segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3432: Efemérides (13): A Ordem Militar da Torre e Espada faz 200 anos (José Martins)

O distintivo da antiga Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito é formado por uma estrela de cinco pontas de esmalte branco, perfilada de ouro, assente sobre uma coroa de carvalho, de esmalte verde, perfilada e frutada de ouro, tendo entre as duas pontas superiores uma torre, de ouro e iluminada de azul, sendo a estrela carregada, ao centro, de um circulo de ouro com uma espada de esmalte azul, posta em faixa sobre uma coroa de carvalho de esmalte verde e realçada de ouro, tudo envolvido por coroa circular de esmalte azul, filetada de ouro, com a legenda « Valor, Lealdade e Mérito », em letras maiúsculas de ouro; no reverso, ao centro e em campo de esmalte azul, o escudo nacional, circundado da legenda «República Portuguesa», em letras maiúsculas, de ouro.


Os 200 anos da Ordem Militar da Torre e Espada
de Valor, Lealdade e Mérito

por José Martins
(Ex- Fur Mil Trms,
CCA5, Canjadude, 1968/70)


Considera-se que foi criada em 1808, ano da chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, em virtude da ameaça, concretizada, da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, comandadas, na que ficou conhecida como a primeira Invasão Francesa, pelo General Junot.

Mas, a origem, ainda que não oficial desta condecoração, remonta segundo relatos e documentos, ao tempo de D. Afonso V, que reinou de 1438 a 1481, cujo cognome era o Africano, devido ás expedições que organizou ao Norte de África, passando, inclusivamente, a intitular-se “Rei de Portugal e dos Algarves de aquém e alem mar em África”.

À condecoração a que se alude, teria atribuído o nome de “Ordem da Espada”, “Ordem da Espada e Torre” ou “Ordem da Espada de Sant’Iago”, baseado numa lenda em que, o príncipe cristão que retirasse uma espada da Torre de Menagem do Castelo de Fez, faria terminar o domínio árabe em África, passando este para os cristãos.

Esta condecoração e mesmo a lenda, comparável com as lendas dos antigos cavaleiros medievais, queria incentivar os portugueses a partirem para África, não só na busca de novas terras, mas também de glória pessoal, já que esta condecoração lhes traria as honras e privilégios atribuídos, outrora, aos membros das Ordens Militares.

Voltando a 1808 e á viagem da família real para o Brasil, foram os diversos navios que constituíam a frota portuguesa, acompanhados e protegidos por uma esquadra da Marinha de Guerra Britânica, a quem havia que agradecer, galardoando os mais proeminentes dos seus membros: o Almirante e os Oficiais.

Como estes não eram católicos, não lhes era possível, pelas disposições que regulavam as Ordens Nacionais, serem galardoados por qualquer das existentes, que eram provenientes das Antigas Ordens Militares Portuguesas. Desta forma, só criando uma nova condecoração, que não tivesse as restrições apontadas, pudesse ser atribuída a cidadãos não nacionais e de credo diferente.

No entanto, no decreto de criação da Ordem da Torre e Espada, com a legenda “Valor e Lealdade” refere a sua origem na mítica Ordem da Espada, criada em 1439, e cujos primeiro galardoados foram o Almirante e Oficiais da esquadra britânica.

Em 1832, a 28 de Julho, D. Pedro, regente em nome da sua filha a rainha D. Maria II, reforma a condecoração, atribuindo-lhe o nome de “Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”, passando também a galardoar o mérito pessoal, feitos de armas, coragem e abnegação cívica, ou serviços prestados na carreira pública, com destaque para a carreira militar.

Foram-lhe atribuídos quatro graus: Grã-cruz, Comendador, Oficial e Cavaleiro. Passou a ser considerada a maior condecoração portuguesa, com precedência sobre todas as outras, estatuto que ainda hoje mantém. O grau de Grande Oficial, foi introduzido mais tarde, em segundo lugar na ordem decrescente.

Com a abolição da Monarquia em 1910, foram também extintas as Antigas Ordens, com excepção para a Ordem da Torre e Espada.

Em 1917, com a entrada oficial de Portugal na Grande Guerra, já que nos encontrávamos envolvidos nela desde 1914 nas colónias, assim chamadas na altura, cujas fronteiras confinavam com as possessões alemãs, foi decidido restabelecer as Antigas Ordens como ordens de mérito civil e/ou militar.

A remodelação efectuada em 1917, que considerava como passível da atribuição desta Ordem a feitos praticados no campo de batalha, actos de coragem e abnegação cívica, bem como altos e assinalados serviços prestados à Humanidade, à Pátria ou à República, passou, a partir de 1919, a ser extensiva a serviços prestados no comando de tropas em campanha.

Actualmente, a Ordem pode ser atribuída para galardoar méritos excepcionalmente relevantes na chefia da Nação, pelo que é atribuído o Grande-colar aos Presidentes da República eleitos e no final do mandato ou no comando de tropas em campanha; feitos heróicos, militares ou cívicos; abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade.

Além do Grande Colar, a Ordem da Torre e Espada tem cinco graus, que conferem equiparação a postos militares, cujos agraciados não disponham de uma patente igual ou superior, sendo a Grã-cruz (Oficial General), Grande Oficial (Coronel) Comendador (Tenente-coronel), Oficial (Major) e Cavaleiro (Alferes).

A condecoração é concedida “com palma”, quando se destina a galardoar feitos heróicos em campanha militar.




Durante as Campanhas Militares de África, de 1961 a 1974, foram condecorados por feitos nas Campanhas, os seguintes militares (ver nota), por ordem do ano de atribuição:

1962


Carlos Miguel Lopes da Silva Freire, General do Exército, comandante da Região Militar de Angola, Grau de Comendador, atribuída a título póstumo. Faleceu em acidente em 10 de Novembro de 1961. Teatro de operações: Angola.

Venâncio Augusto Deslandes, General PilAv da Força Aérea, grau de Comendador. Teatro de operações: Angola.

1963

Francisco Holbeche Fino, General do Exercito, comandante da Região Militar de Angola, grau de Comendador. Teatro de Operações: Angola.


José Paulo dos Santos, 2º Sargento de Infantaria da Companhia de Caçadores nº 165, Grau de Cavaleiro com palma, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 16 de Abril de 1963. Teatro de operações: Angola.

1964

João Nunes Redondo, Furriel Miliciano de Infantaria do Batalhão de Caçadores nº 356, Grau de Cavaleiro com palma, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 16 de Junho de 1963. Teatro de operações: Guiné.

1965

Ângelo dos Santos Rodrigues, Furriel Miliciano do Pelotão de Caçadores nº 965, Grau de Cavaleiro com palma. Teatro de operações: Angola.

Manuel Marques Sardão, Furriel Miliciano Enfermeiro do Batalhão de Caçadores nº 664, Grau de Cavaleiro com palma, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 22 de Outubro de 1965. Teatro de operações: Angola.

1966

Alberto Andrade e Silva, General do Exército, Comandante-chefe das Forças Armadas de Angola, Grau de Comendador. Teatro de operações: Angola.

Duarte Manuel de Amarante Rocha Pamplona, Capitão de Cavalaria da Companhia de Cavalaria nº 1505, Grau de Oficial com palma. Teatro de operações: Moçambique.

1968

Arnaldo Schulz, General do Exército, Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, Grau de Comendador. Teatro de Operações: Guiné.

Horácio Francisco Martins Valente, Capitão Miliciano de Artilharia Comando, Grau de Oficial (atribuída a título póstumo, nota do editor). Teatro de Operações: Moçambique.

1969

António Fernão Magalhães Osório, Major de Infantaria do CAOP (Comando de Agrupamento Operacional), Grau de Oficial, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 20 de Abril de 1970. Teatro de operações: Guiné.

António Augusto dos Santos, General do Exército, Comandante-chefe das Forças Armadas de Moçambique, Grau de Comendador. Teatro de Operações: Moçambique.

Jaime Rodolfo de Abreu Cardoso, Capitão Miliciano de Infantaria Comando da 7ª Companhia de Comandos, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Moçambique.

José Manuel Ferreira Gaspar, 2º Sargento de Infantaria Comando, Grau de Cavaleiro. Teatro de Operações: Guiné.

José Manuel Garcia Ramos Lousada, Capitão Pára-quedista da Força Aérea, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Moçambique.

Marcelino da Mata, 2º Sargento de Engenharia Comando do Batalhão de Comandos Africanos, Grau de Cavaleiro. Teatro de Operações: Guiné.

1970

Cherno Sissé, Furriel de Infantaria Comando do Batalhão de Comandos Africanos, Grau de Cavaleiro. Teatro de Operações: Guiné.

Guilherme Almor Alpoim Calvão, Capitão-Tenente Fuzileiro Especial da Marinha, Grau de Oficial com palma. Teatro de Operações: Guiné.

Hélio Augusto Esteves Felgas, Coronel de Infantaria, do Exercito, comandante do sector L. Grau de Oficial. Teatro de Operações: Guiné.

João Bacar Jaló, Capitão Graduado de Infantaria Comando, comandante das milícias fulas, Grau de Oficial atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 16 de Abril de 1971. Teatro de Operações: Guiné.

José Augusto Nogueira Ribeiro, Tenente Miliciano de Infantaria, da 2ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 14, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Moçambique.

Manuel Diogo Neto, Coronel PilAv da Força Aérea, da Base Aérea nº 12, Grau não referido. Teatro de Operações: Guiné.

Maurício Leonel de Sousa Saraiva, Capitão de Infantaria Comando da 9ª Companhia de Comandos, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Moçambique.

1971

Manuel Isaías Pires, 2º Sargento de Infantaria Comando do Centro de Instrução de Comandos, Grau de Cavaleiro. Teatro de Operações: Angola.

Manuel Martins Teixeira, 2º Sargento Fuzileiro Especial da Marinha, Grau de Cavaleiro com palma. Teatro de Operações: Angola.

1972

António Ribeiro Pais, 2º Sargento Fuzileiro Especial da Marinha, Grau não especificado. Teatro de Operações: Moçambique.

Francisco da Costa Gomes, General do Exército, Comandante-Chefe das Forças Armadas de Angola, Grau de Comendador. Teatro de Operações: Angola.

Orlando José Saraiva Gomes de Andrade, Coronel PilAv da Força Aérea, da Base Aérea nº 12, Grau não referido. Teatro de Operações: Guiné

1973

Álvaro Manuel Alves Cardoso, Capitão Miliciano de Cavalaria Comando, comandante da 3ªCCmds na Guiné, comandante dos "Flechas" em Angola, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Angola.

António Alves Ribeiro da Fonseca, Capitão Miliciano de Infantaria Comando da 35ª Companhia de Comandos, Grau de Oficial com palma. Teatro de Operações: Guiné.

António Sebastião Ribeiro de Spínola, General do Exército, Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, Grau de Grande Oficial com palma. Teatro de Operações: Guiné.

Fernando Gil Lobato Faria, Capitão de Infantaria Comando, comandante da 31ª Companhia de Comandos, Grau de Oficial com palma. Teatro de Operações: Angola.

João de Almeida Bruno, Major de Cavalaria Comando, comandante do Batalhão de Comandos Africanos, Grau de Oficial com palma. Teatro de Operações: Guiné.

José Fernando de Almeida Brito, Tenente-coronel PilAv da Força Aérea, da Base Aérea nº 12, Grau não especificado, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 28 de Março de 1971. Teatro de Operações: Guiné.

Apesar de não ter sido atribuída no período a que anteriormente aludimos, é de realçar a atribuição da Ordem da Torre e Espada a um civil, HELDER COSTA ALMEIDA, que comandava o navio "Ponta de Sagres" da Marinha Mercante Portuguesa, por ter retirado do cais do porto de Bissau, na Guiné-Bissau, cerca de duas mil e quinhentas pessoas, no inicio de Junho de 1998, enquanto se davam combates na cidade, entre as tropas do Presidente João Bernardo “Nino” Vieira e Ansumane Mané que comandava os militares revoltosos.


Em boa hora a Liga dos Combatentes, também ela galardoada com o grau de Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, quando ainda se denominava Liga dos Combatentes da Grande Guerra, tomou a seu cargo a organização da comemoração do duplo centenário, onde estarão presentes os estandartes das unidades militares, paramilitares, humanitárias, autárquicas e outras entidades civis agraciadas com esta condecoração, homenageando desta forma, não só os agraciados que ainda se encontram entre nós, mas sobretudo aqueles que a receberam a título póstumo, porque a mereceram no momento em que à Pátria entregaram a própria vida.

José Martins

Sócio LC nº 80.393/C
8 de Novembro de 2008


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Notas:
1. A lista está certamente incompleta, pelo que se depreende da imagem abaixo. Assim vamos procurar saber quem foram os condecorados com a TE durante a Guerra Colonial/Ultramar, as datas de atribuição e os TO.
2. Em 2007, a Assembleia-Geral da Liga dos Combatentes, antecipando-se à comemoração, decidiu atribuir no ano do bi-centenário, o estatuto de Sócios Honorários a todos os condecorados, ainda vivos, com a Ordem da Torre e Espada. Associou-se à cerimónia, o Presidente da República, Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Nacionais. que conferiu pessoalmente o título de Sócios vitalícios da Liga aos 15 condecorados presentes.


Da esquerda para a direita, Gen José Lemos Ferreira, Cor. José Nogueira Ribeiro, Sarg.-Mor Fuzileiro Manuel Martins Teixeira, Ten-Gen. Joaquim Chito Rodrigues (não Torre Espada, e Presidente da LC), Sarg.-Mor Fuzileiro António Ribeiro Pais, Gen. Ramalho Eanes, Prof. Cavaco Silva (não T Esp e PR actual), Cor. "Comando" António Ribeiro da Fonseca, Dr. Jorge Sampaio, Cor."Comando" Fernando Lobato Faria, Maj-Gen. José Ramos Lousada, Cor."Comando" Jaime Neves, Gen. "Comando" João de Almeida Bruno, Ten-Cor. "Comando" Marcelino da Mata e Gen. Gabriel Espirito Santo.
Agradecemos ao Cor. Manuel A. Bernardo, que prontamente nos deu a identificação dos nomes bem assim como a informação que a seguir amavelmente nos prestou: "Na revista de Set 2008, no verso da contra-capa está anunciado um livro feito por mulheres que estiveram nos territórios ultramarinos (caso da minha), ou apoiaram os maridos de outra maneira, assim como mulheres actualmente nos efectivos das FA. O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, no seu programa de ontem já o difundiu. " Manuel Bernardo.
A Liga dos Combatentes comemora os duzentos anos da Ordem, o 90º aniversário do Armistício e o 85º da Liga. A cerimónia realiza-se no dia 15 de Novembro próximo, pelas 14h30, junto ao Monumento aos Combatentes Por Portugal em Belém.
3. Artigos da série em

Guiné 63/74 - P3431: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (3): Um homem da palavra e da acção (Luís Graça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > 1969 > O sortilégio e a beleza do Rio Geba, entre o Xime e e Bambadinca, o chamado Geba Estreito, numa das fotos aéreas magníficas do Humberto Reis, ex- Fur Mil Op Esp, CCA 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Boa parte das imagens inseridas no 1º livro do Beja Santos (Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncós) e no 2º livro (Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio) são da autoria do nosso querido amigo e camarada Humberto.

O 2º livro é lançado amanhã, dia 11, no Museu da Farmácia, em Lisboa, ao Bairro Alto, por volta das 18h30. Uma festa para qual está todo o mundo convidado.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (nordeste) do aquartelamento, a ligação (B) à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá (C), paralela à antiga estrada (A) que cortava a tabanca ao meio. Ao fundo, o Rio Geba Estreito (E). Junto ao rio, as instalações do Pelotão de Intendência (D).

Fotos: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados


Pré-texto, por Luís Graça.

(In: Mário Beja Santos: Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio. Lisboa: Temas e Debates, e Círculo de Leitores. pp. 9-12. (*)


Meu caro Mário, amigo e camarada da Guiné,

Pedes-me um pre-fácio para o teu segundo tomo do Diário da Guiné. Gentileza tua. Não creio que precises de alguém, como eu, para essa acção de falar no princípio de. E muito menos em teu nome ou dos teus irãs. Porque no princípio não era o verbo, mas a acção. E tu foste um homem de acção, um actor, um Tigre de Missirá, um Tigre Vadio, simultaneamente presa e predador. Mas também um homem da (e de) palavra. Um homem do texto e do pretexto.

Fui o teu primeiro editor e leitor no meu/nosso blogue. Religiosamente, semanalmente, recebi os teus episódios dessa avassaladora Operação Macaréu à Vista que, por economia de análise editorial, quiseste dividir em duas partes. Falo agora da Parte II que, cronologicamente, aparece no nosso bogue em Setembro de 2007 e deu origem a 50 episódios semanais… (**).

Acontece que não tenho a distância afectiva (e efectiva) para te escrever, de encomenda, o dito pre-fácio. Fui demasiado observador participante. E seguramente cúmplice das tuas (des)venturas, além de fautor das minhas. De Agosto de 1969 a Maio de 1970, nós estivemos lá. Juntos. Muitas vezes próximos e distantes. Solidários e solitários. Nesse pedaço do TO (teatro de operações) que nos coube em sorte ou azar. Sector L1, leia-se sector 1 da zona leste, com epicentro em Bambadinca. Ainda hoje tenho a sensação que passámos, no total, quase dois anos das nossas vidas, dos nossos verdes anos, circulando à volta de Bambadinca, o Corubal e o Geba Estreito, entre Missirá e o Xitole. Nós e os nossos queridos nharros. Tu e o teu Pel Caç Nat 52. Eu e a minha CCAÇ 12.

Decididamente não te escrevo o inútil pre-fácio. Mas, em contrapartida, ofereço-te um pré-texto, sob a forma de um poema que evoca os barqueiros-guerreiros, que fomos e cujos fantasmas ainda hoje cambam o Geba ou poisam nos altos nos poilões da nossa Tabanca Grande.

É a minha forma de homenageá-los e de exorcizá-los. Quanto ao teu livro, não tenho dúvidas que vai ter o sucesso do primeiro e tornar-se uma referência incontornável para quem, no futuro, se interessar pela literatura memorialística da guerra colonial. Fizemos a guerra e contámo-la em primeira mão.

Um Alfa Bravo (abraço) do Luís e dos demais camaradas da Guiné
(http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/)



O Rio Geba, entre o Xime (margem esquerda) e o Enxalé (margem direita), numa foto de Carlos Marques dos Santos, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), afecta ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Foto: © Carlos Marques Santos (2005). Direitos reservados

No Geba Estreito ou os doze contos do barqueiro de Caronte
(poema de Luís Graça)


1. Um homem passa o rio,
a nado.
Um homem atravessa a ponte
sobre o rio.
Um homem cai ao rio,
baleado.
Há uma piroga
no tarrafo.
Metralhada.
E flamingos brancos,
tingidos de vermelho.

2. Um homem pensa na jigajoga
da vida e da morte.
Um homem olha-se ao espelho.
Um homem porfia,
e nem sempre alcança.
Um homem tem uma crise,
de confiança.
Um homem do norte
camba o rio.
A sul.
A vau.
O Geba Estreito.
Que a última coisa a perder
é a esperança.

3. Um homem desenha uma ponte,
imaginária,
entre dois pontos
de cambança.
Um homem põe-se a pau,
a caminho do Mato Cão.
O inferno em frente,
o rio serpente,
a bolanha de Finete,
um very-light, um foguete.

4. E Lisboa ali tão longe...
tão azul,
tão gregária.
Lisboa, o cais
de Alcântara,
uma multidão de pontos negros.
Outra ponte,
outro rio.
Saudades a mais.
Um nó na garganta.

5. Um homem do norte
faz o corte
epistemológico
dos pré-conceitos etnocêntricos.
Quem sou eu, viajante ?
Quem és tu, barqueiro ?

6. O homem é o mal escatológico
que atravessa o céu
de bronze.
O homem é o jagudi
em voos concêntricos.
O homem é a hiena que ri.
O ferreiro,
de outrora, hoje o dari.
O homem é o pássaro-bombardeiro.
O animal alado.
O helicanhão.
O falo de fogo.
O obus catorze.
O RPG Sete.
O Katiusha.

7. Um homem é apanhado pelo macaréu
da história.
Como um cão.
Sem glória.
E na bolanha de Finete
descobre que não há ponte
nem salvação,
que há terra e céu,
mas não há elo de ligação.

8. Um homem perde a memória,
ao afundar-se no tarrafo do Geba.
Um homem chama o barqueiro
da outra margem.
Em vão.
O barqueiro faz contas
à vida
que custa manga de patacão.
E ao progresso que não chega,
ao motor de explosão,
ao motor da Yamaha,
à explosão dos cinco sentidos,
aos Strella,
aos Katiusha,
à liberdade de circulação.

9. Um homem passa a ponte,
a passo,
a peso pluma.
A ponte armadilhada.
O barqueiro conta um conto
em cada viagem.
O barqueiro de Caronte.
Um peso, irmão.
Um bilhete de ida
Sem regresso.

10. Um homem exorta o soldado
a que leve a guerra a peito.
É o capitão,
medalhado,
que nunca irá chegar a oficial general.
O fantasma do capitão-diabo,
vagueando pelo Cuor.
Estatuado,
na capital.

11. Vou no Bissau,
num barco à vela,
no barco da Gouveia.
Aproveito a maré-cheia
e o cacimbo sobre Ponta Varela.

12. O milícia, número tal,
vai morrer,
exangue,
como a última estrela
da manhã.
E eu espreito o rio,
da minha torre de Babel.
Um terceiro homem pára.
No semáforo.
Vermelho.
De sangue.
A caminho de Madina/Belel.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3422: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (2): O exemplar nº 1, autografado, dedicado à malta do blogue

5 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3409: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (1): Entrevista à Gazeta das Caldas

(**) Vd. poste de 31 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3386: Operação Macaréu à vista - II Parte (Beja Santos) (50): Fim: Acalma-te, Mário, a guerra acabou

Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)

Mensagem do Helder Sousa, ex-Fur Mil de Transmissões TSF
Bissau e Piche
1970/72


Caros Editor e Co-Editores

Em anexo envio um texto com umas observações que faço sobre um livro que li e que tinha em tempos prometido dar algumas indicações.

Reenvio também uma foto que já tinha remetido em finais de Abril com a capa desse livro.

Aproveito para também vou enviar uma foto minha com o "visual" actual.


“NO OCASO DA GUERRA DO ULTRAMAR”

(Livro de Fernando de Sousa Henriques)


Já faz algum tempo que mencionei o facto de ter tido a oportunidade de encontrar mais um livro que se debruça sobre a questão da participação na guerra, concretamente na Guiné, e particularmente na zona Leste.

A propósito disso, o Luís Graça pediu-me se podia fazer um pequeno resumo de apresentação, ao que eu me dispus mas, como entretanto tinha emprestado o livro, só agora isso será possível e acho que ainda vai a tempo, porque não lhe vi referências no nosso Blogue.

Então o livro tem como título principal o acima indicado “No Ocaso da Guerra do Ultramar”, e como subtítulos “Uma Derrota Pressentida” – “Notícias de um Correspondente de Guerra – Combatente na Guiné” e é da autoria de Fernando de Sousa Henriques.

Obtive-o num encontro de camaradas que pertenceram à CCS do BCAV 2922, sediada em Piche, sendo esse Batalhão (e as suas Companhias colocadas em Buruntuma e Canquelifá) substituído pelo BCAÇ 3883, ao qual o autor do livro pertencia, mais propriamente integrando a CCAÇ 3545. Como o autor retrata os mesmos locais e até faz largas referências à fase de “passagem de testemunho” entre esses dois Batalhões, foi natural ter aparecido nesse convívio.

Da ficha técnica pode-se retirar que a impressão e acabamentos pertenceram a Coingra, Lda., mas não tem mais indicações a não ser os contactos com o autor que sabemos ser Fernando de Sousa Henriques, ter o telemóvel 919534059 e o endereço de mail fernando.sousa.henriques@gmail.com , para o caso de algum camarada o quiser contactar.

O autor foi Alferes Miliciano de Operações Especiais e encontrou-se na Zona Leste no período de 1972-74 sendo que foi testemunha directa do final do conflito pois o regresso só ocorreu em Julho de 1974. É natural do concelho de Estarreja e encontra-se radicado na Ilha de S. Miguel (Açores) onde desenvolve a sua actividade profissional (na Administração Portuária do Porto de Ponta Delgada), colaborando activamente com a ADFA-Açores.

Dedica o seu livro, que “não se destina apenas a ex-Combatentes e a Militares” e que resulta de uma promessa que fizera, aos seus Camaradas de Batalhão, procurando referir como se vivia na Zona Leste da Guiné, no período em que o então IN incrementava aí a sua actividade, procurando levar a cabo a, por si denominada, “Limpeza do Leste”.

Parte muitas vezes, naturalmente, da sua experiência pessoal, do seu percurso desde as “sortes”, à recruta, às “operações especiais”, situações que aqui e ali nos foram familiares, uns nuns casos outros noutros, mas as suas “reflexões” sobre os acontecimentos, os seus relatos sobre as situações vividas e mesmo até os registos sobre as diversas ocorrências são dignos de registo e de leitura cuidada.
Por exemplo, já tem sido várias vezes abordada no nosso Blogue a questão da solidariedade para com os militares “nativos” que combateram (forçados ou não) do nosso lado mas o Autor tem, quanto a mim, a páginas 101 do livro, umas reflexões e uma frase final que bem merecem destaque.

Diz ele: “Na altura da partida para a Guiné, pedi a Deus que me permitisse regressar à Metrópole e que trouxesse, de cada operação realizada, para o Quartel, os que comigo tinham partido. Mas…. engano meu, pensei 'em branco' e esqueci-me dos camaradas pretos. Os brancos que comigo partiram em meras patrulhas, em acções, em operações, ou em picagens, regressaram ao aquartelamento, mas, dos amigos africanos, deixei vários para trás, mortos ou bem feridos. Deixar atrás não significa abandonar, mas foi, outrossim evacuar ou trazer mortos. A vida jogava-se com mais facilidade do que as peças num tabuleiro de xadrez e a imprevisibilidade era a palavra de ordem. Aí sim, tornámo-nos irmãos, ou ainda mais, porque unidos pelo sacrifício e dor, para além do sangue e suor derramados. Se o coração se nos apertou, quando deixámos a Família, na hora da partida, voltámos a ficar constrangidos.”

Não quero alongar-me nesta referência a um livro que li e gostei, tanto mais que foca locais onde estive algum tempo e que me são familiares em termos de paisagens. Recomendo-o para todos os que se interessam por estas questões, para fazerem um comparação com os locais por onde andaram, para verem como apesar da relativa pequenez do território e de alguns aspectos comuns (emboscadas, operações, patrulhas, ataques, flagelações, minas, etc.,), a sua geografia acaba por tornar bem diferente o tipo de acção que se desenrolou no Sul, na zona das grandes matas ou nas áreas mais tipo savana, como estas a Leste.
É de particular interesse para os amigos que estiveram por Nova Lamego (Gabú), Piche, Canquelifá, Buruntuma e seus destacamentos, incluindo aqui Copá.

Hélder Sousa

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Nota: artigos da série em

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3375: (Ex)citações (5): Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Iam matar e morrer (A. Lobo Antunes)

Guiné 63/74 - P3429: Brasões, guiões ou crachás (1): CCAÇ 2797, Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, Cufar, 1970/72 (Luís de Sousa)





1. Mensagem de Luís de Sousa, Ex-Sold. Trms, CCaç 2797 (Cufar, 1970-72) (*), que vem inaugurar uma nova série no nosso blogue, Brasões, guiões e crachás:

Caros camaradas, esta é uma visita muito rápida. Tomei conhecimento do interesse do Luis Graça em proceder à recolha de Crachás dos agrupamentos que passaram pelo C.T.I.G., por isso aqui estou a trazer não só o da minha Companhia mas também os dos Pelotões de Nativos que estavam colocados em Cufar e com os quais interagimos durante aqueles quase dois anos.

Foi aliás graças à preciosa ajuda do Comandante do Pel Caç Nat 51, ex-Alf José Daniel Portela Rosa, que os recuperei.

É tudo por hoje. Um grande abraço para toda a Tabanca.

Luis de Sousa
__________

Nota de L.G.:

(*) O Luís de Sousa , da CCAÇ 2797, que esteve em Cufar entre 1970 e 1972, entrou para a nossa Tabanca Grande, em 14 de Setembro último. Na altura mandou-nos também uma lacónica, telegráfica mensagem:



Olá, amigos. Eu já ando aqui a rondar a Tabanca há uns tempos, e como sei que não é preciso pedir licença, olha, aqui estou eu!

Sou o Luís de Sousa e estive em Cufar entre Dezembro de 1970 e Agosto de 1972.Faz 36 anos no próximo dia 7 de Outubro que a minha Companhia, a CAÇ 2797 regressou. (...)

Pronto. Agora já sabem porque é que entrei. Prometo voltar com estórias lá de Cufar.

Até lá, um abraço para todos.

Luís de Sousa

domingo, 9 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3428: Ser solidário (24): Em marcha a expedição de ajuda humanitária de 2009 (José Moreira / Pepito / Carlos Silva / Xico Allen)

Guiné-Bissau > Março de 2008 > O José Moreira, inspirador, fundador, presidente e líder da Associação Humanitária Memórias e Gentes, em acção (é o primeiro à esquerda, em primeiro plano, logo na primeira foto, de cima). Aparece a seguir, em mais duas fotos. Técnico Oficial de Contas, reformado, mora em Coimbra. Foi Fur Mil da CCAÇ 1565 (1966/68). Fotos: © José Moreira (2008). Direitos reservados. “O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores” (Paulo Quintana) Apartado 453046-801 TAVEIRO (COIMBRA) Contacto: E-mail j.moreira@sapo.pt Telem.: 96 402 80 40 Associação sem fins lucrativos Matriculada na C.R.C. de Coimbra NIPC 508 343 461 Parceiro especializado da LIGA DOS COMBATENTES para acções humanitárias 

1. Mensagem de José Moreira, presidente da Associação Humanitária Memórias e Gentes, com sede em Coimbra: 

 Meu caro Luís Graça, Obrigado pelo teu mail (*). Antes de mais, quero informar-te que sou um assíduo frequentador do Blogue Luis Graça & Camaradas. Julgo não ser necessário enaltecer o trabalho incomensurável que tens feito na divulgação das memórias sobre a Guerra Colonial. Bem-hajas por isso!!! 

 Também sou um combatente da Guiné (não digo ex-combatente, pois sê-lo-ei até morrer). Furriel Miliciano da Companhia de Caçadores Independente 1565 nos anos 66/68, hoje Técnico Oficial de Contas (reformado) e combatente das carências do povo guineense. Volvidos 37 anos voltei à Guiné, por terra, com os camaradas combatentes Camilo (Algarve) (**) e Xico Allen (Porto) (***) . 

Pois é, daí para cá e anualmente tenho calcorreado o caminho de Coimbra a Bissau, ida e volta. Nos primeiros anos, os jipes não tinham um buraco de agulha para levar mais donativos. Nestes últimos anos, já mais organizados, temos levado um contentor marítimo de 20 pés, este ano, já levamos um de 40 pés com 21.500 Kgs de material. Para Fevereiro próximo, contamos levar mais um de 40 pés (haja quem colabore). 

 Como calculas isto tem custos pessoais enormíssimos, mas a vontade de doar, ver um sorriso de uma criança, um agradecimento sincero de um professor ou uma lagrimazita de um responsável de uma instituição é muito gratificante, apagando assim, o sacrifício que se fez, quer físico, quer monetário. Atendendo à dimensão do projecto anual, em boa hora, foi constituída em Coimbra a Associação Humanitária – Memórias e Gentes de de que sou o Presidente da Direcção (o velho). 

Nos corpos sociais só tenho mais dois combatentes, a parte restante, curiosamente é malta jovem, isto porque lhes incuti o bichinho de [fazer] a viagem por terra e dar-lhes a conhecer o modo de vida nos países por onde passamos, como mostrar-lhes a amizade que o povo da Guiné sentem por nós. Penso que, um ano destes, quando já não puder, esta Associação tem pernas para andar (para a Guiné, claro!). 

É evidente que, fora dos órgãos sociais, temos muitos sócios combatentes na Guiné, só que estão espalhados pelo país, nomeadamente no grande Porto. Em relação à logística, é de facto muito complicado, desde a recolha de bens, encaixotar (fazer a triagem, dobrar, fechar 2.200 caixotes), transportar o contentor de e para Lisboa, grua para o retirar, para posteriormente voltar a colocá-lo no meio de transporte), empresa de navegação, despachante, alfândega, tudo isto é obra! E lá!!! … 

É uma semana para levantar o contentor do porto. É despachante, é Embaixada, é Ministério dos Negócios Estrangeiros, é o funcionário que tem os papéis, adoece e vai para casa com eles… No porto, os estivadores, quando se apercebem que é ajuda humanitária, tentam colocar o contentor por baixo de uma série deles, depois para o tirar, um vai buscar um cabo, outro e outros vão buscar os restantes cabos, outro vai buscar uma escada para prender os cabos, etc., são uns doze que querem CFAS, depois é a grua do porto que está avariada ou pseudo-avariada, depois são os contactos com o Director da Alfândega que diz que o papel ainda não chegou, outras vezes é o Despachante que também atrasa o desalfandegamento e por fim a falta de um camião que leve o contentor com o seu peso + 21,5 toneladas até à Cooperação Portuguesa. 

 Enfim, muitas vezes apetece-nos mandar o contentor para trás. Porque levar bens doados de Portugal para a Guiné e ter que pagar, é coisa que ainda não entendemos, dado que em Portugal nada ou quase nada se paga na exportação. No entanto, com a nossa persistência, vontade de ajudar, lá se consegue ultrapassar todas as “encrencas”. 

Já na Cooperação Portuguesa, somos nós que descarregamos o contentor, logo, começamos a fazer montes para cada entidade que nós muito bem já conhecemos, porque são credíveis, a saber: 

  • Escola do Bindouro (do Dr. José Manuel In-Ub, médico em S. João da Madeira); 
  • ADLLIN-Associação Deficientes Luta Libertação Nacional; 
  • ANFAP-Associação Militares Forças Armadas Portuguesas (este ano, foi o 1º e único donativo que receberam desde a guerra); 
  • ACLP-Associação Combatentes Liberdade da Pátria; 
  • Hospital de Cumura; 
  • Orfanato Casa Emanuel; 
  • AD (ONG) – Carlos Schwarz (Pepito); 
  • ASP-Associação Saúde em Português (estão em Bafatá); 
  • Bissorã – Júlio da Câmara; 
  • Manuel do Jugudul para esta povoação; 
  • Caritas da Guiné Bissau; 
  • Missão Católica de Quinhamel; 
  • Associação “Os Amigos de Varela”; 
  • Fundação Evangelização e Culturas(ONG); 
  • Drª Helena Castro-Programa Apoio Sistema Educativo Guiné-Bissau; 
  • Tabanca de João Landim; 
  • Escolas de Gabu; 
  • As Duas Tabancas no Saltinho; 
  • Custódia “S. Francisco de Assis” da Guiné-Bissau; 
  • Cooperação Portuguesa (que coopera com centenas de Liceus e Escolas), etc., etc.. 

Todas estas entidades são chamadas à Cooperação e, num só dia, fazemos a entrega, com a presença do Adido para a Cooperação, Adido de Defesa e funcionários da Embaixada e Cooperação e ainda para testemunhar, Rádios e RTP-África. 

 Em face disto, julgo ter dado uma ideia de quem somos e o que fazemos por aquela terra, que marcou as nossas vidas. Recebe um grande abraço do José Moreira(sou o que está numa das fotos, ao lado do Adido de Defesa) 

  2. Mensagem do Pepito, da ONG AD, com data de 31 de Março de 2008, remetida ao J. Moreira:

Assunto - Doação de material escolar a crianças da EVA de Djufunco 

 Caro José Moreira, Presidente da Associação Humanitária Memórias e Gentes A nossa ONG (http://www.adbissau.org/ ) tem tido, de há uns anos a esta parte, uma intervenção a nível do apoio a iniciativas comunitárias de educação escolar especialmente nas zonas rurais, mas também em Bissau. Por isso estamos em óptimas condições para poder aferir a importância da vossa contribuição em material escolar para crianças que frequentemente nem sabem de que se trata. 

 Muitas vezes nas nossa deslocações nas zonas rurais somos abordados por crianças que sem nunca nos pedirem um cêntimo, apenas clamam por uma "caneta" (vulgo bic). Desta forma penso que estará em condições de adivinhar a enorme alegria que a sua organização propiciou a centenas de crianças e jovens da Escola de Verificação Ambiental de Djufunco (ver site da AD) que este fim de semana receberam os vossos cadernos, de excelente qualidade, que lhes foram entregues. 

 Contrariamente ao que por vezes sucede com outros, desta vez, todo o material que a sua organização dou é de qualidade notável, e até nós, simples intermediários, nos sentimos orgulhosos de ter estado envolvidos numa acção que para além de demonstrar a vossa solidariedade, traduz também o respeito que têm por aqueles que pouco têm. 

 Contamos distribuir o restante material escolar e roupa pela Ludoteca de S.Domingos e Centro de Animação Infantil de Quelélé. Hoje enviamos-lhe um conjunto de fotos da entrega na EVA de Djufunco. Mais tarde, e à medida que se for entregando às outras instituições, vamos enviar-lhe as fotos respectivas. 

 Em nome das crianças um muito obrigado à vossa Associação. Carlos Schwarz Director Executivo da AD

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1 de Março de 2008. Saltinho, na Estrada Bissau - Mansoa - Bambadinca-Saltinho - Quebo - Gandembel - Guileje. Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 200). Visita ao sul. Paragem no Saltinho, no Clube de Caça, para tomar um segundo pequeno-almoço reforçado. O Camilo, algarvio de Lagoa, é com o o Xico Allen um dos campeões das viagens à Guiné. Gosta tanto deste país que cá já construiu uma morança, no Clube de Caça do Saltinho, mesmo em cima do Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa. Com o seu amigo Carlos Silva (em primeiro plano). Tal como o José Moreira, pertenceu à CCAÇ 1565 (1966/68). Em Fevereiro/Março de 2008, foi um dos organizadores da Expedição Humanitária Portugal-Guiné Bissau 2008, que partiu de Lagoa e se juntou à caravana de Coimbra. 

 Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. 

  3. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (carsilva.advogado@sapo.pt): 

 Luís No ano passado fiz parte do grupo de Coimbra. Este ano estive envolvido de certa forma no MEPT de Portimão e no Simpósio. Quando regressei da Guiné, eu e um grupo de amigos [Carlos Silva, Fortunato, Adrião, Carlos Rodrigues, Paiva e Sousa e outros Camaradas] fundámos uma Associação. Já temos material para um contentor de 40 pés que vai partir em Fevereiro próximo.O grupo de Portimão está forte e vai com um contentor de 40 pés. Recomendo-te vivamente que vejas o nosso site: http://ajudaamiga.com.sapo.pt/ E o de Portimão: http://saude-alerta.blogspot.com/ 

 Em matéria de solidariedade com a Guiné, estou a ver que tens andado muito a leste, pois apenas foi dado para aí umas dicas pelo grupo do Porto, António Pimentel e Xico Allen e outros Camaradas que participaram este ano, e que publicaste em Fevereiro/Março/Abril passado. 

 Recebe um grande abraço Carlos Silva


 
Guiné-Bissau> Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao Cantanhez, no sul do país > 1 de Março de 2008 > Almoço na antiga povoação e aquartelamento de Guileje > O nosso camarada Xico Allen preparando-se para provar uma das mais populares bebidas servidas no decorrer do Simpósio, o pó di pila, feito à base do fruto da cabaceira. Julgo tratar-se de uma homenagem ao Lança Granadas-Foguete PANCEROVKA P-27 (também conhecido, na giría dos guerrilheiros do PAIGC, como Bazuca Bichan, Lança Grande, Pau de Pila). 

 Foto: © Pepito / AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados. 

  4. Mensagem do Xico Allen: 

 Olá, amigo Luis. É para mim muito difícil começar a descrever o que se está a passar com mais esta deslocação com fins hunanitários. Como penso que bem sabes, não gosto das luzes da ribalta, sou mais do género de fazer e calar e deixar que sejam os outros a comentar. 

 Na verdade está na forja nova deslocação à Guiné organizada pela ONG Memórias e Gentes na qual com muito prazer me incluo e com a qual colaboro, apoiado pelo nosso camarada e Presidente da mesma, o incansável Zé Moreira. Está também assegurada a colaboração do Abreu que, com a sua influência uma vez mais vai arranjar o soro fisiológico na quantidade possível. (Este camarada passou por Tite em 72/74). Tambem já abordamos um amigo da Guiné no sentido de arranjar algumas cadeiras de rodas. 

 Conclusão: da minha parte, tudo vai rolando no sentido de que tudo seja bem encaminhado.Em tempo tentarei também transmitir o meu baptismo ( com um p... ) de fogo. Hoje fico por aqui, se achas que tem interesse, publica. 

 Um abraço Xico

  5. Comentário de L.G.: 

Querido José Moreira: agradeço-te muito penhoradamente o teu mail. Deixa-me dizer-te que apreciei muito o teu gesto, que considero muito bonito e humilde, de vir explicar aqui à gente como e porquê decidiste tornar-te um homem solidário com o povo da Guiné-Bissau. Dá perfeitamente para perceber que "ser solidário" não é para todos: levar contentores de material (roupas, medicamentos, alimentos, artigos escolares, etc.) até à Guiné, e deixá-lo bem entregue, ou seja, a quem dele precisa, é obra! Eu tinha uma ideia mas não imaginava quanta energia, coragem, imaginação, dedicação, tenacidade, nobreza, compaixão, etc., são precisas para que os nossos amigos e irmãos guineenses possam sorrir um pouco com os nossos pequenos gestos de solidariedade... 

 José: dispõe do nosso blogue para divulgares as tuas iniciativas que terão o todo o nosso apoio. Diz-nos como é que, nós, individualmente e em grupo, podemos colaborar, de maneira custo-efectiva, com a expedição de ajuda humanitária à Guiné-Bissua, em organização, e que deverá partir de Portugal em Fevereiro de 2009. Para já passas a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande. A tua presença honra-nos. Com o Carlos Silva, o Xico Allen, o Zé Teixeira, o Zé Carioca, o Pepito e outros amigos e camaradas do nosso blogue que têm mais experiência e saber do que eu nesta matéria, vamos fazer o nosso melhor para que as tuas iniciativas e diligências sejam também nossas e sobretudo sejam bem sucedidas.

 ___________ 

 Notas de L.G. :


(...) Amigos e camaradas da Guiné: Eu proponho que o Xico, com apoio eventual de outros camaradas, ligados a projectos solidários na Guiné - como, por exemplo, os nossos dois Zés (O Teixeira e o Carioca), mas também os nossos parceiros privilegiados na Guiné, a ONG AD, do Pepito - nos dêem ideias concretas, ao nosso blogue, à nossa Tabanca Grande, sobre a melhor maneira de colaborar nesta ou noutras iniciativas do género. Já agora também era importante conhecer melhor o trabalho dos nossos camaradas da Associação Humanitária Memórias e Gentes: com quem cooperam, que regiões ou localidades ou instituições cobrem na Guiné, que tipo de ajuda privilegiam, que sugestões fazem sobre como fazer chegar as nossas doações, que garantias temos que as coisas não vão parar às mãos das máfias locais e ao mercado de Bandim, etc. Como imagino, o mais complexo de uma operação destas é a logística... e a ligação com o terreno. Mas para já daqui vão as minhas melhores saudações para o J. Moreira e a sua equipa. Luís Graça (...).

(**) Vd. postes de: 




Guiné 63/74 - P3427: Em bom português nos entendemos (5): Estórias com história... ou deixem-se de estórias / histórias... (Manuel Amaro / Jorge Cabral / Jorge Teixeira-Portojo / Torcato Mendonça / J. M. Matos Dinis / J. L. Mendes Gomes / Luís Graça)

Blogcomentários sobre o tópico história e/ou estória, a que se refere o Poste P3417 (*):


(i) Manuel Amaro

Meu caro Luís Graça:

Eu nunca escrevi a palavra estória, a não ser em situações como esta, em que acabo de escrever estória.

No entanto, fui convencido, em Junho de 1980, pelo meu amigo Fernando Assis Pacheco, jornalista e escritor, já falecido, que o uso da palavra estória em nada diminuía a história, desde que cada uma fosse colocada no seu "galho". Aceitei, aceito, já votei no blogue, pela continuidade das estórias.

Por outro lado, há dias, ao seleccionar o título para um livro de poesia, optei por "histórias contadas em verso" em vez de "estórias contadas em verso".

Concluindo, acho que é um pouco como os "piercings" ou os brincos, ou o cabelo em "crista de galo"... eu não uso, mas não vejo qualquer inconveniente em que se use...

Mais, creio que o Camões ou o Pessoa, não devem ser chamados para esta questão.
Quem sabe, um dia destes, ainda vou escrever umas estórias para o blogue.

Um Abraço

Manuel Amaro


(ii) Jorge Cabral

Amigo!

Por mim conto estórias.. Quanto ao Pulo Genético...claro, sempre me achei com cara de Mamadu..
Abraço Grande. Jorge


(iii) Henrique Matos

Concordando plenamente com o que o Luís escreveu, só me resta dizer: Se as "estórias cabralianas" fossem história não tinham o mesmo sabor.

Abraços
Henrique Matos


(iv) Jorge Teixeira (Portojo)

Sobre a "estória": Li esta palavra a primeira vez no Jornal A Bola há muitos anos, numa crónica do saudoso Carlos Pinhão, creio que na última página da edição de sábado,-nessa altura o Jornal publicava-se tri-semanalmente no espaço A Duas Colunas.

Como nessa época, os jornalistas, além de saborosas crónicas que nos davam a ler, sabiam imenso da nossa língua. Carlos Pinhão fazia parte da regra. Por isso estranhei aquela palavra. Dias depois li a explicação porque se escrevia "estória" e não história.

Li agora, aqui num comentário, exactamente a mesma descrição da palavra. Por isso, votei a favor da sua manutenção, desde que devidamente correcto o seu sentido. Mas isso depende de cada um de nós.

Um abraço para toda a Tabanca.
Jorge Portojo

(v) Torcato Mendonça

Escrevi uma Declaração de Voto. As pressas dão em vagares e a dita foi-se. Concordo com o Comentário ao Post (ou Poste) sado no blog (ou Blogue????´).

Não me alongo mais: ALINHO LETRAS QUE SÃO ESTÓRIAS E NUNCA ESCREVO HISTÓRIA OU SOBRE ELA.Era ser vaidoso e não sei escrever...

Abraços
Torcato

(vi) José Dinis

Obrigado, Luis Graça, pela investigação sobre o étimo e a tradição do vocábulo "estória". Por outro lado, a língua como forma de expressão, é dinâmica, evolutiva, muito embora se façam distinções entre a linguagem popular e a erudita, dos cultos, e a escrita vai-se ajustando.

No texto que ontem enviei, fiz referência a jogos de futebol, e a estórias concomitantes. Estórias marginais , sem qualquer interesse para o grande estudo que se possa fazer da guerra colonial, que apenas servem para ilustrar pedaços da permanência das NT, sem a ambição, ou glória, de fazer história. Ao contrário, o acidente aéreo que vitimou P.P.Leite, esse é histórico, pois influenciou o desenrolar político da nação.Eis o meu ponto de vista, pois falta-me o necessário conhecimento científico para afirmar convictamente.

Um abraço

José Dinis

(vii) Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes


Eu cá não gosto de ser como o caraguejo. O caminho é para a frente. Se "estória" já valeu no linguajar da sua época, remota, e se por evolução fonética passou para a forma actual de " história" então fixemo-nos na forma actual. De contrário é recuar...

O facto de Mia Couto, Luandino Vieira a terem usado nos seus escritos, é lá com eles...A língua não pode andar ao sabor dos caprichos de cada qual. A língua é um código de comunicação entre as pessoas que a perfilham. No qua está nos códigos só se pode alterar pelos órgãos competentes e com deliberação muito qualificada.Se não vamos voltar a dizer que "pluviou" em vez de "choveu"... Água...já há demais.

Um abraço para todos, especialmente para quem discordar do meu ponto de vista.

Joaquim Mendes Gomes



(viii) António Matos



Depois de tanto ler àcerca da polémica, não tive outro remédio senão enfiar o capacete e assim me proteger de alguma roquetada pela opinião que transmitirei.
Eu uso os 2 grafismos e dou-lhes significados diferentes.

Estou perante as chamadas palavras homonímicas (a homonímia é definida como a propriedade semântica característica de duas unidades lexicais que partilham a mesma pronúncia, mas que conservam significados distintos).

Cá para mim o léxico "história" reflecte o conjunto das estórias;
Um conjunto de histórias nunca vai dar a uma estória.

E esta, hem ?

António Matos

(ix) De novo o Torcato Mendonças

Assunto - Que raio de estória!

Meus Caríssimos Editores:

Não gosto e, menos ainda fazer, a outros, perder TEMPO. Não gosto muito de "purismos"; "fundamentalismos" e outros "ismos". Não gosto de sondagens.
Razões, agora não! Fiquei com a história e a estória atravessadas... isso não é aceitável para mim... feitios...

Logo no primeiro dia lembrei-me de ter lido, escrito por um antigo Professor de uma Faculdade Estatal, um livro, uns escritos... Preguicei e não fui procurar. Mas remoía comigo, dava-me a volta, abria o blog ou blogue e lia...logo á esquerda...e disse: vai procurar, já!

Depois, parei e disse: mas aí, na tua frente nesse portátil tens informação suficiente. Perante isso teclei "Urbano Tavares Rodrigues". Facilmente, com uma simples tecla: O Senhor Professor escreveu em 1977 Estórias Alentejanas.

Obviamente nada mais digo sobre o Homem e o Escritor. Acrescento só: (de outra fonte de informação):

(a) Estória, s.f. - arcaísmo que se procura revitalizar para, em contraste com história (baseada em documentos), significar narrativa de ficção;

(b) Estória, s.f.- história de carácter ficcional ou popular; conto, narração curta.

Perder mais tempo? Eu "escrevo" estórias de Mansambo; do José; Pensar em Voz Alta, Fotos Falantes ( textos de suporte a fotografias da minha passagem pela Guiné - uma foto são mais que mil palavras...); Bloterapia, em escape à "bolha" que me acompanha e, de quando em vez "pluff". Ou outros escritos que nada têm a ver com esta Tertúlia (também não gosto de Tabanca Grande)...

Não vou procurar, devido ao fim-de-semana, quem, de pronto, rindo ou sorrindo, me informaria.

Abraços ou tri-abraços do Torcato (ou Torquato?) ou do José.

Escrevo estórias e escritos afins...são a minha verdade, a minha visão de acontecimentos passados mas que eu sinto serem verdadeiros! Escrevo outros escritos, relatórios e por aí fora, suportados por documentos e saberes adquiridos...também não são histórias ou estórias...mas custam muito €€€€...

Abraços



(x) Luís Graça


Caros amigos e camaradas da Guiné: Se fizerem uma pesquisa no Google, verificam que a expressão "Deixem-de histórias" (com aspas) ganha, por 264 contra 34, à expressão "Deixem-se de estórias"... O Google é democrático... Será ?

Em contrapartida encontrei apenas 13 referências às "estórias cabralianas"!!! Não é muito, mas também não é mau, para um escritor ordinário (no sentido em que ainda não é extra)... Fico simultaneamente feliz, por ele (que eu admiro e que faz o favor de ser meu amigo). Mas fico também intrigado... Eu, pela minha parte, já lhe publiquei, no nosso blogue, meia centena das ditas cujas... E não tenciono ser linguisticamente correcto, no sentido de substituir vir a substituir estórias por histórias...

Estou como o Henrique Matos, não imagino o Jorge a escrever "histórias cabralianas"... Mas também sei que um dia hei-de apresentar o livro dele e começarei justamente com as seguintes palavras:
- Estas são estórias com história...

Quanto às histórias de Mansambo, meu caro Torcato, a culpa é tua e minha, por que fomso nós que as ba(p)tizámos:

"Início de mais uma série de estórias do Torcato Mendonça que foi Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69. Vamos chamar-lhe estórias de Mansambo, aquartelamento construído heroicamente, de raíz, pelo pessoal da CART 2339" (LG).

"Começo então pela… Dança dos Capitães. Uso as iniciais dos nomes. O nome completo será enviado ao Luís Graça, no fim de cada estória. Não é medo. Creio que muitos estão vivos e, devido a um texto recente, achei preferível fazer assim. Assunto a resolver quando do envio. Assumo tudo o que escrevo e, uma vez enviado, deixa de ser meu. Ou seja, o Luís Graça publica ou não da forma que entender" (TM)...
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3417: Em bom português nos entendemos (4): Ele há histórias e estórias... (Norberto Gomes da Costa / Luís Graça)

sábado, 8 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3426: Álbum fotográfico do Renato Monteiro (5): Bafatá, 1969: a igreja, o hospital, o mercado, as mulheres, o pilão

Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1969 > Foto 6 > "Acaso não tropeçasse nesta foto, diria nunca ter entrado numa das igrejas de Bafatá, num dia de Junho do ano de 1969".

Guine > Zona leste > Bafatá > 1969 > Foto 16 > "Camarata de uma instituição religiosa, em Bafatá. As bonecas por cima das camas podiam lembrar namoradas à espera"... [Renato: Não seria o hospital de Bafatá, que pertencia uma congregação religiosa ? LG]

Guiné > Zona leste > Bafatá > 1969 > Foto 17 > "Mercado de Bafatá. Os tomates e os limões eram pouco maiores que as nozes. Mas rivalizavam com o colorido das vestes das mulheres"

Guiné > Zona leste > Bafatá > 1969 > Foto 8 > "Uma vendedeira de peixe, com o filho ao colo, no mercado de Bafatá".

Guiné > Local desconhecido [ Contuboel, Piche, Xime, Bafatá ?]> 1969 > Foto 15 > "O batucar do pilão ouvia-se por toda a Guiné…ainda hoje o ouço!

Fotos (e legendas): © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados (*)

(Continuação da publicação do álbum fotográfico do Renato Monteiro (**), ex-Fur Mil da CART 2479, depois CART 11/CCAÇ 11, Contuboel e Piche, 1968/69, e da CART 2520, Xime, 1969) (***)

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)

(**) Vd.postes anteriores desta série:

13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3199: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (1): Contuboel (1968/69)

16 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3210: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (2): O mítico cais do Xime (1969)

2 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3263: Álbum fotográfico do Renato Monteiro (3): Xime, o sítio do meu degredo

30 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3382: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (4): Rio Udunduma, destacamento do Xime

(***) Vd. posts relacionados com a CART 2479 (que deu origem à CART 11 e depois CCAÇ 11) e o meu amigo Renato Monteiro, com quem privei, durante um mês e meio, em Contuboel (Junho/Julho de 1969):

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1001: Estórias de Contuboel (i): recepção dos instruendos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

30 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1005: Estórias de Contuboel (ii): segundo pelotão (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1017: Estórias de Contuboel (iii): Paraíso, roncos e anjinhos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1026: Estórias de Contuboel (iv): Idades sem lembrança (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1027: Estórias de Contuboel (V): Bajudas ou a imitação do paraíso celestial (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

6 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2412: História de vida (8): Renato Monteiro, um homem de múltiplos... fotografares (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3425: O Nosso Livro de Visitas (40): A.Gaudêncio, filha do nosso camarada Gregório Gil Gaudêncio

1. Comentário deixado por A. Gaudêncio, filha do nosso camarada Gregório Gil Gaudêncio, já falecido, no poste 922 (*).

Ao pesquisar este blogue foi com alegria e muita saudade que encontrei uma foto do meu querido pai Gregório Gil Gaudêncio.
Ao reler estes textos, que me fizeram relembrar as histórias um pouco mais fantasiadas que o meu pai contava da guerra na Guiné, deixaram-me saudosa, pois o meu pai infelizmente já não se encontra entre nós e agora faz parte do nosso imenso céu como uma brilhante estrela.

Gostaria de ter mais fotos onde ele aparecesse se fosse possível.

Obrigada
A.Gaudêncio


Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > 1972 > No Cine Gabu, da esquerda o Gregório Gil Gaudêncio, o António e o Graça (mais tarde seu compadre, padrinho do seu filho Pedro).

Foto de António Santos, editada por Carlos Vinhal


2. Comentário de CV

São mensagens como esta que nos dão forças para continuar este trabalho tão absorvente, mas compensador.

Apelo ao António Santos para, no caso de ter mais fotos onde apareça o Gaudêncio ou outros pormenores que julgue úteis para dar a conhecer a esta nossa nova amiga, faça chegar até nós para publicarmos.

À nossa nova filha pedimos, se nos ler, que nos contacte para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com para fazermos chegar até si o que se conseguir obter sobre o seu pai.
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Nota de CV

(*) Vd. poste de 29 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P922: Memórias do Pel Mort 4574 (A. Santos): O mauzão do Hitler de Nova Lamego

Guiné 63/74 - P3424: 16.000 minas montadas entre Bula e S. Vicente (António Matos, ex-Alf Mil, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)

Como sobrevivi a um campo de minas 

António Matos ex-Alf Mil CCAÇ 2790 Bula, 1970/72

Já por várias vezes referi neste blog à minha interferência na montagem dum campo de minas no terreno que ladeava a estrada Bula - S.Vicente, mas para uma melhor compreensão de quem o não saiba, vou tentar dar uma ideia mais precisa dessa realidade.

A estrada Bula-S.Vicente tinha uma extensão de cerca de 16 kms e ao longo dela realizavam-se caravanas de transporte de populações para além das patrulhas militares. A Guiné é constituída por uma morfologia de terreno plano, sendo que a maior altitude se cifra nos 300 metros, num planalto do maciço do Futa Djalon o que, em termos militares, dificultava a orientação por falta de referências. De um e de outro lado da referida estrada existiam dois pontos estratégicos: Ponta Matar, a oeste, e Choquemone, a leste.

Ao tempo, 1970/72, estes locais albergavam guerrilheiros que procuravam mantimentos perto de Bula (tabancas de Capunga, Pete, Ponta Consolação, Augusto Barros e Mato Dingal). A minagem justificava-se para obrigar o IN a utilizar as passagens que estivessem "vigiadas" 24 horas por dia pelas nossas tropas. Para essa tarefa formaram-se várias equipas de especialistas uma das quais, liderada por mim.

Estávamos em Outubro de 1971

Estratégicamente, pretendia-se minar todo o lado leste da estrada, desde o km 4 até ao km 13. Tecnicamente, a implantação das minas seria em duas fiadas mais ou menos paralelas. Obtido o azimute desde o ponto de referência inicial do troço até ao ponto final do mesmo, mediam-se os primeiros 3 metros nessa linha imaginária; aí, e perpendicularmente a essa linha, mediam-se 1,5 metros onde se abria um buraco com a ajuda da faca do mato, que albergasse a mina anti-pessoal de fragmentação, portuguesa, ficando apenas a descoberto, as 3 finas pontas finais as quais, uma vez pisadas, despoletariam toda a sequência de deflagrações por simpatia até que a última, a do bloco de trotil onde se encaixava o detonador, faria os piores e mais hororosos estragos à infeliz vítima. Uma vez colocada esta mina, metálica e detectável com o detector eléctrico, mediam-se novamente 1,5 metros quer para a esquerda, quer para a direita quer ainda para a frente dela e, em cada uma destas localizações, montava-se uma mina anti pessoal de sopro, italiana, de seu nome Encrier.

as mãos...

Regressando à linha imaginária entre as duas referências, mais 3 metros e repetia-se toda esta sequência, embora para o lado contrário. Se se imaginar agora que, paralelamente, seguia uma outra linha imaginária com o mesmo esquema e número de minas, fácil é de calcular que a densidade por metro quadrado não dava grandes hipóteses de se passar sem accionar um destes engenhos. Todo este trabalho era simultâneamente acompanhado da feitura dum croqui que permitisse a todo o momento procurar, verificar, substituir, ou levantar o que fosse necessário. Claro que as precauções eram imensas! Desde logo porque todo o manuseamento dos engenhos era, já de si, susceptível de disparo inadvertido; depois porque as Encrier eram quase que deixadas à superfície o que não impedia que qualquer bicho ao farejá-las não levasse com ela nos queixos e por ali ficasse; a própria época das chuvas se encarregaria de as deslocar (dificultando perigosamente a sua localização à posteriori); os azimutes tinham de ser extremamente bem conseguidos sob pena de 1 grau de desvio representar uma grande amplitude de erro ao longo da linha imaginária; finalmente, a formação do bagabaga em cima das ditas tornava a operação de resgate uma tarefa imprópria para cardíacos! No total montaram-se cerca de 16.000 minas e, a par de alguns indígenas, e de diversos macacos, houve também vários camaradas acidentados.

a imagem Google (clicar para ver em tamanho mais aceitável) mostra esquematicamente a localização e extensão deste campo de minas. Infelizmente, na guerra, a "cunha" era tão omnipresente como no quotidiano e, como sempre, ganha o mais poderoso ainda que, posteriormente, não se evitem lágrimas de crocodilo para aligeirar "os remorsos".

Os campos de minas não se levantam, passam-se

Quero eu com isto dizer que, sendo dos livros que um campo de minas não se levanta, passa-se (para isso existem os croquis), aparecem sempre ombros estrelados que, por cagaço, incompetência e/ou mera prepotência, mandam os livros às malvas e impõem a lei do mais forte! Foi também o que aconteceu com esse campo de minas o qual teve que ser levantado (antes da guerra acabar!!!) apenas porque sim! Essa operação tornou-se um verdadeiro inferno em muito ajudado pela incompreensível condescendência admitida aos comandos dos piriquitos numa altura em que o fim da nossa comissão estava a chegar. Diariamente seguíamos para o campo com um espírito negativista devido à cadência dos acidentes e não raras vezes os vivi a uma distância de alguns poucos metros e mesmo alguns centímetros. E PUM!

Uma vez mais por meros motivos de memória futura destapo o baú das minhas más recordações e relato uma dessas ocasiões.

O Alf António Matos com o detector...

Tinha sido já detectada (por detector) a mina de fragmentação e propunha-me descobrir as outras à base de picagem do terreno. Simultâneamente, outro elemento de outra equipa (Furriel José Abreu, sapador) ocupava-se de idêntica operação no cacho (conjunto das 4 minas) contíguo; mais ao lado, um terceiro camarada (Furriel Santos) num 3º cacho. Eram evidentes as dificuldades em encontrá-las uma vez que essas minas estavam todas deslocadas das posições habituais por via das chuvas que, entretanto, tinham caído. Uma operação que normalmente demorava uns escassos minutos a neutralizar, prolongava-se, neste caso, há mais de 1/2 hora! Ordenei várias paragens para verificação de possíveis más colocações nossas mas não era o caso.

Repentinamente, PUM! e dou por mim caído no chão com o Abreu muito perto também estatelado . Os primeiros momentos foram de horror com a perspectiva das consequências. Recuperada a lucidez possível, perguntei ao Abreu se tinha sido ele a pisá-la, e o pânico apoderou-se dele perante essa expectativa. Não teve coragem para confirmar e então comecei eu a temer pela minha sorte. A dúvida de ambos é algo impossível de descrever pelos sentimentos provocados. Era imperioso esclarecer a situação e a muito medo cada um teve de certificar-se se ainda era possuidor de ambos os pés ou mesmo de ambas as pernas. É nessa altura que o camarada Santos, ali do outro lado, começa a dar sinais de ter sido ele a vítima. Havia que o ajudar de imediato mas não podia esquecer que estávamos caídos num campo de minas e qualquer gesto menos pensado podia transformar a ocasião num verdadeiro mar de sangue pelo possível rebentamento de vários outros engenhos. Tratei de localizar a nossa posição ao camarada enfermeiro (Aprígio) e "conduzi-lo" até nós via rádio. Esta tentativa demonstrou-se pouco prudente e optámos por levar o Santos para a estrada afim de ser socorrido. Uma vez aí, e perante um odor nauseabundo a carne humana assada, conseguimos pô-lo a soro e proceder à sua evacuação. A adrenalina só descarregou um par de horas mais tarde, no quartel, mas no dia seguinte, qual trapezista de circo que cai, voltamos para desafiar a sorte. Deus ajudou-me ! Estou inteiro! António

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  Notas: 1. Imagens e texto de António Matos.

2. Sublinhados e subtítulos da responsabilidade do editor. 2. artigos do autor em 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)

Guiné 63/74 - P3423: Notícias da trasladação de José Maria Fernandes Carvalho


1. Caros Tertulianos. Só uma pequena nota para dar conta de mais um adiamento na chegada dos restos mortais do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho a Portugal.

Segundo o que me disse o camarada Albano Costa, só no Aeroporto Sá Carneiro, a família e os amigos tomaram conhecimento de mais este adiamento. Problemas burocráticos ligados à falta da assinatura de alguém da Polícia local, impediram que o nosso camarada regresse ao seu definitivo repouso.

Lamentamos, pela família, estas horas difíceis que estão a viver. Para quando um luto em paz e definitivo?
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Vd. poste de 7 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3421: In Memoriam (12): Cerimónias fúnebres do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho