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Fotos do álbum dio Hugo Costa, filho do Albano Costa, dois dos nossos grã-tabanqueiros. É caso para perguntar: o que é que estamos a contar às criancinhas, em Portugal, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, sobre a guerra do passado, de "guerra de libertação", para uns, "guerra do ultramar/guerra colonial", para outros ?
Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legenda: L.G.]
1. Mais comentários ao poste P12669 (*):
(i) Luís Graça (**)
A. Com a devida vénia reproduz-se o texto introdutório sobre o "Museu da Guerra Colonial", inserida na respetiva página, a qual integra o portal do Munícipio de Vila Nova de Famalicão:
(...) A história do Museu da Guerra Colonial começou a desenhar-se durante o ano lectivo de 1989/90, quando trinta alunos oriundos de várias freguesias dos concelhos de Vila Nova de Famalicão, Barcelos e Braga participaram num projecto pedagógico-didático conjunto a que chamaram "Guerra Colonial, uma história por contar".
Através da metodologia da história contada oralmente, os alunos recolheram o espólio dos combatentes das suas áreas de residência. Surgiram então vários documentos como processos de morte e de ferido, correspondência, [relatórios] de companhia, diários pessoais, diários de acção social e psicológica, relatos e processos confidenciais, objectos de arte, fotografias, bibliografias, objectos religiosos, fardamento e armamento, enfim um manancial de fontes que permitiu, entre outras coisas, organizar uma exposição e nela reconstruir o "itinerário" do combatente português na guerra colonial.
Em 1992, iniciou-se um trabalho de colaboração com a Delegação da Associação dos Deficientes das Forças Armadas de Vila Nova de Famalicão, em que foram efectuados novos estudos regionais com base nos arquivos e membros desta instituição, bem como foi ampliada a exposição com a integração de novos estudos e materiais. Como resultado desta colaboração, a exposição percorreu vários eventos culturais e várias localidades.
Finalmente, em Maio de 1998, foi celebrado um protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Delegação da ADFA de Famalicão e Externato D. Henrique de Ruilhe de Braga, que serviu de acto solene e formal para a criação do Museu da Guerra Colonial.
O Museu rege-se pela recolha, preservação e divulgação de fontes e estudos, reformulação técnica da exposição permanente, constituição de um centro documental e o alargamento de novos estudos na região. (...)
B. Meu caro Mário::
Cito a tua nota de leitura (que apreciei e mais uma vez agradeço):
(...) “O terceiro inquirido refere que atacaram uma base inimiga junto ao Senegal e que despacharam milhares de inimigos. Como é evidente, num trabalho desta natureza um professor não pode confrontar a verdade das afirmações, se se ia fazer um quartel em S. João, se houve um ataque à base aérea de Bissalanca. Mas, creio eu, não pode ficar insensível à afirmação de “despachámos milhares de inimigos”, coisa que nunca aconteceu em nenhum teatro de operações nem podia acontecer, atendendo à natureza daquela guerra. Vamos supor que ninguém deu pela barbaridade ou aceitou a informação como plausível. É de questionar como tal declaração é percecionada pela opinião pública e os preconceitos que pode suscitar a patranha ou farronca de quem, entrevistado por gente inocente, se julga à vontade para proferir pesporrência. Vamos admitir que se trata de um caso isolado. Mas ninguém leu esta brochura que foi distribuída por uma autarquia, ninguém reagiu, ninguém se consternou com a gravidade da declaração ofensiva?” (...)
Mário, meu amigo e camarada da zona leste da Guiné: tens toda a razão. A Guiné e todos nós, que por lá passámos, ficamos mal na fotografia se algum dos nossos filhos, netos e bisnetos um dia folhear o livrinho (48 páginas, ilustradas), editado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão…
Dos três depoimentos sobre a Guiné, o terceiro, acima reproduzido, é de fato o mais hilariante…
Tens razão, quando dizes que já não basta indignarmo-nos. Eu sei que ainda estamos, felizmente, vivos e capazes de nos indignarmo-nos. E podemos e devemos fazê-lo aqui, no nosso blogue, exercendo o elementar e saudável direito à indignação.
Mas a indignação não chega, como temos visto e sentido nestes últimos anos, tantas ou tão poucas são as tropelias e sacanices a que nós, os combatentes, temos sido sujeitos, desde a demagogia das promessas vãs às tentativa de instrumentalização das associações de veteranos, à discriminação dos combatentes no 10 de junho, etc.
As muitas centenas de combatentes, dos 3 ramos das Forças Armadas Portuguesas, que por aqui já passaram, no blogue, e que viram publicadas as suas fotografias (dezenas de milhares) e os seus textos (já perto de 12700) no espaço de menos de 10 anos, têm todas as razões para se sentirem insultados e indignados pela inqualificável aldradice e pela miserável fanfarronice de um suposto combatente de Vila Nova de Famalicão (ou de um concelho vizinho, Braga, Barcelos…) que, no TO da Guiné, "chegou, viu e venceu", como se aquela guerra fosse uma alegre "coboiada" em que os sete magníficos trucidam os
maus da fita, os índios, aos milhares...
Em Bissau, este tipo de patranhas contavam-se despudoradamente na famigerada 5ª Rep, alcunha do Café Bento...
Às vezes a ânsia de protagonismo de alguns (, aliada à alarve ignorância de outros) pode levar a resultados, infelizes, como estes... É uma pena que esta nódoa, numa publicação como a "Guerra Colonial: uma história por contar", acabe por manchar o bom nome e a boa imagem do Externato Infante D. Henrique e do seu corpo docente, bem como do município de Vila Nova de Famalicão e dos seus eleitos, sem esquecer a delegação local da ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas, três entidades que estão na origem deste “Museu da Guerra Colonial”.
De acordo com a Porbase – Base Nacional de Dados Bibliográficos, a brochura que tu recenseaste, não é um obscuro opúsculo, condenado ao pó das gavetas, não!... É uma publicação formal, com depósito legal na Biblioteca Nacional, onde foi catalogada da seguinte maneira:
Título: Guerra colonial: uma história por contar... / Org. Externato Infante D. Henrique
Autor(es): Externato Infante Dom Henrique, co-autor
Publicação: Vila Nova de Famalicão : Câmara Municipal, 1992
Descr. Física: 48 p. : il. ; 30 cm
Dep. Legal: PT -- 61549/92. CDU: 355.48 (6=690)
355.48(547).
Uma louvável iniciativa didático-pedagógica deu origem a um livro, de múltiplos autores, em que falhou redondamente o papel do editor literário (presumivelmente, o professor da disciplina de Antropologia Cultural do Externato).
Regras tão elementares como o bom senso, o bom gosto, o uso do contraditório, a confirmação da veracidade dos factos (topónimos, datas, unidades militares, números de baixas, etc.), saturação da informação, triangulação das fontes... foram puramente e simplesmente esquecidas ou escamoteadas....
Mário: eu para já sugiro que se exponham aqui os nossos pontos de vista... Afinal, somos parte intereesada nesta "história por contar"... E este o cantinho do "ciberespaço" onde nos fazemos ouvir...
Não sei se valerá a pena publicar uma "carta aberta" ao representante da autarquia, de contestação e de protesto, exigindo aos autores (ou editor literário) que façam uma adenda… “pedagógico.didática” ao tal livrinho...
De qualquer modo, o que ocorre para já dizer, é: "Por favor, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra!"...
(ii) Carlos Pinheiro
Acho que estas faltas de cuidado devem ser comentadas e desmontadas as “originais “ invenções de alguém. Por isso aqui estou a dar a minha melhor colaboração para o esclarecimento da verdade dos factos
Refiro-me somente ao caso do ataque à BA 12, Bissalanca. Segundo o autor desconhecido (mas que disse trabalhar no Centro de Mensagens do Q.G.), a determinada altura, dado o ataque à Base de Bissalanca, ele dirigiu-se a outra Base para prestarem o apoio aéreo que Bafatá pedia.
Mas que outra Base? Onde? Por amor de Deus!
A publicação de livros, e muito especialmente livros publicados com dinheiros públicos, como foi o caso em análise, deveria, sempre, pautar-se pela verdade dos acontecimentos. Não foi o caso e foi pena.
(iii) Sousa de Castro
Para mim, este trabalho publicado em Famalicão é de facto muito infeliz. O Operador de MSG contou algo que lhe contaram, o chamado jornal de caserna é o "diz que disse"; por outro lado não há, em TRMS, msg "muito urgentes", há 4 tipos de msg, Relâmpago (Z), Imediato (O), U rgente (P) e Rotina (R), para além doutros procedimentos.
(iv) José A. Câmara:
Caros amigos e camarada,
Acabei de enviar correio electrónco ao Sr. Presdidente da Câmara de Vila Nova deFamalicão. Julgo que é o mínimo que posso fazer nas circunstâncias. Mas há mais formas de de demonstrarmos o nosso desagrado. Neste e em tantos outros casos de lesa verdade.
"Senhor Paulo Cunha,
Presidente da Câmara Municipal de
Vila Nova de Famalicão
Sr. Presidente,
Abaixo encontrará as devidas hiperligações para o assunto em epígrafe. A verdade dos factos tem que ser resposta. Compete-lhe a si, como Presidente da Edilidade, tomar os devidos passos para que assim seja.
Os Famalicenses e toda uma sacrificada geração que serviu na Guerra do Ultramar merecem que a verdade dos factos, nada mais que isso, tenha o seu lugar na divulgação da história.
Os jovens alunos de hoje, homens de amanhã, não devem ser confrontados com o facto da sua Câmara Municipal e a sua escola lhes terem mentido. Porque é disso que se trata, na medida em que a responsabilidade da publicação desta patranha é da sua responsabilidade.Sem outro assunto, apresento-lhe cumprimentos.
José A Câmara
Furriel Mil
CCaç 3327/BII17
Comissão: Guiné, 1971/1973"
____________________
Notas do editor:
(*) Vd. Vd., poste de 3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)
(...) Queridos amigos, é de todos sabido que o silêncio ou indiferença perante uma patranha de contornos revoltantes é manifestação de cobardia ou de espírito acomodatício a quem conhece o fundo e a forma da realidade infamada. O assunto que vos ponho à reflexão é de como agir e denunciar uma declaração ignóbil, daquelas que serve de rastilho para olhar com preconceito o que foi a vida de um combatente em África.
A indignação, por si só, não leva a ponto nenhum. O que talvez fosse útil debater é como agir perante uma barbaridade como aquela que aqui vos conto. (...)
(**) Último poste da série > 4 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12675: Direito à indignação (9): A (des)propósito do livro "Guerra Colonial: uma história por contar"...que esteve na origem da criação do Museu da Guerra Colonial, em Vila Nova de Famalicão (Beja Santos / Carlos Vinhal / José Manuel M. Dinis / José Martins / A. Eduardo Ferreira / Fernando Gouveia / António J. Pereira da Costa / Alberto Branquinho / C. Martins)