sexta-feira, 5 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25719: Notas de leitura (1706): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1865 e 1868) (10) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Começo a encontrar uma certa animação nos conteúdos do Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde e da Costa de Guiné, apesar da escandalosa desproporção informativa entre o arquipélago cabo-verdiano e os Estabelecimentos de Cacheu e Bissau. Um dado curioso é aparecerem agora pontos de situação mensais que o Governador da Guiné envia para a cidade da Praia. Vamos ficar a saber que há reparações na Fortaleza de S. José da Amura, que estava em construção um forte em S. Belchior, a Guiné contribuiu com alguns espécimes para o Museu de História Natural, que se velavam pelos direitos dos escravos e libertos. E pela primeira vez, quanto ao século XIX, temos informação de uma solene procissão que percorreu as ruas da vila de Bissau e onde viviam os Grumetes; e as doenças mais abundantes eram as úlceras e a sífilis.

Um abraço do
Mário



Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde, de 1865 a 1868) (10)


Mário Beja Santos

O silenciamento do que se passa na Costa da Guiné é raramente interrompido por notícias que podem ter a ver com reparações na Fortaleza de S. José de Bissau, a construção de um quartel no Forte de S. Belchior, assistimos ao aparecimento de informações sobre o estado sanitário em Bissau e Cacheu, há informações da vida missionária e quando chegarmos a 1867 ganha uma certa regularidade o envio de informações do Concelho da Guiné Portuguesa para a cidade da Praia. São anos de calamidade sanitária, há problemas com os escravos libertos, etc. Vejamos alguns pontos do que se encontrou no Boletim Official no período em apreço.

No n.º 28 de 15 de julho de 1865 temos duas Portarias, a 195 e 196 em que o Governador Geral, pelo facto de ter sido enviado pelo Governador da Guiné do orçamento provável que tem de fazer-se do concerto de 21 plataformas e 6 eixos, reparos alusivos à Fortaleza de S. José de Bissau, isto na importância de 39$600, aprova o orçamento e manda executar o dito concerto; na outra Portaria, é-lhe enviado o orçamento de despesa provável que tem de fazer-se com a construção de um quartel para alojamento do destacamento estacionado no Forte de S. Belchior, a importância estimada era de 788$072 réis, o Governador Geral aprovou. Mais adiante, no Boletim n.º 38, de 23 de setembro, o mesmo Governador Geral aprovou o orçamento para a construção do portão na Fortaleza da Praça de S. José de Bissau, na importância de 36 mil e 740 réis.

Um ponto curioso é a alvorada de informações sobre questões de saúde, como se pode ver no Boletim n.º 10, de 10 de março de 1866:
“O Dr. Agostinho José Ramos de Carvalho, Físico-Mor, Director do Serviço de Saúde da Província enviou para a cidade da Praia de Santiago a seguinte informação.
Tenho uma honra de enviar a V. S.ª para serem presentes a Sua Excelência o Sr. Conselheiro Governador Geral os inclusos mapas do movimento e mortalidade dos hospitais militar e civil desta cidade, no mês de fevereiro findo. Informando do estado sanitário da província, tenho a dizer que tem ele melhorado; havendo diminuído os casos de infeções de vias respiratórias, nevralgias e reumatismos; e que a epidemia de tosse convulsa vai em sucessivo declínio. O movimento e mortalidade dos doentes nos hospitais desta cidade foi também menor, como se pode conferir nos respetivos mapas. Pelas notícias ultimamente recebidas da Guiné, sabe-se que o estado sanitário de Bissau é o normal do atual quadro; e não me consta, outro sim, que ele se tenha alterado nas diferentes ilhas do arquipélago.”

Na sequência, no Boletim n.º 17 de 28 de abril, vamos ficar a saber da transferência de um farmacêutico para a Guiné: constando a Sua Majestade El-Rei que o Farmacêutico da Província de Cabo Verde, Manuel Joaquim Leyguarda Pimenta, se prontifica a ir à Guiné fazer coleções de História Natural, manda o mesmo Augusto Senhor autorizar o Governador Geral da dita província a levar o referido farmacêutico em sua companhia, quando realizar a sua visita à Guiné, se ele não fizer falta ao serviço; devendo a despesa com a preparação das coleções ser abonada pela verba de 270 mil réis, e ordena Sua Majestade que os objetos coligidos sejam remetidos nos paquetes da carreira de África para o Museu de Lisboa. Este caso da ida do farmacêutico à Guiné tinha a ver com os preparativos da participação portuguesa na Exposição Anual de Paris a decorrer entre abril de 1867.

No Boletim n.º 48, de 1 de dezembro, o Governador Geral nomeou José Caetano Nozolini Patrão-Mor da vila de S. José de Bissau. No Boletim n.º 50, de 15 de dezembro desse ano de 1866, depara-se-nos uma preocupação com os escravos libertos. É o constante da Portaria 249 em que se nomeia como secretário da Junta Protetora dos Escravos e Libertos Eduardo José Rodrigues. Atendamos a uma determinação do Governador Geral constante da Portaria 251 da mesma data:
“Sendo certo que muitos senhores de escravos do arquipélago pretendem gozar de direitos dominicais, sem cumprir as obrigações correspondentes a esses direitos, como é além de alimentar, vestir e ensinar os seus escravos; constando oficialmente que na ilha do Fogo existem indivíduos sujeitos à escravidão, considerados em parte livres e em parte escravos; tendo sido ordenado pelo governo de Sua Majestade que o Governador Geral da Província empregue todos os esforços possíveis para impedir quaisquer atos de crime de tráfico de escravos, podendo considerar-se tais todos os que tendem a estabelecer ilegalmente direitos dominicais tolerados…” e tomam-se providências para a proteção e amparo aos escravos e libertos, e atenda-se ao que determina o Governador Geral:
“Quanto aos escravos que tendo pertencido ao mesmo tempo a mais de um senhor, for, ou tiver sido, por qualquer deles libertado de qualquer forma que seja, entender-se-á que são de condições livre para todos os efeitos legais, por isso não se pode admitir escravidão parcial em um indivíduo; e o agente do Ministério Público procederá contra o detentor de tais indivíduos como criminoso de sujeitar a cativeiro pessoas livres.” E chegámos ao ano de 1967, temos aqui a primeira referência à atividade religiosa no Boletim n.º 23, de 8 de junho, quem assina é o Visconde da Praia Grande:
“Atendendo ao que me representou o presbítero Joaquim Vicente Moniz, e às qualidades que nele concorrem: hei por bem nomeá-lo professor da cadeira de instrução primária de 2.ª Classe estabelecida em Bissau.” E pela Portaria n.º 144 do Governador Geral apresentara-se o referido presbítero como professor da freguesia de Nossa Senhora da Candelária em Bissau e em simultâneo é exonerado o presbítero Marcelino Marques Barros (como é sabido, um dos grandes vultos culturais guineenses, provavelmente o mais importante do século XIX).

No Boletim n.º 38, de 21 de setembro, surge uma novidade, informação sobre o estado do Concelho da Guiné Portuguesa, refere-se ao mês de junho de 1877 e vem assinada por Manuel Fortunato Meira, Capitão Governador Interino. Diz ele que o estado sanitário é bom, que o estado alimentício era bom em Bissau e sofrível em Cacheu; o comércio mostrava-se animado, tinham entrado em Bissau três navios com mercadorias e em Cacheu quatro, tendo saído com produções, de Bissau cinco e de Cacheu um; o rendimento da alfândega fora de 1.481$871 réis em Bissau e de 681$348 réis em Cacheu; os vencimentos dos funcionários públicos achavam-se pagos até ao fim de junho; havia plantações de batata, purga e outros artigos, continuavam as sementeiras de mancarra, arroz, milho e outros grãos. Não era tempo próprio para as colheitas, pouco havia a dizer sobre as indústrias, fazia-se algum tijolo em Cacheu e teceram-se alguns panos próprios do país para uso dos seus habitantes. Falando das obras públicas e municipais, dá notícia de que se fizeram reparações na tabanca do Pidjiquiti, fora efetuada a limpeza geral em todo o arruamento e lugares públicos de Bissau. E havia um dado quanto a ocorrências extraordinárias: fizera-se a paz em Cacheu com o gentio de Churo. E também os Balantas de Banra tinham entregado o falucho (pequena embarcação) que haviam tomado. No mês seguinte, e na sua informação, o mesmo Manuel Fortunato Meira põe acento nas ocorrências extraordinárias, dizendo que no dia 30 fora apreendido pelo tenente Meireles, comandante do Forte de S. Belchior, uma escuna com o contrabando de 10 pipas de aguardente e algumas arrobas de açúcar, tinha-se instaurado um competente processo. O pároco de Bissau, o reverendo Cónego Joaquim Vicente Moniz fez uma solene procissão com os santos vindos ultimamente de Lisboa para a igreja paroquial, à qual concorreu grande número de pessoas de todas as classes, tendo percorrido as ruas da vila e dos Grumetes (extramuros); e mais informava que em todos os pontos do distrito reinava o mais completo sossego.

E, para concluir, também se informa o Governador Geral na cidade da Praia que as moléstias que mais abundam nos hospitais da Guiné (civil e militar) são as úlceras e a sífilis, esta devido à pouca morigeração e aquelas às consequências das faltas cometidas porque este povo passou nos anos de 1864 e 1865.
Os Suplementos do Boletim Official também serviam para informar sobre casamentos, passamentos e nascimentos. Em 31 de julho de 1865, Sua Majestade a rainha D. Maria Pia deu à luz com feliz sucesso um infante, haja alegria, fica decretado a suspensão de serviço nos tribunais e repartições públicas pelo espaço de quatro dias, na igreja matriz da Praia haverá Te Deum, luminárias, repiques de sinos, salvas de artilharia, música do batalhão a percorrer as diferentes ruas da Praia.
O rei D. Fernando II demonstrara-se ativíssimo no mecenato cultural, impulsionara as obras do Palácio da Pena, a proteção do Castelo dos Mouros de Sintra e deve-se-lhe um grande apoio ao Museu de Belas Artes onde hoje está implantado o Museu Nacional de Arte Antiga. O seu filho, D. Luís I era melómano, tocava violoncelo, dedicou-se à marinhagem e apoiou inúmeros projetos de História Natural, incluindo aqueles que representavam a participação portuguesa em exposições universais. Bissau enviou o manguço e vieram conchas do Corubal
Uma rua de Bissau, cerca de 1912, por Philippe Garès, Paris, ainda se vê do lado esquerdo um resto da muralha que será em breve completamente destruída
Carta da Guiné Portuguesa, século XIX, Arquivo Histórico-Ultramarino
Igreja de Geba, 1967

(continua)

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Notas do editor:

Post anterior de 28 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25696: Notas de leitura (1704): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1864 e 1865) (9) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 1 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25705: Notas de leitura (1705): Recordações da guerra civil de Bissau, pelo então Vigário-Geral da Diocese, Padre João Dias Vicente (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00


Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 48.º Convívio > 19 de maio de 2022 >  A Elisabete Silva (1945-2024)... De seu nome completo, Maria Elisabete Trindade Vicente Figueira da Silva, Berta ou Bertinha para os familiares e amigos.

Foto: © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 

1. A morte é veloz a chegar e a fazer-se anunciar ... Ontem à tarde, às 14:18, o Zé Teixeira, "régulo" da Tabanca de Matosinhos,  mandou-me a telegráfica, dolorosa,  mensagem: "A Elisabete Silva faleceu ontem à tarde. Paz à sua alma".

Só li, estupefacto, a notícia quando me ia deitar, por volta das 22 e tal. E hoje levantei-me cedo, às quatro e tal, para redigir mais este doloroso "In Memoriam"  (*)

A última vez que estive (eu e a Alice) com a Elisabete fora no funeral do marido, há quase ano e meio (**). Tinha sid ela, quem pessoalmente,  nos  telefonou, serena, a comunicar o  desenlace fatal da luta do nosso Francisco contra a doença que o vitimou. 

E no velório, em Porto Salvo, onde o casal vivia, a Elisabete confidenciou-nos que iria refugiar-se na sua casa, no Alentejo.O casal tinha dois filhos (o Francisco e a Cláudia Silva, esta, médica, a viver e a trabalhar em Santiago do Cacém) e três netos.

Nunca mais voltámos a estar com a Elisabete (e com os filhos). Há algumas semanas, pelo nosso amigo comum Zé Teixeira, tinha sabido que estava de novo doente, desta vez com problemas do foro cardíaco. 

Depois da pandemia, o casal tinha aparecido na Tabanca da Linha, em 19 de maio de 2022. E eu escrevi, sobre a foto que acima reproduzo: 

(...) "Caras lindas que não se viam por aqui há mais de 2 anos: primeiro veio a pandemia, depois vieram as mazelas do corpo e da alma... A nossa Eisabete Silva, por exemplo, quem diz que em 2013 andava pelos matos e bolanhas da Guiné-Bissau, toda fresca, com o marido, o nosso dr. Francisco Silva, cirurgião ortopedista, e que depois passou por um grave problema de saúde, felizmente já superado ?!... Está de volta aos convívios da Tabanca da Linha e com ótima cara... Que bom, ver-te, Elisabete!" (**)

E depois acrescentava que sabia que ela tinha trabalhado  na Petrogal desde os seus 20 aninhos, tendo tido como colegas  o António Levezinho (o nosso querido "Tony", da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), a Isabel Levezinho (1953-2020), o João Rebelo, o Fernando Calado... (E por certo o Joaquim Pinto Carvalho de que ela não se lembrava bem.)

À hora a que estamos a elaborar esta triste notícia para o blogue, ainda não pudemos contactar a dra. Cláudia Silva sobre as cerimónias fúnebres, mas sabemos, pelo Zé Teixeira, grande amigo do casal (ele e o Francisco e as esposas fizeram uma memorável viagem de saudade à Guiné Bissau em 2013) (***), que o corpo, em câmara ardente na igreja de Porto Salvo, Oeiras, deverá seguir, às 16h00, para o tanatório mais próximo, o de Barcarena, presumimos.

Aos filhos, Francisco e Cláudia, aos netos e demais família, e aos amigos mais íntimas, a Tabanca Grande expressa a sua solidariedade na dor.  Espero, eu e Alice, poder transmitir-lhes pessoalmente, mais logo, as nossas condolências e irmos dizer-lhe o último adeus. 

O Francisco Silva, além de meu amigo e camarada, foi meu médico. E a Elisabete foi ao longo  destes anos todos uma presença luminosa nos nossos convívios, razão adicional por que ela merece "honras de Tabanca Grande": não só  frequentava os convívios da Magnífica Tabanca da Linha (tal como, algumas vezes, os da Tabanca de Matosinhos) como esteve 7 (sete!) vezes no Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (o Francisco esteve em 10).  

Até sempre, querida Elisabete e querido Francisco! (LG)


PS - Funeral hoje, sexta feira, dia 5 de julho,  às 16 horas, na igreja de Porto Salvo, Oeiras. 


2. Mensagem deixada hoje,às 00:02, na página do Facebook da Tabanca de Matosinhos:


A TABANCA DE MATOSINHOS ESTÁ DE LUTO

No dia 29 de Janeiro de 2023 faleceu o camarada da Guiné e nosso amigo Francisco Justino Silva. (médico)

Agora foi a vez da esposa, Elizabeth Vicente Silva.

Moravam em Lisboa, mas vieram muitas vezes à nossa Tabanca de Matosinhos  para conviverem. Eram daquelas pessoas que toda a gente gostava de ter como amigos, pela sua simplicidade, pela alegria, e pelo carinho que nos dedicavam

A Elisabeth faleceu ontem, 3-07-2024 e o funeral será amanhã dia 5 de Julho na Igreja de Porto Salvo (Oeiras) às 16 horas.

Sentidas condolências a toda a família, dois amigos que partiram.

Aos filhos, Francisco e Claudia os nossos mais profundos sentimentos de pesar.

Até sempre, amiga Elizabeth


A. Marques Lopes (1944-2024).
Foto de LG (2015):
(i) foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/68)
e CCAÇ 3 (Barro, 1968/69): (ii) cor inf ref DAF;
(iii) natural de Lisboa, vivia em Matosinhos;
 (iv) autor de um dos mais notáveis livros autobiográficos
sobre a nossa geração, "Cabra Cega" (Lisboa, 2015),
editado também no Brasil.





3. À mesma hora da noite, ou com um intervalo de minutos,  soube, também pelo Zé Teixeira,  outra terrível notícia, a morte do nosso camarada A. Marques Lopes, cor inf ref, DAF... 

Estava há uns dias nos cuidados intensivos... Lutou galhardamente contra uma doença de evolução prolongada... Tinha comletado os 80 anos, no passado dia 10 de março. Vamos dedicar-lhe a seguir um especial "In Memoriam": era um histórico da nossa Tabanca Grande  
(um dos primeiros a entrar, em 10/5/2005) e da Tabanca de Matosinhos, de que cofundador 
e um dos "régulos".

Tem mais de 270 referências
no nosso blogue. Para esposa, Gena,
e aos filhos e netos, e para os nossos
camaradas da Tabanca de Matosinhos,ficam aqui publicamente  expressas as condolências da Tabanca Grande.


A TABANCA DE MATOSINHOS ESTÁ DE LUTO.

O António Marques Lopes, querido amigo 
e camarada da primeira hora da nossa 
Tabanca, partiu hoje para o eterno aquartelamento,  depois de um longo sofrimento.

A sua grande vontade de viver fez com que  
travasse por longo tempo uma luta de vida.
A sua esperança de recuperar era enorme. Dava gosto ouvir as suas palavras de esperança. Estava sempre bem e sobretudo bem-disposto. "Estou aqui para a luta", dizia-me ele há dias.

Desta vez a doença foi mais forte...

Descansa em paz, António.

À esposa, Geninha,  e aos filhos, em nome de todos os camaradas da Tabanca de Matosinhos, quero expressar os mais profundos sentimentos de pesar.

PS - Por vontade expressa do nosso camarada, não haverá velório. O último adeus será amanhã, dia 6, sábado, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos.



Capa do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes) (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp. ISBN: 978-989-51-3510-3, Colecção: Bíos, Género: Biografia).

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Notas do editor LG:


(***) Vd. poste de 30 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24024: In Memoriam (468): Recordar Francisco Silva (1948-2023) - Viagem de saudade à Guiné-Bissau em 2008 (José Teixeira)

Guiné 61/74 - P25717: Casos: a verdade sobre... (44): fogo IN ou "fogo amigo" a causa das 7 mortes civis em 1/12/1973, no Xime ? A hipótese de ter sido a artilharia de Gampará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, tem de ser descartada


Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O soldado cozinheiro Joviano Teixeira junto  ao obus 10.5 cm (29º Peçl Art)

Foto (e legenda): © Joviano Teixeira (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O fur mil at inf Joaquim Martins junto ao obus 10.5 cm (29º Pel Art)

Foto (e legenda): © Joaquim Martins (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Excerto da História da Unidade: BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (*)


1. Estas duas fotos, reproduzidas  acima,  são  fundamentais (embora não saibamos a data precisa em que foram tiradas...) para deitar por terra a suspeita que chegou a recair sobre Gampará (ou, melhor, Ganjauará, na pensínsula de Gampará) e o seu pelotão de artilharia, o  29º Pel Art, ao tempo da CCAÇ 4142/72... Suspeita de terem provocado vítimas, no Xime, num hipotético caso de "fogo amigo" (**) ...

Em 1 de dezembro de 1973, uma família inteira,  mandinga, de 7 pessoas, vizinha do nosso "menino do Xime", o agora eng silv José Carlos Mussá Biai (há muito a viver e a trabalhar em Portugal),  morreu na explosão de uma granada de arma pesada, na tabanca do Xime (***)... (Nâo se sabe se foi de foguetão 122 mm, morteiro, canhão s/r, do IN ou de obus, das NT).

A pergunta continua a ser legítima: ataque ou flagelação IN  com foguetões de 122 mm e outras outras pesadas ? Ou "fogo amigo" da nossa artilharia, na resposta ao IN ? ... 

Infelizmente já não está entre nós o Sucena Rodrigues (1951-2018), ex-fur mil da CCAÇ 12, que estava no Xime nessa noite de 1 de dezembro de 1973. Num poste que ele aqui publicou (**), parece deduzir-se que estaria mais inclinado para  a hipótese de  ter sido "fogo amigo", neste caso provoado pelo  obus de Gampará, do outro lado do rio Corubal... 

Em vida, nunca chegámos a esclarecer as suas suspeitas, nem mesmo em conversa "off record".

Em princípio as duas fotos que publicamos acima vêm descartar a essa possibilidade, a  de ter sido "fogo amigo", uma  granada de um obus 14, disparada do outro lado do rio Corubal,  ...A unidade de quadrícula do Xime era então a CCAÇ 12. (Em março de 1973, a CART 3494, que estva no Xime,  fora transferida para Mansambo.)

Só o obus 14 tinha alcance para atingir o Xime, a partir de Gampará (c. 15 quilómetros de distância em linha reta, no máxino)... Ora em 1972/74, ao tempo da CCAÇ 4142/72 (Os "Herdeiros  de Gampará"),  que havia em Ganjauará na era o obus 10.5 e não o obus 14, como se comprova por estas fotos e outras fontes. 

A distância, entre Ganjauará e o Xime era 15 km,  em linha reta,  medida na carta da província da Guiné (1961, escla 1/500 mil) ou seja, dentro do alcance do obus 14, mas não do obus 10.5 .


Guiné > Carta da província portuguesa (1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Ganjauará, Xime e Mansambo. 

Infografia;: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


O Xime só tinha o obus 10,5 cm (que não chegava à Foz do Corubal e à Ponta do Inglês, no tempo em que fui operacional da CCAÇ 12, 1969/71)...O Xime sempre foi guarnedido até ao fim da guerra pelo 20º Pel Art (10,5cm). E Ganjauará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, era guarnecida pelo 29º Pel Art (10,5cm).

Descobrimos agora que obus 14 que deu apoio ao Xime no ataque ou a flagelação de 1/12/1973 foi  o de Mansambo, onde tinha sido colocado o 27º Pel Art (14 cm)...A distância entre Mansambo e Xime era também de 15 km em linha reta (portanto, ainda dentro do alcance do obus 14).(No meu tempo, 1969/71, Mansambo tinha obus 10,5, mas depois deixou de ter.)

Na história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), há referência explícita a dois Pel Art, o 20º (10,5cm) que estava no Xime, e o 27º (14 cm) que sabemos, pelo Sousa de Castro, que estava nessa altura, em 1/12/1973,  em Mansambo.

No livro da CECA, sobre a atividade operacional no CTIG, de 1971 a 1974  (CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, 2015), não há referência ao 27º Pel Art em Mansambo... Certamente, por insuficiência de dados.

Sabe-se que no ano de 1973 houve uma grande mobilidade dos Pel Art, do GA 7. Em 1/7/1972, o 27º Pel Art (14) estava em Farim, e Ganjauará, ao tempo da CART 3417, tinha um Pel Art, s/nº (10,5 cm, a três bocas de fogo) / GA 7...

Um ano depois, estava lá, em Ganjauará, o 29º Pel Art (10,5cm) , e o 27º Pel Art tinha sido sido saído de Farim, passando a ser substituído pelo 7º Pel Art (10,5cm). Mas o subsetor de Mansambo, Setor L1 (Bambadinca),  ainda não tinha nenhum Pel Art. Deve ter vindo nesse 2º semestre.

Pela Directiva nº 17/73 de 16 de abril de 1973, fora remodelado o "dispositivo artilheiro". Entre outras medidas, foi atribuído um Pelotão de Artilharia 14 cm (a 3 bocas de fogo), a cada uma das seguintes guarnições: "Bigene, Mansoa (a transferir, logo que possível, para o aquartelamento a instalar na estrada Jugudul-Bambadinca), Piche, Mansambo, Tite, Fulacunda, Ganjauará, Buba, Aldeia Formosa, Catió (provisoriamente em Cufar), Chugué, Guileje e Cacine.".

Mansambo recebeu o 27º Pel Art (14cm), mas Ganjauará manteve o 29º Pel Art (10,5cm),

É verdade, e como reconhece a história do BART 3873, o setor L1 parecia estar calmo no finalo de 1973.  Por outro lado, antigos guerrilheiros do PAIGC com quem falei em março de 2008, no Cantanhez e em Bissau, e que tinham estado, por volta de 1972, na região compreendida pelo triângulo Bambadinca - Xime - Xitole (frente Xitole, segundo o dispostivo do PAIGC), disseram-me que terá havido, possivelmente no 1º trimestre de 1973, após o assassinato de Amílcar Cabral, deslocação de forças para reforçar a frente sul ou a frente norte, por ocasião da batalha dos 3G (Guidaje., Guileje e Gadamael)...

O que também explicaria a relativa fraca resistência com que as NT, em finais de 1973, encontravam em áreas de difícil acesso como Mina/Fiofioli, na margem direita do rio Corubal... (onde no meu tempo, a CCAÇ 12 e os batalhões a que estava adida, o BCAÇ 2852 e o BART 2917, nunca foram).

Vamos aceitar, como mais plausível (e para nossa tranquilidade...) (***) que os mortos do Xime nessa noite de 1/12/1973 tenham sido provocados por  fogo do IN. (LG)

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Notas do editor:



A. M. Sucena Rodrigues (1951-2018)
(i) ex-fur mil inf, CCAÇ 12 
(Bambadinca e Xime, 1972-1974); (ii) licenciado
 em engenharia eletrotécnica pela Universidade de Coimbra; 
(iii) foi professor do ensino secundário até ao ano 
da reforma,  em 2016; (iv) vivia em Oliveira do Bairro.


(**) Vd. poste de 8 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14585: Os nossos camaradas guineenses (42): em 1/12/1973, na tabanca do Xime, vítima de fogo amigo ou inimigo, morreu na sua morança um militar da CCAÇ 12 e toda a sua família, duas mulheres, duas crianças em idade escolar e um recém nascido (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74)

(...) Estive na CCaç 12, de 1972 a 1974 em Bambadinca e no Xime.

Sobre o ataque ao Xime [em 1/12/1973],   com fogo inimigo ou amigo (??), cada um terá a sua opinião. Tenho a minha, mas não vou aqui divulgar, por achar que não virá resolver coisa nenhuma. Poderá, isso sim, eventualmente trazer outros problemas.

Só quero dar algum esclarecimento: (i) as vítimas não foram 7 mas sim 6, e não foram todas civis; (ii) morreram: 1 militar da companhia [a CCAÇ 12,] (era o pai da família), 2 mulheres (ambas mães da família, como sabes praticava-se a poligamia), 2 crianças em idade escolar e 1 criança recém nascida ( com 8 dias de vida).

Este esclarecimento não terá grande importância perante o resto, serve apenas para acrescentar mais algum rigor. (...)

(...) Comentário do editor:

Segundo a página oficial da Liga dos Combatentes, em 1/12/1973, no TO da Guiné, e por motivo de combate, morreu apenas um elemento das NT, o soldado Sumbate Man. Consultanda a preciosíssima Lista dos Mortos do Utramar, nascidos na Guiné, do portal Ultramar Terraweb (de novembro de 2006, e atualizada em janeiro de 2015), constata-se que o Sumbate Man era soldado milícia, natural de Nova Uaque,  concelho de Mansoa, nº 268/73, pertencente ao Pel Mil 365, adiddo à  2ª C/ BCAÇ 4612, subunidade que estava em Jugudul (1972/74)...

Não pode, em princípio,  ser o militar da CCAÇ 12, referido pelo Sucena Rodrigues.(..:)
 
António, está feito o esclarecimento, obrigado. Infelizmente, a CÇAÇ 12 não tem história de unidade, relativamente ao período que vai de março de 1971 até à sua extinção, em agosto de 1974... A única que conheço foi a que eu pessoalmente escrevi e que vai de maio de 1969 a março de 1971...

Relativamente à "tua versão" sobre o fogo amigo / fogo inimigo que matou um camarada nosso e a sua família inteira (!), eu gostava de conhecê-la um dia, mesmo que seja em "off record"... Não farei uso dela, em público, fica entre nós... Entendo que o assunto é delicado. De resto, e de acordo com a política do blogue, também não estamos aqui para julgar e muito menos incriminar ninguém.(...)

PS - Talvez alguém saiba dizer o nome do militar da CCAÇ 12 que morreu, cruelmente, com toda a sua família, na tabanca do Xime, no  dia 1/12/1973. (...)


(**) Vd. poste de 8 de maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6348: Actividade da CART 3494 do BART 3873 (7): Parte 7 (Sousa de Castro)

(...) 20 FASCÍCULO

DEZEMBRO 1973 (...) 

(...) Sub-Sector do Xime (CCAÇ 12)

Em 01 pelas 22,15 horas, grupo não estimado flagelou o Xime E durante 25 minutos. Caracterizou-se por uma das suas maiores flagelações sofridas, tendo possivelmente os atacantes empregado todas as armas pesadas da zona, incluindo foguetões 122 mm. Dois desses foguetões atingiram uma morança da tabanca, morança que ficou totalmente destruída e com os seus 07 residentes (civis) mortos.

A reacção das NT foi imediata: 20º Pel Art (10,5cm), Pel Mort  4575/72 e apoio do 27º Pel Art  (14 cm) aquartelado em Mansambo. NF sem consequências.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25716: In Memoriam (505): Isabel Barata Lopes Costa (1953-2024): "Mulher de ex-combatente, ex-combatente é... e será" (Joaquim Costa, ex-fur mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)



Porto > c. 1982/83 > Joaquim Costa e a esposa, Isabel Barata Lopes Costa (Idanha-a-Nova, 1953 - Rio Tinto, Gondomar, 2024)... 


Lamego > Hotel sobre o rio Douro > Há uns 6 anos atrás > A Isabel, professora reformada por invalidez desde cerca de 2009 (sofria de doença crónica degenerativa). Nascida m 10 de outubro de 1953, em Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, Isabel Barata Lopes Costa viveu em Lisboa desde tenra idade. O casal, que tem dois filhos,  morava em Rio Tinto, Gondomar, onde a Isabel faleceu no passado dia 4 de junho, faz hoje um mês. Tinha 70 anos.  

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Joaquim Costa: (i) ex-fur mil, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã,  1972/74); (ii) autor de livro, "filho da pandemia", a que deu o título invulgar "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74" (Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.);  (iii) membro da nossaTabanca Grande, desde 30 de janeiro de 2021, e onde se senta à sombra no nosso poilão, no lugar nº 826:


Data - segunda, 1/07/2024, 15:42

Assunto - Isabel, a combatente

Boa tarde Luís.

Espero que tudo esteja bem contigo e família. Deixo-te aqui a minha homenagem a uma combatente, mulher de um ex-combatente que de certa forma também o foi.

Estes exemplos de coragem devem ser perpetuados. Deixo ao teu critério a publicação do mesmo.

Um grande abraço, Joaquim
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2. Joaquim Costa > Mulher de ex-combatente, ex-combatente é!

Por muito que façamos, ficaremos sempre em dívida para com estas mulheres, pelo que sofreram, e continuam a sofrer, já que para muitas a guerra ainda não acabou.

Hesitei em enviar este post para os editores, por considerar que o mesmo não se enquadrava nos objetivos do blogue. Contudo, logo me penitenciei por me ter ocorrido tal dúvida.

Por maioria de razão, estas mulheres continuam a combater, acompanhando, tratando e mitigando o sofrimento dos seus companheiros que de certa forma nunca abandonaram o teatro de guerra.

A minha combatente partiu.

Participava com entusiasmo no encontro dos tropas (como ela dizia), com o entusiasmo do ex -combatente. Conhecia pelo nome grande parte dos elementos da companhia bem como das suas mulheres e mesmo dos seus filhos e netos.

Guardava e revia regularmente as fotos dos encontros.

Várias vezes me perguntava: Quando é o encontro dos tropas?

Neste último encontro, já debilitada e em cadeira de rodas, perante a minha pergunta se queria ir ao encontro, ficou indignada e sentida com a minha pergunta.


O SORRISO

Um sorriso … e tudo acontece.

Sim! Foi na carreira da estação para a cidade:
...“Do alto Alentejo, cercada
De Montes e de oliveiras
Do vento suão queimada…”

Um raio de sol de inverno poisa sobre um sorriso que o ofusca.
Os teus olhos me incendeiam, 
já não sei onde estou nem para onde vou. 
Só sei que vou para onde me leva essa luz dos teus olhos.

Mas que linda caminhada. 
Duas sementes deitadas à terra 
que, regadas com muita ternura, amor e carinho, 
cresceram,  lindas, à tua imagem. 
São o nosso orgulho. 
Ai!.. Os rebentos, que lindos!,
que se inventem novas palavras, 
felicidade não basta!

Durante esta linda caminhada, 
fomos limpando as pedras do caminho. 
As que teimosamente resistem, 
sempre foram vencidas pela tua indiferença. 
Nestes últimos tempos repetias mil vezes, 
até que todos os santos te ouvissem: 
"Felizmente temos 'saúde' e uns filhos lindos".

“Só é vencido quem deixa de lutar”...
Todos nós sabíamos que era uma luta desigual, 
mas tu nunca te resignaste. 
Sempre nos surpreendias com a tua memória seletiva: 
acordava e adormecia a ouvir-te dizer, vezes sem conta, 
os dias do nascimento dos filhos e netos, 
terminando a linda 'ladainha' 
mostrando com orgulho o teu anel de noivado: 
10 de Abril, 
2 de Novembro, 
15 de Maio, 
4 de Novembro, 
7 de Fevereiro... 
e o anel de noivado na mão esquerda.

Contudo, quando te perguntava "
Quantos anos tens?"
 respondias tu "sessenta e três"...
"Talvez setenta", dizia eu. 
"Credo!", respondias tu... "Tenho sessenta e cinco".

Nem a medicina explica.

Ninguém como a Isabel prezava os amigos.
Repetia vezes sem conta a frase 
que ficará para sempre gravada nos nossos corações:
“Os amigos são flores que florescem no jardim da vida.”

Não será a mesma coisa, 
mas a caminhada continua. 
Seguir o teu exemplo 
e continuar a teu lado caminhando, 
destruindo a frase feita: 
“Até que a morte nos separe”.

Sim, ISABEL,
Dez de Abril
Dois de Novembro
Quinze de Maio
Quatro de Novembro
Sete de Fevereiro...

E o Anel de Noivado
na mão esquerda…

JC

(Revisão / fixação de texto: LG)

3. Comentário do editor LG:

Joaquim, falámos ao telefone há um mês atrás, fizeste questão de me comunicar em primeira mão o inesperado falecimento da tua esposa, tua companheira de uma vida, mãe dos teus filhos, avó dos teus netos. 

Fiquei sensibilizado. Na realidade, já somos mais do que simples "amigos" das redes sociais: como tu dizes, e bem, ao fim destes anos todos,  somos também a "família do blogue", a "família da Tabanca Grande", e vamos acompanhando os altos e baixos uns dos outros, e até as alegrias e tristezas das famílias de cada um... Inevitavemente, vamos sabendo quem está doente, quem nasce, quem faz anos, quem morre... 

E temos uma série, "As nossas mullheres"... Todas elas acabaram por "ir à guerra", de um maneira ou outra, de mil e uma maneiras, mesmo depois da guerra acabar (se é que ela alguma vez acaba para quem foi combatente).

 Por isso, faz todo o sentido ser publicada aqui, no blogue de todos nós, a tua bela homenagem à tua Isabel... Sem nunca ter ido ao Cumbijã (que eu saiba...), ela foi uma "tigresa do Cumbijã", ao lado dos "tigres do Cumbijã"...   

Fico muito sensibilizado com as palavras de grande ternura e amor que lhe dedicas no teu texto poético. O teu testemunho passa a ser público, podendo agora ser partilhado por todos os que te estimam e admiram, e estimam e admiram as nossas mulheres que, sendo "mulheres de ex-combatentes, ex-combatentes são e serão".  Mesmo quando a morte (física) as aparta do nosso convívio...

A morte (e a guerra) pode levar-nos, infelizmente, tudo o que amamos, todos/as aqueles/aquelas que amamos, mas não nos pode roubar as memórias felizes que guardamos dos nossos amores...

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Nota do editor LG:

Guiné 61/74 - P25715: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (50): Ataque ao quartel no dia 12 de Maio de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


1970/MAIO/12 ÀS 19H05M
E
1970/MAIO/13 AO ROMPER DO DIA

Como tínhamos chegado havia 1 mês, o PAIGC resolveu associar-se às nossas comemorações.

Munido de "fogo de artifício" e outros artigos próprios para estas ocasiões fez-nos uma "surpresa".

Mas nós, apesar de "periquitos", como "bons amigos" associamo-nos à festa.
Reagimos depressa e bem, conforme pudemos confirmar na manhã seguinte.

Uma vez que o ataque foi ao cair da noite, não fomos fazer o "reconhecimento" porque tínhamos que atravessar uma ponte onde poderiam facilmente fazer-nos uma emboscada.

O meu grupo de combate estava de serviço ao quartel naquele dia, e na manhã seguinte fomos com o capitão fazer o "reconhecimento".

Encontrado o local donde foi feito o ataque ao quartel verificamos que os nossos morteiros acertaram em cheio no local do ataque.

Encontramos muitos rastos de sangue e sulcos provocados pelo arrastamento de guerrilheiros feridos ou mortos.

É caso para dizer que a Nossa Senhora de Fátima estava connosco.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 27 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25692: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (49): Incêndio na Tabanca em 8 de Maio de 1970

Guiné 61/74 - P25714: Facebook...ando (59): Joaquim Martins, nosso grão-tabanqueiro desde 2015, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4142/72, "Herdeiros de Gampará (Ganjauará, 1972/74) - II (e última) Parte



Foto nº 11 >  Joaquim Martins: tem página no Facebook


Foto nº 12 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O fur mil at inf, Joaquim Martins


Foto nº 13 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "Eu à porta da minha morança"


Foto nº 14 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O obus 10.5 (29º Pel Art)


Foto nº 15 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 >Uma ida, em grupo, a uma tabanca próxima


Foto nº 16 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "A nossa lavandaria": as tinhas eram feitas com pipas (de vinho) cortadas ao meio.


Foto nº 17 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > Dois militares (um deles será o Joaquim Martins) junto a uma das instalações do quartel (inserido no reordenamento de Gampará), protegidas por bidões com terra calcada.



Foto nº 18 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > Um posto de sentinela




Foto nº 19 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 >  "Memórias. Agosto de 74. Percorri pela última vez esta estrada com 3 km, que nos levava de Ganjauará até ao cais de abicagem de Ganquecuta no rio Geba, onde nos esperava uma LDM que levaria a CCAÇ 4142 para Bissau, com destino ao Cumeré. Para trás ficava uma permanência de 23 meses no 'buraco' onde tombaram três companheiros. Para eles, Paz ás suas Almas, e ara os que regressaram um Abraço".


Foto nº 20 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "Esta relíquia tem mais de 50 anos, fez parte do meu equipamento, agora está na prateleira dos recuerdos."


Foto nº 21 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > Guoião dos "Herdeiros de Gampará".



Foto nº 22 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "A minha última foto como militar, em Agosto de 1974, aquando do regresso da Guiné, a bordo do Uíge. Dos elementos da CCAÇ 4142, da esquerda para a direita, eu sou o último, à minha direita o Salgueiro, o primeiro da esquerda é o Rocha. Grande Abraço para todos os ex-combatentes".



Foto nº 23 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "Momentos que não se esquecem. Fiz parte do 3º Pelotão da CCAÇ 4142, que esteve em Gampará em 72/74. No fim do Convívio que levamos a efeito em Odivelas, estava eu junto do parque de estacionamento para o regresso a casa, chegou junto a mim um dos dos elementos que na altura fazia parte do 1º Pelotão. Despediu-se com as lágrimas nos olhos e, dando um abraço, disse-me que ele e eu sabíamos que faltava ali alguém... De momento fiquei sem palavras, sim eu sabia a quem se queria referir, em fevereio de 74, ambos vivemos momentos dramáticos, ele perdera um dos seus comandantes e um amigo, meu amigo também. O Silva não estava fisicamente, mas estava e estará sempre nas presente nas nossas memórias. Faltava também o Soares que perdeu a vida na mesma altura. E o Garrincha. Paz às suas Almas. Forte Abraço para todos os companheiros da CCAÇ 4142 e também para todos os combatentes".



Foto nº 24 > Açores > Ponta Delgada > 2024 > "Ao leme da nossa Sagres"..."A Pátria Honrae Que a Pátria Vos Contempla".

Fotos (e legendas): © Joaquim Martins (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda (e última) parte de uma seleção de fotos do álbum do  Joaquim Martins:

(i) membro da nossa Tabanca Grande, desde 5 de junho de 2015;

(ii) foi fur mil at inf, CCAÇ 4142/72, "Herdeiros de Gampará", Ganjauará, 1972/74;

(iii)  tem 74 anos, nasceu em Gondomar, em 19 de maio de 1950; 

(iv) vive em Ermesinde (até em 2017, em Águas Santas, Maia); 

(v) trabalhou no Gabinete de Planeamento da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP); está reformado.

A CCAÇ 4142/72  partiu para o CTIG em 16set72.  Fez a IAO no Cumeré. Um mês depois, a 18out 72, foi colocada em Gampará, rendendo a CART 3417, os "Magalas de Gampará".Regressou em agosto de 1974. Teve 3 baixas mortais.

Camaradas da CCAÇ 4142/72 que integram o nosso blogue (entre parênteses, o seu atual local de residência):


(Seleção, numeração, legendagem e edição de fotos,  revisão / fixação de texto: LG) 
(Com a devida vénia...)
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Nota do editor:

(*) Poste anterior da série > 2 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25707: Facebook...ando (59): Joaquim Martins, nosso grão-tabanqueiro desde 2015, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4142/72, "Herdeiros de Gampará (Ganjauará, 1972/74) - Parte I

Guiné 61/74 - P25713: Lembrete (46): Últimos dias! Viagem de grupo à China com o acompanhamento do Prof. Dr. António Graça de Abreu - 01 a 12 Setembro 2024


República Popular da China >
 Pequim > s/d (c. 1977/83) >
O António Graça de Abreu
na praça Tianamen

1. Declaração de interesses: não vou  à China, não tenho  descontos na viagem à China, nem sequer direito a uma malga de arroz chau chau... Não sou sinófilo, nem sinófobo, nem sequer sinólogo.  Mas tudo o que é humano e terreno me interessa.

Se eu tivesse menos uns aninhos, saúde e patacão,  também gostaria de ir à China,  ciceroneado pelo nosso grão-tabanqueiro  António Graça de Abreu, na esteira de outros camaradas que já fizeram em 2014 esta viagem turístico-cultural (o António PImentel, o Fernando Gouveia e o Egídio Lopes). (*)

Resumindo, o António, um histórico do nosso blogue, merece este postezinho promocional... 

Aproveite quem quiser e puder, porque será um privilégio ter como guia um antigo camarada da Guiné, "globetrotter", grande sinólogo (especialista em história e cultura chinesas) e um português não menos amante da sua pátria e da sua língua (*)

Para mais informações contactar a agência Globalis através de:

e-mail: grupos@globalisviagens.com
ou telefone:  (+351) 213 502 201.


ÚLTIMOS DIAS! Viagem de Grupo à China com o acompanhamento do Prof. Dr. António Graça de Abreu - 01 a 12 Setembro 2024 (**)
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