sexta-feira, 10 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23340: Lembrete (40): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, amanhã, dia 11, às 11h00: apresentação do livro do Joaquim Costa, ex-fur mil, CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74): "Memórias de Guerra de um Tigre Azul" (Rio Tinto, Lugar da Palavra Ed., 2021, 179 pp.)

 





Capa do livro do  Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", que vai ser lançado amanhã, dia 11 de junho de 2022, sábado, pelas 11h00, na Tabanca dos Melros, Quinta do Chouoal dos Melros, ria de Cabanas, 175, 4510-506 Fânzeres.  Apresentação a cargo do editor do nosso blogue, Luís Graça, que se fará representar pelo nosso amigo e camarada, e também ele escritor, António Carvalho.(`*)

O livro "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp., pode ser pedido diretamente ao autor, através do email jscosta68@gmail.com

O valor é de 10 € (livro + custas de envio), a transferir para o seu NIB que será enviado juntamente com o livro. Não esquecer de indicar o endereço postal.

Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, Os Tigres do Cumbijã (Cumbijã, 1972/74) é natural de V. N. Famalicão. Engenheiro ténico e professor reformado, vive em Fânzeres, Gondomar há mais de 20 anos.



1. Mensagem de Joaquim Costa, ex-fur mil at armas pesadas, CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74) (**)


Data - sábado, 4/06, 12:16 (há 6 dias)

Apresentação do livro: Memórias de Guerra de um Tigre Azul

Olá Luís

Espero que essa recuperação esteja a correr pelo melhor.

Estando a aproximar-se o dia da apresentação do meu livro, como tinha prometido, aqui vai a constituição da mesa. Espero que o “bicho” não faça estragos.

Como sabes nunca pensei num plano B, pois a tua presença sempre a coloquei como imprescindível. Obviamente que continuas a ser o homem da apresentação, mas a farda sempre assenta melhor para quem foi feita.

Como tal, não ficaria de bem com a minha consciência se não fizesse um último esforço: O meu camarada, ex Furriel Carlos Machado, que vai fazer parte da mesa, vive em Lisboa e vem no seu carro no próprio dia da apresentação, regressando a Lisboa no fim do almoço /convívio. Ele próprio agradecia fazer a viagem com uma excelente companhia. Pensa nisso!!!

Um grande abraço, Joaquim Costa

Constituição das mesa:

  • Luís Graça - sociólogo e editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que fará a apresentação do livro . (Na impossibilidade física de estar presente, por razões de saúde, será representaddo pelo escritor António Carvalho, autor de "Um caminho de Quatro Passos",Rio Tinto: Lugar da Palavra Editora,2021,  218 pp. ex-fur mil enf, CART 6250, "Os Unidos de Mampatá", Mampatá, (1972/74; vive em Medas, Gondomar, e lerá um texto que o nosso editor Luís Graça lhe enviou);
  • Carlos Machado - engenheiro técnico e  ex-furriel dos Tigres do Cumbijã, CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74), que dirá de sua justiça, quanto à narrativo do autor e a sua versão dos factos.
  • João Carlos Brito - professor, bibliotecário e escritor, em representação da Editora: Lugar da Palavra
  • Joaquim Costa - o autor.




Guião da CCAV 8351/72

2. F
icha de unidade > Companhia de Cavalaria n.º 8351/72

Identificação CCav 8351/72

Unidade Mob: RC 3 - Estremoz

Cmdt: Cap Mil Cav Vasco Augusto Rodrigues da Gama

Divisa: -"... Na Guerra Conduta Mais Brilhante"

Partida: Embarque em 270ut72; desembarque em 270ut72 |  Regresso: Embarque em 27Ag074

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 280ut72 a 17Nov72, no CMl,  em Cumeréseguiu, em 19Nov72, para Aldeia Formosa, a fim de efectuar o treino operacional sob orientação do BCaç 3852 e, a partir de 04Dez72, reforçar aquele batalhão e depois o BCaç 4513/72, com a missão prioritária de segurança e protecção dos trabalhos da estrada Mampatá-Cumbijã-Mejo, em cooperação com outras subunidades.

Em 03Abr73, quando os trabalhos da estrada atingiram Cumbijã, deslocou parte dos efectivos para esta povoação, a fim de garantir a segurança e protecção do parque de máquinas de engenharia e a continuação dos trabalhos.

Em 17Mai73, com a realização da  Op Balanço Final, instalou-se temporariamente em Nhacobá, até 26Mai73, após o que ficou em Cumbijã, com a mesma missão anterior.

Em 26Ju174, após substituição em Cumbijã por dois pelotões da CCav 8350/72, recolheu a Buba e depois a Cumeré.

Em 30Jun74, foi colocada em Bissau, onde passou a colaborar na segurança e vigilância periférica da cidade até ao seu embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade. Tem Resumo de Factos e Feitos (Caixa n." 128 – 2.ª Div/4.ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág.  520.

_________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de maio de  2022 > Guiné 61/74 - P23245: Agenda cultural (811): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, 11 de junho de 2022, sábado, 11h00: Luís Graça apresenta o livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul"

(**) Último poste da série > 27 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23301: Lembrete (39): Cerca de 80 participantes no 26º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 + CCAÇ 1439 (1965/67), que se realiza amanhã, nas Caldas da Rainha

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23339: Recortes de imprensa (123): Bubaque: alterações climáticas e educação ambiental (Excertos de reportagem de Carla Tomás, Expresso, 18 de abril de 2019, com a devida vénia...)




Guiné-Bissau > Região de Bolama-Bijagós > Ilhas de Bubaque e Rubane > 11-13 de dezembro de 2009 > Recantos, encantos e... armadilhas. Fotos do álbum de João Graça, médico e músico.

Fotos: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Cartaz do V Congresso Internacional de ed Educação Ambiental. Cortesia da página da ASPEA - Associação Portuguesa de Educação Ambiental.


1. Com a devida vénia à autora, a jornalista Carla Tomás, e ao editor, o semanário Expresso, tomamos a liberdade de reproduzir aqui alguns excertos de uma extensa e interessante reportagem sobre Bubaque, no coração do arquipélapo dos Bijagós, realizada aquando do V Congresso Internacional de Educação Ambiental.Crise Ecológica e Migrações: Leituras e Respostas da Educação Ambiental (Bijagós, 14.18 deabril de 2019).

A reportagem completa (incluindo as fotos da jornalista) pode ser vista, na íntegra aqui:

https://expresso.pt/sociedade/2019-04-18-Em-Bubaque-nos-Bijagos-pensa-se-como-a-educacao-ambiental-pode-ajudar-a-enfrentar-as-alteracoes-climaticas


Em Bubaque, nos Bijagós, pensa-se como a educação ambiental
 pode ajudar a enfrentar as alterações climáticas

Expresso > 18 de abril de 2019 20:04
Carla Tomás, jornalista


Num dos locais do planeta mais ameaçados pela subida do nível do mar e por fenómenos extremos, debate-se “ a crise climática e as migrações”. Mais de quatrocentas pessoas de quatro continentes trocaram experiências e saberes.

Manhã cedo ainda se sente o cheiro das fogueiras onde o lixo foi queimado ou ainda arde. Restos de plástico, pilhas e outros resíduos que não tenham sido limpos pelos abutres que pousam nos telhados, ou pelos cães, porcos ou cabras que andam pelas ruas, acabam incinerados ao lado das casas de adobe e telhado de zinco. Em redor das fogueiras veem-se crianças de roupas gastas e sujas a brincar sem a mínima noção das dioxinas que respiram.
 
Riem-se entusiasmadas com a enchente de gente de fora que inundou a ilha, Bubaque, capital do arquipélago das Bijagós, localizado a hora e meia de Bissau em lancha rápida ou a quatro horas numa espécie de ferry.

Entre 14 e 18 de abril, a pequena cidade de pouco mais de quatro mil habitantes recebeu o maior evento da CPLP organizado pela sociedade civil. Durante quatro dias, cerca de 416 pessoas — originárias de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e da Galiza — debateram “a crise ecológica e as migrações”, no quinto Congresso Internacional de Educação Ambiental, co-organizado, este ano, pela delegação guineense da Rede Lusófona e pela Associação Portuguesa de Educação Ambiental (Aspea).

(...) O arquipélago dos Bijagós e a costa ocidental da Guiné correm sérios riscos de ficar submersos com a acelerada subida do nível do mar. Esta “é uma ameaça muito relevante para a Guiné-Bissau”, confirma Meio Dia Có, técnico do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) perante uma plateia oriunda de quatro continentes que quer saber mais sobre estas ilhas. Sentados nas velhas secretárias de madeira do liceu de Bubaque trocam saberes e experiências.

(...) A memória recente do ciclone Idai, que devastou a Beira em Moçambique, serve de alerta face à urgência de agir na proteção do ambiente e de preparar ou adaptar os países mais vulneráveis face às ameaças que sobre eles pairam, lembram vários dos intervenientes. (...)

(...) A Guiné é um dos 10 países mais vulneráveis às alterações climáticas. Em Bubaque, uma das 21 ilhas povoadas deste arquipélago que resultou da subida de um delta, a erosão costeira já se faz sentir. Com a maré alta a areia quase desaparece das praias e os mangais (ecossistemas que servem de berçário a muitas espécies, de proteção costeira e também de sumidouros de CO2) já refletem a pressão.

Como se as divindades animista por que se regem já os tivessem advertido dos perigos que espreitam, nas ilhas mais isoladas, como Canhabaque ou Orango, as tabancas (aldeias) ficam distantes das praias, algumas a uma hora de distância a pé.

(...) A intrusão salina já começa a afetar os recursos aquíferos e os arrozais. As chuvas tendem a chegar cada vez mais tarde e em menor quantidade e a seca faz-se sentir afetando as hortas comunitárias. O que ainda melhor resiste são as palmeiras de cujo fruto, o chabéu, fazem vinho ou óleo de palma ou de cujas folhas, casca ou ramos fazem materiais para construção.

(...) “A gestão do espaço e dos recursos do arquipélago sempre foi feita pelo povo bijagó seguindo as regras transmitidas oralmente pelos anciães”, conta Meio Dia perante a plateia atenta. “Ser bijagó significa passar pela escola do mato e a comunidade participa na gestão do território e os régulos de cada tabanca transmitem as regras aos que nelas vivem”. Em algumas ilhas estabelecem-se “tabus”, ou regras mais restritas, para impedir a construção de novos resorts turísticos, o crescimento da agricultura intensiva ou a sobrepesca.

“Estes países africanos estão entre os mais vulneráveis. E se não se adaptarem rapidamente, muitas mais pessoas vão morrer”, alerta Luísa Schmidt, Investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e membro do conselho científico do congresso, reforçando que “a educação ambiental na escola pode ajudar na transformação”. (...)

(...) Mas aqui não se fala só de alterações climáticas. Investigadores, professores ou membros de organizações não governamentais assim como técnicos de entidades públicas ou até de empresas privadas apresentam os projetos que estão a desenvolver nos seus países ou em cooperação. Brígida Brito, investigadora na Universidade Autónoma,  explica como um projeto desenvolvido junto de uma comunidade de tartarugueiros de São Tomé e Príncipe conseguiu converter o seu modo de sustento. levando-os a parar de matar tartarugas e a passar a utilizar corno de cabra para fazer os objetos de artesanato que vendem a turistas.(...)

(...) Nesta ilha, onde não há água potável, nem saneamento básico, nem tratamento e recolha adequada de lixo, um guineense fica incrédulo quando Sofia Quaresma e Paula Sobral, da Associação Portuguesa de Lixo Marinho, explicam que o flagelo da poluição de plástico não se fica pelo que é visível, mas que é muito maior se pensarmos nos microplásticos ou nanoplásticos que resultam da degradação dos plásticos no mar ou das microfibras das roupas sintéticas que lavamos.

Durante os dias do congresso não se vê muito lixo pelo chão, nem nas praias dos hotéis. Em alguns pontos surgem amontoados, prontos para a fogueira. Um jovem da associação ambiental local Andorinha explica que recolhem alguns dos resíduos para diferentes fins: muitas garrafas de plástico e de vidro são reutilizadas por quem vai buscar água aos poços espalhados pelas ilhas ou por quem faz vinho ou óleo de palma, outras acabam compactadas e transformadas em blocos para construção. (...)

(...) Nesta troca de aprendizagens e de projetos novas ideias surgem. Janó Face Te, da associação de Jovens pela Produção do Ambiente, com sede em Bissau,  fica entusiasmado com a possibilidade de replicação do projeto da ONG portuguesa Educafrica, que promete levar luz elétrica a muitas aldeias que não a têm. Dirigido por Inês Rodrigues, uma professora em constante nomadismo profissional, o projeto iniciado em 2011 permite transformar uma simples garrafa de plástico numa lâmpada solar. (...)

Carla Tomás

[ Seleção / revisão e fixação de textos  para efeitos de publicação deste poste: LG ]

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23338: Fotos à procura de... uma legenda (165): A Mona Lisa de Bubaque, 2008: "O que dizem os teus olhos, mulher bijagó ?" (Tiago Costa / Joaquim Costa)...

 


Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > “O que dizem os teus olhos, mulher bijagó”?


Foto (e legenda) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Esta foto tem 14 anos. Foi tirada pelo Tiago Costa, engenheiro, da empresa Soares da Costa, num fim de semana de descontração e passeio a Bubaque, nos arquipélago dos Bijagós. O Tiago e os seus colegas da empresa estavam então a construir a ponte sobre o rio Cacheu, em São Vicente (*). 

O nosso camarada Joaquim Costa (ex-fur mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) nunca foi a Bubaque, onde não havia guerra. Muitos de nós nunca fomos a Bubaque. Um ou outro, mais felizardo, conseguiu lá dar um salto durante a guerra (1961/74).  

O Joaquim Costa nunca mais voltou à Guiné, com pena sua. Mas "regressou lá em pensamento" através das fotos do filho. E a esta (reproduzida acima) põs uma legenda interrogativa: "O que dizem os teus olhos, mulher bijagó?"...

Está lançado o mote para mais um poste desta série "Fotos à procura de...uma legenda" (**).


2. Já temos três comentários... Oxalá os nossos inspirados leitores acrescentem mais uns tantos... Afinal há qualquer coisa de intrigante, sedutor, misterioso, desafiante, irónico, quiçá de angustiante e de  trágico... no olhar desta Mona Lisa de Bubaque. É um olhar humano, que pode ter mil e uma leituras... (**)

Recorde-se que os Bijagós já há muito que está colocado na lista dos 10 lugares mais ameaçados do planeta face às mudanças climáticas. E Bubaque restá a sofrer forte pressão humana e turística... mas não tem água potável, saneamento básico, recolha de lixo...

(i) Cherno Baldé:

Caro amigo Joaquim Costa,

“O que dizem os seus olhos” ?

Os seus olhos dizem o que , de facto, ela é, mulher bijagó, orgulhosa, simples e sem medo, ligada à terra e às suas profundas raizes culturais. Os seus olhos trazem em si o desassossego das águas do mar Atlântico e a resiliência de quem sempre lutou para continuar a existir por si e ainda acredita na infinidade da vida e do mundo que os rodeiam e dão sentido à sua existência.
Ali, num espaço de uns reduzidos 2 metros quadrados, tens a descriçao completa do mundo bijagó:

  • a força da tradição, expressa numa saia de fibras extraidas de ramos da palmeira;
  • os seus utensilios artesanais de carga e de transporte, com que se constrói a vida diária da mulher bijagó;
  • as folhas de plantas com que fabricam as esteiras entrelaçadas, utilizadas como camas:
  • e, sobretudo "o chabéu" os frutos da palmeira (tchebém em Crioulo), a arvore “fétiche” e polivalente que fornece mais de que metade da alimentaçao diaria do povo Bijago, sem precisar , quase, de nenhuma assistância do exterior..

Um olhar de confiança e de aconchego que convida os estrangeiros para uma convivência plena e pacífica, num mundo que pertence a todos.

Conta-se sobre os bijagós que, numa das muitas campanhas (guerras) de pacificação vs repressao entre portugueses e bijagós, particularmente na Ilha “rebelde” de Canhabaque, derrotados mas não convencidos, foram-lhes impostos condiões de rendição segundo as quais deveriam pagar de forma imediata e sem derrogações, todos os impostos em dívida durante muitos anos de rebeldia e ainda acrescidos de coimas por incumprimento de prazos legais. 

O chefe ou a chefe dos bijagós pediu aos seus para que trouxessem o que chamou de dinheiro bijagó. E assim, diante do Comandante, foram depositos os sacos cheios de nozes do fruto da palmeira (coconotes) sobre os quais o chefe, retomando as palavras iniciais dirigidas aos brancos e seus auxiliares fulas, informou que o coconote (fruto da palmeira) era o único bem valioso que o bijagó conhecia e detinha, porque o outro bem ou dinheiro ao qual, certamente, o chefe fazia alusão era dos brancos, fabricado na sua terra de origem e com a efige do seu rei e soberano a que eles, bijagós, nao dizia respeito e nem possuiam na sua humilde terra para se servirem como meio de pagamento.

Os bijagós eram assim, simples, directos e destemidos.
Com um abraço amigo, Cherno Baldé

8 de junho de 2022 às 16:17

(ii) Tabanca Grande Luís Graça:

Magnifico comentário, Cherno, grande homenagem às mulheres e aos homens bijagós, gente que faz gala da sua dignidade e orgulho.

Mantenhas.

8 de junho de 2022 às 16:24

(iii) Joaquim Costa:

Obrigado, Cherno. Pela tua extraordinária, e quase comovente, descrição sobre esta linda mulher Bijagó

Este olhar não deixa ninguém indiferente. É um olhar que alcança muito para além daquilo que os olhos vêm.

Neste olhar não há tristeza, não há medo, não há rancor… Há LIBERDADE

Joaquim Costa

8 de junho de 2022 às 16:46

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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P23337: Historiografia da presença portuguesa em África (320): Grande polémica (1): Luís Loff de Vasconcelos versus Teixeira Pinto e Abdul Indjai (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Junho de 2021:

Queridos amigos,
Permanecem muitos pontos de interrogação quanto às razões fundadas que poderão ter levado à extinção da Liga Guineense, instituição declaradamente republicana, outrora reconhecida como muitíssimo útil e que passa a ser tratada como uma entidade demoníaca por se ter oposto aos planos perpetrados pelo Capitão Teixeira Pinto para submeter os indígenas de Bissau. Como ficou demonstrado, Abdul Indjai saqueou e destruiu por anos a economia dos Papéis e dos Grumetes da ilha. Não se conhece melhor documento que rebata as teses triunfalistas pró-Teixeira Pinto que o opúsculo escrito por Luís Loff de Vasconcelos, conceituado escritor cabo-verdiano que seguramente teve acesso a depoimentos que a versão oficial silenciou.

 É inaceitável que a História da Guiné Portuguesa deixe na penumbra uma investigação determinante para se perceber não só o caráter da campanha de pacificação mas pelo facto de se dever atribuir o sucesso da mesma a um saqueador que foi régulo e déspota tão turbulento que pela segunda vez foi levado ao exílio. 

Respeitando o contraditório, vamos ver agora as teses que se opõem.

Um abraço do
Mário



Grande polémica (1):
Luís Loff de Vasconcelos versus Teixeira Pinto e Abdul Indjai


Mário Beja Santos

O papel da Liga Guineense e a sua extinção continua envolto em mistério. Tendo denunciado as atrocidades e roubos perpetrados por Abdul Indjai e os seus auxiliares ao serviço da chamada Campanha de Pacificação da ilha de Bissau, em 1915, sabe-se que alguns dos seus dirigentes foram presos, que um governador da Guiné entendeu haver motivos para o desaparecimento da Liga e entretanto um conhecido escritor e publicista nascido em Cabo Verde, Luís Loff de Vasconcelos, escreveu no ano seguinte uma demolidora catilinária que intitulou A defesa das vítimas da guerra de Bissau, o extermínio da Guiné, editado pela Imprensa Libânio da Silva, Lisboa, 1916. 

O  documento pode ser consultado na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa. Como é óbvio, dar-se-á depois direito ao contraditório, e para tal usar-se-á a obra de Armando Tavares da Silva.

O escritor cabo-verdiano dirige-se ao Ministro das Colónias, ao Governador da Guiné, Andrade Sequeira, à justiça portuguesa e ao povo português, e logo desembainha a espada:

“É triste dizê-lo, mas a Guiné Portuguesa esteve durante longos meses no domínio de uma ditadura feroz e de um temor indiscritível. Desde 1914, até à chegada do atual governador, Andrade Sequeira, não se respirava livremente nesta colónia. A Guiné era um teatro de guerra, mas não uma colónia habitável. Deu-se a invasão das hostes guerreiras de Abdul Indjai, arvorado em chefe dos irregulares e poderoso auxiliar das nossas reduzidíssimas forças militares regulares, comandadas pelo Chefe de Estado Maior, sob a razão ostensiva de se focar rebeliões que não existiam senão na fantasia e no cérebro doentio e ardente de alguns megalómanos, e ainda sob o fundamento da resistência dos indígenas em pagar o imposto de palhota.

Abdul Indjai aproveitou-se dessas incursões militares; as importantes presas de guerra eram para ele e seus guerreiros, recrutados aqui e acolá, compostos da pior gente de todas as raças da Guiné. Era uma quadrilha de bandidos, assolando e saqueando o território ocupado por outras tribos, mascarados e disfarçados em auxiliares das nossas forças!

 Quadrilha aguerrida, composta também de muitos Torancas (indígenas da colónia francesa) profissionais da guerra e do saque. Abdul Indjai recorreu a um ardil: declarou-se que os Papéis não acudiam ao apelo da civilização, à subordinação ao governo, à entrega de armas e ao pagamento do imposto de palhota e que, portanto, estavam em estado de rebelião, a que era indispensável pôr termo”.

Loff de Vasconcelos (na foto à direita) elabora a minuta de agravo, apresenta a relação dos acusados como autores e chefes do incitamento à chamada rebelião dos Papéis de Bissau, e prossegue a sua perlengada:

“A história das operações militares dirigidas contra os indígenas da ilha de Bissau, em maio de 1915, é fácil fazer-se e mais fácil ainda de compreender-se. Pela portaria de 13 de maio de 1915, do governador Oliveira Duque, foi imposto aos indígenas da ilha de Bissau a entrega de armas e o pagamento do imposto de palhota. Atribuiu-se que fizeram desacatos e não permitiram no arrolamento, desrespeitando a nossa soberania, pelo que foi determinado a criação de uma coluna de operações para submeter os indígenas rebeldes de Bissau".

Ora, diz Loff de Vasconcelos, as coisas passaram-se de modo muito diferente. Os Papéis pegaram em armas, não por espírito de rebelião, mas porque suspeitavam que Abdul Indjai conspirava contra eles, intrigando-os com as autoridades da colónia, interessava-lhes provocar a guerra para saquear. Abdul foi o chefe de guerra, à frente de 1500 irregulares, incluindo 200 cavaleiros. 

Não se enganaram na suspeita; enganaram-se, porém, na vitória que esperavam alcançar contra esse temível e temido inimigo da sua raça e a derrota sofrida custou-lhe tudo o que tinham em gado e mantimentos, foi parar às mãos da gente de Abdul. Deu-se este absurdo: uma das razões da guerra foi a recusa do pagamento de imposto de palhota. Ora, tendo-lhes sido confiscados os bens perderam os recursos – os meios prejudicaram os fins.

Esta guerra fez-se não para servir os interesses da colónia mas pura e simplesmente e com a anuência inqualificável do Governador Oliveira Duque para vingar a morte do seu filho. 

E Loff Vasconcelos traça-nos o retrato de Abdul Indjai: é um emigrado de Ziguinchor, foi para Cacheu e Costa de Baixo, fez comércio e conseguiu ser um pequeno cliente da Casa Alemã Soller, ia pagando os calotes com as cabeças de gado que foi apresando na guerra aos Balantas e no Oio. Descreve episódios de negócios frustrados, vivia em Geba quando ocorreu que os Oincas não quiseram satisfazer o pagamento do imposto de palhota, ele então ofereceu-se para recolher o imposto, levou homens armados, nem tudo correu bem, conseguiu escapar milagrosamente. Na região de Geba roubava, pilhava e atacava caravanas. O comandante de Geba deu-lhe voz de prisão, Abdul foi levado para Bissau e deportado para São Tomé pelo governador Oliveira Muzanty. Em São Tomé foi perdoado pelo príncipe real Luís Filipe.

Loff de Vasconcelos acrescenta ainda outros dados biográficos que ele considera eloquentes. Em 11 de maio de 1915, dois dias antes da declaração de guerra de Bissau, Abdul era investido no cargo de régulo do Oio – falamos de um homem que tinha sido deportado para São Tomé em 1906 como inconveniente à tranquilidade da província e cujas tropelias chegaram a ameaçar as nossas boas relações com as autoridades estrangeiras vizinhas.

 Em 3 de junho de 1915, Teixeira Pinto e a força maioritariamente constituída pelos auxiliares e regulares invadiu as populações de Antim, Bandim e Antula. Seguiu-se carnificina e fuga; todo o rico e extenso território habitado pelos Papéis está hoje na maior desolação e miséria. Calcula-se que cerca de cinco mil cabeças de gado vacum foram apresados pelos irregulares. E Loff de Vasconcelos assegura que a maioria da população civilizada da Guiné foi contrária a esta guerra. E segue-se a parte jurídica.

Logo a declaração do prisioneiro de guerra, António Gomes, que dissera que a rebeldia do gentio Papel e dos Grumetes em não prestar obediência ao Governo se devia aos Grumetes Grandes que pertenciam à Liga Guineense – é este o único depoimento concreto em todo o monstruoso processo, em que foram inquiridas 45 testemunhas. 

Ora um prisioneiro de guerra que se presume estar em estado de coação, o seu testemunho não tem valor jurídico. Foram proferidas acusações gravíssimas à Liga Guineense. Loff mostra carta de Teixeira Pinto com data de 9 de março de 1913 em que se exalta a página brilhante escrita pelos Grumetes de Bissau para a consolidação da soberania portuguesa, aludindo ao castigo infligido a Balantas e Felupes em 1912. E Loff diz que o governo se aproveitou dos serviços da Liga Guineense para seus fins, sempre que deles carecia chamando-lhes prestimosa Liga, segue-se a petição de queixa e participação contra o capitão Teixeira Pinto e Abdul Indjai, vem o rol dos queixosos acusados de instigadores da revolta dos Papéis de Bissau, e Loff argumenta:

“Como poderiam os agravantes estar implicados num crime de rebelião se eles sempre se esforçaram para evitar essa desastrosa guerra de Bissau como provam alguns documentos? Não cabe na mente de nenhum cérebro regularmente organizado e regulamentado a suposição de que os agravantes poderiam ter tido a vaidade de instigar essa guerra? 

Era ao agravante António Teixeira, um velho respeitável, caráter pacífico e concentrado, exemplaríssimo chefe de família, amigo dos portugueses e comerciante abastado, a quem poderia convir a guerra de Bissau?

 Era Augusto Domingos da Costa, antigo empregado e tesoureiro de alfândega, louvado pela coragem e sangue-frio com que resistiu às ameaças dos gentios que em grande número assaltaram o Posto de Arame, que teria interesse na revolta dos Papéis? 

Era Gomes Barbosa, Alvarenga, Robalo, Gomes e Lopes, prestimosos cidadãos, que têm prestado relevantes serviços a esta colónia, que desejariam a rebelião dos Papéis e a guerra de Bissau? 

Certamente que não. Todos eles tinham interesse no contrário, como sempre manifestaram. O culpado é quase sempre aquele a quem o delito aproveita. Procurem-se os verdadeiros culpados, hão de encontrá-los – que não os agravantes. Os hoje acusados poderão converter-se amanhã em acusadores”.

Para Loff de Vasconcelos, a declaração do estado de sítio e organização da coluna para submeter os chamados rebeldes de Bissau não era mais do que a continuação do plano de guerra de 1913. Mas os tempos tinham mudado. Em maio de 1915, uma grande parte das povoações de Bissau já tinha começado a pagar o imposto de palhota e os régulos pediam insistentemente ao governo para não lhes fazer a guerra e se não pagavam mais foi porque lhes diziam que quem não pagasse teria a visita de Abdul Indjai. 

Era público e notório que a Liga Guineense se opunha tenazmente à guerra. Depois de descrever a calamidade em que ficara a ilha de Bissau, Loff junta à lista dos testemunhos dos atos de barbaridade praticados e vai acusar diretamente Teixeira Pinto. Ele era comandante das operações militares, organizou um inquérito na povoação de Bissau e na vila de Bolama, levantando de motu proprio autos de investigação, procedendo a buscas e apreensões, requisitando e ordenando capturas de pessoas não militares, usurpando as funções de agentes da polícia judiciária militar. Mandou prender os queixosos, deixando de cumprir, mesmo que tivesse competência legal para o fazer, os preceitos correlativos do Código do Processo Criminal Militar.

É este o escopo essencial do documento elaborado por Loff Vasconcelos. Convém agora ouvir argumentação que se opõe e na sua sequência damos a palavra à argumentação utilizada por Armando Tavares da Silva na sua obra Presença Portuguesa na Guiné: história política e militar, 1878-1926.

(continua)

João Teixeira Pinto
Abdul Indjai
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23318: Historiografia da presença portuguesa em África (319): “História das Colónias Portuguesas, Obra Patriótica sob o Patrocínio do Diário de Notícias", da autoria de Rocha Martins, da Academia das Ciências de Lisboa; Tipografia da Imprensa Nacional de Publicidade, 1933 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23336: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVII: O "meu" regresso à Guiné (3): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - II (e última) Parte


Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um guia, e, em vez de um grupo de combate, um grupo de excursionistas...


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > “E o que vês tu, marinheiro, lá desse mastro real”?..." Vejo paisagens de sonho e um país surreal"...


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >  Mariscador... Não, não é uma pintura, é mesmo uma fotografia


Foto nº 13 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um pequeno e frágil paraíso... Com menos 48 m2 (e 4 mil habitantes), mais de um terço fica inundado na maré-cheia..



Foto nº 14 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um paraíso (ainda) para a vida selvagem... e com uma grande mancha florestal... 


Foto nº 15 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ave marinha...


Foto nº 16 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Os bijagós têm sido apontados com uma das escalas do tráfico de droga internacionao... Bubaque é a ilha mais afetada, desde há mais de um século, pela presença dos europeus.. Chegou a ser colónia alemã! (*)


Foto nº 17 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > O turismo é das poucas atividades económicas da região de Bolama / Bijagós... Uma oportunidade e uma ameaça: a ilha não tem água potável, saneamento básico, recolha de lixo...  E os Bijagós são um dos dos 10 sítios mais vulneráveis do planeta...


Foto nº 18 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ainda havia gado à solta... Mais recentemente tem havido denúncias de roubos... Os ladrões também gostam do paraíso..


Foto nº 19 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > "Para onde vamos?"... " Só sei que vamos... Para onde não sei!"...


Foto nº 20 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >-Bissau > Bijagós > Adeus… Até ao meu Regresso

Fotos (e legendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Joaquim Costa, ontem e hoje. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor do ensino secundário
(os últimos 20 anos em Gondomar.

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça. Setá apresnetado dia 11 de junho, sábado, na Tabanca dos Melros, em Fânzeres, Gomdomar (**).


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (***)

Parte XXVII - O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós, que muitos de nós nunca vimos - II (e última) Parte  (**)

A visita ao Arquipélago dos Bijagós (por interposta pessoa, o meu filho, Tiago Costa)  > Ano de 2008 > Num fim de semana de descanso na construção da ponte de S. Vicente (Ponte Europa)  (Vd. acima fotos, numeradas  de 10 a 20)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

(...) A ilha de Bubaque, com uma área de 48 km2, dezoito dos quais são pântanos alagados pelo oceano durante a maré alta, está situada no canto sudeste do arquipélago (...).

É a ilha mais afectada pela presença dos europeus, escolhida pelos colonizadores alemães antes da I Guerra Mundial e pelo Governo Português depois de 1920, como o centro principal das suas actividades no arquipélago. Os alemães construíram aqui uma fábrica para a extracção do óleo de palma (Elaeis guineensis); um porto para navios de pequena e média tonelagem na parte setentrional e uma quinta experimental em Etimbato.

Durante a ocupação colonial, que terminou em Agosto de 1974, Bubaque era o centro dos serviços administrativos de todo o arquipélago, com um administrador português residente e outros funcionários. Em 1952, a igreja católica, através de presença permanente de um missionário, e a missão protestante, começaram a sua acção na ilha. A construção de um pequeno hotel para turistas aumentou a presença dos europeus. A enorme praia de Bruce, situada na parte meridional, constitui uma atracção especial para os turistas e está ligada ao centro administrativo de Bubaque por uma estrada asfaltada desde 1976.

As comunicações com Bissau são possíveis através de pequenos aviões e barco. Todos os sábados à tarde chega um navio com capacidade para 200 passageiros e regressa a Bissau no dia seguinte. Mais hotéis e um grande aeroporto estão agora a ser construídos para desenvolver a capacidade turística da ilha.

O clima é do tipo subtropical, com chuvas abundantes, cuja precipitação média anual é de 1500 a 2000 mm, durante a estação das chuvas, de meados de Maio até meados de Novembro. A temperatura média é cerca de 33°C durante a estação seca e de 25°C durante a estação das chuvas, e a sua variação diária é muito ampla. À noite, sobretudo entre Dezembro e Fevereiro, a temperatura desce para 10°C ou mesmo 8°C e as pessoas têm de abrigar-se nas suas cabanas para se aquecerem.

A maior parte da ilha é coberta de palmeiras de óleo, cuja cultura foi desenvolvida pelos colonizadores alemães no princípio do século. A outra vegetação, do tipo floresta, inclui uma variedade de plantas da Região subtropical. As árvores de grande porte mais importantes, muitas vezes centros sagrados para as cerimónias religiosas, são os chamados poilões (Eriodendrum anfractuosum) e os embondeiros (Andansonia digitata). 

Nos arredores das tabancas, as árvores de fruto mais comuns são as mangueiras, os cajueiros, as laranjeiras, os limoeiros e as papaeiras. A caça, que se encontra nas outras ilhas (gazela, cabra-do-mato, hipopótamo, crocodilo), desapareceu da ilha de Bubaque. No entanto os macacos e os tecelões (Proceus cucullatus), tão perigosos para a agricultura, são ainda bastante numerosos.

Em Novembro de 1976, e ilha contava com 2172 habitantes (1054 dos quais eram homens e 1118 mulheres), cerca de 757, metade dos quais não bijagós, habitavam no centro de Bubaque e 1415 viviam nas doze tabancas da ilha (...)


Excerto do livro de Luigi Scantamburlo, trad. de Maria Fernanda, "Etnologia dos Bijagós da Ilha de Bubaque", Lisboa : Instituto de Investigação Científica Tropical ; Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1991, 109 pp. Disponível, em texto integral, aqui.

Guiné 61/74 - P23335: Parabéns a você (2073): João Gabriel Sacoto, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 617/BCAÇ 619 (Bissau, Catió e Cachil, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23328: Parabéns a você (2072): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM/CTIG (Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74)

terça-feira, 7 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23334: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVI: O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - Parte I


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Saltinho > 2008 >A engenharia (sendo o Tiago Costa o segundo da esquerda) bebendo umas cervejas no antigo "Clube de Oficiais no Saltinho"



Foto nº 2


Foto nº 2 A


Foto nº 2B

Fotos nº 2, 2A e 2B  > Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Saltinho > Rio Corubal > A engenharia foi a banhos nos rápidos do Saltinho 










Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor e adminsitrador escolar no  ensino secundário  (os últimos 20 anos em Gondomar

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça. Será apresentado dia 11 de junho, sábado, na Tabanca dos Melros, em Fânzeres, Gondomar (*).



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)


Parte XXVI - O "meu" regresso à Guiné (2):  Os Bijagós, que muitos de nós nunca vimos - Parte I (**)



Enfim! Pontes e não mais muros, sejam eles de betão ou de arame farpado.

Mas só pontes não bastam, mais que tudo é preciso educação… paz, pão, habitação…Liberdade...

A Guiné entranhou-se de tal forma no nosso corpo que a tudo o que aí acontece os nossos sentidos reagem. Ansiamos mais que tudo por boas notícias, que infelizmente tardam a chegar.

Este poste  mostra as extraordinárias potencialidades deste país que teima em não encontrar o caminho da paz e do desenvolvimento. Meio século após a proclamação da independência as notícias que ainda chegam são de guerra. Não contra um inimigo externo, mas sim, inexplicavelmente, uma guerra fratricida sem fim.

Como já alguém disse (com muita propriedade) a Guiné não nos sai da cabeça... Extraordinário a quantidade de ONG criadas por ex combatentes na ajuda ao desenvolvimento desta terra, que se nos entranhou.

Eis a Guiné que muitos de nós nunca viu Ue de que chema imagens atrvavès do Tiago Costa, meu filho Tiago, engenheiro civil da Soares da Costa,  que esteve a a trabalhar na Soares da Costam na Guiné, de 2007 a 2009, na construção de uma ponte sobre o rio Cacheu, junto a S. Vicente, financiada pela União Europeia, a pomte



A visita ao Arquipélago dos Bijagós  (por intreposta pessoa, neste caso o Tiago Costa, meu filho) > Ano de 2008 > Num fim de semana de descanso na construção da ponte de S. Vicente (Ponte Europa) - Parte I




Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque >  2008 >  A mulher dos Bijagós: “O que dizem os teus olhos”?



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >  Dia de festa (creio que o carnaval)...“Manga de Ronco”!!


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque >  2008 > Em dia de festa a melhor indumentária...para impressionar as Bajudas!!!


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Não parece mas estamos na Guiné. Um resort numa das Ilhas paradisíacas dos Bijagós.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ainda há encantos destes...


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Aves marinhas...


Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Encantos de recantos...



Fotos (e legendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23245: Agenda cultural (811): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, 11 de junho de 2022, sábado, 11h00: Luís Graça apresenta o livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul"

Guiné 61/74 - P23333: Carta aberta a... (16): José Belo, um intelectual contemporâneo luso, sueco-lapão-americano, hábil a usar palavras (Francisco Baptista, transmontano de Brunhoso)

Paisagem com Brunhoso ao fundo


1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 5 de Junho de 2022:

Foram atraídos pela luz forte que iluminava as grandes capitais europeias. Foi no século XVIII, conhecido pelo Século das Luzes. Partiram para além dos Pirinéus, onde sopravam ventos carregados de novas ideias e conceitos que favoreciam o desenvolvimento das novas ciências, da filosofia e das artes e reclamavam por mudanças políticas, que foram acontecendo nesse e nos séculos seguintes. Vou nomear somente alguns, talvez os mais conhecidos:
Luís António Verney, pedagogo;
Ribeiro Sanches, médico, filósofo;
Luís da Cunha, jurista, formado em Cânones;
Marquês de Pombal, político;
Cândido Lusitano, literato.

Os Estrangeirados, assim designados, partiram em busca desse alimento espiritual, como os nossos marinheiros, séculos antes, tinham partido à procura de novas terras.
Na nossa história, sempre houve, continua a haver, aventureiros, muitos à procura do pão que lhes faltava para alimentar as suas proles, outros à procura da liberdade, quando os ares da Pátria se tornavam tóxicos, de outros conhecimentos e de outras culturas.

Recordo Eduardo Lourenço, pensador e filósofo, falecido recentemente, Eça de Queiroz, Agostinho da Silva, Miguel Torga, Ferreira de Castro e muitos outros, artistas, cientistas, gestores e investigadores.

Do nosso blogue admirei sempre e relacionei-me com os estrangeirados que conheci, o Vasco Pires, infelizmente já falecido, tal como eu com raízes rurais, muito culto e bom conhecedor da Pátria, professor numa Universidade do Brasil, o José Câmara grande açoriano, homem bom e religioso, que eu julgo ser santo, a viver nos Estados Unidos.
Tu, amigo José Belo, que como jurista internacional conheces toda a arquitectura da antiga Grécia e do império Romano, os conflitos que houve e continua a haver entre as nações e a psicologia complicada dos homens, sempre a reclamar por justiça.

És um intelectual contemporâneo luso, sueco-lapão-americano, travestido de Fernando Pessoa, o poeta português mais internacional. Nem sempre é fácil decifrar-te porque tu és hábil a usar as palavras e sabes esconder-te atrás delas, enquanto eu me descubro ao usá-las, por isso alguns citadinos me chamam ingénuo. Tu és um erudito muito viajado, um cosmopolita, que pelo que dizes e calas quando escreves, pelo teu fino sentido de humor, podias e devias escrever um grande livro, matéria não te deve faltar, que seria muito apreciado por todos os que te conhecem.

Eu nascido e criado no norte, entre montes, por ter o pão, o caldo, o presunto, o toucinho e as batatas asseguradas e não me terem habituado aos trabalhos mais duros do campo, não me aventurei a sair como os emigrantes económicos, a maior parte sem meios de subsistência garantida. Como os intelectuais, gostaria de conhecer outras gentes com costumes, tradições e hábitos diferentes, mas o meu fraco conhecimento de línguas estrangeiras, aliado às dificuldades que previa em conseguir meios de subsistência, não me deram asas para dar esse salto.

Mais contemplativo do que activo, por cá fiquei a admirar as ruas, praças, o Douro, o mar, prédios, praças e avenidas, "O Porto é belo carago!"  Vim para cá trabalhar na função pública, outra tropa, a acrescentar aos 39 meses de regime hierárquico militar. A Função Pública é tal como a Instituição Militar e a Igreja Católica, a Instituição mais antiga, com mais de 2000 anos, Todas as outras a copiaram. No cima da pirâmide com muitos degraus, estava Deus, um general, um diretor-geral ou chefe do Governo, outros com menos importância, à medida que se ia descendo,   e os escravos na base. Sobe-se na hierarquia de acordo com o tempo de trabalho e com as vénias e beija-mãos feitas aos bispos, diretores-gerais, coronéis e generais "Aponta Bruno",  alguém dizia.

Quando me reformei , cansado de tantos galões, mitras de tanta solenidade, pompa e circunstância, lembrei-me de como era boa, simples e saudável a vida na minha aldeia, e como os homens eram respeitadores sem serem subservientes. Havia muita solidariedade entre os mais abastados e os mais pobres, sem que isso impedisse porém a necessidade de ter que existir emigração.

Salazar, nascido no meio rural, educado por padres da igreja, com hábitos espartanos e frugais, terá conhecido e admirado estas sociedades de subsistência, que sendo pobres formavam homens muito trabalhadores e com grande carácter. Quando criou o regime do Estado Novo terá sido o modelo que sonhou para todo o país e deliberadamente terá procurado manter o povo na miséria.

As pessoas da minha terra, objectiva e subjectivamente, na minha infância e juventude, distinguiam-se entre todas as povoações em redor pelo trabalho abnegado e outras qualidades. Pareciam felizes e conformadas com o seu destino, mesmo os trabalhadores da terra, com um trabalho duro e mal pago, mas havia épocas em que as bocas a alimentar eram superiores à alimentação que sobrava para eles, e a emigração inevitavelmente surgia como um fantasma que separava as famílias para sempre. O regime salazarista foi injusto e miserável para os pobres.

Outras análises já fiz, algumas parecidas com esta, pelo que não me vou alongar mais. Sou um pouco um produto desta sociedade rural, já bastante poluído por outras influências e relacionamentos, como diferentes são as novas gerações, por causa da grande emigração dos anos 60 e 70, da globalização e dos média que invadiram todo o planeta.

Abraço
Francisco Baptista

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Nota do editor

Vd. poste de 31 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23315: Carta aberta a... (15): ... ao camarada e escritor português Francisco Baptista (José Belo, estrangeirado)