quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10307: Estórias cabralianas (73): O Conde de Bobadela (Jorge Cabral)

1. Mensagem do nosso alfero Cabral, através do seu representante na terra, o nosso camarigo Jorge Cabral:

Amigos!

Após achaques vários e um grande susto. o Alfero estoriador está de volta.

Abraços.

J. Cabral

PS - Não liguem ao Que Fazer!


2. Estórias cabralianas > O conde de Bobadela

Estou no Tribunal de Mafra à espera de um Julgamento, quando uma mulher me  interpela:
-É o Senhor Conde, não é?

Hesito, mas para evitar mais conversa, respondo:
 -Sou sim. Como vai a senhora?
 -Ai, que já não se lembra da Aurora! Eu trabalhava em casa do Senhor D.Ilídio. O Senhor Conde ia lá muito, quando estava na tropa.
 -Pois ia. Claro que já morreram, o senhor D.Ilídio e a esposa, a Dona  Florípedes. E a menina Francisca ainda lá habita?
 -Oh não.A casa ficou ao abandono.A Menina vive no estrangeiro.

Chamam-me para a Sala de Audiências. Despeço-me.
  
No regresso a Lisboa, qual arqueólogo, colo os cacos da memória.Foi  há quarenta e quatro anos, no início de Junho, que o meu  velho vizinho Alvarenga, coronel reformado, me procurou. Sabendo que eu ia para Mafra, pediu-me que levasse uma encomenda ao seu amigo, Coronel Ilídio Montez, que morava na Achada, perto da Ericeira.
-Nem precisas de ir à casa. Vais ao CMEFD., mesmo ao lado do Convento. Ele passa lá os dias a montar a cavalo.

E assim,poucos dias depois de apresentado na EPI., fui procurar o Coronel. Logo no portão recebi uma reprimenda do 1º  Cabo de serviço:
- Dobre a língua, nosso Cadete! O  Coronel Montez é Dom! Dom Ilídio, está bem !?

Conduziu-me ao picadeiro e conheci D. Ilídio. Um velho pequenino, sem dúvida já octogenário, de bigode branco, pose altiva, mas simpático. Abriu à minha frente a encomenda e rejubilou: umas bonitas esporas prateadas.
 -Hoje vais jantar a minha casa - ordenou.  - A minha mulher deve estar a chegar.

Pouco tempo depois, eis-me metido no carro conduzido por Dona Florípedes, a mulher.Uma senhora muito branca, talvez triste, com ar de tédio e algo de snobe.Jantei nessa noite e em muitas outras.

Bebia os conhaques do Coronel. Declamava para a Dona Florípedes. Comentava o Maio francês com a filha Francisca, mas à noite no quartel, era com a empregada Aurora, que sonhava.

Dona Florípedes sentia-se exilada em terra de saloios.Trocar o Estoril pela Achada. E tudo por culpa dos cavalos…E logo ela.  neta do Marquês de  Pintéus, sobrinha do Barão da Marateca. Para não destoar, confessei-lhe que também eu era Conde. Mas não usava o título, nem aliás o nome completo - D. Almeida Cabral y Athouguia De Vasconcelos, Conde da Bobadela.

Às vezes discutia-se o meu futuro militar. D. Ilídio tinha esperança que eu fosse parar a Santarém, à Cavalaria. Possuia perfil e estatura de grande combatente dizia, contra a opinião de Dona Florípedes:
-Um rapaz tão sensível. Até faz versos..-
- E daí? - retorquia o Coronel- - Camões também andou na Guerra!

D. Ilídio tinha uma teoria, segundo a qual os mais valentes são  sempre  os Homens mais pequenos:_
- Olha o Napoleão, para não falar no nosso Marechal Carmona!

Ele nunca fora  a África, mas falava das savanas de Angola, com tal propriedade, que era fácil imaginá-lo à frente do Esquadrão a galope, perseguindo o inimigo.

Conhaque e cavalos.Cavalos e conhaque constituíam os interesses do Coronel. Nos conhaques ainda o ia acompanhando:
- Prova-me este Courvoisier!  Que achas do Remy Martin?  Gostas do Henri IV ? 

Mas nos cavalos….Bem, convidou-me muitas vezes a ficar em Mafra, um fim de semana, para montar e escusei-me sempre. A apendicite da mana….. A úlcera do Avô…A apoplexia do tio Gilberto…O certo é que nunca cheguei a demonstrar os meus dotes equestres.

Acabou a recruta. Deixei Mafra e rumei a Vendas Novas. Estou, ainda nem passaram quinze dias, sou chamado ao Comandante da Bateria.
 -Qual é o seu nome completo,n osso Cadete?
- Jorge Pedro de  Almeida Cabral, meu Capitão.
 -Então esta carta é ou não é para si? - E entrega-ma.

Está endereçada a Jorge D. Almeida Cabral y Athouguia de Vasconcelos, Conde da
Bobadela.
 -Alguma brincadeira, meu Capitão.
 - Brincadeiras estúpidas, nosso Cadete!

 A carta era de Dona Florípedes. Trazia um poema, com muitas açucenas, tardes amenas e até metia o pão de ló da avó.. Bem, rimar, rimava... Não respondi.

Embora tivesse ficado como Aspirante em Vendas Novas, nunca o Capitão, depois Major, me voltou a tocar no assunto. Escrevi-lhe da Guiné. E assinei:  Jorge Alfa  Mamadú Cabral de Embalo Balde, Conde de Missirá e Barão da Bolanha de Finete.

Jorge Cabral

3. Comentário do editor: Falei ontem ao telefone com o Jorge, de quem não tinha notícias há uns bons tempos. Andou por aí um mês e tal na "mão dos médicos", a "checar" a anatomia e a fisiologia. Felizmente, está bem. E "manda estória", sinal de que está vivo da costa, como a sardinha, e vai-nos continuando a fazer sorrir "com meia cara"... Gostei do seu "post scriptum": Não liguem ao Que Fazer!... Eu descodifico: Vivam a vida, rapazes!
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de maio de 2012 >  Guiné 63/74 - P9873: Estórias cabralianas (72): Ressonar... à fula (Jorge Cabral)

(...) Além de ressonar, sempre falei a dormir. Um dia em Missirá propus-me descobrir, de que falava, o que dizia.  Ora, havia lá um velho gravador de fita, máquina pertencente a não sei quem, enfim nossa, pois viviamos numa espécie de “economia comum”. Resolvi pois gravar uma das minhas noites.  (...)

Guiné 63/74 - P10306: In Memoriam (125): Cor inf cmd ref Jaime Abreu Cardoso (1936-2012)

1. Mensagem,  de 19 do corrente, do nosso leitor (e camarada, pára,  Guiné, 1969) Salvador Nogueira:

Morreu [ontem]  o Cor [inf cmd  ref] Abreu Cardoso, num estúpido acidente, quando voava um histórico Paulistinha do Aero Clube de Braga.
O Cardoso [, de 75 anos,] era um entusiasta da aviação e tinha uma vasta experiência de actividade de voo, em DO27, em autogiros (uma inexistência para os iluminados do INAC) e em ultraleves. Também saltava em páraquedas.
Que me lembre, impulsionou a formação de tropas 'Comando' na Guiné, comandou a 7ª CComandos, em Moçambique e, acrescente-se que não é demais 

"Alvará OFICIAL DA TORRE E ESPADA  TEN-COR CMD JAIME ABREU CARDOSO  [1969]

"Considerando que o Tenente de Infantaria, graduado em capitão, Jaime Rodolfo de Abreu Cardoso, após oito anos de campanha contra a subversão no Ultramar, pela coragem constante em presença do inimigo, pelas suas virtudes militares, alto espírito de sacrifício, decisão, alheamento consciente do perigo, prestígio pessoal sobre as tropas comandadas ou entre os seus camaradas e superiores, impôs-se como um alto valor moral da Nação; 

"Considerando que em acções militares heróicas em Angola e feitos praticados em combate em Moçambique – que lhe deram jus a uma Medalha de Prata de Valor Militar e proposta para a Cruz de Guerra de 1ª Classe – revelou personalidade, em cujo carácter estão bem vincados o valor, a lealdade e o mérito; Américo Deus Rodrigues Thomáz, Presidente da República e Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas, faz saber que, nos termos do Decreto - Lei n.º 44 721 de 24 de Novembro de 1962, confere ao Tenente de Infantaria, graduado em Capitão, Jaime Rodolfo de Abreu Cardoso, sob proposta do Presidente do Conselho, o Grau de Oficial da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito".

 
2. Comentário do editor:

Obrigado, Salvador, por nos teres feito chegar a triste notícia da morte de mais um camarada nosso. Pelo que pude entretanto apurar, o cor inf  cmd ref Jaime Abreu Cardoso, natural de Vieira do Minho, pai de 3 filhos, era "um dos 20 em Portugal inteiro distinguidos com o Grau Oficial da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito", segundo notícia do Correio do Minho ("Comandos despediram-se do seu Herói Nacional", 22/8/2012).  Sobre o seu currículo militar, ver também notícia publicada no Portal Ultramar Terraweb. Temos, seguramente, entre nós, camaradas que o conheceram e que com ele conviveram  na altura da formação dos comandos da Guiné (Brá, 1964).  As nossas condolências à família e aos camaradas comandos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10263: In Memoriam (124): Dia 24 de Agosto de 2012, em Valbom - Pinhel, homenagem póstuma a José António Mata da CART 6250, falecido em Bolama no dia 10 de Julho de 1972 (José Manuel Lopes)


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10305: Estórias do Juvenal Amado (43): Olha o Silva!!!




Guiné > Zona leste > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872, 1971/74) > Malta do Pel Rec Info



Vila Nova de Gaia > Carvalhos  > s/d > O casamento do Silva e da Ester

Fotos: © Juvenal Amado (2012). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado, com data de 21 do corrente

 Caro Luís, Carlos, Magalhães e restante Tabanca Grande

Esta pequena estória serve para recordar o meu amigo Silva e faz parte da parede que tento construir. Cada nome, cada caso, cada recordação são tijolos para essa parede.

Seguem algumas fotos com a particularidade de que numa delas aparece um africano que eu não tenho a certeza de ser o Jamba. Tentei confirmar junto de alguns camaradas, mas penso que só o dr Pereira Coelho o conhecer hoje. Fiz alguns apelos mas até agora nada.

Mas mesmo assim vou falar sobre o Jamba. O Jamba era um civil contratado pelo quartel que fazia vários trabalhos. De forte compleição, de bom trato ia connosco à lenha, por vezes há água, estava por todo o lado à vontade pois gosava de total liberdade de entrar e sair do quartel. Também fazia os recados do comandante nas relações comerciais com as lavadeiras, levando-lhe a roupa suja e trazendo a lavada.

Enfim era uma pessoa de toda a confiança... Só mais tarde se veio a descobrir que ele era militante do PAIGC na clandestinidade. Quando reunir informação suficiente contarei o resto da estória se ouver material para isso.

Até lá um abraço
Juvenal Amado


2. Estórias do Juvenal Amado > Olha o Silva!!!
por Juvenal Amado
(ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)



O Silva foi 1º cabo do Pel Rec e era um amigo de todas as horas. Fazia parte de um grupo que se tinha formado ainda em Abrantes após a mobilização, todos do mesmo pelotão excluindo eu que fui praticamente adoptado.

Viemos todos do RI6,  na Sra da Hora,  no Porto,  para Abrantes no mesmo dia e no mesmo comboio, eu com os condutores e com pouca ligação ou nenhuma a essa malta, que depois viria a ser e ainda são como meus irmãos.

O Silva a nível dos soldados só tinha amigos, o mesmo já não digo aos graduados, pois não se coibia de criticar e mesmo tomar posições de certa maneira complicadas de ordem disciplinar. A título de exemplo conto uma pequena estória.

Os camaradas que saíam para as patrulhas nocturnas, quando chegavam ao quartel e depois de tomar banho, dirigiam-se para o refeitório por volta da meia-noite para assim jantarem.

Mas o jantar era difícil de comer àquela hora,  frio e normalmente em papas, pois estava feito desde a 18 horas. De queixa em queixa, de crítica em crítica, as situações iam-se repetindo. Uma bela noite o pelotão recusou-se a comer, fazendo um levantamento de rancho ainda que restrito.

Veio o oficial de dia, que tentou convencê-los a comer e não conseguindo, passou às inevitáveis ameaças, das inevitáveis porradas disciplinares. Tudo foi em vão, pois os camaradas do Pel Rec estavam irredutíveis com o Silva à cabeça.

O oficial passou das ameaças e pensando que vergando o Silva os outros se renderiam, agrediu-o para o obrigar a comer. O Silva manteve-se firme e não comeu. Não me lembro como se resolveu o problema gerado pela agressão, mas as partes envolvidas acabaram por chegar a um acordo e a coisa ficou por ali, com a promessa que o problema das refeições seria resolvido, o que veio a acontecer a partir daquela data e nos meses posteriores até ao fim da comissão.

O Silva subiu na nossa consideração e todos lhe gabamos a coragem de fazer frente ao graduado, embora, se o não segurassem, teria ele respondido à agressão e a coisa tinha ido a mais.

Mas o Silva tinha uma particularidade que nós estranhávamos. Nunca se embebedava. Bebia uns copos mas não passava dali. Coisa estranha, pois até os mais controlados acabavam por se “encharcar” e  tanto mais que a comissão já ia bem adiantada.

Um belo dia, com o pré fresco no bolso fomos a Bafatá,  já com os nossos periquitos e foi de arrasar. Iam os do costume, o Silva, o Ivo, o Caramba, o Ferreira etc. Não será necessário aqui mencionar todos, embora tenha que aqui fazer uma ressalva para o Estofador e o Aljustrel que,  não tendo recebido autorização para seguir na coluna, nos foram esperar ao fundo da bolanha e assim passarem a perna ao tenente Raposo que tinha negado a licença aos dois.

Bom, em Bafatá,  o circuito do costume, começou na Transmontana e entre este mata- bicho e o almoço já encomendado no Libanês, a cerveja corria a rodos.
- É hoje que pregamos uma bebedeira no Silva. - combinamos nós.

E assim foi quando chegamos ao restaurante do Libanês, já todos íamos bem bebidos. Lá como de costume, corria a rodos o vinho branco bem fresco a acompanhar o bife. Depois vinham os charutos e o whisky, normalmente oferecido pelo dono da casa. Inconsolável estava o meu periquito, porque o não deixamos beber nada a não ser Fanta e Coca-Cola.

Não será preciso ter grande imaginação, para ver em que estado estávamos e em que estado chegamos ao quartel. Ao Silva, esse estava que ninguém o podia aturar. Uns usavam o termo “atravessado”, que é um estádio entre a bebedeira e a negação do facto, outros diziam que ele estava com uma “cabra” de todo o tamanho. Uma coisa era certa, ninguém o segurava, não dava um minuto de descanso pois queria apresentar-se ao comandante, ou ir chatear o tenente Raposo, beber um copo à messe, ir para a tabanca e sabe-se lá o que ele faria se o largássemos.

Já noite ia adiantada quando finalmente o deixei no abrigo do Pel Rec e fui para o meu, que era no extremo oposto do quartel. Estava a pegar no sono, pensando que não contassem mais comigo para o embebedar, e que finalmente o gajo tinha sossegado, levo uma palmada fortíssima na coxa, acompanhada de um exclamação do Silva com aquela pronúncia dos Carvalhos:
- Olha o Amado!!!!! estás aqui,  filho da puta!!!! - E tive que o aturar o resto da noite.

Este grupo onde está também o Passos [, foto acima,] tem-se mantido sempre em ligação excluindo o Ferreira que nunca mais deu sinal de si e a ultima vez que o vi, foi numa foto numa revista, quando ele ganhou uma viagem à Disneylândia.

Eu fui ao casamento do Silva com a Ester  [, foto acima,] e eles posteriormente vieram ao meu. O Silva, depois de muito ter trabalhado num negócio que montou, acabou por ter que emigrar para França há meia dúzia de anos. Nunca mais o vi. Esteve cá agora de férias na sua terra, mandei-lhe um abraço virtual e pensei que gostava de estar com ele, mas desta vez bebia cerveja sem álcool.

Um abraço

Juvenal Amado
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Nota do editor:


Último poste da série > 12 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9890: Estórias do Juvenal Amado (42): O arroz do nosso descontentamento

Guiné 63/74 - P10304: Parabéns a você (466): António Marques Barbosa, ex-Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106 (Guiné, 1966/68) e José Corceiro, ex-1.º Cabo TRMS, CCAÇ 5 (Guiné, 1969/71)

Para aceder aos postes dos nossos camaradas António Barbosa (Gondomar) e José Corceiro, clicar nos respectivos nomes
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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10303: Passatempo de verão (10): As árvores também choram... (Luís Graça)


Quinta de Candoz > 24 de setembro de 2011 > Os "ouriços" do castanheiro... Candoz foi roubado à floresta de castanheiros, que aqui crescem espontaneamente, tal como os carvalhos...



Quinta de Candoz > 8 de junho de 2012 > O nosso orgulhoso sobreiro... Tem menos de 50 anos,
é portentoso, não dá cortiça de qualidade mas a sua sombra é tutelar e o sítio onde está implantado inspirador...

Fotos:   ©  Luís Graça (2011).  Todos os direitos reservados



Quinta de Candoz > 24 de setembro de 2011 > Abate de um castanheiro

Vídeo (38''):  
 ©  Luís Graça (2011). Alojado em You Tube > Nhabijoes >
1. As árvores também choram. Quando o machado, a motosserra ou a bulldozer as abate. Na Quinta de Candoz (Portugal), no Cantanhez (Guiné-Bissau) ou na Amazónia (Brasil). As razões podem não ser (nem são) as mesmas. Na Quinta de Candoz, os castanheiros selvagens competem, pelo espaço vital,  com a vinha de vinho verde, sustento da casa (leia-se: dá para a luz, o gás, o gasóleo, os tratamentos da vinha, o IMI...).

Houve tempos em que tinham valor económico, os castanheiros, só pela madeira. Hoje nem isso. E para darem boas castanhas, têm de ser enxertados... É das árvores que,  em termos de estética da paisagem, eu mais admiro, a seguir aos carvalhos (que são os nossos poilões). É uma dor de alma ver as nossas florestas de castanheiros, carvalhos e sobreiros (que crescem aqui muito rapidamente) serem destruídas pelo raquítico, inestético e invasor eucalipto, uma praga que veio da Oceania e é uma ameaça séria para a nossa paisagem mediterrânica... 

Candoz pertence à freguesia de Paredes de Viadores, concelho de Marco de Canavezes. Do outro lado do vale é Baião. Pertencia ao concelho de Bem-Viver, com sede em Sande, concelho esse que foi extinto em meados do séc. XIX.Há 300 anos estas terras eram fracas de cereal e abundantes em castanha, segundo a  Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal, do P. António Carvalho da Costa (3 volumes, Lisboa, 1706-1712).
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10302: O Nosso Livro de Visitas (146) ): Jaime Segura, ex-alf mil cav, CCAV 488 / BCAV 490 (Mansaba Bissorã, Ilha do Como, Jumbembem, Bissau, 1963/65)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Jaime Vieira:


De: Jaime Vieira [ jaime.form@gmail.com ]

Data: 24 de Agosto de 2012 21:14

Assunto: Apresentação


Boa noite, só hoje tive conhecimento deste espaço, para convívio com antigos camaradas de armas da Guiné.

O meu nome é Jaime Segura, fui alferes do 3º grupo de combate da companhia de cavalaria 488, BCAV 490 ( 1963/1965). A minha companhia foi inicialmente uma companhia de intervenção, e estivemos em Mansabá, Bissorã, e mais tarde na célebre campanha da Ilha do Como (Janeiro a Março de 1964). Depois, a companhia passou à quadrícula e permaneceu em Jumbembem. Entretanto, eu fui nomeado ajudante-de-campo do Governador e Comandante-chefe General Arnaldo Schulz, tendo prestado serviço no Palácio do Governo, em Bissau.


Todos os anos fazemos um almoço de confraternização do pessoal do BCAV 490, no último sábado do mês de Maio, nos mais variados pontos do país, sobretudo no centro e sul, de onde é originária a maioria dos elementos do Batalhão.

Tive conhecimento, há relativamente pouco tempo, de um pequeno restaurante, em Matosinhos (cidade contígua ao Porto) onde se encontram antigos combatentes do Ultramar, com especial incidência da Guiné.

Fico a aguardar notícias vossas, e  até sempre,

Jaime Segura

2. Comentário do editor:

Obrigado, Jaime, pela visita e pela tua apresentação. E sê bem aparecido. Temos vários camaradas que pertenceram, ao teu batalhão, a começar pelo nosso co-editor, "jubilado", Virgínio Briote (que foi alf mil daq CCAV 489). Tens aqui cerca de três dezenas de referências ao teu BCAV 490. E cerca de uma dezena à tua CCAV 488 (a que pertenceu também o escritor Armor Pires Mota, a que também já foi dirigido o meu convite para integrar o nosso blogue mas que declinou amavelmente o convite). 

Se quiseres enriquecer este espaço de partilha de memórias (e de afetos) dos antigos camaradas de armas que fizeram a guerra colonial na Guiné (1961/74), podes começar por fazer um pedido formal de entrada na nossa Tabanca Grande, cujo número de membros registados é já de 573. Chamamos-lhe, por graça, os grã-tabanqueiros. 

Existimos, como blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné) desde abril de 2004.  E estamos prestes a atingir os 4 milhões de visitas. Teríamos muito gosto e honra em acrescentar o teu nome à nossa lista (ver coluna do lado esquerdo). Para esse efeito, e se aceitares as nossas regras de convívio, basta enviar-nos duas fotos (digitalizadas), uma do teu tempo de alferes e outra actual. Se morares na região do Porto, podes também frequentar os convívios semanais da Tabanca Pequena, com sede em Matosinhos.  Estamos também no Facebook como Tabanca Grande

Um Alfa Bravo do Luís Graça.

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P10301: Parabéns a você (465): Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70)

Para aceder aos postes do nosso camarada Jaime Machado, clicar aqui
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Nota do Editor:

Vd. último poste da série > 25 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10298: Parabéns a você (461): Manuel Carmelita, ex-Fur Mil Mec Radiomontador da CCS/BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

domingo, 26 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)



Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz >  23 de Agosto de 2012 >  Ninho de andorinha, insólito, construído não no beiral mas à volta da lâmpada do hall exterior ou alpendre de uma das nossas casas... Aos 43 segundos vê-se uma andorinha entrar no ninho levando insetos para alimentar as crias, e 10 segundos depois sair para mais uma "caçada" ao redor da Quinta de Candoz... O ninho foi recentemente reconstruído.

Vídeo (1' 07''):  © Luís Graça (2012). Alojado em You Tube  > Nhabijoes







Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz >  9 de junho de de 2012 >  O nosso ninho de andorinho, parcialmente destruído por causa desconhecida, não humana, e rapidamente reconstruído pela nova geração... Em agosto de 2012 já alojava as novas crias...  


"As andorinhas são um grupo de aves passeriformes da família Hirundinidae. A família destaca-se dos restantes pássaros pelas adaptações desenvolvidas para a alimentação aérea. As andorinhas caçam insectos no ar e para tal desenvolveram um corpo fusiforme e asas relativamente longas e pontiagudas. Medem cerca de 13 cm (comprimento) e podem viver cerca de 8 anos. (...) 

"As fêmeas fazem uma postura de 4 ou 5 ovos, que depois são incubados durante cerca de 23 dias. Passado o tempo da incubação, nascem os jovens, cuja alimentação é feita por ambos os progenitores. 

"Quando a temperatura baixa, as andorinhas juntam-se em bando e vão à procura de locais da Europa mais quentes, indo também para o norte de África. Depois, quando a temperatura volta a subir, por volta da primavera, regressam novamente. Constroem as suas casas perto do calor, em pequenos ninhos normalmente colados ao tecto." (...)

(...) "Originalmente, a andorinha-dos-beirais [ 'Delichon urbicum'] construía os seus ninhos em falésias e cavernas. Ainda são encontradas algumas colónias em falésias, com o ninho construído sob uma rocha saliente, mas atualmente esta espécie usa sobretudo estruturas feitas pelo homem, como edifícios e pontes, de preferência junto à água. 

"Ao contrário da andorinha-das-chaminés, usa a parte exterior de edifícios abandonados em vez do interior de estábulos ou celeiros. Os ninhos são construídos na junção da parede com o beiral, ficando assim fortalecidos pela ligação a dois planos distintos.

"Regressa à Europa para nidificar entre abril e maio, e a construção dos ninhos ocorre entre o fim de março (no norte de África) e o meio de junho (na Lapónia). O ninho tem a forma de uma taça fechada com uma abertura estreita no topo e é feito com pedaços de lama colados com saliva, e forrado com palha, ervas, penas ou outros materiais macios. A sua construção demora até 10 dias e é levada a cabo tanto pelo pela fêmeacomo pelo macho.

"Frequentemente, o pardal-doméstico ('Passer domesticus') ocupa o ninho durante a sua construção, forçando a andorinha-dos-beirais a construir um novo. A abertura no topo do ninho completo é tão pequena que os pardais não conseguem ocupá-lo uma vez construído.(...)
 
"A andorinha-dos-beirais é mais gregária do que a andorinha-das-chaminés 
['Hirundo rustica'] estando habituada a viver e a migrar em bando, e tende a nidificar em colónias numerosas. Os ninhos podem inclusive ser construídos em contacto uns com os outros. Tipicamente, estas colónias têm menos de dez ninhos, mas há registos de colónias com milhares de ninhos. Cada postura possui habitualmente quatro ou cinco ovos brancos, com um tamanho médio de 1,9 x 1,33 cm e um peso médio de 1,7 g. A incubação dura geralmente de 14 a 16 dias, e é feita essencialmente pela fêmea. As crias recém-eclodidas são altriciais e necessitam de 22 a 32 dias, dependendo das condições atmosféricas, para abandonar o ninho" (...) (Fonte: Wikipédia)

Fotos: © Luis Graça (2012). Todos os direitos reservados 


1. Há um ano atrás, em setembro de 2011, fiz e coloquei no blogue um pequeno vídeo (18'') com insólito ninho de andorinha, construído não no beiral do telhado, como é habitual nas andorinhas de beiral, mas no alpendre de um das casas (não habitadas) da nossa Quinta de Candoz (Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses)...

O vídeo comprovava assim a  existência de um família de andorinhas que,  desde há menos de uma década, vem do norte de África "passar as suas férias de verão" e nidificar em Candoz,  nas encostas do Douro... Sempre tivemos, a família de Candoz,  um especial carinho por este ninho e seus habitantes ... Nunca, que eu me lembre, desde 1975, nenhuma andorinha tinha feito nidificado na nossa terra... Estas, tal como eu, chegaram, gostaram e voltam sempre...  Em 9 de junho deste ano, para surpresa e desgosto meus, dei conta que a "abóboda" do industrioso ninho tinha caído, possivelmente sob o efeito de alguma intempérie. Voltei, há dias,  a sorrir, quando a 23 de agosto dei conta de que o ninho tinha sido reconstruído e tinha novos inquilinos, seguramente descentes dos primitivos construtores de há meia dúzia de anos atrás...

Este ninho, que eu chamei insólito, foi pretexto para um dos nossos inocentes e descontraídos passatempos de verão, ajudando-nos a
 cultivar a horta do nosso bom humor e sabedoria... e ao qual se juntaram, com os seus valiosíssimos e oportunos comentários, os nossos camaradas e amigos Henrique Cerrqueira, José Belo, Torcato Mendonça, José Manuel Cancela, Joaquim Sabido, Carlos Cordeiro, César Dias e Filomena... (Espero não estar a esquecer ninguém!).

Moral da história: as andorinhas, mesmo aquelas que são mais "desalinhadas", mostram aos seres humanos que todos podemos ser ao mesmo tempo iguais, diferentes e únicos, e que isso só nos enriquece como espécie... Ah, tem outras qualidades, importantes nos tempos que correm, a nossa andorinha dos beirais: é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... Parafraseando o Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus (6: 26), tomemos como exemplo as andorinhas e demais aves do céu... (LG)

sábado, 25 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10299: O Nosso Livro de Visitas (145): V. Lucia B. Melo, filha de António Melo, camarada da diáspora, ex-1.º Cabo Rec Inf, CCS/BCAÇ 2930 Catió, e QG, Bissau, 1972/74

1. Mensagem da filha do nosso camarada António Melo, que presumimos viva em Espanha, tal como o pai:

De: V Lucia B. Melo <vbentodemelo@gmail.com>
Data 12 de agosto de 2012 13:32
Assunto: Filha de ex-1º Cabo Rec Inf António Melo, CCS/BCAÇ 2930, Catió, e QG, Bissau, 1972/74)



Buenas

Me dirijo con gran alegria a los compañeros de mi Padre.

Soy hija de António Melo y me dirijo ud. por que me siento orgullosa de mi Padre que como vosotros fue un luchador y de mi Madre que le seguio los pasos.

Me seguire comunicando ud. para mandar pequenos poemas, pequenãs frases que describo a todos vosotros.

Un gran abrazo de

V. Lucia B. Melo



CORAZON DE GUERRERO
[autor:  Carlos Torrejon Cuenca]

Todos te reprochan
tu lucha es difícil
tu lucha es imposible...
no podrás triunfar, vas a caer...

Pero tú ya has visto la muerte
el infierno, y la oscuridad de tu alma
tus oídos están sordos para palabras cobardes
tu alma te impide retroceder.

La razón poco o nada significa, verdad?
en ti arde el fuego del guerrero
es tu naturaleza desafiarte
llegar hasta el borde del abismo
ver el infierno, a sus demonios
y enfrentarlos...
La lucha imposible
la lucha por lo olvidado
o por aquello, que no trae mas recompensa
que no haber hecho nada...

Esa es tu forma de Fe
esa es tu forma de creer en Dios
así sabes que Dios es quien
decide sobre tu alma y sobre tu sendero.

Tus ojos no ven peligro, ven desafío
al borde de los secretos del poder...
Y por eso tu lucha siempre será digna
como la verdad...
SIEMPRE HAS LUCHADO HASTA EL FINAL...

Tu fuerza como el sol brilla
tu alma como la luna, el infinito refleja
Que Dios te abraze
Nai elwë vayurva le
Que encuentres la luz en la oscuridad
lucha... y cuando encuentres al final
la paz... siéntate al borde del mar de las memorias 
y sueña... pero esta vez, vive tu sueño
ahí estarás... tu sueño será tu realidad
encontrarás... al final el lugar que Dios te prometió.


2. Comentário de CV:

Cara amiga Lúcia:
Muito obrigado pelo seu contacto e pelas palavras tão sentidas que dirige a seu pai e a nós seus camaradas, ex-combatentes da guerra colonial.

Nós queríamos publicar no nosso blogue o poema que nos mandou, mas como respeitamos a propriedade intelectual, queremos que nos diga, caso não o tenha escrito, o nome do autor para constar do post. 

Esta mensagem segue para conhecimento de seu pai para o caso de ter dificuldade em entender português, ele a possa ajudar.

Receba os nossos cumprimentos
Carlos Vinhal

PS - Identificámos o autor do poema, que é boliviano, e localizámos um fórum  onde ele, Carlos A. Torrejon Cuenca, escreve o seguinte, com data de 9 de junho de 2007: 

"Hey hola... bueno solo queria pedirles q porfabor pongan quienes son los autores de los poemas q usan y eso lo digo porque el autor del poema q aqui citan "corazon de guerrero" soy yo... Carlos A. Torrejon Cuenca... no estoy en contra de q lo usen... si ayuda a inspirar a gente... me siento feliz... pero porfabor pongan de quien es... sucede q en otra parte del internet lo usaron para dedicarselo q Pinochet... y bueno eso si q no me gusto... asi q quiero evitar ese tipo de cosas porfabor...
gracias :)".
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de agosto de 2012 >  Guiné 63/74 - P10273: O Nosso Livro de Visitas (144): Nasce Biblioteca Pública em Bissau, graças ao trabalho da ONGD 'Afectos com Letras' (António Bernardo, CCS/BART 2920, Bafatá, 1970/72)

Guiné 63/74 - P10298: Parabéns a você (464): Manuel Carmelita, ex-Fur Mil Mec Radiomontador da CCS/BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

Para aceder aos postes do no nosso camarada Manuel Carmelita, clicar aqui
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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10297: Blogpoesia (197): O trabalho, por António Peres, poeta popular (José Colaço)


1. Mensagem do nosso camarada e amigo José Colaço:

De: José Colaço [ josebcolaco@gmail.com]

Data: 19 de Agosto de 2012 18:31

Assunto: O trabalho


Caro Luís Graça:

Versos de um poeta popular,  quase analfabeto,  e que já não faz parte dos vivos. Luís, sei que adoras a poesia popular, ou não fosses tu filho de um poeta popular. Ao organizar uns arquivos, encontrei estes versos de um tio da minha esposa e meu tio por afinidade, António Peres.  Trata-se de um poema dedicado ao 1º de Maio de 1988: O trabalho.

O que mais me surpreende nos versos é que retratam, de modo simples e verdadeiro,  o seu passado como trabalhador no seu (revoltado) título, que é meu.  

2. Blogpoesia > O trabalho, por António Peres

I

Tanto que eu trabalhei
Para este nosso Portugal,
Só agora reparei
Quem trabalha pouco vale.

II

Comecei logo em criança
A trabalhar para aprender,
Hoje o que me resta de esperança
É trabalhar sem poder.

III

Trabalhei na agricultura,
Mesmo sem ser cultivado,
Agarrado a um arado
A romper a terra dura.

IV

Trabalhei na construção,
Mesmo sem ser construtor,
A largar tanto suor
Hoje não tenho habitação.

V

Trabalhei para tantas escolas,
Mesmo sem saber escrever,
Trabalhei para grandes hotéis
Mas nunca lá fui comer.

VI

Trabalhei para auto-estradas,
Para pontes e pontões,
Trabalhei para passearem
Tantos,  tantos cidadões.

VII

Eu trabalhei para barragens
Sem ter nada para regar,
Trabalhei para tantas docas
Sem ter barcos para navegar.

VIII

Trabalhei para aeroportos,
Sem nunca andar de avião,
Tanto que eu trabalhei,
Fazendo sondagens ao chão.


IX

Trabalhei para tanta fábrica,
Mesmo sem ser fabricante,
Trabalhei em tanto lado,
O trabalho era volante.

X

Hoje sinto-me cansado,
Ando suspenso por pontos,
Porque já fui reformado
E recebo treze contos.

XI

Hoje quero e não posso,
Mas nunca dou voz de fraco,
Quem anda a comer o nosso
É o grupo do Cavaco.

Autor: António Peres

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Zé. Muitos camaradas serão capazes de se identificar com o conteúdo e a forma destas quadras populares do teu tio António Peres.  É a história, singela, resumida, em 11 quadras, de uma vida, a de um trabalhador português do séc XX... Temos uma ideia romântica do trabalho que dignifica, que é fonte de realização, que é feito com alegria, que reabilita, que regenera, que sublima, que liberta, que é via de mobilidade social...

O tanas, trabalhar no campo, trabalhar nas minas, trabalhar nas pescas, trabalhar nas fábricas, é duro, sempre foi  duro... E está longe de ser socialmente valorizado numa sociedade como a nossa em que o trabalho é maldição e punição... O sucesso rápido e o enriquecimento fácil são os valores dominantes... No fundo os portugueses, ou melhor dizendo, a nossa elite dirigente tem, sempre teve, uma profunda repulsa pela trabalho manual e pelo povo que trabalha... e que faz as guerras (Releia-se esse ainda atual texto poético do jovem  Eça de Queirós, esse belíssimo panegírico,  sobre o povo português, que ele escreveu em editorial 10 de janeiro de 1867 em editorial do "Distrito de Évora""Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão. Estes homens são o Povo. Estes homens estão sob o peso de calor e de sol, transidos pelas chuvas, roídos de frio, descalços, mal nutridos, lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida, a sua força, para criar o pão, o alimento de todos. Estes são o Povo, e são os que nos alimentam. (...) Estes homens, nos tempos de lutas e crises, tomam as velhas armas da Pátria, e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, à neve, à chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento. Estes homens são o Povo, e são os que nos defendem"...).

Enfim, temos aqui um tema que dá(va) pano para mangas... Para mais,  em tempo de férias e sobretudo de gravíssima crise económica e social, visível por (quase) toda a parte. Mas aqui, em Candoz, é preciso fazar a "poda verde", que a vindima pode ser daqui a um mês, se o tempo ajudar o lavrador que nunca tem férias... (As uvas andam atrasadas 10 dias...). Um alfa bravo para os leitores do blogue, quer trabalhem ou não.

PS - E a propósitos de férias, fica o povo a saber que o nosso editor-sempre-de-serviço, Carlos Vinhal, vai  uns dias descansar, fora de casa, que ele e a Dina bem merecem... Eis a sua missiva de hoje: "Caros camaradas: Vou passar uns dias de férias por aqui próximo, fora de casa, mas não tão longe que em pouco tempo não esteja junto da minha mãe se houver algum problema. Queria pedir-vos o favor de publicardes os aniversários que faltam, 25, 27 e 28 de Agosto. Devo estar de volta pelo fim do mês, princípio de Setembro, dependendo da disposição e da vontade de regressar ao doce lar. Abraço. Carlos"...  Fica descansado, Carlos. A gente desdobra-se. Volta bem e em forma. No final do mês também eu regresso a Lisboa. LG
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Nota do editor

Último poste da série > 4 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10227: Blogpoesia (196): Na Grande Rota Caminho do Atlântico (GR11 - E9), a Praia do Paimogo da minha infância... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10296: Notas de leitura (395): Guiné-Bissau, Um Estudo de Mobilização Política, de Lars Rudebeck (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 3 de Julho de 2012:

Queridos amigos,
Foi graças ao empréstimo de António Duarte Silva que tive acesso a este estudo certamente impar na bibliografia do PAIGC.
Este professor de Uppsala (Suécia) lançou-se numa investigação onde, ao que parece, não teve concorrência: estudou em profundidade a orgânica socioeconómica e social do PAIGC no interior da Guiné e acompanhou de perto o processo eleitoral que desembocou nas eleições para a Assembleia Nacional, em 1972.
Lars Rudebeck irá aparecer mais tarde como investigador no INEP, diferentes trabalhos seus irão aparecer na revista Soronda, hoje acessível porque os seus números foram digitalizados e são uma fonte de conhecimento do maior interesse.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau, um estudo de mobilização política

Beja Santos

O leitor e confrade tem interesse em, antes de começar a ler esta recensão, procurar saber mais sobre o currículo de Lars Rudebeck (foto à direita), um cientista de renome internacional que ensinou em Upsala, na Suécia. O professor Lars Rudebeck concluiu à volta de Julho de 1974 este livro (publicado igualmente em 1974), exatamente no tempo em que o presidente da República António de Spínola anunciava a nova era da descolonização, pouco antes da República da Guiné-Bissau ter sido acolhida nas Nações Unidas. Trata-se de um estudo de alto gabarito e singular no panorama de todos os trabalhos efetuados sobre a ideologia, a orgânica e a emergência da ordem social instituída pelo PAIGC, o investigador revela um conhecimento detalhado da realidade guineense, visitou as zonas controladas pelo PAIGC em 1970 e 1972 e conversou com Amílcar Cabral, com quem se correspondeu até ao seu assassinato. Da gama dos diferentes estudos e reportagens efetuados antes ou pouco depois da independência, este goza de uma particularidade: o cientista social e político procedeu junto das populações afetas ao PAIGC a entrevistas diretas nas chamadas áreas libertadas com destaque para Sara-Candjambari, e acompanhou, em 1972, o processo de recenseamento e votação para a Assembleia Nacional.

A investigação compreende essencialmente as seguintes partes: passado e presente da Guiné e de Cabo Verde em relação à luta de libertação; a ideologia e os objetivos nucleares do PAIGC, a vida nos territórios libertados e um punhado de reflexões sobre a essência teórica deste movimento de libertação, justificando, dentro da sociologia política, o significado que o cientista dá para mobilização política.

Dir-se-á quanto ao que nos revela sobre a Guiné e Cabo Verde que as notas históricas estão corretas e olhando para os quadros estatísticos de educação e saúde, por exemplo, fica-se com uma ideia clara sobre as diferenças abissais no desenvolvimento destes dois territórios. O autor nunca questiona se existe ou não uma base de sustentação para a dita unidade Guiné-Cabo Verde, menciona-a como decorrente do ideário do PAIGC. No tocante à Guiné-Bissau, que é o centro do estudo do investigador sueco, ele lança um olhar em concordância com a leitura feita por Cabral quanto às pessoas, as explorações económicas, pega mesmo no memorando que Cabral escreveu aquando da sua primeira visita a Londres para referir a natureza rural do país e como a luta de libertação iria assentar na conscientização dos agricultores. Refere-se às relações internacionais do PAIGC tanto no campo africano, as ajudas recebidas da China, URSS e aliados, e lista os apoios recebidos dos países ocidentais, com destaque para os escandinavos. Explica a evolução da guerra, as políticas de Schulz e Spínola, os acontecimentos de 1973, e, por fim, a independência. Sobre o assassinato de Cabral, toma em consideração os factos enunciados por Aquino de Bragança, publicados em Afrique-Asie, a existência de três grupos conspiradores: o primeiro, constituído por militantes de longa data alegadamente recrutados pelos serviços secretos coloniais, caso de Rafael Barbosa ou Momo Touré; o segundo, incluiria elementos corruptos ou descontentes com a linha política do Partido e que se tinham tornado elementos recrutados pela PIDE; um terceiro, onde se incorporavam peritos contraguerrilha, lançados em Conacri como desertores do exército colonial. Escusado é dizer que estas reflexões no essencial eram infundadas, foram um expediente usado para desviar a questão essencial do contencioso entre guineenses e cabo-verdianos.

O estudo da ideologia é minucioso. Pega no conceito de “a arma da teoria” e comenta como de uma estrutura marxista Cabral faz uma leitura da sociedade e do desenvolvimento na Guiné para distinguir que a libertação não pode ocorrer nem consolidar-se com base nos cânones nas lutas de classe. Cabral acentua que a exploração colonial na Guiné não obedece a um plano imperialista e que a burguesia existente na Guiné em nada tinha a ver com a burguesia dos países em luta contra o imperialismo, mas não deixa de chamar a atenção para as questões tribais que a prática política do PAIGC deverá superar. E debruça-se, a seguir sobre os aspetos concretos da ideologia nas dimensões políticas, económicas, sociais e culturais na prática do PAIGC e como se converteu esta ideologia em ação política, Lars Rudebeck procede a uma análise das “Palavras de ordem gerais” elaboradas por Cabral, analisa-as a partir dos princípios da China Popular, do Vietname e da Argélia. É nestes documentos que Cabral refere a necessidade de desenvolver a agricultura nas regiões libertadas, os guerrilheiros deveriam repartir o seu tempo ajudando os camponeses. O que há de fundamental a reter é que o pensamento de Cabral não se baseava numa cartilha ideológica consistente, os próprios armazéns do povo que se pretendia que organizassem a distribuição de bens de consumo nas áreas libertadas funcionavam como local de troca, para gerar o sentimento de que os libertados ponham os seus meios de produção ao dispor dos outros.

Tomando à letra a verificação do documento “Palavras de ordem gerais”, o cientista analisa os conceitos de centralismo democrático em que Cabral assentava a democracia revolucionária, passando para as considerações sobre a ordem social, passo em revista a orgânica política e administrativa do PAIGC (Conselho Superior da Luta, Comité Executivo da Luta, Conselho de Guerra, Secretariado Permanente, órgãos de topo, e depois disseca a base, a partir dos comités de tabanca até aos comités nacionais, mais tarde as frentes Norte e Sul. É este o nível de orgânica, entre tabancas e regiões que o autor faz entrevistas; segue-se uma análise das organizações militares, do sistema judicial e como foi evoluindo, até 1973, a ideia de Estado separado do Partido. Explica detalhadamente a campanha eleitoral de 1972 e dá os números para eleição da Assembleia Nacional.

O seu estudo conclui uma digressão sobre a organização socioeconómica e cultural do PAIGC, desvela o funcionamento dos armazéns do povo, quais as mercadorias aqui transacionadas, passa depois para os cuidados médicos e de saúde, a rede hospitalar e pessoal médico, quais os postos sanitários e brigadas de saúde e sua localização; refere a política de educação, os conteúdos e como, por via da cooperação, o PAIGC solicitou bolsas em áreas-chave: ciências agronómicas, medicina, economia, direito, várias especialidades na engenharia, e humanidades, e depois dá números dos bolseiros até 1973 e reserva uma última palavra para a posição das mulheres na luta armada e nas áreas libertadas.

As reflexões finais centram-se no conceito de mobilização política que ele associa a um processo político e a mecanismos através dos quais os líderes organizam diferentes apoios para a luta revolucionária, apelando tanto à libertação como à necessidade de lançar as bases de uma satisfação material e ao respeito pela dignidade humana. Dos seus inquéritos, o cientista não esconde que encontrou estruturas autoritárias e profundamente hierarquizadas, baixo nível educativo do povo em geral e casos patentes de inércia social, a despeito de uma capacidade inequivocamente agressiva dos grupos armados.

Em suma, um estudo que devia ser retomado em futuros trabalhos históricos, dado o seu ineditismo e profundidade de análise social.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10281: Notas de leitura (394): Colectânea "Toda a Memória do Mundo", iniciativa da Câmara Municipal de Cascais, 2006 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10295: Parabéns a você (463): António Fernando Marques, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

Para aceder aos postes do nosso camarada António Fernando Marques, clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10287: Parabéns a você (459): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil (Angola, 1969/71) e José Luís Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10294: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (60): Obrigado, querido blogue, pelo reencontro do Xico Coelho, ex-fur mil da CCAÇ 2466 (Bula e Encheia, 1969/70), de quem, tinha perdido o rasto... Natural de Portel, vive em Almada, e chegou até mim através do blogue (Armando Pires)



Guiné > Região do Cacheu > Bula > 1969 >CCAÇ 2466 > Patrulha à Ponta Consolação > "Eu na secção do Xico Coelho. Ele vai à frente e eu atrás dele. Em pé."

Foto (e legenda): © Armando Pires (2012). Todos os direitos reservados



1. Mensagem, com data de ontem,. do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70) [, foto à direita],

Meu Caro Luís Graça, Camarada: Gostaria que entregasses este meu agradecimento ao nosso querido Blog. Abraços.

Querido Blog:

Hoje trouxeste mais uma grande emoção à minha vida e quero, por isso, agradecer-te. Como se fosse necessário. Como se eu não soubesse o quanto rejubilas de alegria sempre que cumpres o teu destino.

Quero dizer-te que me telefonou o Xico Coelho.

Depois de tantos “desaparecidos”que devolveste ao meu convívio, ainda recentemente foi aquele rapaz de Espinho, o Bernardino Cardoso, ex-fur mil do EREC 2454, que esteve comigo em Bula, no ano de 69, agora foi a vez do Xico Coelho, de quem eu nada sabia há 43 anos.

O Xico foi furriel miliciano da CCAÇ 2466, companhia que pertenceu ao meu Batalhão, e que esteve juntamente connosco em Bula, entre Fevereiro e Agosto de 1969. Depois a sede do Batalhão mudou para Bissorã e a 2466 foi cumprir o resto da comissão a Encheia.

Alentejano de Portel, o Xico vive em Almada, do lado de lá do rio, aqui mesmo em frente dos meus olhos. Homem pouco dado às tecnologias, contou-me ele, reformou-se e a neta convenceu-o a comprar um computador e a iniciar-se na arte da navegação. Ainda tropeça nas velas mas lá vai indo. 

Estava ele a ver se encontrava uma loja que vendesse uns produtos hortícolas, de que necessitava lá para a horta de Portel, quando a busca encalhou em Luís... Luís qualquer coisa que o importante é que estava lá escrito GUINÉ.

E o Xico entrou. Com tanta sorte que nas diferentes ofertas que o Luís Graça nos faz, ele mergulhou directamente nas tuas páginas. Ansioso e pasmado com o que via e lia – isto é sempre ele a contar-me – foi andando, andando, quando reparou que havia ali uma lista de nomes, dos nomes que são a tua família.
- Deixa cá ver se conheço aqui algum gajo …ora fulano … beltrano … Armando Pires …ó raio! Armando Pires?!? Será que é ele?  [, Foto do Armando Pires, à esquerda, no tempo de Bula].

Era eu!!! E tu deste-lhe o meu número de telemóvel para ele me falar.

Foram momentos indescritíveis. Recordações, riso e emoção. Que partilhei, logo de seguida, com outros camaradas da Companhia do Xico que dele também não sabiam há muito.

Agora estamos junto. Outra vez juntos. Graças a ti. Quero por isso agradecer-te, meu querido Blog.


2. Nota posterior do Armando Pires (24/8/2012, 19h16):

Meu Caro Luís Graça, Camarada: Muito obrigado pelas palavras que me diriges no teu comentário.
E agradeço a brevidade com que "publicaste" a minha carta porque isso deu um forte contributo para que o Xico Coelho se tivesse entusiasmado e acelerado o seu "curso de patrão de costa".
Só foi pena, e peço-te, com toda a sinceridade, que não tomes como crítica, que não tivesses reparado na segunda página do meu documento, porque ela levava uma fotografia minha com o Xico Coelho. O texto acabava e já não suportava que, encostado a ele, colasse a foto. Daí quue ela tenha saltado para a página seguinte. Presumindo que já tenhas eliminado o documento, dado que já publicado, só por curiosidade, a foto é a que vai em anexo e a legenda era esta: Eu na secção do Xico Coelho. Ele vai à frente e eu atrás dele. Em pé.

Para a próxima, já sei, componho os espaços de forma a que as fotos fiquem juntas. Um grande abraço e um bom fim de semana. Armando Pires.

3. Comentário de L.G.:

Armando: Tens toda razão. Transcrevi o teu texto, em formato doc, mas "deixei cair" a foto, que vinha na página dois. Foi oportuna a tua chamada de atenção. E logo que pude, mesmo em férias, fiz a correção que se impunha. Para tua informação, guardamos sempre em arquivo as mensagens que nos chegam, com os respetivos anexos (se for caso disso). Como eu costumo dizer, aqui tudo se guarda, com exceção do lixo (mensagens Spam ou correio indesejával). Quanto aos comentários que fiz ao teu poste, são do seguinte teor: 


(i) "O todo é sempre maior do que a soma das partes... É por isso que dizemos, com humor mas também com carinho, que o mundo é pequeno e nossa Tabanca... é Grande. Com este blogue temos e faremos o que quisermos, nós, os camaradas da Guiné... Fico feliz por ver felizes camaradas como o Armando Pires, o António Nobre ou o Henrique Cerqueira... Por mim, continuarei a teclar e blogar até que os dedos... me doam! De Candoz com um xicoração para todo o pessoal. LG".

(ii) "De facto, é tocante... alguém, um camarada de barba rija, tratar o blogue dessa maneira, 'meu querido blogue'... O Armando é dos camaradas que dão alma e sentido a este projeto que aqui nos reúne, todos os dias, às vezes mais bem dispostos, outras vezes nem por isso... LG".
PS - Armando, traz o Xico ao nosso convívio!

Guiné 63/74 - P10293: Tabanca Grande (356): Adelino Barrusso Capinha, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCS/BART 1904 (Bissau e Bambadinca, 1967/68)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Adelino Barrusso Capinha (ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCS/BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1967/68), com data de 17 de Agosto de 2012:

Caros camaradas
Acabei de aceder ao vosso blogue e desejo fazer a minha apresentação:

Sou: Adelino Barrusso Capinha,
Posto: Ex-1.º Cabo
Especialidade: Operador Cripto 
Pertenci à CCS do BART 1904 e estive em Bissau e em Bambadinca nos anos de 1967/68

Moro em Ladoeiro, Castelo Branco.

Neste momento não tenho disponível foto militar que prometo enviar logo que possível.
Em anexo foto actual.

Um abraço
Adelino Capinha

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (lado leste) do aquartelamento, ligando à estrada Bambadinca-Bafatá. Ao fundo, o Rio Geba Estreito.

Foto © Humberto Reis (2006) 


2. Comentário de CV:

Caro camarada Adelino Capinha, bem aparecido na Tabanca Grande onde te poderás instalar e começar logo que queiras, ou possas, a contares à tertúlia as tuas memórias e enviar fotos para publicação.

Não saberás, mas a jóia para ser admitido é contar uma pequena história que poderá ser de um qualquer momento que te tenha marcado, e foram muitos por certo, desde a viagem de ida, passando pelo tempo em que cumpriste a tua comissão, até à viagem de regresso.

Ficas devedor ao Blogue, mas não te preocupes porque terás muito tempo para acertar contas.

Se tiveres alguma dúvida que queiras ver esclarecida, tens à tua disposição a caixa de correio do Blogue: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, assim como as dos dois co-editores, eu e o Eduardo Magalhães, que encontrarás no lado esquerdo da nossa página.

Antes de terminar esta tua apresentação, envio-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10289: Tabanca Grande (355): Manuel Dias Pinheiro Gomes, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM / Agrupamento de Transmissões da Guiné (Catió e Bissau, 1970/72)

Guiné 63/74 - P10292: Blogoterapia (214): A minha Praia (Henrique Cerqueira)

Praia da Luz - Foz do Douro - Porto

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira* (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 22 de Agosto de 2012:

Camarada Carlos Vinhal
Hoje aconteceu que fui apanhado pela “Nostalgia” e vai daí escrevi com o lápis e com o “Coração”.
Como dará para ver, e como sempre lembro, não sei “escrever” para todos lerem mas arrisquei, e como este escrito é mais do coração que da “pena”...

Um abraço
Henrique Cerqueira


A minha Praia

Enfim instalado na areia dourada da minha praia preferida da Foz do Douro.
É de areia dourada e muito rochosa de cor acastanhada, que em certos momentos a paisagem nos faz lembrar outros locais utilizados em filmes de ficção sobre outros planetas. Mas neste local onde me instalei para saborear um pouco dos raios do nosso astro-rei para relaxar e bronzear um pouco corpinho, tenho à minha frente o meu Oceano azul, salpicado aqui e ali por crista brancas, com a sua linha do horizonte como que riscada a régua e esquadro numa tela de fundo azulada, onde se encontra com o céu salpicado de alguns novelos de nuvens acinzentadas.
Mais próximo da praia, a escassas dezenas de metros, lá está o "Velho Gilreu" que é uma ilhota ou seja um grande rochedo no meio do mar, como que a lembrar os meus tempos de jovem adolescente, que à boleia de alguns barqueiros, formávamos pequenos grupos de rapazes e raparigas para irmos apanhar lapas e mexilhões, e com um pouco de sorte um beijinho ou outro da nossa miúda.

Mas o que pode interessar assim tanto a minha praia? Afinal há tantas praias e todos poderão ver o horizonte, o Gilreu e a paisagem.
Pois é... Só que não a veem com os meus sentidos e muito menos com as minhas recordações. Ou ainda com a falta delas naqueles dois anos passados na Guiné, longe tão longe da minha praia. Tinha as recordações dos anos anteriores não é? Não na verdade eu lá na Guiné não recordava a minha praia, o meu mar, o meu Gilreu, não... não recordava.

Quando tentava recordar só aparecia uma imagem na minha cabeça, imagem essa que era como um letreiro a neon que piscava incessantemente... Até que consegui decifrar esse letreiro.
Não... não era o nome da minha praia, nem imagens da minha praia, nada disso. Depois de muito tentar eu decifrei e... então entendi a mensagem que era: "Tens que sobreviver a isto. Tens que voltar à tua praia".

Eu estive lá e voltei, e hoje a minha praia está tal e qual como quando a deixei nesses dois anos. Já não posso ir ao Gilreu aos mexilhões e às lapas mas estou aqui espraiado ao sol mirando o meu horizonte, o meu Gilreu e o meu mar. Estranho... também estou triste, e porquê? Já sei, é que tive camaradas e amigos que jamais voltaram para ver a "Sua Praia".

Quem sabe, um dia nos encontraremos noutro "Espaço" e então eu lhes falarei da minha praia. Quem sabe?...

Hoje escrevi estas letras movido por alguma nostalgia quando estava na praia a desfrutar um pouco de sol, e como tenho que fazer alguma coisa na praia, geralmente ocupo o tempo com papel e lápis.
Hoje desculpo-me perante vós com esta escrita mal alinhavada e ao correr da pena, no entanto gostaria que vissem a minha e a vossa praia com o sentimento real e verdadeiro que hoje vi.

Um grande abraço e um bom Verão para toda a tertúlia deste Blogue
Henrique Cerqueira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10220: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (12): Os primeiros encontros, em Bissorã, com o inimigo de ontem (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, CCAÇ 13, 1973/74)

Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10275: Blogoterapia (213): Amizades encontradas nas bolanhas e matas do nosso Blogue (José da Câmara)

Guiné 63/74 - P10291: Convívios (466): 4º encontro dos ex-combatentes do Seixal, Lourinhã, que participaram na guerra colonial: sábado, 26 de agosto (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

1.  Notícia que nos chegou, com pedido de publicação,  por mão do nosso amigo e camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil pára (BCP 21, Angola, 1970/72) [,foto atual à direita]:


4.º ENCONTRO DOS EX-COMBATENTES DO SEIXAL PARTICIPANTES NA GUERRA COLONIAL > 26 DE AGOSTO DE 2012


PROGRAMA:

10.00 HORAS – Seixal, Lourinhã: Concentração dos participantes junto à igreja local;

– Missa em memória do Arsénio Bonifácio Marques da Silva,  natural do Seixal, de todos os demais jovens que tombaram durante a guerra colonial ao serviço de Portugal, e ainda dos ex-combatentes que já faleceram;

- Partida para a Lourinhã: Romagem ao cemitério da Lourinhã; colocação de uma coroa de flores na campa do Arsénio Bonifácio e dos ex--combatentes do Seixal já falecidos; 


12.30 HORAS – Lourinhã: Monumento dos Combatentes [, foto à esquerda, pormenor];

- Cerimónia de homenagem a todos os jovens da Lourinhã que tombaram durante a guerra ao serviço de Portugal.

13.30 HORAS – Seixal: Almoço convívio no clube local

Inscrições para o almoço até ao dia 22 de agosto

Contactos da comissão organizadora > Telem. 966878619 - 917818481 



2. Comentário do editor LG:

Já aqui demos conta, há três anos atrás,  da louvável iniciativa que foi a  Exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial (1961-1974).

A ideia original desta exposição documental  e fotobiográfica foi do Jaime Bonifácio Marques da Silva,  licenciado em ciências do desporto, professor de educação física reformado, antigo vereador da cultura da Câmara Municipal de Fafe, ex-Alf Mil Pára-quedista (BCP 21, Angola, 1970/72), grande dinamizador de iniciativas ligadas à preservação da memória dos antigos combatentes da guerra colonial (nomeadamente, em Fafe, onde vive, e na Lourinhã, terra que o viu nascer).

A comissão organizadora do evento, na altura, era constituída pelo Jaime e pelo Arménio Pereira (que recolheram os depoimentos orais, escreveram as notas biográficas e seleccionaram o material fotográfico), bem como pelo José Maria Malaquias (responsável pelo apoio logístico).

A exposição de 2009 era constituída por 33 posters, sendo o primeiro de apresentação e de enquadramento, incluindo o contexto histórico da guerra colonial, e a lista do pessoal. Cada um dos restantes 32 posters era dedicado a cada um dos 32 seixalenses que combateram na guerra colonial, alguns integrados na Marinha ou na Força Aérea, mas a maioria no Exército.

Ao todo foram 39 os ex-combatentes seixalenses, mas houve 7 que não foi possível contactar em tempo útil, por viverem  fora da terra ou no estrangeiro. A exposição teve um triplo objetivo, segundo os seus organizadores: (i) lutar contra a cultura do esquecimento que se instalou em Portugal após o final da guerra colonial; (ii) relembrar e homenagear aqueles que fizeram a guerra, obrigados ou não, que derem o melhor de si à sua Pátria, independentemente da legitimidade daquela guerra, e do regime político que a promoveu, manteve e conduziu; e por fim (iii) 
juntar num primeiro e salutar convívio os jovens o Seixal que lutaram em África, desde 4 de Junho de 1961 [data em que partiu o primeiro para Angola, o João Matias] até ao dia 6 de Novembro de 1975, data do regresso do último, o Mário João, também de Angola.

Dos 39 combatentes seixalenses (, até agora recenseados) houve um, o Arsénio Marques Bonifácio da Silva, primo do Jaime, que norreu em Angola. E outro, o Carlos Alberto Seixas,  foi gravemente ferido, tendo ficado incapacitado para realizar uma vida normal.

Eis uma nota sobre os seixalenses que passaram pelo TO da Guiné:

(i) Joaquim Pereira Marques: fez parte da CCS/BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68): da sua ficha, consta que durante a sua comissão esteve destacado nos aquartelamentos de Fá e Bambadinca , onde actuou como operacional em inúmeras operações de combate, de reconhecimento e de apoio às operações dos fuzileiros. Felizmente, a sua companhia não sofreu baixas. Esteve 14 anos emigrado em França. Vive hoje no Seixal.

(ii) José Maria Malaquias: soldado condutor auto, Pel Mort 2174 (Dugal / Nhacra e Bissau, 1969/71). Esteve a maior parte do tempo no Quartel Geral de Adidos, dando apoio a Movimento Nacional Feminino. Emigrou para o Canadá.

(iii) Adão Cipriano Andrade: foi ajudante de cozinha no Quartel Geral deAdidos, em Bissau (1965/67). Diz que foi uma “rica vida”, tendo lá passado “o melhor tempo de tropa”. Após a “peluda”, trabalhou na agricultura e na reparação automóvel. Está hoje reformado.

(iv) Alexandre M. Santos: Sol Atirador Inf, fez parte da CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 (Carenque e Texeira Pinto, 1971/73). Vive no Seixal, salvo erro.

(v) Estêvão Alexandre Henriques: ex-Fur Mil Mecânico Rádio-Montador, CCS/BCAÇ 1858, Bissau, Teixeira Pinto, Catió, 1965/67). Era amigo do Sold José Henriques Mateus, da CCAÇ 1423/BCAÇ 1859 (Bolama, Empada, Cachil, 1965/67), um camarada de que já aqui falámos e que desapareceu misteriosamente, em Outubro de 1966, numa cambança (Era natural da Areia Branca, povoação vizinha do Seixal). Devido à sua especialidade,o Estêvão nunca participou em operações de combate. É hoje empresário rádio técnico em Peniche. E é também um famosíssimo coleccionador de instrumentos de bordo de navios de pesca (bússolas, sonares, rádios, além de miniaturas de barcos). Já o convidei a integrar a nossa Tabanca Grande, bem como ao Jaime.