sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21748: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (34): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
O casal está em férias, escolheram de mútuo acordo dois dias em território flamengo e um dia numa bela cidade holandesa, Groningen. Como em qualquer outro casal do mundo, não se podem esconder tensões familiares, Annette sofre algumas pressões e desabafa com o seu amado, ela tem muitos receios, de o perder, chega mesmo a dizer que é uma mulher com poucos atrativos e que ele se cansará dela, ao arrepio do que verdadeiramente se passa, andam de mão dada, beijam-se e afagam-se em plena rua, são dois cinquentões em ebulição, tanta coisa mudara nas suas vidas naquele virar do século. Ela nunca esquece o seu dever que são as memórias da Guiné, e ele adverte-a, que se prepare para os duríssimos meses que aí vêm, entre junho e novembro, flagelações em Missirá e Finete, patrulhamentos violentos, o colapso psíquico de um furriel altamente estimado, as chuvas inclementes, alguém que lhe chamará "branco assassino" e depois a mina anticarro. E, corolário de todas as desgraças, ser forçado a abandonar o Cuor.

Um abraço do
Mário


Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (34): A funda que arremessa para o fundo da memória


Mário Beja Santos

[Notas da viagem de fevereiro de 2001, do punho de Paulo Guilherme]
O voo aterrou pontualmente em Zaventem, não havia necessidade de passarmos por Bruxelas para deixar coisas na Rua do Eclipse, Annette estava radiante, ainda no parqueamento referiu-me como tudo estava organizado para aqueles escassos três dias na região da Flandres e a visita meteórica a Groningen. Seguimos a autoestrada para Antuérpia, Annette reservara alojamento numa pequena estalagem nos arredores de Lier, visitaríamos a pequena bonita cidade, alugaríamos bicicletas para percorrer a Campina, no dia seguinte. Estava esfusiante, mas notei-lhe tensão, por vezes as sílabas precipitavam-se e o olhar ligeiramente endurecia. Perguntei-lhe se estava fatigada, que não, como é que era possível estar fatigada comigo a seu lado? Mas que sim, houvera uma pequena discussão familiar com a filha, na noite anterior, viera jantar e ao telefone avisara a mãe que precisavam de conversar. Se eu achasse bem, desabafava já durante a viagem, disse prontamente que sim. Noémie caminhava para os 30 anos, conhecera vários acidentes amorosos, esta relação com Gaspar parecia duradoura, Gaspar trabalhava como luminotécnico com companhias de teatro, rendimentos incertos, ausências prolongadas, era um grupo que percorria a Valónia, regiões de França e a Suíça francesa. Gaspar falava em filhos, Noémie, sempre dada à prudência, recordou-lhe que o seu vencimento no Ministério das Obras Públicas era relativamente modesto (especialista em Geografia e Planeamento Urbano), a mãe ajudava-a, o pai simbolicamente, contraíra novo casamento e tinha filhos a caminho da adolescência, não seria melhor começar por juntar dinheiro para comprar uma casa, ter uma entrada e contrair um empréstimo? Gaspar disparatara, ela queria todas as comodidades e jogava pelo seguro, era como se lhe tivesse a atirar à cara a sua própria modéstia de rendimentos, se ela não se sentia bem com a situação dele e com os sonhos dele que lhe dissesse abertamente. Noémie perguntava-se se não podia ter uma ajuda maior por parte da mãe, Annette respondera-lhe calmamente que ela também ajudava Matthieu, a sua companheira, Isa, vivia de dar umas poucas aulas e de fazer umas serigrafias, como mãe não podia tirar a um para dar a outra, recordara à filha que dentro de dez anos iria ficar reformada com uma pensão do Estado e escassos investimentos, planeava organizar a sua vida com o companheiro português, por essa altura. A filha perdera a cabeça, chamara-lhe egoísta, só pensava na sua felicidade, nas suas conveniências, a relação com o português parecia perfeita, mas tinha muitos pontos de interrogação pela frente, saíra porta fora sem antes ter dito à mãe que os filhos contam primeiro.

Nesta altura da narrativa, Annette parou o carro numa berma e desatou a chorar. Procurei acalmá-la, dizendo coisas com sentido e outras não tanto, que tudo indicava que esta geração ia ter trabalho precário, pior remunerado que o nosso, que a vida em casal era completamente diferente da nossa geração, a mulher agora escrutinava as despesas domésticas e os extras de cada um, havia ainda homens que não estavam preparados para esta dimensão da igualdade, deixavam-se os filhos para mais tarde… E contava-se como nunca no passado, com a ajuda dos pais, exatamente o contrário da nossa geração, havia que gerir estas novas situações com uma certa abertura. Vendo a expressão congestionada de Annette, já à entrada de Lier disse-lhe para irmos tomar um café, beijei-a carinhosamente e pedi-lhe para vivermos estes escassos dias numa intensa felicidade e que era meu dever apoiá-la numa boa relação com a filha, e com o filho também, ainda não sabíamos como ia ser a nossa velhice, se na Bélgica se em Portugal, o fundamental era que os nossos quatro filhos, em circunstância alguma, sentissem que estavam a ser preteridos, mas que também, em circunstância alguma, quisessem usar os pais e os seus modos de vida para nos envenenar a relação.

O albergue era muito acolhedor, na verdade, deixámos os nossos trastes, antes de sair do quarto abracei-a muito carinhosamente, novo corrupio de lágrimas, depois recompôs-se, chegara a Zaventem com o dia nublado, havia agora uma brecha nos céus, uma temperatura tépida, procurámos um pequeno restaurante, que sorte, sopa de rabo de boi e frango de estragão, tomámos um bom café, com os dias curtos de fevereiro lançámo-nos à descoberta de Lier e a procurar informações para o dia seguinte na Campina. O semblante de Annette ia-se iluminando, dava-me a mão a todo o instante, beijávamo-nos em plena rua, os passantes não escondiam a curiosidade, era seguramente um casal em lua-de-mel, o templo religioso de Saint Gommaire é um prodígio, por ali deambulámos sem pressa, percorremos o casco histórico, estávamos fascinados. Preparámos o aluguer das bicicletas para o dia seguinte, Annette voltou a falar no terceiro dia das férias, sugeria que não perdêssemos tempo com Eindhoven, já que eu fazia tanto gosto em voltar a Groningen, havia que visitar o museu antigo que eu conhecera na década de 1980, quando fizera programas de televisão e Wim Bosbom, o meu colega holandês, que me convidara para vir buscar filmes a Hilversum e me acompanhara a Groningen, ainda hoje recordava a sumptuosidade da arte flamenga que ali se exibia. Concordei com tudo. Foram dias inolvidáveis. Os nossos corpos encontravam-se com cada vez mais facilidade, tomávamos esta aceitação como a certeza plena de um amor feliz, sem contrições, cheios de promessas. Em dado momento, talvez ainda frágil pela discussão havida com a filha, Annette disse ter medo que eu não suportaria viver cerca de dez anos entre cá e lá, o ónus recaía sempre sobre mim, ela era intérprete, estava sempre à mercê de um programa que era apresentado às sextas-feiras para a semana seguinte, ao longo da sua vida assistira a afastamentos de colegas que se tinham mostrado remitentes por trabalhar com tantos condicionalismos, ela não se podia dar ao luxo, a não ser no período de férias grandes, de fazer a sua própria gestão do tempo, como reagiria eu se deixasse de ter tantas reuniões em Bruxelas, amá-la-ia tanto que viria aqui todos os meses?. “Annette, cheguei a uma idade em que não é desejável brincar com os sentimentos, os teus e os meus. Esta história dos filhos, os teus e os meus, há de esclarecer-se, para bem de todos, não estamos reféns das vicissitudes das suas vidas, a nossa também conta. Não prescindo de me realizar, nunca sonhei em ser um velho a andar de pantufas em casa ou ir para o jardim jogar dominó, quero ser-me útil e aos outros, envolver-me em causas. Tu contas incondicionalmente comigo, não temas o futuro, o meu amor por ti enche-me de alegria, por favor, não voltes aos teus medos”.

Passeámos pela Campina, por vezes parávamos para beber uma cerveja, foi um dia de encanto. E adorei voltar a Groningen. Arrumávamos as malas para regressar a Bruxelas quando Annette me perguntou sobre os papéis da Guiné. Respondi-lhe serenamente que se preparasse, como já a tinha advertido, para meses duríssimos, entre junho e novembro. E queria que ela soubesse que parti do Cuor com uma mágoa sem fim, pode parecer absurdo, era como se estivesse a ser afastado de casa, a uma migração forçada, ainda por cima saía do Cuor como um Soncó, aceitara o pedido do régulo Malam, passara a fazer parte da família, cheguei a Bambadinca em estado de luto. E disse Annette que o meu regresso a Missirá vinte anos depois fora um mar de lágrimas, viera-me à mente tudo o que ali vivera e que os cinco sentidos podiam reproduzir em gritos de tanto sofrimento, tanta miséria diante dos meus olhos, e aquela confiança absoluta dada pelos meus bravos soldados.

Annette ouvia-me em silêncio e em silêncio viajámos para Bruxelas.

(continua)

A Lier medieval

Vitral da Igreja de Saint Gommaire, Lier

Lier

La Campine

Groningen, Países Baixos

Museu de Groningen, atual

Antigo edifício do Museu de Groningen

Tudo mudara na relação da bolanha de Finete e a cambança do Geba para Bambadinca. Com a independência, fechou-se a picada que atravessava os arrozais, quem viaja de Finete para Bambadinca ou vice-versa usa a estrada alcatroada. O porto de Bambadinca morreu, o abandono destruiu tudo, restam os pescadores que mourejam no Geba estreito, tanto descem até perto de Ponta Varela como sobem em direção à foz do Gambiel
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21722: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (33): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P21747: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (80): busto do capitão Teixeira Pinto, em Bissau, c. 1943 (Armando Tavares da Silva)


Guiné > Bissau > c. 1943 > Busto do cap Teixeira Pinto. Fonte: "Guiné Portuguesa. Album Fotográfico", 1943. Fotografias de Amândio Lopes. Cortesia de Armando Tavares da Silva


 1. Do nosso amigo Armando Tavares da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, com 45 referências no nosso blogue:

 [(i) engenheiro, historiador, prof catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra;  (ii) "Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História da Presença de Portugal no Mundo", atribuído pelo seu livro “A Presença Portuguesa na Guiné — História Política e Militar — 1878-1926”;  (iii) presidente da Secção Luís de Camões da Sociedade de Geografia de Lisboa]

Date: quinta, 7/01/2021 à(s) 16:05
Subject: Teixeira Pinto

Caro Luís,

Envio-te em anexo uma foto de um busto de Teixeira Pinto que existiu (existe?) em Bissau. Podes enviá-la por mim à Ana Lúcia Mendes (P 21738) (*) com cumprimentos e desejo de bom trabalho - talvez lhe interesse.

É reprodução da que vem em "Guiné Portuguesa. Album Fotográfico", 1943. Fotografias de Amândio Lopes.

Sobre Teixeira Pinto existe um livro: "João Teixeira Pinto. Uma vida dedicada ao Ultramar", de Carlos Vieira da Rocha, Lisboa, 1971. Tem prefácio de António de Spínola.

Abraço

Armando



Esta imagem é de 1947, 28 ou 29 de janeiro, ao tempo do governador Sarmento Rodrigues, e aquando da visita, à Guiné, do subsecretário de Estado das Colónias. (**)

Recorte da edição do "Diário de Lisboa, nº 8685, ano 26, sábado, 1 de fevereiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos > Pasta: 05780.044.11036 (com a devida vénia...) .


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Armando. Vou reencaminhar para a nossa doutoranda. Esse busto do Teixeira Pinto, já existia, de facto, em 1947, aquando da visita  do subscretário de Estado das Colónias (de 27/1 a 24/2/1947).  Já não devia existir ao tempo em que conheci Bissau (1969/71),

Quem será o autor do busto ? E em que data terá sido inaugurado o monumento ? Deve ser de 1940, não ? Também não sei qual era exatamente a sua localização.  Talvez se consiga saber pela indentificação do edifício que ficava por detrás. A mim, parece-me ser o edifício da Administração Civil, perto da Catedral de Bissau, na Av da República (,hoje, Av Amílcar Cabral).

O monumento deve ter sido removido mais tarde, substituído pela estátua, da autoria do professor de Belas Artes, o escultor Euclides Vaz (1916-1991), ilhavense. (Foi também professor de outro ilhavense, o nosso amigo comum, o arquiteto José António Paradela.)

O nosso camarada Carlos Silva, que conhece bem o território, de antes e depois da independência,  também põe à nossa disposição (e à disposição da nosssa doutoranda) um vídeo sobre a estatuária colonial portuguesa na Guiné e as suas "andanças" desde 1974 (. Vd. a sua página, Jumbembem, no You Tube). 

A estátua desmantelada do "capitão-diabo",
agora na fortaleza do Cacheu. Fotograma
do vídeo do Carlos Silva,
"Guiné-Bisssau, Estatuária" 
(2020) (7' 01")
A estátua do Teixeira ficava no Alto do Crim, parque municipal (, atual Largo da Assembleia Municipal); a estátua, em bronze, desmantelada, encontra-se ou encontrava-se há uns anos, ao ar livre, no forte do Cacheu, que funciona,  infeliz e vergonhosamente,  como uma espécie de caixote do lixo da presença histórica dos portugueses na Guiné; e é pena, porque, quer queiramos ou não, temos uma história comum, e só podemos ganhar, uns e outros, os portugueses e os guineenses, se soubermos construir pontes ligando o passado, o presente e o futuro, Está na altura de fazermos as pazes com o passado... E o passado deve ser explicado aos nossos filhos e netos. Essa pedagogia histórica está por fazer.

Obrigado aos dois,ao Armando e ao Carlos,  pela pronta colaboração na resposta ao pedido da doutoranda Ana Lúcia Mendes (*).

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(**) Vd. poste de 9 de abril de  2017 > Guiné 61/74 - P17224: Historiografia da presença portuguesa em África (73): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte II: Prosseguem as inaugurações, em 29 e 30 de janeiro... Nessa época havia uma linha área, a Linha Imperial, entre Lisboa e Lourenço Marques....

Vd. também 19 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17155: Historiografia da presença portuguesa em África (72): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte I: A consagração do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues, como homem reformador e empreendedor (Reportagem de Norberto Lopes, "Diário de Lisboa", 27/1/1947)

Guiné 61/74 - P21746: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(3): Lições de artilharia para infantes..., sob a forma de piadas do passado


Foto nº 2 
 

Foto nº 1


Foto (e legenda): © Carlos Arnaut (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Carlos Arnaut,  membro nº 817 da nossa 
Tabanca Grande, ex-alf mil art, cmdt do 16º Pel Art (Binar, Cabuca,  
Dara, 1970/72):

Data - 7 jan 2021 12h03
Assunto - Paródias do passado (*)


Camarigo Luís, em primeiro lugar quero desejar a todos os Tabanqueiros votos sinceros de um 2021 que finalmente nos liberte desta opressão Covidiana.


Tendo vindo a seguir com atenção as estatísticas referentes à vida do blogue, deixa-me agradecer-te, e aos co-editores, o trabalho tão meritório que tens vindo a desenvolver de uma forma apaixonada, mas rigorosa, na defesa das nossas memórias.

No meu currículo não referi que sou filho de militar, Coronel de Artilharia falecido há alguns anos, com várias comissões em Angola, país onde ele prestou serviço pela primeira vez de 1949 a 1954 [António M. Arnaut]. 

Cheguei ao colo da minha mãe, os primeiros anos da minha vida foram assim passados entre Luanda e Sá da Bandeira, hoje Lubango. Regressei nos anos sessenta, o meu pai foi mobilizado em 63, tendo estudado em Luanda até 65 quando ele terminou aquela comissão como Ten Cor.

Foi pura coincidência o facto de eu ter vivido a minha guerra como artilheiro, tanto mais que logo que entrei para a recruta o intimei a não interferir, fosse de que maneira fosse,  no meu percurso militar, tendo essa coincidência dado origem após o meu regresso a divertidas e acesas discussões sobre a rapidez e eficácia da nova geração de artilheiros, ao conseguir, por exemplo, pôr à noite granadas no ar em menos de três minutos. 


Todo este arrazoado visa sobretudo contrariar a tendência de queda das participações no blogue, pelo que me lembrei de contribuir com dois menus que vigoraram em duas confraternizações distintas entre artilheiros, meu pai e camaradas seus contemporâneos.


A imaginação posta ao serviço da ementa terá especial significado para os meus camaradas da Arma de Artilharia, dada a especificidade da linguagem.


A primeira tertúlia, realizada na extinta Cooperativa Militar, infelizmente não foi datada (Foto nº 2), tendo a segunda ocorrido em Março de 81 (, foto nº 1).


Se entenderem que este modesto contributo vale a pena ser publicado, o meu velhote, lá onde estará, ainda se vai rir, (**)


Abracelo grande, conto voltar em breve.


Carlos Arnaut
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Guiné 61/74 - P21745: Parabéns a você (1921): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA da 2.ª Comp/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21742: Parabéns a você (1920): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21744: O nosso blogue em números (69): No mundo globalizado, fomos vistos em muitos países, com natural destaque para Portugal (41%), EUA (25%) e Brasil (6%)...Cabo Verde e a Guiné-Bissau, infelizmente, ainda não aparecem no Top 20... São dois pequenos países, de resto com taxas de penetração da Internet desiguais: 63,3% e 12,7%, respetivamente



Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


.  Gráfico nº 10 - Principais localizações dos nossos visitantes (em 10,6 milhões de visualizações de páginas, 2010-2020)

 
Gráficos nº 9 e 10 - Principais localizações dos nossos visitantes (leia-se: visualizações de páginas, entre maio de 2010 e o final de 2020): no Top  10, o destaque vai para Portugal (com  cerca 41% do total), seguido dos Estados Unidos da Amércia (25%) e o Brasil com 6%... Enfim, quando  comparamos estes dois gráficos com os do ano passado (*), a estrutura mantem-se no essencial 

Infografia: Blogger (2021) (com a devida vénia)


1. É caso para dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande"... 

A principal origem dos que visitam o nosso blogue, quase dois terços, é Portugal (41%) e os EUA (25%) Gráfico nº 9)

Segue-se, à distância, o Brasil (6%), a França (5%) e a Alemanha (4%). E ainda com mais de 1%, o Reino Unido e a Rússia.

Este perfil não se tem alterado desde 2014, ano em que o Brasil perdeu o 2º segundo lugar para os EUA. (**)

No mundo globalizado em que vivemos, somos vistos em muitos lados (Gráfico nº 10): seguem-se por ordem  decrescente (com menos de 1%) (,entre parêntesis indicam-se os números absolutos, em milhares) os seguintes países:

Polónia (87,6)
Espanha (71,9)
Ucrânia (60,9)
Região Desconhecida (58,5)
Canadá (50,8)
China (50, 6)
Itália (38,3)
Hong Kong (35,9)
Emiratos Árabes Unidos (26,3)
Paises Baixos (22,7)
México (19,9)
Suécia (19,1)
Outros (1,28 milhões).


Nesta lista dos Top 20, não aparece infelizmente mais nenhum membro da CPLP, e nomeadamente a Guiné-Bissau e Cabo-Verde, onde temos gente da Tabanca Grande. São, de resto,  dois países onde o grau de penetração da Internte é muito desigual:

(i) Guiné-Bissau: 12,7% da população, em finais de 2019,  usava a Internet. (População total, estimada em 2020: 1,998 milhões);

(ii) Cabo Verde: 63,3%, em finais de 2019, usava a Internet. (População estimada em 2020: 556 mil)

Fonte: Internet World Stats > Africa [consut em 7/1/2021)

(Continua) 
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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 10 de janeiro de  2020 >   Guiné 61/74 - P20543: O nosso blogue em números (65): Quem nos visita vem sobretudo de Portugal (41%) mas também dos EUA (24%) e do Brasil (6%), usa o Chrome (38%) como navegador, e o Windows (77%) como sistema operativo...

(**) Último poste da série > 6 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21740: O nosso blogue em números (68): em 2020, no "annus horribilis" da pandemia de Covid-19, tivemos uma média de 4,5 comentários por poste (num total de 5410 comentários em 1202 postes)

Guiné 61/74 - P21743: Álbum fotográfico de Eduardo Ablú , ex-fur mil, CCAV 678 (Ilha do Sal, Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) - Parte I


Foto nº 1 > Cabo Verde > Ilha do Sal > Monumento à CCE  [Companhia de Caçadores Especiais], 302. Divisa, "O suor poupa sangue". Na foto, o fur mil Eduardo Ablu. A CCE 304 esteve na ilha do Sal entre 25/4/1962 e 18/5/1964



Foto nº 2 > Cabo Verde > Ilha do Sal > CCAV 678  (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) >  Desembarque do Uíge, para terra na Ilha do Sal, em 20.05.64.


Foto nº 3 > Cabo Verde >Ilha do Sal > Saida do Sal, para a Guiné no Contratorpedeiro Lima, em 17.07.64.



Foto nº 4 > Guiné > Região de Bafatá > Fá Mandinga > CCAV 678 > 
Da esquerda para a direita: Furrieis Bastos, Ablu, Ferreira (pai do Rui),  Primeiro Sargento Alberto Mendes, Furrieis Frazão, Matos, Guimarães.

Fotos (e legendas): © Eduardo Ablu (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de Eduardo Ablu , ex-fur mil, CCAV 678 (1964/66), que vive em Elvas:

Data - 05/01/2021, 19:16 



Assunto - Envio de fotos


Boa tarde, Luís

Envio estas fotos para publicar no blogue, se assim o entender.
Tenho mais. 

Foto 1-Confirma que a foto do Rui Ferreira é da Ilha Do Sal (*).

Foto 2-Desembarque do Uíge, para terra na Ilha do Sal, em 20.05.64.

Foto 3-Saida do Sal, para a Guiné no Contratorpedeiro LIMA, em 17.07.64.

Foto 4-Em Fá, Furrieis Bastos, Ablu, Ferreira (pai do Rui),  Primeiro Sargento Alberto Mendes, Furrieis Frazão, Matos, Guimarães

Tenho mais fotos de Cabo Verde e Guiné.
Um abraço.
Ablu

2. C0mentário do editor LG:

Obrigado, camarada Eduardo. O nosso amigo Rui Ferreira vai ficar feliz ao ver estas fotos. E nós enriquecemos a informação sobre a vossa CCAÇ 678, da qual só tínhamos até agora um representante na nossa Tabanca Grande, o Manuel Bastos Soares. 

Tu podes ser o segundo, se entretanto aceitares o nosso convite para te juntares aos 824 amigos e camaradas da Guiné (dos quais, infelizmente, 10% j´q faleceu nestes últimos 16 anos).

Manda-nos dpois fotos tuas, 1 atual e outra do tempo da tropa e da guerra. E fala-nos mais sobre os lugares que ambos pisamos, com uma distância de 5 anos: eu estive na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), e boa parte da nossa atividade  operacional foi no subsector do Xime.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P21742: Parabéns a você (1920): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21737: Parabéns a você (1919): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21741: (Ex)citações (383): Jaime Frederico Mariz Alves Martins, Major Graduado Infantaria, vítima mortal por derrube de aeronave em 6 de Abril de 1973, na Região de Sambuiá (António Carlos Morais Silva, Cor Art Ref)

1. Mensagem datada de 4 de Janeiro de 2021, do nosso camarada António Carlos Morais Silva, Cor Art Ref, professor da Academia Militar e membro da nossa Tabanca Grande (no CTIG foi instrutor da 1.ª CComandos em Fá Mandinga, Adjunto do COP 6 em Mansabá e Comandante da CCAÇ 2796 em Gadamael, entre 1970 e 1972), a propósito de um comentário de Carlos Pereira, ex-Fur Mil IOI, deixado no Poste P21391[1]:

Meu caro Vinhal

Em regra sou muito cuidadoso naquilo que escrevo e muito em especial neste melindroso assunto dos Mortos em Combate que resolvi publicar.

1 - Escrevi na ficha biográfica publicada, o constante do Relatório da Acção e despacho do SJD/QG/CTIG que anexo:



2 - Referi o abate por Strela conforme consta na FAP no documento seguinte (extracto):

Fará o favor de informar o ex-Fur Mil Carlos Pereira deste conjunto de documentação que pode ser consultada no Arquivo Histórico-Militar e na Biblioteca do EMFA/Alfragide.

Abraço e muita saúde
Morais Silva

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Notas do editor:

[1] - Vd. poste de 25 de Setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21391: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XLIV: Jaime Frederico Mariz Alves Martins, maj grad inf (Oeiras, 1936 - Guidaje, 1973)

Último poste da série de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21719: (Ex)citações (382): Tavira, CISMI, por quem nenhum de nós morreu de amores... (João Candeias da Silva / Carlos Silva / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P21740: O nosso blogue em números (68): em 2020, no "annus horribilis" da pandemia de Covid-19, tivemos uma média de 4,5 comentários por poste (num total de 5410 comentários em 1202 postes)


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


1. O número de comentários, em 2020, num total de 5410 (limpos de mensagens Spam) foi foi um pouco inferior ao do ano passado (5819) (Gráfico nº 7) mas está acima da média dos últimos seis anos, que foi de 4128.

A dividir por 1202 postes publicados em 2020, temos uma média de 4,5  comentários por poste, no ano transato  (Gráfico nº 8). Cumprimos assim o nosso voto, para 2020, que era o de  manter a média anual dos útimos 15 anos, que era de 4 (, em rigor, 3,9) comentários por poste!

O nosso recorde são os  6 comentários, em média, por poste, nos anos de 2011 e 2012 em que publicámos um total de 1756 e 1604 postes, com 11 mil e 10,5 mil comentários, respetivamente... 

 A partir daí, a participação dos nossos leitores na caixa de comentários,  foi progressivamente  diminuindo: em 2018 ficou mesmo abaixo dos 4 mil comentrários. Houve uma clara recuperação em 2019 e 2020.

 Considerando os nossos  16 anos de existência (2004-2020), a média anual de comentários por poste anda pelos 3,9 ( 85749 comentários para 21727 postes publicados). 

Convém sublinhar, no entanto, nos nossos primeiros anos de vida (2004-2008), em que  publicamos 3690 postes, o número de comentários foi reduzido: 1200,o que dá 0,3 comentários por poste.

Estas "médias",como todas as médias estatístias, são "enganadoras": há muitos postes sem um único comentário, a maior parte tem um, dois, três, quatro, cinco ou seis ... Às vezes 10. Outros podem ter, excecionalmente,  algumas dezenas: 20, 30, ou até mais... Tu depende do conteúdo, do interesse, do autor, da ilustração fotográfica, etc. 

Há,naturalmente, postes mais "polémicos" ou mais "interessantes" ou até mais "apaixonantes" do que outros. Tudo depende do assunto e da sua abordagem. Os postes com pontos de vista menos "consensuais" podem originar mais comentários. Em todo o caso, ler e comentar dá trabalho... 


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


2. Estamos a falar de comentários "limpos de Spam" (mensagens não desejadas, publicitárias e outras, como as maliciosas). 

Como se sabe, esta é uma das  pragas com que tivemos de lidar no passado. O nosso servidor, o Blogger, tem, de há muito,  um sistema muito eficiente de filtragem de mensagens não desejadas, na caixa de comentários, se bem que isso  iniba ou desmotive alguns dos nossos leitores, menos familiarizados com este procedimentos de segurança que tivemos de adotar.

Recorde-se que qualquer leitor, mesmo não registado no Blogger ou sem conta no Google, pode comentar como "anónimo"... As nossas regras exigem, no entanto, que no final da mensagem deixe o seu nome e  apelido (,como é conhecido dentro ou fora da Tabanca Grande). 

Como "anónimo", o leitor terá sempre que "clicar" na caixa que diz "Nâo sou um robô"... 

O ideal é, pois, usar a conta do Google (, basta só criar uma conta, o que é gratuito): quase toda a gente, hoje em dia, tem um endereço de @gmail... 

Os comentários dão mais vida ao nosso blogue!... E sáo a prova de que estamos vivos!...Oo comentário não precisa de ser extenso: às vezes basta uma linha ou duas. (Há um limite de cerca de 4 mil carateres por comentário; mas podem desdobrar-se os comentários.)

Recorde-se que uma parte desses comentários pode dar (e tem dado) origem a postes, por iniciativa em geral dos editores mas também, nalguns casos, por sugestão dos autores. 

Por outro lado, alguns camaradas nossos continuam a queixar-se de perderem, às vezes,  extensos comentários, certamente por terem tocado numa tecla errada... Nestes casos, é preferível escrever o texto em word, à parte e no fim, fazer "copy & paste"... É mais seguro.

Hoje, em dia de Reis, reforçamos os votos da Tabanca Grande  para que, em 2021, os nossos leitores.  apareçam mais vezes, a comentar os nossos postes. E quem aparecer será sempre bem vindo, desde que dê a cara...
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

7 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20536: O nosso blogue em números (64): em 2019, tivemos 5819 comentários, uma média de 4,9 comentários por poste... Voto para 2020: manter a média anual dos útimos 15 anos, que é de 4 comentários por poste!

7 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19376: O nosso blogue em números (58): em 2018, tivemos 3900 comentários, uma média de 3,3 comentários por poste... Voto para 2019: recuperar a média de 2015, de 4 comentários por poste..

(**) Últimos postes da série:

5 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21735: O nosso blogue em números (67): no "annus horribilis" de 2020, o número de visualizações de páginas foi de cerca de 800 mil, tendo atingido um total de 12,4 milhões

4 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21732: O nosso blogue em números (66): continuamos vivos: no "annus horribilis" de 2020 publicámos 1202 postes, valor que está dentro da média anual dos últimos 

Guiné 61/74 - P21739: Historiografia da presença portuguesa em África (246): Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX: O Capitão-de-Fragata da Real Armada, José Joaquim Lopes de Lima (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
Não se encontra explicação para o silêncio dos historiadores. José Joaquim Lopes de Lima, vê-se à légua, não fala de cor, era um administrador colonial experimentado e oferece-nos nesta sua digressão por Cabo Verde e Guiné um documento que inventaria, na lógica que se irá consolidar décadas depois, a gama de conhecimentos sobre as gentes, os recursos, a ocupação (fundamentalmente a falta dela), quem era quem nas praças e nos presídios. É um relato algo complementar à Memória sobre a Senegâmbia Portuguesa que um filho da terra, Honório Pereira Barreto, enviará para Lisboa. E assombra como Lopes de Lima propõe soluções, rende-se aos fascínios da natureza e não lhe doem as mãos a falar de tristes realidades como será o caso daquele exército de maltrapilhos e meliantes.
Uma peça singular para a historiografia guineense, da primeira metade do século XIX. De leitura obrigatória. E também quando se lê o que ele escreve sobre Cabo Verde (territórios interrelacionados na época) também se questiona como é que é possível a historiografia cabo-verdiana poder silenciá-lo.

Um abraço do
Mário


Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX:
O capitão-de-fragata da Real Armada José Joaquim Lopes de Lima (2)


Mário Beja Santos

J
osé Joaquim Lopes de Lima foi oficial da Armada e administrador colonial com vasto currículo, governou a Índia e Timor e Solor, entre outras responsabilidades. Cavaleiro da Torre e Espada, membro do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha D. Maria II, deram-lhe uma incumbência graúda, que ele abraçou, dando à estampa seis volumes que a pretexto da estatística das possessões portuguesas revelou-se um emérito plumitivo, um viajante curioso e documentado. O primeiro volume é dedicado a Cabo Verde e às suas dependências na Guiné Portuguesa. Tanto quanto sabemos, e independentemente de na época ser publicada a memória sobre a Senegâmbia Portuguesa, de Honório Pereira Barreto, outra joia narrativa e peça historiográfica incontornável, o relato de Lopes de Lima é o primeiro grande documento sobre a Guiné do século XIX, recorde-se que a data de publicação é 1844.

Logo no proémio, bem curiosa é a carta que Lopes Lima endereça a José Falcão, com data de 15 de junho de 1844:
“É certo que há cerca de dez anos se tem talvez escrito mais sobre as colónias portuguesas do que em todo o século passado; mas todos os escritores do tempo, ricos de saber, tropeçam a cada passo em erros, dúvidas, e lacunas, por falta de dados estatísticos seguros, a que se apegam (…) Cada um destes livros, depois de uma ligeira introdução histórica, será dividido em duas partes, contendo a primeira a estatística geral da respectiva Província e a segunda a estatística topográfica de cada uma das suas divisões naturais, por capítulos. E refere que na primeira parte se dá realce à geografia, à divisão do território, à população, ao clima, solo e produções, indústrias, legislação, força pública, religião, instrução, rendimento e despesa; e depois proceder-se-á a uma notícia geral do país”.

Prova comprovada que estudou e inventariou, é o rol que ele nos dá das plantas e dos animais. Nas plantas, é minucioso, e parece um tanto inacreditável que ele tenha visto o que escreve: abóbora, agrião, alface, ananás, anil, arroz, árvore de cera, bambu, bananeira, beldroega, cabaceira ou calabaceira, café, papaia, feijão, figueira-brava, inhame, laranjeira, limoeiro, malagueta, manga, melancia, milho-miúdo, palmeira de cola, palmeira de dendém, pau de incenso, pepino, poilão, cibe, tamarindo, tomateiro. E passando para os animais, outro rol em extenso: boi, búfalo, cabra, cão, carneiro, cavalo, cavalo-marinho, chacal, elefante, fritambá (uma espécie de antílope), gazela, javali, leão, lebre, lobo, macacos, onça, porco, Sim-sim, tigre (?) e veado.

É lapidar quando chega a altura de falar da educação, nada de ilusões: “Não tratarei em separado da instrução pública nas Praças e Presídios da Guiné: que é coisa de que lá nunca houve nem o menor vestígio: os filhos da Guiné, que têm instrução, foram educados fora do seu país; e algum que de lá nunca saiu, e sabe ler, escrever e contar, obteve o ensino (à custa de presentes) de algum oficial ou inferior da guarnição da respectiva Praça. Mais adiantados estão os Mandingas, sabem quase todos ler e escrever árabe”.

Ao esmiuçar quem habita na Guiné, diz que a população possui três classes:
“1 – dos poucos negociantes brancos, pretos ou mulatos que vivem honestamente à Portuguesa ou à Inglesa ou à Francesa, enfim, quase à Europeia, acomodando-se às práticas ou exigências dos povos brutais, há por vezes belas da Guiné, activas e laboriosas, e diz-se que destas ligações têm nascido mui grossas fortunas;
2 – soldados, mal vestidos, mal nutridos, mal disciplinados, enervados pelo vício, e pelas doenças inseparáveis dele, que ali há longos anos vegetam languidamente; por vezes, se tem procurado melhorar esta miserável milícia (composta de malfeitores de Portugal e soldados incorrigíveis, vadios e ratoneiros de Santiago); mas esses melhoramentos serão sempre de pouca duração sem um sistema novo – uma reforma radical, começando por oficiais e sargentos;
3 – os chamados Grumetes, gentios baptizados, oriundos de diversas nações, que vivem apinhados em casa-palhoças à roda dos nossos fortes, servindo como marinheiros as canoas, e muitas vezes corretores no comércio interno; estão sujeitos aos governadores das praças, contra os quais amiúde se revoltam. Estes negros só mostram ser cristãos em ir à missa, quando a há, e misturam palavras santas da nossa religião com as erróneas da sua gentilidade; em tudo o mais, vivem soltamente, entregues à embriaguez e à libertinagem. Quando se casam, é mister que a noiva ao sair da igreja venha escoltada por gente bem armada, porque é de uso acometerem o préstito e roubam à viva força a desposada, a qual tem depois de ser resgatada a aguardente”
.

Lopes Lima deixa bem claro que são mais os estrangeiros a fazer negócio na Senegâmbia que os portugueses:
“Há todo o fundamento para supor que as exportações da Guiné Portuguesa estão entregues a estrangeiros; além de dois ou três navios americanos, há umas vinte e tantas escunas, e chalupas inglesas, e francesas, da Gâmbia e da Goreia, que fazem duas ou três viagens por ano, levando aos nossos portos (e às vezes directamente às povoações do gentio dentro dos nossos rios) carregações valiosas, e transportando em retorno géneros de maior valia ainda, que os poucos negociantes das nossas praças lhes aprontam de boa vontade, porque disso tiram lucros razoados (Portugal é que não os tira), e com os quais carregam grandes navios para Inglaterra e França.
Este mal vem de longe: já em 1594 se queixava André Alvares de Almada que os portugueses residentes em Guiné andavam lançados com os ingleses, e franceses, que os traziam muito mimosos: e a razão disso era então, e é hoje, o terem os portugueses de cá deixado de ir àquele resgate, como o mesmo Almada lamenta, queixando-se de que o ouro ia fugindo para outras terras por não haver nas nossas com que o comprar, pois que se passavam oito anos sem irem lá os navios: é o mesmo que hoje acontece; o mesmo que tem sempre ali acontecido desde que as carregações de escravos foram pelos nossos reputadas única exportação de Guiné”.


E a seguir, depois de elencar as forças militares existentes vai falar das fortificações.

(continua)

Carta hidrográfica do golfo da Guiné, de José Joaquim Lopes Lima, por amabilidade da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21709: Historiografia da presença portuguesa em África (245): Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX: O Capitão-de-Fragata da Real Armada, José Joaquim Lopes de Lima (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21738: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (79): pedido de colaboração no âmbito de doutoramento: cedência de imagens: foto de José Nunes junto ao monumento a Teixeira Pinto, em Bissau (Ana Lúcia Mendes, Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa)



Guiné > Bissau > s/d  [c. 1960] > Monumento a Teixeira Pinto < Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, nº 112. (Edição Foto Serra, C.P. 239,  Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL) (*)

 
Colecção de postais ilustrados do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria.Selecção dos postais,  digitalização, edição de imagem e legendagam: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)
 


Guiné > Bissau > c. 1968/70] > O nosso camarada Jo´se Nunes junto ao monumento a Teixeira Pinto <
(José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo, BENG 447 (Brá, 1968/70) esteve na Guiné de 15jan68 a 15jan70).(**)

Foto (e legenda): © José Nunes (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de Ana Lúcia Mendes, doutoranda em Escultura, Faculdade de Belas Artes,  Universidade de Lisboa:  

 
Data: terça, 5/01/2021 à(s) 19:49
Assunto: pedido de colaboração - ambito de doutoramento
 

Caro Luís Graça, 

 O meu nome é Ana Lúcia e sou estudante de doutoramento em Escultura, na Faculdade de Belas Artes - Universidade de Lisboa. 

A minha investigação incide no estudo da estatuária portuguesa do século XX, tendo como caso de estudo a obra do escultor Euclides Vaz [Ílhavo,1916 - Colares, Sintra, 1991].

Encontro-me de momento a redigir um artigo sobre o monumento a Teixeira Pinto, tendo encontrado uma fotografia no seu blog do seu colega José Nunes junto da estátua. Gostaria de solicitar o uso da mesma no meu projecto.

Como sabe as estátuas foram todas removidas dos locais originais após a independência das colónias e tem sido extremamente difícil encontrar fotografias das mesmas nos seus contextos de origem. Assim, a vossa colaboração seria uma enorme ajuda.

Muito agradeço,
Ana Lúcia

2. Resposta do editor LG:

Obrigado, Ana, pelo seu contacto e o seu pedido. O nosso blogue é, modéstia àparte, uma importante fonte de informação e conhecimento sobre a presença histórica de Portugal na Guiné (hoje, Guiné-Bissau).

O seu pedido tem o melhor acolhimento, da nossa parte, tanto dos editores do blogue como do nosso camarada José Nunes, fotografado junto à estátua do Teixeira Pinto em Bissau (*). Não sabia que um ilhavense, o Euclides Vaz, era o autor da escultura. Tenho em Ílhavo alguns bons amigos. E é, de resto, uma terra que muito prezo, pela sua secular ligação à nossa epopeia marítima (incluindo a pesca do bacalhau).

Fará o favor, depois,  de nos citar, ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné e ao nosso camarada José Silvério Correia Nunes. 

Fica também ao seu dipor a imagem (digitalizada)  do Monumento a Teixeira Pinto, Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, nº 112., Edição Foto Serra, Bissau, c. 1960/70. (**)

Sobre o capitão [João] Teixeira Pinto (Moçâmedes, Angola, 1876 — Negomano, Moçambique, 1917) temos mais de um meia centena de referências.

Desejo-lhe o melhor sucesso académico e votos de boa saúde e bom trabalho. Luís Graça. (***)
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P21737: Parabéns a você (1919): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21728: Parabéns a você (1918): António Ramalho, ex-Fur Mil da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21736: Facebook...ando (59): Sobre a CCAV 678 a que pertenceu o fur mil Jorge Nicociano Ferreira, já falecido: (i) esteve menos de 3 meses na ilha do Sal, Cabo Verde; (ii) foi render a CCE 342 (?); (iii) em Bissau, e antes de partirem para a Zona Leste (Bambadinca), fizeram escoltas a barcos de reabastecimento às NT em Catió (Rui Ferreira / Eduardo dos Santos Roque Ablú)


Brasão da CCAV 678

1. Comentários ao poste P21726 (*)


(i) Rui Ferreira:

Caro Luís,

Antes de mais obrigado pelos desejos de bom ano, recíprocos para si e todos os camaradas desta Tabanca Grande. 

O meu poste no Facebook foi curto e difícil de escrever devido a problemas técnicos com o meu telemóvel (estas armas também encravam). 

Sou jornalista no jornal "O Jogo", como percebeu no meu perfil, e a guerra na Guiné despertou-me a curiosidade desde cedo.

Na primeira foto não disponho de qualquer legenda nem sequer as habituais dedicatórias à minha mãe e à minha irmã. É, de facto, possível que tenha sido tirada em Cabo Verde, onde sei - e tenho fotos - que o meu pai esteve com a CCAV 678. Também poderá ser de Tavira, onde o meu pai fez parte da recruta. Estremoz não será, porque eu cumpri lá o serviço militar no RC3 (depois da recruta na EPC) e nunca vi semelhante monumento.

Em relação às segunda fotografia, esta com dedicatória, a legenda é precisamente "Escolta, Catió" e data de setembro de 1964. Tenho outra foto com data semelhante, com mais camaradas e igual legenda. Desconheço o porquê de ter estado nessa zona, fora do sector leste L1.

Colocarei à vossa disposição todas as fotos de que disponho, com mais qualidade, já que estas foram reproduzidas com o meu telemóvel. Deixo-lhe também o meu contacto telefónico (917203938), pois seria um prazer falar consigo sobre os locais e as histórias que conheceram e viveram.

Um grande abraço e obrigado pelo post.
Rui Ferreira


(ii) Eduardo dos Santos Roque Ablú:
Cabo Verde > Ilha do Sal > 1964 >
Miitares da CCAV  678 junto ao memorial
da CCE 304 (1962/64)


Sr. Rui Ferreira:

O meu nome é Eduardo dos Santos Roque Ablú, sou natural de Elvas onde vivo. 

Fui colega do seu pai, na CCAV 678,e só ontem dia 3/1/21, pelo colega Manuel Bastos Soares, que através deste blogue soube da morte do seu pai, pela sua publicação. 

Está correcto,o seu pai ter ido a fazer escolta a Catió,porque enquanto nos mantivémos em Bissau no Quartel General, alguns colegas foram fazer escolta a barcos que iam fazer reabastecimento a tropas no mato. 

A fotografia a que se refere. é de facto da Ilha do Sal, em Cabo Verde, é um memorial da CCac que fomos render. 

O meu contacto: Telem  914750585. 

Guiné 61/74 - P21735: O nosso blogue em números (67): no "annus horribilis" de 2020, o número de visualizações de páginas foi de cerca de 800 mil, tendo atingido um total de 12,4 milhões


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)



1. O nosso blogue atingiu, no final do ano de 2020 (*), os c. de 12, 4 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de "visitas", o que não é exatamente igual a "visitantes"...), segundo as estatísticas do nosso servidor, o Blogger: 

(i) 1,8 milhões desde o início do blogue, em 23/4/2004 até maio de 2006;

e (ii) c. 10,6  milhões, desde então até 31/12/2019 (Gráfico 5).

 De 2011 a 2020, temos um média anual de cerca de um milhão de visualizações.

Importa recordar que, no início do blogue, no período de abril de 2004 a maio de 2010, tínhamos um outro contador; o saldo acumulado de visualizações de páginas não transitou automaticamente, a partir de maio de 2010. Quando o Blogger disponibilizou um contador, começou a contagem no zero....

 No "annus horribilis" de 2020, com mais pessoal em casa, devido ao confinamento, tivemos uma média dia diária de 2185 visualizações de página por dia, mais de 90 por hora, 1,5 por minuto,,,


Gráfico nº 6 - Evolução das visualizações de página nos últimos 12 meses. 
Fonte: Blogger (2021)


2. Não podemos (ou achamos que não vale a pena) desagregar este número pelos meses do ano. Mas sabemos que o movimento é variável conforme os meses, as semanas, os dias e as... horas (Gráfico nº 6):  por exemplo, houve vários picos em janeiro, março, maio, julho, outubro e dezembro.

Sabemos, pela experiência passada, que os dias com menor movimento tendiam a ser ao fim de semana (sábado e domingo) e aos feriados,,,

No ano de 2020, foi o dia de 22 de fevereiro o que registou menos visitas (em rigor, visualizações);  975; e o maior foi o 19 de março com 8007 visualizações...

E os dias com mais movimento, nos anos anteriores, eram os do início da semana (segunda e terça-feira). Também sabíamos que, em geral, depois do almoço e depois do jantar havia mais movimento, mas isso já tendia a mudar com a generalização das Redes Sem Fio e da Internet móvel.

(Continua)
 
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Notas do editor:



segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21734: Notas de leitura (1332): Espaço social e movimentos políticos na Guiné-Bissau (1910-1994), por Philip Havik, na Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 18-22, 1995-1999 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Desdobram-se os ensaios e estudos em torno das estruturas sociais, económicas, culturais e políticas guineenses, cada investigador escolhe os seus quadros de referência. Philip Havik considerou importante encetar o seu trabalho com a mudança social operada pela Liga Guineense que teve vida efémera (1911-1915) mas que o primeiro movimento de cariz nacionalista, estudou depois a ascensão dos movimentos nacionalistas a partir de finais de 1940, o que se passou na luta armada e no pós-independência, procurando um quadro explicativo para os sucessivos desaires com as políticas de Luís Cabral e Nino Vieira.
Como outros autores, Havik considera que a Guiné-Bissau é um Estado ‘fraco’ mas devido à particularidade notável da sua ágil sociedade civil mantém um facho de esperança aceso para melhores dias que virão.

Um abraço do
Mário


Mundasson i Kambansa:
Espaço social e movimentos políticos na Guiné Bissau (1910-1994) (2)


Beja Santos

Philip Havick
O
ensaio de Philip J. Havik publicado na Revista Internacional de Estudos Africanos nº18-22, 1995-1999 visa observar e comentar certos padrões de articulação política em termos sociais e geográficos na sociedade guineense, interpretando certos saltos qualitativos, entre 1910 e 1994.

O autor regista a composição da classe civilizada e assimilada dos núcleos urbanos. Conquistada a independência, o PAIGC fracassou nas cidades, isto quando, na luta armada recusou estrategicamente os núcleos urbanos e mudou-se para o mato onde organizou comités de tabanca e enveredou por um impulso democrático de participação popular. Amílcar Cabral sabia que a criação de um Estado dominado por um único partido pressupunha contrapesos como a consulta popular, todo esse esforço caiu por terra a seguir à independência, o PAIGC descurou o meio rural, congeminou grandes projetos económicos demonstradamente dispendiosos e ineficientes, cedo se esbarrondaram. Os movimentos em torno dos jovens, das mulheres e dos sindicatos também esfriando, a cúspide política foi-se divorciando das suas bases. Numa tentativa de retomar o poder local, retomaram-se as chefias tradicionais, houve um complexo processo de negociação entre certas linhagens, no caso dos Manjacos, tudo foi mais fácil com Mandingas, Fulas e Biafadas. Os produtores rurais começaram a resistir devido à política de controlo apertado, tanto administrativo como policial, sobre a economia. Por ironia do destino, era o reverso, ressalvadas as distâncias, da resistência dos agricultores à extorsão pelos preços, nomeadamente do coconote e da mancarra.

O PAIGC, no seu sonho de nacionalizar a economia, viu as companhias de comércio nacionalizadas falirem pela corrupção, pela inépcia e pela falta de articulação entre uma estratégia nacional e as redes de comercialização locais, voltaram os comerciantes ambulantes e as vendedeiras de mercado. Em meados da década de 1980, o Programa de Ajustamento Estrutural, que visava criar alavancas para o desenvolvimento acabou por ter efeitos contraditórios em termos sociais, ao criarem-se linhas de crédito para o desenvolvimento agrícola a clique do regime teve acesso a esses benefícios, criaram pontas para benefício próprio e, de um modo geral, não pagaram os seus empréstimos, o que se saldou no agravamento financeiro.

Nino Vieira
Assim se foi aprofundando o vazio político e emergiram aspirações de se constituir uma oposição política. Em 1986 criou-se o Partido da Resistência da Guiné-Bissau, vulgo ‘Movimento Bá-Fata’, cuja base de apoio social era constituída por meios ligados a antigos Comandos e tropas auxiliares africanas, sobretudo oriundos das zonas islamizadas, este partido defendia uma cooperação mais estreita entre a Guiné-Bissau e Portugal, irá denunciar o crescimento das pontas. Entretanto, agudizaram-se os conflitos no seio do PAIGC, tudo tinha a ver com o agravamento das condições de vida, soçobravam os regimes comunistas, o partido único era posto em causa. O regime ditatorial de Nino Vieira procura reagir em várias direções: patrocinar o regresso dos régulos, à procura de apoio político; repressão brutal na direção política e nas Forças Armadas, o tristemente célebre caso “Paulo Correia”, que deixou marcas insanáveis com a etnia Balanta; explodiu o comércio informal, as mulheres constituíram ‘mandjuandades’ (grupos etários de entreajuda), ao princípio ligadas ao PAIGC, mais tarde desfiliadas.

Assim se chegou ao II Congresso Extraordinário do PAIGC nos princípios de 1991 onde se decidiu uma abertura política com base nas ‘profundas mutações que se verificam na cena política internacional’ e ‘nas transformações operadas no tecido económico guineense’. Recomendava-se a eliminação de vários artigos da Constituição associados ao partido único e a introdução de sufrágio universal através de eleições livres e periódicas dos órgãos representativos do Estado, mais se sugeria a despartidarização das forças de defesa e segurança e a desvinculação dos sindicatos do PAIGC. Em consequência, aprovou-se a Lei Quadro dos Partidos Políticos, a Constituição passou a permitir a liberdade de associação partidária, surgiram outras leis como a Lei de Imprensa, Lei da Liberdade Sindical e a Lei da Greve; e apareceram sinais de contestação dentro das Forças Armadas, apelando-se à sua neutralidade.

Surgiram partidos em catadupa, Frente Democrática, Frente Democrática Social, Partido Unido Social Democrata, Partido da Convergência Democrática… Os seus dirigentes, regra geral, eram antigos ministros e antigos dirigentes do PAIGC, caso de Aristides Menezes, Vitor Mandinga, Rafael Barbosa e Vitor Saúde Maria; numa outra fase, apareceram o PRD, o MUDe, o PRS, a FLING, e outros mais. Constituiu-se com o PAIGC, em 1992, a Comissão Multipartidária de Transição, irá aparecer a Comissão Nacional das Eleições, completa-se a revisão constitucional em fevereiro de 1993, que confirma um regime presidencialista, e aprova-se uma nova lei eleitoral.

Philip Havik aprecia os resultados: uma maioria relativa para o PAIGC, que beneficiou do método de Hondt, que lhe assegurou uma maioria absoluta na nova Assembleia Nacional Popular, o movimento Bá-Fata e o PRS ficaram em segundo e terceiro lugares. Nas eleições presidenciais, Nino Vieira bateu Kumba Yala na segunda volta, a despeito deste último ter denunciado inúmeras irregularidades. Meses depois, Manuel Saturnino Costa era empossado como Primeiro-Ministro.

Nas conclusões, o investigador recorda que as mudanças políticas na África subsariana, com imposição de modelos democráticos nem sempre conhecedores da estrutura cultural das populações têm intervenções dos doadores e credores internacionais, da notória debilidade administrativa do Estado, da generalização de práticas de patrimonialismo, nepotismo e corrupção, faltam estruturas eficazes, recursos humanos ou até meios financeiros para cumprir as promessas com que os agentes políticos se apresentam perante os eleitores. E daí a facilidade com que medidas que tinham como objetivo reduzir a função pública tenham levado à paralisia do aparelho administrativo, causando uma deterioração das condições de vida para a maioria dos cidadãos.

No final das suas conclusões, vê-se que Philip Havik anda muito próximo de Joshua Forrest: existe um Estado ‘fraco’ na Guiné-Bissau, mas a sociedade civil permanece de pé, o partido foi-se diluindo, alienou o capital político granjeado na luta, irá continuar a manter uma confiança junto do eleitorado devido à incapacidade de todos os outros partidos de se dotarem de uma estratégia nacional mobilizadora que reinstale uma ampla confiança nacional. Philip Havik lembra igualmente que é da agricultura que a população resiste. Esse poder da sociedade civil continua a ser a alavanca da esperança democrática da Guiné-Bissau, a despeito de todos os impasses e da desqualificação da jovem classe política.

Presidente José Mário Vaz (Jomav)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21701: Notas de leitura (1331): Espaço social e movimentos políticos na Guiné-Bissau (1910-1994), por Philip Havik, na Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 18-22, 1995-1999 (1) (Mário Beja Santos)