1. 1. Mensagem de Tony Grilo (*), Apontador de obús 8,8, Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68, com data de 10 de Abril de 2009:
Amigo Vinhal e todos os camaradas da Tabanca Grande.
Vinhal, antes de mais, quero agradecer-te todos os e-mails que me tens enviado, obrigado.
É sempre bom saber o que se passa na nossa Tabanca.
Tenho começado a juntar alguns dos meus apontamentos de há 41 anos, do diário que escrevi na Guiné.
Preparei uma pequena história, a que dou o título, Sorte na vida.
Talvez não seja das melhores, mas para mim foi algo que ficou gravado na minha memória, até ao dia de hoje. Mas graças a DEUS hoje estou vivo e gozando com saúde, neste maravilhoso País que é o CANADÁ.
PS - Caros amigos, aí vão mais umas fotos.
Um grande abraço para toda a tertúlia destas terra do Canadá.
2. SORTE NA VIDA
por Tony Grilo
Assm começa a história...
Em Dezembro de 1967 comecei por ter uma horrível dor num dente, com uma cavidade, passando noites sem dormir. Então, comecei a pedir ao Alf Santos (nosso comandante da Artilharia), para me deixar ir para a consulta externa a Bissau. Não foi fácil, mas lá o convenci.
Lá parti nos ditos batelões através daqueles rios, até chegar a Bissau. Apresentei-me na bateria - BAC 1, que ficava no QG.
No dia seguinte comecei a rotina até ao Hospital Militar.
Havia uma semana e dias, quando o Capitão recebeu um rádio de Cabedú a informá-lo de que tinha havido um forte ataque a Cabedú, que tinha ocasionado a morte a dois soldados indígenas e um ferido grave. Um dos soldados, Cunhete, era o municiador da minha secção. Isto sucedeu no dia 23/12/67.
Terminada a consulta externa, regressei a Cabedú.
À minha chegada ao cais, estava o meu amigo e colega, 1.º cabo Carneiro. Com estas palavra me disse:
-Grilo, és um tipo cheio de sorte!
E eu perguntei:
- Porquê?
- Já vais ver - respondeu ele.
Chegamos ao acampamento e qual não foi o meu espanto, que quando olhei para a minha caserna, estava toda destruída. Entrei lá dentro: a minha cama estava toda estilhaçada e a minha almofada toda furada.
A morteirada acertou em cheio no meio da caserna, metade era dos cabos e a outra metade dos soldados. Foi onde morreram os dois e foi ferido outro. Por sorte essa noite não havia cabos lá dentro na hora do ataque.
Até ao dia de hoje, penso que foi o dente que me salvou.
Há uns anos atrás tive que arrancá-lo e disse logo ao médico:
- Por favor, não deite o dente fora, pois salvou-me a vida.
Então contei-lhe a história. Ainda hoje o tenho guardado numa caixa.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4073: Tabanca Grande (126): Tony Grilo, Artilheiro, Apontador de obús 8,8 (Guiné, 1966/68)
Vd. último poste da série de 15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4189: Estórias avulsas (27): O meu amigo Dinha e o RDM (Belarmino Sardinha)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4191: Agenda Cultural (6): 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial', Espaço Grandella, Lisboa (José Martins)
1. Mensagem de José Martins, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, com data de 14 de Abril de 2009:
NOTÍCIA
Ciclo de Conferências: "Memórias literárias da guerra colonial"
Informação de E. Bruno
7 de Maio a 25 de Junho de 2009
Às 5.ªs Feiras, às 19H00
Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Grandella
Estrada de Benfica 419, 1500-078 LISBOA
Contactos:
Telefone: 217 712 310,
E-mail: bib.republica@cm-lisboa.pt
Neste 2º ciclo de conferências, estão programadas intervenções dos nossos camaradas de tertúlia:
- Alexandre Coutinho e Lima (A Retirada de Guileje): 14 de Maio de 2009
- Alberto Branquinho (Cambança): 4 de Junho de 2009
- Manuel Bastos (Cacimbados: a vida por um fio): 18 de Junho de 2009.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4179: Agenda Cultural (6): Exposição Testemunhos de Guerra, Museu Municipal - Paços de Ferreira, 25 de Abril a 24 de Maio de 2009
Guiné 63/74 - P4190: Convívios (111): Pessoal da CCAV 2749 e CCS/BCAV 2922, Vila de Teixoso, no dia 1 de Maio de 2009 (Luís Borrega)
1. Mensagem de Luís Borrega, com data de 12 de Abril de 2009:
Caros Camaradas e Amigos LG,VB e CV
Junto envio anuncio referente ao almoço da CCav 2749 + CCS/BCav 2922, agradecia que o publicassem na Tabanca Grande.
Envio com foto que como ainda não domino a arte de mexer na informática, envio parece-me em duplicado, vocês mestres na arte informática dêem um jeito.
Manga de saúde para todos vós.
Alfa Bravo
Luís Borrega
O Ex-Fur Mil Cav MA Luís Borrega a Partir Mantanha com os bravos do seu Pelotão (3.º GComb da CCav 2749/BCav 2922 no almoço/convívio realizado em Santarém no ano de 2008.
BATALHÃO DE CAVALARIA 2922 - PICHE 70/72
Convívio da CCav 2749 + CCS - 1 de Maio de 2009
CAMARADA E AMIGO
É na Vila de Teixoso, a 5km da Covilhã, que no dia 1 de Maio de 2009 (Sexta Feira) nos vamosreunir. Este ano o Almoço Convívio é organizado pelo Rev.º Padre Alberto (nosso Alferes Capelão), que nos vai receber com a simpatia e cordialidade com que já nos habituou.
Ali reviveremos, mais uma vez, as nossas histórias e factos vividos, com os Camaradas e Amigos que estiveram em Piche, entre 1970/1972.
PROCURA ESQUECER OS PROBLEMAS QUE JÁ PASSARAM, MAS APROVEITA A VIVER OS MOMENTOS FELIZES DE CADA DIA.
TENS MOMENTOS FELIZES À TUA ESPERA (1/5/09) NA COVILHÃ, COMPARECE E APROVEITA.
Com a tua alegria, o teu sorriso e juventude comparece, pois que só com a tua presença é que poderemos fazer um GRANDE CONVÍVIO.
COMO LÁ CHEGAR:
-De Coimbra/Viseu apanhar a A25/na Guarda apanhar a A23. Saída em Caria/SENHORA DO CARMO.
-De Portalegre ou Castelo Branco apanhar a A23, saída Covilhã/Norte/Teixoso/SENHORA DO CARMO.
LOCAL E HORA DO ENCONTRO:
Junto ao recinto da CAPELA DE N.ª S.ª DO CARMO, a 2km de Teixoso, Covilhã.
10/11 Horas Concentração.
11,30 Horas missa pelos nossos Camaradas já falecidos, celebrada pelo nosso Capelão Padre Alberto.
13,00 Horas Almoço/Convívio no restaurante TOMAZ/CANHOSO (a 2km de Teixoso).
EMENTA:
ENTRADAS: QUENTES: SOBREMESAS
Enchidos da Região Sopa/Bacalhau assado/Cabrito Café, Bolo Aniversário
Espumante
PREÇO DO ALMOÇO/FORMA DE PAGAMENTO:
Preço: 26,00 euros – Adultos
13,00 euros - Crianças entre os 5 e 9 anos
Forma de Pagamento: Inscrição e pagamento até 20 de Abril para:
Alfredo da Rocha Lopes
Rua da Agontinha, 120
Rio Tinto-Gondomar
4435-612 Baguim do Monte
Telef:224 896 398 / Telem: 917 633 249
NB: Pelas 19,00 Horas haverá uma merenda jantarada com grelhados, oferta/graciosa do nosso Capelão e de João José Castanheira (da CCav 2747) do Teixoso, para todos os Camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4187: Convívios (108): Pessoal dos Pelotões 953; 954; 955; 956 e 1.ª CCAÇ Africanos, em Azeitão, dia 2 de Maio de 2009 (António Bastos)
Caros Camaradas e Amigos LG,VB e CV
Junto envio anuncio referente ao almoço da CCav 2749 + CCS/BCav 2922, agradecia que o publicassem na Tabanca Grande.
Envio com foto que como ainda não domino a arte de mexer na informática, envio parece-me em duplicado, vocês mestres na arte informática dêem um jeito.
Manga de saúde para todos vós.
Alfa Bravo
Luís Borrega
O Ex-Fur Mil Cav MA Luís Borrega a Partir Mantanha com os bravos do seu Pelotão (3.º GComb da CCav 2749/BCav 2922 no almoço/convívio realizado em Santarém no ano de 2008.
BATALHÃO DE CAVALARIA 2922 - PICHE 70/72
Convívio da CCav 2749 + CCS - 1 de Maio de 2009
CAMARADA E AMIGO
É na Vila de Teixoso, a 5km da Covilhã, que no dia 1 de Maio de 2009 (Sexta Feira) nos vamosreunir. Este ano o Almoço Convívio é organizado pelo Rev.º Padre Alberto (nosso Alferes Capelão), que nos vai receber com a simpatia e cordialidade com que já nos habituou.
Ali reviveremos, mais uma vez, as nossas histórias e factos vividos, com os Camaradas e Amigos que estiveram em Piche, entre 1970/1972.
PROCURA ESQUECER OS PROBLEMAS QUE JÁ PASSARAM, MAS APROVEITA A VIVER OS MOMENTOS FELIZES DE CADA DIA.
TENS MOMENTOS FELIZES À TUA ESPERA (1/5/09) NA COVILHÃ, COMPARECE E APROVEITA.
Com a tua alegria, o teu sorriso e juventude comparece, pois que só com a tua presença é que poderemos fazer um GRANDE CONVÍVIO.
COMO LÁ CHEGAR:
-De Coimbra/Viseu apanhar a A25/na Guarda apanhar a A23. Saída em Caria/SENHORA DO CARMO.
-De Portalegre ou Castelo Branco apanhar a A23, saída Covilhã/Norte/Teixoso/SENHORA DO CARMO.
LOCAL E HORA DO ENCONTRO:
Junto ao recinto da CAPELA DE N.ª S.ª DO CARMO, a 2km de Teixoso, Covilhã.
10/11 Horas Concentração.
11,30 Horas missa pelos nossos Camaradas já falecidos, celebrada pelo nosso Capelão Padre Alberto.
13,00 Horas Almoço/Convívio no restaurante TOMAZ/CANHOSO (a 2km de Teixoso).
EMENTA:
ENTRADAS: QUENTES: SOBREMESAS
Enchidos da Região Sopa/Bacalhau assado/Cabrito Café, Bolo Aniversário
Espumante
PREÇO DO ALMOÇO/FORMA DE PAGAMENTO:
Preço: 26,00 euros – Adultos
13,00 euros - Crianças entre os 5 e 9 anos
Forma de Pagamento: Inscrição e pagamento até 20 de Abril para:
Alfredo da Rocha Lopes
Rua da Agontinha, 120
Rio Tinto-Gondomar
4435-612 Baguim do Monte
Telef:224 896 398 / Telem: 917 633 249
NB: Pelas 19,00 Horas haverá uma merenda jantarada com grelhados, oferta/graciosa do nosso Capelão e de João José Castanheira (da CCav 2747) do Teixoso, para todos os Camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4187: Convívios (108): Pessoal dos Pelotões 953; 954; 955; 956 e 1.ª CCAÇ Africanos, em Azeitão, dia 2 de Maio de 2009 (António Bastos)
Guiné 63/74 - P4189: Estórias avulsas (7): O meu amigo Dinha e o RDM (Belarmino Sardinha)
1. Mensagem de Belarmino Sardinha( *), ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, com data de 11 de Dezembro de 2008:
Caros Camaradas Editores,
Comecei a brincar com as teclas e escrevi isto, antes que o apague, envio-o. Se acharem que se justifica publiquem.
Este texto é o resultado da época que atravessamos, das lembranças que tenho, daquilo que os meus olhos vêem e do que os meus ouvidos ouvem.
Um grande abraço para todos os Camaradas da Tabanca e para todos os outros que ainda não se deram a conhecer.
BSardinha
A Porrada ou Só à Porrada
Um conto que também podia ser de Natal
É habitual dizer-se, vou contar um conto ou vou contar uma estória. Esta é a de um outro amigo, o Dinha.
Sendo que um conto ou uma estória podem ser verídicos, tal como o seu contrário, dependendo do narrador e da sua imaginação, ou baseando-se em factos reais mais ou menos romanceados. Aptidões, essas, que só os próprios podem achar possuir ou os outros reconhecer-lhes passados anos.
A narrativa seguinte é verdadeira, tal como todas as outras já escritas, com uma diferença, havia que lhe dar forma, por isso a introdução.
Um amigo de escola, alentejano como eu e camarada de outras andanças aqui por Lisboa, foi à inspecção e incorporado no serviço militar na mesma altura que eu. Com uma diferença, possuía mais cabedal e as forças mais exercitadas, acabou, talvez por isso, na PM.
O destino tem destas coisas, como nunca me pareceu que esta Especialidade exigisse mais do que atenção aos possíveis tropas que trajavam à civil e outras malandragens que podiam colocar o regime em perigo ou até, quem sabe, anteciparem a sua queda, mandaram-no para a Guiné 4 ou 5 meses mais cedo do que eu. Iria dar, em terras da Guiné, continuidade a esse importantíssimo trabalho que era serem o espelho da nação, quer dizer, andarem e fazerem os outros andarem uniformizados a rigor.
Julgo que terá sido essencial esta atitude para nunca perdermos a face, os quartéis existentes não eram suficientemente disciplinados e disciplinadores para imporem essa obrigatoriedade e os seus responsáveis se calhar não eram assim considerados, havia por isso a necessidade de mostrar como é que as coisas deviam funcionar num espaço que era, apenas, a capital do local de guerra.
Mas voltando aos factos, este camarada e amigo, sabendo da minha chegada e estando de serviço de ronda foi-me esperar ao aeroporto. Desencontrámo-nos e quando nos propúnhamos encontrar, dois ou três dias depois, tinha ele acabado de receber a guia de marcha para Bula, não como PM mas como operacional.
Este malandro, potencial malfeitor face ao desenrolar dos acontecimentos, estando de cabo de dia no quartel da Amura, tinha presenciado e tinha-se solidarizado com os camaradas que fizeram um levantamento de rancho. Claro que o RDM era transparente como água e vai daí, ao abrigo de todas as leis, estas ou quaisquer outras de quem mandasse, não se podia nem dizer que se comia mal, ponto final.
Este PM teve assim a possibilidade de enriquecer os seus conhecimentos do interior e por certo nunca mais ter necessidade de se queixar da comida. Acabou a sua comissão e regressou vivo. Será que alguém neste ou noutros natais se interroga de quantos, por birras ou atitudes comezinhas foram castigados e acabaram por perder a vida ou ficarem estropiados?
Esta era a forma exemplar de educar homens/meninos, que pelo terror dos acontecimentos não lhes era dado queixarem-se em voz alta nem junto de quem não conheciam.
A liberdade deu de facto outra dimensão a todos estes acontecimentos, não sou, talvez por esta e outras razões muito dado a Natais, pela hipocrisia que encerram estes 15 dias em que tudo parece estar bem, mas acho importante deixarmos as notas possíveis para que os que nos descendem não se deixem levar em atitudes ardilosas e enganadoras que se resumem sempre e só a um dia especial, curiosamente ou talvez não é 25.
Um abraço para todos,
Bsardinha
__________
Nota de CV
(*) Vd. postes de:
16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)
e
9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4162: Convívios (106): Almoço convívio do pessoal do BCAÇ 3832 em Monte Real, 9 de Maio de 2009 (Belarmino Sardinha)
Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4154: Estória avulsas (26): Estou na Guiné há treze meses e a minha mulher está grávida (Manuel Maia)
Caros Camaradas Editores,
Comecei a brincar com as teclas e escrevi isto, antes que o apague, envio-o. Se acharem que se justifica publiquem.
Este texto é o resultado da época que atravessamos, das lembranças que tenho, daquilo que os meus olhos vêem e do que os meus ouvidos ouvem.
Um grande abraço para todos os Camaradas da Tabanca e para todos os outros que ainda não se deram a conhecer.
BSardinha
A Porrada ou Só à Porrada
Um conto que também podia ser de Natal
É habitual dizer-se, vou contar um conto ou vou contar uma estória. Esta é a de um outro amigo, o Dinha.
Sendo que um conto ou uma estória podem ser verídicos, tal como o seu contrário, dependendo do narrador e da sua imaginação, ou baseando-se em factos reais mais ou menos romanceados. Aptidões, essas, que só os próprios podem achar possuir ou os outros reconhecer-lhes passados anos.
A narrativa seguinte é verdadeira, tal como todas as outras já escritas, com uma diferença, havia que lhe dar forma, por isso a introdução.
Um amigo de escola, alentejano como eu e camarada de outras andanças aqui por Lisboa, foi à inspecção e incorporado no serviço militar na mesma altura que eu. Com uma diferença, possuía mais cabedal e as forças mais exercitadas, acabou, talvez por isso, na PM.
O destino tem destas coisas, como nunca me pareceu que esta Especialidade exigisse mais do que atenção aos possíveis tropas que trajavam à civil e outras malandragens que podiam colocar o regime em perigo ou até, quem sabe, anteciparem a sua queda, mandaram-no para a Guiné 4 ou 5 meses mais cedo do que eu. Iria dar, em terras da Guiné, continuidade a esse importantíssimo trabalho que era serem o espelho da nação, quer dizer, andarem e fazerem os outros andarem uniformizados a rigor.
Julgo que terá sido essencial esta atitude para nunca perdermos a face, os quartéis existentes não eram suficientemente disciplinados e disciplinadores para imporem essa obrigatoriedade e os seus responsáveis se calhar não eram assim considerados, havia por isso a necessidade de mostrar como é que as coisas deviam funcionar num espaço que era, apenas, a capital do local de guerra.
Mas voltando aos factos, este camarada e amigo, sabendo da minha chegada e estando de serviço de ronda foi-me esperar ao aeroporto. Desencontrámo-nos e quando nos propúnhamos encontrar, dois ou três dias depois, tinha ele acabado de receber a guia de marcha para Bula, não como PM mas como operacional.
Este malandro, potencial malfeitor face ao desenrolar dos acontecimentos, estando de cabo de dia no quartel da Amura, tinha presenciado e tinha-se solidarizado com os camaradas que fizeram um levantamento de rancho. Claro que o RDM era transparente como água e vai daí, ao abrigo de todas as leis, estas ou quaisquer outras de quem mandasse, não se podia nem dizer que se comia mal, ponto final.
Este PM teve assim a possibilidade de enriquecer os seus conhecimentos do interior e por certo nunca mais ter necessidade de se queixar da comida. Acabou a sua comissão e regressou vivo. Será que alguém neste ou noutros natais se interroga de quantos, por birras ou atitudes comezinhas foram castigados e acabaram por perder a vida ou ficarem estropiados?
Esta era a forma exemplar de educar homens/meninos, que pelo terror dos acontecimentos não lhes era dado queixarem-se em voz alta nem junto de quem não conheciam.
A liberdade deu de facto outra dimensão a todos estes acontecimentos, não sou, talvez por esta e outras razões muito dado a Natais, pela hipocrisia que encerram estes 15 dias em que tudo parece estar bem, mas acho importante deixarmos as notas possíveis para que os que nos descendem não se deixem levar em atitudes ardilosas e enganadoras que se resumem sempre e só a um dia especial, curiosamente ou talvez não é 25.
Um abraço para todos,
Bsardinha
__________
Nota de CV
(*) Vd. postes de:
16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)
e
9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4162: Convívios (106): Almoço convívio do pessoal do BCAÇ 3832 em Monte Real, 9 de Maio de 2009 (Belarmino Sardinha)
Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4154: Estória avulsas (26): Estou na Guiné há treze meses e a minha mulher está grávida (Manuel Maia)
Guiné 63/74 - P4188: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (9): Em São Leonardo de Galafura, com o Zé Manel e o António Pimentel (Luís Graça)
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > A Maria Alice, num dos mais magníficos miradouros da nossa terra, cantado por Miguel Torga (*)...
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Em primeiro plano, a Maria Alice, o António Pimentel e o Zé Manel... Daqui vê-se cinco distritos, garante o nosso guia...
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo da Galafura > c. 640 metros > c. 16h00 > Um dos mais deslumbrantes miradouros de Portugal. E que nos fazem gostar desta bela terra onde não escolhemos nascer... Em mil anos de existência dos tugas, muitos têm dado cabo dela, a pouco e pouco... (não só os políticos, os autarcas, os construtores civis, os especuladores imobiliários, os engenheiros, os arquitectos, mas os proprietários...), Há cada vez mais alcatrão e cimento por esse Portugal que amamos... Aqui a paisagem ainda é despojada e austera, imponente e arrebatadora, uma simbiose perfeita entre a natureza e a cultura, o rio e as encostas que o apertam, a flora, a fauna, o homem, a história e as vinhas... Estamos em pleno Alto Douro Vinhateiro, Património da Humanidade desde 2001.
É um dos miradouros dos que constam na minha lista dos top ten. Lá em baixo, o mítico Rio Douro... À volta, o Portugal profundo, cinco distritos... Cá em cima, junto à capelinha de São Leonardo, eu, a Alice, o meu amigo Arq José Paradela, os nossos camaradas Zé Manel e António Pimentel, e ainda um amigo e antigo colega de trabalho do Zé Manuel, que veio passar com ele a Páscoa, e que vive em Campo Benfeito, Castro Daire, na Serra de Montemuro... (Tal como o António Pimentel, que é da Figueira, vive no Porto e já é habitué da Quinta da Senhora da Graça).
Domingo de Páscoa, dia 12 de Abril... Viajando de Candoz, Marco de Canaveses, até à Régua, ao longo do Rio Douro, fomos almoçar, mais um casal amigo, ao restaurante Castas & Pratos, instalado num dos antigos e soberbos armazéns da CP, junto à estação. Aí desafiei o Zé Manel para beber um café e levar-nos ao São Leonardo...
Escusado será dizer que a refeição foi acompanhada com um magnífico, voluptuoso, encorpado Vinho Tinto Douro DOC Penedo do Barco 2005, uma obra-prima saída das mãos do Zé Manel, da Luísa Valente Lopes e do filho do casal, o jovem e talentoso enólogo Vasco Lopes...
Nem a hora nem o dia (com núvens...) era oa melhores, mas São Leonardo merece uma outra e outra visita, em próximas oportunidades: seguramente, de manhã cedo; seguramente, ao fim do dia; seguramente no Outono, depois das vindimas, "com as parras coloridas" (Josema)...
Miguel Torga, o grande escritor nascido em Sabrosa (São Martinho de Anta), tal como a nossa camarada Giselda Pessoa, tinha aqui , em São Leonardo da Galhafura, um dos seus locais de refúgio e de meditação... Ninguém como ele soube cantar este miradouro, onde é obrigatório ir para limpar a vista e a reconfortar a alma...
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Em primeiro plano, a Maria Alice, o António Pimentel e o Zé Manel... Daqui vê-se cinco distritos, garante o nosso guia...
É um dos miradouros dos que constam na minha lista dos top ten. Lá em baixo, o mítico Rio Douro... À volta, o Portugal profundo, cinco distritos... Cá em cima, junto à capelinha de São Leonardo, eu, a Alice, o meu amigo Arq José Paradela, os nossos camaradas Zé Manel e António Pimentel, e ainda um amigo e antigo colega de trabalho do Zé Manuel, que veio passar com ele a Páscoa, e que vive em Campo Benfeito, Castro Daire, na Serra de Montemuro... (Tal como o António Pimentel, que é da Figueira, vive no Porto e já é habitué da Quinta da Senhora da Graça).
Domingo de Páscoa, dia 12 de Abril... Viajando de Candoz, Marco de Canaveses, até à Régua, ao longo do Rio Douro, fomos almoçar, mais um casal amigo, ao restaurante Castas & Pratos, instalado num dos antigos e soberbos armazéns da CP, junto à estação. Aí desafiei o Zé Manel para beber um café e levar-nos ao São Leonardo...
Escusado será dizer que a refeição foi acompanhada com um magnífico, voluptuoso, encorpado Vinho Tinto Douro DOC Penedo do Barco 2005, uma obra-prima saída das mãos do Zé Manel, da Luísa Valente Lopes e do filho do casal, o jovem e talentoso enólogo Vasco Lopes...
Nem a hora nem o dia (com núvens...) era oa melhores, mas São Leonardo merece uma outra e outra visita, em próximas oportunidades: seguramente, de manhã cedo; seguramente, ao fim do dia; seguramente no Outono, depois das vindimas, "com as parras coloridas" (Josema)...
Miguel Torga, o grande escritor nascido em Sabrosa (São Martinho de Anta), tal como a nossa camarada Giselda Pessoa, tinha aqui , em São Leonardo da Galhafura, um dos seus locais de refúgio e de meditação... Ninguém como ele soube cantar este miradouro, onde é obrigatório ir para limpar a vista e a reconfortar a alma...
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Um dos azulejos com as celebradas palavras de Miguel Torga...
"O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta». É desta forma que o médico e escritor transmontano Miguel Torga [1907-1995] descreve o local de São Leonardo de Galafura, no concelho do Peso da Régua, no «Diário XII»
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Azulejo com o poema de Miguel Torga, afixado na parede da capelinha local, dedicada ao culto de São Leonardo...
São Leonardo da Galafura
À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Miguel Torga
Vídeo e fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 21 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3921: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (8): Um poema chinês do Séc. VIII com dedicatória à malta de Matosinhos (A. Graça de Abreu)
"O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta». É desta forma que o médico e escritor transmontano Miguel Torga [1907-1995] descreve o local de São Leonardo de Galafura, no concelho do Peso da Régua, no «Diário XII»
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Azulejo com o poema de Miguel Torga, afixado na parede da capelinha local, dedicada ao culto de São Leonardo...
São Leonardo da Galafura
À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Miguel Torga
Vídeo e fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 21 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3921: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (8): Um poema chinês do Séc. VIII com dedicatória à malta de Matosinhos (A. Graça de Abreu)
terça-feira, 14 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4187: Convívios (110): Pessoal dos Pelotões 953; 954; 955; 956 e 1.ª CCAÇ, em Azeitão, dia 2 de Maio de 2009 (António Bastos)
1. Mensagem de António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç 953 (Cacheu, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), com data de 12 de Abril de 2009:
Amigos editores,
Grande chefe da Tabanca Grande da Guiné.
O pessoal dos Pelotões 953, 954, 955, 956 e da 1.ª CCaç, comunica que no próximo dia 2 de Maio se realiza mais um Almoço Anual, (o 20.º) de Confraternização de todas estas Unidades, em Azeitão, na Quinta do Vitor Guedes.
Ementa
Bacalhau com broa de milho
Lombo de porco assado
Sobremesas
Salada de frutas e doces,
Café e digestivos.
Vinhos branco e tintos, águas e sumos.
À tarde
Camarão cozido
Cerveja, vinhos e águas.
Depois o corte do bolo da aniversário.
A dolorosa fica em 35.00€.
A porta fica aberta a mais alguns amigos, e ao pessoal da Tabanca Grande, que queiram comparecer.
O organizador (apanhado do clima) é
António Paulo S. Bastos
R. Maria Natividade de Sousa, 2
Vila Nogueira
2925-375 Azeitão
telef 212 191 291
telem 917 921 080
Obrigado
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4176: Convívios (107): Convívio do pessoal da CCAÇ 3 em Quarteira e Vilamoura, nos dias 1 e 2 da Maio de 2009 (J. M. Félix Dias)
Marcadores:
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combatentes africanos,
convívios,
Farim,
Pel Caç 953,
Pel Caç 954,
Pel Caç 955,
Pel Caç 956
Guiné 63/74 - P4186: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 6 de Junho de 2009 (1): Abertura das hostilidades (Editores)
IV ENCONTRO DA TERTÚLIA DO BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ
DIA 6 DE JUNHO DE 2009 EM ORTIGOSA, MONTE REAL, LEIRIA
Caros Companheiros
Como vos foi dito por mail, não apareceu nenhum voluntário para organizar o IV Encontro da Tertúlia. Compreendo, porque colaboro na organização de pelo menos dois por ano, o nosso e o dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos e sei o trabalho que dá. Que o digam o Paulo Raposo, o Vitor Junqueira e o Joaquim Mexia Alves, homens que tomaram em ombros a organização dos três primeiros. E muito bem, diga-se.
Como nestas coisas há sempre um sacrificado, com pézinhos de lã, não fosse ele zangar-se comigo por tal atrevimento, auscultei o camarada Joaquim Mexia Alves, que se prontificou a organizar de novo este ano o nosso convívio, com a condição de não ser em Outubro, como era a inclinação de alguns camaradas.
Assim, consultando o calendário, achamos que o dia 6 de Junho não é má data. Dias grandes, solarengos e quentinhos. Ser véspera de eleições, julgo não ter inconveniente, porque mesmo quem ficar para o outro dia, ainda vai a tempo de cumprir o seu dever cívico de escolher os nossos representantes na Europa.
Já temos algumas inscrições confirmadas, pelo que apelo aos meus camaradas e amigos que ainda não se inscreveram, que vão pensando no assunto e comunicando a vossa intenção, para que o camarada Joaquim se possa ir organizando. Como se fez o ano passado, convém que as inscrições sejam simultaneamente envidas para mim e para ele. Como em princípio vou secretariar a organização (aceito voluntário(s) para esta missão), se me enviarem só para mim, Carlos Vinhal, encaminharei para o Joaquim.
Quem necessitar de alojamento para pernoitar deverá fazer menção no acto de inscrição.
Oportunamente serão divulgados os pormenores de ementa e preço do almoço, assim como da pernoita.
Quem ficou o ano passada na Pensão Santa Rita não deverá ter tido razão de queixa e o preço foi simpático.
Qualquer um dos nossos tertulianos pode fazer parte do nosso almoço. Nunca tivemos o prazer da presença de um(a) não ex-combatente. Por que não este ano? Seria bem-vindo(a).
Como é costume, também podemos levar convidados.
Acho que o essencial ficou dito.
Lembro que este convívio é fundamental, porque conhecendo-nos pessoalmente, também ajuda a que nos compreendamos melhor. Aos camaradas que este ano se juntaram a nós dou um conselho, não percam o próximo Encontro.
Deixo-vos três recordações dos Encontros anteriores:
Ameira, Montemor-o-Novo, 14 de Outubro de 2006. Houve magia. Se não há amor como o primeiro, nunca mais esqueceremos este nosso primeiro Encontro.
Pombal, 28 de Abril de 2007. Foi um marco na quantidade, mais de 80 participantes
Ortigosa, 17 de Maio de 2008. Quase, quase 90 participantes, mas este ano vamos atingir os 100. Pena que ninguém se tivesse lembrado da foto de família.
DIA 6 DE JUNHO DE 2009 EM ORTIGOSA, MONTE REAL, LEIRIA
Caros Companheiros
Como vos foi dito por mail, não apareceu nenhum voluntário para organizar o IV Encontro da Tertúlia. Compreendo, porque colaboro na organização de pelo menos dois por ano, o nosso e o dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos e sei o trabalho que dá. Que o digam o Paulo Raposo, o Vitor Junqueira e o Joaquim Mexia Alves, homens que tomaram em ombros a organização dos três primeiros. E muito bem, diga-se.
Como nestas coisas há sempre um sacrificado, com pézinhos de lã, não fosse ele zangar-se comigo por tal atrevimento, auscultei o camarada Joaquim Mexia Alves, que se prontificou a organizar de novo este ano o nosso convívio, com a condição de não ser em Outubro, como era a inclinação de alguns camaradas.
Assim, consultando o calendário, achamos que o dia 6 de Junho não é má data. Dias grandes, solarengos e quentinhos. Ser véspera de eleições, julgo não ter inconveniente, porque mesmo quem ficar para o outro dia, ainda vai a tempo de cumprir o seu dever cívico de escolher os nossos representantes na Europa.
Já temos algumas inscrições confirmadas, pelo que apelo aos meus camaradas e amigos que ainda não se inscreveram, que vão pensando no assunto e comunicando a vossa intenção, para que o camarada Joaquim se possa ir organizando. Como se fez o ano passado, convém que as inscrições sejam simultaneamente envidas para mim e para ele. Como em princípio vou secretariar a organização (aceito voluntário(s) para esta missão), se me enviarem só para mim, Carlos Vinhal, encaminharei para o Joaquim.
Quem necessitar de alojamento para pernoitar deverá fazer menção no acto de inscrição.
Oportunamente serão divulgados os pormenores de ementa e preço do almoço, assim como da pernoita.
Quem ficou o ano passada na Pensão Santa Rita não deverá ter tido razão de queixa e o preço foi simpático.
Qualquer um dos nossos tertulianos pode fazer parte do nosso almoço. Nunca tivemos o prazer da presença de um(a) não ex-combatente. Por que não este ano? Seria bem-vindo(a).
Como é costume, também podemos levar convidados.
Acho que o essencial ficou dito.
Lembro que este convívio é fundamental, porque conhecendo-nos pessoalmente, também ajuda a que nos compreendamos melhor. Aos camaradas que este ano se juntaram a nós dou um conselho, não percam o próximo Encontro.
Deixo-vos três recordações dos Encontros anteriores:
Ameira, Montemor-o-Novo, 14 de Outubro de 2006. Houve magia. Se não há amor como o primeiro, nunca mais esqueceremos este nosso primeiro Encontro.
Pombal, 28 de Abril de 2007. Foi um marco na quantidade, mais de 80 participantes
Ortigosa, 17 de Maio de 2008. Quase, quase 90 participantes, mas este ano vamos atingir os 100. Pena que ninguém se tivesse lembrado da foto de família.
Guiné 63/74 - P4185: Nino: Vídeos (4): Guidaje, Guileje, Gadamael: A Op Amílcar Cabral
Guiné-Bissau > Bissau > Palácio Presidencial > 6 de Março de 2008 > Excerto da audiência que o Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira (1939-2009) deu, por volta das 12h, a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). O grupo incluía 3 cubanos, Oscar Oramas (antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, ao tempo da morte de Amílcar Cabral, um homem culto, hoje doutorado e biógrafo do líder histórico do PAIGC), Ulises Estrada (antigo 'combatente internacionalista', companheiro de 'Che' Guevara na Bolívia) e o actual embaixador de Cuba na Guiné-Bissau, e ainda três ou quatro guineenses. Mas a maioria dos presentes era portugueses, ex-combatentes da guerra colonial, incluindo, entre outros, o antigo comandante do COP 5, o ex-major Coutinho e Lima, e três Gringos de Guileje (O Abílio, o Sérgo e o Zé Carioca), sem esquecer o Zé Rocha, outro homem de Guileje.
Estiveram também presentes o Dr. Alfredo Caldeira, da Fundação Mário Soares, a Diana Andringa (a co-ealizadora do filme As Duas Faces da Guerra), e o José Carlos Marques, jornalista do Correio da Manhã. Também o francês Prof Doutor Patrick Chabal, o melhor biógrafo de Amílcar Cabral, esteve presente. Ao todo, na sala, estariam cerca de duas dezenas de pessoas.
A audiência foi decidida à última hora, por vontade expressa do 'Nino' Vieira, na qualidade de histórico comandante da guerrilha do PAIGC e um dos seus mais destacados militantes (o último dos 'dez magníficos' mandados por Cabral para a China antes do início da guerra).
A audiência não estava prevista no programa do Simpósio. Uma hora antes, o grupo fora também recebidos pelo então 1º Ministro, Martinho N'Dafa Cabi. Não estava prevista, de resto, qualquer intervenção no Simpósio, por parte do Presidente da República - presumo que por razões de segurança - embora ele fizesse parte da comissão de honra.
Vídeo (5' 57''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em You Tube > Nhabijoes
Continuação da conversa de Nino com a sua audiência (*):
Nino conta aqui como é que, em Conacri, na embaixada de Cuba, na presença do embaixador Oscar Oramas, após a morte de Amílcar Cabral, a cúpula político-militar do PAIGC, reunida em 'conselho de guerra' (sic) (ele próprio, Xico Tê, Pedro Pires, Luís Cabral, e mais alguns comandantes da guerrilha que estavam por ali perto...), decidiu avançar com a Op Amílcar Cabral, uma acção conjunta contra Guidaje, no norte, e Guileje, no sul...
Tratava-se sobretudo de reforçar a 'força anímica' (Pedro Pires) dos guerrilheiros, seriamente abalada com a notícia brutal do desaparecimento do líder... Era preciso mostrar, interna e externamenete, que o PAIGC conseguia sobreviver ao desaparecimento (físico) de Cabral...
'Nino' explica, a seguir, por que é que as operações sobre Guidaje não puderam ser devidamente coordenadas com as de Guileje, conforme o planeado. Quando a guerrilha concentrava forças na região, apareceu a aviação e faz bombardeamentos. Os combatentes do PAIGC ripostaram e a operação começou... Precipitadamente.
Esta e outras fahas de informação e coordenação não reconhecidas e comentadas por 'Nino' que evoca aqui também o derrube por um Strela, em 25 de Março de 1973, do Fiat G-91, pilotado pelo então Ten Pilav Miguel Pessoa, sob os céus de Guileje...
Segundo ele (e essa versão é também corroborada por Pedro Pires, no seu depoimento, na II Parte do filme de Diana Andrnga e Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra), a "operação de Guileje" começou com uma espécie de armadilha, montada à nossa Força Aérea. Os guerrilheiros sabiam que, após um ataque a Guileje, era pedido apoio de fogo a Bissalanca. Dez minutos depois, eram sobrevoados e bombardeados pelos Fiat. Daquela vez, havia o Strela, um moderno míssil terra-ar, disponibiliado pelos soviéticos, tendo em vista a escalada da guerra... O artilheiro do PAIGG, encarregue de disparar o Strela (Caba Fati, hoje major,se bem percebi o nome) daquela vez não falhou... A euforia foi tão grande, entre as hostes do PAIGC, que eles nem se deram o trabalho de procurar o piloto e de aprisioná-lo, no caso de ainda estar vivo... (Vd., a este respeito, o testemunho do antigo guerrilheiro Féfé Gomes Cofre, na II Parte do filme da Diana Andringa e do Flora Gomes)
Enfim, explica ainda sumariamente como foram desencadeadas no terreno as operações contra Guileje, entre 18 e 25 de Maio de 1973... Não esconde, pelo contrário, que o PAIGC sabia muito pouco ou nada sobre as posições das NT, os seus hábitos, as suas rotinas de abastecimento...Providencial foi a captura de um milícia local que lhes deu informações preciosas... A "operação Guileje" começaria, na madrugada de 18 de Maio de 1973, com uma grande emboscada, com uma frente de 100 metros, planeada por 'Nino', às forças (milícias) que saíam para se abastecer na fonte que ficava nas imediações do quartel... Essa operação,como se sabe, durou até 25 de Maio de 1973, com a entrada do PAIGC em Guileje, no dia em que se comemorava o 10º aniversário da criação da OUA - Organização da Unidade Africana... Depois de Guileje, 'Nino' virou-se para Gadamael... (LG)
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série:
17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4045: Nino: Vídeos (3): Em Portugal, um vizinho meu, antigo combatente, reconheceu-me e tratou-me por 'comandante Nino'...
9 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4002: Nino: Vídeos (2): O amigo de Cuba... e de Portugal, que em Março de 2008 pedia mais professores de português (Luís Graça)
8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3996: Nino: Vídeos (1): Ouvindo a versão do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P4184: FAP (22): Entrega do meu pára-quedas ao Museu dos Pára-quedistas, na Base Escola de Tancos (Miguel Pessoa)
1. Mensagem de Miguel Pessoa (*), ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Reformado, dirigida a Luís Graça, com data de 5 de Abril de 2009:
O PESSOAL DA 123
Caro Luís
Embora sabendo-te num período sabático de reflexão, não quero deixar de te enviar algumas palavras. Primeiro, porque me lembrei de ti ao passar hoje (5 de Abril) por um local que te diz muito, a Lourinhã; mas foi uma passagem rápida que nem permitiu ver sequer um dinossauro (sem ser aquele que ia a guiar o meu carro - vislumbrei-o de relance no retrovisor...); em segundo lugar, mais importante, porque tinha regressado de uma festa de anos de um bom amigo da CCP123 (de Bissalanca, Guiné), o João Pedro (Pedro é o apelido), que mora em A-dos-Francos.
Para além de outras datas sagradas em que muito do pessoal da CCP 123 se reúne - O 23 de Maio, dia da Base Escola em Tancos, o jantar de Natal, o 10 de Junho em Belém) - o aniversário do Pedro é um dos momentos de convívio em que tenho tido a sorte de poder integrar-me - eu e a Giselda, claro, como antiga pára-quedista e amiga pessoal. Por isso faço todos os possíveis por estar presente.
Como habitualmente (luxo de quem está reformado) costumo aproveitar estas minhas deslocações para pernoitar na zona onde decorre a confraternização. Mais do que fazer turismo, pretendo com isso prolongar um pouco mais esses convívios e, já agora, recuperar um pouco mais do cansaço destas deslocações (que os vinte anos já se foram há uns tempos).
É habitual juntar-se neste convívio anual em A-dos-Francos um bom grupo de amigos da CCP 123 que, para além de homenagear o aniversariante, aproveitam - como é habitual nestas confraternizações - para relembrar acontecimentos do passado; muitos deles já são do conhecimento de quase todos os presentes, claro, mas surgem por vezes novos pormenores que ajudam a esclarecer os que assistem a estes diálogos ou a relembrar os mais esquecidos (ou distraídos).
É claro que no caso particular destas conversas acresce o facto de alguns destes pormenores se referirem à minha recuperação por pessoal da CCP 123, pois vários dos intervenientes costumam estar ali presentes.
Embora tenha sido parte muito pouca activa no processo (afinal limitei-me a ficar lá no mato, à espera que me fossem buscar - uma espécie de morto no jogo de bridge...) o pessoal que revejo nestas reuniões recebe-me sempre com grande cordialidade, o que me parece natural - afinal nós gostamos sempre de mostrar aos amigos um trabalho em que estivemos envolvidos e que saiu bem feito. E, neste caso particular, nada como rever o sujeito em cuja recuperação muitos tomaram parte e que ainda anda por cá a gozar esta segunda oportunidade de se manter neste mundo...
Tive a oportunidade de lembrar a alguns deles o interesse em avançarem com a descoberta deste nosso blog e de participarem nele, contando as histórias interessantes a que tenho tido acesso nestes convívios. Mas, já foi referido aqui, é difícil tirar-se deste pessoal muita informação para além da que debitam nestes convívios em família; Fez-se o que se tinha que fazer, e está tudo dito.
E é pena que isto suceda, pois tenho ouvido descrições de grande interesse para serem publicadas, juntamente com outras que provavelmente seria difícil publicar no blog, dada a crueza dos factos descritos. Embora façam parte da História.
À conta destas conversas, relembrei um episódio ocorrido durante a recuperação, relativo à recolha do meu capacete e do meu pára-quedas, abandonados no local e recuperados por elementos da CCP 123. Posteriormente o meu amigo e camarada, o então Ten Pára Norberto Bernardes - hoje General - que comandava esse grupo, tendo recolhido essas duas peças, deu-me a escolher com qual queria ficar. É claro que, tendo eu a hipótese de voltar a usar novos capacetes (e aquele até estava partido) optei por escolher o pára-quedas, ficando ele com o capacete.
Quando guardamos uma recordação, temos sempre o gosto de a partilhar com os outros. E naturalmente foi o que sucedeu com o meu amigo Norberto, que achou por bem oferecer o capacete ao Museu dos Pára-quedistas, na Base Escola em Tancos. E, passados uns anos, o meu pára-quedas seguiu o mesmo destino pois, embrulhado num saco, na minha casa, não servia para nada, sendo muito mais interessante ficar ao lado do capacete - seu companheiro de aventuras na mesma história - e à vista de todos os visitantes, alguns deles curiosos de saber a razão da sua presença naquele local.
Embora com fraca qualidade, por ter sido digitalizada da revista Boina Verde, onde foi publicada a notícia, junto foto da entrega do pára-quedas ao Coronel Perestrelo, então Comandante da Base Escola de Pára-quedistas.
Um abraço.
Miguel Pessoa
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)
O PESSOAL DA 123
Caro Luís
Embora sabendo-te num período sabático de reflexão, não quero deixar de te enviar algumas palavras. Primeiro, porque me lembrei de ti ao passar hoje (5 de Abril) por um local que te diz muito, a Lourinhã; mas foi uma passagem rápida que nem permitiu ver sequer um dinossauro (sem ser aquele que ia a guiar o meu carro - vislumbrei-o de relance no retrovisor...); em segundo lugar, mais importante, porque tinha regressado de uma festa de anos de um bom amigo da CCP123 (de Bissalanca, Guiné), o João Pedro (Pedro é o apelido), que mora em A-dos-Francos.
Para além de outras datas sagradas em que muito do pessoal da CCP 123 se reúne - O 23 de Maio, dia da Base Escola em Tancos, o jantar de Natal, o 10 de Junho em Belém) - o aniversário do Pedro é um dos momentos de convívio em que tenho tido a sorte de poder integrar-me - eu e a Giselda, claro, como antiga pára-quedista e amiga pessoal. Por isso faço todos os possíveis por estar presente.
Como habitualmente (luxo de quem está reformado) costumo aproveitar estas minhas deslocações para pernoitar na zona onde decorre a confraternização. Mais do que fazer turismo, pretendo com isso prolongar um pouco mais esses convívios e, já agora, recuperar um pouco mais do cansaço destas deslocações (que os vinte anos já se foram há uns tempos).
É habitual juntar-se neste convívio anual em A-dos-Francos um bom grupo de amigos da CCP 123 que, para além de homenagear o aniversariante, aproveitam - como é habitual nestas confraternizações - para relembrar acontecimentos do passado; muitos deles já são do conhecimento de quase todos os presentes, claro, mas surgem por vezes novos pormenores que ajudam a esclarecer os que assistem a estes diálogos ou a relembrar os mais esquecidos (ou distraídos).
É claro que no caso particular destas conversas acresce o facto de alguns destes pormenores se referirem à minha recuperação por pessoal da CCP 123, pois vários dos intervenientes costumam estar ali presentes.
Embora tenha sido parte muito pouca activa no processo (afinal limitei-me a ficar lá no mato, à espera que me fossem buscar - uma espécie de morto no jogo de bridge...) o pessoal que revejo nestas reuniões recebe-me sempre com grande cordialidade, o que me parece natural - afinal nós gostamos sempre de mostrar aos amigos um trabalho em que estivemos envolvidos e que saiu bem feito. E, neste caso particular, nada como rever o sujeito em cuja recuperação muitos tomaram parte e que ainda anda por cá a gozar esta segunda oportunidade de se manter neste mundo...
Tive a oportunidade de lembrar a alguns deles o interesse em avançarem com a descoberta deste nosso blog e de participarem nele, contando as histórias interessantes a que tenho tido acesso nestes convívios. Mas, já foi referido aqui, é difícil tirar-se deste pessoal muita informação para além da que debitam nestes convívios em família; Fez-se o que se tinha que fazer, e está tudo dito.
E é pena que isto suceda, pois tenho ouvido descrições de grande interesse para serem publicadas, juntamente com outras que provavelmente seria difícil publicar no blog, dada a crueza dos factos descritos. Embora façam parte da História.
À conta destas conversas, relembrei um episódio ocorrido durante a recuperação, relativo à recolha do meu capacete e do meu pára-quedas, abandonados no local e recuperados por elementos da CCP 123. Posteriormente o meu amigo e camarada, o então Ten Pára Norberto Bernardes - hoje General - que comandava esse grupo, tendo recolhido essas duas peças, deu-me a escolher com qual queria ficar. É claro que, tendo eu a hipótese de voltar a usar novos capacetes (e aquele até estava partido) optei por escolher o pára-quedas, ficando ele com o capacete.
Quando guardamos uma recordação, temos sempre o gosto de a partilhar com os outros. E naturalmente foi o que sucedeu com o meu amigo Norberto, que achou por bem oferecer o capacete ao Museu dos Pára-quedistas, na Base Escola em Tancos. E, passados uns anos, o meu pára-quedas seguiu o mesmo destino pois, embrulhado num saco, na minha casa, não servia para nada, sendo muito mais interessante ficar ao lado do capacete - seu companheiro de aventuras na mesma história - e à vista de todos os visitantes, alguns deles curiosos de saber a razão da sua presença naquele local.
Embora com fraca qualidade, por ter sido digitalizada da revista Boina Verde, onde foi publicada a notícia, junto foto da entrega do pára-quedas ao Coronel Perestrelo, então Comandante da Base Escola de Pára-quedistas.
Um abraço.
Miguel Pessoa
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)
Guiné 63/74 - P4183: Duas ou três palavras para Miguel Pessoa (José Brás)
1. Mensagem de José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68 (*), com data de 12 de Abril de 2009:
Carlos
Caríssimo amigo
Sei que estás com trabalho até aqui. Injusto, portanto, é atafulhar-te mais.
Ainda assim, ainda que passado já o aniversário de Miguel Pessoa, gostaria de lhe fazer chegar duas ou três palavras sobre o seu poste 4 meses de nada, forma pobre a minha de lhe dar os parabéns.
Parabéns, não apenas por mais este ano de vida que contou, mas por todos os outros milhões de nadas com que fez uma vida cheia e, ao que parece, solidária e ansiosa de abraço.
Por isso e porque não lhe conheço o endereço electrónico, queria pedir-te (um abuso!) a gentileza de lhe fazeres chegar o texto que enviei ao blogue no passado dia 1 de Abril e aqui junto.
As minhas desculpas, um abraço e… uma nota:
Será a minha primeira vez e a oportunidade de pessoalmente conhecer muita da gente que pensou o mesmo que eu de cada vez que fazia avançar um pé nos apertados carreiros (bem vistas as coisas, de cada vez, não, a malta habitua-se a tudo): “será agora?”. Para mim qualquer data é boa e podes, desde já, contar comigo.
Uma abraço… de novo.
José Brás
2. Texto dedicado ao aniversário de Miguel Pessoa e ao seu poste 4119 (**)
Amigo
Miguel Pessoa
“4 meses de…nada”
De nadas se faz a nossa vida.
Oitenta anos, cinquenta, vinte, três meses, o tempo de cá estar não está definido como regra geral e cada um bebe deste copo pequenos goles, pequenos nadas até ao dia que dizem ser o fim de tudo.
Às vezes é logo à nascença que se parte desta e nem ao primeiro nada se chega.
O nada!
O tempo certo de partir para o grande nada.
Aparentemente o nada é… o nada.
quer dizer não existe não tem densidade não tem massa
não tem peso nem espaço nem volume
não tem cor nem cheiro
insisto
aparentemente nada é nada.
com nada é impossível construir casas semear trigo colher
cerejas fazer um filho ir à lua
com o nada ninguém ri ninguém chora ninguém grita de
dor ou de prazer
o nada não é pão nem espada nem ternura
nada em absoluto não existe
nada é um ponto
nada é o centro imaterial arbitrariamente ocupado
pelo espaço em redor
o nada é
um território tão vasto como o infinito
um território tão vasto como o sonho
cientistas e poetas que me expliquem o nada
que me expliquem aquilo que em vão hei-de procurar
até ao último dos meus dias
Bem sei que, nascendo, é o tudo que queremos, o ideal, o belo…Deus, digamos.
Montando no cavalo do psicólogo, arrisco dizer que é disso mesmo que se faz essa tua sensação de “quatro meses de…nada”.
E ainda bem que o disseste porque, dizendo-o como o fizeste, simplesmente como num relatório, me trouxeste à memória coisas que remoía de longe em longe e sem resposta.
Vivi alguns meses no chão que se estende por debaixo do céu do teu Fiat e do teu strella.
Não posso dizer que os vivi em vão se desses meses ganhei alguma coisa do que fui depois e alguma coisa conservo ainda no que sou hoje.
Diria, sem outro fim que o de melhor se entenderem os sinais do que vou dizer, diria que daqui embarquei fardado e sem gosto. Aliás, a farda sempre me assentou mal nas Caldas, em Tavira, no BC5.
Desde os 15 anos que entendia a mais o regime que mais tarde me mandou pegar em armas.
Em Vila Franca de Xira cresci no meio de opositores organizados.
A Pátria, para mim, não era essa memória mal definida (mal contada) das glórias da reconquista aos “infiéis” e dos heróis de Aljubarrota. Das Descobertas assumia já, então, muito mais o contributo dado para o desenvolvimento do mundo do que as façanhas (reais) dos navegadores.
Não tinha grandes dúvidas sobre a razão dos povos de África que se organizavam e lutavam contra a Europa, na mira da sua liberdade.
Mas aceitei a farda. Não me sentia, apesar do resto, com qualquer direito a negar o braço aos meus irmãos que partiam todos os dias a defender a outra pátria que eu negava.
Aceitei a farda, a arma e o embarque. Chegada a hora da chamada, não senti qualquer direito para me afastar do incómodo que sofriam os meus amigos na ida a África para combater em nome da Pátria que, já viste, só era minha porque deles, e eles a minha Pátria.
Aceitei disparar.
Um aviso antes de qualquer mal entendido. Não digo isto na crença de que era melhor (ou pior) que os outros. Era diferente dos que eram diferentes de mim e igual a tantos outros. Aliás, diferente de mim próprio algumas vezes e igual aos meus diferentes outras tantas.
Como sabes, na Guiné, todos os que conseguiam reunir meios para passar um mês de férias na terra, compravam o bilhete da TAP e faziam quase sempre o seu baptismo de voo.
Cheguei à minha aldeia, creio que em Julho, de mãos queimadas das canos da G3 que no escuro da noite, soldados me passavam à vez, na boca do abrigo (preferia morrer a céu aberto) e eu despejava sobre a paliçada sobre inimigos que não via mas adivinhava pelo rastro das rastejante e pelas saídas de morteiros e canhões sem recuo.
A minha mãe era um farrapo de velha com largos anos a mais do que os que lhe sabia no dia do embarque, dez meses antes.
Fim de Julho, festa de Verão na aldeia, banda de música no coreto, bailaricos, gado bravo no cercado, o forcado que era antes da partida, estás a ver a felicidade quase sólida ali nas mãos, mesmo que faltassem apenas dois dias para voltar a Mejo.
Na Segunda-Feira da festa, entre umas imperiais e uns tremoços, o carteiro entrega-me um telegrama que havia chegado da Guiné, curto, seco, violento. “ Dias morreu em Xinxi-Dari ponto outro morto e feridos de outras secções ponto Oliveira ferido grave hospital da Estrela ponto dá apoio antes voltares ponto Loja”.
Grande murro no estômago! De repente desabou tudo sobre mim. Olhava, tanto quanto me lembro e os amigos diziam depois, olhava de olhar parado a gente à volta, falavam comigo e, nada, niqueles, perdera a palavra. O meu pai tirou-me o telegrama da mão e leu. Ficou parvo também mas não perdeu nem a fala, nem a ternura. Tirou-me da cadeira já as lágrimas me corriam abundantes. O Dias era soldado da minha secção e morrera sem mim. O Oliveira era da minha secção e jorrara o seu sangue em Xinxi-Dari sem mim. E os outros de quem não constava nome no telegrama, que eram da minha companhia, haviam morrido sem mim.
Logo ali, já em casa, o meu pai garantia “agora é que vais mesmo para fora. Já não voltas a essa terra de doidos. O Salazar que se f….”.
Naquele momento nem ripostei. No dia seguinte, bem cedo, autocarro, Lisboa, voltas e mais voltas na Estrela, um mundo de mortos vivos, até que encontrei o Oliveira. Não iria morrer, pareceu-me, embora me tivesse afiançado que alguém, na mata lhe apanhara intestinos.
De mais importante para lhe dizer foi a frase que tanto te tem afligido, mas na primeira pessoa, como a disse o Pessoa, mas na segunda.
“Olha, Oliveira, daquilo estás safo!”
À noite, de novo em casa, poucas falas para trocar, o meu pai seguro de que me poria na fronteira e eu remoía ainda os pequenos nadas da tragédia.
Antes da cama tudo ficou claro entre nós. Mejo iria continuar a ser a minha Pátria por mais alguns meses. A mala já estava feita. O meu pai ainda iniciou a argumentação mas calou-se com as lágrimas que me haviam rebentado de novo.
E nem precisei de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão.
Um abraço
José Brás
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Março de 2009 Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)
(**) Vd. postes de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4160: Parabéns a você (4): No dia 9 de Abril de 2009, ao camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (Editores)
e
1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)
Carlos
Caríssimo amigo
Sei que estás com trabalho até aqui. Injusto, portanto, é atafulhar-te mais.
Ainda assim, ainda que passado já o aniversário de Miguel Pessoa, gostaria de lhe fazer chegar duas ou três palavras sobre o seu poste 4 meses de nada, forma pobre a minha de lhe dar os parabéns.
Parabéns, não apenas por mais este ano de vida que contou, mas por todos os outros milhões de nadas com que fez uma vida cheia e, ao que parece, solidária e ansiosa de abraço.
Por isso e porque não lhe conheço o endereço electrónico, queria pedir-te (um abuso!) a gentileza de lhe fazeres chegar o texto que enviei ao blogue no passado dia 1 de Abril e aqui junto.
As minhas desculpas, um abraço e… uma nota:
Será a minha primeira vez e a oportunidade de pessoalmente conhecer muita da gente que pensou o mesmo que eu de cada vez que fazia avançar um pé nos apertados carreiros (bem vistas as coisas, de cada vez, não, a malta habitua-se a tudo): “será agora?”. Para mim qualquer data é boa e podes, desde já, contar comigo.
Uma abraço… de novo.
José Brás
2. Texto dedicado ao aniversário de Miguel Pessoa e ao seu poste 4119 (**)
Amigo
Miguel Pessoa
“4 meses de…nada”
De nadas se faz a nossa vida.
Oitenta anos, cinquenta, vinte, três meses, o tempo de cá estar não está definido como regra geral e cada um bebe deste copo pequenos goles, pequenos nadas até ao dia que dizem ser o fim de tudo.
Às vezes é logo à nascença que se parte desta e nem ao primeiro nada se chega.
O nada!
O tempo certo de partir para o grande nada.
Aparentemente o nada é… o nada.
quer dizer não existe não tem densidade não tem massa
não tem peso nem espaço nem volume
não tem cor nem cheiro
insisto
aparentemente nada é nada.
com nada é impossível construir casas semear trigo colher
cerejas fazer um filho ir à lua
com o nada ninguém ri ninguém chora ninguém grita de
dor ou de prazer
o nada não é pão nem espada nem ternura
nada em absoluto não existe
nada é um ponto
nada é o centro imaterial arbitrariamente ocupado
pelo espaço em redor
o nada é
um território tão vasto como o infinito
um território tão vasto como o sonho
cientistas e poetas que me expliquem o nada
que me expliquem aquilo que em vão hei-de procurar
até ao último dos meus dias
Bem sei que, nascendo, é o tudo que queremos, o ideal, o belo…Deus, digamos.
Montando no cavalo do psicólogo, arrisco dizer que é disso mesmo que se faz essa tua sensação de “quatro meses de…nada”.
E ainda bem que o disseste porque, dizendo-o como o fizeste, simplesmente como num relatório, me trouxeste à memória coisas que remoía de longe em longe e sem resposta.
Vivi alguns meses no chão que se estende por debaixo do céu do teu Fiat e do teu strella.
Não posso dizer que os vivi em vão se desses meses ganhei alguma coisa do que fui depois e alguma coisa conservo ainda no que sou hoje.
Diria, sem outro fim que o de melhor se entenderem os sinais do que vou dizer, diria que daqui embarquei fardado e sem gosto. Aliás, a farda sempre me assentou mal nas Caldas, em Tavira, no BC5.
Desde os 15 anos que entendia a mais o regime que mais tarde me mandou pegar em armas.
Em Vila Franca de Xira cresci no meio de opositores organizados.
A Pátria, para mim, não era essa memória mal definida (mal contada) das glórias da reconquista aos “infiéis” e dos heróis de Aljubarrota. Das Descobertas assumia já, então, muito mais o contributo dado para o desenvolvimento do mundo do que as façanhas (reais) dos navegadores.
Não tinha grandes dúvidas sobre a razão dos povos de África que se organizavam e lutavam contra a Europa, na mira da sua liberdade.
Mas aceitei a farda. Não me sentia, apesar do resto, com qualquer direito a negar o braço aos meus irmãos que partiam todos os dias a defender a outra pátria que eu negava.
Aceitei a farda, a arma e o embarque. Chegada a hora da chamada, não senti qualquer direito para me afastar do incómodo que sofriam os meus amigos na ida a África para combater em nome da Pátria que, já viste, só era minha porque deles, e eles a minha Pátria.
Aceitei disparar.
Um aviso antes de qualquer mal entendido. Não digo isto na crença de que era melhor (ou pior) que os outros. Era diferente dos que eram diferentes de mim e igual a tantos outros. Aliás, diferente de mim próprio algumas vezes e igual aos meus diferentes outras tantas.
Como sabes, na Guiné, todos os que conseguiam reunir meios para passar um mês de férias na terra, compravam o bilhete da TAP e faziam quase sempre o seu baptismo de voo.
Cheguei à minha aldeia, creio que em Julho, de mãos queimadas das canos da G3 que no escuro da noite, soldados me passavam à vez, na boca do abrigo (preferia morrer a céu aberto) e eu despejava sobre a paliçada sobre inimigos que não via mas adivinhava pelo rastro das rastejante e pelas saídas de morteiros e canhões sem recuo.
A minha mãe era um farrapo de velha com largos anos a mais do que os que lhe sabia no dia do embarque, dez meses antes.
Fim de Julho, festa de Verão na aldeia, banda de música no coreto, bailaricos, gado bravo no cercado, o forcado que era antes da partida, estás a ver a felicidade quase sólida ali nas mãos, mesmo que faltassem apenas dois dias para voltar a Mejo.
Na Segunda-Feira da festa, entre umas imperiais e uns tremoços, o carteiro entrega-me um telegrama que havia chegado da Guiné, curto, seco, violento. “ Dias morreu em Xinxi-Dari ponto outro morto e feridos de outras secções ponto Oliveira ferido grave hospital da Estrela ponto dá apoio antes voltares ponto Loja”.
Grande murro no estômago! De repente desabou tudo sobre mim. Olhava, tanto quanto me lembro e os amigos diziam depois, olhava de olhar parado a gente à volta, falavam comigo e, nada, niqueles, perdera a palavra. O meu pai tirou-me o telegrama da mão e leu. Ficou parvo também mas não perdeu nem a fala, nem a ternura. Tirou-me da cadeira já as lágrimas me corriam abundantes. O Dias era soldado da minha secção e morrera sem mim. O Oliveira era da minha secção e jorrara o seu sangue em Xinxi-Dari sem mim. E os outros de quem não constava nome no telegrama, que eram da minha companhia, haviam morrido sem mim.
Logo ali, já em casa, o meu pai garantia “agora é que vais mesmo para fora. Já não voltas a essa terra de doidos. O Salazar que se f….”.
Naquele momento nem ripostei. No dia seguinte, bem cedo, autocarro, Lisboa, voltas e mais voltas na Estrela, um mundo de mortos vivos, até que encontrei o Oliveira. Não iria morrer, pareceu-me, embora me tivesse afiançado que alguém, na mata lhe apanhara intestinos.
De mais importante para lhe dizer foi a frase que tanto te tem afligido, mas na primeira pessoa, como a disse o Pessoa, mas na segunda.
“Olha, Oliveira, daquilo estás safo!”
À noite, de novo em casa, poucas falas para trocar, o meu pai seguro de que me poria na fronteira e eu remoía ainda os pequenos nadas da tragédia.
Antes da cama tudo ficou claro entre nós. Mejo iria continuar a ser a minha Pátria por mais alguns meses. A mala já estava feita. O meu pai ainda iniciou a argumentação mas calou-se com as lágrimas que me haviam rebentado de novo.
E nem precisei de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão.
Um abraço
José Brás
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Março de 2009 Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)
(**) Vd. postes de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4160: Parabéns a você (4): No dia 9 de Abril de 2009, ao camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (Editores)
e
1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)
Guiné 63/74 - P4182: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (15): O primeiro ataque ao Olossato
1. Mensagem de Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70), com mais um episódio da sua CCAÇ 2402:
O primeiro ataque ao Olossato
A descrição sintética do ataque:
A 31 de Julho de 1969, pelas 19, 30 horas, deu-se o primeiro ataque ao aquartelamento do Olossato, por um grupo inimigo não avaliado. A anterior agressão ao quartel datava de 17 de Fevereiro desse mesmo ano, quando a guarnição era feita, salvo erro, pela CCaç 2403 do nosso Batalhão.
A flagelação durou cerca de 20 minutos e o inimigo utilizou no ataque os habituais (naquela altura e naquele local) Morteiros 82 e 60, Lança Granadas Foguete, Metralhadoras Pesadas e Ligeiras, Armas automáticas e Canhão S/R, causando 3 feridos ligeiros nas nossas tropas e 2 feridos ligeiros na população.
Desta vez não houve danos materiais assinaláveis no aquartelamento e na povoação. As nossas tropas reagiram com fogo de Morteiro 81 muito certeiro, como se pôde confirmar posteriormente no reconhecimento à base de fogos do inimigo. As nossas tropas, com a colaboração do Pelotão de Milícias 286, reagiram prontamente pelo fogo e manobra, pondo o inimigo em debandada e fazendo abortar o ataque que acabou por durar pouco mais de um quarto de hora.
Uma nativa apresentada no quartel poucos dias depois, referiu que o grupo inimigo que levara a cabo o ataque era proveniente do Morés e que tivera 2 mortos e 3 feridos.
Uma estratégia do IN só identificada muitos anos depois.
O que me levou a descrever este ataque, em si bastante vulgar, prende-se essencialmente com a constatação de que o inimigo procurava atacar-nos só quando o Comandante não estava presente. A excepção à regra foi o primeiro ataque à Companhia em Có, no intuito de avaliar a têmpera dos nossos homens recém-chegados à Guiné, episódio já relatado anteriormente no blogue.
Desta vez o nosso capitão Vargas Cardoso tinha partido para Bissau no dia 25 de Julho para aguardar transporte para a metrópole em gozo de férias. Já tinham acontecido coincidências semelhantes em Có (ausências) e assim continuaria no Olossato até ao fim da comissão, conforme irei descrevendo para o blogue.
Só me apercebi desta particularidade da estratégia do inimigo a partir do ano de 2003, quando iniciei a escrita do livro “Memórias de Campanha da CCaç 2402” Volume I, exclusivamente concebido para referência dos elementos desta Companhia, seus familiares e futuras gerações. Dos meus colegas de armas, incluindo o meu Comandante de Companhia, ninguém deu por nada pelo que me apercebi ao longo dos muitos convívios que já organizámos.
Este facto teve uma vertente boa e uma vertente má. A vertente boa é que o nosso desconhecimento dessa intencionalidade do IN, permitiu-nos não viver sobre uma tensão excessiva quando o Comandante se ausentava pelas várias razões inerentes à sua posição militar ou à sua saúde. De notar que eles não atacavam todas as vezes que ele saía, atacaram sim em momentos em que ele não estava.
A vertente má é que se perdeu uma oportunidade única de virar esta estratégia do IN contra ele próprio, emboscando-o em força nesses períodos de ausência que até poderiam ser simulados.
Será que isto só aconteceu com a nossa Companhia (CCaç 2402)?
Agradecia que, quem me esteja a ler, me informasse se se passou convosco alguma coincidência tão gritante como esta da qual só muito tarde me apercebi. Desconfio sempre do excesso de coincidências e não gostava de ser considerado um caso raro numa guerra tão grande como a da Guiné. É muito possível que fosse uma estratégia pessoal do comandante do grupo IN naquela região, não forçosamente utilizada pelos combatentes de outros sectores, se bem que isto verificou-se em Có e no Olossato, dois locais de comando assumido pela nossa Companhia. Seria interessante saber através de quem por lá passou, se companhias que nos antecederam ou nos sucederam nestes locais, passaram pela mesma experiência. Isto se forem capazes de se recordar e tiverem capacidade de analisar as eventuais ausências dos Comandantes de Companhia em situações de ataques aos aquartelamentos. Talvez só os próprios se consigam lembrar de semelhante coisa, mas pronto, aqui fica o meu pedido.
Imagem do aquartelamento do Olossato em 1969
Foto e legenda: © Raul Albino (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de CV:
Vd. íltimo poste da série de 11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3870: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (14): As minas e o seu poder destruidor
O primeiro ataque ao Olossato
A descrição sintética do ataque:
A 31 de Julho de 1969, pelas 19, 30 horas, deu-se o primeiro ataque ao aquartelamento do Olossato, por um grupo inimigo não avaliado. A anterior agressão ao quartel datava de 17 de Fevereiro desse mesmo ano, quando a guarnição era feita, salvo erro, pela CCaç 2403 do nosso Batalhão.
A flagelação durou cerca de 20 minutos e o inimigo utilizou no ataque os habituais (naquela altura e naquele local) Morteiros 82 e 60, Lança Granadas Foguete, Metralhadoras Pesadas e Ligeiras, Armas automáticas e Canhão S/R, causando 3 feridos ligeiros nas nossas tropas e 2 feridos ligeiros na população.
Desta vez não houve danos materiais assinaláveis no aquartelamento e na povoação. As nossas tropas reagiram com fogo de Morteiro 81 muito certeiro, como se pôde confirmar posteriormente no reconhecimento à base de fogos do inimigo. As nossas tropas, com a colaboração do Pelotão de Milícias 286, reagiram prontamente pelo fogo e manobra, pondo o inimigo em debandada e fazendo abortar o ataque que acabou por durar pouco mais de um quarto de hora.
Uma nativa apresentada no quartel poucos dias depois, referiu que o grupo inimigo que levara a cabo o ataque era proveniente do Morés e que tivera 2 mortos e 3 feridos.
Uma estratégia do IN só identificada muitos anos depois.
O que me levou a descrever este ataque, em si bastante vulgar, prende-se essencialmente com a constatação de que o inimigo procurava atacar-nos só quando o Comandante não estava presente. A excepção à regra foi o primeiro ataque à Companhia em Có, no intuito de avaliar a têmpera dos nossos homens recém-chegados à Guiné, episódio já relatado anteriormente no blogue.
Desta vez o nosso capitão Vargas Cardoso tinha partido para Bissau no dia 25 de Julho para aguardar transporte para a metrópole em gozo de férias. Já tinham acontecido coincidências semelhantes em Có (ausências) e assim continuaria no Olossato até ao fim da comissão, conforme irei descrevendo para o blogue.
Só me apercebi desta particularidade da estratégia do inimigo a partir do ano de 2003, quando iniciei a escrita do livro “Memórias de Campanha da CCaç 2402” Volume I, exclusivamente concebido para referência dos elementos desta Companhia, seus familiares e futuras gerações. Dos meus colegas de armas, incluindo o meu Comandante de Companhia, ninguém deu por nada pelo que me apercebi ao longo dos muitos convívios que já organizámos.
Este facto teve uma vertente boa e uma vertente má. A vertente boa é que o nosso desconhecimento dessa intencionalidade do IN, permitiu-nos não viver sobre uma tensão excessiva quando o Comandante se ausentava pelas várias razões inerentes à sua posição militar ou à sua saúde. De notar que eles não atacavam todas as vezes que ele saía, atacaram sim em momentos em que ele não estava.
A vertente má é que se perdeu uma oportunidade única de virar esta estratégia do IN contra ele próprio, emboscando-o em força nesses períodos de ausência que até poderiam ser simulados.
Será que isto só aconteceu com a nossa Companhia (CCaç 2402)?
Agradecia que, quem me esteja a ler, me informasse se se passou convosco alguma coincidência tão gritante como esta da qual só muito tarde me apercebi. Desconfio sempre do excesso de coincidências e não gostava de ser considerado um caso raro numa guerra tão grande como a da Guiné. É muito possível que fosse uma estratégia pessoal do comandante do grupo IN naquela região, não forçosamente utilizada pelos combatentes de outros sectores, se bem que isto verificou-se em Có e no Olossato, dois locais de comando assumido pela nossa Companhia. Seria interessante saber através de quem por lá passou, se companhias que nos antecederam ou nos sucederam nestes locais, passaram pela mesma experiência. Isto se forem capazes de se recordar e tiverem capacidade de analisar as eventuais ausências dos Comandantes de Companhia em situações de ataques aos aquartelamentos. Talvez só os próprios se consigam lembrar de semelhante coisa, mas pronto, aqui fica o meu pedido.
Imagem do aquartelamento do Olossato em 1969
Foto e legenda: © Raul Albino (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de CV:
Vd. íltimo poste da série de 11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3870: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (14): As minas e o seu poder destruidor
Guiné 63/74 - P4181: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (8): A dar ao Ambu (Giselda Pessoa)
1. Mensagem da nossa camarada Giselda Pessoa (*), ex-Sgrt Enf Pára-quedista (BA12, Bissalanca, 1972/1974), com data de 2 de Abril de 2009:
Caro Carlos
Junto segue um texto com uma historiazinha passada comigo em 1972, envolvendo uma evacuação trabalhosa de Guidage para o Hospital de Bissau.
Um beijinho.
Giselda Pessoa
A DAR AO AMBU
A actividade que nós, enfermeiras pára-quedistas, desenvolvíamos no Teatro de Operações da Guiné, proporcionava-nos por vezes momentos de grande realização profissional. As características particulares da geografia do território em parte também ajudavam. Havia bastantes aquartelamentos a menos de 30/45 minutos de voo do Hospital de Bissau, o que significava que, desde o pedido da evacuação até à entrada do evacuado no hospital poderia decorrer, nesses casos, um período máximo de duas horas, com a forte possibilidade de a evacuação ter o apoio de uma enfermeira, o que aumentava um pouco mais as hipóteses de sobrevivência do evacuado.
Também o facto de o tempo gasto numa evacuação ser mais curto que noutros territórios aumentava a disponibilidade das enfermeiras para fazerem mais evacuações e garantia assim uma maior qualidade dos serviços prestados.
Estou convencida que, comparativamente com os outros Teatros de Operações, essas características permitiam que em igualdade da gravidade do estado dos evacuados, o ferido tivesse mais hipóteses de sobreviver no território da Guiné - possibilidade de maior apoio do pessoal de enfermagem e menor distância a percorrer até à unidade hospitalar.
Assim, viu-se muitas vezes evacuar feridos em estado desesperado que, devido ao apoio rápido recebido, conseguiam sobreviver contra todas as expectativas. Essas vitórias davam às enfermeiras uma grande motivação para prosseguir o seu trabalho.
Lembro-me de uma evacuação que fiz a Guidaje, com essas características. Estávamos em 1972 e fomos chamados para uma evacuação de um ferido militar em estado muito grave. Tratava-se de um cabo enfermeiro do Hospital Militar de Bissau que, no período de férias do enfermeiro colocado em Guidaje, o tinha ido substituir no seu serviço. Estava quase a acabar este destacamento em Guidaje quando teve que ir socorrer um milícia local, o qual tinha pisado uma mina numa zona próximo do aquartelamento, de que tinha resultado a perda de uma perna. Quando ajudava o milícia na sua deslocação para o quartel, aquele teve a infelicidade de pisar uma segunda mina, o que provocou a perda da segunda perna, bem como a amputação de uma das pernas do enfermeiro.
À nossa chegada verifiquei as dificuldades em que o cabo se encontrava, pois tinha perdido bastante sangue, os camaradas não tinham conseguido ainda pôr-lhe o soro e tinha dificuldade em respirar pois encontrava-se num estado de extrema debilidade.
Coloquei os dois feridos nas macas colocadas na traseira do DO e dediquei a minha atenção ao seu estado, enquanto voávamos para a Base. Curiosamente, o milícia encontrava-se mais estável, apesar de ter tido as duas pernas amputadas. Quanto ao cabo enfermeiro, consegui finalmente colocar-lhe o soro e dada a sua dificuldade em respirar coloquei-lhe o Ambu1, que não é mais que uma bomba manual usada para aumentar o fluxo de ar para o doente e consequentemente a sua oxigenação.
Foi um voo extremamente duro - para o doente, claro, e para mim, que tive que dar permanentemente ao Ambu, que o estado do doente assim o exigia.
Em casos graves como este, podíamos decidir pela transferência do evacuado para um AL-III, que recebia o evacuado na placa da BA12 e o transportava directamente para o hospital. Assim fizemos, transferindo o ferido para o heli e dirigindo-nos para a placa do hospital, de onde o levei directamente para o bloco operatório, onde era aguardado.
Devo dizer que durante uma ou duas semanas continuei a sentir dores nos braços , devido ao esforço feito com o Ambu durante toda a evacuação. Mas o meu trabalho continuou e eu fui esquecendo este episódio.
Poucas semanas depois, quando preparava no Hospital de Bissau a evacuação dos feridos para Lisboa, a fazer no DC-6, percorria o Serviço de Recuperação do Hospital quando subitamente ouvi atrás de mim um grito estridente:
- Devo-lhe a vida!
Recuperando do susto, dirigi-me ao doente, que me confirmou ser o cabo evacuado de Guidaje, que tanto trabalho me tinha dado. Disse-me que durante a evacuação tinha conseguido abrir os olhos durante uns momentos e, tendo-me reconhecido (ele era do Hospital de Bissau), pensou: - Ao menos morro ao pé de alguém conhecido. Mas não tinha morrido e estava até bastante melhor; e pelo grito que deu naquele dia, estou convencida que terá conseguido ultrapassar totalmente esta fase má da sua vida.
Giselda Pessoa
Ambu, que não é mais que uma bomba manual usada para aumentar o fluxo de ar para o doente e consequentemente a sua oxigenação.
Parte de Carta onde Guidage aparece mesmo no topo da imagem
Fotos: © Giselda Pessoa (2009). Direitos reservados.
2. Comentário de CV:
Ao ler e editar este texto da nossa querida amiga e camarada Giselda, pensei se ela, e os outros camaradas enfermeiros e médicos, terão a mesma percepção que nós temos, de quanto importante foram os serviços de saúde militares durante a guerra. Julgo que eles enquanto profissionais desempenhavam as suas funções sem quantificar ou qualificar a sua acção.
A Giselda como enfermeira profissional que era, aplicou em campanha os seus conhecimentos, tendo para tal de receber uma preparação extra que lhe exigiu muito esforço e adaptação ao meio hostil.
Os nossos enfermeiros infantes, quantos deles formados à pressão, foram de uma abnegação desmedida, fazendo o que sabiam e o que não sabiam para nos ajudar, sempre da maneira mais eficaz e humana. A eles ainda competia, nas horas vagas, colaborar na assistência sanitária às populações, fazendo até de médicos, quando estes não existiam.
Mais que companheiros de caminhada, os enfermeiros foram verdadeiros irmãos, expondo, muitas vezes a sua vida para ajudar os feridos, enquanto os demais estavam, como se dizia, instalados, digo eu, abrigados.
Os nossos médicos, alguns jovens licenciados, outros apanhados quando já se julgavam esquecidos, desempenharam a sua missão nos Hospitais Militares sob pressão, nos momentos mais dramáticos, debaixo das maiores carências, sem nunca desanimarem.
A todos o nosso obrigado.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, ex-Enfermeira Pára-quedista (Agosto de 1970 / Maio de 1974)
e
14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)
Vd. último poste da série de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)
Caro Carlos
Junto segue um texto com uma historiazinha passada comigo em 1972, envolvendo uma evacuação trabalhosa de Guidage para o Hospital de Bissau.
Um beijinho.
Giselda Pessoa
A DAR AO AMBU
A actividade que nós, enfermeiras pára-quedistas, desenvolvíamos no Teatro de Operações da Guiné, proporcionava-nos por vezes momentos de grande realização profissional. As características particulares da geografia do território em parte também ajudavam. Havia bastantes aquartelamentos a menos de 30/45 minutos de voo do Hospital de Bissau, o que significava que, desde o pedido da evacuação até à entrada do evacuado no hospital poderia decorrer, nesses casos, um período máximo de duas horas, com a forte possibilidade de a evacuação ter o apoio de uma enfermeira, o que aumentava um pouco mais as hipóteses de sobrevivência do evacuado.
Também o facto de o tempo gasto numa evacuação ser mais curto que noutros territórios aumentava a disponibilidade das enfermeiras para fazerem mais evacuações e garantia assim uma maior qualidade dos serviços prestados.
Estou convencida que, comparativamente com os outros Teatros de Operações, essas características permitiam que em igualdade da gravidade do estado dos evacuados, o ferido tivesse mais hipóteses de sobreviver no território da Guiné - possibilidade de maior apoio do pessoal de enfermagem e menor distância a percorrer até à unidade hospitalar.
Assim, viu-se muitas vezes evacuar feridos em estado desesperado que, devido ao apoio rápido recebido, conseguiam sobreviver contra todas as expectativas. Essas vitórias davam às enfermeiras uma grande motivação para prosseguir o seu trabalho.
Lembro-me de uma evacuação que fiz a Guidaje, com essas características. Estávamos em 1972 e fomos chamados para uma evacuação de um ferido militar em estado muito grave. Tratava-se de um cabo enfermeiro do Hospital Militar de Bissau que, no período de férias do enfermeiro colocado em Guidaje, o tinha ido substituir no seu serviço. Estava quase a acabar este destacamento em Guidaje quando teve que ir socorrer um milícia local, o qual tinha pisado uma mina numa zona próximo do aquartelamento, de que tinha resultado a perda de uma perna. Quando ajudava o milícia na sua deslocação para o quartel, aquele teve a infelicidade de pisar uma segunda mina, o que provocou a perda da segunda perna, bem como a amputação de uma das pernas do enfermeiro.
À nossa chegada verifiquei as dificuldades em que o cabo se encontrava, pois tinha perdido bastante sangue, os camaradas não tinham conseguido ainda pôr-lhe o soro e tinha dificuldade em respirar pois encontrava-se num estado de extrema debilidade.
Coloquei os dois feridos nas macas colocadas na traseira do DO e dediquei a minha atenção ao seu estado, enquanto voávamos para a Base. Curiosamente, o milícia encontrava-se mais estável, apesar de ter tido as duas pernas amputadas. Quanto ao cabo enfermeiro, consegui finalmente colocar-lhe o soro e dada a sua dificuldade em respirar coloquei-lhe o Ambu1, que não é mais que uma bomba manual usada para aumentar o fluxo de ar para o doente e consequentemente a sua oxigenação.
Foi um voo extremamente duro - para o doente, claro, e para mim, que tive que dar permanentemente ao Ambu, que o estado do doente assim o exigia.
Em casos graves como este, podíamos decidir pela transferência do evacuado para um AL-III, que recebia o evacuado na placa da BA12 e o transportava directamente para o hospital. Assim fizemos, transferindo o ferido para o heli e dirigindo-nos para a placa do hospital, de onde o levei directamente para o bloco operatório, onde era aguardado.
Devo dizer que durante uma ou duas semanas continuei a sentir dores nos braços , devido ao esforço feito com o Ambu durante toda a evacuação. Mas o meu trabalho continuou e eu fui esquecendo este episódio.
Poucas semanas depois, quando preparava no Hospital de Bissau a evacuação dos feridos para Lisboa, a fazer no DC-6, percorria o Serviço de Recuperação do Hospital quando subitamente ouvi atrás de mim um grito estridente:
- Devo-lhe a vida!
Recuperando do susto, dirigi-me ao doente, que me confirmou ser o cabo evacuado de Guidaje, que tanto trabalho me tinha dado. Disse-me que durante a evacuação tinha conseguido abrir os olhos durante uns momentos e, tendo-me reconhecido (ele era do Hospital de Bissau), pensou: - Ao menos morro ao pé de alguém conhecido. Mas não tinha morrido e estava até bastante melhor; e pelo grito que deu naquele dia, estou convencida que terá conseguido ultrapassar totalmente esta fase má da sua vida.
Giselda Pessoa
Ambu, que não é mais que uma bomba manual usada para aumentar o fluxo de ar para o doente e consequentemente a sua oxigenação.
Parte de Carta onde Guidage aparece mesmo no topo da imagem
Fotos: © Giselda Pessoa (2009). Direitos reservados.
2. Comentário de CV:
Ao ler e editar este texto da nossa querida amiga e camarada Giselda, pensei se ela, e os outros camaradas enfermeiros e médicos, terão a mesma percepção que nós temos, de quanto importante foram os serviços de saúde militares durante a guerra. Julgo que eles enquanto profissionais desempenhavam as suas funções sem quantificar ou qualificar a sua acção.
A Giselda como enfermeira profissional que era, aplicou em campanha os seus conhecimentos, tendo para tal de receber uma preparação extra que lhe exigiu muito esforço e adaptação ao meio hostil.
Os nossos enfermeiros infantes, quantos deles formados à pressão, foram de uma abnegação desmedida, fazendo o que sabiam e o que não sabiam para nos ajudar, sempre da maneira mais eficaz e humana. A eles ainda competia, nas horas vagas, colaborar na assistência sanitária às populações, fazendo até de médicos, quando estes não existiam.
Mais que companheiros de caminhada, os enfermeiros foram verdadeiros irmãos, expondo, muitas vezes a sua vida para ajudar os feridos, enquanto os demais estavam, como se dizia, instalados, digo eu, abrigados.
Os nossos médicos, alguns jovens licenciados, outros apanhados quando já se julgavam esquecidos, desempenharam a sua missão nos Hospitais Militares sob pressão, nos momentos mais dramáticos, debaixo das maiores carências, sem nunca desanimarem.
A todos o nosso obrigado.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, ex-Enfermeira Pára-quedista (Agosto de 1970 / Maio de 1974)
e
14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)
Vd. último poste da série de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)
Guiné 63/74 - P4180: Parabéns a você (5): No dia 14 de Abril de 2009, ao camarada Luís Faria (Editores)
Luís Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72
Hoje, dia 14 de Abril de 2009, está de parabéns o nosso camarada Luís Faria, a quem desejamos um dia muito feliz, na companhia dos seus familiares e amigos.
Que comemoremos colectivamente esta data, muitas e muitas vezes, é o desejo de toda a tertúlia, seu grupo de novos amigos de há algum tempo para cá.
O camarada Luís Faria, apesar de estar connosco, só, desde Outubro de 2008, tem já uma colaboração considerável no nosso Blogue, a par do seu companheiro Jorge Fontinha.
Ficam algumas fotos que consideramos dever publicar no dia de hoje e a listagem de todos os seus trabalhos publicados.
Foto 1 > Luís Faria na Parada do RI5, Caldas da Rainha, cujo Comandante era o Coronel Giacomino Mendes Ferrari
Foto 2 > Fevereiro de 1970 > Luís Faria já no Curso de Comandos, em Penude, no novo Quartel dos Comandos sob o comando do Cap Jaime Neves.
Foto 3 > A bordo do Carvalho Araújo, saída de Angra do Heroísmo, a caminho da Guiné
Foto 4 > Guiné > Marginal de Bolama
Foto 5 > Bula > Luís Faria junto à Porta de Armas
Foto 6 > Bula – rua principal – com Urbano (Fur Enf)
Foto 7 > Bula > Faria no quarto
Foto 8 > Bula > Faria junto a um baga-baga
Foto 9 > Luís Faria em Ponta Matar
Foto 10 > CCaç 2791 – 2.º GComb > Em cima: Fur Marques; Fur Castro; Alf Barros e Fur Faria
Fotos e legendas: © Luís Faria (2008). Direitos reservados
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
22 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3343: O Nosso Livro de Visitas (39): Luís Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72
31 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3388: Tabanca Grande (94): Luís Sampaio Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto (1970/72)
3 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3397: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (1): A ida, do RI5 a Bissau
19 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3480: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (2): IAO, Bolama, Outubro de 1970
24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3508: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (3): Chegada a Bula
6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3574: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria ) (4): Conhecer a realidade de Bula
11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3602: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (5): Bula - Gratidão
3 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3694: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (6): Objectivo: Choquemone, 17NOV70
3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3832: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (7): Bula - Dias de calmaria
7 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3849: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (8): Bula, vésperas do Natal de 1970
10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3867: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (9): Periquito quase depenado
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3918: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (10): Bula-Janeiro de 1971
12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4020: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (11): Bula, foguetões e confusões no abrigo
14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas, nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)
16 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4040: Quando o apreço se transforma em apresso, por causa das pressas (Luís Faria)
1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4124: Carta aberta ao sr. gen Almeida Bruno (5): Ainda o Bando do Arame (Luís Faria)
11 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4174: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (12): Bula - Um mês complicado
Vd. último poste da série "Parabéns você" de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4160: Parabéns a você (4): No dia 9 de Abril de 2009, ao camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (Editores)
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4179: Agenda Cultural (5): Exposição Testemunhos de Guerra, Museu Municipal - Paços de Ferreira, 25 de Abril a 24 de Maio de 2009
1. Mensagem de Orlando Miguel com data de 9 de Abril de 2009:
O Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, tem o prazer de convidar V.Exa. e família a estar presente na inauguração da exposição temporária "TESTEMUNHOS DE GUERRA", integrada nas comemorações do 35º aniversário do 25 de Abril de 1974, pelas 15 horas, no dia 25 de Abril de 2009 no Museu Municipal Museu do Móvel de Paços de Ferreira.
Contamos com a sua presença
Exposição “Testemunhos de Guerra”
Uma abordagem sobre a presença de Portugal em África, qualquer que seja o prisma dessa observação, é um desafio que tem tanto de aliciante como de arriscado. São inúmeras e diversificadas as fontes de informação disponíveis, são exaustivas as investigações até hoje realizadas. Mas como em qualquer facto que envolve emoções colectivas, as conclusões quanto às razões da nossa presença, à forma humana e social que a revestiu, são divergentes ou até antagónicas.
Se isto é verdade em relação aos acontecimentos distanciados no tempo, a análise do período que decorreu entre 1961 e 1974, ainda recente nas nossas memórias, reveste-se de particular sensibilidade.
Envolvendo cerca de 1.361.596 jovens, e por consequência, todos os seus familiares, afectou um imenso universo humano que, ainda hoje, se questiona sobre as razões de tantos e tão prolongados sacrifícios. O facto é que, de uma forma ou de outra, e por muito que alguns queiram recusá-lo, foram de todos os Portugueses os dias e os longos anos da Guerra Colonial.
A Guerra que Portugal travou durante 13 anos nas nossas ex-colónias – Angola, Guiné e Moçambique, e que teve como desfecho o 25 de Abril de 1974, é o tema que nos propomos tratar nesta exposição.
Este evento é dirigido não só, a todos os que tenham alguma curiosidade em conhecer mais em pormenor o que foi a Guerra do Ultramar, nomeadamente os mais jovens, assim como àqueles que tiveram um papel activo no desenrolar deste acontecimento – os ex-combatentes, permitindo-lhes rever em fotografias alguns locais onde viveram durante a sua permanência em África.
A exposição está dividida em diversos momentos que nos retratam os mais variados aspectos da Guerra, através de uma forte componente fotográfica, apoiada igualmente por armamento e equipamentos militares.
A exposição inicia-se com um painel dedicado aos Antecedentes, onde deparamos com fotos panorâmicas das mais significativas cidades das antigas colónias. A par dessas urbes encontramos imagens em que nos surgem obras públicas de significativa dimensão. A partida das nossas tropas, as condições da viagem e os seus meios de combate perpassam noutras tantas fotos. Num segundo momento da exposição denominado As tropas, seus meios, podemos ver a chegada e o desfile das nossas tropas nas capitais das colónias, bem como a euforia e contentamento da população. Imagens há que nos revelam os meios logísticos utilizados pelos nossos militares ao longo destes 13 anos de Guerra.
O painel A Acção Social, reporta-se à cooperação dos militares com as populações autóctones, com destaque para as relações entre os soldados e as crianças, no âmbito da actividade do psicossocial, constituindo um dado relevante. As iniciativas de carácter social promovidas pelos nossos militares, traduziram-se em contribuições extremamente valiosas nos domínios da acção educativa, económica, sanitária e médica.
Num outro momento da exposição denominado O Inimigo temos a possibilidade de compreender a ideologia e os objectivos dos diferentes líderes e movimentos de libertação existentes em Angola, Moçambique e Guiné. Apresenta-se-nos um conjunto de fotografias da vivência da guerrilha africana, bem como de armamento apreendido pelas nossas tropas. Expostas em vitrines, estão algumas das principais armas usadas pelos guerrilheiros.
Em Os Aquartelamentos, emerge através das fotos o quotidiano da vida dos combatentes, as suas instalações, o seu viver diário, os seus tempos livres, as suas expectativas e os seus trabalhos no decurso de ansiedades e incertezas.
De grande riqueza fotográfica se apresenta o painel Os Combates, com fotografias de situações de combate, de ataques e emboscadas. Imagens dos corpos especiais de combate, com destaque para os Comandos, os Pára-quedistas e os Fuzileiros, têm também lugar nesta exposição. Em exposição podemos observar algumas das principais armas usadas pelas tropas portuguesas neste conflito.
A exposição termina com um sector dedicado Às Consequências desta Guerra, onde se podem apreciar alguns dos tipos de condecorações existentes, como o Colar de Torre e Espada, a Medalha de Valor Militar, a de Cruz de Guerra e a das Campanhas de África.
Também nesta zona da exposição, há lugar para a referência às consequências físicas e psíquicas da Guerra:
Os deficientes e a sua Associação (ADFA);
A listagem dos militares que faleceram: 9.749 mortos;
O 25 de Abril de 1974;
As datas da independência das colónias.
No seu conjunto a exposição “Testemunhos de Guerra” representa com critério uma visão global das fases que marcaram um período recente da história de Portugal.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4093: Agenda Cultural (5): Poetas da guerra colonial em conferência internacional, Coimbra, CES/UC, 30/3/2009 (Cristina Néry)
O Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, tem o prazer de convidar V.Exa. e família a estar presente na inauguração da exposição temporária "TESTEMUNHOS DE GUERRA", integrada nas comemorações do 35º aniversário do 25 de Abril de 1974, pelas 15 horas, no dia 25 de Abril de 2009 no Museu Municipal Museu do Móvel de Paços de Ferreira.
Contamos com a sua presença
Exposição “Testemunhos de Guerra”
Uma abordagem sobre a presença de Portugal em África, qualquer que seja o prisma dessa observação, é um desafio que tem tanto de aliciante como de arriscado. São inúmeras e diversificadas as fontes de informação disponíveis, são exaustivas as investigações até hoje realizadas. Mas como em qualquer facto que envolve emoções colectivas, as conclusões quanto às razões da nossa presença, à forma humana e social que a revestiu, são divergentes ou até antagónicas.
Se isto é verdade em relação aos acontecimentos distanciados no tempo, a análise do período que decorreu entre 1961 e 1974, ainda recente nas nossas memórias, reveste-se de particular sensibilidade.
Envolvendo cerca de 1.361.596 jovens, e por consequência, todos os seus familiares, afectou um imenso universo humano que, ainda hoje, se questiona sobre as razões de tantos e tão prolongados sacrifícios. O facto é que, de uma forma ou de outra, e por muito que alguns queiram recusá-lo, foram de todos os Portugueses os dias e os longos anos da Guerra Colonial.
A Guerra que Portugal travou durante 13 anos nas nossas ex-colónias – Angola, Guiné e Moçambique, e que teve como desfecho o 25 de Abril de 1974, é o tema que nos propomos tratar nesta exposição.
Este evento é dirigido não só, a todos os que tenham alguma curiosidade em conhecer mais em pormenor o que foi a Guerra do Ultramar, nomeadamente os mais jovens, assim como àqueles que tiveram um papel activo no desenrolar deste acontecimento – os ex-combatentes, permitindo-lhes rever em fotografias alguns locais onde viveram durante a sua permanência em África.
A exposição está dividida em diversos momentos que nos retratam os mais variados aspectos da Guerra, através de uma forte componente fotográfica, apoiada igualmente por armamento e equipamentos militares.
A exposição inicia-se com um painel dedicado aos Antecedentes, onde deparamos com fotos panorâmicas das mais significativas cidades das antigas colónias. A par dessas urbes encontramos imagens em que nos surgem obras públicas de significativa dimensão. A partida das nossas tropas, as condições da viagem e os seus meios de combate perpassam noutras tantas fotos. Num segundo momento da exposição denominado As tropas, seus meios, podemos ver a chegada e o desfile das nossas tropas nas capitais das colónias, bem como a euforia e contentamento da população. Imagens há que nos revelam os meios logísticos utilizados pelos nossos militares ao longo destes 13 anos de Guerra.
O painel A Acção Social, reporta-se à cooperação dos militares com as populações autóctones, com destaque para as relações entre os soldados e as crianças, no âmbito da actividade do psicossocial, constituindo um dado relevante. As iniciativas de carácter social promovidas pelos nossos militares, traduziram-se em contribuições extremamente valiosas nos domínios da acção educativa, económica, sanitária e médica.
Num outro momento da exposição denominado O Inimigo temos a possibilidade de compreender a ideologia e os objectivos dos diferentes líderes e movimentos de libertação existentes em Angola, Moçambique e Guiné. Apresenta-se-nos um conjunto de fotografias da vivência da guerrilha africana, bem como de armamento apreendido pelas nossas tropas. Expostas em vitrines, estão algumas das principais armas usadas pelos guerrilheiros.
Em Os Aquartelamentos, emerge através das fotos o quotidiano da vida dos combatentes, as suas instalações, o seu viver diário, os seus tempos livres, as suas expectativas e os seus trabalhos no decurso de ansiedades e incertezas.
De grande riqueza fotográfica se apresenta o painel Os Combates, com fotografias de situações de combate, de ataques e emboscadas. Imagens dos corpos especiais de combate, com destaque para os Comandos, os Pára-quedistas e os Fuzileiros, têm também lugar nesta exposição. Em exposição podemos observar algumas das principais armas usadas pelas tropas portuguesas neste conflito.
A exposição termina com um sector dedicado Às Consequências desta Guerra, onde se podem apreciar alguns dos tipos de condecorações existentes, como o Colar de Torre e Espada, a Medalha de Valor Militar, a de Cruz de Guerra e a das Campanhas de África.
Também nesta zona da exposição, há lugar para a referência às consequências físicas e psíquicas da Guerra:
Os deficientes e a sua Associação (ADFA);
A listagem dos militares que faleceram: 9.749 mortos;
O 25 de Abril de 1974;
As datas da independência das colónias.
No seu conjunto a exposição “Testemunhos de Guerra” representa com critério uma visão global das fases que marcaram um período recente da história de Portugal.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4093: Agenda Cultural (5): Poetas da guerra colonial em conferência internacional, Coimbra, CES/UC, 30/3/2009 (Cristina Néry)
Guiné 63/74 - P4178: As grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (3): Operação "Gavião"
1. Mensagem do nosso camarada Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, com data de 11 de Abril de 2009:
Um abraço, amigo:
Carlos Vinhal:
Envio em anexo mais texto (III) sobre a série que iniciei sobre as GRANDES OPERAÇÔES da CART 2339 / Mansambo.
Estes textos, que enviarei todos os meses, publicarás se entenderes.
BOA PÁSCOA.
Carlos e Teresa
OPERAÇÃO GAVIÃO
04/18.00h/Abril 1968
Com a duração de 3 dias e com a finalidade de executar uma acção ofensiva na mata de BELEL, iniciada com um Golpe de Mão ao acampamento de ENXALÉ.
Tomaram parte na OP:
Cmdt - 2.º Cmdt do BART 1904
Dest A – Cart 2338 a 4 GComb
Pel Caç Nat 52
Dest B – Cart 2339 a 4 GComb
Pel Caç Nat 53
Desenrolar da acção:
A Cart 2339 iniciou o seu movimento em meios auto, em 05.1500h de FÁ para o XIME, onde agregou o Pel Caç Nat 53. Iniciou logo de seguida a cambança do Geba, pelas 1800h, recebeu no ENXALÉ 2 guias e iniciou a marcha pelo itinerário estabelecido.
Atingiu o local previsto a Norte de MADINA onde se devia instalar em 06.0700h, após algumas hesitações dos Guias (era quase sempre assim…).
Cerca das 0900h o PCV informou que o Dest A tinha já destruído a Tabanca de BELEL e ordenou que se iniciasse a batida à zona Sul do trilho Madina-Belel.
Durante o deslocamento foi detectado o acampamento do ENXALÉ, que foi atacado e destruído, verificando-se que tinha sido abandonado pouco antes.
O objectivo tinha 8 palhotas e capturámos 1 Mauser, 2 marmitas, 1 granada de LRocket e documentos.
Entretanto os elementos do Dest instalados enquanto se procedia ao assalto, foram atacados fortemente, por abelhas. EU QUE O DIGA. DESESPERO ABSOLUTO.
Este ataque, não previsto, desorganizou a nossa acção e pôs 2 nossos homens em estado grave.
Depois de uma certa demora, reiniciou-se o regresso, tendo as NT sofrido, ainda, mais 3 flagelações, sem consequências para nós, tendo o IN sofrido 5 mortos confirmados.
Já na picada FINETE – ENXALÉ as NT sofreram mais 2 ataques de abelhas, provocando o desmaio de alguns elementos, que tiveram de ser transportados às costas.
Continuando a progressão atingiu-se S. BELCHIOR, onde fomos recolhidos em viaturas, chegando ao ENXALÉ às 18.00h.
De imediato iniciámos a travessia do rio e chegámos a FÁ às 03.00h do dia 07/04/68.
Conferido o material, à chegada, faltavam 2 G3, alguns cantis e bornais.
Comunicadas as faltas, voltámos no dia seguinte, à zona do último ataque de abelhas (foram 3 e… quem não se lembra destes ataques ?).
Recuperámos parte do material.
Regressámos a FÁ às 20.00h de 08/04/68
Note-se que logo a seguir a 10/04 montámos emboscadas e vigilância no MATO de CÃO e em 21 iniciámos a ocupação e construção de MANSAMBO (casernas-abrigo de um novo aquartelamento).
A 22 o meu GComb foi destacado para o GEBA em reforço.
Um abraço,
Notas pessoais:
Um elemento do Pel Caç Nat 53 é abatido numa das 5 emboscadas sofridas e ainda por cima com abelhas. Um homem da 2338 desapareceu no mato, mas felizmente apareceu, mais tarde, no Enxalé.
CMSantos
Mansambo 1968/69
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3927: As Grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (2): Op: "Grão Mongol", "Firmes e Singulares" e "Sempre Firmes"
Um abraço, amigo:
Carlos Vinhal:
Envio em anexo mais texto (III) sobre a série que iniciei sobre as GRANDES OPERAÇÔES da CART 2339 / Mansambo.
Estes textos, que enviarei todos os meses, publicarás se entenderes.
BOA PÁSCOA.
Carlos e Teresa
OPERAÇÃO GAVIÃO
04/18.00h/Abril 1968
Com a duração de 3 dias e com a finalidade de executar uma acção ofensiva na mata de BELEL, iniciada com um Golpe de Mão ao acampamento de ENXALÉ.
Tomaram parte na OP:
Cmdt - 2.º Cmdt do BART 1904
Dest A – Cart 2338 a 4 GComb
Pel Caç Nat 52
Dest B – Cart 2339 a 4 GComb
Pel Caç Nat 53
Desenrolar da acção:
A Cart 2339 iniciou o seu movimento em meios auto, em 05.1500h de FÁ para o XIME, onde agregou o Pel Caç Nat 53. Iniciou logo de seguida a cambança do Geba, pelas 1800h, recebeu no ENXALÉ 2 guias e iniciou a marcha pelo itinerário estabelecido.
Atingiu o local previsto a Norte de MADINA onde se devia instalar em 06.0700h, após algumas hesitações dos Guias (era quase sempre assim…).
Cerca das 0900h o PCV informou que o Dest A tinha já destruído a Tabanca de BELEL e ordenou que se iniciasse a batida à zona Sul do trilho Madina-Belel.
Durante o deslocamento foi detectado o acampamento do ENXALÉ, que foi atacado e destruído, verificando-se que tinha sido abandonado pouco antes.
O objectivo tinha 8 palhotas e capturámos 1 Mauser, 2 marmitas, 1 granada de LRocket e documentos.
Entretanto os elementos do Dest instalados enquanto se procedia ao assalto, foram atacados fortemente, por abelhas. EU QUE O DIGA. DESESPERO ABSOLUTO.
Este ataque, não previsto, desorganizou a nossa acção e pôs 2 nossos homens em estado grave.
Depois de uma certa demora, reiniciou-se o regresso, tendo as NT sofrido, ainda, mais 3 flagelações, sem consequências para nós, tendo o IN sofrido 5 mortos confirmados.
Já na picada FINETE – ENXALÉ as NT sofreram mais 2 ataques de abelhas, provocando o desmaio de alguns elementos, que tiveram de ser transportados às costas.
Continuando a progressão atingiu-se S. BELCHIOR, onde fomos recolhidos em viaturas, chegando ao ENXALÉ às 18.00h.
De imediato iniciámos a travessia do rio e chegámos a FÁ às 03.00h do dia 07/04/68.
Conferido o material, à chegada, faltavam 2 G3, alguns cantis e bornais.
Comunicadas as faltas, voltámos no dia seguinte, à zona do último ataque de abelhas (foram 3 e… quem não se lembra destes ataques ?).
Recuperámos parte do material.
Regressámos a FÁ às 20.00h de 08/04/68
Note-se que logo a seguir a 10/04 montámos emboscadas e vigilância no MATO de CÃO e em 21 iniciámos a ocupação e construção de MANSAMBO (casernas-abrigo de um novo aquartelamento).
A 22 o meu GComb foi destacado para o GEBA em reforço.
Um abraço,
Notas pessoais:
Um elemento do Pel Caç Nat 53 é abatido numa das 5 emboscadas sofridas e ainda por cima com abelhas. Um homem da 2338 desapareceu no mato, mas felizmente apareceu, mais tarde, no Enxalé.
CMSantos
Mansambo 1968/69
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3927: As Grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (2): Op: "Grão Mongol", "Firmes e Singulares" e "Sempre Firmes"
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