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quinta-feira, 15 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9612: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (5): Lista de oficiais CEM do QG do CTIG (Luís Gonçalves Vaz)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... 

Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), no último dia do evento. Na foto nº 1, o Coronel de Cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz)... É também um conhecido historiógrafo da guerra do ultramar / guerra colonial, co-autor, juntamente com Aniceto Afonso, de diversas publicações.

Na foto nº 2, Matos Gomes está junto do catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa... Por detrás, vê-se o edifício, em ruína, da antiga (se não me engano)  2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. 

Na foto, por detrás do Matos Gomes, vê-se o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep (salvo erro) do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes...


Nas fotos nºs 3 e 4, vemos o Matos Gomes a servir de cicerone ao Paulo Santiago e a mim próprio. Entre os edifícios históricos, há o do antigo Com-Chefe (foto nº5). Foi aí que um grupo de conspiradores entrou de rompante no gabinete do Com-Chefe, e deu voz de prisão ao General Bettencourt Rodrigues, na manhã de  26 de Aril de 1974, o chamado golpe de Estado do MFA na Guiné. Portanto, foi na Amura e não no palácio do Governador que tudo aconteceu...

Desse grupo de oficiais revoltosos faziam parte Ten Cor Mateus da Silva (Eng Trms) (*), Ten Cor Maia e Costa (Eng), Maj Folques (Cmd), Maj Mensurado (Pára), Cap Simões da Silva (Art), Cap Sales Golias (Eng Trms), Cap Matos Gomes (Cmd), Cap Batista da Silva (Cmd), Cap Saiegh (Cmd Africanos), Cap Ten Pessoa Brandão (Armada ) e Cap Mil José Manuel Barroso.

Matos Gomes, na altura capitão do Batalhão de Comandos da Guiné, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história recente dos nossos dois países.. Voltou lá, à Amura,  34 anos depois...

Hoje, na Amura, repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros combatentes da liberdade da pátria, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna, 'Nino' Vieira, etc. (LG).


Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, com data de hoje:


 Data: 15 de Março de 2012 15:03
Assunto: Lista de Oficiais do QG do CTIG

Olá,  Luís:


Conforme solicitaste, aí vai a lista de oficiais do QG, a saber:


Em  1973/74, eram estes os oficiais do QG (O meu pai, o ten cor Ventura e o major Cabrinha, sei que estiveram até ao fim de 74):

Chefe do Estado-Maior - Coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz

Chefe da 1ª Repartição - Tenente-coronel do CEM Cunha Ventura

Chefe da 2ª/3ª Repartição - Major do CEM Cabrinha (foi este oficial que representou o meu pai, CEM/CTIG e CCFAG na altura, na cerimónia de transmissão de soberania em 9 de Setembro, em Mansoa) [, cerimónia onde esteve também em destaque o nosso co-editor, o ex-Fur Mil Op Esp / Ranger Eduardo Magalhães Ribeiro]

Chefe da 4ª Repartição - Tenente-coronel do CEM Morgado

Chefe de Serviço de Transportes - Tenente-coronel de Infantaria Monsanto Fonseca

[Notas do LGV: (i) CEM - Corpo do Estado Maior (oficiais com o curso complementar de Estado Maior no Instituto de Altos Estudos Militares);  (ii) recorde-se, por outro lado, que em 17 de Agosto de 1974 foi  oficialmente criado o QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG . Assim, a 2ª Rep, por exemplo, passou a designar-se 2ª Rep do CC/FAG, ou seja, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]...

Abraço

Luís Beleza Vaz
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Nota do editor:


Último poste  da série > 13 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9602: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (4): Documentação referente a negociações entre Portugal e o PAIGC com vista à desmobilização das tropas africanas que combateram por Portugal (Carlos Filipe)

(*) Vd. aqui excerto das declarações do Gen Mateus da Silva, no âmbito do seu depoimento sobre a  descolonização (Estudos Gerais da Arrábida, painel dedicado à Guiné, 29 de agosto de 1995):

(...)  No dia 26 de Abril, logo de manhã, nós, este grupo que estava mais ligado, reunimo-nos no Batalhão de Pára-quedistas, em Bissau, às 8.30h, a discutir o que havíamos de fazer. E foi nessa reunião que decidimos intervir e, digamos, fazer aquilo a que eu chamo um golpe militar em Bissau, que na altura não teria esta percepção, mas, a posteriori, considero que de facto foi um golpe militar. (...)

(...) Às 9h (era feriado municipal em Bissau), fomos ao gabinete do comandante-naval, comodoro Almeida Brandão, convidá-lo a ser o nosso futuro comandante-chefe. Também tem piada porque, antes de destituirmos o governador, já estávamos a convidar o futuro
comandante-chefe. O comodoro hesitou um bocado e disse que não podia aceitar. Nós até queríamos que ele também fosse logo connosco ao gabinete do Bettencourt Rodrigues. Recusou-se mas acabou por dizer que aceitava ser comandante-chefe. Em seguida, ainda passámos pelo Palácio do Governador mas ele não estava, estava no comando-chefe na Amura. Fomos então à Amura. Na altura, houve uma companhia da polícia militar que cercou o comando-chefe, e também havia tropas pára-quedistas nossas que estavam ali à volta.

Entrámos de rompante no gabinete do general Bettencourt Rodrigues, o ajudante meteu-se à frente e levou um pinhão que voou por ali adentro… A porta abriu-se de escantilhão e nós entrámos. Agora imaginem, do ponto de vista do general comandante-chefe, que vê um grupo aí de doze oficiais, entrarem-lhe assim pelo gabinete… Ele ficou logo desequilibrado psicologicamente.


(...) O general Bettencourt Rodrigues perguntou se estava preso, e este também é um aspecto que acho muito interessante. É evidente que ele estava pelo menos bastante coagido, mas eu disse: «Não, o meu general não está preso, simplesmente vai ao palácio, faz as suas malas e embarca hoje no avião para Lisboa.» E foi o que ele fez, mas muito civilizadamente. (...)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9550: As novas milícias de Spínola & Fabião (4): Em 225 localidades ocupadas pelas NT no CTIG, 71 eram exclusivamente guarnecidas por unidades de milícias, no 1º trimestre de 1974 (gen Bettencourt Rodrigues)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Militares guineenses da CCAÇ 12, presumivelmente da 2ª secção do 3º Gr Comb,  numa tabanca fula em autodefesa... O elemento da ponta esquerda é um milícia, empunhando uma espingarda automática FN... Não consigo identificar a tabanca: poderá ser Candamã, no regulado do Corubal...

A 2º secção do 3º Gr Comb era constituída por, além dos metropolitanos Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda e  1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus, os seguintes soldados do recrutamento local, de etnia fula ou futa-fula:  Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (F); Soldado 82109369 Malan Jau (Ap Mort 60) (F); Sold 82100769 Amadú Candé (Mun Mort 60) (F); Sold 82108869 Quembura Candé (F); Sold 82109769 Sherifo Baldé (F); Sold 82115369 Ussumane Jaló (FF); Sold 82110169 Madina Jamanca (F)... Recorde-se que os apontadores de dilagrama, morteiro e LGFog tinham direito à famosa pistola Walther, de 9 mm...

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados. Legendas de L.G.


1. Diversos comentários ao postes P9532 ou P9526

 (i) Comentário de L.G.:

Seria interessante que os camaradas nos dessem uma estimativa da proporção de guineenses (milícias incluídos) que faziam partem do dispositivo militar do respetivo setor... 


No setor L1 (Zona leste, Bambadinca), no 1º trimestre de 1972, a proporção poderia ser de 1 (guineense) para 1 (metropolitano)... Mas noutros setores (do leste mas também do oeste, do norte e do sul), as coisas poderiam ser diferentes... Vejam o dispositivo militar do vosso setor e contem as G3 ou as cabeças...

(ii) José da Câmara:

Para vosso conhecimento, os Pel Mil 294 e 295 estiveram adidos à CCaç 3327, quando esta esteve em Bissassema, zona de Tite.

Cada um destes pelotões era constituído por 39 elementos.

Com a excepção de 3 elementos do Pel Mil 295, recenseados em 1971, os outros tinham-no sido em 1970.

 Não posso acrescentar muito sobre a articulação das nossas Milícias. Como sabes, eu estive ligado ao Pel Nat 56.

Todavia, posso dizer que a G3 era a única arma que estava distribuída aos Pel Mil 294 e 295.

Também não é fácil fazer uma estimativa correcta da proporção do dispositivo militar que englobava a CCaç 3327 no seu sector. Primeiro, porque a CCaç mantinha um pelotão de reforço à guarnição de Tite. Em depois porque a companhia tinha muitos militares envolvidos na construção do reordenamento.

Mesmo assim, sem aqueles constrangimentos, a proporção era de 2 por 1 em favor da CCaç 3327.

Facto interessante naqueles pelotões era a nomeação dos graduados ser da responsabilidade directa do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

(iii) António José Pereira da Costa:

(...) Sobre este assunto creio fundamental fazer uma separação entre militares (metropolitanos e guineenses) e milícias.

Estes tinham um estatuto diferente e eram civis armados. Recordo, por exemplo, que, se concorressem aos "comandos" eram incorporados como praças e não lhes era concedida qualquer vantagem por terem sido milícias. Ganhavam menos do que os soldados, só tinham alimentação durante a "formação" (como se diz em eduquês moderno) e, mesmo neste caso, a verba era claramente inferior à dos soldados (creio que era pouco mais de 50%). 

Além disso, procurava-se, e conseguia-se normalmente, que tivessem as famílias junto ou próximo do quartel a que pertenciam. Cito de memória porque em Mansabá foi formada uma companhia de milícia, durante a minha permanência.

É capaz de ser pouco exacto metê-los nas contas juntamente com os soldados (CCaç, Artilharia, Comandos, Serviço de Material, Intendência, etc.). Ficam bem ou mal (conforme as leituras) nas estatísticas, mas não é exacto.

(iv) Paulo Santiago:

(...) Quanto a vencimentos de milícias não posso ajudar. Como "instrutor" [, no CIMIL de Bambadinca], era um assunto que me ultrapassava. Não sei se os 700 escudos estão certos. Um dos meus soldados, Amadú Baldé, tinha sido milícia na zona de Aldeia Formosa, passou para o Exército e posteriormente voltou à Milícia, ficando a comandar um dos pelotões da segunda companhia que formei em Bambadinca.É natural que ficasse a ganhar mais.

Também o 1º Cabo Suleimane Baldé, actual Régulo de Contabane, foi milícia, em Aldeia Formosa, antes de passar ao Exército. (...)

2. Informação prestada pelo gen Bethencourt Rodrigues (1918-2010),  antigo comandante-chefe e governador da Guiné (1973/74), nome às vezes também grafado como "Bettencourt" Rodrigues:


As  NT eram constituídas por: 

(i) “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades e meios navais da Armada; algumas unidades de Fuzileiros Navais eram integradas por pessoal voluntário da Guiné, com enquadramento europeu”;  

(ii)  “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades do Exército; cerca de 20%  das unidades combatentes eram de pessoal recrutado na Guiné e em algumas todo o pessoal era guinéum, incluindo o enquadramento; 

(iii) “ órgãos de comando e de apoio logístico e  unidades da Força Aérea; (iv) “unidades de milícias, integralmente com pessoal da Guiné” (pp.  129/130).

O “efetivo em pessoal armado era  constituído, em percentagem superior a 50%, por elementos naturais da Guiné” (p. 130).

No 1º trimestre de 1974, as NT ”ocupavam, com guarnições militares ou de milícias, 225 localidades” (p.  141)….  Era a seguinte a distribuição dessas guarnições: 

(i) “72 ocupadas exc lusivamente por tropas do Exército e Armada”; (ii) “82 por tropas  do Exército e Armada e unidades de milícias”; e (iii) “71 só por unidades de milícias” (p. 130).

Fonte: Gen Bethencourt Rodrigues – Guiné. In: Cunha, Joaquim Luz; Arriaga, Kaúlza de; Rodrigues, Bethencourt; Marques, Silvino Silvério- África: a vitória traída. Braga: Editorial Intervenção, 1977, pp. 103-142.
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Nota do editor:

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9475: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (8): Boatos, em Lisboa, de ameaças de ataques a aviões da TAP... e de bombardeamentos aéreos aos nossos aquartelamentos

1. Na guerra o boato também é (ou pode ser utilizado como) uma arma... De referências a boatos também é feito o Diário do nosso amigo e  camarada António Graça de Abreu (AGA)...  

Por gentileza e generosidade suas, aqui ficam mais uns excertos do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp) (*).
 
(...) Cufar, 27 de Junho de 1973

De Lisboa, contam-me as “bocas” que por lá correm. E “bocas” falsas.

Fala-se em evacuar da Guiné mulheres e crianças. Mas onde e porquê? É verdade que a população nativa, os africanos das aldeias de Guidage, Guileje e Gadamael, abandonou essas tabancas por causa do perigo nas flagelações constantes do IN. Mas não houve nenhuma evacuação nem sei se tal está previsto pela nossa tropa. Também é verdade que muitos milhares de habitantes da Guiné Portuguesa procuraram fugir à guerra e refugiaram-se quer no Senegal quer na Guiné-Conacri, no entanto esta procura de um lugar mais pacífico para habitar não é novidade, começou há já alguns anos com o agravamento do conflito armado.

De Lisboa, dizem-me também que o Eng. Vaz Pinto se demitiu de presidente da TAP por causa de um ultimato do PAIGC, mais ou menos nestes termos: se os aviões da TAP voarem para a Guiné, serão abatidos, se transportarem militares dentro da Guiné, também serão atingidos pelos mísseis terra-ar. Ora isto nada tem a ver com as realidades que aqui vivemos. Deve ser invenção.

Os aviões da TAP vindos de Lisboa e de Cabo Verde entram e saem da Guiné voando sobre as ilhas dos Bijagós e a chamada ilha de Bissau. Com 99,9% de certeza posso garantir que os guerrilheiros não controlam nem têm efectivos militares nessas regiões. São as zonas mais seguras de toda a Guiné. Os aviões da TAP também não fazem qualquer transporte de tropas dentro da Guiné. Os transportes via aérea são assegurados pelos três Nordatlas e pelos dois DC 3 da Força Aérea. Nada têm a ver com a TAP, nem sequer quanto à manutenção. Depois, creio que os homens do PAIGC não estão interessados em atacar aviões civis, grandes ou pequenos. Não atacam os TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) e vão atacar a TAP?... 



Os TAGP são a linha civil, comercial da Guiné. Têm quatro avionetas Auster de cinco lugares e transportam sobretudo civis. Em Abril e Maio, no período crítico a seguir à queda das cinco aeronaves militares, os TAGP ajudaram na evacuação de feridos porque a Força Aérea Portuguesa não voava. Os pilotos dos TAGP não são suicidas, também voam ou muito alto ou muito baixo, mas as suas avionetas vermelhas e brancas, mais pequenas do que as DOs, são facilmente referenciáveis cá de baixo. Quem sabe se os TAGP, mesmo colaborando com as NT, não são também úteis ao IN?

Agora em Cufar, volto a lidar diariamente com os pilotos, almoçam comigo, conversamos bastante. Creio estar bem informado do que se passa na Guiné, em termos de aviões.

Em Portugal, as “bocas”, os boatos são galopantes. Pela ponta de um dedo, toma-se o braço todo.

(...) Cufar, 13 de Agosto de 1973


O Chugué já não “embrulha” há dezassete dias, Cufar há quatro meses. Estamos felizes.

Mas fala-se em aviões para o PAIGC, Migs e tudo! Pelo sim, pelo não estou a arranjar, ou melhor, a mandar os soldados arranjar o abrigo subterrâneo nas traseiras da minha tabanca. No caso de guerra aérea, Cufar pode ser um alvo importante, temos uma grande pista de aviação e reabastecemos os aquartelamentos no sul da Guiné. 


Se o PAIGC, a partir do Senegal ou da Guiné-Conacri, conseguir meter aviões dentro desta sagrada parcela da Pátria, vai ser um sarilho monumental, inclusive a nível internacional. Há quem diga que o domínio português na Guiné está por um fio. Eu digo que está por uma corda. Os guerrilheiros lá vão roendo a corda, no entanto são incapazes de a transformar num fio.

O evoluir da situação depende de Portugal e do maior auxílio internacional dado ao PAIGC. As coisas tendem cada vez mais para o lado dos guinéus, mas os guerrilheiros não vencem contando apenas com umas ajudazinhas externas. Se receberem umas ajudazonas, por exemplo, aviões equipados com o que de mais moderno existe, o caso muda de figura. Os nossos Fiats não são capazes de responder a aviões do topo da tecnologia, têm raios de acção curtos, só com dificuldade poderiam ir bombardear bases aéreas do PAIGC no Senegal ou na Guiné-Conacry, correndo ainda o risco de serem abatidos.

Se vêm aviões IN, será talvez a debandada das nossas tropas, com muitos mortos, muito medo, uma desmoralização ainda maior. Abandonaremos a Guiné com os fundilhos das calças todos rotos e um buraco fechadinho ao fundo das costas.

(...) Cufar, 14 de Janeiro de 1974

Por aqui, a nossa insegurança e incerteza face ao futuro próximo gera boatos e mais boatos.


Diz-se que o PAIGC mais a República da Guiné-Conacri vão lançar um ultimato. Ou começam negociações de paz para se acabar com a guerra ou eles avançam com aviões e bombardeiam os nossos aquartelamentos. Diz-se também que o general Bethencourt Rodrigues pediu a demissão ao Marcello e vai embora em Fevereiro. Enfim, bocas, o cagaço, a imaginação a bulir dentro das pessoas, talvez sobre fundos de verdade.

A minha vida na Guiné, eu, o móbil, o centro. Não apenas eu. Tudo o que vejo e sinto começa e acaba no meu eu pessoal, limitado, egoísta. Os olhos são meus, o coração é meu. E escrevo. Há muita gente em meu redor, interveniente, que também escreve cartas, não sei se diários secretos. O que sinto é que a minha caneta pode talvez ser a voz de muitos outros. Porque eles é que são o todo, o fulcro dos dias. (...)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9437: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (7): Andava-se de sintex, com motor de 50 cavalos, no Cumbijã, nas barbas do PAIGC... e fazia-se esqui aquático no Cacine... 

sábado, 21 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9381: Blogues da nossa blogosfera (49): Arquivo de História Social, ICS/UL: Estudos Gerais da Arrábida: A descolonização portuguesa: Painéis dedicados à Guiné



1. Não é um blogue, é um sítio, institucional,  do Arquivo de História Social, ligado ao ICS/UL - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Está centrado no processo de descolonização... É ainda pouco conhecido da generalidade dos ex-combatentes da Guiné. Tem grande interesse documental. Merece ser divulgado no nosso blogue.

Nesta página pode-se aceder ao conteúdo de uma série de entrevistas sobre a descolonização portuguesa de 1974/1975.

Trata-se de um projecto do ICS/UL, apoiado pela Fundação Oriente (que é dona do Convento da Arrábida).

Maria de Fátima Patriarca, Carlos Gaspar, Luís Salgado de Matos e Manuel de Lucena  "entrevistaram grandes protagonistas do processo de descolonização: por um lado, governantes, chefes militares, dirigentes do MFA e outros que então actuaram na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, Angola e Moçambique; por outro lado, responsáveis metropolitanos ou íntimos colaboradores seus.


Esta equipa de cientistas sociais, sob a coordenaçãod e Manuel Lucena,  "[não  procura] promover qualquer interpretação, chegar a juízos gerais ou encerrar os eventos abordados numa dada problemática, o grupo entrevistador foi seguindo os relatos e aceitando as visões dos seus interlocutores, embora não deixasse de lhes solicitar esclarecimentos por vezes incómodos" (...).

2. Excertos da página > Introdução


(...) "Prelúdio de um livro cuja trabalhosa edição demorará mais tempo, a faseada publicação na Internet, que agora se inicia, de uma série de entrevistas com grandes protagonistas e com qualificados observadores portugueses da descolonização que o nosso país levou a cabo nos seus domínios africanos em 1974/1975, pede os seguintes esclarecimentos:

"(...) Essas entrevistas integram um projecto do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS), apoiado pela Fundação Oriente, que para o efeito disponibilizou as suas instalações e serviços no Convento da Arrábida. Foi aí que a grande maioria dessas entrevistas teve lugar, no decurso de longos encontros, quase todos realizados em dias de Verão ou princípios do Outono de 1995, 1996, 1997 e 1998.

" (...) Entrevistadores foram Maria de Fátima Patriarca, Carlos Gaspar, Luís Salgado de Matos e Manuel de Lucena que coordenou. Em algumas sessões também participaram, como perguntadores, António Duarte Silva, autor de um livro sobre a descolonização da Guiné, e os jornalistas Jorge Almeida Fernandes, Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, bem como a socióloga Maria José Stocker, frequentadores do tema em apreço.

"(...) Entrevistados foram: (..) Por um lado, figuras que, nas ex-colónias foram governantes, chefes militares, dirigentes do MFA ou qualificados participantes, já nos processos de descolonização, já em situações e acontecimentos que os condicionaram. Para cada um dos mencionados territórios considerados (Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique) foram organizados dois painéis, cabendo no primeiro, em regra, os que aí exerciam funções relevantes desde pouco antes do 25 de Abril de 1974 até à definição das regras do jogo descolonizador; e no segundo os que agiram sobretudo (quando não exclusivamente) nas fases de transição para a independência. Angola, onde o processo foi mais longo e complexo, teve direito a três painéis: o dos que lá estavam quando o Estado Novo acabou; o intermédio (correspondente ao alto-comissariado do almirante Rosa Coutinho); e, enfim, o dos que lá estiveram depois do Alvor (Janeiro de 1975), a caminho da independência.

(...) "De longe os mais numerosos, estes painéis e estas entrevistas abrangeram a grande maioria de quem, à partida, constituía a lista dos interlocutores desejados. Com efeito, foram ouvidos os seguintes, sendo as patentes militares aqui indicadas as que tinham na altura das entrevistas" (..)

(...)  "Sobre a Guiné-Bissau

(...) "Em 1995, quando as entrevistas começaram, já vinte anos tinham decorrido sobre os factos nelas evocados. Ainda com muitas paixões por arrefecer, os entrevistadores comprometeram-se a nada publicar antes de passarem seis a dez anos. Muito por causa dessa promessa é que só agora se inicia a sua publicação: a última conversa (com o coronel Carlos Fabião) data de 2002 e as penúltimas, de 1998, têm quase doze anos.

(...) "Editada por Rita Almeida de Carvalho, Fátima Patriarca e Amélia Sousa Tavares, esta série de entrevistas começa pelas relativas à Guiné-Bissau, território onde se deu o arranque formal da descolonização que lhe imprimiu carácter. Seguir-se-ão as de Cabo Verde, onde também foi protagonista o PAIGC, ficando para o fim as duas ex-colónias maiores, Angola e Moçambique. " (...)

Estudos Gerais da Arrábida > A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA > Painéis dedicados à Guiné (30 de Agosto de 1995; 27 de Agosto de 1996; 29 de julho de 1997; 1 de agosto de 1997; 11 de abril de 2002) > Links

Sessão de 30 de Agosto de 1995 > Intervenientes: general Mateus da Silva (a), coronel Carlos Matos Gomes (b),  ex-cap mil José Manuel Barroso (c), coronel Florindo Morais (d)

(a) Eduardo Mateus da Silva:

Engenheiro militar da arma de transmissões. Chega à Guiné em junho de 1972, como tenente-coronel. Membro do MFA desde os primórdios. Encarregado do governo da Guiné, depois do 25 de abril.

(b) Carlos Matos Gomes (n. 1946):  

Oficial dos comandos, comandante de Tropas Nativas Especiais. Em Moçambique, participou na operação “Nó Górdio”. Fez a sua missão na Guiné de julho de 1972 a fins de junho de 1974. Pertenceu à primeira Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães na Guiné. Foi membro da Assembleia do MFA.

(c) José Manuel Barroso:

Jornalista. Cap mil  na Guiné de julho de 1972 a maio de 1974. Colaborador direto do general Spínola, na Guiné. Membro do MFA da Guiné.

(d) Florindo Morais:

Vai para a Guiné, como major, nos primeiros dias de junho de 1974, sendo o último comandante do batalhão de Comandos Africanos na Guiné e regressa na véspera da independência. 

Sessão de 27 de Agosto de 1996 > Intervenientes: cor António Ramos (e), embaixador João Diogo Nunes  Barata (f), gen Hugo dos Santos (g).

(e) António Joaquim Ramos (n. 1942 - m.1997):

Oficial pára-quedista. Ajudante de campo do gen António de Spínola na Guiné.

(f) João Diogo Nunes Barata:

Alf mil  na Guiné (1970). Secretário e, posteriormente, chefe de gabinete do Governador da Guiné, gen António de Spínola (a partir de Maio de 1971). Adjunto diplomático da casa civil do presidente da república, António de Spínola (Maio a Setembro de 1974). No desempenho deste cargo, colaborou no processo de descolonização. Delegado do MNE na Junta de Salvação Nacional.

(g) Hugo dos Santos (n. 1933 - m. 2010):

Oficial de infantaria. Fez comissões em Cabo Verde, Angola e Guiné. Membro do MFA, participou na preparação do 25 de Abril e foi responsável pela criação do MFA em Angola. Assessor do gen Costa Gomes. Integrou a delegação portuguesa que negociou a independência da Guiné e de Cabo Verde.

Sessão de 29 de Julho de 1997 > Entrevistado: gen José Manuel Bethencourt Rodrigues (h)

(h) José Manuel Bethencourt Rodrigues (n. 1918- m.2011):

Oficial de infantaria. Ministro do exército (1968-70). Comandante da zona militar leste de Angola (1971-73). Sucedeu a Spínola como governador-geral da Guiné (1973-74).

Sessão de 1 de Agosto de 1997 > Entrevistado: gen Almeida Bruno (i) e José Manuel Barroso (c).

(i) João de Almeida Bruno (n. 1935):

Oficial de cavalaria. Primeiro comandante do Batalhão de Comandos Africanos,  criado em 1972 na Guiné. Recebe a Torre e Espada em 1973, pelo seu desempenho neste teatro de operações. Preso no 16 de Março de 1974 («Golpe das Caldas»). Ajudante de campo do gen Spínola. 

Sessão de 11 de Abril de 2002 > Cor Carlos Fabião (j)

(j) Carlos Fabião (n. 1930 - m. 2006):

Oficial do exército. Fez diversas comissões em Angola e na Guiné. Membro do Movimento dos Capitães, da Junta de Salvação Nacional e colaborador próximo do general Spínola.  Último governador da Guiné.
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9242: Blogues da nossa blogosfera (48): O sítio do Ministério da Defesa Nacional: Encerramento, pela ADFA, da evocação dos 50 anos do início da guerra colonial...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9190: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte II): Agosto de 1974: rebelião da CCAÇ 21 (Bambadinca) e do BCAV 8320/72 (Bula)



Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.



1. Continuação da publicação de alguns excertos dos registos pessoais, manuscritos, do Coronel do CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz (1922-2001), no ano de 1974, no TO da Guiné.

Recolha e transcrição do seu filho Luís Gonçalves Vaz (LGV) que estava, nesta época (1973/74), com a sua família, em Bissau. É professor de matemática e ciências da natureza numa escola da zona de Braga. Aceitou, com muito gosto, o nosso convite para integrar a Tabanca Grande.


Nota do LGV:

"Peço desculpa, se ao transcrever algumas notas pessoais do meu falecido pai, Coronel Henrique Gonçalves Vaz ,troquei ou alterei o nome de algum militar português, interveniente nestes últimos meses, no Teatro de Operações da Guiné, pois foi sem intenção e devido à dificuldade de ler algumas passagens nos seus registos pessoais" (...)





 
Bissau, 2 de Abril de 1974
“…Visita do Brigadeiro Sales Grade (Director da Arma de Transmissões) e jantar ás 20h30…”
“… Às 08h14m levantamos voo, em avião do TAGP para a Aldeia Formosa, com o nosso Brigadeiro Comandante, o Tenente-Coronel Maia e Costa, Cmdt do Bat Eng, o Major Marques, [...] o Tenente Abrantes, adjunto do Nosso Brigadeiro e eu. Chegamos e o Ten Coronel Ramalheira, Cmdt de Batalhão, e o 2º Cmdt, Major Lopes, fizeram um Briefing, rápido [...] e depois de darmos uma volta ao aquartelamento, fomos pela estrada com uma escolta. [...]

Alferes Campos: Verdadeiro espírito de missão, entusiasmo e eficiência. Estivemos em 2 Pedreiras… De regresso paramos em Manpatá (Saltinho, no extremo sul do território) e vi a árvore que dá o nome à Povoação. Regressamos às 12h 00 e não aterramos em Buba. [...]"

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 3 de Agosto de 1974

"... Estamos de prevenção, pois hoje é o Aniversário do Massacre do Pigiguiti [, 3 de Agosto de 1959]. Tropas Europeias [...] nas Unidades. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 12 de Agosto de 1974


"...Reunião exploratória, dirigida pelo Comandante Militar com novas orientações do planeamento pela 4ª Repartição. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 16 de Agosto de 1974


"... Este foi um dia tremendo de trabalho e emocionante com as notícias de Bambadinca, em que a Companhia de Caçadores nº 21 a tomar conta do aquartelamento e a exigirem 300 contos por homem, para entregarem a arma e passarem à disponibilidade! Foi para lá o Governador Brigadeiro Fabião e ao fim da tarde foi recebida a notícia de que tudo estava resolvido. ..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 20 de Agosto de 1974


"... Despediram-se o Major Barreto Fernandes e o Tenente Abrantes, respectivamente, chefe da Secção de MM e Adjunto do Brig Comandante. Desde 17 que oficialmente se constitui o QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG . Publicado em Ordem de Serviço do Comando Chefe.

Soube-se hoje após o almoço que irá vigorar o esquema:
- Totalidade de pessoal (-6000) evacuado até 20 de Setembro de 1974 [...]
- Restantes até Dezembro (?)
- Entretanto vai-se “evacuando” o material  ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
Bissau, 22 de Agosto de 1974
"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320 (**) do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação [...]. "

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Bissau, 23 de Agosto de 1974

"... Durante o dia, as "resistências" do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima [...] e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...]  ceder!,  fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre  à atenção para a gravidade da situação. ..."

"... Reuni com a comissão que veio de Lisboa sobre os 'Planos de Retirada': Hipótese A e B. Mandei  fazer a lista uma a uma para [...]."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 24 de Agosto de 1974


"... O UIGE com o Batalhão do Cunha, o 'famigerado' Batalhão de Cavalaria nº 8320 de Bula, partiu a princípio da madrugada para Lisboa. Estive atento no Cais a vê-los partir! Disseram-me que até hastearam uma bandeira vermelha com a foice e o martelo!..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 26 de Agosto de 1974


"... Hoje à tarde, soube-se que sairíamos da Guiné até 31 de Outubro de 74 e em 10 de Setembro será proclamada a Independência da Guiné! FIM de uma triste aventura, muito Inglória a que nos levaram os [...]."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
Bissau, 30 de Agosto de 1974

"... Reunião no Palácio do Governador às 18 00 h, de acordo com os acontecimentos na Metrópole, de apoio ao General Costa Gomes e repúdio das manobras reaccionárias ..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

[Continua]

_________________

Notas do editor



(**) BCAV 8320/72:  Mobilizado pelo RC 3, partiu para a Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve sediadoe m Bula. Comandante: Ten Cor Xav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Constituído por 1ª Companhia (Bula, Pete, Nhamate, Bissau), 2ª Companhia (Bula, Nhamate) e 3ª Companhia  (Bula, Bissorã, Captió, Pete). Todos os comandantes de conmpanhia eram capitães milicianos.

Fonte: GOMES, C.M.; AFONSO, A. - Os anos guerra colonial: volume 13: 1972: negar uma solução política para a guerra. Matosinhos: QuidNovi, 2009, p. 116.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9184: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte I) (Luís Gonçalves Vaz)


Guiné > Bissau > 1973 > O Coronel Henrique Vaz, de óculos, ao lado esquerdo do general Bethencourt Rodrigues (ao centro),  numa cerimónia oficial, em Bissau, no ano de 1973.


1. Mensagem,de ontem,  de Luís Gonçalves Vaz [, foto à direita], dirigida ao Sousa de Castro, e com conhecimento aos nossos editores:

Leia [este texto em anexo] com cuidado,  por favor, e dê a ler ao editor-chefe [do Blogue Luís Graça & Camaradas da Gui´né], e em sintonia decidam se é ou não de publicar, já que nas notas pessoais, retiradas das agendas pessoais do meu falecido pai - e não censuradas por mim!!! – fala-se um pouco de alguns casos de indisciplina. Mas foi o que se passou (, muito embora possam ferir susceptibilidades).

Com mais ou menos "dignidade", o fim do Império Português teve episódios menos felizes.


A decisão é vossa, antigos combatentes e mentores destes blogues. Como tal aceito a decisão que for tomada, qualquer que ela seja, inclusive a sua publicação. Podem retirar algumas notas, se assim o entenderem.


Abraço, bom trabalho e bom fim de semana:
Luís Beleza Gonçalves Vaz
(filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz)


2. Resposta de LG:

Meus caros Sousa de Castro e Luis Vaz: As minhas melhores saudações para os dois. Muito obrigado pela confiança que em mim depositam, em mim e neste blogue que é de todos. Acabei de ler, na vertical, as notas pessoais do Cor Henrique Vaz. Julgo que são preciosas e publicáveis...É um bom serviço que o Luís presta à memória do pai e dos demais ex-combatentes no CTIG. Este período [, de Janeiro a Outubro de 1974,] foi doloroso para todos nós. Mas a sua gestão também foi inteligente e corajosa. Temos que saber todos, através do testemunho de atores como o pai do Luís, a importância e a delicadeza da missão... Vou publicar, mas antes vou apresentar o Luís à Tabanca Grande. Ele merece estar entre nós. Ele e a memória do seu pai. Um bom fim de semana. Luis Graça.

PS - Fico a aguardar a resposta explícita do Luís Gonçalvez Vaz, que - tanto quanto sei - viveu em Bissau com o pai e a restante família - este último ano de guerra e de paz, ao meu convite para ingressar na Tabanca Grande. Sentir-nos-emos honrados com a sua presença neste blogue que é de todos os camaradas e amigos da Guiné.

3.  Alguns excertos dos registos pessoais, manuscritos,  do Coronel do CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz, no ano de 1974, no Teatro de Operações da Guiné Portuguesa: 

Parte I: Jan/Fevereiro de 1974

Forto à esquerda: Cor CAv CEM Henrique Gonçalves Vaz (Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74)


Nomeação de pessoal para o Ultramar:

"…Que, segundo a nota nº 015372 Pº 102.020 de 09MAI73 da RO/DSP/ME, por despacho de 18ABRIL de 1973, foi nomeado para servir no CTIG, por ESCOLHA, nos termos da alínea a) do nº1 do artº 20º do Dec. Lei 49107 de 1969, o Exmº Coronel do CEM HENRIQUE MANUEL GONÇALVES VAZ, Comandante deste Regimento de Cavalaria nº 6, para substituição do Exmº Coronel do CEM JOSÉ GONÇALVES DE MATOS DUQUE, nas Funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG …"

(In: O. S. nº119 de 21/05/1973,  do Regimento de Cavalaria nº 6)

Nota biográfica do Coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz (comissão na Guiné)

(i) Em 1973 é nomeado (Escolhido,  segundo a Ordem de Serviço nº119,  de 21/05/1973,  do Regimento de Cavalaria nº 6) para servir novamente no Ultramar;

(ii) Embarca em Lisboa, em 7 de Julho, com destino desta vez para o CTIG (Comando territorial independente da Guiné), onde é colocado como Chefe do Estado Maior, e sob o comando do General Spínola, posteriormente do General Bettencourt Rodrigues;

(iii) Esta missão, numa altura de grandes ofensivas do inimigo de então, o PAIGC,  é levada até ao 25 de Abril, com alguns incidentes, sempre ultrapassados com muito "Mérito Profissional", nomeadamente  "estadas forçadas" em aquartelamentos no teatro de operações, devido a ataques ou flagelações do Inimigo a essas pequenas unidades militares na altura em que o Coronel Vaz as visitava como Chefe do Estado-Maior; bem como a sobrevivência à explosão de uma bomba (22/02/1974) que colocaram no QG (Quartel General), tendo-lhe causado apenas pequenas escoriações;

(iv)  A partir desta data (25 de Abril), e como um dos militares (do Corpo do Estado-Maior) mais graduados do Exército Português, neste teatro de operações, leva outra missão até ao seu términus, a de em colaboração com as restantes autoridades civis e militares, entregar paulatinamente, os territórios até então sob a administração portuguesa, ao PAIGC: O Comodoro Almeida Brandão desempenhou as funções de comandante-chefe interino, o tenente-coronel (graduado em Brigadeiro) Carlos Fabião as de delegado da Junta de Salvação Nacional e de representante do Governo Português na Província da Guiné e o Brigadeiro Galvão de Figueiredo de Comandante Militar do CTIG;

(v) Também terá simultaneamente de acantonar e desmobilizar algumas das tropas portuguesas africanas e de implementar o regresso de milhares de soldados portugueses ao Continente:

(vi) Só regressará a Lisboa no dia 14 de Outubro de 1974, cerca de seis meses após a Revolução de 25 de Abril;

(vii) Esta missão só será terminada na Comissão Liquidatária em Lisboa, onde permanecerá até Dezembro de 1976. (*)
 

Guiné > Chão Felupe > 1973 > O Coronel Henrique Vaz e o Brigadeiro Banazol (Comandante Militar do CTIG), durante uma cerimónia em Chão Felupe.


Guiné > Chão Manjaco > Pelundo > 1973 > O Coronel Henrique Vaz, Chefe do Estado-maior, comandando exercícios com fogos reais, na zona oeste da Guiné (Pelundo,1973).

Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.

Alguns excertos dos registos pessoais, manuscritos,  do Coronel do CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz, no ano de 1974, no Teatro de Operações da Guiné Portuguesa


Bissau, 6 de Janeiro de 1974

"...Às 16h 15m, houve uma reunião de análise operacional na Sala de Operações do CC (Comando Chefe). Decorreu bem. Foi a 1ª Operação planeada pelo nosso General (Bettencourt Rodrigues), seu Estado Maior e Estado-Maior do CTIG e demais ramos das Forças Armadas ... e nossa análise. No final, o General Comandante-chefe recordou-a com emoção!..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Bissau, 7 de Janeiro de 1974

"... Soubemos hoje à noite, que em Canquelifá foram mortos,  em combate, 6 Cubanos e mais 6 Africanos do IN (inimigo). Uma equipa fotográfica do Batalhão Fotocine, seguiu de madrugada para lá, a fim de obter imagens. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Nota de LGV: Nesse combate morreu um militar das NT,  o Ranger Luís Filipe Pinto Soares (Furriel Miliciano de Operações Especiais), Companhia de Caçadores 3545.


Bissau, 28 de Janeiro de 1974

"... Visita a Bambadinca, voamos num Dornier 28 dos TAGP. Regressamos depois do almoço. De tarde visitou-se o Bat de Engenharia e o Bat de Serviços de Material na ... . Em seguida Briefing no CC (Comando Chefe)...."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Bissau, 1 de Fevereiro de 1974

"... Às 07h30m estava no QG a preparar os despachos dos dois Brigadeiros. Às 19h50m, estava a sair do Quartel General. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 6 de Fevereiro de 1974

"... Em visita particular, vem ao QG o General Câmara Pina, antigo CEME. Foi recebido na Sala de Operações [...]. No final conversou no gabinete do Comandante do CTIG. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 22 de Fevereiro de 1974

"... Cerca das 19h e 10 m quando me encontrava na gabinete do brigadeiro Comandante Militar (Banazol), com este e com o Brigadeiro 2º Comandante (Figueiredo), rebentou um explosivo colocado na casa de banho que a destruiu, assim como algumas das dependências contíguas. A forte deslocação do ar rebentou a porta e os vidros que foram projectados em frente, onde se encontrava o Brigadeiro 2º Comandante, de pé, e que caiu na direcção onde eu me encontrava sentado. O Brigadeiro Comandante Militar sentado na minha frente ainda sofreu. O 2º Comandante foi levado para o Hospital de Bissau, visto sangrar bastante de uma ferida na parte posterior da cabeça. Eu tive leves arranhões, de que me tratei no posto de saúde da CCS (Comando da Companhia de Serviços). Estavam também presentes, no Gabinete Central, o Major Ferreira da Costa e o Tenente Abrantes. Também presentes, nos respectivos gabinetes, a minha ordenança (Ernesto), o Sambu J., 1º cabo e ordenança do 2º comandante e o Jaló (Djaló) meu condutor, estava também no meu gabinete.

Ninguém ficou ferido gravemente. Foi um verdadeiro milagre! ..." (**)

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


[Continua]
_______________

Nota do editor:
 
(*) Dados Biográficos do Coronel Henrique Vaz

Henrique Vaz nasceu em Barcelos em 10 de Março de 1922, e faleceu em 26 de Agosto de 2001. Viveu nesta cidade até concluir os seus estudos secundários no Colégio Alcaides de Faria.

Depois de frequentar os preparatórios na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, ingressa na Escola do Exército. Em 1944 termina o Curso de Cavalaria na Escola do Exército enquanto na Europa decorria a guerra.

Toda a sua vida profissional foi dedicada ao Exército, e enquanto decorreu, o nosso país foi sujeito a grandes transformações políticas e sociais que alteraram definitivamente o rumo da sua história. Os militares foram protagonistas activos dessas alterações. A sua formação fica concluída depois de tirar o curso do Estado-Maior já com a patente de capitão. 

A carreira militar de Henrique Vaz, depois de concluir em 1959 o Curso Complementar do Estado-Maior, vai decorrer entre as ex-colónias e o Continente. Em 1963 tem início a sua comissão em Angola. Uma vez regressado, irá chefiar o Estado-Maior da Região Militar do Porto. Em 1972 está a comandar o Regimento de Cavalaria Nº6 (Dragões de Entre Douro e Minho) na cidade do Porto e no ano seguinte parte para Bissau onde é colocado como chefe do Estado Maior do Comando Territorial Independente da Guiné, sendo então Governador e Comandante-Chefe desta província o general Spínola.

As condecorações e louvores referentes a todo este período, atestam a envergadura profissional, a sua dedicação e o seu perfil de militar culto.

O 25 de Abril que traz consigo o final da guerra colonial, conflito que na Guiné se agudiza de forma particular, vai encontrar o coronel Henrique Vaz chefiando o Estado-Maior deste Comando Territorial, mas já com o general Spínola ausente. Apesar de não estar inicialmente ligado ao M.F.A., era considerado pelos seus camaradas como um oficial íntegro, competente e não afecto ao regime deposto. Será ele um dos militares responsável pela organização do acantonamento de milhares de soldados portugueses, pela desmobilização de parte dos soldados portugueses guineenses e pelo regresso ao Continente de milhares de soldados. 

O tenente-coronel Carlos Fabião, graduado em Brigadeiro,  assumirá entretanto as funções de Governador da Guiné. Passado seis meses do 25 de Abril, ambos embarcam em meados de Outubro rumo a Lisboa. A transferência de poder na Guiné-Bissau foi considerada exemplar, tendo cumprido, na íntegra, todos os prazos estipulados no acordo de Argel, transferência esta que ocorreu no dia 10 de Setembro de 1974.

Até ao ano da sua aposentação, em 1982, prestará serviço como juiz presidente, no 1º Tribunal Militar Territorial do Porto. Como Juiz Presidente deste tribunal, terá mais uma ocasião de demonstrar o seu sentido de justiça e imparcialidade no julgamento de muitos casos "difíceis" e polémicos, não pactuando com qualquer tipo de pressões.

Quando passou à reserva, no início dos anos oitenta, regressou definitivamente a Barcelos onde se instalou na sua casa de Levandeiras, rodeado dos seus livros, das suas árvores, muitas das quais ele próprio plantou, e da atenção da sua numerosa família.

 Os Filhos do Coronel Gonçalves Vaz
Levandeiras, Fevereiro de 2004


(**) Comentário que Luís Gonçalves vaz deixou no blogue Coisas da Guiné, do nosso camarada A. Marques Lopes, a propósito deste atentado:

Caro Editor: Gostava apenas de acrescentar ao seu texto, que considero interessante, de que me lembro como se fosse hoje!... Sim é verdade que " ...no dia 22 de Fevereiro de 1974 rebentou uma carga explosiva no QG de Bissau, ficando ferido o segundo-comandante...". Mas, além do 2º comandante, o Coronel Galvão de Figueiredo (o caso mais grave), também o Chefe do Estado Maior do CTIG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, sofreu algumas escoriações! Ainda me lembro de o ver a chegar a casa, com os óculos sem lentes, a cara cheia de vidros e algum sangue na zona dos ouvidos.... mas com um grande sorriso, a comunicar-nos (à família): "Estejam descansados que eu estou bem,ainda não foi desta ..." 

No dia seguinte estive a visitar a zona da explosão e ouvir alguns soldados que assistiram,  no momento da explosão, à projecção de portas e janelas pela parada fora..... Segundo esses testemunhos, o impacto foi deveras impressionante, nomeadamente a destruição dos gabinetes dos Oficiais do Estado Maior do CTIG, especialmente o do Chefe do Estado Maior, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, que ficou totalmente destruído.... 

Recentemente ouvi,  num programa da Televisão, os pormenores do transporte dos explosivos para "essa acção terrorista" no QG em Bissau, bem como o transporte dos detonadores... Foram transportados no interior de melões por militares portugueses, pertencentes às Brigadas do PRP [, Partido Revolucionário do Proletariado]..... Às horas da explosão, tudo indica que não teriam "intenção de matar militares", talvez apenas desmoralizar "as nossas forças" no Teatro de Operações da Guiné!

27 de Novembro de 2011
Luís Beleza Gonçalves Vaz
(filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz)


27 de Novembro de 2011 23:06

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9136: Troca dos últimos prisioneiros: 35 guerrilheiros do PAIGC e 7 militares portugueses (Parte I) (Sousa de Castro / Luís Beleza Gonçalves Vaz)

1. Mensagem do nosso tabanqueiro nº 2, o mais antigo, Sousa de Castro (ex- 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74; minhoto, técnico fabril dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, hoje reformado), enviada a Luís Vaz, com conhecimento ao nosso blogue:

Data: 4 de Dezembro de 2011 21:53
Assunto: Troca dos últimos prisioneiros na Guine

Caro Luís Vaz,
Aradeço muito o documento que acaba de me enviar, é de extrema importância para não só esclarecer como foi feita a troca dos prisioneiros entre as Forças Armadas e o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), como também ajudar a completar o puzzle do teatro de operações na Guiné .

Por outro lado convido-o a visitar estes blogues que têm muito a ver com a História sobre a Guerra colonial na Guiné. Fico a aguardar mais histórias para possível divulgação neste ou noutros blogues se achar conveniente.

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

http://coisasdaguine.blogspot.com/

Com deferência,

Sousa de Castro

2. Mensagem de Luís Vaz ao nosso camarada e amigo Sousa de Castro:

Data:: domingo, 4 de Dezembro de 2011 16:42
Para:
sousadecastro@gmail.com
Assunto: Troca dos ultimos prisioneiros na Guine

Caro Sousa Castro:


Muito obrigado por me ter respondido de forma tão célere!

Em primeiro lugar quero informá-lo de que não sou ex-combatente, apesar de ter vivido em 1973/74 na Guiné Bissau, pois acompanhei o meu falecido pai, Coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz na sua última comissão em África, em que foi o último Chefe do Estado-Maior do CTIG (do QG) sobre o Comando do General Bettencourt Rodrigues.

Depois do 25 de Abril, sobre o comando do então Brigadeiro Fabião, e em articulação com outros oficiais do Estado–Maior, implementaram os dispositivos de retracção para acantonarem e retirarem deste Teatro de Operações os milhares de militares portugueses presentes nesta Província, tendo só abandonado a Guiné, no último voo com tropas Portuguesas, no dia 14 de Outubro de 1974 na companhia do Brigadeiro Fabião.

Como tal, e ao realizar a Biografia do meu falecido pai, Coronel de Cavalaria e do Estado-Maior, li muitos documentos classificados, do seu arquivo pessoal, e poderei acrescentar algumas informações sobre a troca dos últimos prisioneiros de guerra, com o PAIGC.

Mantivemos 35 prisioneiros (guerrilheiros do PAIGC) na ilha das Galinhas até a véspera do reconhecimento da Independência da República da Guiné-Bissau por parte do Governo Português. Pelo lado do PAIGC, mantinham 7 prisioneiros (4 soldados e 3 primeiros Cabos, do nosso Exército), um dos quais era o soldado António Baptista, que tinha sido dado como morto em 17 de Abril de 1972, numa emboscada em Madina-Buco, onde as nossas tropas sofreram 1 desaparecido e 10 mortos, 6 dos quais queimados na explosão da viatura em que seguiam.

A troca destes sete prisioneiros na posse do PAIGC (retidos no Boé) por 35 guerrilheiros do PAIGC (retidos pelas nossas tropas na ilha das Galinhas) , foi feita segundo o estipulado pelo Acordo de Argel, e foi marcada para o dia 9 de Setembro, em Aldeia-Formosa, no entanto o PAIGC não compareceu nessa data como estava combinado, só no dia 14 de Setembro a troca se realizou.

Estiveram presentes nesse ato pelas nossas tropas, o Major de Inf Tito Capela (Chefe da 2ª Rep. Do QG), o Major de Art Aragão, o Capitão-tenente Patrício, o capitão de Inf Manarte e o Furriel miliciano Elias (da 2ª Rep/QG/CTIG). Por parte do PAIGC, estiveram presentes os seguintes elementos: Manuel dos Santos (Sub Secretário Informação/Turismo da GB), Carmen Pereira (Membro do Conselho de Estado/GB) e Iafai Camará (Comandante do Aquartelamento de Aldeia Formosa).

Imediatamente após a troca, foi feita a identificação: os soldados António Teixeira, Jacinto Gomes, António da Siva Baptista, Manuel Ferreira Vidal ;e os 1ºs cabos Duarte Dias Fortunato, Virgílio da Silva Vilar e o Manuel Fernando Magalhães Vieira Coelho; tendo depois os prisioneiros e a comitiva regressado de avião a Bissau.

Ficaram instalados no Hospital Militar de Bissau e, no dia seguinte, dia 15 de Setembro de 1974, seguiram por via área para Lisboa.

Luís Beleza Gonçalves Vaz

(filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz,

Chefe do Estado-Maior do CTIG,  1973/74)

Com os meus melhores cumprimentos>

Luís Beleza G. Vaz

3. Comentário do editor:

Agradecemos vivamente ao Sousa de Castro e ao Luís Vaz a partilha desta informação. E aproveitamos a oportunidade para oferecer ao Luís Vaz as páginas deste blogue para, se assim o entender, fazer chegar a um público mais vasto, de amigos e camaradas da Guiné, a informação e o conhecimento privilegiados que certamente possui sobre os últimos meses da presença soberana de Portugal, entre 1973 e 1974, naquela terra a que continuamos ligados pelos laços da História, da Língua e da Amizade.  Por outro lado, achamos um gesto de grande nobreza e de amor filial a iniciativa que se propôs o Luís Vaz ao escrever (e possivelmente ao querer publicar) a biografia do seu pai que serviu o seu país num momento único e irrepetível da sua História. Bem haja! (LG)

PS - O drama dos nosso camaradas que ficaram retidos pelo PAIGC em Conacri e depois na região do Boé, até ao final da guerra, já aqui deu azo a muitas páginas, em especial o caso do nosso querido "moto-vivo do Quirafo", e membro da nossa Tabanca Grande, o António Batista, sem esquecer o caso, não menos dramático, do José António de Almeida Rodrigues que conseguiu fugir do cativeiro, seguindo o curso do Rio Corubal até ao Saltinho.