, ou seja, no meu tempo, 1969/71)...

O Zé Brás que foi também, em tempos (1981-1985) presidente da junta de freguesia de Loures, teve apoio, para a edição do seu livro, da Câmara Municipal de Loures, dos Serviços Municipalizados de Loures e da Caixa de Crédito Agrícola de Loures. A obra tem a chancela da Chiado Editora



Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > Coube ao nosso especialista em literatura da guerra colonial na Guiné, Beja Santos, a apresentação da obra ...




Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > O momento sempre esperado e solene do ansiado autógrafo > Na foto o autor e o nosso cartógrafo-mor Humberto Reis...



Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > O Zé e um amigo que não consegui identificar, provavelmente um antigo colega da TAP ou das lides sindicais ou da gestão autárquica... O Zé Brás foi Fur Mil Trms, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68).



Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > Três grandes camarigos:  da esquerda para a direita, dois Zés (o Brás e o Martins) e um António (Martins de Matos)...




Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > Diz o Francisco Godinho (CCaç 2753), de Moura, Baixo Alentejo (à esquerda, com o  Beja Santos à direita): "O camarada e conterrâneo (meu) que te apresentei (...) chama-se Luís Murta, confirmo que foi Fur Mil Cav e pertenceu à CCav do Cap Sentieiro [, CCAV 2485],  esteve em Bula,Teixeira Pinto e creio que ocasionalmente no Cacheu. Já falei com ele hoje (...), renovei-lhe o pedido de adesão à nossa Tabanca, e ele garantiu-me que o vai efectivar" (...).



Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > O nosso querido camarigo Zé Martins (à direita) aproveitou a ocasião, antes do início da sessão, para me apresentar pessoalmente a Maria Teresa Almeida (funcionária da Liga dos Combatentes há quse 3 décadas), que nos trata a todos por "queridos": é um caso espantoso de dedicação à(s) causa(s) dos ex-conbatentes... e adora o nosso blogue...



Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > O Zé Zeferino e Zé Vermelho (que desta vez é que me garantou que ia pedir formalmente a entrada no blogue)





Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > Aposto que o nosso camarigo José Zeferino (ex-Alf Mil At Inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74) está a um dos flash, do livro do Zé Brás, do  mais puro e delicioso realismo mágico  em que se evoca da viagem, de noite, de Almeida Formosa ao Xitole para se ir buscar o médico... A meio a da viagem, perto de Contabane, a GMC avaria-se e é preciso regressar a Aldeia,  de BICICLETA (!!!), pedida emprestada ao régulo Sambeli, para  te trazer uma viatura de substituição... (pp. 141/146).

Fotos: ©  Alice Carneiro / Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados

Legendas: L.G.

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Nota de L.G.:

Último poste desta série > 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7588: Lugares de Passagem, de José Brás (1): Carta aberta a um amigo (José Brás)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7595: Ser solidário (96): Evento sobre a Guiné no próximo dia 15 em Coimbra (Carlos Silva)


1. O nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71, enviou-nos a seguinte mensagem:
Evento sobre a Guiné no próximo dia 15 em Coimbra
Camaradas & Amigos
A nossa Associação Ajuda Amiga vai efectuar em Coimbra no próximo sábado um evento sobre a Guiné do qual junto programa do mesmo.
Apareçam por lá, pelo menos os mais próximos da zona, pois não vão arrepender-se.

Um abraço
Carlos Silva
Fur Mil At Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
15 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7287: Ser solidário (95): Com a abertura do poço em Amindara, todos ficam a ganhar (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P7594: Falando do Capitão Rui da CCAÇ 18 que eu conheci no Saltinho em 1971 (Mário Migueis da Silva)

1. Mensagem de Mário Migueis da Silva* (ex-Fur Mil Rec Inf Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 10 de Janeiro de 2011:

Caro Carlos:

Neste início de 2011, aproveito para te desejar tudo de bom no mesmo e nos muitíssimos que se hão-de seguir.

Nada ou pouco mais que nada sei do "capitão Rui" para além do que faço constar no textozinho que anexo. Mas sei que não faltam medalhados de mérito duvidoso, o que, aparentemente, não será o caso da personalidade em apreço.
 
Se tiveres espaço e achares bem, agradeço a publicação.

Um abraço muito amigo,
Mário Migueis


O Capitão Rui

Em 1971 - em que dia ou mês já não sei -, estava eu ainda combalido, a recuperar de mais um ataque de paludismo, vieram chamar-me, a mando do Capitão Carlos Clemente, Comandante da CCAÇ 2701, onde me encontrava em diligência: tinha um amigo de visita ao Saltinho, que fazia questão de me rever.

Um amigo?!... Cheio de curiosidade, fiz das tripas coração, saltei da cama, passei água pelos olhos, vesti-me e desloquei-me à messe de oficiais e sargentos, onde o tal amigo estaria à minha espera.

Estavam os três à porta, voltados para a parada ensolarada do lado nascente, aparentemente muito bem dispostos: ele - o Capitão Clemente -, um outro capitão, seu amigo, ao qual eu seria apresentado momentos depois, e o Quartim, meu homólogo dos Serviços de Informação Militar em Aldeia Formosa, o qual já não via desde a última formação na Amura, meia dúzia de meses atrás.

Já no bar, após breve conversa, deixámos os senhores capitães entretidos com uns aperitivos, e fomos – eu e o Quartim - até à Sala de Comando, onde o Serviço de Informações tinha cantinho reservado. Falámos de tudo e mais alguma coisa, mas especialmente do nosso grupo do S.I.M. espalhado pelo território e do capitão miliciano que ele acompanhava naquela visita de cortesia à tropa do Saltinho.

Após o almoço, quando se aproximava já a hora do regresso a Aldeia Formosa dos nossos visitantes, trocámos lembranças, tendo eu oferecido ao Quartim uma peça de artesanato local e recebido em troca uma farda completa (camisa, calça e quico) do PAIGC, três ou quatro lápis, outros tantos cadernos e um livro escolar, fabricados, respectivamente, na antiga URSS, Cuba e Suécia. Conservo ainda todas essas lembranças, com excepção da “fardeleta”, que, anos mais tarde, viria a ser atacada pela traça. Estas pequenas recordações de guerra que o Quartim, simpaticamente, trouxera no bornal para me oferecer, faziam parte de um grande lote de armamento e material diverso, capturado ao IN durante a última emboscada montada pela CCAÇ 18 na área de influência das NT instaladas em Aldeia Formosa. - “O capitão Rui é do melhor que temos na Guiné. É um tipo de coragem e de iniciativa, tendo imprimido à Companhia uma atitude de grande agressividade a defender e a atacar. Tem feito muita mossa nas hostes do PAIGC!” – contava-me o Quartim, com ares de respeito e admiração.

Posteriormente, estive algumas vezes em Aldeia Formosa, onde pude rever o meu amigo Quartim. Sempre que lhe perguntei pelo capitão Rui, respondeu da mesma maneira: - “Está para o mato com a Companhia!...” E, na verdade, ao capitão Rui, a esse, nunca mais o vi. A menos,…

…a menos que se trate do nosso camarada de tertúlia Rui Alexandrino Ferreira, que acabou de passar um Natal de preocupações, com ”o coração aos pulos”. Nesse caso - no caso de se tratar do mesmo Rui -, poderei e deverei antes dizer: ao capitão Rui, a esse, só voltei a vê-lo no blogue do Luís Graça, quarenta anos mais tarde!

Esposende, 07 de Janeiro de 2011
Mário Migueis da Silva
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7464: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (7): (Joaquim Mexia Alves / José Martins / Mário Migueis da Silva / José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P7593: Memória dos lugares (119): Bedanda, do tempo da malta da CCAÇ 6: Alf Mil Médico Mário Bravo, Alf Mil Pinto Carvalho, Lopes, Borges, Silva, Figueiras... do 1º Cabo Azevedo, do Cap Ayala Botto (1971/72)... mas também do 1º Cabo Cripto Vasco Santos (1972/73)







Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1971/72) > Fotos, sem legenda,  do álbum do ex-Alf Mil Pinto Carvalho, hoje jurista... Nas três primeiras, pelo menos, aparece o cirurgião Mário Bravo, grande craque da bola e grande camarigo... Recorde-se que o Mário esteve em Bedanda, desde finais de 1971 até aos primeiros meses de 1972. Companhia baseada em soldados do recrutamento local, o seu pessoal metropolitano (incluindo quadros e especialistas) era de rendição individual. (LG)

(Com a devia vénia ao  meu amigo Pinto Carvalho, que ainda não é membro do nosso blogue, mas que me autorizou a "violar" a sua privacidade em Bedanda, metendo o bedelho - e a máquina fotográfica - no seu álbum fotográfico do tempo de menino e moço).

Fotos: © Pinto Carvalho / Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Mário Bravo (ou Mário Silva Bravo), ex-Alf Mil Med, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72), hoje cirurgião reformado,  vivendo no Porto [, foto à esquerda]:

Data: 8 de Janeiro de 2011 12:02 PM
Assunto; Camaradas da CCaç 6 - Bedanda

Caro Luís Graça:

Bom dia! Como está a correr o Novo Ano de 2011? Espero que bem e que se
mantenha o rumo desejado - SAÚDE e PAZ.

Acabei de visitar o nosso blogue e dirigi-me logo ao sítio de Bedanda e por isso gostaria de partilhar alguma dicas com os ex-Bedanda.

O que será feito de alguns destes amigos, como por exemplo:

(i) Lembro-me de um Alferes Miliciano, dos Açores, e de nome Borges;

(ii) Um outro Alf Mil  de Viseu, chamado Figueiral;

(iii) Outro Alf Mil  que era de Esposende e cujo nome não recordo;

(iv) Havia ainda um Alf Mil,  de nome Silva,  e que era dos mais antigos.

Pode acontecer que se consigam localizar e deste modo o grupo de Bedanda poderá engordar.


Dei conhecimento desta minha mensagem a: Carlos Azevedo [, foto à esquerda, era 1º Cabo, 1971/72], Vasco Santos [, 1º Cabo Cripti, 1972/73] e Ayala Botto (ex-capitão de cavalaria e actualmente coronel na reserva); [esteve de 1970 a 1973 no TO da Guiné, 20 meses como comandante da CCAÇ 6 e depois como ajudante de campo de Spínola]

Obrigado e até breve
Cumprimenta
Mário Bravo




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1971/72) > "Farra", diz o Vasco Santos...

Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1971/72) > "Despedida": De costas: (não identifico), Alf Mil Méd Bravo, Civil (Zé da Dina - comerciamte da Ultramarina, penso que era de Gaia), Fur Mil Humberto Naia (meu conterrâneo), 1º cabo, o vaguemestre, Fur Mil Dias (enfermeiro) e, de costas, está o Sérgio - vulgo "golpista", telegrafista do Porto.Fotos: © Vasco Santos  (2011). Todos os direitos reservados



2. Mensagem do Vasco Santos, que vive em Vila do Conde, membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca de Matosinhos, Vasco Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 6 (Bedanda, 1972/73) [, foto à esquerda]:



Data: 10 de Janeiro de 2011 19:09
Assunto: Re: Camaradas da CCaç 6- Bedanda

Caro Dr. Bravo,

Retribuo os votos de bom ano e, espero que 2011 seja efectivamente um ano pleno de Paz e Saúde, como mínimo.

Como somos poucos os Homens de Bedanda, que tal um dia destes nos encontrarmos todos na Tabanca de Matosinhos?? Fica a ideia.

Quantos aos pontos do mail:

(i) Assim era mas, não possuo qualquer foto dele;

(ii) Tinha como [apelido]  Figueiras, posso estar enganado, de todas as forma anexo uma foto onde ele esta incluído;

(iii) O alferes de Esposende que estava no 4º. pelotão, o  pelotão destacado, era o Silva;

(iv) Este alferes silva era o mais antigo e  era o que substituía o Cap Ayala nas suas saídas à metropole.

Anexo duas fotos que, quando quiser pode comentar.

Um abraço,

Vasco Santos (Cripto Bedanda/Vila do Conde) 


3. Mensagem de resposta que mandei ao Mário Bravo, no passado dia 8:

Bravo, Mário! É bom saber de ti... Ainda pensei neste Natal, na Madalena/Vila Nova de Gaia, saber de ti... Mas estive no estaleiro, de cama, com uma maldita cialgia [, dor ciática]... Com um amigo ortopedista, à distância, o Carlos Mariano (de Leiria, mas que estudou em Coimbra) e o meu filho que é interno de psiquiatria, lá fomos resolvendo a coisa com umas doses de cavalo... Ainda me arrastei até à Tabanca de Matosinhos, na almoço de 4ª feira,  29/12, mas não deu para mais...  

Como prometido, há dias no Facebook - Tabanca Grande Luís Graça, mando-te umas fotos do teu tempo de Bedanda, CCAÇ 6 (1971/72)... Este verão estive com uns amigos da minha região (Lourinhã / Estremadura), e encontrei um camarada teu, o Pinto Carvalho, que é natural do concelho de Cadaval mas vive em Lisboa... Foi ou ainda é jurista na Petrogal. Faz também advocacia. Saquei-lhe estas fotos do seu álbum: não são digitalizações, mas fotos de fotos... A qualidade não é famosa, mas dá para perceber que tu eras um tipo popular, camaradão, craque da bola...um verdeiro camarigo, como dizemos aqui, na nossa Tabanca Grande. 

Vê se reconheces o Pinto Carvalho, de estatura meã, magro, usava bigode  e patilhas, às vezes barbas....Ele dei-me autorização para publicar as fotos, mas não tenho legendas... Isto foi obtido, num convívio, muito divertido, numa sardinhada, em Agosto passado (ele tem casa no Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã, num sítio fabuloso, com as Berlengas à vista...). [, foto actual do Pinto Carvalho, à direita].

Como fazes anos a 4 de Fevereiro,  mando-te já esta prenda antecipada... Testa aí a tua memória... Muito jogavas à bola, em Bedanda (em Guileje não devias ter tempo, ias lá de propósito, ficar uns dias dias, era isso ?)...

Fica com o telemóvel do Pinto de Carvalho (que também era da CCAÇ 6, se não erro), que tem as melhores recordações de ti, como médico e camarada (...) Acabei de falar com ele, ao telefone...

O melhor ano possível para ti e os teus...  Um Alfa Bravo do Luís.

  
PS - O Pinto Carvalho,   quero ver se o trago para o blogue... mas não parece que seja fã das redes sociais e dos blogues... Não tenho o mail dele...

4. Resposta imediata do do Mário Bravo:

Data: 8 de Janeiro de 2011 19:19
Assunto: Re: Bedanda, CCAÇ 6, Alf Mil Pinto de Carvalho

Caro Luis Graça:

Julgo que o Carvalho é o das suíças grandes. Lembro-me dele, mas sem o nome. O que está à esquerda da foto, parece-me ser o Lopes (Alferes Mil), que é natural do Porto e sobrinho do meu Professor da Faculdade, Carlos Lopes.

Aquele que está no topo direito, não me lembro do nome, mas recordo que era uma figura com muita razão para amizade.

O Figueiral, que refiro noutro email, é o que está com a farda de alferes e que é de Viseu.

Os outros, se calhar com um esforço, ainda vou identificá-los. (...)

PS - É claro que tudo que envolva a nossa vida na Guiné, é uma jóia da coroa e é sempre publicável, pelo facto de não termos nada a esconder! Mesmo as situações (uns copos ), em que poderemos aparecer com expressões visuais um pouco mais alegrotes. Havia cerveja, uns tintóis e à grande uns uísques. Bons tempos !!
Mas também era obrigatório aguentar com uns ataques do IN...

Gosto muito de ver fotos desse tempo e espero que haja mais adesões ao blogue, para recordarmos tempos de JUVENTUDE fiel à qualidade humana.
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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P7592: Blogpoesia (105): P'rá vala, p'ra vala (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 22 de Dezembro de 2010:

Meus caros camarigos editores
Estava eu a pensar "cá com os meus botões" em coisíssima nenhuma e de repente... surgiu isto que vos envio.

Já deve ter acontecido a muitos de nós, estas noites mal dormidas, povoadas do passado!
Fica à vossa disposição.

Um abraço forte e camarigo do
joaquim


P’rá vala, p’rá vala!

P’rá, vala, p’rá vala!

O grito fere-me os ouvidos,
arrefece-me o sangue,
faz-me tremer o coração,
mas impulsiona-me como uma mola,
e num salto deixo a cama.

Mergulho na escuridão,
ouço passos a correr,
mais do que gente a gritar
sinto o meu coração a bater.

Mergulho numa coisa estreita,
como se de uma cova de cemitério,
se tratasse,
e ouço de imediato uma voz,
porra que me pisaste!

Os rebentamentos sucessivos,
parecem explodir em cada coração,
e ouvem-se apreciações em voz alta:
esta foi perto,
ouviu-se aqui a rebentar,
e logo uma outra voz
onde o humor vence o medo:
não há problema,
os gajos não conseguem acertar!

O cheiro acre da pólvora
toma conta de tudo e todos,
e há vozes que se cruzam,
com os projecteis no ar:
calma pessoal, calma,
isto está quase a acabar!

A camisa encharcada em suor,
o pó agarrado à cara,
ou está muito calor,
ou o suor é do medo!

Ouço uma voz que me chama,
aos gritos,
por cima do barulho infernal:
meu Alferes, porra,
meu Alferes!

Volto-me para ver quem é,
e…
caio da minha cama!

Monte Real, 10 de Janeiro de 2011
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7524: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (26): Ano Velho, Ano Novo (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 10 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7585: Blogpoesia (104): É nossa e gosto de a saborear (Juvenal Amado)