1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 28 de Maio de 2014:
Há cerca de um ano ou pouco mais descobri o blogue do Luís Graça
tendo como um dos seus colaboradores o Carlos Vinhal, que pelo resumo
da sua resenha histórica tinha estado em Mansabá, alguns meses comigo.
Eu que depois de muitos anos de esquecimento propositado tinha
abandonado a Guiné, resolvi voltar para lá as minhas atenções pois já
era tempo de estabelecer a concórdia e a paz com esse passado
turbulento.
Não me lembrava já do amigo Carlos Vinhal, mas agora depois de meses
de contacto e inclusivé de um encontro pessoal, estou a recordá-lo
bem.
O Carlos Vinhal foi aquele furriel miliciano, que me atendeu na
secretaria , quando me apresentei na Cart 2732 e quando foi fazer o
levantamento de uma mina anti-carro, que o meu pelotão descobriu, na
estrada, entre Mansabá e Farim sempre com profissionalismo,
correção, sem excessos efusivos.
Ainda hoje assim se conserva.
O Carlos Vinhal fala e escreve bem
quando precisa mas sendo um individuo activo gosta mais de fazer do
que de palrar.
Todos sabemos reconhecer o trabalho imenso, de
correção, de arranjo fotográfico e editorial que tem feito neste
blogue e o Comandante Luis Graça, que é também um grande trabalhador,
devia dar-lhe a mais alta condecoração.
O meu espirito que se dispersa e vagueia, leva-me ás águas do Grande
Buba, rio grande, rio que não sei se o era, porque nascia no mar e não
na terra, rio salgado como a maior parte dos rios da Guiné.
Rio grande, rio largo, que cheguei a navegar numa viagem até Bolama,
rio tal como um deus indiano, cheio de grandes braços em toda a sua
extensão.
Um mar com margens alargadas, que dá repouso aos olhos e às almas, mas
que querendo parecer um mar, não deixa de ser um rio, com margens mais
largas.
Em Passau, onde fui com a minha mulher, levados pela nossa Ana, que
já nos mostrou, ou só ela ou com o Christian, o marido e com os
nossos netos, o Daniel a Camila quase todos os montes, lagos e rios
da Baviera, cidade que fica na confluência de três rios, que se unem
quando passam, o Danúbio, o Inn e o Ilz, veio-me à memória o Grande
Buba.
O rio que se forma depois das águas desses três rios se unirem,
depois de Passau é imponente, a sua observação quase corta a
respiração.
O rio Grande Buba que eu conheci, era um rio menos largo,
sem os Alpes bávaros por pano de fundo, mas também era um rio
soberbo.
Mansabá foi o relaxe, o repouso, a boa convivência para onde me
mandaram, depois de 17 meses de pequenas guerras, de alguns conflitos
e grandes amizades que dentro e fora do quartel, fui fazendo em Buba
com os camaradas da minha CCaç 2616, do Batalhão 2892 que fazia
muitas colunas de reabastecimento e ao sabor das marés com os
camaradas do Destacamento de Fuzileiros.
Cícero, grande politico e escritor romano que nasceu no último século
antes de Cristo, escreveu um tratado acerca da amizade que nunca algum
escritor ou filósofo escreveu. Muitos escritores e filósofos
escreveram sobre o amor, por vezes um sentimento calmo que cultivado
no meio familiar se confunde com a amizade, e outras vezes pode ser
violento e tumultuoso como a paixão quando resulta da atracção entre
os sexos.
Sobre amizade, esse sentimento calmo, benéfico, altruísta, que
confesso nunca soube cultivar muito bem, como transmontano a quem
basta a palavra e a hospitalidade mas que tal como o amor também
requer tolerância e compromissos, aprendi muito nas margens do Grande
Buba e em Mansabá perto das floresta do Morés.
Para reviver um pouco dela, embora os camaradas, em Monte Real não
sejam os mesmos, sei que estão irmanados no mesmo sentimento.
Podem ser melhores ou piores, tanto faz, mas os que aparecem
normalmente são sempre os que apreciam mais o convívio e o calor da
amizade.
Hoje na Tabanca Pequena de Matosinhos conheci pessoalmente o Jorge
Picado que já tinha conhecido e cumprimentado no nosso blogue, gostei
da sua simpatia e bonomia e com ele senti-me mais próximo de todos,
dos jovens de outrora e dos avós do presente.
Pelos antigos e pelos actuais, eu duma forma, pouco formal mas que o
amigo Carlos Vinhal entende, peço-lhe que aceite, desta forma um pouco
panfletária a minha inscrição e a da minha mulher no almoço da
Tabanca Grande no dia 14 de Junho.
Dormida também.
Este texto é também um desafio ao meu primo Francisco Magalhães, com
quem tive sempre um relação de grande amizade, que foi alferes na
Guiné e que por vezes espreita o nosso blogue.
O meu nome já o sabes, a minha companheira é a Fátima Anjos.
Em Monte Real quero levantar a minha taça e fazer um brinde à
amizade e à camaradagem!
Um abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
2. Comentário do editor
Caro Francisco
Poucos minutos antes de abri esta tua mensagem, posso prová-lo, tinha enviado uma resposta ao sogro de um nosso camarada, apenas identificado por "cabo pequenino", que pertenceu, imagina, ao 2.º Pelotão da tua 2616. Procura camaradas e saber se há Convívios regulares da sua (tua) Companhia.
Falei-lhe de ti, e disse-lhe que caso se lembrasse do Alferes Francisco Baptista lhe enviaria o seu (teu) contacto.
Já agora se te lembrares de um militar conhecido por "cabo pequenino", dá-me um toque.
Então o nosso Capitão Picado esteve em Matosinhos? Bom sinal porque é sinónimo de que está bem.
Finalmente, uma palavra para a tua inscrição no nosso IX Convívio. Que surpresa agradável.
Aposto que vais gostar. És, se bem me lembro, o 5.º elemento da CART 2732 que já participou nos nossos Encontros. Além de mim e do Cap Mil Jorge Picado, já participaram o Inácio Silva, que era Apontador de Metralhadora, mais tarde impedido na Secretaria do COP 6, e o Malhão Gonçalves que pertencendo às Transmissões desempenhava as funções de electricista a tempo inteiro.
Vou já tratar da tua inscrição. Se a todo o tempo o teu primo quiser participar, também o receberemos com amizade. As inscrições costumam fechar 3 dias antes do dia do Convívio para que nada falhe no serviço que o Hotel se propõe fornecer, normalmente de excelente qualidade.
Abraço
Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de quarta-feira, 28 de Maio de 2014 >
Guiné 63/74 - P13203: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): Um exemplo a aplaudir e a seguir: Jorge Pinto, "régulo" de Fulacunda, traz mais dois camaradas com ele, até Monte Real, no dia 14 de junho: José Miguel Lobo e António Rebelo, da 3ª CCART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)