quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7684: Contraponto (Alberto Branquinho) (22): Quê?! Catota?!


1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 11 de Janeiro de 2011:

Caríssimo Carlos Vinhal
Junto vai o texto para o Contraponto (22), cujo título poderá, no imediato, parecer menos "decente".
No entanto, a palavra que poderá, porventura, ferir pessoas mais sensíveis consta do glossário do blogue, na coluna mais à esquerda.

Com um abraço
Alberto Branquinho



CONTRAPONTO (22)

- QUÊ?! CATOTA?!

Foi esta a reacção de espanto que tive ao ler o livro de mini contos irreverentes, “nonsense”, irónicos, surrealistas “Doutor Avalanche” de Rui Manuel Amaral (Angelus Novus, Editora), página 93 (“A tampa de uma esferográfica”):

“Por que escarafunchava ele o ouvido com a tampa de uma esferográfica? Bem, talvez por causa disto: uma grande, redonda, brilhante e interessantíssima catota. E por que é que uma catota pode ser tão interessante? Ora, como todos os geógrafos experimentados sabem, as catotas germinam e saem exclusivamente do nariz. Esta, porém, saiu do ouvido, solene e orgulhosamente empinada na tampa da esferográfica.”

Reacção seguinte: - Que coincidência, a imaginação do autor ter inventado a palavra “catota”! Podia ter inventado uma outra qualquer.

Mas assaltou-me a dúvida: - Será que a palavra existe mesmo na língua portuguesa? Consequência: corrida aos dicionários.

E não é que o autor tem razão? A palavra “catota” é usada no Brasil e tem mesmo a ver com o nariz.

“Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”:
“catota… muco nasal ressequido; meleca;...“

Confirmando “meleca”:
“meleca… macaco (muco ressequido)……………….“

Assim é, pelo menos, no nordeste brasileiro.

Do atrás exposto constatei, com espanto:

- Como foi possível um homem chegar aos sessenta e tantos anos sem saber o que é catota… (em linguagem nordestina…).

Alberto Branquinho
__________

Notas de CV:

1. Huíla
Edificação do hospital da missão de Catota será concluída este ano

Lubango – As obras do hospital da missão de Catota, no Lubango, e a reabilitação de outro em Cavango, na província do Huambo, pertencentes à União de Igrejas Evangélicas de Angola (UIEA), estará concluído este ano, informou hoje o presidente da organização religiosa, Eduardo Chikete.
Em declarações à Angop, perspectivando as acções a desenvolver no decurso deste ano, o interlocutor disse tratar-se de obras estimadas em um milhão e 150 mil dólares, dos quais um milhão é financiamento do governo e 150 mil de apoios diversos.
De igual modo, continuou o reverendo, pretende-se reforçar a produção nos projectos de desenvolvimento agrícola, numa fazenda na zona do Giraúl (Namibe) e o pecuário, com o alargamento das suas produções, mormente de hortícolas tubérculos e criação animal, para ajudar os obreiros na sua dieta alimentar.
Consta também dos projectos da instituição religiosa a realização de uma caravana automóvel de paz do Bié ao Moxico, contra o alcoolismo e droga.
Notícia retirada da internete, ANGOP, Agência Angola Press, com a devida vénia.


2. Cabral, Salvador das Bajudas Desfloradas
Finda a comissão, calculem (!), fui louvado. O Despacho do Exmo. Comandante do CAOP Dois referia, entre outros elogios, a minha “habilidade para lidar com a tropa africana e populações”, a qual me havia “granjeado grande prestígio”.
Esquecido, porém, foi o essencial – evitei a dezenas de Bajudas o repúdio matrimonial e a consequente devolução do preço. Essa tão meritória actividade, sim, teria merecido, não um simples louvor, mas uma medalha…
Entre Fulas, Mandingas e Beafadas, as mulheres eram compradas, alcançando-se verbas elevadas. Cheguei a arbitrar casamentos, cujo dote atingiu os trinta contos! Claro que era exigida a virgindade, que às vezes havia desaparecido… Era então que o Alfero odjo grosso era procurado para remediar o que parecia irremediável.
Quanto ao teste pré-matrimonial, a cargo das mulheres grandes, que utilizavam um ovo(!), a questão resolvia-se, com alguns pesos.
O mais difícil era a prova do sangue no lençol, que devia ser exibido no dia seguinte à cerimónia. Equacionado o problema, adoptei uma solução que sabia já ter sido usada entre outras gentes com sucesso. Comprei em Bafatá pequenas esponjas, as quais embebidas em sangue de galinha, e metidas no local apropriado deram um resultadão.
Não houve mais Bajuda que não casasse em total e absoluta virgindade e confesso que me dava um certo gozo assistir às manifestações de júbilo dos viris maridos, no dia seguinte aos casamentos, no meio da algazarra da Tabanca.
Espalhada a minha fama, acorreram noivas de todo o lado. Ponderei mesmo montar um gabinete especializado, tendo chegado a escrever um folheto publicitário a informar que Alfero poi catota noba, dam trezbintim.

Jorge Cabral no Poste Guiné 63/74 - DCXXXIX: Estórias cabralianas (7): Alfero poi catota noba

3. Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7608: Contraponto (Alberto Branquinho) (21): Ensinar/Aprender a ler

Guiné 63/74 - P7683: Memória dos lugares (126): Os meus camaradas da CCAÇ 6, em Bedanda (Dezembro de 1971 / Março de 1972) (Mário Bravo, ex-Alf Mil Med)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, entre os furriéis da companhia... Boa disposição, boa música, bom uísque (a garrafa mais pequena era de Old Parr, uísque velho)... Os nomes  dos furriéis já se varreram da memória do nosso camarigo... O Mário Bravo não terá estado mais do que 4 meses em Bedanda (enter Dezembro de 1971 e Março de 1972, com algumas saídas, pelo meio, até Guileje, Gadamael e Cacine)...  A CCAÇ 6 era então comandada pelo jovem Cap Cav Carlos Ayala Botto, futuro ajudante de campo do Gen Spínola.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, tendo a seu lado o Alf Mil Borges, açoriano... 




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, ao meio, ladeado pelos Alf Mil Borges (à sua direita) e o Figueiras (à sua esquerda)



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo posando num monumental bagabaga (com cerca de 5 metros de altura)...



1. Mais fotos enviadas pelo  nosso camarada Mário Bravo (ou Mário Silva Bravo), ex-Alf Mil Med, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72), hoje cirurgião, ortopedista, reformado,  vivendo no Porto. Depois de sair de Bedanda, em Março de 1972, o Mário Bravo foi colocado no Serviço de Estomatologia do HM 241, em Bissau, onde aprendeu a tratar dos nossos dentinhos... Um belo dia quem se sentou na cadeira do médico dentista foi o Spínola... É uma história que ele vai contar dentro de dias... (LG).



Fotos: © Mário Bravo (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

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Nota de L.G.:

Último poste da série 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7675: Memória dos lugares (125): Aldeia Fomosa (hoje, Quebo): em busca de fotos do Cherno Rachide, que morreu em 1973 (Pepito / Vasco da Gama)




(*) Vd. postes anteriores, recentes, relativos ao Mário Bravo [, foto acima,] e à sua passgem pela CCAÇ 6, Bedanda (1971/72) (sobre Bendanda temos já cerca de 4 dezenas de referências; e sobre a CCAÇ 6, cerca de duzenas e meia).



Guiné 63/74 - P7682: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (17): Algumas conversas para melhor perceber o PAIGC

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,


Já estamos na despedida.
Quero agradecer a todos aqueles que contribuíram para clarificar impressões de viagem que deixaram o Tangomau intrigado. Não há nada como descobrir que a viagem ficou incompleta, havendo necessidade de regressar, um dia. Em nome das amizades inigualáveis, em nome do lugar que se habitou e que se grudou ao coração.


Um abraço do
Mário


Operação Tangomau (17)

Beja Santos

Algumas conversas para melhor perceber o Outro, o PAIGC

Despedidas e promessas

1. É uma reunião muito estimulante com mulheres e homens predominantemente entre os 50 e 70 anos. Já se percebeu que não há nenhuma historiografia oficial, formal ou informal, tanto na posse do PAIGC ou dos seus dirigentes históricos. Há arquivos incompletos, há os trabalhos de Luís Cabral, Aristides Pereira, Mário Pinto de Andrade, as prosas laudatórias da propaganda, de um modo geral inúteis para se obter a panorâmica de como o PAIGC se inseriu junto das populações e delas obteve apoios incondicionais ou as abrigou a colaborar na luta; há muita documentação na Fundação Mário Soares, serve para esclarecer alguns ângulos, mas não todos; desapareceram documentos secretos, correio entre dirigentes, ordens de batalha, até comunicados políticos.

Continua a ser tabu o relacionamento entre os dirigentes cabo-verdianos e os quadros militares guineenses. Ninguém usa como referência o Livro Branco do PAIGC, ninguém tem ilusões que é uma historiografia oficial datada, a história não é feita de declarações incontestáveis. É por todos admitido que foi no Congresso de Cassacá (1964) que o poder político se sobrepôs ao poder militar, orientando-o durante e após a independência, até 1980. Eram os comissários políticos que superintendiam as operações militares, os comandantes prestavam permanentemente contas.

A partir de 1980, com a era de Nino, deu-se uma demarcação, com o agravamento da situação económica e financeira, os militares sentiram-se livres de contestar e de se orientar nos negócios. Quando se sentiram ameaçados, como Ansumane Mané, reagiram. Até hoje. Os altos comandos vivem permanentemente à espreita de serem liquidados, desde a época do conflito político-militar de 1998.




O Tangomau já esgotou praticamente o seu stock de imagens. Nas reuniões por onde anda, nem lhe passa pela cabeça tirar fotografias. Socorre-se de fotografias não publicadas. Neste caso, uma panorâmica do cemitério de Bissau, o talhão dos combatentes da guerra da pacificação, rodeado do talhão dos combatentes da guerra que perdurou até 1974. Estava tudo relativamente bem arranjado, a Liga dos Combatentes determinara uma boa limpeza. Estava um dia luminoso, o Tangomau sentiu-se impelido a estranhas orações, quase conversas, entre o céu e a terra, era uma evocação errática e difusa em nome de todos os mortos.


2. O Tangomau muda de registo e pergunta à assistência como é que os quadros do PAIGC sentiam o crescimento do pensamento nacional, houve comentários variegados, alguns deles mereciam aprofundamento e até registo para um qualquer historiador procurar direcções de análise desse PAIGC aparentemente coeso e militarmente indómito. Um dos comentários lembrou ao perguntador a singularidade do desencadear da guerrilha: primeiro, a formação dos agitadores, quadros que foram lançados na subversão, quer nas barbas das autoridades, quer aproveitando a insignificância da sua presença, como foi o caso do Sul; esses agitadores conduziram à mobilização de populações, mesmo à custa do terror e da separação das famílias, em escassos meses, em 1963, o Sul foi transformado em parcelas atomizadas que reduziram a capacidade de manobra das tropas portuguesas.

Cabral era um ideólogo incontestado, nos primeiros anos; os choques virão mais tarde, se bem que permanecessem discretos, entre cabo-verdianos e guineenses, estes últimos frequentaram escolas de formação e foram confrontados com outras formas de racismo. Uma guerrilha que se expande tão rapidamente entre 1963 e 1964, populações a viver sempre em risco e, de um modo geral, a aceitar esses riscos e os sacrifícios no transporte de munições, armamento, comida e medicamentos, tudo acaba por se saldar numa combatividade de âmbito nacional, basta pensar no hino e na bandeira.

Alguém da assistência pede para fazer um comentário: é verdade que hoje o pensamento nacional é difuso, mas no conflito político-militar a população insurgiu-se contra a presença estrangeira, contingentes senegaleses e de Conacri foram severamente reprimidos por exércitos ad hoc, compostos por gente de todas as etnias. E foi lembrado ao perguntador se era possível não haver uma consubstanciada crença no PAIGC quando, em 27 de Abril de 1974, andavam grupos nas ruas de Bissau a gritar vivas ao MFA e ao PAIGC. O Tangomau a todos agradece, amanhã terá um encontro com Filinto Barros e Chico Bá para falar sobre a evolução da guerra de 1973 para 1974, ouvi-los sobre o que devíamos fazer conjuntamente para se estudar melhor o Outro, antes e depois da guerra que findou em 1974.

É a última fotografia que resta de Ponta Varela. Permite verificar a natureza do Geba estreito, que aqui começa ou aqui finda. Neste exactíssimo ponto, dentro da vegetação, os guerrilheiros do PAIGC flagelavam batelões e até lanchas da Armada. O Tangomau sentiu-se compensado da passeata em companhia de gente moçoila, intrigada com o velhote que caminhava despachado aqueles quilómetros ida e volta, encantado com hortas, cabaceiras, poilões e o marulhar da corrente desse Geba, que é o rio da sua vida.


3. Anoitece, o Tangomau despede-se das pessoas que amavelmente cederam a conversar com ele. Regressa à Pensão Central, vem com muita precisão de tomar um banho de caneco, pôr o corpo na horizontal, sentir o fresco de uma ventoinha trepidante. Encontra Patrício Ribeiro, combinam ir jantar num restaurante de comida portuguesa. Antes, conversa com a Avó Berta, conta-lhe o que andou a fazer pela região de Bambadinca. A Avó Berta aproveita para lhe falar de como, com o marido, num oceano de dificuldades, montaram a Pensão Central, como ela sobreviveu a todas as carestias, ali se recebeu professores, ali se manteve a sede viva da cooperação portuguesa e internacional. O Tangomau embevece-se com o fulgor desta senhora exemplar que se recusa a abandonar a grande obra da sua vida.

Refrescado e com o corpo menos moído, vai prestar contas e dar graças ali ao pé, na catedral. Dar graças por o coronel Jales Moreira ter pedido ao Daniel Nunes para encontrar uma solução de acolhimento na região de Bambadinca, foi ele quem apresentou o Tangomau ao embaixador Inácio Semedo, depois este pôs o irmão em acção; dar graças ao Fodé à família, dar graças a quem o reconheceu e o quis rever, com a alegria estampada no rosto, dar graças pela imensidade destas relações indestrutíveis, até ao último alento da sua vida.



Era assim a Pensão Central em 1997, fora retocada, pintada de branco imaculado, agora está de azul e há muita ferrugem à mostra. Ainda é possível andar num destes táxis azuis, com um ou até quatro passageiros. Importa não esquecer o bem que aqui se fez a quem chegou com fome e à procura de abrigo, de todas as partidas do mundo (foto retirada do site: www.guinee-bissau.net, com os devidos agradecimentos).


4. Vão jantar, o Patrício Ribeiro e o Tangomau, num restaurante decorado à portuguesa, até ali há enchidos, cebolas e alhos decorativos. Para surpresa do empregado, o Tangomau pede dois ovos estrelados, umas batatinhas fritas e uma boa salada, tudo a regar com uma cerveja gelada. A assistência grita frenética, o Barcelona esmaga o Real Madrid, há claques furiosas pró e anti-Cristiano Ronaldo. O Real Madrid sai dali desfeiteado, o Tangomau despede-se de Patrício Ribeiro, cai de sono, já está informado que aí pelas 23 horas se apaga a luz com o corte de energia, quer fazer as últimas leituras, preparar-se para os últimos encontros de amanhã, vai entregar cartas a Tumlo Soncó, que dentro em breve parte para o Cuor.

Na cama, folheia os elementos que compilou sobre o MFA da Guiné, o golpe militar que ele desencadeou em Bissau logo a seguir ao 25 de Abril, até o plano de ali fazer uma sublevação caso falhasse o 25 de Abril em Lisboa. Nunca entendeu porque é que os protagonistas não documentaram claramente estes factos, os movimentos, as tensões ideológicas e depois o entabulamento de relações, mais ou menos informais, com o PAIGC e como, logo em 1 de Julho de 1974 centenas de militares exigiram ao Governo de Lisboa o reconhecimento da República da Guiné-Bissau, no fundo se a Guiné o berço do MFA e este conspirou e descolonizou por conta própria no território, que diálogo se estabeleceu com os quadros do PAIGC. E assim adormeceu, mesmo sentindo a pressão do calor e depois de olhar, assombrado, o volteio dos carros na Avenida Amílcar Cabral, a fugir dos buracões do alcatrão, na noite escura.



Este é o Zé Pereira que viajou de Bissorã para me abraçar. Era o 1.º cabo mais culto e desempenado do Pel Caç Nat 52. Foi um exemplo de coragem quando, com Missirá em chamas, foi salvar uma criança esquecida numa morança. O que o Tangomau lhe deve não cabe num possível título de dívida e quando lhe disse: “Zé, deixa-me tirar-te uma fotografia, quer que todos saibam quanto te admiro!” ele logo respondeu: “Sim, mas com o teu livro na mão, este é meu e vou levá-lo para Portugal, quando for visitar o meu filho”. Um pai orgulhoso por ter conseguido dar estudos médios a todos os seus filhos, o Aillton é avançado no Atlético Clube Oriental e está a acabar a licenciatura.


5. De manhã, não há tempo para o devaneio de leituras, é importante escrever ao régulo Carambá, ao Príncipe Samba e ao Fodé. O ambiente escolhido é o do Centro Cultural Francês, é fresco e silencioso, o Tangomau escolhe uma mesa na zona da banda desenhada, bem fornecida e tentadora, sem perda de tempo escrevem-se saudações e promessas.

Que o régulo Carambá veja o Cuor desenvolver-se, do Geba estreito até Madina de Gambiel. Que o régulo esteja descansado, o Tangomau sente impulso para voltar, a velha estrada abandonada de Gambaná atrai-o, percorreu-a vezes sem conta, corta-lhe o coração vê-la reduzida a um caminho alcantilado de pouco préstimo, quer voltar à Aldeia do Cuor que ele encara como uma civilização perdida, nunca decifrou aqueles muros tão altos, houve quem lhe dissesse que ali se pensou criar a povoação mais importante, desistiu-se, sabe Deus porquê, foi assim que nasceu Bambadinca, era por Aldeia do Cuor que se pensava escoar as madeiras exóticas e os produtos agrícolas do Gambiel.

Ao Príncipe Samba desejou-se as maiores felicidades, agradeceu-se o encontro comovente, aquela tradução para crioulo, cheia de intenção e sentimento, aqueles pedidos de ajuda a que ele gostaria de corresponder e lamentavelmente não pode, o Tangomau recorda e acentua a gratidão pela dedicação recebida. Ao Fodé, o muito obrigado por ter convocado tanta gente, ele foi o anjo de S. Gabriel que anunciou a vinda do Tangomau.

Aproveita-se o agradecimento para fazer tábua rasa das diferentes tensões entre ambos, aguarda-se agora reencontro em Lisboa. Escritas as missivas, faz-se a sua entrega no Bairro Missirá, Tumlo lembra ao Tangomau que tem um filho com muito jeito para a bola, pede-lhe encarecidamente ajuda, o Tangomau volta a chorar, de impotência, não pode corresponder a tanto pedido.

Tumlo Soncó sentado, parece que está à espera calmamente que o futuro seja pródigo, lhe traga algumas benesses. É nestas coisas que o Tangomau revela a incipiência própria dos fotógrafos amadores, deixa sombra da Maria Fausta, a mulher de Abudu Soncó, e do Sr. Sabino, o motorista da Embaixada de Portugal.


6. Entregues as cartas, o Tangomau parte para um café onde se vai encontrar com Filinto Barros e Chico Bá, ou Francisco Silva, que foi comissário geral das frentes Norte e Sul. Ambos autorizam que o Tangomau tome notas. A primeira pergunta incidiu sobre o modo como se radicalizou a luta, exigindo, logo após o 25 de Abril uma independência total e irrestrita. Os interlocutores responderam que se temia também com o futuro de Angola e Moçambique: se a independência da Guiné empanasse, haveria consequências para as outras colónias. Era preciso que tudo começasse claramente na Guiné.

Ao contrário do que se tem dito, os negociadores guineenses pediram às autoridades portuguesas para ficarem transitoriamente na Guiné, cedo se aperceberam que não havia condições nem militares nem políticas. Os quadros do PAIGC sabiam não dispor de uma estrutura administrativa capaz para as novas realidades da independência. Os gestores que se prepararam vieram de escolas muito rígidas, como a RDA, uma outra realidade. Filinto Barros lembrou que a confraternização em Bissau teve muito poucas arestas, logo a seguir à chegada do PAIGC, por pura coincidência, encontrou do lado português um oficial da Armada que estudara com ele no Colégio Nuno Álvares. O erro não esteve em exigir a independência, esteve em não partilhar por mais alguns anos com os portugueses a aprendizagem da administração.

Falando dos acontecimentos de 1973 e 1974, estes dois importantes quadros políticos foram consensuais: não havia pressa quanto ao fim da guerra, sentia-se e sabia-se da erosão que a guerra estava a provocar e que a perda de supremacia aérea trouxera uma profunda desmotivação. Mesmo que, por absurdo, os aleados da NATO dessem provisoriamente um equilíbrio militar, a capacidade do PAIGC estava imparável, agora não era só o facto das tropas mal saírem do arame farpado, já se combatia com carros de combate e escolhiam-se alvos como Canquelifá que, tudo previa, iria ser cercada em Maio, em termos semelhantes ao de Guidage, como no ano anterior.

Os informadores do PAIGC em Bissau também sabiam que ia haver abandono de vários quartéis junto da fronteira e com graves consequências para o moral das tropas, essas populações ao abandonarem as suas tabancas iriam concentrar-se à volta de Bissau, agravando todos os problemas. Outra informação digna de nota: quando se proclamou o Estado em 24 de Setembro, a partir dessa data deu-se uma sangria de estudantes já adolescentes que se foram oferecer para a guerrilha. Era uma quantidade impressionante. A direcção do PAIGC ao comentar o facto concluiu que a juventude guineense irreversivelmente se pusera do lado do PAIGC. A relação de forças entrara em desequilíbrio, estes jovens marcavam a diferença. Discutiram-se ainda projectos sobre as relações com o Outro, de ambos os lados. Todos prometeram manter-se em contacto.



O Tangomau voltou à Madina do Gambiel à procura do paraíso, das palmeiras de Samatra. Tudo mudou, mantém-se luxuriante mas aquela beleza esmagadora desapareceu. Foi um dos momentos de decepção. Felizmente que o Tangomau fora reconhecido por Ieró Baldé, não há paisagem que substitua um momento de tanta beleza nos corações.


7. Amanhã haverá despedidas, algumas delas comoventes. E depois terminará este diário composto a trouxe-mouxe. O Tangomau vai às compras, para si e à procura de lembranças para os outros. Será a circunstância para mostrar as últimas fotos e convidar todos os confrades a voltar à Guiné.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7676: Ninte Kamatchol: a história da capa de um livro (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7650: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (16): Até Bissau num toca-toca e conversas sobre a história do PAIGC

Guiné 63/74 - P7681: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (10): Tony, o lisboeta

1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 25 de Janeiro de 2011:

Caros Editores
Junto a história "Tony - O Lisboeta", para incluir nas "Memórias boas da minha guerra".
É mais uma daquele tempo - há mais de 40 anos - que hoje, possivelmente, não teria a mesma importância. Mas, para nós teve, e são esses tempos que estamos a reviver.

Um abraço do
Silva


Memórias boas da minha guerra (10)

Tony, o lisboeta

Chamava-se António Martins mas gostava que o tratassem por Tony e de preferência ainda, por Tony Quin. A verdade é que, além de ter alguma semelhança física com este actor, ele evidenciava-se a imitar "Zorba, O Grego", a dançar.

Deu nas vistas logo que chegou a Gaia, ao RASP, para a formação do BART 1913. Tinha aspecto bem cuidado, vestia muito bem, caminhava muito direitinho e executava gestos moderados e muito seguros. Enfim, naqueles anos sessenta, fugia um pouco àquela bandalheira reinante. Salientou-se, ainda, porque entre aquela maralha toda do norte, ele falava um pouco diferente. Exibia muito aqueles galicismos próprios duma capital pretensiosa e seguidora de outras modas, tidas como mais avançadas. Levou um tempito a recuperar. Quando dizia que queria ir ao “rês–tô-ran”, lá tínhamos que lhe explicar que em Portugal não havia disso, mas sim Restaurantes, Tascos, Tasquinhas, Tabernas e Adegas. Falava em “friu”, ”riu”, “uma ganda t’são na .picha”, etc, etc., mas, rapidamente, verificou que ser português não é o mesmo que ser lisboeta e para ser aceite plenamente como português, teria que se corrigir.

Logo nos primeiros dias desta concentração em Gaia (Janeiro 1967), ao entrar no Quartel, já um pouco atrasado, vi um grupo de militares na cavaqueira, ao sol, por detrás da casa da guarda. Parei quando ouvi:

- Tens razão, esse Silva é um gajo porreiro. Estive com ele na recruta em Espinho, e era só brincadeira”. E logo adiante alguém insinuou:

- Anda aí um lisboeta que eu não sei bem para que lado é que ele cai. E o Tripeiro acrescentou:

- Eu sei, é um que anda vestidinho como o Carlinhos da Sé.

Ora, o Chiquitita, do Concelho de Vila Verde, meteu também a sua colherada :

- Tais tão enganadinhos, morcoins! Foi então que o Matosinhos retorquiu:

- Ouve lá oh manca-mulas, que vens de trás do cu da burra, que é que percebes do assunto? O Chiquitita não se ficou:

-Bós tendes a mania que sondes da cidade mas nestas cousas sei munto bem quando o gado é de cobriçon e aquele num m’ingana.

 Viana do Castelo > Centro histórico > Praça da República
Foto de Carlos Vinhal (2010)

Em Viana do Castelo, uns dias antes de partirmos para a Guiné, quando dávamos a voltita pela cidade, depois do jantar, passávamos junto à casa das meninas e parávamos diante da porta aberta. Alguém gritava:

- Ó senhora Maria, que material tem hoje? E, de lá do cimo da escadaria interior, surgia uma idosa que se virava para o lado e dizia:

- Ó rapariga, mostra aí alguma coisa. Ao que ela correspondia erguendo uma perna e mostrando parte do avantajado presunto. E, como sempre, reclamávamos da má qualidade do material. Um dia, a velhota acabou por nos dizer:

- Já percebi, vejam se me trazem um gajo para aqui, porque já há mais gente a querer disso.

À mesma hora, costumava andar o Tony ali para os lados da Areosa, na estrada para Caminha e Valença, logo a seguir a Viana do Castelo, a seduzir uma jovem. Contava ele que ela tinha oito irmãos mais novos e que, sempre que estava à porta a acompanhar a rapariga, eles vinham por ordem decrescente, em fila de pirilau, desejar as boas noites ao Senhor Tony de Lisboa. Confessou-me também que já tinha problemas de consciência, nesta relação fortuita, uma vez que se tratava de uma família de tradições muito respeitáveis e que, lá por Lisboa, não fora habituado a nada disto.

Foi então que nos lembrámos de o incluir num “inventado” convite de umas jovens de primeira, onde iríamos fazer um belo serão (quase de despedida). O Tony ficou entusiasmado, foi ao seu guarda-roupa, cuidadosamente destinado a uma longa estadia num país tropical e sacou um lindo fato branco/creme que, com os óculos “Ray-Ban”, lhe ficavam a matar.

Dirigímo-nos para a casa da D. Maria, onde, assim lhe dissemos, seria o tal “serão” de despedida. Como a porta já estava aberta e ele se apresentava como a estrela cintilante, foi fácil convencê-lo a subir a escadaria à frente do grupo. Ao mesmo tempo que a senhora aparecia, o Mendonça gritou:

- Dona Maria, aqui está a sua encomenda. Ela respondeu, acenando para o Tony:

- Anda daí minha beleza, temos muito que conversar.

A explosão de riso foi geral. O Tony, apercebendo-se da marosca, galga os degraus, a fugir e a gritar:

- Matarroanos! Matarroanos! Vocês é que precisam de quem vos “enrasque”, seus filhos de p...

Apesar do Vieira não se segurar de pé a rir, o Tony, como era um gajo porreiro, foi quem mais gozou com esta tramóia.

Seguidamente, lá fomos enfiar umas "cargas etílicas", na Cervejaria Central, para cimentar a nossa excelente e duradoira camaradagem

Silva da Cart 1689
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7609: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (6): O Valente era mesmo valente

Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7555: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (9): Piteira - O Rânger do Alentejo

Guiné 63/74 - P7680: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (50): Na Kontra Ka Kontra: 14.º episódio




1. Décimo quarto episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 26 de Janeiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


14º EPISÓDIO

Começa a anoitecer pelo que o nosso Alferes, dado o esforço desenvolvido, sente necessidade de ir tomar um banho à fonte. Vai à sua morança, pega na toalha e na caixa do sabonete e vai carreiro abaixo. Ao sair do “arame” vê um vulto caminhar em sentido contrário. Cansado como estava só se apercebe de quem é, quando se cruzam.

É a Asmau. Primeiro NA KONTRA a sério. Não pode perder esta oportunidade. Pela primeira vez irá tentar falar com ela. Irá saber se realmente ela fala alguma coisa de português.

- Olá Asmau. Kurpo di bó?

- “Alfero” pode falar português.

Autenticamente “caíram os queixos” ao Alferes. Aconteceu o que tanto desejava. A Asmau, por ser filha do Chefe de Tabanca, sabia exprimir-se em português.

- Asmau, como aprendeste a falar português?

- O meu pai mandou-me dois anos para Galomaro, a viver com um tio meu e lá ia à escola. Não aprendi muito mas…

Ela interrompeu o que estava a dizer, não sem motivo. O Alferes acabava de lhe passar uma mão ao longo de um dos seus longos braços apreciando a macieza da sua pele, tão característica dos africanos.

- Asmau, como és bonita. Que pele macia tens.

Asmau entendeu o que o Alferes disse e o que não disse… e com um largo sorriso aproveita para se afastar. O Alferes segue-a com o olhar até ela desaparecer numa curva do carreiro. Dá um estalo com os dedos e vai enfim tomar o seu banho.

Já não estava ninguém na fonte. Desta vez não se importou de estar ali sozinho, quase noite, fora do “arame”, à hora provável de aproximação do inimigo. Podia até ser “apanhado à mão”. A adrenalina provocada por aquele toque no braço da Asmau fazia-lhe esquecer todo o perigo. E só de pensar que ela não tinha apenas um braço…

Já noite, depois do jantar, o Alferes Magalhães passa pelo “bentem” apenas para dar as boas-noites ao pessoal, e vai deitar-se. Desde que tinha chegado à tabanca ainda não tinha ouvido uma sinfonia até ao fim. Desta vez, com tempo, e com os seus problemas quase todos resolvidos, ia tentar ouvir a 5ª de Mahler completa.

Conseguiu. Por isso dormiu até mais tarde. Acordou com o barulho do pessoal a falar alto. Saiu da morança e passou pelo “legionário” dizendo-lhe para lhe aprontar o café enquanto ainda ia passar pelo forno. Queria ver se não havia fissuras, pois não sabia como se comportava aquele barro ao secar. Verificou que estava tudo perfeito e foi tomar o café.

Definitivamente iria haver pão, mas não como imaginara…


Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7673: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (49): Na Kontra Ka Kontra: 13.º episódio

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7679: Agenda cultural (103): Programa na SIC com o Cor. Sentieiro - o Capitão da "Ostra Amarga" – 6 Fevereiro 2011 (Virgínio Briote)


1. O nosso camarada Virgínio Briote (ex-Alf Mil Comando, Brá, 1965/67), enviou-nos a seguinte mensagem em 21 de Janeiro de 2011:
Programa na SIC
Caros Luis, Carlos e Eduardo,
O Cor Sentieiro (o Capitão Cmdt da Cª da "Ostra Amarga") telefonou-me um dia da semana passada. Já há cerca de dois anos que não falávamos mas o Cor. Sentieiro não perdeu o espírito vivo e a memória acurada, que o caracterizam, apesar dos problemas que teve com o fígado que o obrigaram a trocar por um novo.
Telefonou-me para me dar uma informação. Acabava de ser contactado por um jornalista da SIC que lhe solicitava uma data para um encontro pessoal. Esclarecidas as razões do interesse da SIC, o Coronel acordou em os receber na sua casa de Torres Novas, não sem referir que o caso da "Ostra Amarga" já tinha sido muito discutido, nem tinha sido um dos mais significativos por que passou na Guerra na Guiné, e seguramente muito menos para outros militares portugueses e que o que tinha dado projecção ao episódio foi o facto das filmagens terem sido obtidas em directo por um grupo notável de profissionais da informação, todos franceses e já com algum traquejo de situações idênticas ou do mesmo género.
Aproveitei para lhe dizer que o seu Filho Miguel nos tinha enviado, em tempos, uma mensagem sobre o filme da "Ostra Amarga". Ficou surpreendido e pediu-me que lhe lesse o teor da mensagem. Fui ao blogue e li-lhe o texto devagar, para lhe dar tempo. No fim, do outro lado, o silêncio. E do meu lado, o mesmo, fiquei sem pedalada durante uns segundos para continuar. Demos a volta e combinámos encontrar-nos brevemente.

Hoje, há momentos, voltou a ligar-me com novidades. Uma equipa da SIC tinha acabado de sair de sua casa, Torres Novas, a Cristina Boavida (jornalista SIC) tinha-o entrevistado durante cerca de duas horas e que o tema tinha sido a "Ostra Amarga". No início, quando se apresentaram, informaram que no próximo 6 de Fevereiro se comemoram 50 anos do início da Guerra em Angola. E uma das partes do programa Grande Reportagem é só sobre a Guiné. Disseram-lhe que, sobre a "Ostra", para além dele, contactaram ou iam contactar a enfermeira pára Rosa (não me soube dizer que Rosa, houve mais que uma), provavelmente uma que se vê num dos helis em evacuação, um militar da CCav emboscada (que não me soube dizer o nome) e que na próxima semana, a Cristina Boavida vai a Paris entrevistar a Geneviève Chauvel (no 1º contacto, o Cor Sentieiro tinha-lhe esclarecido o jornalista que havia um blogue sobre a Guiné, que tinham obtido o filme e que tinham contactado a jornalista Chauvel e que no blogue a história estava contada da forma que ocorrera).

Caros Camaradas, era isto que vos queria transmitir: que, aparte os meus pormenores, o importante é estarmos prevenidos para a data: 6 Fevereiro, domingo, SIC, Grande Reportagem.

Um abraço,
v briote
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Notas de M.R.:
A Grande Reportagem tem conta no Facebook:

Guiné 63/74 - P7678: Casos de azar e sorte (1): Camarada ferido pelo impacto de granada que não explodiu (José Corceiro)

1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 24 de Janeiro de 2011:

Caros amigos, Luís Graça, Carlos Vinhal, E. Magalhães.
Envio este texto onde relato um episódio passado na Guiné que na altura me apiedou, que publicarão caso entendam que tem algum interesse para o blogue.
Quanto à foto que eu na época tirei, onde são visíveis os ferimentos provocados na pessoa, a mim não me choca, mas pode ferir sugestibilidades mais sensíveis de alguns. Sendo assim, publicar a foto pode não ser a opção mais curial, deixo à vossa sensibilidade a decisão de fazer o que acharem mais adequado.

Um abraço
José Corceiro


Foto 1 - Corceiro, no Hospital de Bissau, à volta com as suas escritas.


CASOS DE AZAR E SORTE (1)

Camarada ferido pelo impacto de uma granada que não explodiu

Creio não estar a errar, se afirmar que já todos nós, ao longo das nossas vidas, nos confrontámos e fomos surpreendidos por acontecimentos que se nos perspectivaram estarem a tanger e ameaçar entrar na fronteira do incrível, deixando-nos a meditar com alguma perplexidade, porque à luz duma interpretação racional tivemos dificuldade em os ajuizar numa explicação lógica que nos tranquilizasse o ego, ou que serenasse a crença de outros, para os quais essas circunstâncias poderão ter a grandeza de mistério!

Eu ao longo da minha existência tenho sido bafejado por muitos e variados casos, a raiar o limite do fenomenal, algumas vezes como espectador, outras como sujeito interveniente. O meu carácter é de compleição reservada, pois não sou pessoa de manifestar exaltação exacerbada e irreflectida, perante os acontecimentos extraordinários que tenho testemunhado e vivido, durante o percurso da minha vida. Direi que é raro expandir-me em manifestações efusivas ou admiração de entusiasmo desmedido, de forma a empolgar exageradamente os acontecimentos menos explicáveis, mas com potencial espectável que ocorram e nos quais eu possa estar envolvido, pois aceito pacificamente a “lei da probabilidade” que diz:

- Tudo aquilo que é susceptível de acontecer mais cedo ou mais tarde acontece!

Posto isto, perante os casos que se me afiguram como enigmáticos, mas com o mínimo de virtualidade provável para que sucedam, mantenho uma postura de euforia contida dominada pelo racional, visto reconhecer que há por vezes coincidências resultantes de acontecimentos concomitantes que conduzem a estes “fenómenos” menos vulgares que ocorrem, e eu admito-os como casos passíveis de acontecer!

Redigi este intróito com a finalidade de enquadrar a narração de alguns episódios que vivi na Guerra da Guiné, durante o período que lá permaneci e que a seguir vou tentar descrever. São meia dúzia de casos que teimam em permanecer mais lúcidos e vivos no meu consciente e que vou partilhar convosco, dividindo o envio em partes.

Foto 2 - Corceiro, sentado de frente lado esquerdo. Refeitório do Hospital de Bissau, Não recordo os nomes dos outros camaradas.


1.º CASO - O dia nove de Dezembro de 2010, foi editado o P7409 cujo título é: - A Granada de Morteiro que Veio Jantar. O Autor é o nosso estimado camarada, Alberto Branquinho.

Nesse poste eu deixei o seguinte comentário:

- “Não tenho a certeza que seja o mesmo caso, que o Torcato refere sobre o acidente da granada de morteiro que se alojou na coxa dum ser humano sem explodir!

Eu, durante um internamento que tive no Hospital de Bissau, foi-me permitido, por pessoa conhecida, atendendo ao inédito acontecimento, tirar umas fotos que guardo da coxa dum adulto, com os ferimentos provocados por uma granada que não deflagrou. Segundo me disseram na altura, a pessoa em questão estava na sua tabanca deitada, quando foi surpreendida com a granada que se alojou na coxa.”


Foto 3 - Tirada por mim no Hospital de Bissau. Os ferimentos da foto foram causados por uma granada que não explodiu.
(Clicar para ampliar a imagem)

Porque creio que haverá desfasamento temporal entre o acontecimento que o Torcato referiu no comentário ao P7409 e isto que eu vi e que fotografei a parte da pessoa, com ferimentos provocados por uma granada disparada que ao cair atingiu a coxa dum ser humano e não rebentou, como na altura me foi dito, afigurasse-me provável que não sejam o mesmo caso, pois entendo não haver similaridade entre os dois.

Julgo que os traumatismos visíveis na foto são de etimologia perfurocontundentes, ou seja, que poderão ser as contusões provocadas pelo impacto da granada, que ao atingir a coxa rasgou os tecidos musculares e destruiu algumas partes ósseas. As lesões parecem-me ser muito extensas para a contundência causada pelo objecto em análise, ainda que a profundidade seja a espectável que provocaria o projéctil. Pois temos que levar em linha de conta, que a contusão dependerá sempre de N factores, como seja a direcção da força que provocou os danos, outros obstáculos já ultrapassados pelo engenho, a aceleração ou desaceleração da velocidade do objecto e a posição do corpo atingido, ou seja o alvo!

Disseram-me na altura e a foto confirma-o, que não tinha sido afectado nenhum órgão vital, mas é bem visível que ficou muito lesada a complexidade dos ligamentos iliofemorais, assim como o conjunto dos diversos músculos existentes na zona do ferimento, que são muitos, tais como os glúteos, os gémeos, os adutores, o periforme, o obturador etc. Ficaram dilacerados vasos e nervos da região afectada. Foram destruídos o colo e a cabeça do fémur, assim como a cápsula coxofemoral, até a crista ilíaca foi atingida.

Mas, que foi uma coincidência de azar e sorte, lá isso foi; atendendo a similitude dos efeitos provocados por esta causa, em relações a outras que aconteceram com perigosidade idêntica noutras ocasiões.

O ter-se ficado com vida por a granada não ter rebentado, foi um factor de sorte; o estar a descansar em casa e ser atingido pelo projéctil, que causou ferimentos que provavelmente desencadearão um processo que levará à amputação da perna, isto foi um factor de azar!

Não soube como evoluiu clinicamente o caso.

Junto envio foto que na época eu tirei, no Hospital de Bissau.

Foto 4 - Granada que caiu sem explodir, dentro do Aquartelamento de Canjadude, durante uma flagelação desencadeada pelo inimigo.

Foto 5 - Míssil disparado pelo inimigo que não explodiu ao cair. Espetou-se junto ao bloco do edifício, caserna, secretaria, refeitório, armazém e cozinha, de Canjadude. Se tivesse rebentado, estas estruturas iam todas pelos ares. São visíveis estragos na cobertura da cozinha, devido a outro rebentamento!

Foto 6 - Baioa, em Canjadude, junto do míssil que não explodiu ao cair.

Um abraço
José Corceiro
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(*) Vd. poste de 19 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7471: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (9): Como vejo o Natal (José Corceiro)

Guiné 63/74 - P7677: Facebook...ando (8): Ganha força a ideia de um próximo encontro dos ex-Bedanda: Mensagens de António Teixeira, Mário Bravo e Hugo Moura Ferreira


Guiné > Região de Tombali > Bedanda (?) > s/d > Miúdos de Bedanda... Foto coloca no Mural da Tabanca Grande Luís Graça, no Facebook, por António Henrique Teixeira... Reproduzido com a devida vénia... (LG)




1. Mensagem de António Teixeira, ou António Henrique Teixeira, novo membro da nossa Tabanca Grande... Foi Alf Mil na CCAÇ 6 (1971/72). Na sua página no Facebook, ele diz-nos que estudou em ISEF Porto, vive emEspinho, e nasceu em 21 de Junho de 1948 [, foto à direita]:


Foi com grande alegria que, depois de ter entrado nesta página, recebi mensajens de grandes amigos como o Mário Bravo, o Vermelho e o Vasco.


Agora que nos encontrámos, dificilmente perderemos o elo.
Acabei de telefonar ao Pinto Carvalho que concordou imediatamente em procurarmos mais pessoal para se organizar uma almoçarada com o pessoal de Bedanda.



Já temos alguma gente, mas se por acaso alguém que lá esteve e leu este poste, entre em contacto connosco.
Um grande abraço e até breve.
António Teixeira



2. O Mário Bravo, por sua vez, acrescenta:


Já enviei mensagem para o Teixeira. Espero que este movimento de ex- Bedandas não pare, pois o grupo parece que está a aumentar.


3. Outro camarada, que passou por Bedanda, embora noutros tempos (1967/68), o nosso camarigo da primeira hora, Hugo Moura Ferreira (Perfil no Facebook: andou na escola Liceu de Gil Vicente, em Lisboa, vive em Lisboa, é casado, e nasceu a 6 de Fevereiro de 1943; foi 
Alf Mil da CCAÇ 1621, Cufar e Cachil, e CCAÇ 6, Bedanda, 1966/68), apoia a iniciativa de um próximo encontro de ex-Bedandas:

Concordo em absoluto com o Mário Bravo. Cá por mim, como Bedandense, tenho um certo orgulho por ter passado por aquelas paragens e ter convivido com gente maravilhosa, de cá e principalmente de lá, pelo que desejava juntar o maior numero possível de camarigos dali. 

Já tentei por várias vezes, mas tem-se tornado difícil, quer pelo tempo necessário para tal, quer para a localização daqueles que estiveram por lá ao longo dos anos. No meu caso (1967/68) tenho encontrado grande dificuldade em localizar pessoal do meu tempo. 

Tenho mesmo tentado encontrar alguns Guineenses que sei viverem por cá e até que pertenceram ao meu Grupo de Combate, o 2º, sem resultados práticos. Mas continuo tentando, embora admita que com pouco empenho. Mas irei alterar esse estado de coisas e darei notícias.
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Nota de L.G.:

Último poste desta série > 

13 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7604: Facebook...ando (7): A terrível emboscada sofrida por uma coluna da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro) e CCAÇ 2700 (Dulombi) em 1 de Outubro de 1971, às 20h30, na estrada Galomaro - Duas Fontes (Bangacia)... (António Tavares / Carlos Filipe / Juvenal Amado / Américo Estanqueiro)

Guiné 63/74 - P7676: Bibliografia (35): Ninte Kamatchol: a história da capa de um livro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Nunca se recupera de uma relação feliz com uma escultura que é eminentemente bela, seja qual for a sua dimensão. Havia que se encontrar um elemento sugestivo para a história de uma heroína anónima com que eu espero encantar alguns leitores. Mostrei este Ninte Kamatchol, foi aprovado por unanimidade.
É com orgulho que vos transmito a notícia, é um pouco da Guiné numa história de uma Guiné que nos precedeu.

Um abraço do
Mário


"Mulher Grande" livro de autoria de Mário Beja Santos, a lançar no próximo dia 10 de Março de 2011, pelas 18,30 na Livraria Bertrand do Chiado, Lisboa


Ninte Kamatchol: a história da capa de um livro

Beja Santos

Na então Praça do Império (hoje Praça dos Heróis Nacionais) visitei, em 29 de Julho de 1968, o Museu da Guiné. A primeira carta que enviei à minha namorada, referi que era um museu cheio de obras de grande beleza, sobretudo na escultura em madeira, panaria e artigos em couro. Lamentava a falta de referências das obras, era um ambiente soturno, abafado, não havia documentação à venda, inclusive catálogos. E dizia expressamente que a arte Nalu e arte Bijagó eram esplendorosas, sobretudo um pássaro reduzido um corpo longilíneo, harmoniosamente suportado por uma base canelada. A partir dessa data, as minhas relações com o pássaro Nalu foram constantes e de paixão controlada. Distribuí pássaros Nalus pelos amigos e familiares, quando regressei em 1970, o mesmo aconteceu nas viagens de trabalho de 1990 e 1991. Claro está, pássaros de dimensão média ou até pequena. O Ninte Kamatchol é hoje um dos símbolos da Guiné, até constou das notas de pesos, logo a seguir à independência: para além da fantasia da forma, os animistas atribuem-lhe virtudes quase miraculosas como a de afugentador dos maus espíritos, protector do lar ou da família. Como cada um é livre de ver numa obra de arte o que lhe apetece, sempre tomei o Ninte Kamatchol como a ave que transborda e transporta felicidade, é um permanente levantar voo, ele olha-nos a perscrutar o nosso humor, como se nos pedisse: põe-te bem contigo e com o mundo.

Na viagem que fiz recentemente à Guiné, tomei a decisão de mandar fazer um Ninte Kamatchol à minha medida: em posição de voo, assente numa coluna que rematasse num plinto escavado, leve, para parecer despercebido. Fiz a encomenda antes de partir para Bambadinca e recebi-o no dia da partida, ao entardecer de 1 de Dezembro, encerado, sem brilho algum.

A Mulher Grande é o título de um livro que será lançado em 10 de Março e onde a sua heroína vive uma série de peripécias entre os anos 50 e 60. Não é por acaso que o livro se intitula Mindjer Garandi. Havia que encontrar elementos sugestivos, logo confessei que nada me ocorria para um vida venturosa e aventureira de cerca de 90 anos e com facetas tão díspares. Lembrei-me então do pássaro Nalu, esse portador da felicidade, esse limpa ódios e até abençoador de cerimónias fúnebres. O Ninte Kamatchol foi recebido com entusiasmo pelos gráficos que decidiram plasmá-lo na capa, como se mostra.

Os meus confrades muito me honrarão se assistirem ao lançamento desta Mulher Grande com ilustração de Ninte Kamatchol em 10 de Março, pelas 18.30 horas, na livraria Bertrand, do Chiado. A apresentação será feita pela escritora Lídia Jorge.

OBS: - Negrito da responsabilidade do editor 
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7659: Notas de leitura (193): Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel Jesus Carreira Rei (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7675: Memória dos lugares (125): Aldeia Formosa (hoje, Quebo): em busca de fotos do Cherno Rachide, que morreu em 1973 (Pepito / Vasco da Gama)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > CCAV 8351 (1972/74) >  "Festa Fula da matança do carneiro. A figura central é o chefe religioso Cherno Rachide, que neste preciso momento acabou de sacrificar o carneiro depois de ter rezado missa". [Em segundo plano, por detrás do Cherno Rachide, com o rosto enquadrado por rectângulo a verde, vê-se o Cap Mil Vasco da Gama, comandante da CCAV 8351, Os Tigres de Cimbijã, a vermelho]

 Foto (e legenda): © Vasco da Gama (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

 1. Há um ano atrás, a 7 de Fevereiro de 2010, o nosso amigo Pepito mandou-nos a seguinte mensagem que depois encaminmhei para o Vasco dsa Gama

Amigo Luís: Há dias sairam no nosso blogue mais duas fotos do Tcherno Rachid de Quebo (Aldeia Formosa) [, foto acima]. Tenho sido muito solicitado pelos filhos dele para obter fotos suas [O Homem Grande morreu em Setembro de 1973, sucedendo-lhe o seu filho Sekuna].

Qual é a possibilidade do autor das ditas cujas me autorizar a fazer amplicópias grandes para ass doar? Para isso preciso delas em formato menos reduzido, i.e., mais pesadas.

 abraço

pepito

2. Eis a resposta do Vasco da Gama, nesse mesmo dia, e que por razões de oportunidade (ou distracção nossa...)  nunca chegou a ser publicada... Mas julgo que o assunto merece ser retomado no nosso blogue. Pode ter haver mais camaradas que tenham (e queiram disponibilizar) fotos do Cherno Rachide. Aqui fica o apelo do Pepito e a generosa resposta do Vasco da Gama, o grande Tigre do Cumbijã, Cap Mil da CCAV 8351 (Cumbijã,. 1972/74). Vou pedir ao Vasco que me mande, de novo, as digitalizações das fotos (de ou com o Cherno Rachide) já publicadas e eventulamente de outras que encontre no seu álbum da Guiné, mas com maior resolução...


 Queridos amigos, não precisam de me perguntar, as fotos não são minhas, são nossas, de todos nós. Tenho muito poucas fotografias da Guiné, pois para além de não ter máquina fotográfica nessa altura, curiosamente comprei ontem a minha primeira máquina, os sítios por onde andei, Cumbijã e Nhacobá, não se prestavam a grandes poses.

Recordo-me, no entanto, de estar sempre atento aos acontecimentos fora do vulgar ligados aos Homens Grandes como era o caso do Tcherno Rachide ou do General Spínola, momentos esses que já enviei para o nosso Blogue. Julgo ter ainda mais duas ou três fotografias, tenho de recorrer à minha mulher, uma ainda no Quebo com o "Califa" que era o homem mais velho de Aldeia ( dizia-se que tinha 83 anos em 1973) e penso que antigo chefe religioso, e garantidamente uma ou duas fotografias já depois de estar em definitivo no Cumbijã, onde recebi a visita do antigo chefe da Tabanca bem como do Sekuna, filho do Tcherno Rachide e que lhe sucedeu, e ainda de um Tcherno do Senegal que era irmão do Tcherno Rachide. Vou procurá-las e se tiverem interesse digam e eu enviá-las-ei de seguida.( Assim a minha mulher as encontre).

É curioso como fechando os olhos recordo toda esta gente e como gostaria de voltar a abraçar os moços que trabalhavam na minha companhia como carregadores o Umarú, o Mário e o Iaia.

Tenho uma foto dos dois primeiros e sei que o Umarú trabalhou após o 25 de Abril no porto de Bissau, pois escreveu-me em 78 ou 79 para a Figueira, andava eu por Coimbra, uma carta que andou perdida uma série de tempo. Vou enviá-las, juntamente com as outras, para que o Pepito me prometa que os encontra para que possamos conversar e,  eu,chorar um pouco.

Há dias, consegui falar por telefone com um antigo guia da minha Companhia que vive no Unal! Posso adiantar que era um Balanta, protegido pelo Tcherno Rachide e hoje convertido ao islamismo. Dava uma história curiosa e vou enriquecendo os meus conhecimentos sobre o Padé, falando com um filho dele que trabalha em Coimbra e também presta apoio à Associação Humanitária Terras e Gentes do camarada José Moreira.

Tinha previsto ir à Guiné este ano! Não dá...lá estarei para o ano...(?)

Pepito, desculpa a intimidade, conta sempre comigo para o que necessites da minha modesta pessoa.
Um abraço para ti e outro para o Comandante Luís.

 Vasco da Gama

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