quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13494: Efemérides (172): Ainda o Naufrágio no Rio Geba em 10 de Agosto de 1972, aflorado no P10246

A propósito da passagem dos 42 anos sobre o "Naufrágio no Rio Geba", ocorrido em 10 de Agosto de 1972, que resultou na morte de três militares da CART 3494, lembrado pelo nosso camarada Jorge Araújo no Post 13482 de 10 de Agosto passado e pelo nosso camarada António José Pereira da Costa no Post 13493 de hoje, e seguindo a sugestão deste útltimo camarada, republica-se aqui e agora o primeiro Poste a aflorar o acontecimento, também de autoria do ex-Fur Mil Op Esp Jorge Araújo da CART 3494, o Post 10246 de 10 de Agosto de 2012. 

Os Editores
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1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74), com data de 9 de Agosto de 2012: 

Caríssimo Camarada Luís Graça, e restantes operacionais do nosso blogue:

Os meus melhores cumprimentos.

Serve o presente para anexar uma narrativa dos acontecimentos relacionados com o Naufrágio de 10 Ago 1972, no Rio Geba, envolvendo alguns militares da CART 3494.

Através desta metodologia pretende-se transferir o conhecimento individual de quem viveu de forma intensa aquele contexto, descrevendo-se um conjunto de detalhes julgados pertinentes com o objectivo de se conceber a sua história, agora que estão decorridos quarenta anos após esse acidente.

Ela é, ainda, mais uma pequena contribuição que é disponibilizada à opinião pública, por meio deste espaço plural de partilha, como é o caso da «Tabanca Grande», sobre as diferentes ocorrências registadas durante o conflito militar no CTIG, quer ela seja interpretada pelos ex-combatentes quer se trate da análise a realizar pelas gerações mais novas no âmbito multidisciplinar.

Obrigado pela atenção.
Jorge Araújo.
Ex-Furriel Mil Op Esp/RANGER
CART 3494
Xime-Mansambo
1972/1974


O RIO GEBA E O MACARÉU 

O NAUFRÁGIO NO DIA 10.AGO.1972

I – O NAUFRÁGIO NO RIO GEBA – 10.AGO.1972

No intervalo das duas emboscadas sofridas pela CART 3494 na Ponta Coli, local situado na estrada entre o Xime e Bambadinca, e já objecto de narração anterior (Postes 9698* e 9802*), focalizámo-nos hoje em mais um acontecimento que marcou a vida colectiva dos seus membros, em particular daqueles que directamente nele estiveram envolvidos, e que ficou conhecido, na história da Companhia e do Batalhão, como o Naufrágio no Rio Geba. 

Este episódio verificou-se exactamente a meio dos dois acontecimentos anteriormente assinalados, contabilizando-se um período de cento e onze dias entre cada um deles, o que é uma coincidência interessante. 

Durante alguns minutos vivemos entre a água e o céu, entre a terra e o inferno, entre a vida e a morte, sendo que esta última expressão/conceito viria a aplicar-se, lamentavelmente, a três dos catorze militares que naquela 5.ª feira, dia 10 de Agosto de 1972, faz hoje quarenta anos, tinham por missão fazer a travessia entre as margens esquerda e direita do Rio Geba, por esta ordem, com o objectivo operacional de sinalizar eventuais vestígios deixados no terreno pelo IN, vulgo reconhecimento à zona circunvolvente ao Destacamento de Mato Cão. 

Curiosamente, nessa mesma data, foi testemunhado o movimento de um meteoro, que se tornou conhecido como A Grande Bola de Fogo Diurna de 1972, sobre as Montanhas Rochosas do Sudoeste dos EUA em direcção ao Canadá e que, caso tivesse explodido (dizem os cientistas),  seria semelhante à explosão de Hiroshima (Bomba Atómica Little Boy), ocorrida em 03.Ago.1945, ou seja vinte e sete anos antes, e que acabaria por estar ligada ao términus da II Guerra Mundial concretizado oficialmente após a assinatura do armistício verificada em 02.Set.1945, na Baía de Tóquio. 

Entretanto, a travessia do Rio Geba, a iniciar-se no Cais do Xime, seria feita com recurso a um bote de fibra de vidro conhecido por Sintex, com motor fora de bordo de 50 Cavalos, sendo sugerida, como elemento de segurança, que a sua lotação não deveria ultrapassar a dezena de indivíduos, incluindo o barqueiro. 

Para se ter a noção deste tipo de embarcação, uma vez que não existem imagens reais da ocorrência, seleccionámos a foto ao lado, publicada pelo Correio da Manhã em 27.Jun.2010, na rubrica “A Minha Guerra”, e que serviu para enquadrar a História de Guerra contada pelo nosso amigo e camarada ex-alferes Joaquim Mexia Alves,  naquele órgão de comunicação social. 

Porém, tudo leva a crer que estamos perante o mesmo bote que foi utilizado naquele dia 10 de Agosto, uma vez que o ex-alferes Mexia Alves, ao ser nomeado CMDT do Pel Caç Nat 52 algum tempo depois, viria a ser colocado no Destacamento de Mato Cão, ficando este sob a jurisdição do BART 3873, e, portanto, dependente do seu apoio logístico. 

Com efeito, e porque ainda hoje subsistem algumas dúvidas sobre como tudo aconteceu, nomeadamente causas e efeitos das decisões tomadas pela linha de comando, este texto corresponde tão só e apenas ao que ainda guardamos em memória deste tema (e ainda bem que o ser humano tem memória), uma vez que também neste caso estivemos envolvidos até ao tutano. 

Procuramos, através da informação retida e das muitas imagens ainda bem presentes, caracterizar cada elemento do todo fenomenal, com o objectivo de acrescentar algo mais ao que já foi tornado público em outras ocasiões, em particular no Blogue da CART 3494 (vidé: poste 17 (10.fev.2009); poste 29 (22.mar.2009) e poste 44 (12.nov.2009). 

Tal como nos depoimentos anteriores, o método utilizado assenta numa estrutura organizada cronologicamente a partir de cada um dos diferentes momentos: o antes, o durante e o depois dos factos. 


II – O DIA 09 DE AGOSTO DE 1972

Tendo por cenário as ocorrências contabilizadas durante a primeira emboscada sofrida pela CART 3494, através do seu 4.º GComb, no dia 22.Abr.1972, levando-o a ficar inoperacional por algum tempo, como consequência dos diferentes graus de enfermidade e de inferioridade física de parte significativa dos seus elementos, foi decidido superiormente que transitaríamos de imediato para o 1.º Pelotão, em virtude deste GComb estar desfalcado de quadros de comando. 

Esta transferência, que no início tinha carácter provisório acabaria por ser definitiva, pelo que nos mantivemos neste pelotão até ao final da comissão de serviço no CTIG, justificada, em certa medida, pela transferência do seu oficial adstrito (ex-alferes Carneiro) para uma CCaç, e que, por motivos que desconhecemos, não viria a ser rendido. 

Assim, em conformidade com o plano das acções/missões atribuídas a cada pelotão, o dia 09 de Agosto de 1972 foi passado no cumprimento das diferentes tarefas logísticas internas como sejam a limpeza, recolha e abastecimento de água pelos diferentes abrigos e outros serviços de manutenção ao aquartelamento, sob a orientação operacional dos três furriéis do grupo: Godinho, Ferreira e eu próprio. Concluídas as diferentes missões, o restante tempo que faltava para encerrar o dia foi utilizado no jantar, na messe, e depois recolhemos ao nosso Tê Zero, procurando recuperar energias para o dia seguinte, já que a missão atribuída na escala era de intervenção, desconhecendo-se, naquele momento, o que estava previsto ou pensado para esse efeito. 

Já na posição horizontal, recebendo o ar fresco da ventoinha suspensa na estrutura da cabeceira da cama, eis que entra no quarto o ex-Furriel Ferreira, com ar de poucos amigos, contando que tinha sido chamado ao Gabinete do CMDT da Companhia, ex-Cap. J. A. Pereira da Costa, líder da CART 3494 desde 22.Jun.1972, recebendo instruções para preparar a sua Secção (Bazuca) reforçada com mais alguns elementos do Pelotão, com o objectivo de no dia seguinte, de manhã, participar num patrulhamento a efectuar na margem direita do Rio Geba, estando prevista a inclusão, na acção, do Major de Operações do BART 3873, ex-Major de Art. Henrique Jales Moreira. 

Perante os sinais de ansiedade transmitidos em cada frase emitida e o nervosismo sentido em cada movimento corporal, logo o questionámos – eu e o Godinho – o que se passa contigo? 

A resposta não foi imediata. Mas, depois de alguma insistência, afirmou sentir-se um pouco em baixa de forma. Perguntei-lhe se queria que eu fosse no seu lugar. A sua resposta foi afirmativa, deixando cair, então, um grande fardo que tinha sobre os seus ombros.

Questionado se já tinha dado instruções aos seleccionados para a missão, a sua resposta foi positiva. 

Passado algum tempo chega a informação de que o bazuqueiro, ex-Soldado Ricardo Teixeira (imagem ao lado), tinha ficado ferido durante o serviço de limpeza, em consequência de ter espetado um prego no pé, ao tentar compactar o lixo que se encontrava na viatura, deixando-o, assim, incapacitado para a tarefa agendada para o dia seguinte. 


III – O DIA 10 DE AGOSTO DE 1972 – o naufrágio no Rio Geba 

As actividades militares do dia em referência foram iniciadas com a concentração vs organização dos militares destacados para a acção identificada no dia anterior, grupo constituído por nove praças devidamente equipados para a missão, por mim próprio, a quem tinha sido entregue um rádio de transmissões AVP1, a que se juntou, no Cais do Xime, o CMDT da Companhia, ex-Cap. Pereira da Costa, o ex-Alferes Guimarães, em situação de Estágio Operacional e o ex-Major de Operações Henrique Jales Moreira, totalizando treze elementos. 
A este número faltava adicionar, ainda, o barqueiro do Sintex, perfazendo então um universo de catorze militares a transportar no bote que, como referido no ponto I, era aconselhada uma lotação máxima de dez indivíduos.

Parecendo estarem reunidas todas as condições operacionais para o sucesso da missão, embarcámos para o bote Sintex, distribuindo-se a totalidade dos elementos de modo equitativo, dando-se então início à navegação por volta das 09:00 horas. 

Depois de percorridas algumas dezenas de metros, verificou-se que o plano de água não permitia o avanço da embarcação, uma vez que o hélice do motor batia no fundo do rio, pois estávamos ainda na situação de baixa-mar, pelo que era necessário aguardar pela passagem do macaréu. Por isso regressámos ao local da partida, dando por concluída a primeira tentativa da travessia do Geba. 

Uma vez que o Aquartelamento distava do cais entre 250/300 metros, e a nossa presença não era necessária naquele contexto, decidimos ali regressar. Quando estávamos já no seu interior, muito perto da parada, depois de ultrapassada a porta de armas original, cujo modelo ou patente julgamos não ter sido registada, ouvimos um sinal sonoro no nosso rádio AVP1, que atendemos. O conteúdo da informação recebida dava conta da passagem do macaréu, pelo que se solicitava a presença de todos os militares no cais, para dar-se início a nova viagem. 
Contudo, foi com algum espanto e muita perplexidade que recebemos a notícia da passagem do macaréu, na medida em que conhecíamos mais ou menos bem a sua evolução no processo de enchimento da maré, devido à situação de proximidade com o rio, facto que suscitou em nós, desde o início, uma natural curiosidade pela observação deste fenómeno da natureza.

E o que é o fenómeno macaréu? 

A hidrografia explica que o macaréu é o choque das águas de um rio caudaloso com as ondas durante o início da maré enchente. 

Este fenómeno das marés, que dá origem à elevação do nível das águas oceânicas, faz com as mesmas invadam a foz dos rios, podendo formar ondas até dezenas de metros de largura, com três a cinco metros de altura, atingindo uma velocidade entre trinta e cinquenta quilómetros por hora. Esta poderosa massa de água que se transforma em onda pode durar entre quinze minutos e uma hora. 

Para além do Rio Geba, este fenómeno é observado em vários pontos dos cinco continentes, nomeadamente no Brasil, na foz do rio Amazonas e afluentes do litoral paraense e amapaense, como sejam os rios Araguari, Maicaré, Guamá, Capim e Moju, e na foz do rio Mearim, no Maranhão. 

Nessa região amazónica, esse fenómeno é designado por pororoca, mupororoca ou macaréu. Porém, outras designações são atribuídas ao mesmo fenómeno, com diferentes escalas, observado em diferentes rios do mundo, de que é exemplo o caso de Inglaterra, na foz dos rios Severn, Tamisa e Trent, conhecido por bore. Eis algumas imagens de cada um dos diferentes fenómenos. 


Na França, o exemplo observado na foz dos rios Gironda, Charante e Sena é conhecido por mascaret ou barre.

De regresso ao cais, as dúvidas suscitadas inicialmente quanto à oportunidade de dar-se início à travessia não se dissiparam, antes pelo contrário, elas ampliaram-se em função da qualidade de agitação da água do rio. Esta nossa avaliação era coincidente com a do Cabo Silva (um militar da Marinha, que durante mais de duas décadas viveu as experiências das diferentes marés por onde andou, por ter estado ligado às actividades dos submarinos) e que naquela ocasião se encontrava no cais, dirigindo os trabalhos de carregamento de madeiras para a embarcação civil CP10.

Esta conclusão resultou do facto de ter escutado a parte final da conversa havida entre aquele militar e o Major de Operações, em que o primeiro tentou convencer o segundo a não se fazer à água naquele momento, aconselhando-o a aguardar mais algum tempo de modo a diminuir o risco de um eventual acidente, mas sem sucesso. À ordem de avançar porque se fazia tarde, eis a mensagem que circulou, entrámos pela segunda vez no bote Sintex, mantendo-se a distribuição anterior. 

A partida aconteceu no local indicado na foto ao lado (Cais do Xime), agora em ruínas. 

O sentido da navegação corresponde igualmente à da imagem apresentada, sendo a margem esquerda aquela que se encontra à direita e a margem direita a que se encontra à esquerda. 

Demos, então, início à segunda tentativa da travessia do Rio Geba. Com a navegação a cargo do barqueiro, com o motor em funcionamento e com as águas muito agitadas, certamente que cada um de nós se interrogou quanto ao sucesso da aventuraem que tínhamos embarcado e que não tinha hipóteses de retrocesso. 

Logo nas primeiras dezenas de metros, os “palpites” começaram-se a escutar, na medida em que a embarcação não podia tomar o rumo certo. Uma ordem foi escutada: desligue-se o motor, o que foi acatado pelo barqueiro. Mas, mesmo assim, dava a sensação de que o bote continuava com o motor ligado, tal era a velocidade com que o mesmo deslizava naquelas águas revoltas. 

O pânico subia à medida que a embarcação se aproximava da cabeça do macaréu, cada vez com mais agitação e remoinhos à mistura. Naquele momento, um novo conceito surgiu no léxico dos militares, particularmente nas praças, que traduzia o sentimento que estavam a viver, ou seja “eu não sei nadar”, no princípio entredentes e depois mais audíveis e expressivos. 

O cenário começava, então, a ficar cinzento, diria mesmo muito cinzento no sentido da cor negra, independentemente de estar um dia óptimo, cheio de sol e com a temperatura ambiente a aumentar. 
A pergunta filosófica que, certamente, cada um formulou para si, era a de saber como poderíamos sair daquele imbróglio, sãos e salvos?

Entretanto, uma nova ordem foi dada, visando criar algumas réstias de esperança quanto à possibilidade de sobrevivência colectiva, apontando para uma “navegação o mais perto possível da margem esquerda”, ou seja, a mesma donde partíramos. Quando nos encontrávamos a cerca de quatro/cinco metros do tarrafo – zona de lodo ainda não submersa, e onde habitualmente a comunidade de crocodilos (alfaiates) se organiza em frisa apanhando os seus banhos de sol – eis que se escuta uma nova ordem: “haja um que salte para o tarrafo levando consigo as correntes do bote com o objectivo de o poder suster”. 

Olhando à minha volta, e perante a ausência de candidatos e/ou voluntários disponíveis para o cumprimento deste desiderato, eis que tomámos em mãos esse desafio. Porque a embarcação continuava instável face à movimentação das águas, o salto só poderia acontecer quando a distância entre o bote e o lodo fosse de molde a facilitar a operação proposta. 

Não sendo possível identificar o melhor momento para o salto, eis que no tempo «X» saltámos levando nas mãos a dita corrente já referida anteriormente. Durante o salto, feito de frente para o tarrafo, ouvimos, vindo da nossa rectaguarda, um ruído provocado pelo embate da proa do bote na parte mais alta do lodo, tendo como consequência a inclinação do mesmo projectando para a água todos os seus ocupantes, primeiro os que se encontravam no lado esquerdo da embarcação e depois os do lado direito, por efeito do desequilíbrio de peso que entretanto ocorrera (lei da física). 

Quanto a nós e na sequência do salto, ficámos de imediato enterrados no lodo até aos joelhos, procurando, mesmo assim, manter o controlo da embarcação através do uso da sua corrente, mas não por muito tempo. Face à diminuição da nossa resistência por via da força da maré, que nos conseguiu arrancar ao lodo arrastando-nos num espaço de alguns metros quase até à posição de «pino», não tivemos outra alternativa senão deixar o bote entrar à deriva. 

Como podem imaginar todo esta descrição corresponde a uma fracção de tempo diminuto entre alguns segundos e poucos minutos, mas que no terreno mais parece uma eternidade. 

Entretanto, na água, a luta era extremamente desigual entre o poder do homem e o poder da maré. Cada um dos militares, equipados e vestidos com os seus camuflados que lhes dificultava a mobilidade dentro de água, procuravam chegar a terra firme o mais rapidamente possível, pondo-se a salvo. E isso aconteceu a oito de um total de catorzes elementos. 

Dos seis em falta, três conseguiram entrar no bote: o barqueiro (nome que desconhecemos, pois era elemento da CCS), o Miranda (1.º Cabo de dilagramas) que remando com a sua sacola das granadas permitiu recolher o ex-Major de Operações Jales Moreira em situação muito difícil. E os três seguiram ao sabor da corrente na direcção de Bambadinca, local onde estava sediado o Batalhão. 

Os outros três elementos em falta eram: o José Maria da Silva Sousa, o Manuel Salgado Antunes e o Abraão Moreira Rosa, que acabariam por desaparecer nas águas barrentas do Rio Geba, sem que existisse qualquer hipótese de salvamento. No caso do José Sousa ainda o vi emergir três vezes. Mas como tinha em seu poder a bazuca e esta estava presa à paleta da camisa, provavelmente esta situação não lhe foi favorável, dificultando-lhe ainda mais os movimentos. 

Para além de não se ter concretizado a travessia, de o grupo ter ficado fraccionado e com baixas, de termos ficado desarmados e sem meios de comunicar com a nossa Companhia, tínhamos ainda pela frente um longo caminho a percorrer até chegarmos ao nosso Aquartelamento, no Xime. 

Assim, os oito elementos que estavam aparentemente a salvo, mas ainda dentro de água tentando localizar alguma das armas perdidas, tinham ainda pela frente um osso difícil de roer, passe a imagem metafórica, uma vez que faltava transpor o obstáculo tarrafo até chegar a terra mais sólida. 

E a primeira dificuldade com que nos deparámos tinha a ver com a necessidade de percorrer cerca de quinze metros de lodo extremamente mole, num momento em que as águas continuavam a subir a um ritmo veloz, e em que o movimento de elevação de cada perna, correspondente a cada passo, era sempre maior que o anterior, fazendo lembrar que estávamos perante um contexto de areia movediça. 

Após os primeiros passos, não nos restava outra alternativa senão tentar nadar no lodo, agora cada qual em tronco nu mas com os seus objectos sob controlo (roupa, cinturão e carregadores). Na sequência de cada braçada, esses objectos eram arremessados para a frente, para depois se efectuar nova braçada e novo arremesso. Todo o nosso corpo era lodo: o cabelo, o rosto, a boca, os membros, etc., etc., etc.. Para percorrer os tais quinze metros de tarrafo, aproximadamente, foram gastos cerca de vinte e cinco minutos, o que diz bem das dificuldades sentidas. A meio da viagem, por efeito de estar verdadeiramente exausto, pensei que já não seria capaz de ali sair. A força e a energia tinham-se esgotado. 

Depois de um curto descanso a pedido do corpo e da mente, aconteceu um novo impulso antes da última transcendência (a morte), conseguindo então chegar ao fim da linha. Espalhados ao longo do lodo encontravam-se ainda os meus sete camaradas, cada um lutando para ultrapassar as suas dificuldades. 

Fazendo uso da faca de mato, que usávamos presa ao cinturão, procedemos ao corte de alguns troncos dos arbustos existentes na zona, arremessando-os na sua direcção, visando facilitar a mobilidade nos últimos metros da tortura. Os pequenos troncos, porque foram colocados entre os corpos e o tarrafo, funcionando como estrado, acabariam por provocar ligeiros ferimentos, particularmente no peito e zona abdominal, devido às suas saliências. 

Tendo saído vitoriosos da primeira batalha, outra seguir-se-ia, mas esta sem alvo pré-definido, uma vez que o itinerário era desconhecido, impondo-se, então, uma decisão quanto ao rumo a tomar (sentido de orientação). É que estávamos no início de uma bolanha (exemplo: imagem ao lado) e tanto quanto o horizonte visual nos permitia enxergar, não víamos alma nem qualquer vestígio da presença humana. 

Avançámos de forma empírica corrigindo a direcção por simpatia, sabendo-se, no entanto, que aquela zona estava sob controlo das NT, e que provavelmente estávamos em presença da bolanha de Nhabijões, o que se veio a confirmar depois. 

Durante a caminhada, sob um sol abrasador e com uma temperatura a rondar os 35/40 graus (a estação da época era a das chuvas), a resistência de cada um de nós voltou a ser, uma vez mais, posta à prova, concluindo-se que o humano não conhece os seus limites. A exaustão e a desidratação eram compensadas com um mergulho na bolanha a cada dez metros, distância suficiente para fazer secar os corpos e a roupa. Passado algum tempo não cronometrado - esse detalhe não era importante naquela situação - avistámos ao longe umas chapas de zinco brilhando por efeito do sol, tendo seguido nessa rota. Estávamos então nas traseiras da Tabanca de Nhabijões. Aí chegados, impunha-se conquistar uma merecida sombra e a ingestão de líquidos e de alguns alimentos. Mas há falta de recursos, bebemos água e eu comi uma lata de salada de frutas de conserva que jamais esquecerei. 

O CMDT do pelotão aí residente estranhou a nossa presença, pois não sabia do que nos tinha acontecido. E foi a partir desse momento que sinalizámos a nossa existência na rede de comando, solicitando uma viatura para nos transportar até ao Xime, onde chegámos a meio da tarde. 

À chegada, foi-nos confirmado o desaparecimento dos três camaradas anteriormente referenciados, bem como a ancoragem do Sintex no Cais de Bambadinca transportando os três elementos que nele entraram para uma viagem única em que foi aproveitada a força da maré. 

Entretanto, e porque o ex-Major de Operações Jales Moreira foi o primeiro a dar a notícia da ocorrência, logo se providenciou no sentido de se mobilizarem os meios operacionais, nomeadamente a partir dos recursos humanos da CART 3494. Sob o comando do ex-Cap. Pereira da Costa foi encetado um novo patrulhamento com maior incidência na zona do naufrágio, visando encontrar os corpos dos militares afogados, mas sem sucesso. Esta acção contou com o apoio de meios aéreos. 

O regresso ao Xime aconteceu já de noite. 


IV - CAUSAS/EFEITOS DO NAUFRÁGIO

O dia seguinte foi vivido, por todos, sob o efeito das diferentes ocorrências do dia anterior, todas elas contribuindo para um estado de espírito francamente negativo, em particular pela perda, de uma assentada, de três membros do nosso grupo, num acidente inquestionavelmente estúpido, como são todos aqueles que poderiam ser evitados. Deste modo, a angústia e a ansiedade dominaram este e os dias seguintes, desenvolvendo-se a crença e/ou a expectativa dos corpos dos desaparecidos poderem ser recuperados. 
Essa crença e/ou expectativa apenas se concretizou uma vez, lamentavelmente.

Decorridas mais de trinta horas após o acidente foi localizado um corpo/cadáver junto ao Cais do Xime (imagem ao lado); era o do José Maria da Silva Sousa (o bazuqueiro).

O seu corpo estava desnudo e em processo de transformação, o que é natural neste tipo de ocorrência. O seu comprimento aumentara substancialmente, ultrapassando largamente os dois metros, assim como o seu peso, agora com valores a rondar os cento e cinquenta quilos. 

Dois dias depois procedemos à realização do funeral, numa tarde de autêntico dilúvio e com direito a Honras Militares, ficando o seu corpo sepultado no cemitério de Bambadinca, conforme se demonstra na foto ao lado, cedida pelo ex-1.º Cabo Condutor Auto – Abílio Soares Rodrigues. 

Durante mais alguns dias, todos os olhares estiveram direccionados para o Rio Geba, esperando que ele nos devolvesse os restantes corpos, mas em vão.
Entretanto, devido a ter-se verificado mortes e desaparecido material de guerra, foi decidido pelo CMDT do Batalhão 3873, ex-Tenente-Coronel Tiago Martins (que já não está entre nós) a abertura de um Auto de Averiguações, que decorreu durante os primeiros meses, tendo sido consultados/inquiridos os militares envolvidos neste acidente. 

Treze meses depois do naufrágio – Setembro de 1973 – fomos convocados para comparecer no Tribunal Militar Territorial, em Bissau, para participar no acto de julgamento do processo, tendo como Réu o ex-Major Henrique Jales Moreira, e na qualidade de testemunhas oculares, eu próprio e o 1.º Cabo Miranda. 

Tratou-se de uma nova aventura e de uma grande experiência que não gostaríamos de repetir, em função do ambiente em que decorreu. 

O veredicto final do Tribunal determinou a absolvição do Réu. 

Por último, resta-nos referir que esta nova história que ousei narrar sobre um tema sensível no contexto da CART 3494 / BART 3873, escrita na primeira pessoa e que agora vos dei a conhecer, ocorrida durante o projecto militar desenvolvido no CTIGuiné (1972/1974), ficará gravada indelevelmente para sempre na minha história de vida, na medida em que é difícil fazer-se o seu luto. 

Em cada um dos diferentes momentos foi possível retirar lições de vida, ajudando-nos a melhor compreender os desempenhos socioculturais e sociopolíticos do ser humano. 

Assim, deixo à consideração de cada um dos leitores a competente avaliação do valor do escrito e das lições que dele julguem poder retirar. 

Um grande abraço para todos, e até à próxima história. 
Jorge Araújo.
Agosto/2012.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13482: Efemérides (171): Relembrando o naufrágio no Rio Geba, no dia 10 de Agosto de 1972, em que perderam a vida três camarada da CART 3494 (Jorge Araújo)

Guiné 63/74 - P13493: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (12): Como vejo o 10 de Agosto de 1972

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa (Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 12 de Agosto de 2014:

Olá Camarada
Pareceu-me grande demais para inserir como comentário.
Por isso, segue em anexo "A Minha Guerra a Petróleo n.º 12".

Um Ab.
António J. P. Costa



A MINHA GUERRA A PETRÓLEO

12 - Como vejo o 10 de Agosto de 1972 

Ficámos ali junto à margem do Geba, no tarrafo, e reagrupámo-nos. Ainda vimos o sintex à deriva com alguns homens a bordo. Fiquei logo a saber que faltavam três camaradas e não os vendo por ali, decidi que iríamos em direcção a Nhabijões, cujos telhados de zinco brilhavam ao Sol. A progressão foi difícil, porque a bolanha, entre o rio e a tabanca, estava muito alagada. Além disso, o Sol estava muito forte – já passava das 11 da manhã – e o esforço de quem tinha andado dentro de água e agora progredia com o equipamento e o uniforme molhados, era redobrado.

Perto da tabanca, as crianças que por ali brincavam, fugiram quando nos viram. Não sei se de medo se para irem informar a guarnição da tabanca. Fomos recebidos pelo alferes do Reordenamenmto, cujo nome não fixei e fomos tomar duche vestidos, tal era a quantidade de lama que levávamos em cima.


Foto © de Jorge Araújo

Depois dirigimo-nos para a estrada onde fomos recolhidos por uma coluna da CCaç 12 que vinha de Bambadinca, comandada pelo 2.º Cmdt, major Sousa Teles. Dirigimo-nos ao Xime onde deixei o pessoal que estava comigo. Aqui tenho “uma branca” de algum tempo. A idade não perdoa e eu já falei com o Araújo que também não sabe explicar o que se passou.

Sei que fui Bambadinca e vi que havia um helicóptero que serviria para fazer um reconhecimento à área do acidente. Ainda havia a possibilidade de algum dos desaparecidos ter ficado perdido e exausto no tarrafo. Fiz o reconhecimento aéreo e sugeri ao comandante que batêssemos a zona a pé à procura de sobreviventes. Pedida autorização à BA 12, fui largado com o furriel Domingos (homem muito generoso) e três soldados da CCaç 12 nas imediações do local do naufrágio.

Cabe aqui referir que o piloto era um meu ex-colega de liceu Passos Manuel – o Luís Cabanelas – que, em vez de nos largar a cerca de 4 metros, como era “do regulamento” deixou-nos a cerca de um metro. O terreno e a área da operação permitiam-no e evitámos o pancadão, o que, para mim que estava consideravelmente cansado, foi uma boa ideia.

Eu levava apenas a espingarda e os carregadores emprestados pelo comandante, sem qualquer outra espécie de equipamento. Vim depois a aperceber-me de que nem lenço levava. Estava previsto que, no final da batida à margem do rio, seríamos recuperados pelo helicóptero, se o tempo o permitisse, ou, pelo rio, por um sintex, se assim não fosse.

Batemos a margem do rio para montante e jusante e não encontrámos o menor sinal de vida. Entretanto, o helicóptero partira e nós começámos a cortar ramos para podermos chegar o mais à frente possível sobre o lodo, quando o sintex nos viesse recuperar. Era o que esperávamos.

Entretanto, por razões que não consegui determinar, perdemos o contacto rádio com comando do BArt 3873. A noite caiu e tendo falhado o contacto rádio com Bambadinca, entrei em contacto com o Xime e procurei fazer sair um GrComb que viesse recuperar-nos pela estrada. Subitamente, as comunicações com Bambadinca restabeleceram-se e recebemos ordem de para ali nos dirigirmos. O percurso a fazer era maior do que para o Xime, mas começámos a progressão debaixo de uma chuvada tropical acompanhada de trovoada que deixava o céu iluminado durante segundos, de um tom róseo depois de a faísca ter caído.

Aproximámo-nos de Bambadinca num percurso em que mal se via o caminho e orientando-nos somente pelas luzes dos aquartelamentos. Já perto do quartel fomos recolhidos por um pequeno grupo da CCaç 12, sob o comando do capitão Bordalo Xavier, que, com um petromax à cabeça, nos ia orientando.

Já agradeci ao ex-alferes Cabanelas e ao capitão Bordalo, pessoalmente, o apoio que nos foi dado. Deixo-o agora aqui também em público.

Como entrei no quartel não me lembro. Lembro-me que a esposa do comandante ficou admiradíssima de quanto eu estava molhado e concluiu que “felizmente, eu só tinha 25 anos”

Tomei uma bica no bar de oficiais e tenho presente uma cena em que eu sentado no chão do quarto do major Sousa Teles estou a despir-me revoltadíssimo e ele a tentar acalmar-me. Efectivamente, se as minhas relações com o comando já não eram boas, a partir daí… pioraram.

Regressei ao Xime com uma farda n.º 2 que me emprestou.

Depois, foi feito o relatório da acção que eu contestei, enviando a minha versão às mesmas entidades que o tinham recebido emitido pelo Batalhão.

Entretanto, apareceu o corpo do Sousa a boiar no rio. Éramos oito a tirá-lo e eu quero repetir um pouco do meu texto “As Idas ao Fiofioli” (que publiquei no blog) para prestar homenagem à generosidade do alferes Gomes, que tanto sofreu, na sua inadaptação à vida militar:

Quando retirámos da água o corpo sem vida do Sousa, afogado no Geba, queria, recorrendo aos toscos conhecimentos dum primeiro ano de medicina incompletissimamente estudado, retirar do corpo, a água que impedia que fosse metido no caixão. O Sousa acabou por ser sepultado em Bambadinca, dentro de um caixote de bacalhau, ao fim de vários dias de espera pelos ferros e luvas de autópsia que permitissem aproximar o corpo das suas dimensões normais.(1)

As consequências do relatório e contra-relatório não se fizeram esperar. E de tal forma que, no domingo posterior ao naufrágio, um helicóptero demandou o Xime. A bordo, um alferes para a companhia – que tinha falta deles – o adjunto-operacional do general Spínola e o comandante da Defesa Marítima da Guiné. Queriam ver o macaréu que, por casualidade, nesse dia, seria o maior do ano. Assim o dizia a tabela das marés que até dava a hora de passagem em Caió.

Recebi-os e descemos ao cais. Tranquilamente, o barqueiro Adelino navegava no rio. O oficial da marinha mandou-me avisá-lo de que o macaréu estava a aproximar-se. Assim fiz e o Adelino, no seu melhor sorriso gritou, do meio do rio:

- “Ah! Nosso captão inda falta”!...

Calmamente, remou para a margem, atracou o dongo e descarregou o que trazia. Cumprimentou-nos com vénia e continuou o seu caminho. Nós ficámos ali a ver e do macaréu… nada.

Por fim, com um atraso apreciável surgiu um macaréu de altura verdadeiramente “júnior” e que não correspondia às características indicadas na tabela. A Natureza tem destas particularidades!

Entretanto, após um período de “averiguações sumárias” entrou-se num processo de corpo de delito. Fui, como já disse, ouvido como declarante, assim como todos os outros ocupantes do sintex.

Deixei a CArt 3494 em Novembro de 1972 sem nada saber da marcha dos autos. Nunca mais fui inquirido, nem por deprecada, acerca do sucedido. Soube depois do desfecho e, só recentemente, o Jorge Araújo fez um esforço para determinar a data e os detalhes do julgamento.

Preparei este texto que sintetiza a minha visão sobre o sucedido no dia 10 de Agosto de 1972 na margem esquerda do Geba.(2)

Um Abraço
António J. P. Costa
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Notas do editor

(1) - Vd. poste de 13 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5456: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (1): Esta noite fomos ao Fiofioli

(2) - Vd. poste de 10 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13482: Efemérides (171): Relembrando o naufrágio no Rio Geba, no dia 10 de Agosto de 1972, em que perderam a vida três camarada da CART 3494 (Jorge Araújo)

Último poste da série de 6 de Julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11810: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (11): Ainda o poste do Cherno Baldé e outros

Guiné 63/74 - P13492: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (87): João Neves, sócio da empresa de transportes rodoviários de mercadorias João Manuel M. Neves Lda, com sede em São Bernardo, Aveiro, esteve em 1974, em rendição individual, na Ponte Caium, setor de Piche, com malta do 3º Gr Comb / CCAÇ 3546 (1972/74), "Os Fantasmas do Leste", e quer encontrar-se com essa malta... Ao fim de 40 anos, e através do nosso blogue, descobre esse elo perdido!



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > Memorial aos mortos da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves ["Charlot"], Fernandes, Santos, Sold AP Dani Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste. Guiné- 72/74"...

Foto: © Eduardo Campos (2010). Todos os direitos reservados

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) João Neves

De: João Manuel M. Neves, Lda

Data: 11 de Agosto de 2014 às 16:57

Assunto: Ponte Caium

Olá boa tarde

Sou João Neves e sou de Aveiro.

Finalmente consegui o elo de ligação que procurava há cerca de 40 anos

Estive na Ponte Caium,  no pelotão dos Fantasmas em 1974,  em rendição individual, com colegas da CCaç 3546 e teria o maior gosto em me encontrar com todos esses colegas que lá estiveram comigo.

Agradecia que logo que haja essa oportunidade me informasse . Possivelmente será um dia dos mais felizes da minha vida voltar a encontrar essa malta

Ficarei-lhe sempre grato

Um abraço e fico a aguardar

Sou João Neves.


2. Comentário de L.G.:

Localizei na  Net a empresa do João Neves, com sede em São Bernardo, Aveiro.  Aqui ficam alguns dados que poder ajudar os interessados a chegar à fala com o João;:

(i) A empresa, de transportes rodoviários de mercadorias João Manuel M. Neves, Lda, tem sede na Rua Anselmo Lopes 101, São Bernardo, Aveiro, 3810-209 Aveiro;

(ii) Contactos:

GPS: 40.624585,-8.624764
Telefone: 234 341 58
Fax: 234 342 743

O João Neves fica automaticamente convidado para integrar a nossa Tabanca Grande donde já constam vários camaradas que passaram pela famosa Ponte Caium e que pertenceram ao 3º Gr Com ("Fantasmas do Leste") da CCAÇ 3546, como o Jacinto Cristina (Ferreira do Alentejo), o Carlos Alexandre (Peniche) ou o Florimundo Rocha (Lagoa).

Vou tentar saber quando é o próxmo encontro da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74).

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13388: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (86): A banda musical portuguesa Melech Mechaya de novo em terras escandinavas, Finlândia e Suécia (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

Guiné 63/74 - P13491: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (3): A literatura de Mickey Spillane

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Julho de 2014:

Queridos amigos,
Aprecio a literatura desopilante, bem urdida, com boa trama e que me agarre de principio ao fim.
Leio Mickey Spillane desde a adolescência, sempre que possível banho-me nesta prosa de mestre, onde se mesclam o policiário, as aventuras e a espionagem e delicio-me à brava, confesso. É possível encontrar Spillane nas Edições Livro do Brasil, uma editora que está no ocaso e que já foi uma referência incontornável no panorama português, lembrem-se da Coleção Miniatura, da Coleção Vampiro, da Coleção Argonauta, de grandes autores e de grandes obras universais, teve gráficos espantosos como Cândido da Costa Pinto, Lima de Freitas, Bernardo Marques e Infante do Carmo. Procurem Spillane e terão férias ainda mais retemperadoras.

Um abraço do
Mário


Biblioteca em férias (3)

O meu nome é Mike Hammer

Beja Santos

Estamos em 1947, os EUA são assumidamente uma superpotência, a sua influência política, económica e financeira é incontestável, em nome do Ocidente declarou Guerra Fria ao bloco soviético. Os EUA exportam mercadorias que todo o mundo cobiça, incluindo literatura. Nesse ano, irá despontar um escritor que trará certezas à superpotência, certezas de que o império americano está na vanguarda do progresso e é o facho das liberdades. Falamos de Mickey Spillane e o do seu herói Mike Hammer. Tratou-se de um sucesso que nunca foi ultrapassado. Este herói encarnou o espírito da época. O primeiro livro intitulava-se “I the jury”, venderam-se seis milhões de cópias. Seguir-se-ão seis títulos até 1952 (nesse ano, os sete livros de Spillane figuravam na lista das dez maiores vendas de livros do século XX, nos EUA), nenhum outro escritor irá conseguir este impressionante número de vendas. Spillane só concorreu com o Spillane.

Acontece que Mickey Spillane [foto à direita] caiu de paraquedas no mundo literário, não tinha os pergaminhos de um Scott Fitzgerald, John Steinbeck ou William Faulkner. Nascido em Brooklyn em 1918, Spillane passou a sua infância nos bairros pobres de uma pequena cidade da Nova Jérsia. Enquanto estudava, vendeu colaboração ao Capitão Marvel e ao Capitão América. Veio a guerra e Spillane combateu na Força Aérea. Trabalhou também para o FBI.

O que carateriza Mike Hammer, o herói de Spillane? É um duro, um arquétipo, o ideal do individualismo norte-americano. É justiceiro por conta própria, executa os chefes das máfias, os espiões do Kremlin, os narcotraficantes, e até os mandantes dos chefes. Editado em Portugal por Livros do Brasil, tanto na coleção Vampiro como numa coleção dedicada a Spillane, ganhou as simpatias do público mas nunca esteve na lista dos escritores mais populares do policiário, da literatura de aventuras e de espionagem, no fundo os três géneros interpolados em que se movimentam estas obras de um Mike Hammer corajoso, patriota, fiel aos seus amigos e às suas convicções de ética, é o eterno apaixonado de Velda, a sua secretária, será assim durante mais de cinquenta anos…

Hammer é um detetive particular, é amigo do capitão Pat Chambers, da polícia de Nova Iorque. É chamado quando começam a aparecer cadáveres, escapa sempre milagrosamente em todos os tiroteios e atentados à bomba, tem um faro especial para descobrir que o seu automóvel está ligado a explosivos. Por vezes, Hammer vai convalescer de certos ferimentos e reaparece imprevistamente. Spillane notabilizou-se pelas atmosferas de borrasca iminente, maneja os parágrafos curtos, possui uma linguagem sensorial onde as cores, os sons (que podem ser gritos, passos, interjeições), a pregnância das atmosferas, a brutalidade com pancadaria e estampidos das armas, tudo se equilibra numa trama turbilhonante, sem tempos mortos. E o fato é que as dezenas de milhões de exemplares vendidos em todo o mundo não podem esconder o fato de Spillane escrever bem a ponto de ter criado uma elevada confiança nos leitores neste duro um tanto romântico, e na tradição da linhagem dos grandes detetives.

Nas minhas incursões pela Feira da Ladra, de vez em quando compro um Spillane para matar saudades. Por 50 cêntimos, comprei o Beco Negro, número 598 da coleção Vampiro, pasme-se escrito em 1996, tempo em que Spillane já era um nome bastante esquecido e tentava desesperadamente dar um novo fôlego a Hammer. Fiquei satisfeito, embora a arquitetura da obra fosse a mesma de há décadas, continuava a ser fulgente, saída de um grande mestre:
“O telefone tocou.
Era uma coisa que tinha estado ali, preta e silenciosa como uma arma de fogo no coldre, não vinha na lista, desconhecida de toda a gente, utilizada apenas para fazer chamadas, e, quando ativada, tinha o som suave, abafado, de uma automática com silenciador. O primeiro toque foi com um som de advertência. O segundo seria um telefonema de Morte.
Oito meses atrás, eu chegara à Florida para morrer. As duas balas que recebera durante a troca de tiros no West Side Drive haviam-se introduzido em áreas do corpo que não existiam para ser violadas assim, e o sangue que brotara de mim fora excessivo. Pelo que os outros – o ferido que ainda andava e o reparável – mereceram a primazia dos poucos médicos que acudiram ao campo de batalha mais cedo. Os mortos e moribundos foram afastados para o lado ou isolados na seção sem regresso.
A temperatura era de seis graus abaixo de zero e impediu-me de morrer ali mesmo porque o sangue coagulou em áreas hediondas de roupa e pele e as dores ainda não tinham começado, pelo que, quando o homenzinho viu os meus olhos abertos e ainda brilhantes me afastou da carnificina quase mergulhou no estado de choque de que eu me aproximava. Mas ninguém ligava. Estava bêbado. E eu quase morto”.
É quase uma ressurreição. O médico, Ralph Morgan, também vai ressurgir. São dois quase mortos que regressam à vida. Aparece Pat Chambers para lhe comunicar que um amigo está nas vascas da agonia e quer fazer uma confidência a Hammer. E que confidência! Milhares de milhões de dólares estão escondidos, um mafioso arguto montou uma marosca, os bandos desconfiam, mas ninguém sabe o paradeiro daquela fortuna. São sete cães a um osso. O amigo de Mike Hammer morreu dizendo-lhe que ele podia descobrir o local onde se encontrava a mega fortuna. Começa aqui a caça ao tesouro, o detetive umas vezes expõe-se claramente quando necessita de falar com os mafiosos, outras vezes trabalha na sombra, esgueira-se como uma enguia.

O amor eterno por Velda, que conheço desde os romances dos anos 40, vem também aqui à baila, é poção que nunca se perde:
“Sorriu e levantou-se, deixando o roupão oscilar à sua volta, enquanto eu refletia que, um dia, tudo aquilo me pertenceria:
- Que destino tencionas dar-me? - Tens duas opções, boneca. Vou proporcionar uma noite de repouso ao ferimento que ainda não sarou totalmente. Por conseguinte, escolhe: ou te vestes e regressas a casa ou dormes no sofá. Sem companhia. 
- Estás mesmo empenhado em destruir a tua reputação, hem?
Proferiu as palavras como uma afirmação solene, mas o sorriso privou-as de agressividade”.

Lá anda Mike Hammer cheio de dores à traulitada, e a sua excitação cresce, como se lê: “Apesar de não ter sido disparado qualquer tiro, a excitação nervosa resultante do fato de Ugo e Howie Drago quase me terem abatido iniciara uma reação nas minhas entranhas, e sentia as agulhas da dor a começarem a atuar em lugares sensíveis, até que terminariam por se converter em espigões de ferro em brasa”.

Numa atmosfera de astúcia, prossegue a caça ao tesouro, mais emboscadas, até ao confronto final com Ugo Ponti. Importa não esquecer Mike Hammer é um cavaleiro irrepreensível. Tudo termina em bem Mike e Velda tecem juras de amor, ele vai-se tratar, continua muito ferido, a seu tempo casarão. Como é que é possível resistir a estas histórias tão bem contadas, a esta narrativa que não nos concede pausas, tão luminosa?
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13468: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (2): "Poesia africana di rivolta!", por Giuseppe Tavani - Poesia de revolta dos tempos anticoloniais, em português

Guiné 63/74 - P13490: Blogpoesia (387): Manchas e nódoas... (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

Manchas e nódoas…

por J. L. Mendes Gomes


Não deixam de ser glaciares
Aquelas montanhas de neve
Que cobrem os polos da Terra,
Com algumas refegas negras.
Não deixa de ser azul
O céu,
Com algumas nuvens voando.
Nem o mar sereno
Com alguns arrufos
De tempestade.
 
Não se perde um concerto ao piano,
Tocado por mãos divinas,
Se houver uma nota em falso.
E a felicidade que nos banha a alma,
Com uma névoa de dor no corpo.
E um copo de vinho bom,
Mesmo que lhe caia dentro
um cisco…
O bem é bem, porque o mal existe…
Senão, tudo seria igual.
 
Que seria das montanhas belas
Se tudo fosse uma planície verde?
E do arroz de forno
Que não deixa esturro?
A harmonia total
Nunca existiu
Nem existirá…
Calor sem frio…
O que seria?
Não há alegria perene
Sem uma mancha de tristeza.
Quão enssonsa seria a vida
Se não tivesse dias de alguma angústia…
Como é bom chegar a casa
Depois duma longa ausência!…


Mafra, 26 de Julho e 2014
7h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor

Último poste da série > 12 de agosto de  2014 >  Guiné 63/74 - P13487: Blogpoesia (386): A mordaça (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13489: Convívios (616): VI Encontro do pessoal da CART 6254/72, dia 13 de Setembro de 2014, em Paramos - Espinho (Manuel Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Castro (ex-Fur Mil Mec Auto da CART 6254 (Os Presentes do Olossato), Olossato, 1973/74), com data de 10 de Agosto de 2014:

Meu caro Carlos Vinhal,
Os ex-combatentes que fizeram parte da CART 6254/72, que esteve sediada no Olossato e depois no Dugal, vão levar a cabo, no dia 13 Setembro de 2014, o seu 6.º almoço/convívio.
O recepção será, às 10 horas, no Regimento de Engenharia n.º 3.

Pedia-te o favor de publicitares o nosso almoço, no site do Luís Graça.
Anexo o respectivo programa.

Contactos: Ex-Furriel Figueiredo (Seringas) 967 090 603 - Porto
Ex-Furriel Castro (Rodinhas) 962 471 506 - 258 731 207 - E-Mail: casadolaranjal@gmail.com
Carvalho e Sá (M.A.R.) 917 611 175 / 220 812 480

Um grande abraço e muito obrigado pela atenção
Manuel Castro 
Ex-Fur Mil da CART 6254
casadolaranjal@gmail.com



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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13418: Convívios (615): I Encontro de Paraquedistas do Oeste, dia 6 de Setembro de 2014, no Vimeiro (Lourinhã)

Guiné 63/74 - P13488: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte VI: Julho de 1972: o insólito rapto, no dia 24, às 9h00 da noite, de 25 rapazes e 8 raparigas da tabanca balanta de Mero, nas proximidades de Bambadinca, efetuado um grupo IN estimado em 30 elementos



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mero, Santa Helena ou Nhabijoes  >  c. 1970 > Bajuda balanta. Estas povoações, de população balanta, eram consaideradas "sob duplo controlo", ao tempo da do BCAÇ 2852 (1968/70) e da CCAÇ 12 (1969/71)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mero > Ponta Brandão > c. 1970 > Na foto, dois velhos balantas, um deles cego, que é conduzido por outro completamente nu (apenas com um rudimentar tapa-sexo).

Fotos do arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-fur mil io esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Fotos: ©  Humberto Reis (2005). Direitos reservados [Ediçãoe  legendagem: LG]


1. Continuação da publicação da história da unidade - BART 3873 (Bambadinca, 1972/74). Cópia digitalizada, em formato pdf,  gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.


[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].

Destaque, no mês de julho de 1972,  para o insólito rapto, no dia 24, às 9h00 da noite, de 25 rapazes e 8 raparigas da tabanca balanta de Mero, nas proximidiades de Bambadinca, efetuado um grupo IN estimado em 30 elementos. Mero sempre considerada, desde o início da guerra, como sendo uma população sob duplo controlo. Ficava nas proximiddaes de Bambadinca, na margem esquerda do Rio Geba Estreito. (LG)











Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Nhabijões, Mero e Santa Helena, três tabancas consideradas, desde o início da guerra, como estando "sob duplo controlo", ou seja, com população (maioritariamente balanta) que tinha parentes no mapa, controlada pelo PAIGC... Em Finete, Missirá e Fá Mandinga havia destacamentos nossos.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).
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Guiné 63/74 - P13487: Blogpoesia (386): A mordaça (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)

1. Em mensagem do dia 5 de Agosto de 2014, o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos este belíssimo poema:

Tempo de férias – tempo para dar asas ao pensamento e escrever.
Abraço e boas férias
José Teixeira


A mordaça

Silencia-se o passado.
Encobre-se as suas memórias,
Frustrações.
Contam-se “estórias”,
Pintam-se factos.
Criam-se heróis.
Justificam-se acontecimentos.
Causas reais, para o mundo apodrecer.

Silencia-se o presente,
Escondem-se os “sem-abrigo”,
Continuamente a crescer.
Destrói-se a estratosfera,
Sem “ninguém” saber.
Nos solos deitam-se químicos,
Para mais rápido enriquecer.
E envenena-se, assim, o vivo SER.
A vida não tem valor,
Importa apenas o TER.

Silencia-se o futuro,
Nesta forma de crescer,
Enriquecer,
De alguns, muitos, talvez,
À custa das gerações que hão de vir.
E rouba-se-lhes o direito a viver.
E é uma tentação.
Queimamos, destruímos, exploramos
Em demasia a riqueza,
Que a alguns enriquece.
Dom de Deus, a Natureza,
Se esgota e murcha e desaparece.

José Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13471: Blogpoesia (385): É preciso libertar o homem (José Teixira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Guiné 63/74 - P13486: Os nossos seres, saberes e lazeres (72): Nas noites de Agosto recordando a minha aldeia (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

1. Texto do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviado em mensagem com data de 7 de Agosto de 2014:

Árvores estranhas, onde todos os seus ramos se erguem na vertical, como que a rezar a um deus desconhecido. Mais altas, outro andar, acima do prédio de 5 andares, perto do qual foram plantadas, num pequeno espaço ajardinado no topo sul. Sentado na varanda da minha casa, na procura de algum ar noturno mais fresco, observo a dança suave que a aragem marítima, o mar está a um quilómetro, provoca nos dois ramos centrais, tão iguais que parecem gémeos, que o vento vai unindo e separando. As árvores são duas, bastante próximas, com a mesma altura, com os mesmos dois ramos fortes que se formam do tronco principal que se divide, a dois metros de altura depois de emergir do solo.

Noite quente que aquece o corpo e relaxa o cérebro e dispersa o pensamento e a memória. Estas árvores, que à frente e atrás rodeiam o prédio onde moro, árvores que não conheço, tal como as da maioria da cidade e das quais ninguém me sabe dizer um nome. Dão tanta sombra e tanta vida à cidade mas a maioria são tratadas como coisas de cimento e tijolo sem o nome que todos os seres vivos que nascem, crescem, vivem e morrem, têm e merecem..

 Brunhoso - Foto: Brunhoso Mogadouto, com a devida vénia

Na pequena aldeia onde nasci e onde me criaram, todas as árvores, arbustos, animais, pessoas, montes, vales, planícies, campos de cultivo, florestas, plantações, tudo tinha nome e à medida que íamos crescendo, íamo-nos familiarizando com esses nomes.

Aprendíamos a conhecer todo esse mundo que nos rodeava e éramos também, desde cedo, conhecidos por todos.

Há muitos anos, sendo eu já adulto, a viver na cidade grande, uma amiga da cidade, disse-me que gostaria de ter uma aldeia como eu. Talvez essa amiga se tenha apercebido do aconchego que nos dá uma aldeia onde há uma tão grande comunhão entre a natureza e os seus habitantes, onde todos se conhecem, se respeitam e onde a maioria se trata por tu.

Das grandes penas que trouxe e conservo da minha passagem por terras da Guiné é não ter conhecido melhor os seus povos e as suas árvores. Neste mês quente de Agosto em que parece que a solidão e o passado nos assombram mais, parece-me sentir ecoar pelos montes da minha aldeia e das próximas o som do Tango dos Barbudos, que transmitido do alto daqueles altifalantes parecidos grandes funis, abria sempre os arraiais das festas populares.

Tango que abre com rajadas de metralhadora que causam arrepios, alertam para o perigo mas também despertam o instinto guerreiro que existe mais adormecido ou desperto em todo o homem.

Mais tarde já com alguns conhecimentos de música clássica imaginei esses montes a repercutir os sons da Abertura 1812 de Tchaikovsky, a ecoar por montes e vales as badaladas dos sinos de Moscovo, o hino da marselhesa e os canhões do exército de Napoleão.



Imaginava eu que seria uma música mais adequada à beleza e à imponência dos montes onde fui criado. Os meus olhos foram educados na visão desses montes altos, baixos. arredondadados, aguçados e vales mais largos ou mais profundos, nessa paisagem tão agitada que parece um mar ondulado. O resto do mundo que vim conhecer foi sempre no confronto com aquele pequeno mundo que a mim sempre me pareceu tão grande. Teve já alguns grandes escritores que o souberam retratar. Nunca teve um grande poeta que o soubesse cantar, nem nunca teve um grande pintor que lhe soubesse transmitir a forma e o caracter que a minha sensibilidade artistica exige, sem que a saiba exprimir. Não sou poeta, não sou pintor, mas reconheceria esse poema e essa pintura se alguém soubesse reproduzir o que eu sinto.

Um grande abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13223: Os nossos seres, saberes e lazeres (71): O Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes visitou o Comando da Zona Marítima do Norte, instalado em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13485: Blogoterapia (258): Palavras (Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421)

1. Mensagem do dia 5 de Agosto de 2014, do nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67):

Olá Carlos, Olá Luís
Tudo de bom para vocês.
O meu modesto contributo, para quem está de Oficial Amanuense dia, poder dizer recebi mais um email!
Pois a pobreza aqui não é fruto da crise!

Palavra!
Palavras, há quem diga que são fios de ouro do pensamento!
Eu direi pepitas, pepitas grandes, gigantes!
Jóias raras, de uma grandeza que hipnotizam!
Lindas mesmo!
Ditas aqui com um sentido, ouvidas ali com outro!
Férias!
É uma dessas palavras!
Linda, mesmo muito linda!
Mas tão diferente!
Não só de lugar para lugar!
Mas de fulano para fulano!
E com a féria a ditar leis!
Como ela é importante e fundamenta!
Eu sou daqueles jovens que em teoria vou de férias!
Sim porque da nossa juventude, a grande maioria já está sempre de férias!
Tento ter o espírito da época!
Não perder tempo!
Ouvir o mundo à minha volta!
Mas continuar a pô-lo em causa!
Já tenho a noite na alma mas sem beijos de socorro, resta-me dançar com as árvores sem forma!
Estou assim como que perdido neste jardim de flores pretas e secas, e palavras, palavras que se não entendem!
Desculpem eu esquecia-me que sou daltónico, que sofro de miopia e de surdez!
Não me perdi nas matas misteriosas!
Nas bolanhas e rios sem fundo!
Nos caminhos cheios de lama!
Nos caminhos cheios de um pó que sufocava, e que em cada curva era retraçado o meu destino!
Contra minha vontade comecei em guerra, e vou acabar em guerra!
As armas são outras!
Muito mais difíceis de manusear!
Já não encontro os velhos da minha terra!
Sensação estranha sobe-me a coluna vertebral, o velho sou eu e os da minha idade!
Encontramo-nos, sentimos alegria!
As conversas são tão diferentes!
Os netos são o tudo!
Depois vem a nossa parte cultural!
Sim porque estamos muito mais cultos!
Sabemos algo de culinária!
Conhecemos alguns vinhos!
Mas o nosso forte é medicina e industria farmacêutica!
Conhecemos tanto médico!
Conhecemos hospitais!
Conhecemos e sabemos de exames médicos!
Sabemos o nome de tanto medicamento!
Já vamos sabendo nomes de lares!
Não é pessimismo é realidade!
As férias dos jovens da nossa idade, sejam elas com muita ou pouca féria, passadas no Polo Sul, ou no Polo Norte, as palavras diferem pouco!
Mais confusos!
Palavras mais confusas!
Fruto do tempo!
O tempo é outro, isso não há a mínima dúvida!

Um muito grande abraço para ti Carlos
Um muito grande abraço para ti Luís
E muito boas férias

Ernesto Duarte
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13456: Blogoterapia (257): Julgo que pelo menos a maioria de nós tínhamos medo, eu tinha, e às vezes muito, mas procurava não mostrar (Manuel Carvalho)

Guiné 63/74 - P13484: Notas de leitura (621): “Direitos Civil e Penal dos Mandingas e dos Felupes da Guiné-Bissau”, por Artu Augusto da Silva (2) Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Fevereiro de 2014:

Queridos amigos,
Deplorando sempre não lhe terem dado condições para um trabalho de equipa, Artur Augusto da Silva, além de jurista emérito, por sua conta e risco procedeu a inúmeras deslocações para conhecer in loco o seu objeto de estudo, parece que tudo o interessava: os Balantas, os Sôssos, os Fulas, os Mandingas, os Felupes. Sente-se o grande prazer que ele teve neste trabalho pioneiro sobre o Felupes, trabalho que ele abre com um provérbio deste povo: “O burro e a lebre têm ambos orelhas grandes mas não são irmãos um do outro”. Trata-se de uma revelação surpreendente de um povo de que se fala com tanto preconceito e de que se desconhece quase tudo.

Um abraço do
Mário


Direitos civil e penal dos Mandingas e dos Felupes da Guiné-Bissau (2)

Beja Santos

Artur Augusto da Silva [foto à direita], não é de mais insistir, foi um investigador por conta própria, sempre apelou ao trabalho de equipa, que não veio, e deixou trabalhos jurídicos e um apreciável número de obras de imenso valor no campo da etnologia, da etnografia e do direito costumeiro. Se se pedisse uma prova eloquente das suas preocupações rigorosas como cientista social e investigador solitário, probo e meticuloso, não hesitaria em pôr à frente este trabalho sobre o direito dos Felupes (“Direitos Civil e Penal dos Mandingas e dos Felupes da Guiné-Bissau”, 4.ª edição, DEDILD, Bissau 1983). Em jeito introdutório, o autor recrimina aqueles que vêm apressadamente até África para produzir algo sem se preocupar em conhecer a essência do africano, assim: “Quem queira compreender a África Negra na sua verdadeira realidade, não pode fazer fé na maioria dos trabalhos publicados porque eles são o resultado de uma interpretação, de uma projeção da psicologia europeia sobre aquele continente, e não uma radiografia da alma africana.
Mesmo discutindo ou conversando com reputados etnólogos de diversos países, chegámos à conclusão que eles afloraram a realidade mas não conseguiram penetrar no âmago da psicologia do afro-negro que permanece, para eles, um ser estranho.
Duas razões justificam o facto: por um lado, sendo profissionais, precisam de publicar trabalhos e é vê-los, mal chegados ao campo de operações, indagando, medindo, pesando e analisando, sem que primeiro tenham procurado, através de um prolongado estágio, fazer esquecer o que sabiam para que pudessem captar a psicologia daqueles com quem estavam em contacto.
Por outro lado, não conseguindo pôr de parte dois mil anos de cultura que, embora não tragam nas malas, trazem no espírito, reduzem tudo ao padrão europeu e procuram encontrar a sua lógica por toda a parte, impõem-na aos outros e não concebem que possam existir outros modos de pensar e agir.
Daqui resulta que a maioria dos estudos sobre os negros são mais uma projeção da mentalidade europeia deformada do que uma análise objetiva desses povos".

Cético em considerar que os Felupes pertencem ao ramo sudanês, refere os escritores portugueses que desde o século XV mencionam os Felupes, localizando-os onde ainda hoje habitam. Por exemplo, Lemos Coelho (Duas Descrições Seiscentistas da Guiné, escritas em 1669 e 1684) refere-se detidamente a estes povos, como escreveu: “Saindo do rio da Gâmbia pela costa abaixo… está logo o rio S. João… a gente são falupos”. Acrescenta: “… da banda no norte do rio de Casamansa tudo são falupos”. Esclarece: “Passando o rio de Jame o que se segue é o de Cacheu. Toda a costa são falupos”. Os Felupes posicionavam-se desde o rio Gâmbia até ao sul do rio Cacheu, pouco penetrando para o interior. Viviam na costa, junto aos inúmeros esteiros, rios e riachos que cortam a Senegâmbia e a região Susana-Varela. Tiveram grandes hostilidades com os Mandingas, estes, em maior número e grandes guerreiros, queriam cativar os Felupes e vendê-los como escravos. Não se deixaram islamizar, coisa que aconteceu com o ramo Banhum. Mesmo antes da luta armada iniciou-se um processo lento de muçulmanização.

Em termos históricos, a palavra Felupe foi usada desde o século XV pelos portugueses generalizou-se a outras tribos: Buramos, Cassamgas, Banhuns, Arriatas, Jabundos e Baiotes, hoje estas etnias estão bem demarcadas.

Felupes a pescar, imagem retirada, com a devida vénia, do site: http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD26211

Para os Felupes a vida é um todo, a unidade dos preceitos reguladores da atividade dos homens é completa. Todos os fenómenos da vida são determinados pela vontade das forças sobrenaturais, os homens são simples agentes passivos dessa vontade. O mundo dos Felupes é governado pelas “forças deuses”, cada uma dessas forças possui uma virtude própria e o seu contrário: os deuses que podem produzir a morte podem, também, curar os homens. Este mundo religioso está intimamente articulado com o quotidiano e a sua plenitude de atividades. Como o autor escreve: “Há uma refeição sagrada que os Felupes celebram familiarmente quando colhem o primeiro arroz, este arroz simboliza a palingenesia de tudo o que existe – tudo nasce, cresce, desaparece e torna a nascer – e simboliza a comunhão do povo do espírito dos primeiros Felupes que cultivaram arroz”. É um mundo religioso determinado por forças incorpóreas, onde há intermediários divinatórios e onde há o tchina grande, a autoridade suprema. O sentido coletivo pesa e a opinião do Conselho dos Anciãos é determinante.

Para surpresa do autor, encontrou palavras Felupes derivadas do português: carafa (garrafa), papé (papai), biber (bebida), cagana (caganeira). A família Felupe, em sentido restrito, é um conjunto de indivíduos ligados por laços de sangue e que vivem debaixo da autoridade de um chefe. Quando um Felupe fala na sua família, tem em mente só aqueles que vivem debaixo da autoridade do seu pai, avô, tio ou irmão, que habitam na mesma tabanca e descendem de um antepassado comum. Os Felupes desconhecem a instituição servil: nunca tiveram escravos e não os têm. Quando, nalguma guerra, faziam prisioneiros, ou os negociavam ou os comiam. A antropofagia praticada pelos Felupes desde tempos muito recuados está em vias de desaparecimento. O trabalho debruça-se sobre o casamento, a filiação, as cerimónias fúnebres. Passando para os direitos reais, o autor recorda que o Felupe vive em regime comunitário, não se concebe que alguém se intitule dono daquilo que não produziu. E escreve: “O gado e as bolanhas são a expressão mais acabada do orgulho de uma família Felupe. O número das cabeças de gado e a extensão e produtividade das bolanhas são o padrão demonstrativo do zelo e amor pelo trabalho, não só do chefe de família como de todos os seus membros. Além disso, põem-nos ao abrigo dos maus anos que falta arroz. Não há uma família Felupe que não tenha, no fim das colheitas, nos seus celeiros dentro de casa, uma suficiente reserva de arroz, bastando no geral, para alimentá-la durante dois anos”.

O autor analisa também os diferentes contratos da sociedade Felupe e o direito de sucessões dizendo: “O princípio dominante em todo o capítulo das sucessões é o de que sendo a família quem possui as casas e os terrenos de lavor, não lugar à transmissão dos bens mas unicamente a transferência de administrador desses bens”.

Quanto ao direito penal, o autor recorda que o social e religioso estão interligados. O crime, para os Felupes, não implica, em princípio, atos volitivos porque se refere aos resultados e não à intensão, os Felupes distinguem perfeitamente o homicídio voluntário do involuntário. Elenca as interdições e atos desaconselhados e um vasto leque de sansões na ordem familiar e na ordem coletiva. E no termo do seu ensaio, Artur Augusto da Silva deixa-nos uma curiosidade que seguramente surpreenderá o leitor: “Os Felupes usam a mesma palavra para designar paz, felicidade e liberdade, facto de uma importância transcendente para a compreensão da filosofia prática desta etnia. Os três conceitos são, na vida de um povo, inteiramente insolúveis e bom seria para a humanidade que, em todas as línguas, estas três palavras fossem rigorosamente sinónimas…”

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13474: Notas de leitura (620): “Direitos Civil e Penal dos Mandingas e dos Felupes da Guiné-Bissau”, por Artur Augusto da Silva (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13483: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte II: Viagem no T/T Uíge até Bissau, em setembro de 1967, e depois até Catió, de DO 27 pilotada pelo srgt Honório

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Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão (CCS/BART  1913, Catiói, 1967/69).[ Foto  tirada pelo nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mec armam, CCS/BART 1913].


1. Continuação da publicação do testemunho do nosso  camarada, o grã-tabanqueiro Horácio Fernandes.que foi alf mil capelão no BART 1913 (Catió, 1967/69)  (*)

Esse tstemunho é um  excerto  do seu livro autobiográfico, "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009, pp. 127-162).

O Horácio Fernandes vive no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio no início dos anos 70. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.

Foi o nosso camarada e amigo Alberto Branquinho quem descobriu o paradeiro do seu antigo capelão (*).Tenho a autorização verbal do autor (que de resto é meu parente e conterrâneo), dada  por altura do nosso reencontro, 50 anos depois da sua missa nova (em 15 de agosto de 1959, em Ribamar, sua terra natal), para reproduzir esta parte do livro, relativa à sua experiênciade como capelão militar na Guiné, muito marcante e decisiva para o seu futuro como homem e como padre.

O livro já aqui foi objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos (*).

Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto (1995): Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia. Nesta II parte (pp. 135/139), o autor relata-nos à sua viagem até Bisssau e depois até Catió, onde foi colocado como capelão, em setembro de 1967, em rendição individual, na CCS/BART 1913.













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